História Where You Are. Taekook, Vkook. - Capítulo 41

Por volta das duas da tarde eu saí de casa e fui até o hospital do centro pra me encontrar com Jungkook.

Apesar de toda a briga e mágoa, eu não conseguia simplesmente deixa-lo sozinho num momento como aquele. Eu tenho a total certeza que ele não vai ficar muito confortável com a ideia da amputação. Até porque não é fácil perder um membro, quem dirá os dois?

Não posso negar que não é diferente, porque muitas vezes não tá inserido na nossa rotina, mas a amputação é um ato de pura coragem e vontade de viver. Alguém que entra numa nova realidade não deveria ter vergonha nem medo de nada.

Eu queria muito que Jungkook optasse pelas proteses. Vê-lo andando com certeza me faria feliz e o faria também.

Ao chegar na ala de fisioterapia, eu logo encontrei Jungkook e provavelmente o tal de Yoongi, um homem de cabelos loiros e raspado nas laterais. Jungkook estava deitado numa maca e o homem parecia explicar alguma coisa enquanto apertava a perna dele quando eu me aproximei, acenando com a cabeça pros dois.

— você veio mesmo. — ele constatou, sorrindo pra mim.

— eu não perderia isso por nada. — digo, desviando o olhar para o fisioterapeuta loiro. — boa tarde, dr.

— boa tarde, Kim. Jungkook estava me falando de você antes de você chegar. — diz, erguendo um pouco a bermuda do moreno. — também estávamos falando da amputação.

— e o que estavam falando de mim?

— acho melhor pular pra amputação. — disse Jungkook, deitando sua cabeça sobre seus braços, ainda me olhando. — não é?

Meio incerto, concordei baixinho, tornando a olhar para o fisioterapeuta ao meu lado.

— eu estava falando pro Jungkook que a amputação tem tudo pra dar certo. Ambas as pernas seriam amputadas a partir do joelho, já que é até ele que elas tem a sensibilidade. A julgar pelo fato de que Jungkook vem mantendo os exercícios, alongamentos, e o fato de que o acidente não foi há tanto tempo, ele teria uma reabilitação mais rápida e com mais chances de sucesso completo.

— então tem tudo mesmo pra você aceitar a fazer, não é? — perguntei, sorrindo, olhando para as suas pernas estiradas. — e quando tá marcado?

— ainda não decidi se faço. — ele confessa, suspirando enquanto passava os cavelos lisos pra trás. — eu não sei se eu ficaria bem depois de ter minhas duas pernas cortadas. Vivi minha vida toda com elas e de repente não vão mais existir.

Maneei com a cabeça, o compreendendo.

Ao fundo tinha outras pessoas e outros fisioterapeutas fazendo os exercícios em seus pacientes, conversando.

— eu entendo. Não é nada fácil, mas é a sua chance de poder andar de novo, Jungkook.

— mas eu ficaria estranho. Pensa só comigo. Do joelho pra baixo eu não vou ter mais nada. É ou não é esquisito?

— eu não chamaria assim, porque "esquisito" é uma palavra pejorativa. Seria diferente, porque é uma nova realidade, mas não é algo ruim.

— pft. — bufa, ainda passando os digitos pelos fios escuros. Os olhos sobre mim. — eu não sei se vou conseguir lidar com isso. Querendo ou não, isso afeta demais a pessoa, e a minha cabeça já tá ferrada demais...

— quando você estiver andando você vai ver o quanto valeu a pena.

Ele deu de ombros, reclamando baixinho quando Yoongi começou com os exercícios de alongamento.

Aparentemente, não era só comigo que ele ficava reclamando pelo desconforto. Reclamando e fazendo aquelas caras feias.

— e você? — pergunta de repente.

— eu o quê?

— ainda vai me achar bonito depois disso?

Deixando um riso escapar — tanto de nervoso e por causa da pergunta repentina —, eu me manti firme em continuar fitando seus olhos porque eu queria passar toda minha sinceridade, mesmo que eu esteja sentindo minhas bochechas coradas.

— você sempre vai ser bonito pra mim, Jungkook. Nada vai mudar isso. Talvez você fique um pouco mais ainda quando voltar a ser maior do que eu.

— sei que você tem um fraco para caras altos.

Eu não negaria.

Mas também não diria mais nada sobre.

Meu humor ainda estava azedo por causa das coisas que eu ouvi, e eu não conseguia muda-lo num passe de mágica.

Jungkook ainda reclamava pelos exercícios, mas da mesma forma ele ainda estava me encarando, e de tanto seus olhos vagarem por meu rosto eu estava começando a ficar envergonhado.

Coisa que não sou nem ferrando.

— você vai ficar comigo depois da cirurgia? — indaga. — porque eu preciso de você. Sem você eu não consigo fazer nada.

— para de dizer isso. Você é muito independente.

— não estou falando sobre ser ou não independente, estou dizendo que sem você não me dá vontade de tentar. Não tem graça.

Agora sim eu desviei o olhar, olhando para o lado contrário ao que franzia o cenho.

Porque Jungkook estava fazendo o que ele nunca fazia:

Admitir.

Ele não admitia que precisava de ajuda.

Que estava gostando de algo.

Que não gostava desse algo.

E muito menos não admitia que precisava de mim e que me queria por perto.

Ele nunca assumia nada, pra ser honesto, então esses jogos de palavras sinceras e abertas, sem nenhuma máscara ou hesitação, me deixava um pouco mudo. Eu não conhecia esse lado seu. O lado que ele me deixa saber o que passa naquela cabeça.

Talvez ele esteja arrependido como nunca tenha ficado antes.

— eu vou ficar ao seu lado. — digo finalmente, tornando a olhar pro seu rosto de cabelo todo bagunçado. — se você deixar, se você não me dizer aquelas coisas, e se eu não fizer o mesmo.

— eu não vou mais. Prometo. Só quero ficar bem com você e com o nosso bebê. Nada mais importa pra mim.

Engoli em seco, começando a ficar nervoso com tudo aquilo. É que era realmente novo, diferente. Jungkook não era desse jeito, então não dava pra me adaptar tão rápido.

— você precisa se importar também consigo mesmo. A sua vida precisa ser importante também.

— ela vai ser, eu espero, mas é que ela só tem graça se eu estiver com você.

Ok.

Eu não estava mesmo preparado pra isso.

Era como abrir um pote de sorvete e encontrar pizza.

Não encaixava.

Só que não era ruim.

Não mesmo.

— devo marcar a cirurgia, então? — pergunta Yoongi, passando os olhos por mim e por Jungkook.

Ainda hesitante, mas mais determinado do que antes, Jungkook respondeu:

— sim. O mais rápido possível.