O ambiente entre o grupo de aliados estava tenso. Você conseguia sentir na perfeição o nervosismo e o receio transbordando de cada um dos seus amigos conforme alcançavam finalmente o continente, as terras visíveis à distância sem qualquer resquício de vida.
Nenhum dos presentes cogitou sequer se aproximar do caos, no entanto. Estavam cientes de que se o fizessem iriam acabar vendo cenas que os marcariam para toda a eternidade. E naquele momento, eles não precisavam de sentir mais esse peso. Os seus corações já doíam demais só de ver a destruição causada por Eren ao longe.
─ Que pesadelo... ─ Reiner murmurou, seu maxilar cerrado conforme fechava os olhos, afim de evitar encarar todo aquele caos.
─ Toda essa situação já foi definitivamente longe demais. ─ Pieck acrescentou num suspiro sôfrego, e a sua mente divagou em memórias de casa, que agora provavelmente não passava de um amontoado de escombros.
─ Então foi assim que vocês se sentiram quando nós atacamos as muralhas... ─ Annie se pronunciou claramente abalada, a culpa de todas as coisas de ruim que havia feito se tornando bem predominante dentro do seu peito.
Os Eldianos do grupo, no entanto, apenas abaixaram a cabeça, evitando responder. Não eram necessárias palavras. Agora eram entendidos na perfeição.
─ Vamos acabar com isso logo. ─ as suas palavras soaram firmes, e você encarou Hange. ─ Enquanto os Azumabito tratam da manutenção da aeronave, podemos colocar o nosso plano em prática.
Ao ouvir as suas palavras, Armin engoliu em seco. Ele ainda não tinha aceitado aquela ideia maluca, mas tinha consciência de que seria inútil tentar impedi-la agora que você já tinha decidido fazê-lo.
─ Certo. ─ Hange assentiu, ajustando os óculos. ─ Sabemos que os súbditos de Ymir estão todos conectados por algo invisível. Caminhos invisíveis aos olhos. Às vezes, esses caminhos carregam até lembranças ou vontade de agir. E todos eles se cruzam em uma única coordenada. Todos os Titãs, todos os súbditos de Ymir estão ligados a esse ponto. Ligados por caminhos que transcendem o espaço físico. Acredito que seja para lá que você tem que ir para a encontrar, e acredito que o consiga fazer assim que ingerir o fluído de Zeke.
─ Eu... Já vi esse lugar. Diversas vezes. ─ você murmurou, pensativa. ─ Eu vi ele antes de regressar para o meu mundo, e também quando Eren assumiu o controle total do fundador.
─ Isso só me deixa mais confiante de que o seu destino é esse. ─ a morena sorriu levemente, e você assentiu.
Sim. Aquele era definitivamente o seu destino. Você tinha sido criada por Ymir naquele mundo para que pudesse percorrer os caminhos que estava percorrendo.
─ Antes de prosseguir com o plano, eu gostaria de lhe dar algo. ─ Levi se pronunciou, e você ergueu as sobrancelhas ao encarar a sua figura repousando na cadeira de rodas. Grande parte do seu rosto estava coberto de bandagens, mas uma das coisas que se mantinha visível era seu olhar impetuoso caindo sobre você, o qual a fez estremecer. ─ Você não teve chance de receber a sua, mas acredito que a mereça tanto ou mais do que nós. ─ a voz do Cabo soava calma, e você prendeu a respiração, antecipando o que ele iria fazer. Esticando a mão na sua direção, ele revelou a medalha que carregava dentro dela, um sorriso escondido surgindo no seu rosto. ─ Isso é para você.
Você piscou incrédula, alternando o olhar entre o objeto e o homem que o segurava, sua cabeça balançando em descrença ao ver que o pescoço esguio dele se encontrava vazio.
─ Eu... Não posso aceitar... Essa é a sua meda-
─ Você vai aceitar. ─ você mordeu o seu inferior perante o tom firme de Levi. ─ É uma ordem. Respeite o seu superior.
Uma risada escapou por entre os seus lábios ao escutá-lo, suas palavras se tornando o incentivo necessário para que você finalmente aceitasse o gesto carinhoso dele. Acolhendo a medalha na sua mão, você prontamente a colocou em volta do pescoço, sorrindo em gratidão.
Levi não era o tipo de pessoa que demonstrava afeto com frequência, então o fato dele ter saído do seu próprio caminho para fazer algo bom por você, era algo que você jamais esqueceria.
─ Veja isso como um agradecimento por tudo o que fez pela gente. Não era sua obrigação, no entanto você não hesitou em entregar o seu coração por um mundo que não era seu. ─ Levi desviou o olhar de você, evitando a todo o custo encará-la conforme proferia aquelas frases que considerava tão bregas, e você sentiu as suas orbes lacrimejarem. ─ Obrigado, pirralha.
Com um soluço quebrado escapando da sua garganta, você avançou na direção do superior, pegando-o desprevenido assim que os seus braços o envolveram num aperto amigável. As orbes do mais velho se arregalaram brevemente, e foram necessários alguns segundos para que ele finalmente retribuísse o abraço, sua destra dando leves palmadas de conforto nas suas costas.
─ Eu serei eternamente grata por ter conhecido cada um de vocês. ─ você murmurou, e os seus amigos observaram a cena com um sorriso melancôlico no rosto.
Aquele ambiente com certeza não agradou Armin, e ele cerrou os punhos em frustração.
Por que é que aquilo estava parecendo uma despedida?
─ Muito bem. ─ você respirou fundo ao se afastar de Levi, seus olhos pousando sobre a figura de Hange. ─ A garrafa.
A morena engoliu em seco, a hesitação para lhe entregar o objeto se tornando bem perceptível. Você sorriu num gesto de conforto. A incerteza do que iria acontecer não a afligia apenas a você.
─ É melhor que a gente se afaste um pouco. Não podemos ter certeza absoluta do que vai acontecer, então é melhor prevenir e manter a segurança. ─ Annie sugeriu, e você concordou, assentindo com a cabeça.
─ Se o plano der errado, você sabe o que teremos que fazer. ─ Mikasa murmurou, e você engoliu em seco.
Caso se transformasse em titã, eles seriam obrigados a acabar com você ali mesmo.
─ Estou ciente. ─ você respondeu, suas orbes pousando sobre a figura de Armin, que permanecia encarando o solo debaixo dos seus pés com uma expressão que você não conseguia decifrar. ─ Vai dar tudo certo. ─ se aproximando lentamente do rapaz, você ergueu a cabeça dele para que a encarasse, seus lábios se unindo num selar demorado.
Armin no entanto não disse nada, sua mente pensando em mil e um planos diferentes para evitar que algo ruim acabasse acontecendo com você.
Ele certamente não hesitaria em fazê-la herdar o titã colossal que habitava nele caso o plano desse errado. Se fosse para a salvar, ele entregaria a própria vida de bom grado.
Após observar os seus companheiros se afastando em passos lentos, você fechou os olhos. Podia sentir o seu coração batendo fortemente dentro do peito, e as suas mãos tremiam num misto de ansiedade e nervosismo. Você só queria pelo menos uma pequena garantia de que o seu sacrifício iria valer a pena, e sentindo a brisa contra a sua pele, abaixou a cabeça.
"Você nunca mais falou comigo. Por favor, me diga se eu pelo menos estou percorrendo o caminho certo."
Cerrando o maxilar, você orou para que a fundadora finalmente comunicasse com você.
"Por favor, Ymir."
Num movimento rápido, você guiou a garrafa até aos seus lábios, ingerindo todo o seu conteúdo de uma vez, resquícios do líquido deslizando pelos cantos da sua boca.
Você apertou os olhos.
Tinha se esquecido de que aquilo era vinho. E você definitivamente não estava acostumada a álcool.
Com a sua visão ligeiramente turva, você procurou enxergar as figuras que a analisavam à distância, sua destra indo em direção à cabeça.
─ Nada?! ─ Connie gritou, e você soltou uma risada sôfrega.
─ Além da enorme dor de cabeça, nada. ─ você retrucou, cerrando o seu maxilar. Você definitivamente estava se sentindo um tanto zonza, mas não tinha se transformado em titã. ─ Está doendo pra caralho... ─ com um choro desesperado escapando da sua garganta, você sentiu todo o seu corpo fraquejando, seus joelhos indo de encontro ao solo conforme a dor se tornava mais intensa.
Você podia sentir todas as veias pulsando dentro do seu corpo, o ar que fluia através de você, e até mesmo o sangue sendo bombeado do coração.
Você sentia cada célula que a compunha.
Apertando os olhos e segurando nos seus cabelos em exasperação, você gritou, orando uma e outra vez para que aquela tortura acabasse.
Parecia que você estava carregando todo o peso do mundo nos seus ombros.
E doía como o inferno.
─ S-S/N!! ─ Armin se desesperou ao se aperceber do seu estado caótico, não hesitando em correr na sua direção. Os seus braços a envolveram num abraço apertado, no entanto você permaneceu estática, chorando e implorando para que aquela dor sumisse. Ele podia sentir todo o seu corpo trêmulo debaixo do seu aperto. ─ D-Droga, o que está acontecendo?! ─ o loiro procurou respostas nos rostos dos seus amigos, no entanto eles carregavam a mesma expressão de confusão e aflição que ele.
E foi quando aconteceu.
Aquela luz azulada e ofuscante surgiu em redor de você como uma explosão, e Armin viu-se obrigado a fechar os olhos. Os poucos milésimos de segundo em que ele encarou aquele brilho intenso foram o suficiente para deixar a sua visão nublada.
─ O que... ─ o garoto murmurou, o aperto em redor de você se tornando mais forte ao se aperceber da potência da energia que irradiava do seu corpo. Era tão intensa, que os seus cabelos esvoaçavam descontroladamente, e impossibilitava qualquer aproximação do grupo de amigos desesperados. Mas Armin se recusava a soltá-la, usando toda a sua força para a manter presa a ele, e permanecendo de olhos fechados conforme descansava o rosto no seu ombro. ─ Eu não vou te soltar. Eu nunca irei te soltar. ─ o loiro murmurou, cerrando o seu maxilar. Ele estava começando a perder todas as suas forças. ─ Eu prometo.
Parecia que tinha passado uma eternidade naquela situação, quando a energia peculiar sumiu numa fração de segundos, tão rápido quanto tinha aparecido. Isso acarretou um suspiro aliviado do garoto, no entanto, esse alívio se dissipou no momento em que percebeu que você havia parado de se mover por completo.
─ S/N...? ─ as orbes desesperadas rapidamente procuraram as suas, e Armin engoliu em seco ao vê-la de olhos fechados, sua respiração serena se tornando o único indício de vida que restava em você.
Estava inconsciente.
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