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História Wildfire - Too Close for Comfort


Escrita por: mclaraaaaaaaa

Notas do Autor


Nome do capitulo: Perigosamente perto.
OIOIOI MANAS!!! Fiquem atentos nesse capitulo porque ele tem umas quebras de cena no meio, ai prestem atenção pra não ficar confuso.
Até o próximo.

Espero que gostem.

Capítulo 19 - Too Close for Comfort


O relógio digital do microondas apitou duas vezes, mostrando a hora certa. 4h da manhã. Ravena revirou os olhos e apoiou o queixo em uma das mãos, puxando as pernas para cima da cadeira e ficando na posição de “indiozinho”. Brincou com a colher que estava dentro de sua xícara de chá, sabendo que a bebida já estava gelada. Ela respirou fundo e olhou para a janela da cozinha, vendo a neve cair. Num movimento rápido acabou se rendendo a tentação e tirou um cigarro do maço que estava ao lado da xícara de chá. Era o sétimo que ela fumava em três longas horas. Tinha saído mais cedo do Wildifire, mas isso não estava servindo para nada, levando em consideração que ela não tinha conseguido dormir nem por dez minutos. O silêncio da cozinha havia sido reconfortante no início, mas depois de tanto tempo sozinha, ela estava começando a escutar seus pensamentos e isso não era uma coisa boa.

Gostaria de usar a preocupação que sentia como motivo da falta de sono, mas sabia que não tinha nada a ver com o desaparecimento de Estelar ou com o medo que Max tinha de dormir sozinho em seu quarto escuro. Pela primeira vez desde o “sequestro” da amiga, estava pensando em si mesma. E essa era a última coisa que queria. Quanto mais pensava no que estava vivendo, mais desesperada ficava e suas emoções começavam a dar várias opções para que ela resolvesse seus problemas.

Ainda não tinha se esquecido dos olhos brilhantes que havia visto na janela de seu apartamento, mas seria chamada de louca, caso contasse para os Titãs. Asa Noturna já não lhe dava muito crédito, se ficasse sabendo dos olhos assustadores... Seria pior ainda; Cyborg acreditaria, mas não esqueceria rapidamente porque estava sempre mais preocupado com outras coisas. Talvez Mutano fosse o único que a escutasse. Mesmo sabendo que ele não tinha visto nada, ela sentia vontade de contar para ele. Seu único medo era que, por uma brincadeira do universo, ele não a levasse a sério; Shane e Jared estavam fora de cogitação. Ela não queria que eles se envolvessem em mais problemas e ainda estava envergonhada pelo interrogatório de Asa Noturna. Também tinha Lexi, mas... Lexi era só Lexi e passava mais tempo trabalhando do que em qualquer outro lugar. Ravena mal podia esperar pela folga que ela tiraria para o Natal e Ano Novo. Precisava urgentemente de uma amiga e Lexi precisava urgentemente de descanso. Suas férias improvisadas seriam uma coisa boa para ambas.

- Ei, o que você está fazendo acordada? – Mutano perguntou, entrando na cozinha e assustando Ravena. Ela desviou os olhos da xícara e o encarou, formulando uma resposta.

- Cheguei  há alguns minutos...

- Sério? Mas pelo jeito você não dormiu nada.

- Quem disse?

- Você está horrível, Ravena.

- Obrigada! Agora me fale alguma coisa que eu ainda não tenha percebido.

- Insônia de novo?

- Mais ou menos.

- Como assim?

- Eu realmente não quero conversar agora...

- Você prometeu tentar, lembra?

- Eu...

Mutano tirou um pacote de biscoito do armário e sentou-se na cadeira ao lado de Ravena. Despejou os biscoitos em um prato e colocou entre eles, esperando que ela também comesse. As coisas tinham melhorado um pouco entre os dois desde o dia em que voltaram no apartamento queimado e já fazia dois dias que isso tinha acontecido. Ela estava fazendo um esforço mínimo para se abrir com ele, e ele tentava ajudá-la da melhor maneira que podia. Ainda assim, ela não havia contado nada demais. Só coisas bobas. Mutano sabia que ela ainda estava “estudando o território” antes de se abrir completamente, mas pelo menos ele já sabia de algumas coisas que ela gostava. Por exemplo, ele nunca imaginaria que ela gostava de todos os filmes do Shrek. Não era o tipo de coisa que Ravena parecia gostar e ninguém pensaria nisso se ela não contasse antes.

- Eu não consegui dormir nada – ela suspirou, empurrando o chá para longe. – Cheguei e olhei o Max, mas o sono não veio... E você? Por que está acordado?

- Levantei para ir ao banheiro e senti o cheiro do seu chá.

- Sério? Mas tem um tempão que ele está aqui... Está até gelado.

- O cheiro continua o mesmo.

- Desculpa... Não queria te fazer perder o sono.

- Não fez.

- Garfield são 4 da manhã. Você só acorda na hora do almoço.

- Eu posso fazer um esforço por uma amiga. Não é o que eu tenho feito nos últimos dois dias? Te esperar acordado para que possamos conversar?  – ele deu de ombros, sorrindo. Pegou a xícara de Ravena e tomou um gole do chá, fazendo careta logo em seguida. – Eca.

- Muito ruim?

- Péssimo.

- Vou fazer outro, você quer?

- Ahn... Claro.

Ravena colocou um pouco de água para ferver e jogou o chá ruim dentro da pia. Lavou a xícara e pegou mais uma no armário, aproveitando para pegar a caixinha do chá de camomila que faria. Mutano a olhou de um jeito curioso e franziu o cenho, perguntando-se o que estava fazendo com que ela perdesse o sono. Não era normal ter insônia toda noite, era? Isso sem contar a postura dela: ombros curvados, olhar perdido, falta de humor. Ele era quase capaz de sentir a tristeza que emanava dela.

- Você está triste.

- O quê?

- Você está triste, Ravena.

- Eu estou sem a minha melhor amiga e sinto como se uma bomba fosse explodir nas minhas mãos... Você acha mesmo que eu tenho condições de ficar feliz?

- Não. Não foi isso que eu quis dizer – Mutano balançou as mãos. – Não é só por causa da Kori, é?

- É claro que é. Eu não tenho outros motivos para ficar triste. – Ravena mentiu, rindo internamente. Sua vida inteira era um motivo para ficar triste, mas ela não admitiria tão fácil. Não estava doente. Não estava em depressão outra vez.

- Sei... Então você não vai recusar se eu te chamar para dar uma volta.

- C-Como?

- É. O Shane ligou ontem à noite avisando que vai fazer um jantar aqui hoje. Você estava trabalhando, por isso não está sabendo de nada... Como hoje é o seu dia de folga, ele resolveu fazer isso.

- O Shane é tão inconveniente quanto você.

- Acho que ele consegue ser pior do que eu. De qualquer maneira, acho que você vai passar o dia todo dormindo até a hora do jantar. Então o que você acha de sairmos amanhã?

- Não.

- Por que não?

- Eu preciso trabalhar.

- Sim, mas você só trabalha de noite.

- Mesmo assim.

- Vamos lá, princesa...

- Eu já disse que não. E já pedi para não me chamar assim.

- Tudo bem – ele suspirou, soltando as costas pesadamente no encosto da cadeira. – O que você quer fazer?

- Nada.

- Isso não é possível...

- É possível sim. Eu só quero ter um pouco de paz e dormir tudo o que eu não estou conseguindo dormir esses dias, será que é pedir muito? Não estou no clima para sair ou fazer qualquer outra coisa. Ainda mais com você.

- Ei! Qual o problema comigo?

- Não tem problema nenhum – ela revirou os olhos, colocando as xícaras de chá em cima da mesa. – Você está forçando a barra.

- Não! Eu estou tentando criar uma relação entre nós dois.

- Não vai funcionar. Você vai se cansar de tentar e eu vou ficar agradecida quando isso acontecer. Eu sei que prometi para você que tentaria me abrir, mas eu não consigo. Você não é a Kori.

- Mas eu posso ser seu amigo.

- Garfield...

- Eu não estou te chamando para um encontro! Só vamos dar um volta. Você precisa sair um pouco desse seu mundinho depressivo e escuro.

- Eu não estou num mundo depressivo!

- Sinto muito, princesa... Isso não me convence.

Ravena bufou e balançou a cabeça negativamente, apertando a xícara com mais força. Os nós de seus dedos ficaram brancos com a força que ela fez e uma pequena rachadura surgiu na alça do objeto.

- O que eu preciso fazer para que você confie em mim? – Mutano perguntou, olhando para ela. – Quando eu acho que estamos tendo um progresso, você tenta me afastar.

- Você nem se aproximou.

- Porque você não deixa.

- Porque isso não é certo.

- O que não é certo? Você lembra do que eu te disse? Eu quero te ajudar, mas você precisa me deixar “entrar” na sua vida.

- Só tem três dias que nós estamos conversando.

- Quatro se você contar com o dia que você me chamou para tomar café da manhã.

- Tanto faz.

- É sério, Ravena. Não quero lidar com uma rainha do gelo o tempo todo.

- Então não lide – Ravena disse, séria. – Desista dessa ideia maluca e volte para a sua vida perfeita de super-herói.

- Eu não vou desistir.

- Por quê?

- Estou começando a te enxergar como um desafio. E eu gosto de desafios.

- Quem perde é você.

- Não penso assim.

- É você quem continua perdendo.

Mutano riu baixinho e terminou de tomar o chá enquanto Ravena saía da mesa. Ela pegou um biscoito e soltou um longo e pesado suspiro, encolhendo os ombros outra vez.

- Onde você vai? – ele perguntou, curioso.

- Dormir.

- Nossa conversa te deu sono?

- Não, mas qualquer coisa é melhor do que ficar aqui.

- Tão bem-humorada...

- Boa noite, Garfield.

- Bom dia, Ravena.

- Pense no que eu te falei. – ela suspirou, olhando para ele por cima do ombro. Seus olhos estavam apagados e sem vida, mas continuavam intensos, exatamente como Mutano se lembrava. – Você está perdendo o seu tempo comigo.

Quando ele abriu a boca para responder, ela já tinha saído da cozinha, deixando-o sozinho. Ele sentia como se tivessem tido aquela conversa centena de vezes, e isso realmente tinha acontecido. Para Ravena, ele estava cometendo uma loucura ao tentar se aproximar dela. Ela achava errado e desnecessário, mas ele sabia que estava fazendo a coisa certa. Ela querendo ou não, ele estava tendo algum progresso, nem que fosse mínimo. Pelo menos ela estava respondendo e mantendo uma conversa com ele, por menor que fosse. Suas respostas eram sarcásticas e ela parecia sempre entediada, mas Mutano tinha em mente que isso era um grande avanço. Ele só precisava fazer com que ela confiasse nele.

 

Estelar olhou com nojo para a comida mofada que Chefe lhe entregou e engoliu em seco. Não sentia vontade nenhuma de comer aquilo. Era capaz de sentir o cheiro de mofo saindo do prato e os alimentos já estavam em estado de decomposição de tão velhos. Por mais que ela estivesse com fome, seu estômago precisaria esperar mais um tempo antes de ter comida outra vez.

Os dias passaram mais rápido do que ela imaginou que passariam. É claro que ela não tinha noção de quanto tempo estava ali, mas temia que tivesse mais que uma semana. O tratamento continuava o mesmo do dia em que ela havia acordado, e Chefe estava cada vez pior. A prova disso era o rosto cheio de hematomas e cortes de Estelar. Ela estava realmente cansada de ouvir que ele não a mataria, apenas machucaria, e muito.

- Você vai ficar com fome se não comer agora. – Chefe cruzou os braços, chutando o prato.

- Eu não ligo. Estou preocupada com outras coisas...

- Sim, está ansiosa para encontrar quem te comprou?

- Pensei que já estivéssemos onde o meu comprador está.

- Você é tão ingênua... É claro que não.

- Por que eu sinto como se estivéssemos voando?

- Porque nós estamos.

- O que você quer dizer?

- Você vai entender com o tempo, rainha.

- Eu...

- Vou deixar a comida aqui. Se eu fosse você, comeria cada pedaço desse mofo porque vai ser a única coisa que você terá durante os próximos dias.

- Que novidade. – Estelar revirou os olhos, lembrando-se da postura de Ravena. Estava agindo exatamente como a amiga e, talvez, estivesse começando a entender o motivo das barreiras que ela criava para afastar as pessoas.

Chefe riu e balançou a cabeça negativamente, sabendo que o comportamento dela não passava de um mecanismo de defesa. Infelizmente, não funcionava com ele. Empurrou o prato com o pé mais uma vez e saiu da cela, trancando Estelar. Coitada. Ela estava sendo obrigada a fazer trabalhos pesados que nem os “funcionários” mais antigos da Endeavour, e a ordem era tratá-la como uma escrava. Todos obedeciam sem questionar o motivo.

- Como ela está?

- Mais teimosa do que antes. – Chefe respondeu, olhando para quem estava no comando de tudo.

- Eu imaginei. Ela está começando a se acostumar com a situação.

- Sim. Agora ela se recusa a comer.

- O que eu posso fazer? Você disse que ela me encontrará em breve?

- Sim, senhora. Consegui enganá-la e disse que ainda não chegamos ao nosso destino.

- É claro que ela não acreditou em você, mas isso não vem ao caso – a mulher sorriu, vendo Estelar se encolher dentro da cela. Sabendo que ela não podia enxergá-la, aproximou-se da porta e sorriu ainda mais, satisfeita com o estado deplorável em que ela se encontrava. – Em breve, nós teremos uma revolução, e ela – apontou para Estelar, arqueando uma sobrancelha. – Não passará de uma lembrança distante.

 

O jantar ficou pronto ás 20h em ponto e, infelizmente, os Titãs e Shane precisaram acordar Ravena e Max, que havia se juntado ao sono dela no meio da tarde. Ela não brigou quando Cyborg a sacudiu levemente, avisando que estava na hora do jantar. Simplesmente pegou Max e o levou para o banheiro, dando um bom banho nele. Ele tinha tomado banho sozinho nos últimos dias e mesmo que soubesse fazer isso por conta própria, ainda precisava receber uma ajuda de vez em quando. Quando terminou, pegou uma calça jeans escura, uma camiseta vermelha e uma jaqueta de moletom preta, vestindo-o rapidamente. Depois de um pouco de discussão, Max finalmente aceitou calçar o AllStar preto que Ravena queria colocar nele. Ela sorriu quando o viu pronto e o abraçou, brincando sobre ele já ser um homem grande e recebendo vários “páia, tia Avena” em troca. Adorava deixá-lo com vergonha, suas bochechas vermelhas eram uma das coisas mais bonitas do mundo na opinião dela.

Ravena deixou Max no quarto de Mutano, pedindo para que ele descesse com o menino enquanto ela tomava banho. Não pôde demorar muito, levando em consideração que o jantar estava pronto há quase uma hora. Os Titãs, Max e Shane só estavam esperando por ela para poderem jantar. Esse era o problema: ela não estava com fome. Sabia bem qual era a intenção do jantar e sabia que não daria certo. Se o almoço não funcionou no primeiro dia, por que um jantar resolveria todos os problemas que ela tinha com os Titãs? Às vezes Shane passava um pouco do limite quando tentava ajudar os outros. Ele acaba exagerando demais e suas ideias nunca terminavam de um jeito bom.

- Você quer nos matar de fome, Ravena? – Cyborg perguntou quando a viu descendo as escadas. – Não sabia que você demorava tanto para ficar pronta.

- Ficar pronta? – Shane franziu o cenho, aproximando-se dela. – Pronta para dormir, só se for. Que roupa é essa, Rae?

- O que tem de errado com a minha roupa?

- Nada. Você só está usando um moletom comum com calça jeans e chinelos! Isso é um jantar.

- Exatamente, é um jantar. Nada mais que isso. – Ravena cruzou os braços, escondendo o ursinho de pelúcia com fralda que estampava seu moletom preto. Xingou Mutano mentalmente por aquele desenho e tentou fingir que era um moletom liso. – São as roupas que eu tenho, ok? Não sei o que você está falando, eu sempre usei coisas assim.

- Você está mais desleixada que o normal. Não estou gostando disso.

- Dá um tempo, Shane.

- Nossa, só estou falando. – ele levantou as mãos, assustado. – Não precisa descontar seu mal-humor em mim.

O clima na sala pesou e Asa Noturna pigarreou, desconcertado. Ravena devia estar muito estressada para brigar com Shane, afinal eles nunca brigavam ou discutiam para valer. Eles se sentaram para comer e Shane serviu orgulhoso o peixe assado que tinha feito. O cheiro estava muito bom e todos ali precisavam de uma boa refeição para dar uma melhorada na situação. Até Mutano tinha recebido uma boa quantidade de tofu para não ter que comer só arroz.

- Tia Avena, o Gafild me passô pefume. – Max contou, colocando um pedaço de peixe na boca. – Tô cheoso.

- É mesmo? – Ravena brincou, aproximando o nariz do pescoço dele e cheirando com vontade. – Você está muito cheiroso!

- Eu sei.

- Não vou parar de te cheirar nunca. Que delícia!

Max riu quando ela esfregou o nariz em seu pescoço e a abraçou, dando um beijo em sua bochecha. Ravena sorriu para ele, deixando os Titãs verem o seu sorriso pela primeira em quase cinco anos. Todo o nervosismo que ela estava sentindo parecia ter desaparecido, mas ainda assim ela não tinha nem tocado na comida.

- Você não vai comer? – Mutano murmurou, aproveitando que Shane estava contando alguma história engraçada para Cyborg e Asa Noturna. Ravena desviou os olhos da comida e o olhou, arqueando uma sobrancelha.

- Eu estou comendo.

- Não está não.

- Estou sim.

- Você só está brincando com ela no prato. Até agora não colocou nem um pedaço na boca.

Ela partiu um pedaço do peixe e o levou à boca, engolindo depressa.

- Satisfeito agora?

- Não. Tá ruim?

- Não. Eu... Não estou com muita fome.

- Mas você dormiu o dia todo, nem almoçou.

- Pois é. – ela deu de ombros. – Fazer o que.

- Mas...

- Ei, vocês dois! – Cyborg quase gritou, assustando-os. – Parem de cochichar.

- Não estamos cochichando. – Mutano falou.

- Então sobre o que estavam conversando?

- Sobre... Sobre...

- Sobre o quão engraçado o Shane consegue ser sem nem tentar. – Ravena disse, balançando a cabeça. – Eu adoro essa história, Shane Sunshine. Por que você não conta aquela da casa de verão?

- Ah! Essa história é ótima! – Shane comemorou, animado.

Durante a maior parte do jantar, Shane contou várias histórias engraçadas. Algumas com Ravena e Estelar envolvidas, outras de quando ele era um adolescente. Os Titãs pareciam estar se divertindo e Max tentava acompanhar a conversa, achando que entendia tudo que estava acontecendo. Ravena não tinha falado mais nada e nem comido. Seus olhos estavam perdidos na parede atrás de Shane e Cyborg e a única coisa que ela queria era poder sair dali e dormir por mais algumas horas.

- Então... Você está de folga hoje, Ravena? – Asa Noturna perguntou, fazendo Shane se calar repentinamente.

- Estou.

- Não sabia que essa profissão dava folga...

- O que você quer dizer com isso?

- Você precisa de dinheiro, não é? Nada mais natural do que você trabalhar todos os dias.

- Eu também preciso descansar.

- De quê? De todo o sexo que você faz por dinheiro?

- Dick. Para com isso. – Cyborg pediu, sério. – O Max está aqui, ele não deve escutar esse tipo de coisa.

- Por que você continua defendendo essa mulher? Eu não consigo entender!

- Não estou defendendo, mas você está falando essas coisas por maldade.

- Desde quando falar a verdade é maldade?

- Desde quando você não tem motivo nenhum para falar sobre isso agora – Mutano soltou o garfo com força no prato. – Era para ser um jantar amigável, lembra? Essa foi a intenção do Shane. Melhorar a nossa convivência.

- Isso não vai acontecer nunca.

- Com você agindo desse jeito não vai mesmo.

- Eu sei me defender sozinha – Ravena ralhou, olhando para Cyborg e Mutano. – Olha Dick, eu não ligo para o que você fala. De verdade. Sua opinião é indiferente para mim e eu espero que você saiba disso.

- Eu não esperava nada diferente de uma vadia.

- Cara, por que você está fazendo isso?! – Cyborg quase gritou. – Não tem necessidade!

- Deixa, Cyb. Pelo menos ele sabe o que eu sou e não vai ficar se iludindo achando que ainda sou a Ravena que ele conheceu.

- Você não é mesmo a mesma Ravena. Ela não se submeteria a coisas desse tipo...

- Ahn... Alguém quer sobremesa? – Shane perguntou, desconfortável. Cyborg recolheu os pratos do jantar e Mutano foi até a cozinha com Shane para pegar o bolo de chocolate. Eles colocaram pratos limpos na mesa e serviram o doce, tentando evitar que Asa Noturna e Ravena começassem a discutir outra vez. – Tem sorvete de creme na geladeira se alguém quiser, eu...

- Tia Avena...

- Eu não quero nada, Shane. – Ravena disse, começando a sair da mesa. – Vou para o meu quarto.

- Seu quarto? – Asa Noturna perguntou, incrédulo. – Você não tem nada nessa casa!

- E nem quero ter! Mal posso esperar para me livrar de vocês!

- Tia Avena... – Max chamou mais uma vez, colocando as mãos na barriga.

- Nós também estamos loucos para te ver pelas costas, Ravena!

- Ótimo!

- Ótimo mesmo! Quando a Kori voltar vocês duas vão poder voltar a fazer sabe-se lá o que no Wildfire.

- Não fala da Kori...

- Tia Avena...

- Ela não tem culpa dos erros que você cometeu, Dick! – ela continuou, levantando o tom da voz. Cyborg suspirou e cruzou os braços, desistindo de interferir. Shane revirou os olhos e continuou comendo seu bolo, e Mutano balançou a cabeça negativamente, achando tudo desnecessário. – Você foi quem errou, não ela!

- Ah, é mesmo?

- Sim! É mesmo e...

- Tia Avena! – Max começou a chorar, chamando a atenção de todos. Ele fez uma careta de dor e se encolheu, ainda com as mãos na barriga.

- Max! O que foi, meu amor?

- Minha baíga tá doendo.

- Calma, vai ficar tudo bem...

- Eu acho que ele vai vomitar... – Mutano falou, arregalando os olhos. Colocou a mão direita na testa de Max e engoliu em seco. – Acho que ele está com um pouco de febre...

- Febre?! Não... Deve ser só impressão sua...

- Ravena, ele está com febre.

Ravena arregalou os olhos quando Max fez vômito e o pegou no colo, correndo para o banheiro. O colocou em frente ao vaso e puxou a franja dele para trás, tentando acalmá-lo.

- Ai minha baíga...

- Vai melhorar, ok? Fica calmo... Por favor...

- Quem precisa ficar calma é você – Mutano disse, molhando a testa do menino com um pouco de água. – Deixa que eu cuido disso.

- Não. Eu posso cuidar dele. Eu...

- Você está nervosa por causa do Dick e isso está assustando o Max.

Cyborg e Shane entraram no banheiro tão apavorados quanto Ravena. Sentiam-se um pouco culpados por não terem visto que Max estava tentando chamar a atenção dela durante a discussão.

- Você vai ficar bem, cara – Cyborg tentou sorrir, bagunçando o cabelo de Max. – Você deve ter comido demais.

- Ele não comeu quase nada. – Shane lembrou.

- Shane, chama a Lexi. – Ravena pediu, vendo Max fazer mais vômitos.

- Tudo bem. – ele concordou, saindo correndo do banheiro.

- Ele comeu alguma coisa à tarde? – Mutano perguntou, preocupado.

- Não, nós dormimos o dia todo... Ele estava bem... Eu... Eu...

- Ele vai ficar bem. Deve ser só uma virose.

- A Lexi disse que chega aqui em 10 minutos. – Shane avisou, parando na porta do banheiro. – Não é melhor darmos um banho nele?

- É... Claro... – Ravena concordou, levantando-se do chão e pegando Max no colo.

- Vou arrumar a cama dele. – Mutano falou, indo para o quarto de Max. Cyborg e Shane o seguiram e Ravena suspirou alto.

- Você vai ficar bem. Eu prometo. – ela murmurou para Max, que estava agarrado ao pescoço dela. – Sua barriga ainda está doendo?

- Um pouquinho.

Ela assentiu e ligou o chuveiro em uma temperatura mais gelada para que a febre dele fosse embora. Massageou a barriga dele e tentou sorrir para mostrar que ficaria tudo bem. Cyborg abriu a porta, deixando uma muda de roupas limpas em cima da pia e logo voltou para o quarto de hóspedes. Ravena balançou a cabeça, amaldiçoando-se por dar mais atenção às provocações de Asa Noturna do que a Max. Desligou o chuveiro depois de alguns minutos e vestiu o pijama no menino, dobrando as mangas que eram bem maiores que os bracinhos dele.

- São ninjas, tia Avena! – ele exclamou, apontando para os desenhos do macacão que estava usando.

- São... Você gosta?

- Adoio.

- É quase igual aquele de dinossauros que a sua mãe te deu.

- É... Mas esse tem ninjas. Minha baíga vai ficá boa?

- Vai...

- Po quê você bigou com o Asa Notuna?

- Nós...

- Ei, Max! Você gostou do pijama de ninjas que eu comprei para você? – Mutano perguntou, sorrindo. Ravena colocou o sobrinho na cama e passou as mãos pelo cabelo, nervosa.

- Gotei.

- Eu tenho outra coisa para você.

- O quê?

- Era para ser o seu presente de Natal, mas já que você está passando mal... Olha aqui...

- Um leão! – Max quase gritou, olhando para o leão de pelúcia verde nas mãos de Mutano. – Ele vai me potegê?

- Sempre.

- Eba!

Max agarrou o leão com força e apertou seu rosto contra a juba dele, sentindo-se protegido. Cyborg sorriu e teve vontade de apertá-lo, mas se controlou.

- Tia Avena, você qué escoier o nome dele?

- Não... Pode escolher.

- Pô favô.

- Ahn... Nelson?

- Isso! – ele concordou, animado. Colocou as mãos na barriga de novo e gemeu baixinho. – Eu adoio você, Nelson.

- Você ainda quer vomitar?

- Um pouco.

- A tia Lexi já vai chegar...

A campainha do apartamento ecoou pelos quartos e Cyborg desceu para atender a porta. Reclamou sobre o porteiro não interfonar antes de deixar as pessoas entrarem no elevador e bufou alto. Abriu a porta com certa má vontade, vendo uma mulher loira de olhos azuis parada no corredor. Ela entrou no apartamento como um furacão, empurrando-o para o lado e olhando em todas as direções que conseguia.

- Onde ele está? – ela perguntou, nervosa. – Cadê o Max?

- Ele está lá em cima...

- Max! Eu estou indo!

A mulher subiu as escadas correndo e chamando pelo nome de Max, esperando que ele respondesse. Cyborg a seguiu, vendo-a abrir todas as portas do corredor até achar o quarto de hóspedes em que Max estava. Cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha, pensando se tinha como aquela mulher ser mais sem noção do que aparentava.

- O que aconteceu? O que ele tem?

- Dor de barriga, vontade de vomitar e um pouco de febre. – Ravena respondeu, segurando a bolsa preta com o desenho de uma boca vermelha que a mulher carregava.

- Segura o meu celular – a loira pediu, enfiando o celular nas mãos de Cyborg. Ele fez um esforço para que o aparelho não caísse no chão e franziu o cenho para a capinha laranja com fitas pretas, idêntica à um espartilho. – Ainda bem que eu deixei a minha bolsa de trabalho no carro. Não tive que ir em casa... – ela examinou Max com cuidado, perguntando onde doía e o que ele sentia. Suspirou aliviada quando viu que ele já não estava com febre e deu de ombros, tirando um bloco de receitas de dentro da bolsa.

- O que ele tem, Lexi? – Shane perguntou, preocupado.

- Provavelmente alguma coisa que ele comeu não fez bem.

- Só isso?

- Não. Ele está com saudade da Kori.

- O quê? – todos perguntaram juntos.

- Você sabe que ele não fica doente fácil, Rae – Lexi deu de ombros. – Isso é saudade. Tudo que eu posso fazer é receitar um remédio para a dor de barriga, mas fora isso... Tenho certeza de que é saudade.

- Eu não pensei que isso existisse mesmo. – Mutano sussurrou, vendo Max começar a cochilar com Nelson nos braços.

- É muito comum. Acontece muito quando uma criança fica órfã...

- Ele não é órfão. – Ravena disse, trincando os dentes.

- Eu sei e você entendeu o que eu disse. Agora vem cá – Lexi pediu, puxando Ravena para um abraço. – Estou com saudade.

- Eu também...

- Sorte sua que agora eu estou de férias.

- Sério?

- Sim, hoje é o meu primeiro dia.

- Eu tenho tanta coisa para te contar.

- Eu sei e sinto muito por não ter aparecido quando a Kori sumiu.

- Lexi, está tudo bem. Você precisa trabalhar, eu entendo...

Cyborg pigarreou alto quando viu Lexi abrir a boca para responder Ravena. Ele andou até elas e devolveu o celular para a médica, olhando-a de um jeito irritado. Shane segurou uma risada e Mutano arqueou uma sobrancelha, cobrindo Max com um edredom. Asa Noturna tinha se enfiado no escritório depois da confusão do jantar e eles sabiam que não o veriam tão cedo.

- Ah, obrigada. – Lexi respondeu sem olhar para Cyborg.

- Eu não gosto de ser empurrado. – ele resmungou. – Quem você pensa que é para entrar na minha casa depois de me empurrar?

- Eu não te empurrei.

- Você quase me jogou no chão.

- Olha o seu tamanho e olha o meu! Dá um tempo. Ele é o Exterminador do Futuro que você tanto falou, Shane?

- O próprio. – Shane sorriu.

- Ele é bem menos do que eu imaginei.

- Como é? – Cyborg cuspiu.

- Você está mais para um Power Ranger de armadura, mas tudo bem...

- Olha aqui...

Ravena arregalou os olhos e deu alguns passos para trás, afastando-se dos dois. Mutano ficou ao lado dela, olhando com diversão para Cyborg e Lexi.

- Victor, essa é a Alexia – Shane disse, segurando-se para não rir. – Alexia, esse é o Victor.

- Não me chame de Victor.

- Não me chame de Alexia.

- Tudo bem... Eu só estava apresentando vocês dois.

Shane foi para o lado de Mutano e riu baixinho ao ver o olhar de ódio que Cyborg e Lexi trocavam. Ninguém esperava por isso. Lexi era mais solta que Shane e não tinha papas na língua, mas Cyborg parecia não ter achado isso uma coisa boa.

Cyborg passou os olhos por ela, fazendo careta para seu vestido prateado e sua jaqueta dourada brilhante. Os saltos eram num tom puxado para o vinho e ela usava um batom preto, além de várias pulseiras douradas e barulhentas em seus braços. Seu cabelo loiro batia um pouco acima do meio das costas e seus olhos azuis pareciam capazes de congelar qualquer coisa. Ela não era muito alta, mas ainda era maior que Ravena. Seu corpo era... Legal. Muito legal. Ela não era do tipo magricela demais, e tinha boas coxas e uma bunda legal. Seus seios também não ficavam para trás. Esse pensamento fez Cyborg balançar a cabeça, assustado.

Lexi também reparou nele. Olhou com desdém para a camisa preta lisa que ele usava e fez careta para a calça jeans surrada. Ignorou o olho vermelho e quase riu das peças robóticas, mas preferiu não exagerar. Mesmo com metade do corpo sendo de metal ele ainda conseguia ser bonito. Muito bonito. Seu único olho castanho combinava perfeitamente com a cor de sua pele morena, e ela quase passou tempo demais admirando seu rosto. Quase.

- Você é sempre mal-educado, Victor?

- Você é sempre inconveniente, Alexia?

Ravena, Shane e Mutano se entreolharam, sentindo o clima pesar no quarto. Uma possível guerra seria iniciada em questão de segundos e nenhum deles queria estar presente quando as bombas começassem a explodir.

- Eu vou fazer um chá para o Max. – Lexi avisou, saindo do quarto.

- E eu vou trazer mais cobertores para o Max. – Cyborg disse, rapidamente.

- Eu vou comprar o remédio do Max.

- Eu vou cuidar do Max.

- Como?

- Eu tenho uma enfermaria no outro corredor.

- Eu sou a médica dele.

- Mas eu...

- Se vocês o acordarem, não vão sequer chegar perto dele. – Ravena ralhou, entrando no meio dos dois. Lexi bufou e saiu do quarto, tentando se lembrar para que lado a sala de estar ficava. Cyborg foi até o quarto desocupado e pegou mais cobertores para ter certeza de que Max não sentiria frio.

- Acho que eles começaram bem. – Shane deu de ombros. Mutano soltou o ar que nem sabia que estava segurando e pensou se deveria ir atrás de Cyborg. Ravena respirou fundo e olhou Max mais uma vez. – Alguém quer um pedaço de bolo de chocolate?

 

Asa Noturna bateu os punhos na mesa de seu escritório, bagunçando todas as fotos que tinha de Estelar. Mordeu a língua para reprimir um grito e acabou encontrando uma foto antiga dos Titãs. Pegou o papel e quase o rasgou. Quase.

Não conseguia se livrar do passado e Estelar não era a única coisa que o prendia. A amizade que ele tinha com Ravena também não o deixava seguir em frente. Sentia raiva, nojo e até tristeza por saber que a vida de sua melhor amiga tinha sido completamente destruída. Queria ajudar, mas não tinha a simpatia de Cyborg e nem a boa vontade de Mutano. Tudo que ele sentia era raiva. Não conseguia entender os motivos que ela dizia ter e sempre acabava metendo os pés pelas mãos quando tinha chance de manter uma conversa amigável com ela.

Estava sendo muito difícil. Ele não tinha Estelar, seu porto seguro e seu único amor verdadeiro. Ninguém entendia os motivos dele e, infelizmente, ele sabia muito bem como Ravena se sentia quando alguém exigia uma explicação para o que ela fez. Talvez não tivesse explicação. A necessidade foi maior do que o poder de escolha e eles acabaram daquele jeito.

Aguardando a foto da equipe antiga em seu bolso, Asa Noturna suspirou e tirou a máscara, piscando algumas vezes para se acostumar com a falta dela. Não tinha tempo para sentimentalismo. Estelar precisava dele, e ele não a deixaria na mão como quando ela saiu da equipe.

Ele não tinha como mudar o passado e, a única alternativa que lhe restava, era encarar o presente.


Notas Finais


A roupa da Lexi: https://www.polyvore.com/m/set?.embedder=10961434&.svc=copypaste&id=217734016 (me sinto em 2012 colocando link do polyvore aqui mas quem se importa né)

Comentem :)


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