História Where's my love? - Did she run away?

A música clássica soava torturante nos meus ouvidos, os sorrisos eram como facadas em meu coração. Mas o seu sorriso, era destruidor. Minhas pernas falhavam a cada andar que eu dava e percebia o quão próxima já estava de você.

O brilho no seu olhar me deixou ainda mais triste por não sentir o mesmo naquele momento. Eu te amava, mas eu não te merecia. E você com certeza não entenderia. Eu o amava tanto para deixá-lo livre. Você daria o mundo para mim e eu percebi que não conseguiria fazer o mesmo por você.

Pela primeira vez na vida eu não estava sendo egoísta, pela primeira vez percebi que deixá-lo era o certo a se fazer.

Você me odiaria, mas...

Quando finalmente cheguei até você, respirei fundo e olhei nos seus olhos. Um pedido de desculpas saiu pelos meus lábios e naquele momento corri. As pessoas me olhavam chocadas, algumas irritadas — todavia, não tive coragem para ver o seu olhar.

As lágrimas que eu tanto controlava dentro da igreja, caiam livremente pelo o meu rosto. Minha maquiagem ficava ainda mais borrada.

Pude ouvir pessoas me gritando, mas em nenhum momento o ouvi gritando meu nome. Eu já o tinha decepcionado demais para esperar por isso.

Eu apostava que as pessoas achavam que ia ter alguém me esperando após a minha fuga, mas, a verdade, era que não tinha ninguém. Nunca teve.

O vestido dificultava ainda mais minha corrida por entre as ruas. Passar despercebida não era tão fácil, pois, não era todo dia que viam uma mulher ofegante vestida de noiva correndo pela rua.

Ofegante, parei em frente de um estabelecimento qualquer, buscando com o olhar algum táxi. Quando avistei, rapidamente fiz sinal para pará-lo.

— Dia difícil para a senhora? — o motorista que já devia ter seus cinquenta perguntou quando percebeu minhas vestimentas.

— Um pouco.  — respondi incerta.

O motorista percebeu que eu não estava muito para conversas no momento, por isso, apenas perguntou meu destino e respeitou meu silêncio. Encostei minha cabeça na janela enquanto meus olhos corriam para a vista do lado de fora. Where’s my love tocava no rádio do carro e foi impossível naquele momento  não chorar.

Foi impossível não me lembrar de tudo em que vivi até aqui. O começo de tudo, que, infelizmente, não terminara tão bem.

Did she run away?

Did she run away? I don’t know

If she ran away, if she ran away

Come back home…

Eu conheci Nick quando tinha apenas dezessete anos, exatos sete anos atrás. Ele é — e era —, uma pessoa muito gentil. Ele era bastante popular no colégio por jogar no time de basquete da escola, enquanto eu era apenas alguém que entrou em seu grupinho depois.

Eu não fazia parte de nada especial na escola, era apenas alguém com boas notas. Eu sempre fui uma pessoa reservada, enquanto meus amigos eram bastante escandalosos. Diferente dos outros meninos do nosso grupo, ele não era babaca, o que já significava bastante.

Nossa aproximação foi ocorrendo aos poucos, nada forçado. E, quando eu percebi, já estava apaixonada. Típico romance escolar.

Os anos foram se passando e estávamos cada vez mais apaixonados. Todos diziam que nosso namoro não duraria até o final do colégio. Mas, para azar deles, durou. Escolhemos faculdades que, por ironia do destino, eram próximas.

Cursei arquitetura que era meu sonho desde criança. Enquanto ele cursou medicina. Quase não conseguíamos nos ver, por mais que estudássemos perto. Eram faculdades bastante puxadas.

Nossa formatura chegou, e com ela, o pedido de casamento. Mas precisamente na minha formatura, em frente a todos os convidados, ele se ajoelhou e do paletó tirou uma caixinha pequena. Naquele momento, meu coração batia descompensado. Não estava acreditando que, finalmente ele me pediria em casamento.

Naquele momento, aquele era meu sonho, aquele era meu momento. Eu estava feliz — tanto que nem conseguiria descrever. Com um sorriso enorme disse o tão esperado aceito. Mais tarde, junto de toda família, comemoramos nosso noivado.

Os meses foram se passando e com eles vieram os preparativos. A cada mês que se passava, a angústia tomava conta de mim. De repente, toda a animação que senti no pedido, estava desaparecendo. A cada vez que eu olhava para o brilhoso diamante que enfeitava meu dedo, ao invés de sentir uma enorme felicidade, meu peito se apertava.

Eu perguntava a mim mesma se aquilo era realmente o que eu queria. A incerteza cada vez mais me perturbava. Nosso namoro sempre foi calmo, quase sem brigas, mas era calmo demais. Eu o amava — e amo —, mas, percebi que aquele tipo de romance, não era para mim.

Eu não queria viver algo pacato demais, parado demais. E era exatamente isso que eu e Nick éramos juntos, parados demais.

Eu devia ter interrompido tudo quando eu tive chance, mas eu nunca tive coragem o suficiente para fazer isso. Eu fui covarde, fui estúpida, mas, somente naquele altar eu tive certeza do que queria. E definitivamente, casar não fazia parte dela.

O motorista me despertou dos meus devaneios avisando que já tínhamos chegado. Desejou-me boa sorte com meu novo futuro e eu apenas agradeci verdadeiramente agradecida com suas palavras.

Encarei o prédio que durante anos morei — e que vou continuar morando —, e entrei. Cumprimentei o porteiro tendo noção de seu olhar chocado. As pessoas do meu prédio sempre duvidaram que eu fosse realmente me casar, e elas estavam certas.

Entrei no elevador por sorte não encontrando ninguém que fosse me olhar torto ou até mesmo me perguntar algo. Apertei o botão que daria no meu andar e comecei a batucar meus dedos em minhas pernas.

Quando abri a porta do meu pequeno apartamento, finalmente me senti segura. Segura dos olhares, das piadas, de tudo.

Tirei o vestido com todo cuidado possível, já que era alugado — preferi alugar um, pois, já sabia que possivelmente não terminaria feliz no fim do dia. E um vestido de noiva pendurado em meu armário como recordação era a última coisa que eu queria.

Tirando as últimas peças de roupa do meu corpo, entrei finalmente embaixo da água gelada do chuveiro. As lágrimas eram incontroláveis e os soluços já saiam por minha garganta sem permissão.

Ajoelhei no chão gelado tentando tirar a culpa que sentia. Eu estava apenas tentando não ser egoísta! Se eu tivesse ficado e dito sim, estaria vivendo infeliz. Obrigando-o a viver comigo sem felicidade.

Eu sei que ele encontrará outra pessoa — melhor que eu, certamente. E será feliz. Era tudo o que eu mais desejava para ele.

Pensar aquilo era o que me manteria sã nos próximos meses, pois, a única coisa que eu conseguia sentir, era culpa.

Eu não espero que ele me perdoe tão cedo pelo o que fiz passar, mas se um dia ele fizer, serei eternamente agradecida.

E então, embaixo daquela água gelada, permito que a culpa me aflore, pois, sei que isso não será nem um terço do que ele passará.

Porque meu amor, infelizmente, não estava com ele. E onde ele está no momento, não faço a mínima ideia. 

Então, debaixo daquele chuveiro eu me perguntava diversas vezes:

Onde está meu amor?