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História Wicked Souls - Tal pai, tal filho


Escrita por: Chrissy_RDC03

Notas do Autor


oi oi

Boa leitura!

Capítulo 18 - Tal pai, tal filho


Fanfic / Fanfiction Wicked Souls - Tal pai, tal filho

“O orgulho vem antes da destruição; o espírito altivo, antes da queda.”

(Provérbios 16:18)

*Zayn*

Acordei com o som suave de algo macio caindo no chão. Não abri os olhos completamente, tentando bloquear a luminosidade que, de alguma forma, havia se infiltrado pelas cortinas. Procurei a origem do som que havia me acordado, arrastando os olhos pelo quarto estupidamente claro, parando no momento em que avistei Evangeline. No primeiro momento, fui pego de surpresa. Nunca, em nenhum momento, eu havia acordado com uma mulher em meu quarto. Eu nunca deixava com que elas ficassem até a manhã. Nenhuma delas havia dormido no meu colchão, e não foi por falta de pedidos. Mas com Evangeline? Por Deus, havia sido eu quem havia praticamente a obrigado a ficar em meu quarto porque eu não suportava a possibilidade dela acabar parando na cama de Jayden de novo. Uma garota era a última coisa que eu achei que gostaria de ver ali quando acordasse, mas repulsa também foi a última coisa que eu senti ao ver Eva em meu quarto.

Porra, só faltava que eu pedisse para que ela fizesse panquecas com calda de chocolate e suco de laranja para mim pela manhã antes de ir para o trabalho de terno e gravata.

Aquilo estava se tornando uma palhaçada.

Ela estava de costas e havia subido em cima da poltrona do canto para alcançar o que quer que havia lhe chamado atenção em cima do meu guarda-roupas. Mas eu estava longe de estar interessado ou curioso sobre o que ela queria ali, já que ela estava com os braços para cima, procurando, o que fez com que a minha blusa preta com a qual ela havia dormido subisse. Eu me apoiei no colchão com os cotovelos, boquiaberto, arrastando os meus olhos pelas longas pernas delgadas e desnudas, como a porra de uma paisagem na minha frente. Ela ficou na ponta do pé e a blusa subiu mais ainda, e eu jurei que estava sonhando com a porra do paraíso. Apesar de ser uma garota magra, Evangeline definitivamente tinha uma bunda da qual deveria se orgulhar. Curvas arquitetonicamente perfeitas e dignas de uma obra de arte. Tive visibilidade de apenas uma pequena brecha do tecido branco da calcinha. É claro que seria branco. Não poderia combinar melhor com a sua inocência. Eu suspirei, extremamente satisfeito, inclinando a minha cabeça para o lado e mordendo o meu lábio inferior. Lapsos de memória da imagem da garota nua em meus braços, tão quente e entregue no reflexo do espelho inundaram a minha mente em uma espécie de tortura deliciosa. A forma como segurou os meus braços, impedindo que eu parasse de tocá-la, ou como me encarava de volta pelo reflexo do espelho. Cheia de luxúria, de desejo. Evangeline sempre pareceu me observar com um pouco de provocação inofensiva, mas aquilo ali era completamente novo. Ela me olhou como uma mulher, secretamente me pedindo por mais, implorando para que eu lhe mostrasse mais do que era capaz. Fazer Eva perceber o que o seu corpo poderia fazer por ela me dava uma sensação de satisfação quase física, do tipo que se assemelhava a um novo tipo de bem-estar que não tinha nada a ver comigo, mas com outra pessoa. Como se o meu prazer, de repente, fosse diretamente interligado ao dela.

Algo me dizia que nós dois não estávamos nem perto de acabar. Que a noite passada foi apenas o começo. Eu queria descobrir mais sobre Eva. Queria desvendar mais sobre a sua personalidade, ajudar a moldá-la. Mostrar coisas das quais ela poderia gostar ou não. Queria sentir o seu gosto de todas as maneiras possíveis. Queria sentir o seu toque em minha pele, queria vê-la gozar para mim inúmeras e inúmeras vezes olhando dentro dos meus olhos. Queria ouvir ela dizer o meu nome. Queria fazer ela ter certeza que nenhum outro além de mim poderia fazê-la se sentir bem como eu o faria. Eu queria tudo, sem exceção ou censura. Depois do que provei na noite passada na frente daquele espelho, eu não tinha dúvidas de que estava completamente, absurdamente e irrevogavelmente viciado em Evangeline.

— Eu diria que há maneiras piores de um homem ser acordado pela manhã. — Eu murmurei, apoiando a minha cabeça em meus dois braços em cima do travesseiro, observando Evangeline e a sua bunda incrível ainda em cima da minha poltrona com um sorriso alegre no rosto. Ela se virou rapidamente, assustada, com os grandes olhos azuis arregalados e os lábios irresistíveis entreabertos em surpresa. O movimento brusco da cabeça fez com que a cascata castanha de seus cabelos realizasse um movimento quase hipnotizante; tão bonito que eu não duvidaria se houvesse mágica envolvida.

— Você está acordado! — Ela constatou o óbvio.

— O que você está fazendo aí em cima? — Eu perguntei, realmente curioso. Ela abriu a boca algumas vezes, parecendo não ter certeza de como explicar.

— Nada.

Nada? — Eu franzi as minhas sobrancelhas, cético.

Ela mordeu o lábio inferior, preocupada, e então pareceu se dar conta de que eu, como um filho da puta pervertido do caralho, simplesmente não conseguia manter os meus olhos afastados das suas pernas. Ela ficou vermelha, envergonhada, puxando a barra da camiseta preta para baixo, não resolvendo muito, é claro, mas eu particularmente achei adorável.

— Eu tenho algo para você. — Rápida como uma lebre, Evangeline desceu da poltrona e caminhou até a mesa de cabeceira que havia do lado da cama na qual ela havia dormido. Eu me surpreendi ao vê-la pegando o cupcake que estava ali, logo se sentando por cima de uma das pernas nuas no colchão, ao meu lado, me olhando com um sorriso doce e um pouco tímido. Eu me sentei, intrigado, analisando-a por inteira.

— Você está me dando um cupcake?

— Acho que você merece agora.

— O que exatamente eu fiz? — Eu sorri, travesso, querendo que ela me dissesse com suas próprias palavras.

— Eu não vou dizer. — Respondeu, rápido.

— Como eu posso aprender e repetir o meu comportamento correto se não sei o que fiz? — Ela riu, constrangida, escondendo o rosto com as duas mãos.

— Só coma a droga do cupcake, Zayn.

Ainda olhando para ela com os meus olhos semicerrados, eu mordi um pedaço do doce. É claro que estava tão bom quanto eu imaginava, e quando Harry disse que Eva tinha mãos de fada, ele estava absolutamente certo.

— Está bom? — Ela perguntou, baixinho, com o rosto um pouco escondido por uma mecha do cabelo.

— E você tem dúvidas? — Eu sorri, tirando a mesma dali. Sem resistir, eu me aproximei dela, segurando o seu rosto com a minha mão livre e beijando a sua boca. Eu nunca superaria o fato da coincidência da garota mais bonita que eu já vi em toda a minha vida também ser a dona da melhor boca que eu já beijei. Quando comecei a aprofundar o beijo, me aproximando cada vez mais, Eva riu baixinho contra a minha boca, se afastando um pouco.

— Você está doce. — Ela sussurrou, abrindo aquele maldito sorriso bonito que poderia acender as luzes de uma cidade inteira sem muito esforço. Sem precisar dizer mais nada, eu pousei a minha mão esquerda em sua cintura, descendo até o seu joelho. Comecei a dedilhar a sua pele, subindo pela sua coxa, e foi aí que ela segurou a minha mão, me impedindo de subir mais enquanto puxava a blusa mais para baixo. Não precisei pensar demais para saber que era por causa das suas cicatrizes. Por algum motivo, ela ainda era muito insegura quanto a elas.

— Não quero que se esconda de mim, Eva. Eu quero ver você.

— Não vai gostar do que encontrar se olhar muito perto. — Apesar do sussurro, o desespero em sua voz era real, ainda mais pela força com que ela segurava o meu pulso.

— Eu tenho certeza que nada pode mudar a ideia que eu já tenho de você.

— Eu queria muito poder acreditar nisso, Zayn. — Ela piscou algumas vezes, desviando o olhar até a minha mão, dedilhando a tatuagem de mandala com a ponta do dedo indicador. — Eu encontrei algo.

— Em cima do meu guarda-roupas? — Arqueei uma das minhas sobrancelhas, em desafio.

— É. — Respondeu, um pouco preocupada, se levantando da cama e subindo na poltrona novamente para poder alcançar o que quer que tivesse encontrado ali. Quando desceu com um maço de folhas sulfite na mão, eu já sabia do que se tratava, o que me deixou mais aliviado. Eu já não tinha mais ideia do tipo de coisa que eu havia guardado ali, mas eu tenho certeza de que havia algo muito pior sobre mim do que aquilo. Eva se ajoelhou no colchão novamente; uma posição que não revelava as marcas em sua pele, e que provavelmente era a sua favorita por esse mesmo motivo. — Zayn...sou eu, não sou?

A morena colocou as folhas sobre o colchão. O primeiro desenho, claro, eram dos olhos. A data no canto da folha marcava que ele já tinha pouco mais de dez anos. A minha habilidade ainda não era muito invejável, mas era perfeitamente possível perceber quem era a dona deles. O próximo desenho já abrangia longos cabelos castanhos e lábios extremamente tentadores. Conforme eu crescia, no entanto, a minha mente já não era mais tão púdica quanto a do garoto de quinze anos, e eu vi como Evangeline ficou ainda mais vermelha quando viu um desenho que envolvia um pescoço longo, ombros esbeltos, clavículas atraentes e o relevo de seios perfeitos.

— Você me desenhava. — Afirmou.

— Eu sonhava. Às vezes dormindo, às vezes acordado. Mas era sempre com você. — Ela parecia deslumbrada, com a boca entreaberta. Eu dedilhei o seu pescoço com a ponta dos meus dedos, enfiando-os na massa ondulada de cabelos castanhos, ouvindo-a arfar. — Confesso que não planejava que você soubesse sobre isso.

— Sobre o que? — O brilho desafiador em seus olhos surgiu timidamente conforme ela tentava segurar um sorriso convencido. — Que você pensava em mim?

— Isso você já deve ter percebido. — Eu dei de ombros, sem perder mais tempo e voltando a beija-la. Eu nunca cansaria da sensação daquela boca contra a minha, porque, por Deus, foram imensuráveis as vezes em que eu sonhei com isso e achei que estivesse louco. Aproveitar que personificação dos meus sonhos eróticos existia e estava bem ali na minha era o mínimo que eu poderia fazer.

— Espere. — Ela pediu, espalmando as mãos em meu peito, me afastando. Ela manteve as mãos ali, e o seu toque em minha pele nua era quente.

— O que foi? — Eva mordeu o lábio inferior, pensativa. Eu acariciei a sua bochecha com o polegar, me inclinando para baixo para poder ver o seu rosto. — Diga, babe.

— Quero que você me desenhe.

— Agora? — Eu franzi as minhas sobrancelhas, curioso. Ela assentiu, sorrindo de forma travessa. — Por que?

— Quero poder me ver pelos seus olhos. Nesse momento.

Eu suspirei, aturdido. Eu estava começando a acreditar que aquela garota nunca deixaria de me deixar surpreso.

— Certo.

Deixei o cupcake na escrivaninha, encontrei um velho bloco de notas e um lápis e logo voltei a me sentar no colchão com as costas apoiadas na cabeceira da cama. Fiz tudo isso analisando Evangeline com os olhos semicerrados. Não que eu já não soubesse de cor cada mínimo detalhe daquela garota.

— O que eu devo fazer? — Ela perguntou, um pouco constrangida pelos meus olhares excessivos. Eu girei o lápis entre os meus dedos, trocando olhares entre a folha em branco e a garota a minha frente. Mordi o meu lábio inferior, tendo uma ótima ideia.

Tire a camiseta.

Eva pareceu assustada em um primeiro momento, mas logo pareceu se acalmar ao ponderar sobre suas possibilidades. Ela segurou a barra da mesma e a tirou lentamente na minha frente, e eu precisei ficar me lembrando o tempo todo do motivo de estar fazendo aquilo. Precisei me lembrar de ficar segurando a porra do lápis em minha própria mão para não derruba-lo. Ela colocou as mãos sobre as coxas, com os longos cabelos escorrendo por seus braços, suas costas, e seus seios. Eu suspirei, passando os meus olhos por cada centímetro de pele imaculada. Os seios que pareciam ser perfeitos demais para serem reais, com os bicos rosados apontados em minha direção, iluminados pela luz dourada do sol do amanhecer. Puta que pariu. Ela brilhava. Brilhava em tons de dourado, rosa e castanho. 

— Deite-se, Eva.

Ela o fez, sem pestanejar, e a cada movimento, eu parecia estar sob o efeito de algum encanto ou algo do tipo, hipnotizado. Ela jogou os cabelos para trás com as mãos, e as mechas onduladas se espalharam pelos cobertores. Por mais inocente que fosse, tudo sobre ela àquele ponto parecia extremamente erótico para mim. Eva voltou a me olhar com aquele intenso azul-piscina nos olhos, como se me provocasse, me instigando a continuar. Arrastei os meus olhos pelo corpo escultural, pela caixa torácica delicada que se expandia e se retraía conforme a sua respiração, pelas curvas à plena luz do dia, completamente nua. Bem, quase.

— Tire a calcinha.

Ela me olhou com dúvida por alguns segundos, respirando rapidamente, mas fez o que eu pedi. A minha pulsação acelerou tanto quanto a minha respiração conforme os seus dedos se arrastavam pela sua pele. Eu quase podia sentir como se fosse eu quem a despia. Porra, quem me dera. Eu me sentia prestes a perder o controle. Ele era a única coisa que me restava àquele ponto, com exceção da droga de uma ereção pulsante no meio das minhas pernas. Eu não trepava há tanto tempo que eu estava a ponto de estourar dentro das minhas calças, e eu não me lembro de desejar tanto alguém como desejava Evangeline. Como desejava estar dentro dela e poder ouvi-la gemendo o meu nome tão alto que todos ouviriam. Como desejava aquela boquinha vermelha ao redor do meu pau. E eu sequer havia a tocado direito ainda. Era mesmo o meu maior recorde e eu não faço ideia de como conseguia manter o meu autocontrole intacto.

Deixando a calcinha de lado, ela colocou os braços acima da cabeça, os pousando no colchão.

— E agora?

— Está perfeita. Não se mexa.

Ela sorriu de leve, assentindo com as bochechas coradas. Pousei a ponta do lápis na folha sulfite e notei como a minha mão estava trêmula. Fechei os meus olhos com força por alguns segundos, os abrindo logo depois, tentando focar no que fazia. Mas era apenas voltar a olhar para ela que eu me perdia. Foi o desenho mais difícil que eu havia feito até então, mesmo que ela estivesse logo ali, na minha frente, dessa vez. Quando terminei tudo depois de quinze ou vinte minutos e Eva já voltava a se vestir, entreguei o desenho a ela com um sorriso ansioso no rosto. Eu sabia que era bom, mas queria ouvir as palavras saírem da boca dela. Ela o analisou com cautela por alguns segundos, deitada de bruços na cama, e os olhos de lobo pareceram brilhar. Eva me mostrou um sorriso grande e feminino enquanto passava o dedo indicador sobre o grafite, surpresa e admirada.

— Você me vê assim? — Perguntou, sorridente.

— Não. Você é assim. — Eu me agachei, segurando o seu rosto pelas bochechas com uma das minhas mãos e deixando um beijo rápido em seus lábios. — Gostosa pra caralho.

Eu gostava da inocência de Evangeline. Gostava de como ela se surpreendia a cada palavra suja ou de teor sexual que saía da minha boca, mas apesar do sorriso tímido e das bochechas coradas, eu também gostava do brilho quase perojativo que aparecia eventualmente por trás de seus olhos; às vezes sendo rápido demais para alguém que não estivesse prestando atenção notasse. Era assim que ela me dizia, por meio de sinais, que havia gostado, ainda tímida demais para dizer as palavras em voz alta. Eu não precisava de palavras para entendê-la, e o meu maior medo, apesar de tudo, era que Evangeline também começasse a se infiltrar de fininho dentro da minha mente da mesma forma.

 

[...]

 

Mais tarde, eu fui até a garagem da frente do pátio, onde Tank havia me dito que estavam mantendo um neonazista como refém. Assim que entrei pelas portas, todos os homens do clube que trabalhavam com Tank na manutenção das motocicletas limparam suas mãos cheias de graxa em panos antes de se retirarem do recinto, sabendo muito bem o que aconteceria ali. Eu não era muito fã de plateias e eles sabiam disso, mas eu estava com tanta vontade de estraçalhar um filho da puta na porrada que não me importaria se alguém resolvesse ficar como público. Andando até os fundos do barracão, encontrei o idiota amarrado a uma cadeira, com a cabeça abaixada. Um homem grande, branco, de cabelo preto e com tatuagens com as siglas "SS" e "KKK" ao longo do seu corpo, além da suástica na testa. Eu me perguntei qual a porcentagem de massa cerebral pessoas como ele deveriam perder para fazer parte daquele grupo de idiotas supremacistas. A porta rangeu e Harry, Viking, Flame e A.J. entraram, logo bloqueando a luz do dia lá fora novamente. É claro que aqueles ali nunca perderiam o show. O homem na cadeira ergueu a cabeça, estudando a todos nós, mas principalmente a mim, já que eu o rondava como um predador caçava a sua presa, com os olhos semicerrados. Ele ficou ainda mais emburrado, de cara fechada. Eu sabia muito bem o que poderia acabar com toda aquela marra. Caminhando na direção de um grande armário de madeira, puxei uma gaveta e revirei o meu estojo de lâminas, jogando-o em uma mesa onde o otário poderia visualizar tudo.

— Eu não vou falar! — Ele resolveu abrir a boca de merda. Seguindo os meus movimentos com os olhos arregalados enquanto eu retirava a minha faca de arranque, ele parecia começar a suar, tentando se libertar, em vão, das cordas. — Ei, cara! Não há nada que você possa fazer que vá me fazer falar, porra!

Tirando meu amolador com um sorriso orgulhoso no rosto e sem me incomodar de dizer uma palavra sequer, eu afiei minha faca de caça Bowie, olhando para ele; o único som do local sendo o do aço duro raspando no couro grosso.

— Ei, você com a faca! Estou falando com você!

Flame perdeu a paciência e socou o filho da puta no rosto antes de segura-lo com uma das mãos.

— Você não o conhece, porra? Nunca ouviu sobre o boato de Hicksville?

A minha reputação me procede — era o que todos me diziam. Hicksville era o apelido do homem nova-iorquino que costumava ser o braço direito de Rooker nos Renegades, já que ele não aceitava que houvesse alguém com poder comparável ao dele como o de um vice-presidente. Eu nunca cheguei perto o bastante de acabar com a vida de Rooker — ainda — mas Hicksville não teve a mesma sorte. Há cerca de quatro anos, eu havia o encontrado dando sopa por aí e os rumores de que eu havia esmagado a garganta dele contra uma parede usando uma mão só se espalhou entre os clubes. Creio que grande parte do respeito que recebo dos homens vem por conta disso. Todos pareciam gostar demais de suas próprias gargantas para arriscar me irritar, aparentemente.

Caminhei até ficar na frente da cadeira para o filho da puta, que engoliu em seco enquanto uma gota de suor escorria pelo seu rosto quando realização bateu. Eu simplesmente sorri em resposta. A cadeira começou a balançar quando o nazista lutou para se libertar de suas amarras com ainda mais afinco, como se não pudesse evitar. Eu balancei a cabeça em negação e resmunguei.

— Covarde de merda.

Ele congelou quando cheguei mais perto, me achando para poder olhar para o seu rosto, e eu quase podia sentir o cheiro de mijo prestes a fazer uma poça no chão. Girei a faca em minha mão pensando nas inúmeras possibilidades que eu tinha. Para fazer avançar as coisas, eu pressionei a ponta da lâmina em seu peito nu, e então comecei a esculpir uma parte da minha marca de assinatura: um Z ao longo do seu tronco. Eu cortei a uma profundidade suficiente na pele para causar dor, mas não o suficiente para perfurar quaisquer principais órgãos. Pelo menos, não ainda. Conseguindo um maldito grito de agonia do maldito nazista, eu dei alguns passos para trás, admirando meu trabalho manual.

Harry deu um passo atrás de mim e assobiou baixo.

— É isso que eu chamo de obra de arte.

O nazista, agora delirando de dor, se contorceu na cadeira, piscando os olhos claros, ofegante. Como estava constantemente esfregando os punhos nas cordas ásperas e grossas, sua pele já estava exposta, quase crua.

— Eu não vou falar! — Ele cuspiu em um sotaque texano, pausadamente e com os dentes cerrados.

— O que acham de um sorriso de coringa? Acho que vai combinar com o corte de cabelo. — Eu inclinei a minha cabeça para o lado, esperando que ele visse como os meus olhos sorriam pela possibilidade de machuca-lo ainda mais. Não espere que eu pare — era o que eu queria dizer. Depois de uma boa foda, aquele era o meu entretenimento preferido, e porra, eu poderia ficar a tarde toda ali, mesmo que aquele galpão estivesse começando a parecer um forno. Eu me agachei, puxando a sua cabeça para trás pelos cabelos e enfiando a faca em sua boca, ameaçando rasgar a sua bochecha esquerda. — Você e o seu grupinho de merda estão trabalhando pro Rooker?

— Eu não sei, porra! Eu só obedeço ordens superiores!

— Oh, ele realmente está querendo um sorriso sangrento pro resto da sua vida... — Flame sorriu de forma doentia, esfregando uma não na outra, ansioso.

— Mas... — O homem gaguejou, engolindo em seco, sem conseguir desviar os olhos arregalados da minha faca.

Mas...? — Eu incentivei, levando a lâmina até a sua garganta e a pressionando ali até que um fio de sangue escorresse pelo seu peito.

— ...mas iríamos encontrá-los hoje à noite no festival de Boulevard em Austin para tratar de negócios. Só então eu saberia qual é o outro clube. Eles estarão esperando por nós.

— Eu juro que se você estiver tramando pra cima de mim e do meu clube, eu vou arrancar a droga das suas duas mãos e enfiar elas na sua bunda, e aí você definitivamente não teria como tirar elas de lá sozinho. Você me ouviu bem? — Murmurei, ainda ameaçando rasgar o seu pescoço. Ele assentiu freneticamente, fechando os olhos com força com uma expressão frustrada no rosto, suando frio. Eu me afastei, limpando a faca na minha calça, encarando-o com uma expressão de nojo. — Raça superior é a minha rola. 

— Estávamos planejando entregar algumas das mercadorias pelas redondenzas de Boulevard ainda hoje, não é, Prez? — Harry perguntou, baixo, tocando o meu ombro. — Está de pé?

— Sim. Espalhe a palavra. Sairemos ao pôr do sol.

Joguei a Bowie em cima da mesa, saindo do galpão abafado logo depois, batendo a porta. Passei as mãos pelo meu cabelo e fechei os meus olhos. Eu não entendia como ainda poderia estar pensando em Evangeline mesmo depois do que havia acabado de acontecer. Eu queria vê-la. Agora. Queria descontar todo o estresse com ela — ou nela, a minha própria mente adicionou. Talvez eu tivesse sorte e conseguisse arranjar um beijo, no mínimo. Só de pensar naquela boca, as minhas pernas quase fizeram o seu próprio caminho até a garota involuntariamente. 

Acho que estava ficando maluco.

O ar fresco do dia ajudou um pouco a situação. Parece que o clube teria que sair hoje. E dessa vez, iríamos todos. Eu não deixaria ninguém que pudesse ser ferido aqui se isso se tratasse de uma armadilha, e se o grupo não estivesse separado, teríamos uma chance bem maior com mais membros se de fato precisássemos de um confronto direto. E se houvesse um, eu não seria misericordioso. Eu espero pela chance de ter o sangue de Rooker em minhas mãos há anos, por isso eu definitivamente não perderia uma oportunidade como essa. Custe o que custar.

— Zayn! — Eu congelei ao ouvir a voz do meu pai em plena luz do dia, no pátio principal do complexo, em meio a todas às outras pessoas. Meus ombros ficaram tensos e eu fechei as mãos em punho, esperando pelo pior. Assassinato, sequestro, ataque. Eu não me lembrava a última vez que ele havia saído de seu quarto imundo no meio do dia, e eu seria estúpido se acreditasse que ele trazia boas notícias. Me virei com cuidado, meio em dúvida, meio cauteloso, franzindo as sobrancelhas, procurando pelo perigo. Tudo que encontrei, no entanto, foi ele ao lado de Slash, o seu pastor alemão. A expressão tranquila de Yaser me deixou confuso, e quando ele me chamou com a mão, eu definitivamente fiquei desconfortável. Eu me aproximei, olhando para os lados para ver se mais alguém estava surpreso por aquela espécie de milagre, mas todos pareciam ocupados em seus afazeres ou fingiam não prestar atenção. Meu pai usava um moletom azul marinho grande, apesar de estar embaixo do sol, e mesmo que estivesse pálido, com olheiras e bem mais magro que o homem forte que costumava ser antes, ele havia se dado ao trabalho de pentear o cabelo. Por Deus, aquilo era uma pegadinha?!

— O que você está fazendo aqui? — Foi a minha primeira pergunta, desconfiado.

— Eu saio para pegar um sol e é assim que sou recebido?

— Qual é, não é como se o seu corpo reconhecesse qualquer outra substância que não seja álcool. — Apesar de tudo, ele riu.

— Porra, você é igualzinho a mim. — Cruzando os braços, ele continuou sorrindo, me analisando com os olhos castanhos como se tivesse passado anos sem me ver. — Tal pai, tal filho.

— O que você quer? — Eu perguntei com mais ênfase. É óbvio que eu não queria reconhecer que tudo que eu mais desprezava em meu pai também eram características minhas.

— Eu só quero tirar uma dúvida sobre algo que me deixou curioso ultimamente. — Eu fiz um gesto para incentiva-lo a ir em frente. Ele suspirou, pensativo, e havia um brilho cômico por trás de seus olhos, assim como o começo de um sorriso. — A garota dos cupcakes.

Só a mera menção de Evangeline me deixou mais atento, e ele apareceu perceber aquilo.

— O que tem ela?

— Qual é o nome dela? — Eu passei a minha mão pelo meu rosto, bufando.

— Evangeline.

— Evangeline. — Ele sorriu, piscando algumas vezes. — Ela é uma graça!

— Como foi que você a conheceu?

— Ela veio me entregar um cupcake ontem pela manhã. Literalmente bateu na minha porta, me desejou um bom dia e me entregou, sorrindo! — Ele se aproximou, parecendo incrédulo, tocando o meu ombro. — Ela até deu um para a Shelley! Elogiou o cabelo dela e tudo!

Eu assumi que Shelley fosse a prostituta.

— E ainda por cima estava delicioso!

— Aonde você quer chegar com essa conversa?

— Ela é sua?

— O que? — Eu franzi as sobrancelhas, confuso.

— Eu estive trancado em um quarto por tempo demais, garoto, eu não faço ideia do que está acontecendo com o clube agora. Ela é a sua mulher?

— Não. — Eu praticamente grunhi, lhe dando as costas e começando a andar para longe, emburrado. Eu sempre fazia tudo que podia para fugir para longe daquele assunto, e daquela vez não seria diferente. — E também não será.

— Por que? Você não a quer?

— Por que você esta demonstrando interesse na porra da minha vida pessoal agora? O que mudou?! Por acaso o estoque de álcool acabou no seu quarto?! Se for isso, eu faço questão de abastecê-lo pessoalmente para você me deixar em paz! — Eu me virei para ele no meio do caminho, gesticulando com os braços. Percebi que algumas pessoas passaram a prestar atenção quando eu ergui o tom da minha voz, mas eu não me importei.

— É só uma pergunta! — Ele se defendeu, erguendo as mãos para cima, arregalando os olhos. — Shelley disse que ouviu boatos de pessoas que acham que vocês poderiam estar envolvidos.

— Pois eu acho que essas pessoas têm empregos com os quais deveriam se preocupar. — Fiz questão de falar alto. Várias cabeças viraram para a direção oposta instantaneamente.

— Você é o Prez. As pessoas sempre estarão preocupados com a sua vida. Preocupados com a sua estabilidade, que consequentemente é a mesma do clube. Você já tem vinte e quatro anos, Zayn.

— E daí?

— Você precisa de uma old lady!

— Ah, faça-me o favor! Volte para a droga do seu quarto e esqueça que eu existo, como você já é ótimo em fazer! Eu sei cuidar da minha vida agora, e eu aprendi a me restabelecer sozinho! Eu definitivamente não preciso de uma mulher para mexer com a minha cabeça e me deixar como você!

— Eu estou pouco me fodendo para o que você diz para me machucar. É tudo verdade. — Ele suspirou, colocando as mãos na cintura. — Mas tudo que diz sobre si mesmo é mentira. Como eu disse, eu só vim acabar com uma dúvida. Agora que ela foi sanada e eu sei que você não quer a garota, com certeza não se importará com o fato de ela ter o braço de outro homem sobre ela agora mesmo.

Como é?! — Eu fiz uma careta, me aproximando dele em passos profundos. Ele apontou para algo atrás de mim. Eu me virei e vi Evangeline perto da porta do apartamento de Karen, que ficava no primeiro andar. O seu cabelo parecia diferente agora, com ondas mais definidas e ainda mais brilhante, mas eu não consegui tirar os meus olhos de Jayden. Ele tinha um dos braços por cima dos ombros dela e sorria orgulhosamente. O canalha abaixou o rosto para cochichar algo em seu ouvido, ainda sorrindo e tentando jogar todo o charme possível para cima dela. Eu fechei as minhas mãos em punho em grunhi. — Filho da puta!

— Eu disse. Você é igualzinho a mim. Orgulhoso pra cacete.

— Yaser, se eu fosse você, eu realmente não me irritaria agora!

— Você a quer. Ela não é como as outras daqui e eu percebi isso em trinta segundos. Não vou ficar lhe dizendo o óbvio. Como você disse, você já é um homem, então aja como um.

— Parece irônico vindo de você.

— Eu posso ser um merda, mas isso não quer dizer que eu deixo você ser um também. — Ele deu de ombros, se agachando tranquilamente para acariciar a cabeça de Slash, que ofegava. — Não seja burro. Vá cuidar do que é seu.

Eu resmunguei outro palavrão me referindo a ele, mas era porque eu havia esgotado todo o meu estoque diário de argumentos ácidos para usar contra Yaser, o que me fez lhe dar as costas de novo e andar em passos determinados na direção do braço que definitivamente não deveria estar sobre os ombros de Evangeline.

— Oh, e Zayn? — Eu parei de andar, mas não me dei o trabalho de virar para encarar o meu pai novamente. — Vá tomar um banho. Mulher nenhuma quer um homem sujo com o sangue de outro homem.

Me deixe em paz, porra! — Eu exclamei, mas tudo que arranquei dele foi uma gargalhada.


Notas Finais


ta com ciúme, tá com ciúme??? pega na mão e assume

Eu sei que esse capítulo não está muito bom, mas prometo que vou compensar com o próximo logo logo

Espero que tenham gostado mesmo assim kkkkk comentemmm

Vou deixar o link das minhas duas últimas histórias aqui já que uma leitora pediu :)
https://www.spiritfanfiction.com/historia/hopeless--zm-18222014
https://www.spiritfanfiction.com/historia/twisted-crown--zm-20217275

Até o próximo capítulo!


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