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História Wicked - Blue jeans, white shirt...


Escrita por: waywonderland

Notas do Autor


Essa fanfic estava TOTALMENTE fora dos meus projetos, porém, uma certa noite uma garota no meu twitter (@yestodair) me apareceu com esse plot e eu pensei: porque não?
Eu me esforcei muito para ela ficar do jeitinho que eu eu queria e eu agradeço muito a Rebeca e a Bárbara por terem tido toda paciência do mundo de lerem e verem se estava bom o suficiente, você são as melhores pessoas.
Essa fanfic tem uma playlist no spotify (link nas notas finais) e cada capitulo é uma música, então ouçam esse capitulo ouvindo Blue Jeans da Lana Del Rey, se quiserem.
Enfim, espero que gostem <3

Capítulo 1 - Blue jeans, white shirt...


O verão daquele ano era o mais quente dos últimos tempos, de acordo com os noticiários locais.  

Talvez esse fato fosse a maior explicação do porque a única sorveteria da região estava tão abarrotada de gente no começo de tarde de uma quarta feira, enquanto o Starbucks que ficava a menos de dois metros dali, e era, até então, o grande ponto de encontro de jovens, permanecia quase vazio a dias.    

Embora Kim Jungwoo se sentisse feliz pelo o negócio da família estar em sua melhor época de vendas, não conseguia deixar de se sentir extremamente irritado pelo grande burburinho que o impedia de se concentrar por mais de dois minutos no seu dever de casa; já era difícil o suficiente lidar com o barulho azucrinante que seus amigos faziam, agora também tinha que lidar com o de estranhos e crianças mal-educadas.  

—Ela é extremamente bonita. —Suspirou o mais novo do grupo, o queixo apoiado em sua mão direita e os olhos direcionados para a garota que atendia sorridente os clientes atrás do balcão. —Falo sério, vou chamar ela para sair.  

Jungwoo tirou o olhar do caderno, olhou para o amigo e logo em seguida para a funcionária que entregava um sorvete para uma garotinha acompanhada da mãe.           

—Lucas, esqueça. —Sicheng falou dando uma risadinha irônica antes que o Kim conseguisse falar algo. —Ela jamais iria aceitar. 

—Acha que eu não consigo? —Sua voz soou ofendida. 

—Com certeza não. —O chinês colocou um pouco de sorvete de baunilha em sua boca.  

Lucas alternou seu olhar entre os dois amigos presentes na mesa e a atendente bonita que parecia meio desesperada com tantos clientes ao mesmo tempo, mas não deixando de sorrir em nenhum momento.  

—Jungwoo. —Chamou e o amigo olhou para ele. —O que você acha?                 

Jungwoo fez uma pausa para pensar numa boa resposta enquanto encarava o amigo que aguardava o retorno de sua pergunta. 

—Eu acho... —Começou meio incerto. —Que toda tentativa é válida, mas você vai levar um fora.  

Sicheng soltou uma risada pela resposta e levantou a mão para fazer um high five com o coreano que foi prontamente correspondido.  

—Uau caras, a forma como vocês me encorajam é impressionante. —Cruzou os braços com o rosto exalando incredulidade. 

—Não estamos te desencorajando, mas cara, estamos falando de Song Yuqi. —Pôs a mão no ombro de Lucas. —Sabe quantos caras ela deu o fora desde que pisou nessa cidade? —Fez uma pausa dramática. —Todos que tentaram.   

—Incluindo os caras da faculdade e os garotos do clube de dança da escola. —Jungwoo deu ênfase e Sicheng afirmou com a cabeça. —Ah, os jogadores de basquete e os de futebol também.  

—Não querendo te colocar para baixo, mas já colocando... —Apertou o ombro do amigo. —Você não pode competir com aqueles caras.  

Sicheng tirou a mão do ombro do Lucas e voltou a se recostar na cadeira enquanto aproveitava seu sorvete. Jungwoo vendo que o silêncio voltou a pairar na mesa, mesmo que fora dela o barulho continuasse incomodo, achou oportuno voltar aos seus deveres de biologia.  

As crianças ainda faziam birra, os adolescentes babacas continuavam gritando palavrões estúpidos e ainda era possível ouvir algum cliente reclamar com a pobre atendente sorridente por ter errado o pedido, mas ao menos Jungwoo enfim achou um momento conveniente para se dedicar unicamente a tarefa que deveria ser entregue no dia seguinte.  

Os minutos começaram a passar, o movimento do estabelecimento foi diminuindo aos poucos até o ambiente passar de irritantemente lotado para confortavelmente habitável. Sicheng colocou alguma música baixinho no celular de Jungwoo e ficou sentado trocando mensagens com alguém, Lucas estava perdido no seu próprio mundinho e faltava apenas duas questões para terminar aquela maldita tarefa. Jungwoo sentia tanta paz que seria capaz de atingir o nirvana. 

—Vocês acham que eu devo esperar o turno da Yuqi acabar para chamar ela para sair? —Lucas quebrou o silêncio. 

—Puta merda! —Sicheng falou um pouco alto demais e atraiu a atenção das pessoas que ainda estavam no local, inclusive de Yuqi.  

Os três ficaram se encarando com vergonha demais pelo silêncio que ficou no ambiente, eles sentiam o olhar de todos pairando sobre a mesa deles, até que lentamente as pessoas voltaram com seu pequeno barulho pessoal.  

Eles voltaram a ficar em silêncio, Lucas parecia estressado com Sicheng e Jungwoo tinha plena certeza que o garoto iria lhe chamar para conversar a sós, longe dos pitacos do chinês mais velho.  

—Nós vamos fazer alguma coisa esse fim de semana?—Jungwoo perguntou na tentativa de tirar o clima desconfortável que estava presente. 

—Ainda estou vendo isso, mas os caras da faculdade estão falando sobre fazer uma festa para comemorar o final do semestre ou algo assim. —Disse enquanto digitava ferozmente no celular.  

—Ah, mas vamos fazer algo nos três? Já que eu e o Lucas não poderemos ir a essa festa.—Jungwoo não pode evitar de mostrar certa magoa na voz.  

Sicheng levantou o olhar e passou a encarar Jungwoo de forma confusa. Logo percebeu que Lucas também o encarava em confusão. 

—Porque vocês não iriam à festa? —Sicheng arqueou uma sobrancelha.  

—É, porque não iriamos? —Lucas também perguntou.  

Jungwoo abriu a boca para falar, mas o som demorou um tempo para sair devido a sua pequena desorientação mental.  

—Bom, não estou impedindo o Lucas de ir. —Fez uma pausa desenhando rabiscos aleatórios em seu caderno. —Mas, eu tenho meus motivos para não ir.  

—Quais? —Sicheng perguntou.  

—Eu tenho dois trabalhos para entregar na terça, uma prova de química que vale metade da minha nota na quarta, além de que eu prometi que iria ajudar no discurso de homenagem aos professores na formatura. —Suspirou só de pensar no quão cansativo seria. —Eu pretendo adiantar tudo nesse final de semana para que eu possa escolher minha roupa para a formatura ainda na segunda.  

Encarou seus amigos vendo Sicheng revirar os olhos e Lucas bocejar de maneira longa. 

—Garoto, você precisa de um descanso. —Sicheng o olhou com uma falsa pena.  

—Ele precisa é beijar umas bocas, isso sim. —Lucas rebateu.  

—Isso também. —Sicheng concordou.  

—Eu vou ter bastante tempo para fazer tudo isso depois que eu me formar. —Cruzou os braços fazendo uma cara emburrada.  

—Como pode ter tanta certeza disso? —Sicheng sorriu irônico. —Você pode morrer engasgado com sua própria saliva enquanto faz o discurso para os professores na formatura. E quando você estiver morrendo, você vai pensar: “Droga, passei minhas últimas semanas de vida me enfurnando em estudo para nada. E nem pude me divertir numa festa universitária com meus melhores amigos”.  

Jungwoo encarou Sicheng por um longo período.  

—É assim que você espera me convencer? —Descruzou os braços. 

—Funcionou?  

Jungwoo encarou a mesa repleta de livros, folhas, respingos de sorvete e garrafas de água vazias. Passou a prestar atenção nos ruídos de dentro e fora da sorveteria e se perguntou se dava tempo de fazer tudo o que tinha para fazer até segunda feira. 

—’Ta certo... —Falou finalmente e os dois amigos deram gritos baixinhos de felicidade. —Mas com algumas condições. 

—’Tava demorando. —Lucas passou a mão no rosto impacientemente.  

—Eu quero estar em casa antes de uma da manhã. —Apontou para os amigos. —E deem um jeito de criar uma mentira muito convincente para a minha mãe e o meu irmão para eu poder sair de casa. 

—Mas... 

—Sem ‘mas’, ou é isso ou eu não vou. 

—Argh, porque somos seus amigos, hein? —Lucas suspirou.  

—Porque se não fosse por mim vocês estariam sozinhos naquela escola.  

—Há controvérsias. —Lucas disse rindo.  

Os outros riram e após isso o silêncio voltou a reinar naquela mesa.    

         

                                                                                    ... 

Segurando a segunda latinha de refrigerante da noite na mão esquerda, Jungwoo se espreme entre as pessoas aglomeradas naquela pista de dança improvisada e precária que fizeram no meio de uma grande sala de estar. Já era a terceira música que tocava desde que Jungwoo resolveu se enfiar naquele ninho para ir atrás de seus amigos que evaporaram após lhe deixarem plantado no jardim da casa dizendo que iam atrás de bebidas.  

No meio tempo em que foi abandonado, Jungwoo foi cantado por um garoto, três garotas passaram a mão em sua bunda e soltaram risadas, dois garotos esquisitos lhe ofereceram bebidas suspeitas e viu mais gente bêbada num único lugar do que já havia visto em sua vida inteira.  

Uma música de rock começou a tocar quando avista Lucas segurando um copo vermelho, dançando de um jeito engraçado e tentando beijar uma garota. Ficou parado sendo empurrado pelas pessoas pensando se interrompia o amigo ou só fingia que não o viu, mas antes de tentar fazer algo o amigo o vê e dá um sorrisinho extremamente bêbado para Jungwoo.  

—Cadê o Sicheng? —Grita tentando soar mais alto que a música.  

Lucas apenas faz um movimento com os ombros e Jungwoo fica em dúvida se aquele foi um sinal de que o garoto não sabia ou se ele apenas estava dançando a música que tocava. Desistiu de tentar falar algo quando o outro virou o liquido do copo vermelho e passou a beijar a garota que estava em sua frente de um jeito que Jungwoo achou nojento.  

Deu meia volta e quase foi ao chão com um empurrão mais forte que levou acabando por deixar sua latinha de refrigerante cair no assoalho. Decidiu desistir de procurar o outro amigo e começou a perambular atrás da cozinha onde resolveu que seria seu esconderijo até dar a hora de ir embora. 

Quando finalmente encontrou, viu um casal se beijando loucamente em um dos cantos, mas resolveu que iria ficar ali mesmo já que era melhor um casal se pegando do que trezentos bêbados dançando músicas altas demais.    

Procurou outra latinha de refrigerante no frigobar e acabou não encontrando nada além de cervejas e garrafas d’água, pegou a água, poderia aguentar aquela situação sem álcool. Sentou-se no balcão, desbloqueou seu celular e abriu em sua galeria atrás das fotos que tirou do conteúdo de química para revisar a matéria da prova de quarta.  

Estava acostumado com o barulho da sorveteria para estudar, tentar se concentrar nas palavras de Lavoisier ao som de um rock alto e barulhos molhados de beijos alheios era novidade para ele. Se esforçou ao máximo para conseguir se concentrar na matéria, química não era o seu forte. De vez em quando alguém entrava na cozinha e Jungwoo perdia a atenção por alguns poucos segundos, mas logo tratava de se concentrar quando a pessoa ia embora.  

Quando estava na última foto das quinze que tirou, mais alguém entra na cozinha de forma barulhenta e tira completamente a concentração de Jungwoo. O garoto percebe que o casal aos beijos já não estava mais lá, que a música que tocava agora era um kpop do momento, que faltava apenas nove minutos para a hora de ir embora e que o garoto que entrou na cozinha fazendo uma pequena baderna usava jeans azul e uma blusa branca que mostrava a quantidade absurda de tatuagens em seus braços.  

Ficou encarando o garoto desconhecido abrir e bater à porta de todos os armários da cozinha com uma brutalidade maior que o necessário. Apesar do barulho que o tirou do foco dos estudos, não foi isso que o fez ficar o encarando e sim o corpo esbelto coberto dos mais diversos desenhos e a expressão fechada que cobria todo seu rosto mesmo tendo traços angelicais.  

O desconhecido parou o olhar em Jungwoo que ficou com uma expressão meio assustada por ter sido pego o encarando.  

—Você sabe onde estão as cervejas? —Perguntou.  

A voz era calma e ao mesmo tempo firme, o que desconcertou Jungwoo mais um pouco que abriu a boca sem conseguir emitir nenhum som.  

—Devem estar no frigobar... eu acho. —Falou baixo, tão baixo que o estranho não teve certeza se ouviu certo. 

—Ahn, ok... —Seus olhos correram por toda a cozinha. —E onde está esse frigobar? 

—Embaixo do balcão. —Apontou.  

O garoto tatuado passou o olhar por todo o balcão. 

—Por acaso seria isso que você está em cima? —Indicou com o queixo. 

Jungwoo fez uma careta confusa e olhou para onde estava sentado, percebendo em seguida que suas pernas escondiam o frigobar que estava debaixo de onde estava sentado.  

—Ah, me desculpe. —Afastou seu corpo para a esquerda descobrindo o objeto completamente. 

O desconhecido então se aproximou, agachou e passou a procurar as cervejas no frigobar. Cada passo sendo analisado por Jungwoo que estava assustado com a presença de uma pessoa tão diferente de seu ciclo social.   

Quando o garoto se levantou Jungwoo pensou que deveria ter afastado mais porque ambos estavam mais próximos que o comum para dois desconhecidos. Porém, ao invés de se afastar o estranho garoto tatuado percorreu o olhar lentamente desde as pernas de Jungwoo que estavam encostando sutilmente em seu quadril, até o rosto bonito que estava com uma feição levemente assustada e desconfortável. 

Vendo que o garoto parecia um gatinho amedrontado buscando ajuda, afastou-se lentamente e recostou seu corpo no balcão central da cozinha, abriu a latinha de cerveja e bebeu um gole grande sem tirar os olhos de Jungwoo que também não tirava os olhos dele.  

—Estuda aqui? —O estranho pergunta repousando a latinha no balcão atrás de si.  

—Porque pergunta? —Jungwoo respondeu rápido, mas ainda com o tom baixo.  

O estranho percebe que o garoto está em um estado puro de defesa contra si e não consegue segurar a pequena risada que sai de sua boca, risada essa que Jungwoo não soube dizer se achou terrivelmente assustadora ou peculiarmente sexy.  

—Você não parece que estuda aqui, por isso a pergunta. —Voltou a levar a latinha de cerveja aos lábios que ainda carregavam resquícios de sua risada.  

—Porque não parece que eu estudo aqui?  

—Considerando que você está numa festa cheia de universitários bêbados enquanto segura uma garrafinha de água pela metade e usando uma camiseta da Marvel enquanto mexe no celular isolado de todos... —Segurou outra pequena risada. —Você não parece nada familiarizado com esse lugar.  

Jungwoo abaixou a cabeça e ficou encarando suas mãos que repousavam em seu colo passando a mexer os dedos de formar nervosa, pensando em uma maneira de se livrar daquele estranho assustador e bonito que parecia flertar com ele a cada palavra dita.  

Só queria sair daquela cozinha que passou a parecer desconfortavelmente confinadora e correr por aquela festa atrás de seus amigos para finalmente voltar para casa e torcer para não ser descoberto pela sua mãe e seu irmão.  

—E então? —Chamou atenção do garoto que levantou a cabeça. —Vai responder a minha pergunta? 

—Não vou falar sobre minha vida para um desconhecido.  

A fala firme de Jungwoo assustou aos dois, o estranho levantou uma sobrancelha em surpresa pela atitude do garoto que parecia tão acanhado até então.  

—Sou Kim Doyoung. —Passou a língua entre os lábios enquanto esperava a resposta do outro que não veio. —Não vai me dizer seu nome?  

O garoto virou o rosto e respirou bem fundo, seu corpo começou a entrar em estado de agonia tamanha a vontade de sair correndo daquele ambiente, abrir a porta da frente e correr pela rua. Mas percebeu que aquele garoto parecia bastante empenhado em conversar com ele.  

Só não havia entendido com quais intenções ainda.  

—Kim Jungwoo. —Respondeu sem olhar para ele.  

—Pronto, não somos mais desconhecidos. —Sorriu presunçoso.  

Jungwoo voltou a encara-lo.  

—Foi isso o que o Pennywise disse para o Georgie naquele bueiro. —Fez uma mini expressão de nojo.  

Doyoung riu.  

Dessa vez abertamente, uma gargalhada verdadeiramente genuína. Aquele garoto era peculiar de um modo que estava valendo a pena gastar alguns minutos de sua noite conversando com ele na cozinha ao invés de estar perambulando pela festa atrás de alguma boca. 

—Você está rindo agora, mas o que me garante que você não vai arrancar um braço meu nos próximos segundos? —Jungwoo disse exibindo um sorriso que não conseguiu conter ao ouvir a risada do não-tão-mais-desconhecido Doyoung. 

—Você é engraçado, Kim Jungwoo. —Disse antes de tomar mais um gole de sua cerveja.  

Jungwoo riu nervoso após ouvir seu nome sair da boca do outro de forma tão bonita. A vontade de sair correndo ainda passava fortemente em sua cabeça, mas de alguma forma o sentimento de curiosidade instigou uma parte de Jungwoo a não querer sair daquela cozinha. 

O silêncio se instalou abruptamente de maneira extremamente desconfortável. Doyoung terminava de beber sua latinha de cerveja e Jungwoo achou que fosse um bom momento para acabar com toda a água que ainda estava presente na garrafa.  

Mesmo que Jungwoo quisesse, estranhamente, que aquele garoto continuasse a conversar consigo, não conseguia pensar em nenhum assunto interessante o suficiente para que pudesse dar continuidade para aquele momento.  

Quando voltou seu olhar ao garoto percebeu que o mesmo o olhava fixamente enquanto amassava a latinha de cerveja e se aproximava lentamente de Jungwoo. Os corpos ficavam cada vez a menos centímetros de distância, a mente de Jungwoo trabalhando a mil por hora para buscar uma maneira de se livrar daquela aproximação repentina. 

Doyoung esticou o braço, Jungwoo prendeu a respiração arregalando os olhos, olhou para trás e viu o tatuado jogando a latinha amassada dentro do lixo que estava atrás dele. Soltou a respiração que estava presa, porém ao virar-se novamente para frente deu de cara com a aproximação do rosto do outro e afastou-se minimamente devido ao susto.  

As mãos de Doyoung não deixaram de se apoiar no balcão, uma de cada lado do garoto que voltou a ter os olhinhos assustados. Ficou esperando alguma reação do garoto, olhando de perto cada mínimo traço do rosto delicado que mantinha a boca semiaberta, os olhos correndo de forma desesperada em busca de uma saída daquela situação.  

Não iria fazer nada devido a expressão desconfortável do garoto, mas vontade não lhe faltava.  

De repente um som alto soou, parecendo mais alto que a música de algum grupo feminino de kpop que tocava na sala, assustando os dois garotos a ponto de Doyoung tirar os braços do balcão e arregalar os olhos, assim como Jungwoo que deu um pulinho assustado.  

Ambos olharam para o celular que estava na mão de Jungwoo descobrindo que o despertador alarmando que havia causado o som repentino. Uma hora da manhã, hora de Jungwoo voltar para casa. 

Jungwoo respirou aliviado.  

—Eu... —Pigarreou para sua voz soar mais alta. —Tenho que ir para casa.  

Doyoung riu. 

—Quem é você? A Cinderela?  

—Cinderela é a meia noite, são uma. —Corrigiu já descendo do balcão.  

—Você deveria apreciar minha piada como eu apreciei a sua. —Se fez de ofendido. 

—Você deveria se esforçar para fazer piadas melhores. —Deu um sorrisinho com a boca fechada.  

Eles se encararam por alguns segundos, Doyoung encostado no balcão central e Jungwoo perto da saída da cozinha.  

—Foi um prazer, Kim Doyoung. 

—O prazer foi todo meu, Kim Jungwoo.  

Doyoung sustentou um sorriso que beirava a sensualidade e perversidade enquanto Jungwoo tinha seu olhar inocente e assustado.   

                                                                                  ... 

Jungwoo jamais iria compreender o conceito de festas universitárias. 

Uma massa desenfreada de adolescentes bêbados, dançando músicas altas demais enquanto caçavam incansavelmente alguém para transar no final da noite, descartando qualquer possibilidade de pegar alguma DST por fazer sexo com um desconhecido. Este era um bom resumo de como tudo funcionava.  

Jungwoo achava aquilo tudo extremamente patético. Porém, o fato de ele estar sentado na beira de uma piscina, tentando ao máximo não entrar em um surto psicótico por ainda não ter tido um sinal de seus amigos, julgando os adolescentes embriagados ao seu redor, era muito mais patético.  

—Esse é o tipo de coisa que não vemos todos os dias. —Ouviu uma voz atrás de si e virou para ver quem havia dito. —Kim Jungwoo numa festa, isso é surpreendente.  

Jung Jaehyun, um dos amigos de faculdade de Sicheng, estava lhe encarando com um sorriso cômico no rosto.  

—Acredite, estou surpreso também. —Falou quando Jaehyun se sentou ao seu lado na borda da piscina, enfiando seus pés na água gelada.  

—O que faz aqui? Não tem algo muito importante para estudar ou alguma série nova fantástica para assistir?  

Ambos não eram o que poderia se chamar de ‘amigos’, mas eles se conheciam a pelo menos um ano devido a ligação com Sicheng, mas mesmo sem quase nenhuma intimidade, Jaehyun gostava de tratar todos os conhecidos como se fossem amigos de longa data. Jungwoo já havia se acostumado com isso, embora ainda achasse ligeiramente incomodo.     

—Eu até tenho, mas Sicheng me convenceu a vir. —Suspirou. 

—E cadê ele? —Balançou os pés fazendo respingar água nas pernas cruzadas de Jungwoo.  

—É o que eu estou me perguntando a horas.  

Jaehyun riu, ele estava um pouco bêbado. Jungwoo pôs as mãos para trás, apoiando seu corpo no chão. 

—Eu preciso dele para ir para casa, mas eu não faço a mínima ideia de onde ele se meteu. —Fez uma pausa. —Nem sei se está caindo bêbado por aí.  

Jaehyun fez um beicinho, parecendo pensar em algo.  

—Porque não vai embora com seu irmão? —Disse.  

—Se o Taemin descobrir que eu estou aqui é capaz dele ter um infarto. —Dá uma risadinha.  

Jaehyun o encara, as sobrancelhas franzidas o deixando com uma cara que Jungwoo particularmente achou bem engraçada.  

—Espera aí. —Levantou uma mão. —Você não veio com ele?  

—Não, você acha mesmo que ele ia me deixar vir? —Riu com a boca fechada. —Disse que ia estudar, tranquei a porta do meu quarto e pulei a janela.  

—Então eu acho melhor você correr. —Disse alternando o olhar entre Jungwoo e algo atrás dele.  

—Porque? —Fez uma careta de confusão.  

—Kim Jungwoo! —Um grito que soou por trás de Jungwoo interrompeu a fala de Jaehyun. 

Quando Jungwoo se virou, deu de cara com um Taemin que pisava fundo e vinha com uma expressão nada alegre em seu rosto.  

Se levantou em um pulo devido ao susto, se desequilibrando no processo e quase indo ao chão, mas conseguiu se manter de pé.  

—Taemin, o que você ‘tá fazendo aqui? —Sorriu tentando agir com naturalidade, embora seu sorriso estivesse tremendo assim como o resto de seu corpo. 

—Eu que te pergunto, o que você ‘ta fazendo aqui? —Falou um pouco alto demais atraindo o olhar de algumas pessoas. —Você não deveria estar em casa estudando?  

Jungwoo abriu e fechou a boca várias vezes, dessa vez parecia que todas as palavras sumiram de vez de sua boca. Alguns garotos se aproximaram e ficaram atrás de Taemin, pareciam ser seus amigos.  

—Você não deveria estar na casa do Minho? —Cruzou os braços, dentro de si tinha total certeza que tinha pego Taemin.  

—Esta é a casa do Minho. —Voltou a falar, dessa vez mais baixo, mas ainda firme. —Por Deus, Jungwoo, você nem ao menos sabe onde está. —Passou as mãos pelo rosto, Jungwoo sabia que o irmão só fazia isso quando estava sem paciência.  

—O Sicheng que me obrigou a vir aqui, eu juro. —Juntou as duas mãos, a voz saindo quase desesperada.  

—Você tem quase 18 anos, já sabe o que deve ou não fazer.  —Apertou os lábios e respirou fundo. —Acho melhor você ir embora agora, para não ser pior. Você sabe como é nossa mãe. 

—Mas eu não tenho ninguém para ir embora. —Falou enquanto olhava para os seus pés.  

—Cadê o Sicheng?  

—Eu não sei. —Revirou os olhos, cansado de responder essa pergunta.  

—Eu levo ele. —Alguém falou por trás de Taemin e Jungwoo levantou a cabeça para ver.  

Doyoung estava entre o grupo de amigos de Taemin, encarando toda a situação com um olhar de tédio. Veio andando calmamente e parou entre os dois.  

—Eu já estou indo, posso levar ele. —Levantou a mão mostrando uma chave que segurava entre os dedos.  

—Tudo bem. —Se virou para o Jungwoo. —Boa sorte ao tentar se explicar com a mãe.  

Jungwoo tremeu.  

  

                                                                                   ... 

Doyoung tinha um andar confiante, Jungwoo achou isso ligeiramente irritante. Na verdade, estava irritado com tudo ao seu redor devido ao pequeno showzinho que Taemin havia dado.  

Queria bater em Lucas e Sicheng por terem o abandonado, em Taemin por ter gritado consigo na frente de todo mundo, em si mesmo por ter aceitado estar ali e em Doyoung por andar daquele jeito insuportável como se tivesse acabado de sair de um ensaio da Calvin Klein.  

De repente Doyoung para de andar e Jungwoo vê que ele está de frente para uma moto preta. 

—Onde está seu carro? —Perguntou cruzando os braços e ouviu uma risadinha debochada de Doyoung. 

O outro garoto não respondeu, apenas passou uma perna por cima da moto, montando nela, logo em seguida colocando a chave na ignição sendo possível ouvir o ronco alto do motor.  

Jungwoo permaneceu com os braços cruzados e o rosto impassível, viu Doyoung esticando o braço e lhe entregando um capacete.  

—Eu só tenho um, não esperava ter que levar um pirralho para casa esta noite. —Passou a língua pelos lábios e deu um sorriso ladino.  

Jungwoo se irritou mais ainda após ouvir a fala do outro. 

—Eu não vou andar na sua moto. —Deu um passo hesitante para trás.  

Doyoung deu de ombro, abaixou o braço ainda segurando o capacete.  

—Você quem sabe, se quiser enfrentar a fúria do seu irmão super protetor. —Fez uma pausa como se estivesse tentando se lembrar de algo. —Ah, e se bem me lembro, a última vez que eu vi o Sicheng ele estava se atracando com alguém no banheiro do segundo andar.  

O queixo de Jungwoo despencou. 

—Sicheng não faria isso.  

—Bom, se quiser pode voltar lá e conferir, não vou perder nada se não te der essa carona, docinho. —O sorriso era uma mistura de ironia e cinismo. 

Jungwoo estava explodindo em raiva, mesmo que seu corpo não demonstrasse isso. Kim Doyoung estava o irritando como jamais alguém lhe irritou.   

Pegou o capacete com raiva da mão do outro e pôs em sua cabeça. Não sabia ao certo o que fazer com suas mãos.  

—Acho melhor você se segurar em mim. —Doyoung disse por cima do ombro.  

Jungwoo timidamente pôs suas mãos na cintura fina de Doyoung, sem força nenhuma. Porém, quando Doyoung arrancou com a moto, imediatamente suas mãos o seguraram com força, Jungwoo ouviu uma risadinha, mas não teve certeza devido ao barulho do motor.  

A cidade passava como um borrão, as ruas estavam vazias e tudo parecia abandonado. O vento era gelado contra suas mãos e o corpo de Doyoung contrastava sendo quente.  

Enquanto ouvia o som da moto e sentia a barriga de Doyoung sobre os seus dedos, Jungwoo só conseguia pensar que talvez a noite toda não tivesse sido um desperdício.  


Notas Finais


Link da playlist: https://open.spotify.com/playlist/5mVPv5M1jMc33KoqhVL2UF
Meu twitter: @sichengway
Espero que tenham gostado, me mandem mimos <3


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