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História Wildfire - Sad Beautiful Tragic


Escrita por: mclaraaaaaaaa

Notas do Autor


Nome do capitulo: Triste, lindo, trágico.
OIOIOI MANAS!!! Até o próximo.

Espero que gostem.

Capítulo 26 - Sad Beautiful Tragic


- Oi – Mutano sorriu, levantando-se do sofá quando Ravena fechou a porta da sala. Desligou a TV e andou até ela, ainda sorrindo. – É... Podemos conversar? Ou você quer tomar café da manhã antes? Está muito frio lá fora e todo mundo aqui ainda está dormindo...

- Parece que você acordou animado – Ravena revirou os olhos, guardando a chave na bolsa. – Não quero nada. Obrigada.

- Mas você sempre chega morrendo de fome...

- Não estou com fome.

- Você está bem? Tá estranha...

- Estou cansada. Não dormi nada à noite e vou ficar o dia todo acordada para tomar conta do Max.

- Eu, o Cyb e o Shane estamos fazendo um bom trabalho cuidando dele, mas tudo bem. Eu preciso falar com você. Sobre... O nosso beijo.

- Sim. O nosso beijo. Foi um erro e não vai acontecer de novo. Agora se você me der licença, vou tomar banho. Tenha um bom dia.

Ravena começou a subir as escadas para o segundo andar e revirou os olhos quando escutou Mutano correndo para alcançá-la. Ele parou na sua frente, com os olhos arregalados e a boca aberta.

- Um erro? – ele perguntou, incrédulo. – Como assim? Por quê?

- Porque não era para ter acontecido. Somos só amigos e eu não quero ter um relacionamento com ninguém.

- Uou, Ravena... Espera aí! Quem falou em relacionamento? Você está ficando louca?

- Não precisamos falar desse beijo como se fôssemos crianças imaturas, Garfield. Não é como se fosse o meu ou o seu primeiro beijo. Vamos apenas esquecer e seguir em frente, ok?

- É estranho ver você falar isso quando a única que está agindo como criança aqui é você. Não é o nosso primeiro beijo, mas precisamos falar sobre isso. Somos amigos e acabou acontecendo. Como ficamos agora?

- Vamos continuar sendo amigos. Agora será que tem como você sair da minha frente? – Ravena perguntou, impaciente.

- Eu não vou sair da sua frente porque não terminamos de conversar! Não fiz isso sozinho. Você me beijou de volta.

- Com todo respeito, eu só quero tomar um banho e escovar os meus dentes ao invés de ficar conversando sobre esse beijo idiota. Não acha que isso já está rendendo demais? Não significou nada.

- Você está fazendo de novo!

- Estou fazendo o que de novo?

- Está fugindo feito uma adolescente medrosa. Se fosse um beijo idiota você não estaria assim. – ele cruzou os braços. – Qual a diferença entre o que eu fiz e o que você fez? Nenhuma, sabe por quê? Porque você quis tanto quanto eu.

- A diferença é que eu sofri com as consequências disso e você não! – ela disse, empurrando-o para que conseguisse passar.

- Que consequências? Passou a noite em claro pensando em mim?

- Tão infantil, Garfield. Deixa eu te falar só uma coisa: você não é o centro do universo.

- Estou tentando quebrar o gelo porque você já está me tratando diferente. Eu sei que não sou o centro do universo, mas você também não é. Então será que podemos conversar direito?

- Eu estou cansada e quero dormir. Podemos fazer isso depois? Ou daqui há alguns anos...

- Você quer tomar banho? – Mutano franziu o cenho, aproximando-se dela. – Isso não é problema para mim. – Ravena arregalou os olhos quando sentiu os braços dele em suas pernas, tirando-a do chão. Tentou se soltar e pediu para que ele a colocasse no chão, mas tudo que recebeu em troca foram alguns risinhos debochados que ele fazia questão de soltar. Entraram no banheiro e Mutano fechou a porta. – Pronto. Estamos no banheiro. Você terá o seu banho em alguns minutos se conversar comigo como uma pessoa adulta.

- Eu não vou tomar banho na sua frente – ela murmurou, firmando os pés no chão. – Me dá licença, por favor.

Mutano fez uma careta engraçada e balançou a cabeça, olhando-a de um jeito incrédulo. Bufou e arqueou uma sobrancelha, pensando se ria ou se sentia-se ofendido.

- O que você está pensando que eu sou? Um tarado? Eu sempre te respeitei!

- Ótimo. Então me deixe sozinha e volte a fazer o que você estava fazendo antes de começar a me atormentar.

- Não! – ele segurou os ombros dela. – O que está acontecendo? Por que você está me tratando com tanta indiferença outra vez?

- Será que você não entendeu que a única coisa que eu quero agora é distância de você?!

- Por quê? Eu não vou te deixar sozinha enquanto não entender o que está acontecendo!

Ravena fechou os punhos com força, trincando um pedaço do espelho do banheiro. Grunhiu alto e tentou se acalmar. Mutano estava conseguindo tirá-la do sério e ela não queria fazer nenhuma besteira da qual se arrependeria depois.

- Para você é tão fácil, né? – ela perguntou com a voz esganiçada.  – Me beija e provavelmente sai contando para os amigos. Para mim não é assim, mas isso não é da sua conta. – pegou a escova de dentes e colocou uma boa quantidade de pasta, escovando os dentes com certa força.

- O quê?! Eu não contei para ninguém. Você não percebeu que eu estava te esperando chegar para conversar sobre isso? Quero saber o que você achou... – ele colocou uma mecha do cabelo dela atrás da orelha. – O que você quer fazer...

- Eu não quero fazer nada! Qual a parte do “eu quero distância de você”, você ainda não conseguiu entender?

- Ravena... Você está escovando os dentes por minha causa?

Ela engoliu a pasta de dente de uma vez só e colocou mais na escova para escovar mais uma vez, ignorando a pergunta de Mutano.

- Você está com nojo de mim?

- Você não foi a única pessoa que eu beijei essa noite. – Ravena respondeu com a boca cheia.

- Mas sou a única que você não quer por perto. – Mutano retrucou, tirando a escova de dentes da mão dela. – Fala a verdade. Você está com nojo de mim?

- É claro que não. Só quero esquecer que essa noite existiu e com você por perto fica meio difícil.

- Tudo bem. Eu não estou entendendo nada, mas se é isso que você quer, vou te deixar sozinha. – ele disse, começando a sair do banheiro. – Só acho que eu merecia uma explicação para tudo isso.

- Porra, Garfield!

- Vou dormir. Passei a noite inteira acordado pensando no que te falar quando você chegasse...

- Vai ser melhor para nós dois ignorar isso.

- Não. É o que é melhor para você porque, mais uma vez, você só está pensando no seu próprio umbigo.

Ravena escorregou pela parede e agachou-se no chão, escondendo o rosto entre as mãos. Mutano fechou a porta do banheiro mais uma vez, aproximando-se dela. Tentou segurar suas mãos, mas isso só a fez se escolher mais no piso frio.

- O que foi que aconteceu ontem?

- O Morris viu. – ela murmurou, continuando com o rosto escondido. – Ele viu esse beijo que nem deveria ter acontecido.

- O que ele fez? – Mutano perguntou, começando a ficar com raiva.

- Não interessa. Você queria uma explicação, acabei de te dar uma.

- É claro que interessa! Você está quase chorando! Sua explicação não serviu para nada.

- Mas é tudo que você vai ter.

- Parece que eu vou precisar ir até o Wildfire e perguntar para o próprio Morris o que aconteceu.

- Você não faria isso.

- É melhor você não duvidar.

- Garfield, não! Você não vai!

- Então me conta o que aconteceu!

Ravena balançou a cabeça negativamente e desviou os olhos dos dele, sentindo-se envergonhada e suja. Engoliu em seco e respirou fundo, procurando por uma coragem que ela sabia que não encontraria.

- Você não vai fazer nada se eu te contar. Promete?

- Ravena...

- Você promete?

- Prometo.

- Ele... Ele me forçou a fazer um boquete nele e a engolir o gozo depois. – ela falou rapidamente. – Eu tentei sair. Eu juro. Tentei empurrá-lo e gritar, mas eu não consegui. Eu não consegui, Garfield.

Mutano suspirou alto e passou as mãos pelo cabelo, nervoso. Levantou-se do chão e fechou as mãos com força, dando um soco na pia.

- Quanto mais eu me machucava, mais ele gostava. – Ravena continuou, olhando para um ponto fixo na parede de azulejos brancos. Seus olhos estavam desfocados e ela parecia estar presa num pesadelo terrível.

- Filho da puta! Por que você não usou seus poderes? Por que não gritou?

- Você sabe que os meus poderes não estão funcionando direito. Você sabe que eu... Eu não tenho mais cabeça para usá-los direito.

- POR QUE VOCÊ NÃO ME LIGOU PARA TE BUSCAR?

- EU NÃO PODIA FAZER NADA! VOCÊ ACHA QUE EU QUERIA? – ela gritou, respirando rapidamente. Fechou os olhos, puxando o ar com desespero.

- QUE INFERNO!

- Eu queria gritar, mas eu não conseguia fazer nada. Você tem ideia do que é isso? De ser forçado a fazer o que você não quer? De ser machucado porque outra pessoa sente prazer com isso?

- NÃO. EU NÃO TENHO! – Mutano gritou, socando o espelho e terminando de quebrar o vidro que Ravena havia trincado sem querer minutos antes. Ela começou a ficar desesperada, transpirando e tentando manter a calma. Mas não conseguiu. Seu peito subia e descia rapidamente e ela fechou os olhos, assustada. – Calma! – ele pediu, segurando o rosto dela com as duas mãos. – Você precisa se acalmar. Aperta o meu braço, pensa em outra coisa. – usou o braço direito para abrir a janelinha do banheiro enquanto tentava acalmar Ravena, que lutava para manter seus poderes contidos. Boa parte do banheiro já estava envolvida na magia escura que eles tanto conheciam. Ela olhava desesperada para os lados, sem saber de onde Raiva estava conseguindo tirar tanta força para fazer aquilo. – Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui.

Aos poucos, ela foi se acalmando e conseguiu fazer seus poderes recuarem, deixando frascos de shampoos e sabonetes caírem no chão com um estrondo.

- Você me assustou – Mutano sussurrou, pressionando a testa na dela. – Puta merda. Estou até meio desnorteado.

- O-Obrigada. – ela sorriu fraco. – Você está me apertando.

- Desculpe.

- Pelo o quê? Sou eu quem precisa pedir desculpa.

- Por te apertar, te beijar e gritar com você agora a pouco.

- Não tem problema. Eu fiquei com tanta raiva do Morris que acabei descontando tudo em você.

- Não tem problema. Eu vou te deixar sozinha. – ele disse, abrindo a porta e começando a sair do banheiro.

- Espera – Ravena pediu com certa urgência. Sentiu suas bochechas corando mais uma vez e encarou o chão. – Eu... Eu não quero ficar sozinha.

- Mas também não quer a minha companhia. Eu entendo.

- Me leva para o quarto? Não quero que ninguém me veja assim, principalmente o Max.

Mutano andou até ela e a ajudou a levantar, segurando sua cintura com firmeza. A levou em silêncio para o quarto e colocou-a na cama, ajeitando sua cabeça nos travesseiros.

- Olha, Ravena... Você tem todo o direito de me culpar e me odiar porque eu não pensei direito quando te beijei. Eu agi por impulso e assumo isso, mas quero que você saiba que eu não estou nem um pouco arrependido por ter te beijado. Eu faria tudo de novo.

- A culpa não foi sua e eu não te odeio. Podemos só parar de falar disso? Sabemos que aconteceu, mas por favor, não vamos ficar remoendo e revivendo isso.

- Claro. Você que sabe. – Mutano deu de ombros, nervoso.

- Sinto que não vou comer nada tão cedo.

- Vai sim. Não passei os últimos dias acordando cedo para te fazer tomar pelo menos um chá no café da manhã para você jogar tudo no lixo agora. Se não quer comer por você, coma por mim.

- A única coisa que eu estou com vontade de comer é um sabonete, mas nem isso eu posso.

- Vamos fazer o seguinte: o dia de ontem não aconteceu. Momento nenhum dele. Finge que você dormiu a noite toda e agora está tendo uma chance de recomeçar.

- É uma ótima ideia. – Ravena sussurrou, tentando sorrir. – Eu sei que não estou em condições de te pedir nada, mas você pode ficar aqui até eu dormir?

- Você não quer tomar banho?

- Quero.

- Pode ir. Vou arrumar sua cama enquanto isso.

Ela concordou e pegou seu pijama de moletom, saindo do quarto rapidamente. Mutano arrumou a cama, colocando vários cobertores grossos, sabendo que ela sentia mais frio do que as outras pessoas, e mesmo que aquilo fosse estranho, recusava-se a procurar um médico.

Não demorou muito para que Ravena voltasse para o quarto, com o cabelo preso em um rabo de cavalo e o pijama confortável que ela tanto amava.

- Você vai ficar? – perguntou, apreensiva.

- Vou. – Mutano respondeu, esperando que ela deitasse na cama para cobri-la. Deitou-se ao lado dela e esfregou seus pés quentes nos dela, que estavam gelados, para esquentá-los. – Vem cá, vem. – puxou-a para mais perto, fazendo com que ela descansasse a cabeça em seu peito.

- Estou com tanto nojo de mim mesma, Garfield... Você não deveria...

- Ficar perto de você? Para de bobeira. Eu adoro ficar perto de você, Rae.

- Obrigada – Ravena sorriu, levantando a cabeça e olhando-o nos olhos. – Por tudo.

- Não precisa agradecer – ele respondeu, beijando o topo de sua cabeça. – Eu só quero que você fique bem. Daqui uns dias vamos estar rindo disso tudo e o Natal está chegando.

- Tomara.

- Já estou pensando no que comprar para você e não aceito cara triste para o meu presente.

- Você não precisa me dar presente nenhum porque eu não posso te dar nada.

- Desde quando você precisa me dar alguma coisa em troca? Já conversamos sobre isso e eu estou te pagando pelas faxinas no meu quarto. Você vai conseguir comprar o carrinho do Max, isso é o que importa. Depois você me paga, não estou preocupado.

- Depois quando?

- Quando você puder.

- Você sabe que eu nunca vou conseguir te pagar. Nós dois sabemos que você está fazendo muito mais do que deve para me ajudar.

- Não tô nem aí. – Mutano riu, olhando para ela. Ravena suspirou e fechou os olhos, desenhando coisas aleatórias na camisa dele. Gostava de sentir a temperatura da pele dele, mesmo que fosse por cima da camisa. Ele era sempre quente, ao contrário dela, e sempre mantinha uma esperança de outro mundo em qualquer situação. Ela queria ser desse jeito. Desde a temperatura até a confiança inabalável.

- Mesmo que eu ganhe na loteria, devo dinheiro para você, para o Shane, para a Lexi... Eu não vou conseguir.

- Ei, nós vamos conseguir. Em breve vamos encontrar compradores para as HQ’s e Action Figures.

- Isso é tão injusto. Odeio saber que você está se sacrificando por minha causa.

- São só bonecos, Rae.

- São mais do que bonecos para você, acha que eu não sei? Você sempre teve cuidado com as suas coleções e as ama mais do que tudo no mundo.

- Eu amo mais o seu bem-estar.

- Lembro que você passou uma noite inteira acordado para comprar um lançamento... Não me lembro qual personagem era, mas nunca te vi tão feliz.

- Se você quiser me pagar, é só comprar um do Han Solo quando isso acabar. Vai quitar todas as suas dívidas comigo.

- Vou me lembrar disso.

Mutano riu baixinho e acariciou o cabelo dela, sentindo o cheiro delicioso do shampoo de morango que ela usava. Estar junto dela não o deixava pensar em Morris e suas crueldades. Ele só conseguia enxergar que Ravena estava ali, com ele, deitada na cama e sentindo-se segura ao seu lado. Ele pensaria em Morris depois.

- Sabia que depois que eu saí da Torre, assisti todos os Star Wars? – Ravena levantou a cabeça, olhando-o nos olhos.

- Sério? Por que você esperou estar longe de mim para fazer isso?

- Foi mais fácil sem ter ninguém me pressionando para assistir, mas eu lembrei de você.

- Você sempre lembra de mim.

- Você era insuportavelmente chato com esses filmes, mas eu adorei. Não sabia que eram tão bons. Não são os meus favoritos... Mas eu gosto bastante.

- São os melhores filmes do mundo, Ravena. Até o Max gosta.

- Sabia que você falaria isso. Não sei o motivo, mas, às vezes, eu penso em nós dois como a Leia e o Han. – ela abriu um sorriso fraco. – Tirando o relacionamento amoroso. – acrescentou rapidamente. – Nós brigamos, mas você sempre me ajuda.

- Você é o Han, né?

- Por quê?

- Cabeça dura, se acha, um pouquinho desleixada, acha que tudo que eu acredito não passa de lenda inventada para assustar criança...

- Eu não sou nada disso.

- É sim, princesa.

- Desleixada?!

- Não me mate, por favor.

Ravena revirou os olhos e deitou ao lado dele, balançando a cabeça negativamente. Mutano sufocou uma risada e desviou os olhos do dela, percebendo a expressão indignada que ela mantinha no rosto.

- Nós estávamos tendo um momento aqui, Garfield.

- Eu sei, desculpa.

- De qualquer forma, o Han Solo sempre está com a Leia, então... Apenas aceite isso. Eu não sou o homem dessa relação.

- Nós temos uma relação?

- Nós somos amigos, é claro que temos.

- Você está certa.

- É.

- Mas, tudo bem se você quiser ser a Leia – Mutano deu de ombros. – Ela é sempre quem acaba livrando a pele do Luke e do Han. Enfim... Você ainda vai ter uma oportunidade para me salvar, eu sinto isso.

- Sério? Você pode me avisar com antecedência?

- É sério, Rae. Eu consigo sentir isso. O ar nessa cidade é diferente de tudo que eu já senti. Sabe quando falam que animais conseguem pressentir desastres? Meus sentidos estão quase “berrando” para que eu saia daqui.

- Você está falando sério mesmo...

- É claro que estou. Você ainda vai me salvar ou me ajudar, tenho certeza... E aí, eu vou poder te chamar de princesa sem escutar as suas reclamações.

- Por Azar, Garfield, você está me assustando. Eu estou muito enferrujada, não quero que dê errado quando for a hora de te salvar.

- Você fala que esta enferrujada, mas explode lâmpadas quando o Dick manda indiretas para você.

- Ele está parando de fazer isso...

- Mas você explode.

- Ele me tira do sério às vezes.

- E eu?

- Você o quê?

- Eu não aceito o Dick te tirar do sério e eu não.

- Ah... – Ravena corou, deitando-se novamente no peito dele. Bocejou alto e coçou os olhos, piscando algumas vezes para espantar o sono.

- Você está quase dormindo.

- Eu estou bem.

- Está se sentindo melhor?

- Vou superar com o tempo, não se preocupe.

- Eu me preocupo sim. – Mutano revirou os olhos. – Odeio te ver assim, mesmo sabendo que no fundo você deve me odiar.

- Nunca te odiei, Gar.

- Não?

- Não.

- Então por que você sempre me afastou?

- Porque você é sempre alegre demais. Isso me incomodava.

- Não era de propósito.

- Eu sei, é uma coisa sua. Não tem como você mudar isso, mas está tudo bem, eu gosto agora.

- Eu tive medo de tentar me aproximar de você dessa vez. Pensei em desistir porque você me deixava falando sozinho e me olhava com nojo.

- E mesmo assim você não desistiu e olhe só para nós dois agora...

- Eu me sentia mal, sabe?

- Por quê?

- Porque você me olhava como se eu fosse um bicho nojento e eu ficava lá, contando como a minha noite tinha sido. No dia que você chegou quase chorando por causa da assistente social, eu fiquei assustado. Não pensei que você fosse se abrir justo comigo.

- Você está sempre onde eu estou, Gar... Acho que conseguimos atingir um nível de confiança enorme em tão pouco tempo. Te disse isso ontem. Eu confio em você.

- Eu também confio em você – ele segurou o queixo dela, sorrindo. – E nunca vou desistir de você.

Ravena pigarreou sem graça e desviou os olhos, tirando a mão dele de seu queixo. Olhou fixamente para uma das paredes do quarto e torceu para não corar, mas suas bochechas sempre a traiam e mostravam o quão envergonhada ela estava. Mutano percebeu isso e saiu de debaixo dela rapidamente, ficando em pé ao lado da cama. Passou as mãos pelo cabelo e soltou um suspiro derrotado.

- Por que você levantou? – Ravena perguntou, confusa.

- Você ficou toda sem jeito... Não quero te deixar sem graça.

- Bom, você está um pouco atrasado em relação a isso.

- Não foi minha intenção. Desculpa.

- Tudo bem, não precisa pedir desculpa...

- Posso me deitar de novo?

- Claro. Aproveita e pega outro cobertor no guarda-roupa, por favor. Estou com um pouco de frio.

Ele pegou mais dois cobertores e colocou por cima dos quatro que já estavam em cima da cama. Ravena se aconchegou neles e deu espaço para que Mutano se deitasse novamente, observando-o com atenção. Ele sorriu e deitou a cabeça na barriga dela, aproveitando que ela estava meio deitada, meio sentada, com as costas apoiadas em vários travesseiros.

- Você ainda sabe aquelas piadas sem graça? – ela brincou com o cabelo dele, fazendo carinho em sua cabeça.

- Por que o Zorro foi expulso da Associação dos Super-Heróis? – Mutano arqueou uma sobrancelha, apoiando o queixo na barriga dela. Ravena franziu o cenho e balançou a cabeça negativamente, mostrando que não tinha ideia do que responder. – Porque ele era muito mascarado.

- Nossa, pelo visto você ainda entende bem dessas piadas.

- Essa é muito engraçada.

- Não.

- Qual é!

- É ridícula!

- Tudo bem, eu tenho outra.

- Pode falar.

- Como o Batman conheceu o Robin?

- Nós podemos fazer piadas com pessoas conhecidas?

- Responde, Rae! Como o Batman conheceu o Robin?

- Eu não sei!

- Pelo Bat-papo.

Ravena gemeu e deu um tapa na própria testa, lamentando sua escolha errada de pedir para que Mutano contasse piadas. Ele riu alto e fingiu secar as lágrimas de seus olhos.

- Quem inventou essa merecia um prêmio.

- Por quê? Só você acha graça.

- Seu senso de humor é péssimo, princesa.

- Tanto faz. – ela respondeu com a voz monótona. Bocejou outra vez e arregalou os olhos para que Mutano não percebesse que ela estava quase dormindo.

- Ok, Rae – ele suspirou, saindo de cima dela. Arrumou os travesseiros e fez com que ela se deitasse direito, arrumando os cobertores em cima dela. – Hora de dormir.

- Eu não quero dormir. Não quero... Sonhar.

- Você está com medo?

- O que aconteceu ainda está muito vivo na minha cabeça. Eu não sei...

- Não precisa ficar com medo, eu estou aqui.

- Mas já são quase 10h da manhã...

- Eu não levanto antes de meio-dia, ninguém vai sentir a minha falta.

- Tá bom. – ela sussurrou, virando-se para ficar de frente para ele. Segurou sua mão esquerda e conseguiu sorrir verdadeiramente, fazendo com que ele sorrisse de volta. – Pode continuar falando, estou ouvindo.

- Eu estou louco para comprar alguns CD’s novos... Achei umas bandas bem legais na internet, acho que você iria gostar.

- Sério?

- Sim. Eles cantam o estilo de música que você gosta.

- Me mostra depois?

- Claro. Agora eu não me lembro dos nomes, mas vou procurar depois do almoço e posso gravar no seu celular para você.

- Não. Meu celular não aguenta essas coisas.

- Que coisas? Músicas?

- Aham.

- Por que não?

- É o mesmo celular que eu ganhei no meu aniversário de 17 anos, Gar. Ele era ótimo na época, mas hoje...

- Que vergonha, Ravena – Mutano brincou, apertando a mão dela. – Eu não consigo viver sem o meu celular.

- Eu não ligo para essas coisas.

- Eu sei.

- Então...

- Mas ele tem algumas músicas, certo?

- Sim, mas não tem mais memória. – Ravena explicou, fechando os olhos.

- Você precisa dar um jeito nisso. O Shane queria criar um grupo de mensagem com todos nós, mas com esse trambolho que você chama de celular não tem como e não tem graça se você não participar porque nós queremos que você se enturme e... Ravena? – ele parou de falar, olhando para ela. – Rae? Rae? – riu baixinho quando percebeu que ela estava dormindo e a puxou para mais perto, abraçando sua cintura de forma protetora, mantendo os dedos entrelaçados nos dela. – Eu não quero dormir, Gar. – imitou, beijando a testa dela. Abriu um sorriso bobo, lembrando-se do beijo e balançou a cabeça para ter certeza de que estava mesmo abraçado com ela. Era real. Satisfeito, fechou os olhos e desejou conseguir dormir também, mesmo sabendo que seria impossível enquanto Morris não fosse punido por tudo que causava a Ravena. – Eu estou aqui, Rae. Sempre. É uma promessa.

 

Lexi apertou seu celular com força e fechou os olhos, deixando algumas lágrimas molharem seu rosto. Fungou alto e piscou rapidamente, tentando parar de chorar porque sabia que não adiantava. Nunca tinha adiantado, por que seria diferente dessa vez?

- Ei, você está bem? – Shane perguntou, sentando-se ao lado dela no sofá. Estavam no apartamento da médica, montando tudo o que seria necessário para o sorteio do amigo oculto com os Titãs. Era tudo perfeitamente arrumado no apartamento de Lexi, tudo muito colorido e chamativo, mas ainda assim, perfeitamente arrumado. Não era segredo para Shane, Ravena, Estelar e Jared, que ela não gostava de ficar muito tempo em casa, talvez esse fosse um dos motivos que a faziam trabalhar sem parar. – Não quero te ver chorando.

- Eu sei, mas eu não consigo, Shane. Não consigo aceitar o que aconteceu e nem vou.

- Você precisa ser forte, do mesmo jeito que a Rae está sendo.

- A Kori não está morta.

- Nós não sabemos.

- Estou tentando dar o meu melhor, mas não aguento mais. Levei o Max para passear, e sabe o que eu fiz enquanto ele brincava? Chorei feito uma criança.

- Você precisa se desapegar dessas fotos. Podemos procurar um lugar novo para você morar e...

- Não.

- Mas...

- Já disse que não.

- Você precisa seguir com a sua vida. Está na hora de deixar isso para trás. Eu sei que tudo que você consegue pensar é que foi triste, lindo e trágico, mas isso aconteceu há quase 4 anos.

- Não é tão fácil quanto parece.

- Eu sei que não, mas você consegue. Você é forte, bonita e tem amigos que te amam. Você pode e vai seguir seguir em frente.

Lexi bloqueou o celular e olhou para Shane, sentindo seus olhos ficando marejados outra vez. Engoliu o choro e respirou fundo para conseguir falar, lamentando por estar daquele jeito outra vez. Sua última recaída tinha sido há um ano e ela pensava que estava bem. Pensava.

- E se eu não quiser seguir em frente, Shane?


Notas Finais


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