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História When I Dreamed - Event and invite


Escrita por: Shiroyu

Capítulo 5 - Event and invite


Quando saiu da sala de Chris, Victor encontrou Yuri ainda investido em uma conversa com Mila, ambos sentados no sofá da recepção. Aquela havia sido a mais longa interação humana que ele já havia presenciado envolvendo Yuri. Ele parecia irritado, já que Mila sorria e ele não trazia a mais amigável das expressões, com os braços cruzados e as sobrancelhas quase juntas de tão franzidas. Ainda assim, ele ainda respondia o que ela dizia, e ainda não havia levantado e saído dali sem dar satisfações, o que poderia muito bem ser considerado o indício de uma amizade, se ele quisesse ser otimista.

— Resolveu as coisas com Chris, já? – Mila indagou, assim que o viu se aproximar. Yuri também parecia interessado na resposta, apesar da sua recusa em ouvir os lamentos de Victor diariamente.

—  Sim, já tenho com o que trabalhar assim que chegar em casa. Finalmente! – Fazia tanto tempo desde que Victor havia tido um rompante de ideias dessa forma que estava até mesmo se sentindo tonto. Precisava fazer seus dedos trabalharem até que todo este amontoado de palavras zumbindo em seus ouvidos enfim tomasse forma, o quanto antes.

— Yuri aqui me contou que você anda pensando em escrever algo relacionado à ballet? – Ela comentou. Victor não teria imaginado que havia se tornado um dos tópicos da conversa entre os dois.

— É o que eu pretendo. – Ele confirmou, aquele mesmo sorriso tolo voltando a surgir, fruto da excitação em finalmente ter algo no que se firmar. A mente vazia sempre fora um problema para ele.

— Bem, então eu tenho algo para você! – Mila também parecia influenciada pela animação repentina de Victor, e saltou do sofá, puxando sua mochila para frente, começando a procurar por algo dentro dela. – Só um momento… Eu sei que está aqui… – Ela revirou mais um pouco o que parecia ser uma quantidade absurda de objetos para uma só pessoa carregar. – … Em algum lugar… – Mais alguns segundos de procura, e, finalmente perdendo a paciência para procurar da forma tradicional, ela virou a bolsa de ponta cabeça sobre o sofá, fazendo uma cascata formada por uma variedade infinita de objetos que variavam entre itens de maquiagem, aparelhos eletrônicos, moedas, notas fiscais que não serviam para nada e embalagens que ela esqueceu de jogar fora. Do meio dos objetos, ela recuperou um pedaço de papel, e estendeu para Victor. – Aqui! – Exclamou, orgulhosa.

Victor abriu o que parecia ser um folheto promocional. Anunciava um festival de dança que ocorreria no próximo mês, trazendo companhias de todo o país para  apresentações variadas, durante dois dias.

— Acho que pode te ajudar, ter alguma experiência com a coisa real. Eu vou fotografar para esse evento no Lincoln Center, então talvez consiga passes para os bastidores, e você pode até falar com os bailarinos, coletar informações, e sentir a atmosfera desse tipo de coisa, não sei? O que acha?

— É perfeito, Mila! – Victor não se conteve, e abraçou a garota, dando pulinhos de empolgação que fizeram Yuri querer enfiar sua cara no encosto do sofá e nunca mais sair dali. – Muito obrigado! Eu vou ficar devendo eternamente a você por isso! É exatamente o que eu precisava!

— Disponha. – Ela disse simplesmente, jogando as pontas do cabelo curto para trás dos ombros simbolicamente. – Agora, eu tenho mesmo que ir! – Ela se agitou, correndo para enfiar todas as coisas de volta na bolsa – Hey, Yuri, eu vou enviar para você o link daquele gameplay que eu falei!

— Vou esperar. – Yuri falou, no mesmo tom desinteressado que ele usava para quase tudo, mas Victor percebeu claramente que não havia qualquer indicação de animosidade. Seu pequeno Yura estava enfim fazendo amigos de verdade, que emoção!

Mila saiu como um furacão, e os dois ficaram para trás. Yuri começou a se movimentar primeiro em direção à saída, e Victor o seguiu de perto.

— Você já tem o que precisava, não é? Vamos logo para casa.

— Não podemos voltar de táxi dessa vez? Tem tantos por aí, e está calor demais pra andar de metrô… – Victor se jogou sobre Yuri, soltando todo o seu peso sobre o adolescente, que automaticamente o empurrou. – Por favooor…

— Tanto faz, você que vai pagar mesmo.

Soltando os braços, em um longo suspiro, Yuuri se aproximou da caixinha de som ligada ao seu celular e pausou a música, mais uma vez. Não estava certo ainda. Nada daquilo parecia certo. Por mais que ele repetisse e repetisse os mesmos movimentos por horas, o bastante para já ter decorado cada sequência, nada daquilo que ele tentava fazer transmitia o sentimento que deveria estar ali.

Havia pedido à Minako por algum tempo para ajustar a coreografia, e ela sugeriu que ele usasse uma das salas menores do estúdio, que não estivessem sendo ocupadas, para praticar com calma e privacidade. A ideia foi ótima, porque Yuuri jamais teria conseguido fazer isso em uma sala com mais pessoas, mas ele se encontrava travado e sem ideias sobre como prosseguir.

Yuuri podia ter agora uma vaga ideia sobre como era sentir eros, e isso já era um começo, mas não significava que ele sabia como transformar esse sentimento em movimentos. Nunca havia pensado em seduzir ou ser seduzido por alguém antes. Era algo mais complexo do que parecia, de início. E toda vez que ele tentava, parecia forçado, fora de lugar, e ele se sentia patético por estar tentando. Devia ir até Minako naquele mesmo instante e se desculpar por sequer ter cogitado a possibilidade de que conseguiria.

A porta do pequeno estúdio abriu, e Yuuri sobressaltou. Uma das suas colegas – May, era o nome dela, se ele não estava enganado – entrou, sorrindo na sua direção. Ela era muito amigável, ele lembrava, o que o fazia ficar nervoso com a aproximação automaticamente. Ele não era bom lidando com pessoas assim. Eles já haviam conversado algumas vezes antes, algo inevitável quando se faz parte de um grupo, mas ele lembrava que May sempre foi muito cordial com ele. Diferente de alguns que o pressionavam para se abrir e interagir mais, ela apenas aceitava seu jeito reservado e contribuía facilmente para o andamento dos diálogos, algo que ele agradecia, já que dificilmente conseguiria manter uma conversa de outra forma. Era quase como ter um Phichit reserva dentro do grupo.

— Aí está você, Yuuri! Já está tão tarde, e você não saiu daqui nem para tomar uma água. Não está cansado ainda?

Yuuri percebeu que May já estava usando suas roupas casuais, e os cabelos castanhos estavam úmidos, de um banho recente no vestiário, provavelmente. Era hora de ir embora. Ela foi enviada até ali para buscá-lo e impedir que ele acabasse esquecido, ficando preso dentro do estúdio quando todos fossem embora, certamente. Não que isso já tivesse acontecido antes, mas foram várias ocasiões em que quase.

— Eu, hm… Eu já estou indo embora, também. – Ele afirmou, embora relutante. Não queria sair dali até resolver as dificuldades que havia encontrado, mas parecia difícil que fosse conseguir naquela noite. Melhor ir embora e não causar mais problemas para ninguém.

— Dúvidas com a coreografia? – May indagou, curiosa, tentando espiar a tela do celular de Yuuri para visualizar qual música ele estava praticando. Quando leu o título, soltou um pequeno murmúrio de concordância – Uuh… Essa é complicadinha, mesmo...

— Sim… Meu problema aqui tem mais a ver com a… temática, do que com a coreografia em si. – Ele admitiu, sentindo-se derrotado. Se não falasse com pelo menos uma pessoa sobre a dificuldade que estava tendo com aquele programa, acabaria explodindo. Mas Phichit não entenderia, e Minako não queria escutar desculpas.

— Hm… Você já tentou pesquisar sobre? – May sugeriu, singelamente. – Quero dizer, cada um tem uma forma única de expressar cada sentimento na dança, você só precisa encontrar qual é a sua. O que você costuma fazer para passar o tempo, por exemplo? Coisas como filmes, séries, ou escutar música… Você pode pesquisar materiais relacionados nessas fontes e estudar. Se for com algo que você gosta, talvez seja mais fácil de se identificar, sabe?

—  Eu gosto de ler… – Yuuri respondeu, incerto sobre o quanto isto poderia ser útil no seu caso.

—  Perfeito! Então, qual foi o livro mais… sexy que você já leu? Teve algum com esse tipo de vibe que você consiga lembrar?

Yuuri não precisou pensar muito para saber a resposta. Havia sim um livro que despertava esse exato sentimento, e ele se sentiu bobo por não ter pensado nisso de imediato. Outro dia mesmo, estava falando sobre isso com Phichit. Como pôde esquecer?

—  Acho… que tem um livro assim. – May sorriu ao ver a compreensão atingir os olhos do outro.

— Então acho que você tem a sua fonte de inspiração. Tente começar a pensar em algo a partir daí. – Ela ergueu os ombros, sutil. – Mas é sério, acho que você tem que ir. Não é bom ficar se forçando tanto.

— Está bem, eu estou indo. – Yuuri recolheu seu celular e se dirigiu para onde sua mochila esportiva estava jogada em um canto. – May… Obrigado. – Ele disse, antes de se abaixar para pegar suas coisas.

— Não foi nada. – Ela se preparou para sair, mas parou no meio do caminho, e com um giro gracioso, como esperado de uma bailarina, ela voltou a se virar para Yuuri. – Na verdade, tem uma coisa que você pode fazer para me agradecer apropriadamente.

— O quê…?

— Me leve para tomar um café sábado. – Ela afirmou, sem inibições. Yuuri quase engasgou, sem conseguir pensar em uma resposta rápida o bastante. – Eu mando os detalhes para você por mensagem. Nem pense em furar comigo! – Yuuri não teve tempo de reagir, já que a garota acenou mais uma vez e saiu saltitando.

O que estava acontecendo com as mulheres desse lugar que jogavam essas coisas nele e não o deixavam ter qualquer chance de escapar?!

Daquela vez, quando abriu os olhos, Victor soube imediatamente que estava sonhando. Era uma sensação estranha, ter consciência disso, enquanto caminhava novamente por aqueles mesmos corredores iluminados da última vez. Ele lembrava claramente de como estava sentado no chão da sua sala, com o notebook sobre a mesa de centro, e os dedos trabalhando tão furiosamente como não acontecia há muito tempo, com a companhia fiel de xícaras de café e Makkachin deitado ao seu lado.

Havia perdido a noção do tempo. Yuri já havia ido dormir há horas, e a noite silenciosa facilitava ainda mais o processo de concentração em que ele havia entrado. Em algum ponto da noite, ele provavelmente havia escorado a cabeça para trás, no sofá, alongando os braços e esticando os dedos dormentes do trabalho ininterrupto. Fechou os olhos, o sono venceu a agitação causada pela vontade de escrever, e agora, estava ali.

Victor não perdeu tempo. Precisava encontrar o dançarino, precisava vê-lo de novo, conversar com ele, e não sabia dizer o quanto exatamente dessa vontade era motivada apenas pelas ideias para o livro. Quando subiu as escadas e entrou na mesma sala branca da outra vez, o dançarino estava lá.

Mais próximo do fundo da sala, ele não percebeu quando Victor entrara, e continuou concentrado no que fazia. Ele estava dançando. E Victor teve certeza de que jamais havia presenciado nada igual. Mesmo com todas aquelas horas assistindo vídeos de dança recentemente, nada do que ele vira podia se comparar com a forma como aquela pessoa se movia.

Não havia música ali, mas dificilmente seria necessário. A maneira como ele se movimentava parecia criar notas na mente – era quase como se ele pudesse ver a música sendo expressada em cada pequeno passo, em cada gesto. Sua expressão, solene e focada, era algo que Victor queria gravar em sua mente para sempre. Ele era perfeito.

Abruptamente, e para a decepção de Victor, ele parou de dançar. Virou-se para trás, fitando-o com aqueles olhos impassíveis, e sorriu. Era quase como se ele já esperasse que Victor fosse aparecer, e seu coração martelou com essa perspectiva. Ele se aproximou, alguns passos, hesitante, e o dançarino não recuou dessa vez. Isso parecia um bom sinal.

Ele ainda vestia a mesma roupa preta, mas seus cabelos estavam penteados para trás. Victor conseguia ver melhor o rosto dele, e seu coração parecia prestes a derreter. Ele era, sem sombra de dúvidas, o ser mais lindo que Victor já tivera a sorte de enxergar. Ele colocou o dobro de esforço em decorar aquele rosto, sabendo que quando acordasse, as chances de ainda lembrar dele eram mínimas.

“Qual o seu nome?”. A pergunta soou estranha no silêncio que o rodeava, e perdurou no ar por alguns segundos, enquanto o dançarino parecia praticamente flutuar na sua direção, com tanta leveza que não seria surpresa se ele pudesse, de fato, voar.

Ele respondeu. Sua voz era tão suave e doce quanto ele imaginou. Aquele nome combinava com ele.

Victor queria dizer mais. Tinham tantas coisas surgindo ao mesmo tempo na sua cabeça, perguntas, afirmações, respostas, tanto que ele já não sabia o que falar primeiro, e acabou travando. O dançarino pareceu achar graça da sua confusão. Sorriu, e ainda mais gracioso do que antes, se é que isso era possível, aproximou-se e envolveu Victor em seus braços, segurando-o pelos ombros e usando-o com apoio para se colocar na ponta dos pés, alcançando facilmente a altura do ouvido de Victor.

Sussurrou algo. Victor perdeu alguns segundos apreciando a sensação cálida da voz dele percorrendo seu ouvido, a respiração próxima e os lábios quase roçando em sua pele.

Acorda, Victor…

Acorda…

—  ACORDA, VICTOR!

Victor sentiu o golpe e o seu corpo caindo no chão, só para perceber que ele já estava no chão este tempo todo. Seu computador havia desligado sozinho, Makkachin não estava mais ali, e ele estava no mais completo breu, mas conseguia divisar, com alguma dificuldade, a figura de Yuri erguendo-se sobre si.

—  Q-que horas são? – Ele indagou, a voz falha de sono.

— Eu não faço ideia, ainda é madrugada. Acordei para tomar água e você estava dormindo aí no chão feito um mendigo. Depois acorda com a coluna ferrada, seu velho, pelo menos vai dormir na cama!

Victor entendeu a preocupação oculta por palavras rudes, e decidiu fazer como Yuri sugerira. Ergueu-se do chão, sentindo os joelhos e as costas estalarem. Ah, isso ia doer amanhã. De súbito, as imagens recentes começaram a voltar à sua memória, e ele virou-se para Yuri, que já se encaminhava de volta para o corredor em direção ao seu quarto.

—  Eu sonhei com ele de novo, Yura! Ele me disse o nome dele!!

— Um nome? – Yuri parecia surpreso, e parou de andar, virando-se para ele. – E qual é?

—  Eu… eu não lembro… – Ele admitiu relutantemente, ao perceber que, de fato, não conseguia lembrar o que o dançarino havia dito. Lembrava da sensação de enfim saber o nome dele, e do quanto aquele nome combinava com a figura elegante e desenvolta que conhecera, mas… O nome simplesmente não vinha à sua memória. Infelizmente, nem mesmo o rosto aparecia claramente nas memórias difusas que tentavam se organizar em sua mente recém desperta.

Yuri bufou. A memória horrorosa de Victor não era novidade.

— Tanto faz. Vai lá dormir pra ver se sonha com a sua musa de novo. – Batendo a porta atrás de si, Yuri deixou Victor mais uma vez sozinho com suas lembranças confusas e a sensação de que havia esquecido de algo muito, muito mais importante do que apenas um nome.

Só mais um capítulo e ele ia parar. Só mais aquele.

Mesmo sabendo o que aconteceria, Yuuri não conseguia desgrudar os olhos das palavras, devorando cada página com o mesmo fervor de quando leu pela primeira vez. A história o envolvera com tanta emoção que, mesmo ciente dos fatos futuros e do final, ainda sentia aquela necessidade inerte de continuar lendo para saber o que a narrativa traria para ele.

Provavelmente, se alguém contasse a ele aquela história antes que ele a lesse, ele a classificaria, no mínimo, como um grande clichê. A história se passava no século XIX, onde um aventureiro conquistador, que vivia a viajar de cidade em cidade, chegava em um pequeno vilarejo, e se deparava com a mulher mais linda que já conhecera. Ela parecia ser a única mulher imune aos seus encantos, e ele enfrentava o desafio de conquistá-la com uma paixão fervorosa, decidido a tê-la em seus braços. Quando enfim consegue o coração da donzela, o conquistador partia para a próxima cidade, como esperado.

O que ele não esperava era a sensação de vazio que acompanharia aquela despedida. Apesar de tudo, havia se apaixonado também pela donzela, e negara isso em seu coração, decidido a não ceder ao sentimento que, em sua concepção, o deixava vulnerável, fraco, e ia contra todo o seu modo de vida. A vida de festas, mulheres e danças, isso já não trazia o mesmo apelo que antes. Não tinha o mesmo valor, não o satisfazia mais. E, justo quando ele cogitou a possibilidade de voltar ao vilarejo e implorar pelo perdão da única mulher que verdadeiramente amou, buscando a chance de talvez viver uma vida ao seu lado, ela surge diante dele. Ele quase imaginou que estava delirando. Mas ela estava lá, tão linda como sempre. Fugira de casa, do noivado arranjado pelos seus pais, e percorrera toda aquela distância buscando por ele. Por fim, os dois fogem juntos, e continuam viajando de cidade em cidade, percorrendo o mundo, conhecendo pessoas e explorando aquele sentimento único e inédito para ambos.

Yuuri não conseguia se relacionar com aquele sentimento avassalador que faria alguém largar a sua vida inteira apenas para poder sentir-se assim pelo resto da vida. Nunca havia se sentido dessa forma, e não conseguia nem imaginar o que seria amar alguém a este ponto. Mas não podia negar que a ideia de sentir-se dessa forma, apesar de parecer distante e impossível para alguém como ele, também soava quase atraente. Se amar alguém fosse fazê-lo sentir-se vivo daquele jeito… Então ele não se importaria tanto assim.

No entanto, ele era realista. Sabia que esse tipo de coisa não acontecia fora das páginas de livros como aquele, e, mesmo se acontecesse, de todas as pessoas do mundo, alguém como ele estaria certamente fora de cogitação. Então, Yuuri se resignou a pensar naquele sentimento como algo abstrato e fora de alcance que serviria apenas como uma forma de interpretar uma dança, e nada além disso. Pensar demais – como Yuuri tanto costumava fazer em cada aspecto da sua vida – só faria com que ele se sentisse mal consigo mesmo, e essa era a última coisa que ele precisava agora.

— Hey, Yuuri. Você não tem que sair daqui… meia hora? Devia estar se arrumando. – A voz de Phichit vinha da cozinha, mas, deitado no sofá com o livro sobre o rosto, Yuuri não conseguia vê-lo.

— Eu só preciso sair daqui às 4 horas para chegar lá há tempo.

—  Então… Já passou das três e meia.

— Mesmo? – Yuuri deu um pulo do sofá, tendo o cuidado de colocar o marcador na página do livro antes de colocá-lo sobre a mesa da televisão e correr para o seu quarto. – Droga, não vai dar tempo de tomar banho. Você viu meus tênis, Phichit?

— O que você usou na faculdade ou os novos?

— Pode ser o que eu usei mesmo, eu não sei onde eu coloquei…

— Banheiro.

Yuuri corria de um lado para o outro, juntando coisas na sua bolsa de couro e procurando por uma camiseta que estivesse com um cheiro aceitável, pelo menos. Aqueles jeans não estavam tão ruins, não é? Ah, por que eles não lavaram roupa naquela semana ainda?

Phichit observava tudo isso com uma rara expressão séria no rosto. Quando Yuuri passou por ele novamente, procurando pela escova de cabelos na cozinha, ele decidiu falar de uma vez o que estava pensando.

— Você tem certeza sobre essa coisa toda de encontro? – Ele enfim indagou, e a pergunta fez Yuuri parar no meio do caminho, fitando-o com dúvida. – Olha, eu não quero ser aquele amigo que te coloca para baixo nem nada, acho ótimo que você queira sair e socializar, mas… É só que você não parece nada animado pra isso. Até esqueceu de cuidar a hora! Pelo que eu conheço de você, Yuuri, e vamos lá, eu conheço você bem o suficiente para saber que se você estivesse realmente querendo ir se encontrar com essa garota, estaria olhando para o celular a cada cinco minutos, e teria confirmado o lugar e o horário com ela pelo menos umas 5 vezes só hoje. Você estaria louco pensando no que vestir, e em como arrumar seu cabelo, e estaria pensando em desistir exatamente agora, analisando todas as possíveis maneiras de que esse encontro poderia dar errado, porque você não iria querer que nada desse errado. Estou mentindo?

Yuuri não sabia exatamente o que responder, porque Phichit havia narrado com exatidão cada aspecto da forma como Yuuri costumava agir, e ele tinha que reconhecer que ele estava absolutamente certo. Yuuri só queria ir até lá, pagar o café para May e acabar com isso o mais rápido possível. Estava encarando aquele “encontro”, se é que poderia chamar assim, mais como uma tarefa do que qualquer outra coisa.

— Eu sei o que eu falei sobre você não ter experiência e precisar pensar em algo para poder fazer essa dança, mas você não precisa se forçar a sair com alguém por causa disso, ok? É perfeitamente normal ter 22 anos e ainda ser um virgem sem a menor experiência, e-

— Phichit. – Yuuri interrompeu o monólogo de Phichit antes que ele exagerasse e falasse mais besteiras ou atacasse a frágil auto-estima de Yuuri tão afiadamente que acabaria deixando-o derrotado. – Eu estou bem, de verdade. Eu não estou me forçando nem nada. Vou só pagar um café para essa colega, e nada além. Não é um grande evento nem nada disso…

— Mas… Você chegou outro dia dizendo que ela chamou você para um encontro, e eu fiquei completamente animado, sério, eu achei que era algo grande! – Phichit começou a gesticular ainda mais do que o normal, um sinal claro de que ele estava exaltado. – E agora… Você não parece ter a menor vontade de fazer isso, e eu não gosto da ideia de você estar, eu não sei, se esforçando além do que deve. Eu sei que você tem essa tendência de exagerar quando se trata dessas coisas...

— Calma, Phichit… Não é nada demais, sério mesmo. – Yuuri se aproximou, repousando uma mão no ombro de Phichit. Ele não era muito partidário do contato físico, mas essa linguagem sempre funcionou perfeitamente bem com o tailandês. – Ela só me convocou e eu não tive escolha. Vai acabar bem rápido, e aí eu vou voltar e a gente pode ver os filmes de máfia que você separou para me mostrar o que era ser sexy, ok?

—  Parece um bom plano. – Phichit sorriu, voltando ao seu normal. – Mas, olha… Se a garota for legal, e você gostar de conversar com ela, você podia dar uma chance, sabe? Não estou dizendo que você é um solitário, mas… Não faria mal, tentar, não é? – Ele piscou um dos olhos, esperto. – Às vezes eu fico mesmo um pouco preocupado, porque você sempre prefere se isolar e andar sozinho…

— Está tudo bem, Phichit. Obrigado por se preocupar. – Yuuri sorriu em resposta. Phichit era de fato o melhor amigo que alguém poderia querer. Mas ele já não tinha mais tempo para essas emoções, porque precisava mesmo sair. – Você viu a escova de cabelo?

— Vai com o cabelo assim mesmo, dá um ar mais playboy. De repente você consegue encantar ela com esse seu eros não planejado e natural. – Phichit sorriu de canto, e agora Yuuri teve certeza de que ele não estava se preocupando mais tanto, se já conseguia fazer provocações tão livremente. Yuuri conteve o impulso de fazer qualquer gesto obsceno para o outro, antes de sair dali.

—  Ótimo. – Yuuri arrumou o cabelo com os dedos mesmo, sem tempo para pensar nisso com cuidado, e já ia em direção à porta.

Teria pedido para Phichit desejar sorte, mas não sabia exatamente se queria que isso desse certo ou se só acabasse rápido para ele voltar para a sua vida normal e sem graça de sempre. Só saberia quando chegasse lá, pelo jeito.

 


Notas Finais


Oi, gente!
Aqui estou, com mais um capítulo da fic~ dessa vez, focou um pouco mais no Yuuri e no caminho que ele está percorrendo para resolver os próprios dilemas, mas prometo que o Victor vai ter seu merecido destaque em breve. Além disso, os sonhos do Victor estão começando a ficar mais intensos - será que ele descobre alguma coisa?
Espero que tenham gostado desse capítulo, e continuem acompanhando a história o/ Muito obrigada, e até a próxima!!


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