Quando vi o loiro na minha frente corri e lhe abracei forte. Olhei pra tela do celular e vi que Shawn já tinha desligado.
— Eu não acredito que é você! — me separei e lhe olhei mais um pouco.— Ah! É você mesmo!— voltei a lhe abraçar.— O que você tá fazendo aqui? Eu pensei que você tinha ficado em Nova Iorque.
— Eu sei, eu sei. Mas eu não vou passar minha vida sem vir pra Toronto e te ver. Ver a Anne. — ele disse animado.— Eu fiquei de férias da empresa.
— Pois é.... Da sua empresa!— coloquei o dedo no seu peito, orgulhosa.
— E como você está?
— Bem. Muito bem.
— Você tá namorando com o Shawn.— Carter afirmou engolindo seco.
— Sim. — ficamos nos encarando, até ele acabar com o silêncio.
— Você pode sair agora?
— Eu não sei, hoje já recebi uma bronca e...— Carter fazia uma cara de cachorro abandonado.— Tudo bem. Vem logo.
Puxei sua mão recebendo olhares carregados de más intenções. Ignorei e sai.
Logo na frente tinha um carro cinza. Um belíssimo carro cinza.
— Vem, eu quero que você me leve até a Anne.— assenti quando Carter abriu o carro fiquei chocada ao ver que apenas com 19 anos e uma empresa de eletrônicos ele já tinha conquistado tanto.
[...]
Quando paramos em frente a faculdade de Anne, entramos inventando uma mentira para os seguranças.
— Com licença, nós precisamos entrar. É caso de vida ou morte. A avó de uma das alunas está...— Carter começou mas logo o segurança o parou.
— Entrem logo, mas não demore.— assim fizemos. O pátio estava cheio de universitário em seu momento de descanso.
— Eu não acredito! Carter Harper!— eu só ouvi Anne gritar, e se jogar nos braços de Carter.— O que você tá fazendo aqui?— ela perguntou, quando o garoto abriu a boca pra responder foi cortado por ela mesma que disse:— Não importa! Você tá aqui!— e voltou a abraçar o loiro. Quando me viu arqueou uma sobrancelha.— Não era pra você estar na aula?
— Carter me arrastou até aqui.— dramatizei, recebendo um sorriso de lado do mesmo.
— Tá, então eu vou pegar minha bolsa e nós vamos embora daqui. Você tá com seu carro, Mel?
Meu carro!, me lembrei colocando a mão na testa.
— A gente tem que voltar pra minha faculdade. Eu odeio deixar meu carro lá. Você vai pro apartamento com a Anne que eu te sigo.— comentei para Carter que girava o chaveiro da chave de seu carro no indicador.
— Vamos?!— Anne gritava já no portão do pátio.
— Como ela pode ser tão rápida quando é algo que é conveniente para ela?— indaguei andando em passos largos até a morena.
Quando saímos da escola os seguranças nos olharam confusos. Já que o caso era de vida ou morte, e Anne saiu da faculdade sorrindo.
— Ela pensa positivo em situação de vida ou morte. Coitada.— menti, colocando as mãos nos ombros daqueles homens enormes. Os mesmos me olharam com a feição brava.— Eu que deveria estar de mal humor. Faz muito mais de três semanas que eu não vejo o meu namorado. Pois é, a vida não é justa meus caros!— esbravejei rindo, assim como os dois que riam balançando a cabeça em negação.
Entrei no carro e coloquei o cinto. Liguei o rádio e tocava There's Nothing Holdin Me Back. Sorri, fechando os olhos e escorando a cabeça na janela. Ouvindo a voz de meu namorado claramente como a de um anjo sussurrando. Batuquei os dedos na coxa de acordo com o ritmo da música.
— Ele é bem conhecido agora.— Carter disse.
— Ele é maravilhoso!— Anne exclamou, parando de cantar apenas por essa fração de minutos.
— Chegamos.— abri os olhos e desci.— Pro apartamento, não é?— ele perguntou baixando seu vidro.
— Sim, pode ir.— então o carro cinza sumiu em meio as ruas de Toronto.
Fui no estacionamento e destravei meu carro. Coloquei na mesma playlist de sempre e comecei a dirigir perdida em meus pensamentos.
Na briga em que eu e Shawn nos separamos de vez, o principal motivo não foi a menina oferecida que ele estava "namorando". Aquilo foi só uma gota d'água que fez a maré enorme e confusa que era nossa amizade.
" — Eu e Carter estamos namorando.— desembuchei. Pedindo internamente que seus olhos castanhos não se tornassem como armas direcionadas a meu coração.
— Namorando?
— Namorando.
E o fio de esperança que unia meu coração ao meu peito sumiu, em meio as batidas descompassadas e perdidas que estava dentro do meu corpo. Seus olhos estavam tristes. Decepcionados e procuravam nos meus a resposta. Eu me perguntava se ele podia ver o quanto eu gritava por ele, por cada parte sua.
— Por que?
— Não é o mais propício a se perguntar nesse momento.
— É o que me dá a resposta que eu preciso.
— Não me pergunte o que nem eu consigo saber.
— Me responde.
— Porque eu tô farta. Farta de fechar os olhos pra cada garoto que eu conheço por sua causa.
— E eu não faço isso?— eu ri sarcasticamente.
— Isso é o que você menos faz. Você está com a Natalie, Shawn. Você ainda quer ter o direito de dizer que fecha os olhos para as garotas, quando você beija a menina mais oferecida na frente de todo mundo?!
— Não é bem assim.
— Claro que é! Você não se importa com o que nós construímos nessa amizade. Você não está nem aí!— ele se levantou passando as mãos no cabelo.
— Isso não é verdade. Não diz isso.
— É verdade! E você sabe disso.
Me permiti desabar. Então a primeira lágrima caiu.
Estávamos na sua casa, eu e Shawn nos encaravamos com medo de dizer algo que machuque o outro. Ele tava ficando com a menina mais piranha do colégio e sabia disso mas ela estava armando um teatro fingindo ter mudado por ele. Sua carreira como cantor estava realmente dando certo e ela estava com ele por interesse, eu e ele brigávamos por ela, Shawn parecia cego. Tínhamos acabado de sair de uma discussão e eu estava com os olhos inchados chorando por ele.
— Você realmente acha que ela vale mais que a nossa amizade?— pergunto olhando fixamente para seus olhos.
— Você acha que estragar nossa amizade por ciúmes adianta?
— Não é ciúmes!— me levanto da cama e aumento o tom de voz
— Então o que é?
— É por você! Ela está com você por status! Você não consegue ver?
— A única coisa que eu vejo é você com ciúmes e que não quer aceitar por um orgulho bobo.
— Não é ciúmes... Por que é que eu teria ciúmes de você?
— Por que você não teria? Eu não sei se você se lembra mas nós nos beijamos!— eu gelo por ele lembrar.
— Claro que eu me lembro!
— E por que não ter ciúmes?— ele fala no mesmo tom de voz que eu.
— Ok Shawn! É ciúmes! Ciúmes, saudades, medo! Tudo! Ciúme por ver você com aquela piranha e não conseguir enxergar o que ela realmente é! Medo por ver você sair pra fazer seu shows e você esquecer de mim. Saudade porque toda vez que vejo você entrando no avião leva um pedacinho de mim.— as lágrimas caiam sem parar.
— Eu te escrevi um música!
— E eu sei! E é linda! É a coisa que me traz conforto mas eu realmente não quero viver sem você e se for pra viver que seja de uma vez! Eu quero que você cresça e que todos os seus sonhos se tornem realidade! Mas por favor quando você sair daqui nunca mais olhe nos meus olhos, porque você realmente me machucou em não saber lidar com os meus sentimentos jogando eles no lixo e ficando com ela! Então eu te digo e imploro, vá e brilhe cante de Never be alone como se nunca tivesse feita pra mim... Mas agora me deixe ir e de todas as canções que você cantar, cante e faça delas verdadeiras assim como você. Obrigada por tudo e nunca se esqueça... Eu te amo.
— Se você sair por essa porta deixando tudo isso assim eu te juro que nunca existiu nada disso.
— Então nada existiu.— abro a porta de seu quarto e desço as escadas indo até a porta.
— Melissa, não vá assim.— Karen lamenta ao me ver sair naquele estado.
— Adeus Karen.—forço um sorriso e saio da casa."
E outra lágrima caiu apenas por me lembrar da dor que eu senti naquele dia. Carter estava aqui e isso só me partia em pedacinhos.
Cheguei no apartamento e passei direto pelos dois. Me tranquei, vesti um moletom de Shawn e me joguei na cama.
[...]
— Pode entrar.— Miranda gritou assim que eu bati na porta de seu escritório.
Adentrei, e quase deixei meu queixo cair. Era lindo. Tinha telase tintas espalhadas por cada canto. Quadros pintados.
— Sente-se.— ela pediu apontando para a cadeira em frente a sua mesa. Assim fiz e ela logo começou: — Eu tenho uma bolsa que pode ser sua na minha academia de artes. Em Nova Iorque.
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