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História Whispers in the dark - My Demons


Escrita por: LLillith

Notas do Autor


Voltei mais rápido do que o previsto porque esse capítulo já estava pronto e depois dos todos os comentários, não tive como me segurar,
Espero que gostem de mais capítulo e a reta final antes da revelação. A trilha do capítulo é “My Demons” do Starset (outra música que sou viciada!) Boa leitura!

Capítulo 50 - My Demons


Socorro! Socorro!
O navio está afundando lentamente
Eles acham que eu sou louco, mas não entendem o sentimento
Estão todos ao meu redor
Circulando como abutres
Eles querem me destruir e lavar as minhas cores

 

 

Meu corpo dói. De novo isso! Quantas vezes eu já não desmaiei e quase morri nesta mansão? Eu gostaria de morrer, de verdade, contudo eu também gostaria de tentar novamente. Sei que há algo mais em mim, algo na minha história oculta que precisa ser desvendado... Talvez esses poderes? Ou essas visões? Não sei, apenas não queria desistir tão fácil, queria ser mais forte para poder lutar, porque senão estaria fazendo o que as sombras do meu passado desejam — que eu sucumba a eles.

Minha última memória é do beijo entre Ruki e eu, algo que foi totalmente imprevisível por mim, no entanto, naquele momento, pareceu a forma como ele encontrou para que eu não desistisse. A luz... Elas dizem que eu sou a luz, mas sou eu quem precisa de uma luz, um caminho seguro para percorrer, pois no primeiro deslizamento eu já pareço pronta para abraçar a morte e desistir.

Sinto algo quente repousando na minha cabeça, ao passo que meu corpo parece debilitado, provavelmente cansado e resfriado após a minha corrida na floresta. Todavia, o que chama a minha atenção é o toque frio em minha mão, a qual eu agarro antes de tentar abrir lentamente meus olhos.

—Azurah... —Pisco repetidas vezes antes de conseguir focar completamente, lidando com a forte iluminação e também com minhas dores.

Ele responde também segurando firme, mas delicadamente, minha mão. Seus olhos claros, com um brilho distinto, olham-me com serenidade e também transmitem certo alívio após me ver ali.

—Azurah-san... Como se, sente?

Tanto Kou quanto Azusa estão sentados na minha cama, um de cada lado do meu corpo, expondo suas preocupações e sorrindo para mim.

—Hum... —Resmungo. —Dói.

—Você sabia o quanto é perigoso correr pela floresta, ainda mais de noite. —Adverte Kou, parecendo furioso com minha atitude. —Sofreu vários cortes e arranhões, sem falar na hipotermia...

—Kou, deixa ela respirar um pouco. —Pede Yuma que está de pé.

Meus olhos negros percorrem o quarto cor-de-rosa e percebo que apenas os três Mukamis estão ali.

—Tudo, bem... Azurah-san? —Questiona Azusa preocupado.

—Onde está Ruki-kun? —Não sei porque quis saber onde ele estava, mas é muito estranho não o ver com seus irmãos mais novos.

—Ele está dormindo no quarto dele. —O castanho me responde. —Está cansado depois que teve que correr atrás de você a noite inteira.

—A noite inteira? —Indago confusa.

—Neko-Chan, você desapareceu por horas. —As palavras do loiro me assustam. —Sem a lua no céu e chovendo daquele jeito, ficava bem mais difícil... Mas parece que você literalmente desapareceu.

Para mim, o que aconteceu na floresta, aconteceu tão rápido... A morte de Yui, os fantasmas de Jay e da minha eu pequena, aquela mansão incendiada... Só que agora eles me dizem que fiquei horas desaparecida. Não sei nem o que responder a eles, principalmente quando percebo seus olhares preocupados.

—Ruki vai, ficar… bem. —Assegura Azusa com seu sorriso calmante. —Ele é, o mais forte… dentre nós.

—Ah Azusa! Não faça parecer que Ruki é melhor que nós! —Exclama o ídolo. —Desse jeito eu fico com ciúmes.

—Desculpe... —Pede o esverdeado timidamente.

—Para de ser chato, Kou. —Diz Yuma seriamente. —Se você quiser, eu posso avisar ele que você já acordou. —Eu concordo com o mais alto.

—Com licença. —A voz solene de Yuuki surge na porta. —Azurah-san, que bom que já está acordada.

O mordomo carregava consigo um bandeja, que continua uma bolsa térmica, alguns medicamentos e um copo d’água. 

—Bem, acho que essa é nossa hora. —Parece lamentar, encarando nossas mãos unidas. —Neko-Chan, qualquer problema pode chamar o Kou-kun aqui. —Pisca para mim.

—Você não toma jeito. —Reclama Yuma sorrindo. —Pode contar comigo também, moranguinho.

—Fique bem... Azurah-san. —Deseja Azusa.

—Obrigada. —Agradeço com um pequeno sorriso, sem mostrar os dentes. —De verdade, eu agradeço a preocupação de vocês. Não sei nem como recompensa-los...

—Só melhore e não nos preocupe mais. —Responde o castanho como se fosse simples.

—Yuma tem razão, mas ele é sempre tão rude com as palavras. —Ironiza Kou. 

Antes de soltar-se de mim, o loiro leva seus lábios gelados as costas da minha mão, beijando-a delicadamente, fazendo-me sorrir agradecida a ele. Os três vampiros impuros se retiram e eu fico a sós com o mordomo. 

Yuuki troca a bolsa térmica que estava sob a minha testa e deposita uma nova, o que é incrivelmente relaxante visto que todo o meu corpo parece querer desistir juntamente com minha mente. Agora, olhando mais cuidadosamente, eu estou realmente cheio de arranhões e cortes não profundos na minha pele, além de que não estou com o mesmo vestido tubinho que vesti ontem, estou com minha camisola e mais três mantas para me manter aquecida.

—Pronto, este foi último. —Avisa Yuuki assim que tomo a terceira pílula que ele me dá.

—Nem precisa disso tudo. —Digo a fim de tranquiliza-lo.

—A senhorita, sem dúvidas, passou por uma experiência bem traumática perdida naquela floresta... Por isso todo cuidado é pouco. —O tom de Yuuki soa quase fraternal, ou próximo disso.

Eu desvio o meu olhar, constrangida, porque ele tem razão. Foi uma experiência bem traumática, para não dizer aterrorizante. Sinto até um calafrio com a lembrança.

—Sinto muito. —Pede aflito. —Não queria deixá-la sem jeito. Não precisamos tocar no assunto se é o que a senhorita deseja.

—Não. —Digo firmemente, também tentando manter minha postura segura. —Eu quero falar sobre isso. —Retorno meu olhar negro a Yuuki, antes de prosseguir: —Yuuki, você já teve alguma vez um sonho que pareceu real demais para você?

—Suponho que sim.

—Eu os tenho, frequentemente. —Confesso com um pesar. —Eles são tantos que, às vezes, não consigo dormir.

—É por coisas assim que a senhorita sofre insônia? —Eu confirmo.

—Só que ao invés de sonhos, são pesadelos. Os piores imagináveis. —Estou me abrindo, verdadeiramente, o que é algo novo para mim, mas sinto que posso confiar em Yuuki.

—Você quer falar sobre isso? —Pergunta segurando a minha outra mão.

Por incrível que pareça seu toque é quente e acolhedor, além de gentil e carinhoso.

—Não sobre eles, mas sobre o que vem com eles... —Respiro fundo, com um olhar trêmulo. —Dor, Yuuki. Muita dor. Eu já sofri muitas dores, mas essas dores no peito quando sonho, são demais para eu aguentar.

—A senhorita não deveria pensar que está sozinha. 

—Então por que eu me sinto tão sozinha? —Indago deixando algumas lágrimas caírem. —Por que eu tenho que sofrer tanto?

Por um momento, Yuuki abandona toda a sua formalidade e etiqueta para me puxar para um abraço apertado, o qual eu retribuo com um pesar, ao passo que as lágrimas continuam a cair, poucas porém dolorosas.

—Eu sinto muito, Azurah-san. De verdade. —Ele lamenta imensamente. —Eu juro que não queria vê-la sofrer desta maneira.

—Isso está além do seu controle, Yuuki. —Digo para que não se sinta culpado. —Está além do meu também.

—Eu sei que senhorita é forte. —Diz a fim de me transmitir confiança, só que não funciona.

—Eu quero morrer, Yuuki. —Confesso, derramando mais lágrimas. —De verdade, eu apenas queria que essa dor acabasse, para que fosse mais fácil de suportar.

O mordomo não diz nada, apenas continua a me abraçar enquanto eu choro mais um pouco.

—Eu não quero morrer sem ter feito nada de útil. —Continuo. —Mas tampouco quero viver dessa maneira, em um sofrimento sem fim. Só que não adianta eu querer lutar se não tenho um objetivo, porque somente sobreviver não parece bom o suficiente para mim.

—Pelo o que você gostaria de lutar, Azurah-san? 

—Eu não sei. —Respondo confusa sobre meus próprios sentimentos. —Acho que na verdade eu quero que alguém lute por mim, que alguém me mostre que essa vida vale a pena.

—A senhorita só não quer ficar sozinha, é isso?

Yuuki parece interpretar minhas palavras melhor do eu mesma. Balanço a cabeça em concordância. Que ridículo! Quem lutaria por algo quebrado? Por algo que está com os dias contados? Eu sou uma drogada, vadia imunda, órfã... Não tenho valor para ninguém.

—Não pense mal de si mesma, Azurah-san. —Pede, separando-se de mim. —Tenho certeza que, um dia, alguém verá além de você.

—Parecem palavras de consolação. —Comento enxugando as poucas lágrimas.

—Não se sinta culpada por precisar de consolo, ou mesmo de um ombro amigo. —Tranquiliza-me. —Saiba que chorar não a torna mais fraca, mas corajosa por não ter medo de assumir suas dores.

As palavras de Yuuki são bonitas, contudo para mim ainda continua sendo uma dor assumir que tenho um lado vulnerável — eu fui criada para não cometer erros, para não sentir, por isso essa situação é imensamente vergonhosa. Entretanto, não posso negar suas palavras: eu não sou corajosa o suficiente para aceitar esse meu lado, mesmo que eu saiba que ele exista.

O mordomo me passa uma pomada para que eu aplique em minhas feridas. 

—Não sei o que seria de mim sem você, Yuuki. —Agradeço imensamente.

—Sem dúvidas a senhorita já é genial por si só, não precisa de mim.

—Talvez, mas sem sua delicadeza, eu estaria perdida. —Confesso. —Eu jamais trataria de simples arranhões como estes, deixaria sarar normalmente.

—Bem, a senhorita não sabe que tipo de plantas machucaram-na, por isso é melhor previnir do que remediar. —Garante.

—Mesmo assim, não o faria. Sem falar que sem você para cozinhar para mim, eu morreria de fome.

Ele sorri gentilmente.

—Há outras pessoas nesta mansão que poderiam cozinhar para a senhorita.

—Nenhuma delas seriam tão eficiente quanto você. —Asseguro acompanhado seu doce sorriso, mesmo que não tenha o mesmo impacto.

—Eu agradeço que a senhorita me veja desta maneira e aprecie o meu trabalho. —Ele se curva. —Fico lisonjeado, Azurah-san.

—Por favor, não faça parecer que sou sua patroa ou coisa assim. —Peço sem graça.

—Desculpe-me. Não posso evitar a formalidade.

—Yuuki... —Não sei como perguntar isso, acho que tenho medo da resposta. —Laito está vivo?

O mordomo respira profundamente.

—Lamento a experiência traumática que teve que viver com Laito-sama. Sim, ele está vivo. Seus familiares estão cuidando de seus ferimentos e ele ficará um tempo em repouso em seu quarto. Laito-sama ficará bem, afinal é um vampiro.

Não me importo com ele, de verdade. Todavia, acho que não aceitaria o peso de outra morte em minhas mãos. Isso apenas confirmaria aquilo que tento esconder: que eu sou um monstro.

—A senhorita é boa... —Como ele sempre adivinha o que estou pensando?

—Não, Yuuki. Eu sou um monstro, não pelo o que fiz com Laito, mas pelo que fiz muito antes.

—Independentemente de quem a senhorita foi no passado... A garota que eu vejo aqui, diante de mim, é boa, apenas precisa encontrar o seu caminho.

Talvez suas palavras gentis estejam certas... Mas aonde estará esse caminho que eu nunca encontro? Será que há realmente uma chance de redenção para mim? Será que eu sou muito além do que as pessoas veem em mim? Sim, eu sei que sou, apenas preciso enxergar isso por conta própria.

 

—//—

 

Desta vez a caçadora havia chegado mais cedo, contudo o outro estava atrasado — o que a surpreendeu, visto a pontualidade inglesa do Sakamaki. Após a terrível tempestade que caiu naquela madrugada, o céu ainda tinha um tom acinzentado e pouco iluminado, dando uma sensação deprimente à paisagem, o que apenas fazia o aperto no peito da garota aumentar, sendo que ela não conseguia interpretar esse mau agouro. Eles sempre se encontravam em locais diferentes, geralmente cafeterias, na qual podiam tomar chá enquanto passavam suas informações, o que poderia ser relaxante e controlar a ansiedade crescente da ruiva.

“Onde ele está?” Perguntou impaciente para si mesma. 

Olhou em seu celular e percebeu que ele estava dez minutos atrasados. Não, isso não era comum para Sakamaki Reiji. Algo poderia ter acontecido... Era somente essa ideia que passava pela cabeça de Taniguchi.

Foi somente quando apanhou seu celular para lhe enviar uma mensagem, que percebeu a estatura alta e inconfundível do vampiro de óculos.

—Desculpe o atrasado. —Pediu cordialmente, sentando-se na frente da ruiva.

—O que houve? —Questionou ao ver a expressão séria e um pouco abalada do segundo Sakamaki.

—Sua amiga. —Respondeu furiosamente. —Ela quase matou Laito.

—Achei que você tinha tomado providências para que eles não se encontrarem. —Diz Lia sem se deixar abalar.

Para ela, o vampiro merecia morrer após o que fez com Azurah; ela mesma o mataria se isso não fosse causar um problema ainda maior para ela.

—Os familiares não deram conta de contê-lo no quarto. —Conta frustrado. —Isso foi no momento em que sai para encontrá-la.

—Mas Azurah não tinha saído com os Mukamis?

—Só que ela retornou e descobriu que eu planejava impedi-la de sair. 

—Como você esperou que ela reagisse? —Indaga nervosa. —Azurah não é do tipo que irá aceitar perder sua liberdade. Eu disse que era uma péssima decisão.

—O que quer que façamos? —Questiona Reiji perdendo a sua segurança. —A Igreja começou buscas atrás dela e não irá demorar até chegarem até nós.

—Não entendi o que a Igreja pode querer com Azurah. —Comenta Lia pensativa. —Talvez tenha alguma ligação com o interesse do Rei vampiro nela também.

—Definitivamente há algo nela. —O vampiro de óculos começa a expor um pouco mais a sua raiva e frustração. —E quem está na frente agora é Mukami Ruki.

—Como assim?

—Ele se encontrou com o familiar de nosso pai... —Explica Reiji. —O familiar falou apenas com a sua amiga e com ele, os quais parecem ser os únicos interesse desse homem.

—Você não está bem com isso? —Os olhos castanhos-esverdeados podiam sentir que havia algo mais nas palavras do vampiros, algo como inveja ou rejeição.

—Não entendo. Geralmente quem recebe esses chamados de nosso pai é o bom-para-nada ou eu, não entendo porque agora eles passaram ao Mukami.

—Acha que ele sabe de algo? Como o porquê de KarlHeinz-sama estar interessado em Azurah? 

—Algo ele sabe, mas Ruki não precisa de muita justificativa para acatar as ordens de nosso pai. —Ele não esconde um certo rancor.

Reiji sentia-se frustrado, pois era como se ele perdesse espaço ao mais velho daqueles impuros, o seu amado pai preferia e confiava mais no Mukami do que nele. Era revoltante, não importa o que fizesse, jamais seria reconhecido, pois haveria sempre alguém acima dele. Primeiro era Shu, seu irmão mais velho, e agora Ruki, talvez o aprendiz favorito de Karlheinz.

—Sakamaki... —A ruiva chama-o, percebendo o olhar avermelhado perdido em seu ódio.

Ela toca as mãos dele que estavam sob a mesa, com uma delicadeza que é novidade até mesmo para ela. Os olhos vermelho-rubi encontram-se na caçadora, percebendo uma expressão gentil, mas também dura e firme, a qual parecia transmitir-lhe um misto de conforto e segurança. Mesmo que seu ego vampírico não quisesse assumir, aquilo era reconfortante, principalmente naquele momento em que ele voltava a ser consumido pelo ódio e pela inveja.

—Já estou acostumado com isso. —Diz sem perder a classe.

As mãos dela não eram tão quentes quanto as de um humano normal, provavelmente pelo seu triunfo como caçadora, porém eram sem dúvidas mais amenas do que a total inexistência de calor do vampiro.

—Enfim, você não me perguntou como a sua amiga quase matou o meu irmão desajustado. —Comenta encerrando o contato entre eles.

—Ela tentou esfaquea-lo com a adaga de prata que dei a ela? —Diz como se fosse óbvio.

—Não. Ela quase matou Laito com as próprias mãos.

Tais palavras fazem os olhos da caçadora se arregalarem, fazendo-a se perguntar como aquilo é possível.

—Ela o espancou com os próprios punhos, abrindo feridas e quase esmagando o peito dele.

—Que tipo de ser pode fazer algo assim? —Questiona assustada.

—Não faço a menor ideia, mas passarei a ler muito mais. —Compromete-se, ajeitando suas lentes. —Nem mesmo a força da tribo dos lobos ou o veneno dos víboras faz algo assim.

—Será esse o interesse da Igreja? —Indaga Lia. —O poder de matar um vampiro?

—Pode ser. E provavelmente nosso pai quer mantê-lo longe do alcance da Igreja...—Conclui o segundo Sakamaki.  —Por isso terei que redobrar meus esforços.

—O que planeja fazer, Reiji? 

—Ainda não tenho certeza. —Ele parece querer ocultar suas intenções naquele momento. —Espere! Você me chamou pelo nome?

Ao perceber a expressão provocativa do vampiro, foi quando a ruiva notou a maneira informal como havia tratado a sua caça, o que a fez desviar o olhar por um segundo, constrangida, e retornar com um mesmo tom provocativo.

—Não somos parceiros agora?

—Estou surpreso que você tenha dito o meu nome corretamente. —Ele pareceu sorrir para ela, o que, de certa forma, animou a caçadora.

—Espero que você não tome uma decisão muito arriscada e que se apreenda depois. 

—Diz isso por quê? —Questiona confuso.

—Sobre a Azurah. —Explica. —Talvez você só queira protegê-la ou mostrar serviço ao seu pai, contudo tome cuidado... Acho que você sabe como a Azurah costuma reagir mal à ordens, principalmente vindas de você.

—Farei o que for necessário. —Diz convicto.

—Saiba que se eu tiver que apoiar alguém nessa história... Será ela. —Lia expõe sua lealdade à cabeleira negra. —Azurah é minha amiga antes de tudo, por isso ficarei ao lado dela.

O vampiro assentiu, já esperando aquela resposta dela. Enfrentar Azurah agora, no estado catatônico em que se encontrava seria um sério problema — ela estava se tornando alguém pior que Subaru em controlar seus surtos — e isso seria, talvez, mais grave com o passar do tempo, visto que Reiji acreditava que o poder dela, seja qual fosse, estava florescendo, desestabilizando-a ainda mais emocionalmente. Não, ele não se importava com ela, porém senti que havia algo que os conectava — talvez por serem completamente opostos —, algo que o racional vampiro não compreendia.

Reiji contou sobre o misterioso desaparecimento da cabeleira negra por longas horas após sua tentativa de fuga e que foi, novamente, Mukami Ruki quem a encontrara. Lia quis vê-la imediatamente, todavia foi impedida pelo Sakamaki, que informou que ela tinha apenas uma pequena febre e que logo estaria melhor, sendo uma melhor opção à caçadora se concentrar na futura reunião com a Igreja, a qual poderia trazer novas informações à investigação de ambos. A ruiva sentia que não podia confiar em Reiji quando o assunto era a amiga, pois sabia que ele não tinha habilidades para lidar com alguém de um espírito tão livre quanto o dela, contudo teria que esperar para ver o resultado.

“Azurah precisa de ajuda.” Pensava ela assim que despediu-se do vampiro. “Ela pode ser a mais incrível possível e também não-humana, mas ela ainda sofre em silêncio, guardando seu segredo a mil chaves em um coração perdido e confuso... Espero que Azu aguente mais um pouco, pois eu vou tirá-la daquela mansão.”

 

—//—

 

Eu tenho um livro nas mãos, o qual leio sem parar, a pedido de Sensei. Ele é tão gentil comigo, sempre compra as melhores coisas para mim e isso causa inveja nas outras garotas, mas eu não me importo, pois eu sou muito melhor do que elas. Vou fazer uma nova apresentação em breve, o meu primeiro solo com meus agora sete anos de idade e estou tão feliz. Sensei também está empolgado, disse que haverá pessoas que irão somente para me assistir, por isso tenho que estar perfeita. Meus pés ainda doem após uma sessão de passos difíceis, mas ficarei bem — como diz Sensei, esta é uma dor necessária.

—Tsh! A metida. —Diz uma garota surgindo no meu campo divisão.

Assim que nossos olhos se encontram, ela desvia. Odeio gente invejosa!

—Lori! —Uma outra garota grita por ela. Ambas são mais velhas do que eu. —Aí está você! O que faz com essa daí?

—Estava procurando um lugar para me esconder e acabei encontrando essa metida. —Responde a primeira cheia de rancor. —Vamos brincar em outro lugar.

—Por que ela não brinca com a gente? —A segunda deveria ter chegado a pouco tempo no Saint Lucy, porque eu não a reconheço.

—Essa garota é amaldiçoada. A preferida do Sensei, ela não se mistura com a gente. 

—Hum... Ela parece solitária.

Aquelas palavras me atingem. Eu não sou solitária, sou? Bem, eu quase nunca estou sozinha, Sensei está quase sempre comigo, me ensinando, e também há os amigos do Sensei e todos os outros que gostam de me visitar... Eu não estou sozinha, tenho tudo o que preciso.

—Deixa ela para lá! —Exclama Lori. —Se quiser ficar com ela, faça por conta própria, mas é uma perda de tempo. Ela se acha muito importante, mas é uma órfã como todas nós. Merece ficar sozinha.

Eu vou até a sala de Sensei chorando, porque Lori disse que eu mereço ficar sozinha, só que não quero ficar sozinha. Bato na sua porta e rapidamente ele o abre, com seu olhar severo caindo sobre mim.

—O que houve, querida? —Pergunta preocupado.

—Lori disse que eu mereço ficar sozinha... —Respondo choramingando.

—E você está chorando somente por isso? —Indaga rispidamente, o que me faz tremer. —Azurah, quantas vezes lhe disse para não se deixar levar pelo o que os outros dizem.

—Desculpe-me, Sensei. —Peço envergonhada. —Eu só... me senti...

—Você não está sozinha, querida. —Sensei me puxa para um abraço. —Afinal, não é você a minha preciosa? A mais bela de todas? —Balanço a cabeça em concordância. —Por isso, não quero vê-la chorando. Princesas não choram, Azurah.

—Elas não choram... —Repito enxugando minhas lágrimas. —Eu não vou mais chorar, Sensei. Prometo.

—Espero, já que não vou perdoa-la por chorar na frente de outra pessoa que não eu. —Sua voz é autoritária, mas eu sorrio, pois isso faz com que eu me sinta importante. —Por que não entra, Azurah? Você quer que fiquemos juntos, não?

Concordo, passando por ele para entrar na sua sala. Sensei sorri para mim, um sorriso tão bonito que faz meu coração se acelerar. Assim que adentro, ele fecha a porta.

 

 

Desperto em um salto, segurando um grito em minha garganta. Eu sinto vontade de chorar, exatamente como naquela época, pois me sinto sozinha — e pior, pois agora estou realmente sozinha. Acendo as luzes e vou até a gaveta da penteadeira, a qual encontro vazia. Que porra! Não acredito que deixei acabar, restando agora apenas os cigarros surrados na bolsa do colégio.

Estou enjoada desse quarto, o qual estou vivendo mais de dois dias sem sair para o mundo exterior, visto o meu robe e deixo-o, pensando em ir até a varanda, a qual tem uma vista privilegiada de toda a extensão do terreno da mansão. O céu está tingido com as cores do crepúsculo, misturando o escuro da noite com a claridade dos primeiros raios que nascerão em breve — faz tanto tempo que não vejo o sol nascer, mesmo que passe tantas noites em claro.

Assim que chego à varanda, pronta para acender o meu cigarro, vejo a sua figura, de costas para mim, debruçada ao parapeito e olhando para o horizonte semi-desperto. Penso em voltar atrás, porém, no momento que faço o movimento de retorno, ele vira-se para me encarar.

—Desculpa. Não queria atrapalha-lo. 

—Você não atrapalha. —Uau, ele não está na defensiva comigo, nem me atacando... Será um milagre?

—Posso ficar aqui? —Pergunto tentando não soar invasiva.

—Faça o que quiser. —Responde sem me olhar.

Aproximo-me de sua figura séria, a qual, como de costume, não parece ser atingido pela minha presença, o que é bom neste momento. A leve brisa do amanhecer bate contra a minha pele pouco coberta, sendo refrescante e parece aliviar toda a tensão que corre pelo meu corpo. Coloco o cigarro na boca, mas não ouso acendê-lo, ficando estática por alguns segundos.

—Por que faz isso? —Sua voz grave me desperta.

—Isso o quê? —Viro-me e percebo que seus olhos azuis acinzentados estão focados em mim.

—Bem, tudo. —Ele soa confuso. —Essa porcaria na sua boca vai te matar.

—Eu sei, acho que é esse o objetivo. —Dou de ombros.

—Por que você parece querer tanto morrer, Kachiku? —Questiona, encarando-me de uma maneira enigmática. —Diga, para que eu não precise salvá-la de novo.

—Eu não... —Interrompo minha fala no meio, não querendo soar arrogante como eles. 

—Meus irmãos ficaram loucos quando Yuma foi vê-la no seu quarto e não a encontrou. —Conta-me com uma raiva contida. —Os Sakamakis também, mas meus irmãos principalmente.

—Você ficou preocupado comigo? —Ouso perguntar, recebendo um olhar ríspido de seu tom metálico.

—Quando você desapareceu por mais de três horas, no meio de uma tempestade, eu tive que intervir. —Ruki diz aquilo severamente. —Você deve imaginar que meus irmãos não são fáceis de lidar quando ficam nervosos.

Eu desvio o olhar, abaixando a cabeça constrangida. Não queria que eles se preocupassem comigo, na verdade, eu preferia que eles não ligassem e me deixassem morrer de uma vez.

—Não entendo porquê você quer, tão desesperadamente, morrer. —Comenta um tanto incrédulo.

—Ruki-kun... —Chamo-o, mas sem encara-lo. —Uma pessoa que deseja se matar, não deseja matar a vida... Mas a dor.

Ficamos um tempo em silêncio, o Mukami parece refletir sobre minhas palavras antes de continuar:

—Quanto eu a encontrei, totalmente desgastada... Você me disse que estava com medo.

—É verdade. —Confirmo, com meu olhar voltado ao horizonte. 

—Do que você tem medo, Kachiku? —Ele não esconde seu interesse, enquanto olha para mim. —Porque eu sei que não é de nós ou mesmo da morte.

Respiro fundo.

—Eu tenho medo de mim mesma, Ruki-kun. —Confesso distante. —Do que eu posso fazer quando fico fora de controle.

—Já percebi isso com Sakamaki Kanato e Laito. —De repente, ele solta um riso nasal. —Além de que, você é imprevisível.

Isso é exatamente o que eu penso de você, Ruki Mukami.

—Nós somos muito diferentes. —Sou eu quem sorri agora, um sorriso irônico. —Em hipótese alguma eu aceitaria ser um vampiro, viver para sempre seria a pior maldição que alguém poderia me dar.

—Nós não vemos a vida da mesma forma. —Comenta voltando ao seu tom sério. —Afinal, você não é nada mais do que gado.

—Pode até ser. —Dou uma leve risada novamente.

Olho para o cigarro em meus dedos e vejo que essa droga já não tem mais significado nenhum para mim, por isso jogo-o fora. Só a heroína consegue me excitar agora.

—Obrigada, de verdade. —Agradeço ainda perdida no horizonte. —Por mais que eu ainda te ache imensamente pretensioso, não nego que você me ajudou.

Penso em voltar ao meu quarto e tentar dormir novamente, porque ainda me sinto um pouco cansada — talvez seja inútil, mas não custa tentar. No entanto, ele segura o meu braço, impedindo-me de ir.

—Você ainda não respondeu a minha pergunta. —Encaro-o confusa. —Por que quer tanto morrer, Kachiku?

—Não sei. —Confesso ainda lembrando da conversa que tive com Yuuki. —Acho que só não tenho mais um objetivo para viver, ou mesmo vontade para lutar.

—Achei que quisesse saber sobre suas origens. —Meus olhos negros se arregalam.

—Como você...? —Minha expressão é de total incredulidade.

—Bem, eu observo você, além de que é órfã. —Explica-me com um olhar impassível. —É normal órfãos querem saber quem são seus progenitores.

—Eu procuro por isso há quase quatro anos e até hoje não descobri nada. —Meu tom é de certa revolta.

Basicamente nada, porque, por mais que eu saiba agora quem é minha mãe — que ela se chama Selene e tem uma relação com Beatrix —, não sei nada sobre ela e o que, de verdade, há de especial em mim.

—Por que me olha com esses olhos, Kachiku? —Nem percebi que ao pensar nessa mulher, meus olhos se umedeceram.

—Não é nada. —Respiro fundo. Eu não choro, não de verdade.

—Você mente bem, mas não me convence. —Diz firme.

—O que você quer, Ruki-kun? —Indago impaciente. —Você também mente e esconde muito bem, além de que que sua reação comigo mudou... Eu não entendo.

—Eu que não a entendo, Kachiku. —Ele puxa meu braço, fazendo-me chocar contra ele. —Sua linha de raciocínio parece simples, contudo a maneira como conduz, é demasiado complexo.

—Do que você está falando? —Pergunto confusa, olhando profundamente naqueles olhos azuis acinzentados.

Ele não me responde, apenas permanece me encarando, assim como eu, por um tempo que parece longo. Os primeiros raios solares já começam a nos banhar.

—Você muda de acordo com a situação.

—Isso se chama tática de sobrevivência. —Corrijo.

—Você parece estar o tempo todo lutando contra alguém. —Comenta, olhando-me de uma maneira que não sei descrever.

—Se eu não lutar, acabarei me tornando vítima de vocês, sanguessugas. —Respondo rispidamente, essa proximidade entre nós está me deixando nervosa.

—Achei que você não tivesse mais forças para lutar...

—Mas tampouco quero me deixar sucumbir. —Completo.

Ele sorri, acho que posso descrever como um sorriso crédulo.

—Você é realmente um gado muito ousado... —Quantas vezes mais ele irá dizer isso?

O sol nasce no horizonte e a claridade começa a dominar a escuridão, porém não há luz em nossos dois tons escuros e fechados. Lembro-me de como ele me segurou no meio da chuva, como me fez ficar de pé para suportar aquele momento e também... Com minha mão livre, seguro-me em seu pescoço para selar nosso lábios em um beijo desesperado, o qual ele provavelmente previu, pois reagiu prontamente. Eu queria odia-lo, não só ele como os outros nove, no entanto com essas coisas que essas fantasmas colocam na minha cabeça fica cada vez mais difícil.

Seu beijo é feroz e sedento, assim como o primeiro também parece afastar todos os meus demônios, principalmente após sonhar novamente com Sensei. Mantenho essas memórias afastadas enquanto nos beijamos, de uma forma que deixa a minha mente ainda mais confusa, porém sem conseguir negar o desejo. Quando nossos lábios se separam, Ruki desce rapidamente até o meu pescoço, onde prega a suas presas, deixando um grito escapar à medida que sinto meu sangue me deixar.

—Seu sangue mudou... —Diz antes de voltar a me morder, tentando retirar o meu robe.

Forço meus olhos a se abrirem para encarar a sua expressão de quando ele me morde, espalhando marcas pelo meu busco. Ruki parece incrivelmente extasiado, mas ele procura por mais, por isso não para de sugar, transmitindo a mim o seu prazer por meio da minha dor, a qual está distante agora. Exatamente como aconteceu com os quatro vampiros na cozinha, o fato de estar sendo sugada não me enfraquece, parece sim despertar algo dentro de mim.

Ao perceber que estou o observando, Ruki gira o meu corpo para ficar de costas a ele, abraçando-me por trás e afastando meus cabelos negros da minha nuca.

—Você quer que eu faça isso até você apagar? —Indaga raspando suas presas na minha nuca, obrigando-me a conter um gemido.

—Eu não consigo dormir... —Respondo dominada pela minha luxúria. —Então essa é a melhor forma de me colocar para dormir. Eu sei que você também quer, Ruki-kun.

Ele morde a parte de trás, tão próximo do meu crânio que os sons de sucção parecem cravados no meu cérebro. Dói um pouco mais, todavia não me importo, porque, no fundo, aquilo me faz bem e me coloca próximo da morte, então é divertido. Ruki prensa meu peito contra uma das colunas da varanda, enquanto permanece sugando tudo o que eu tenho, com suas mãos geladas deslizando pelo meu corpo, com nenhum de nós negando uma inegável e perigosa atração.

O sol já está quase que completamente no céu, quando sinto minha visão falhar e minhas pernas cederem. Ruki me segura na hora, juntando minhas pernas antes de me levantar, ao passo que sinto minha mente se desfazer.

—De novo terei que carregá-la. —Escuto-o dizer, parecendo contrariado. —Talvez eu seja bondoso demais com você, Kachiku. Só espero não ter que ser sua babá por muito tempo.

 

 

Leve-me sobre as paredes abaixo
Voe para sempre
Não me abandone
Eu preciso de um salvador para curar a minha dor
Quando eu me tornar o meu pior inimigo


Notas Finais


O que acharam? Deixem nos comentários😉
Não tenho muito o que dizer, apenas agradecer os + de 180 favoritos dessa história e também quem está acompanhando ela desde o começou, ou mesmo quem começou agora. Obrigada❤️
Continuo com mais um longo capítulo em seguida. Por isso, bjus meus demoniozinhos😘


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