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História Inverdades - Inconveniente


Escrita por: Maelyss

Notas do Autor


OHAYO! Quero primeiro agradecer a todas as deusas que tiraram um tempinho para deixar um comentário lindo que me motivou demais <3 Aqui estou eu com mais um capítulo lindo saindo do forno! Espero que gostem <3

Capítulo 6 - Inconveniente


Nossos olhares se encontraram pela segunda vez desde o momento em que o período havia iniciado e eu fiz o meu melhor para disfarçar, escrevendo palavras aleatórias no meu caderno enquanto me concentrava para não permitir que minhas bochechas ficassem cor-de-rosa. Inspirei fundo e expirei. Olhando para as novas listas de alunos, descobri que o novato estava inscrito em absolutamente todas as aulas avançadas que eu fazia. E, por extremo acaso, meus pensamentos constantemente se perdiam apenas por estar no mesmo ambiente que ele e, quando eu me dava por conta de minhas ações, meus olhos estavam fixos nele.

Eu tinha certeza de que ele sabia que estava sendo observado, cada movimento que ele fazia era minimamente planejado, por mais que os olhos afiados permanecessem presos ao quadro branco como se ignorasse o seu arredor. O modo com que ele passava a mão pelos fios de cabelo os jogando para trás e girava os lápis pelos dedos, os braços fortes contraídos conforme ele apoiava seu tronco sobre a mesa, tudo era sutilmente muito bem articulado. 

E, obviamente, eu não era a única sofrendo as reações do efeito Sasuke. Chegava a ser cômico o fato de que ele estava no Instituto há nem ao menos um mês e já era rodeado, observado, admirado e cumprimentado como um dos veteranos mais famosos.

Eu estava na sala de biologia avançada, uma das minhas matérias favoritas e a qual eu possuía as maiores notas, uma série de A+ incessável me rodeava gloriosamente, lado a lado com muita bajulação à professora, obviamente. No entanto, eu estava prestes a descobrir que o preço a se pagar pela excelência poderia ser um pouco mais caro do que eu gostaria.

— Senhorita Haruno? — Kurenai chamou minha atenção assim que o sinal tocou. Encarei-a com expectativa nos olhos, enquanto guardava o resto de meus materiais. — Gostaria de conversar com você. 

Um lapso de possibilidades degradantes e terríveis passou pela minha mente. Será que eu tinha feito algo errado? Será que ela descobriu sobre meu trabalho? Alguém me delatou? Ou talvez eu tenha tirado uma nota baixa… De fato, eu não havia estudado tanto para o último teste já que estava deveras atarefada…

— Claro. — Forcei um sorriso e fui até a mesa da professora. O resto da turma já havia saído da sala, percebi isso quando olhei ao redor e encontrei apenas uma pessoa, escorada em uma das classes frontais: Sasuke.

— Senhorita Haruno, acredito que você saiba que o Senhor Sasuke é novo no Instituto. Lembra-se do seu primeiro ano? — Sasuke? Ela não deveria chamá-lo pelo sobrenome, assim como faz comigo e com os outros estudantes? Assenti brevemente com a cabeça, percebendo então que eu havia franzido o cenho enquanto ponderava. — O Instituto Hildegard é um local espetacular para a formação dos estudantes, porém a adaptação pode ser um pouco custosa e rigorosa, principalmente para os casos que entram no meio do ano, portanto eu apreciaria deverasmente caso você, Senhorita Haruno, se propusesse a ajudar o Senhor Sasuke em sua habituação. O Senhor já conhece o Instituto, creio eu, correto? — O garoto assentiu brevemente. — Bom, então você poderia explicar um pouco mais sobre a rotina escolar, clubes e Conselho Estudantil, já que você mesma é parte. Acredito que você seria a melhor escolha, afinal, você é a minha melhor aluna e eu admiro o seu esforço e organização nos estudos, acredito que você tenha ótimas táticas para compartilhar. — Kurenai sorriu gentilmente. Senti o meu ego ser massageado pelos elogios, contudo, eu sabia que ela não estava apenas distribuindo-os por pura admiração, a professora desejava esse resultado para que eu não me opusesse ao seu pedido. Claro que eu nunca o faria, já que precisava de minha reputação boa com todos os profissionais possíveis, mas Kurenai me conhecia o suficiente para saber que eu não apreciaria tanto assim esse trabalho que me foi imposto. — O que você acha, Senhor Sasuke?

— Seria uma experiência recompensante aprender a partir da melhor estudante. 

Controlei meus impulsos de virar bruscamente na sua direção, limitando-me a apenas olhá-lo pelo canto do olho. O rosto do invasor de sonhos estava impassível, mas não de uma forma séria e grosseira, e sim de uma forma simpática. Nenhum músculo tremia, o tom de voz não vacilou em momento algum. As palavras bajuladoras foram proferidas de uma forma suave e educada. Foi quando eu descobri mais uma coisa sobre o novato: ele era um mentiroso formidável.

— E será uma experiência gratificante auxiliá-lo em sua adaptação ao Instituto Hildegard. — Abri o meu melhor sorriso para respondê-lo, pude notar o brilho provocador que passou por suas íris azeviche conforme mantínhamos contato visual de forma aparentemente amistosa para os de fora, mas que entre nós passava uma clara mensagem: inverdades.

 

[...]

 

— Como estão as preparações nos clubes? — Perguntei logo que sentamos na mesa do refeitório.

— Incrível! — Com os olhos esbugalhados, Tenten quase saltou da cadeira quando respondeu. — Nós decidimos que faremos uma exposição vegana, tanto com produtos que alguns terceranistas estão desenvolvendo em seus projetos científicos de conclusão quanto com algumas das nossas receitas favoritas, junto a uma apresentação da história do veganismo e os motivos para adotar esse estilo de vida. 

— É uma ideia incrível, Ten. — Ino elogiou e eu concordei, por mais que fosse uma apresentação previsível. 

O Clube de Ambientalismo e Ecologia sempre realizava projetos como esse, afinal, eram os objetivos principais do clube, a conscientização e o desenvolvimento sustentável. E a Mitsashi já tinha a sua fama no Instituto por ser uma ativista e protestante, foi a primeira a fazer um escândalo quando a Diretoria havia decidido que derrubariam os quadrantes de árvores ao redor do ginásio para expandi-lo. Era realmente uma ideia supérflua, o módulo desportivo já era imenso por si só e não havia necessidade alguma de aumentá-lo.

— É, não é? — Riu. — Foi eu quem deu a ideia. — vangloriou-se, com um sorriso de satisfação no rosto. — E eu ainda não desisti da nossa noite do pijama vegana! 

— No dia em que a Sakura tiver tempo livre nós faremos… Quem sabe quando ela se aposentar dê certo. — A Yamanaka respondeu, rindo de sua própria piada.

— Isso se eu não morrer de estresse antes, já sinto três doenças cardiovasculares se desenvolvendo nesse exato momento. — Massageei meu peito dramaticamente. Levei um tapa em meu braço por parte de Ino, que repreendeu minhas brincadeiras autodepreciativas e completamente sem graça.

— Falando nisso, Saky, o Clube de Dança vai precisar de um adiantamento do recebimento mensal para que possamos comprar todos os figurinos para o nosso show. — Hinata estava com o olhar focado em seu prato enquanto falava comigo, claramente evitando contato visual.

— Hum. — murmurei com a boca cheia, me apressando para terminar de engolir a comida ao mesmo tempo que pegava a minha agenda para anotar. — Certo, verificarei com o Nara.

— Que apresentação vocês irão fazer, Hina? — Ino questionou.

— Ainda estamos desenvolvendo a coreografia, mas queremos fazer um só show com várias modalidades de dança variadas reunidas, desde o balé clássico até dança de rua e sapateado. O objetivo é mostrar versatilidade e fazer combinações incomuns, mostrando os mais variados estilos existentes e toda a extensão dessa arte.

— Você vai dançar, né Hina?! — Tenten estava bem animada com a ideia proposta pela Hyuuga.

— Sim. — A garota de cabelos negros deu uma risadinha. — Balé clássico, obviamente. — Deu duas batidinhas em sua bolsa, onde suas fiéis sapatilhas se encontravam.

— Ino, por que o Clube de Costura e Alfaiataria não faz os figurinos para o show de dança? — Sugeri.

— Porque vamos fazer um desfile. — Respondeu com obviedade e eu estreitei os olhos. — É claro que nossas peças teriam destaque na apresentação deles, mas o foco principal estaria na dança e, levando em consideração que vários estilistas vão estar presentes, nós precisamos chamar a atenção e não há nada melhor do que um desfile de moda para isso. — Bateu palminhas comemorativas, com um imenso sorriso no rosto. — Vocês vão amar! Nós colocaremos à venda as peças e parte do dinheiro será doado para instituições de caridade.

— É um gesto lindo, Ino! — Hinata colocou a mão sobre o peito, com um sorriso meigo no rosto. 

Yamanaka deu de ombros orgulhosa, comentando mais alguns vagos detalhes sobre o planejamento e como eles alugaram o ateliê para ficarem até o horário de recolher adiantando as preparações. Tanto Tenten quanto a Hyuuga concordaram que teriam horários estendidos pelas próximas semanas, em função do Festival Cultural. 

— Olha só, vocês vão ter uma amostra grátis da minha rotina. — Comentei, brincalhona. 

— Falando na sua rotina, Sakura, como você vai manejar para as apresentações de dois clubes? — Ela possuía um fundo de preocupação e curiosidade na voz.

— Não tenho nem ideia, Ten. — Suspirei, soltando meu hashi para massagear as têmporas. — O Clube de Relações Internacionais se reuniu pela primeira vez esse semestre na semana passada, nós iremos realizar um debate inspirado na ONU, onde cada participante irá atuar como porta-voz de um país diferente, então precisarei fazer várias pesquisas assim que fizermos o sorteio. — Franzi o cenho, sentindo a dor de cabeça que seria. — Já o Clube de Ciências da Saúde quer construir a porra — A palavra escapuliu entredentes, quando lembrei da sugestão de Neji, que foi amplamente aprovada no grupo. O Hyuuga aparentava ter tempo de sobra para propor tal atrocidade, sendo que ele devia estar tão sobrecarregado quanto eu. — de uma representação do corpo humano interativa em tamanho real. Eu sinceramente não entendo o que se passa na cabeça deles. Dizem que de médico e louco todo mundo tem um pouco, porém eles são completamente pirados da cabeça. 

Joguei meu pescoço para trás, encarando fixamente o teto do refeitório por longos segundos. Nenhuma das garotas abriu a boca para falar e assim permanecemos por um certo tempo que, por mais que não tenha sido exatamente longo, fora levemente desconfortável. Em minha cabeça, diversas questões se passavam e me traziam insegurança. Eu sabia que esse era um preço que eu precisava pagar para conseguir ter o futuro que desejava, no entanto, temia não aguentar o fardo que seria. Fechei os olhos. O trio certamente estava preocupado. Desde o primeiro ano elas me repreendiam por ter uma rotina “inumana“, segundo as mesmas, e nesse exato momento eu poderia apostar que elas estavam se entreolhando com os mesmos olhos cabisbaixos e sobrancelhas franzidas, perguntando-se silenciosamente quem seria a responsável pela intervenção verbal que em breve ocorreria. 

— Sakura, nós sabemos que é chato trazer à tona esse assunto pela milésima vez, mas nós não conseguimos deixar de nos preocupar com você e com a sua saúde… Eu acho… — A voz da Yamanaka vacilou conforme ela media as palavras. — Talvez… Nós… — Um suspiro saiu pelos lábios dela e eu voltei minha cabeça para a frente, encarando-a nos olhos, em um desafio silencioso para que ela tentasse novamente me fazer mudar de ideia. — O que você acha de… Tentar-

— Testando, 1, 2, 3… — Uma voz robotizada invadiu o ambiente, interrompendo Ino e calando automaticamente todos os burburinhos de fundo presentes nas outras mesas. — Eaí, estudantes do inferno, como está o almoço com o capeta? O seu jornalista investigativo e repórter em tempo real preferido está aqui para animar o dia de vocês com notícias fresquinhas e uma entrevista para lá de esperada!

Kankuro Sabaku No, filho do meio do ex-primeiro ministro do Japão e o radialista do Jornal da Escola, marcava sua presença semanalmente no horário do almoço em sua chamada sessão na rádio — que havia recém sido adaptada para um jornal ao vivo já que, segundo os mesmos, rádio estava ultrapassado. Através das duas telas presas em paredes opostas no cômodo, pude ver a cara do moreno, com uma pintura roxa excêntrica em sua pele. Eu nunca havia entendido o propósito, contudo Ino aplaudia a irreverência de Kankuro e sua originalidade, palestrando sobre a importância da liberdade de expressão e o não julgamento. 

 — Vamos começar anunciando o conserto dos aquecedores nos laboratórios 206 e 248, finalmente vamos poder dissecar os sapos sem parecer que estamos dissecando pinguins diretamente no polo norte. — Algumas risadas foram ouvidas pelo refeitório, assim como comemorações pela novidade.

— Sakura… — A voz receosa de Ino chamou-me a atenção; a respondi com apenas um murmúrio. — Sobre o que eu estava falando… — Inspirei fundo, fechando os olhos, contei lentamente até três e expirei o ar. Quando hormônios como adrenalina, cortisol e noradrenalina estão sendo despejados em grande quantidade, tendemos a não pensar com clareza e acabar por tomar decisões precipitadas. Exercícios de respiração são de extrema importância para a liberação de hormônios calmantes como ocitocina que ajudam a regular os hormônios do estresse.

— Ino, poupe sua saliva. Não vamos debater sobre isso inutilmente aqui e agora. — Cortei seu discurso, levando um dos bolinhos de arroz à boca e dando uma mordida. As três se entreolharam conforme eu mastigava e fingia que não estava percebendo a comunicação silenciosa que ocorria entre elas. — Ah, eu já estava quase esquecendo! — Arregalei os olhos quando uma lembrança súbita invadiu minha mente. Elas se voltaram para mim, apreensivas. — Nós vamos precisar preparar macarons. Muitos macarons. — Ressaltei, lembrando-me das minhas contas aproximadas. O ideal seria um para cada estudante, porém seria inviável para quatro garotas levarem mil macarons para distribuir, então a minha meta eram quatrocentos, dividindo cem para cada. O que também não seria muito fácil. — Ou talvez comprar. — Sugeri, pensativa, com os olhos entreabertos e levando o último pedaço do meu bolinho até os lábios.

— Eu estive pesquisando isso. — Revelou a loira, apanhando o celular. — Encontrei algumas confeitarias, acredito que seria mais fácil, já que eu não faço ideia de como se faz um macaron. — Confidenciou, como se fosse um segredo de estado.

— Eu também não. — Compartilhei no mesmo tom que ela e rimos juntas.

— Do que vocês estão falando? Macarons para o quê? — Perguntou a Mitsashi que, assim como Hinata, estava confusa.

— Eu quero distribuir macarons personalizados no dia do Bukansai. — Ambas ergueram as sobrancelhas, como se continuassem sem entender. — As eleições estão chegando. — A frase foi autoexplicativa o suficiente para que as mesmas arregalassem as orbes e concordassem com a proposta.

— É uma ótima ideia, Saky! — A Hyuuga sorriu. — Os macarons precisam ser rosa pastel sabor cereja. 

— E embrulhados em embalagens recicláveis ou biodegradáveis! — Acrescentou Tenten.

— Além de serem fechadas com um adesivo escrito Sakura Haruno e com um laço de fita de cetim cor-de-rosa. — Ino finalizou. 

— Perfeito. — Concordamos em uníssono, rindo logo em seguida. 

Continuamos conversando sobre os quitutes e a entrega, planejando os mínimos detalhes. A empolgação delas em me auxiliar era um fator que me animava muito. Era reconfortante saber que elas estariam lá para lutar comigo, nesses momentos eu conseguia até mesmo deixar as minhas preocupações de lado e acreditar junto a elas.

 

[...]

 

Caminhávamos lado a lado em silêncio, ele com as mãos nos bolsos e o olhar desinteressado repousando ao nosso redor, como se tudo que eu dissesse ou mostrasse fosse algo monótono e insignificante em sua vida, enquanto eu caminhava com a minha melhor postura e as mãos atrás do corpo. Por mais que mantivéssemos uma certa distância, era óbvio para quem passava que estávamos juntos e nós apenas fingimos ignorar os cochichos e olhares indiscretos.

Por incrível que pareça, Sasuke era cumprimentado quase tantas vezes quanto eu. A cada bajulação e elogio que recebia, ele lançava um olhar superior para mim, como se estivesse vencendo uma competição imaginária. Eu fingia não perceber, virando o rosto para o lado contrário e dando sorrisos a quaisquer estudantes que aparecessem pela minha frente. Ele havia obtido uma fama depressa. Muito depressa. Eu ainda não havia tido tempo para investigá-lo propriamente, porém desconfiava que não era apenas a sua aparência que havia dado a ele tal status. E eu precisava descobrir o nível de ameaça em que ele se enquadrava.

— Então… Sasuke. — Brinquei com o seu nome propositalmente, o proferindo na maneira mais melodiosa que eu era capaz. — O que acha de começarmos pelos clubes, esportes e atividades extracurriculares? Afinal, você precisará escolher um... 

O Instituto Hildegard impunha uma regra que fora de certo modo contraditória na época, contudo tornou-se quase que a marca registrada do colégio: era obrigatória a participação de ao menos uma atividade extracurricular anualmente, a qual seria adicionada em seu currículo, para conseguir se formar e obter o diploma ao finalizar o ensino médio. Estudantes completos e versáteis, competentes em diversas áreas e com habilidades extras ou não-convencionais. Era esse o lema.

— Na verdade, Haruno — O novato não perdeu a chance de retribuir a provocação, inclinando-se até próximo ao meu ouvido, silabando meu sobrenome de uma forma altamente maliciosa e finalizando com uma risadinha baixa que fez com que um arrepio descesse minha coluna. Mordi o lábio involuntariamente, tentando controlar os efeitos que ele havia causado e não deixá-lo perceber, no entanto, quando ele soltou outra risada, dessa vez uma divertida e vitoriosa, dei-me por conta de que não consegui esconder muito bem. Revirei os olhos, ignorando o calor em minhas bochechas. —, eu já sei em qual clube eu vou participar. — Virei meu rosto em sua direção, erguendo uma sobrancelha, instigando-o a continuar e tentando não transparecer muita curiosidade. — Ouvi rumores de que você é a favorita para o posto de Presidente do Grêmio Estudantil… É verdade? — Questionou simplista, como se não fosse nada de mais. Assenti com a cabeça. — E você faz parte de dois clubes, não? — Ele mantinha a pose inabalável, como se absolutamente nada o surpreendesse, olhando para os corredores com desdém.

— Andou fazendo lição de casa sobre mim, Sasuke? — Provoquei com um mínimo sorriso lateral.

— É claro… — Murmurou e lançou-me um sorriso galanteador. Sua mão pousou em minha cintura e meu corpo contraiu. Entreabri os lábios, pronta para pará-lo. — Precisava saber quem era a gatinha curiosa que andou me bisbilhotando.

— Você…

— Sakura! Ei! — Ino surgiu andando em passos largos e apressados, como se tivesse corrido para nos alcançar, com um imenso sorriso inocente no rosto, mas em seus olhos brilhavam a frase “você vai me contar tudo depois”. Respirei fundo, perguntando-me se seria possível a situação piorar.

— O que foi, Ino? — Aproveitei a deixa para me afastar do toque de Sasuke, cruzando os braços, enquanto a loira recuperava o ar.

— Eu estive conversando com Hinata, que também perguntou para o Uzumaki e comentou com o primo, e todos concordamos com uma ideia que eu tive para o Festival Cultural, porém eu queria conversar com você antes de dar os nós finais.— A Yamanaka falou tudo de uma forma rápida e embolada, algo anormal já que ela sempre teve uma dicção muito boa e bem desenvolvida. — Olá, Sasuke. — Sua voz mudou da água para o vinho em questão de segundos, piscando para o moreno ao meu lado.

— É um prazer finalmente conhecê-la, Ino. Ouvi falar bastante de você. — Ele respondeu na mesma entonação.

Senti minhas bochechas corarem e a temperatura do meu rosto esquentar conforme eu olhava de um para outro me perguntando se havia perdido algo no meio do caminho. A intimidade entre eles, tão repentina, a ponto de que ele havia a chamado pelo primeiro nome. Pigarreei antes mesmo que a loira tivesse a oportunidade de respondê-lo e falei, não sem antes lançar um olhar corretivo a Sasuke:

— Vamos até a sala do Conselho e conversamos no caminho sobre. — Chequei discretamente o horário. Eu estava vinte minutos adiantada, todavia resolvi aproveitar a oportunidade que o destino me concedeu de fugir de Sasuke. Não sabia o rumo que aquela conversa que estávamos tendo tomaria e resolvi não ficar para ver. — Continuamos depois, Sasuke. — Despedi-me com um breve aceno.

— Estarei esperando ansiosamente. — Cochichou com um sorriso malicioso, exibindo os dentes brancos e bem alinhados. Revirei os olhos, novamente.

Dei as costas a ele e segui a Yamanaka pelos corredores, não precisei nem ao menos instigá-la a continuar, pois a mesma mal esperou darmos dois passos para começar a tagarelar sobre a suposta ideia:

— Então, Saky, eu já comentei com você que meus pais estavam querendo que eu aparecesse mais no reality show agora que eu já tenho dezoito anos, eles acreditam que seria interessante mostrar mais do meu cotidiano no Instituto... Também como uma forma de publicidade, tanto para minha carreira pessoal quanto para aumentar a audiência. — Deu de ombros. — E o diretor apoiou a ideia, obviamente, já que traria maior publicidade e fama para o colégio. Enquanto eu conversava com a Hina sobre isso, ela sugeriu que eu fizesse uma transmissão em tempo real das preparações e do próprio Festival Cultural, tanto nas minhas redes sociais quanto no programa. E, bem, eu já comentei que a ideia foi quase unanimemente aprovada, não? — Sorriu, virando para mim com os olhos brilhando em expectativa. — O que você acha?

Eu não respondi de imediato. Conforme absorvia a ideia, pensei o quanto essa publicidade poderia abrir portas para todos aqui. O Bunkasai do Instituto Hildegard por si só já era muito difundido e aclamado, além de sempre abrigar visitantes renomados, no entanto, sempre foi muito restrito para um seleto grupo de pessoas, incluindo os próprios estudantes e a elite interessada. A ideia de Ino aproximaria o colégio da população mundial, já que os Yamanaka e seu programa eram conhecidos mundo afora, e chamaria a atenção de grandes produtores, empresários e corporativos de lugares fora do continente asiático. Era genial.

— Brilhante. — Pude notar, pelo canto do olho, o sorriso da loira se alargando cada vez mais. — A sugestão já foi enviada para a Cúpula Maior? 

 — Ainda não, eu queria conversar com você antes. — Ino brincava com os dedos, ansiosa. — Na verdade, eu precisaria de qualquer jeito, porque você é a Secretária.

— Acho que tenho um tempo livre agora, já que você me salvou de Sasuke. — Brinquei, porém realmente aliviada. — Podemos dar início ao preenchimento das papeladas e despachar, o que você acha?

— Perfeito! — Com pulinhos animados, a loira puxou-me às pressas até a sala do Grêmio Estudantil, soltando frases empolgadas de como tudo isso seria incrível.

 

[...]

 

Conforme eu andava pelos corredores, eu verificava a minha lista de afazeres, a qual eu havia me desdobrado em duas para conseguir completar a tempo para reservar um horário específico para o estudo da minha parte para o debate do Clube de Relações Internacionais. Eu não havia tido a oportunidade de participar da reunião quando fora decidida a ideia, muito menos havia tido a chance de negar o papel de representante de um país quando a líder apareceu com seus olhos gigantes e bochechas fofas fazendo a melhor careta pidona para que eu aceitasse, bajulando-me com o fato de eu ser boa em debates. Eu simplesmente não pude negar. E agora cá estava eu, abarrotada até as orelhas com deveres e mais deveres.

Enviar para o Nara os custos médios de cada Clube para as preparações do Festival Cultural: check.

Terminar o trabalho do mês que vem sobre a arte barroca e a relação com a contrarreforma colonialista: check.

Entregar as encomendas 12 e 45 no horário do almoço: check.

Receber as encomendas do Clube de Ciências da Saúde para a preparação da apresentação e entregar para a líder no segundo período da tarde: check.

Comprar os muffins veganos do Akimichi para Tenten: check. Lembrete: cobrar o dinheiro dela.

A lista parecia não ter fim, no entanto, uma sensação de alívio cobria o meu corpo ao perceber que ela estava quase que completamente preenchida. Apenas tirei a minha atenção do papel quando fui parada por um corpo que apareceu na minha frente. Consegui me equilibrar e não esbarrar na pessoa, porém quando levantei os olhos para pedir desculpas, fui interrompida antes mesmo que tivesse a chance de falar:

— Haruno, temos assuntos a tratar. — Tayuya me encarava seriamente. Fiz o melhor para disfarçar a minha careta de surpresa e tensão, deixando meus olhos e sobrancelhas caírem relaxados e monótonos. Assenti para ela, que saiu andando. — Algum avanço?

— Por enquanto não, mas amanhã eu vou…

— Haruno, você quer mesmo que eu acredite que você não descobriu nada ainda? — Encarou-me pelo canto do olho. Cerrei meu maxilar, tensa. Com toda a correria que estava sendo a chegava do Festival, eu esqueci completamente de conversar com Hinata e continuar a investigação.

— Talvez não exista nada a ser descoberto. — Retruquei entre dentes. A ruiva deu-me uma risada irônica. Olhei rapidamente ao redor, torcendo para encontrar alguma pessoa que possibilitasse a minha fuga, mas como era de se esperar de Tayuya, o local estava vazio. Ela provavelmente havia me seguido por um bom tempo até encontrar a emboscada perfeita.

— Oh, por favor! Ontem mesmo eu o vi com um corte no supercílio, com certeza estava arranjando briga com algum novato. — O sorriso sarcástico nos lábios dela beiravam a maldade. — Você, melhor do que ninguém, sabe que aquele garoto é cercado por segredinhos podres… Ou você vai acobertá-lo? — Indagou. Os olhos brilhavam em uma malícia curiosa e eu sabia que não poderia deixar essa ideia na mente dela por muito tempo ou a situação ficaria ainda pior, tanto para mim quanto para Hina. Forcei uma risada irônica.

— Oh, por favor! — Repeti a exclamação dela. — Eu não me daria o trabalho, até porque, depois de você, eu sou a segunda pessoa do Instituto que mais espera por vê-lo finalmente expulso, Tayuya. — Revirei os olhos e franzi o nariz instintivamente com a mentira. — Me dê até terça-feira da semana que vem e eu trarei os resultados que você espera. — Tayuya deu as costas para mim, contudo, antes de partir, inclinou a cabeça levemente para trás, ostentando o seu sorriso vencedor.

— Estou contando com isso, Haruno.

 


Notas Finais


Considerações? Estou doida para saber o que vocês estão pensando!


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