Geórgia assobiou baixinho pelo que pareceu ser a milésima vez para Ravena. Mexeu nas pontas de seu cabelo e encostou a cabeça na parede fria do túnel, reclamando da temperatura. Estelar bufou e Lexi preferiu ignorar, torcendo para que Ravena fizesse o mesmo, mas a empata estava longe de relevar qualquer coisa que Geórgia fizesse. A simples presença da gêmea “esperta” a irritava, e já não dava mais para disfarçar isso.
- Cale a porra da boca! – quase gritou, soando mais alto que os roncos de Morris. – Você não sabe ser menos irritante?
- Prefiro ser irritante do que ficar com a cara que você está. – Geórgia respondeu. – Por que você é tão de mal com a vida, Ravena?
- Eu não sou!
- É sim.
- Você não sabe nada sobre mim, Geórgia. Não sabe nada sobre ninguém aqui. Você só continua com a gente porque se ofereceu para vir.
- Se não fosse por mim, vocês nunca encontrariam esse túnel.
- Eu não penso assim.
- Ah, e quem imaginaria que o Wildfire tem uma ligação com uma nave espacial? Você?
- Talvez. Eu sempre penso em coisas impossíveis.
- Essa regra serve para o Garfield também?
- O quê? – Ravena arqueou uma sobrancelha.
- Vai falar que você não está pensando nele e... Em mim.
- Você está ficando maluca.
- Você sabe que não estou. Qualquer um consegue perceber que você está ficando louca de ciúme.
Ravena bufou e cruzou os braços, olhando para o lado oposto de onde Geórgia estava. Estelar e Lexi se entreolharam e esperaram pela reação da amiga, aproveitando para ficarem atentas, caso elas começassem a brigar.
- Às vezes eu acho que você é burra – Geórgia continuou, esticando as pernas no chão. – Eu não gosto do Gar.
- Sério? – Ravena tentou ironizar, mas sua voz a traiu e saiu mais surpresa do que ela imaginou.
- Ele foi um cliente, só isso. Nós ficamos juntos por duas noites, mas além de não ter significado nada, eu sei separar bem meu trabalho da minha vida pessoal.
- Então qual o motivo das provocações e olhares que você manda para ele?
- É tudo brincadeira. Era engraçado vê-lo desesperado porque você não podia saber que ele tinha me procurado... Agora que você sabe, perdeu um pouco a graça, mas ele ainda fica envergonhado.
- Eu não acredito nisso.
- Tá vendo? – Geórgia olhou para Estelar e Lexi, rindo. – Eu disse que ela consegue ser burra quando quer.
- Qual é o seu problema?
- Eu não tenho problema nenhum, mas você tem. Você não consegue perceber que ele te ama! O Garfield te ama, Ravena!
- Eu sei.
- Então faça o que é certo! Eu não sei o que fez vocês brigarem, mas não dá pra deixar qualquer coisinha atrapalhar um relacionamento, sabe?
- Se você soubesse o que aconteceu...
- Eu realmente não estou interessada nisso, mas se continuarem assim, vão acabar se perdendo de vez.
- Treine-se para deixar ir tudo que você teme perder.
- Isso é conversa fiada. Você sente falta dele.
Lexi fechou os olhos, aproveitando a conversa de Geórgia e Ravena para pensar em Cyborg. Por que aquelas palavras faziam sentido para ela também? Ela sentia falta de Cyborg e queria saber se ele estava bem na outra cela. Queria cuidar dele e ter a chance de falar que o amava, pretendendo fazer tudo certo desta vez. Infelizmente, ela sabia que não conseguiria. Toda vez que estava sozinha, não conseguia evitar os pensamentos sobre ele. Tudo que queria, tudo que precisava, tudo que enxergava, eram os dois. Juntos. Contudo, sabia que quando chegasse a hora, travaria e não falaria nada, exatamente como havia acontecido com Colin.
- O amor é complicado e o Gar tem muito para dar. – Ravena voltou a falar. – Não sei se eu posso retribuir tudo isso.
- Sem essa de “amor demais machuca” – Geórgia pediu. – O que dói é amar sozinha, não confunda as coisas.
- As pessoas precisam compartilhar coisas, Geórgia. É isso que intimidade significa, mas a minha vida não é tão interessante assim.
- É interessante para ele.
- Eu... Eu acho que ela está certa, amiga Ravena – Estelar falou baixinho. – Você está deixando um grande amor passar.
- Vocês não sabem o que aconteceu!
- E quem se importa com isso, Ravena? – Lexi perdeu a paciência. – Todos nós cometemos erros, somos humanos! Você é metade demônio, mas quem se importa?!
- Nós nos apaixonamos na hora errada. – Ravena murmurou.
- Não tem hora certa para isso e falo por experiência própria.
- É engraçado como todas vocês querem ajudar quando não existe nada que vocês possam fazer.
- Mas você pode. – Geórgia sorriu de lado. – Quando nós saírmos daqui, você vai falar com ele.
- Eu não...
- VAI! – Estelar e Lexi gritaram juntas.
Ravena arregalou os olhos e ficou em silêncio, pensando nas palavras delas. Ela e Mutano tinham se apaixonado no meio de uma quase guerra... Isso tornava o momento mais precioso ou fazia cada momento mais difícil?
Na cela do outro lado, Asa Noturna andava impaciente de um lado para outro, pensando no que fazer para tirá-los dali. Shane estava ajudando Cyborg a aplicar um pouco mais de soro antiofídico em Mutano, enquanto Jared estava no canto da cela, com os olhos fechados.
- Isso dói – Mutano reclamou. – Da próxima vez que eu encontrar uma cobra juro que...
- Você não vai fazer nada – Shane riu. – Todos nós sabemos que você ama qualquer animal.
- Posso excluir as cobras?
- Acho que você pode ter esse crédito.
Mutano balançou a cabeça e riu, sentindo seu ombro arder. Gemeu e deitou no chão, encarando o teto do túnel, torcendo para que o tempo passasse rápido.
- Cara – Cyborg o cutucou. – Posso te perguntar uma coisa?
- Desde quando você precisa me perguntar se pode fazer uma pergunta?
- É que vai ser meio complicado...
- Pode falar, Cyb.
- O que aconteceu entre você e a Ravena? – Cyborg perguntou, chamando a atenção de Shane, Jared e Asa Noturna. – Você dormiu fora de casa e...
- Você não vai querer saber. Ela... Ah, cara – Mutano passou as mãos pelo cabelo, nervoso. – Sabe aquele tipo de casal que nunca daria certo junto? Que não era para ser, sabe? Sou eu e a Ravena. O problema é que toda vez que eu a vejo, acabo esquecendo disso. – suspirou. – Ela tinha me prometido que pararia com os programas e realmente parou por um tempo, mas... Ela voltou a fazer toda noite. Eu briguei e cobrei isso dela, nós terminamos.
- Mas esse é o trabalho dela – Asa Noturna disse, parando de andar. – O que você esperava? Se ela não fizer, não é uma stripper ou seja lá o que for. É como um jogador de futebol que não sabe jogar ou um super-herói que não sabe lutar.
- Mas ela tinha prometido e eu acreditei, como sempre.
- Ela te disse porquê não parou? – Cyborg perguntou, curioso.
- Disse que o Morris a ameaçou, me ameaçou, e até colocou o Max no meio. Nós encontramos com um cliente dela na pizzaria e ele fez questão de agradecer pela noite “maravilhosa”.
- Ela está sofrendo muito, Gar. – Shane olhou para Mutano, lembrando-se do jeito em que Ravena estava na noite anterior.
- Ela não é a única, Shane.
- Eu odeio falar isso – Asa Noturna suspirou. – Mas eu te avisei. Não vou defendê-la, mas você já viu como ela tem medo do Morris? Todas essas funcionárias têm! Quando ele ameaçou você e o Max, ela provavelmente pensou em proteger vocês.
- O Dick tá certo – Cyborg concordou. – Ela mentiu para te proteger.
- Eu não preciso da proteção dela.
- Ela ficou com medo de perder – Shane lembrou. – Ela colocou o amor que sente na frente de tudo e foi para te proteger.
- É – Mutano falou irônico. – Eu sei.
- Você não enxerga que ela está sofrendo?
- Deixa pra lá, Shane – Jared pediu, ainda de olhos fechados. – Ele não merece a Ravena, é melhor assim.
- Eu não mereço? – Mutano perguntou, incrédulo. – E quem merece? Você?
- Você já parou para pensar que ela não teve escolha? Desde que trabalha no Wildfire, ela abriu mão de todas as escolhas que poderia fazer um dia, mas você não entende isso.
- Falou o cara que paga para ficar com ela.
- Isso não é da sua conta.
- É da minha conta sim! Até hoje não sei que tipo de relacionamento vocês dois tem.
- Eu não vou te responder isso.
- Você é um covarde.
- Covarde? – Jared abriu os olhos. – Você é quem está fugindo. Você a deixou sozinha!
- Eu não estou fugindo!
- Você é um idiota.
Mutano se sentou no chão e olhou para Jared, fuzilando-o com os olhos. Balançou a cabeça e soltou uma risada irônica, querendo deixá-lo com raiva. O filhinho de papai queria conversar? Ótimo. Então eles conversariam.
- Como posso confiar em uma pessoa que tem outro “namorado” além de mim? – perguntou, arqueando uma sobrancelha. – Eu não sou idiota, você gosta dela. Tenho certeza de que você foi um dos clientes que a pagaram para voltar. Isso é nojento.
- Você não confia no seu taco? – Jared riu. – Tão inseguro... A Ravena é a minha melhor amiga e eu ofereci várias opções para tirá-la do Wildfire, mas nós dois sabemos que ela é orgulhosa demais para aceitar mais dinheiro. Não que isso seja da sua conta, Mutano, mas eu estou apaixonado. Estou namorando e estou muito feliz.
- Eu sabia! Sabia que você estava apaixonado por ela.
Asa Noturna e Cyborg se entreolharam, sabendo que corriam o risco de precisar interferir na “conversa” entre Mutano e Jared. Shane riu baixinho e revirou os olhos, mantendo uma postura de desinteresse em relação a confusão que estava prestes a se formar na cela.
- Como é? – Jared gargalhou, deixando Mutano sem graça. – Até que você é engraçado.
- O quê?
- Eu sempre vou proteger a Ravena de tudo e de todos, já disse, ela é a minha melhor amiga. Mas nunca disse que estava apaixonado por ela.
- Você não me engana, Jared. Já está óbvio demais pra mim.
- Você se faz de burro ou o quê? Estou surpreso com toda essa sua insegurança, não esperava por isso. Como você consegue gostar desse cara, Shane?
- Admita! – Mutano exclamou, olhando com raiva para Jared. – Você gosta dela!
Jared ficou em silêncio e suspirou, balançando a cabeça. Já tinha lidado com sócios chatos, senhores de si e até paranóicos, mas lidar com Mutano estava se mostrando uma tarefa mais difícil do que qualquer outra coisa que ele já tinha feito. Como Ravena aguentava aquele temperamento, ele não sabia dizer, mas insistia em se lembrar de que o amor era capaz de muitas coisas, até transformar defeitos em qualidades.
- Quer saber de uma coisa? – Mutano perguntou, deitando-se no chão outra vez. – Eu não quero saber. A Ravena merece muito mais que isso, merece alguém melhor do que eu ou que você. Eu só quero protegê-la e estou cansado de agir como um imbecil aqui.
- Finalmente posso dizer que concordo com você. – Jared sorriu de lado. – Eu tenho essa mesma vontade de protegê-la porque também sei como ela é uma mulher incrível.
- Sim, ela é.
- Garfield, é sério, eu não gosto dela. Não do jeito que você pensa que eu gosto.
- Você acabou de confessar que está apaixonado.
- E eu estou, mas não é pela Ravena.
- Então por quem é? – Cyborg perguntou, curioso.
- Vocês não sabem?
- Deveríamos saber?
- Não, mas eu pensei que vocês tivessem pelo menos uma ideia sobre isso.
- Do que você está falando? – Asa Noturna parou de andar de um lado para o outro, olhando para Jared.
- Eles nem imaginam, não é? – Jared olhou para Shane, que balançou a cabeça negativamente. – Pensei que você e a Lexi tivessem dado pistas ou...
- Nós não damos – Shane arqueou uma sobrancelha. – Eu levei o nosso trato à sério.
- Será que vocês podem explicar o que está acontecendo? – Cyborg implorou.
- Ótimo, mais gente escondendo coisas. – Asa Noturna bufou.
Jared sorriu e levantou-se do chão, andando até onde Shane estava, e passando o braço esquerdo pelos ombros dele. Olhou-o nos olhos e abriu um sorriso mínimo, deixando seus rostos a milímetros de distância. Shane pigarreou e olhou nervoso para os Titãs, começando a ficar envergonhado.
- Eu não quero mais esconder isso de ninguém.
- V-Você está falando sério? – Shane arregalou os olhos. – Nós não precisamos contar.
- Você está com vergonha, Shane Sunshine? – Jared brincou, dando um selinho nos lábios dele, fazendo-o corar furiosamente.
- Eu nunca tive vergonha de você... De nós dois... Nunca.
A cela ficou em silêncio por longos instantes, até a armadura de Cyborg estalar, fazendo com que todos os rapazes o olhassem. Ele balançou a cabeça e arregalou seu olho humano, completamente chocado.
- Espera aí! – exclamou. – O Jared é o Cavalheiro de Diamante?
- Ele é o dono de uma joalheria – Asa Noturna deu um tapa na própria testa. – Agora tudo faz sentido!
- Vocês estão brincando? – Mutano perguntou, assustado. – Se for uma brincadeira só pra nos assustar... Deu certo.
- Eu ainda não acredito que vocês não perceberam nada. – Jared riu, puxando Shane para mais perto.
- Você é gay? – Mutano deixou escapar. – Sério? Mas... Mas... Mas...
- Sim...
- Vocês namoram... Você é o Cavalheiro de Diamante... Mas... É o quê?! E a Ravena? E o namoro com ela?
- É uma história complicada, Garfield.
- Complicada até demais. – Shane suspirou, chateado.
- Mas vocês vão explicar! – Cyborg quase gritou. – Eu pensei que você estivesse apaixonado por mim! – apontou para Shane, bravo. – Eu fiquei com medo de machucar os seus sentimentos!
- Desculpe, Schwarzenegger... Foi tudo ideia da Lexi, pensei que você tivesse percebido.
- Isso não se faz, Shane.
- Não se preocupe, eu sempre vou ter uma quedinha por você.
- Ei! – Jared protestou. – Eu ainda estou aqui!
- Eu sei – Shane sussurrou quando Cyborg pareceu se acalmar. – Só falei isso para não deixá-lo triste.
- Ainda estou esperando por uma explicação razoável para o que você tinha com a Ravena, Jared. – Mutano cruzou os braços, sentando-se outra vez.
- Era uma coisa criada para agradar o meu pai. O namoro, a Ravena... A Melanie, na verdade.
- Melanie?
- Nós criamos uma personagem para ser mais convincente e ninguém desconfiar de nada. O meu pai não aceita isso, vocês viram como ele tratou o Shane no ano novo. Eu tenho muita vergonha do que fiz, mas na hora pareceu uma boa solução. A única solução.
Os três Titãs ficaram em silêncio, absorvendo as notícias que tinham acabado de receber. Olharam para Shane e Jared mais uma vez e se entreolharam, ainda pensando se tudo não passava de uma pegadinha para aliviar a tensão do momento. Felizmente, pela expressão de felicidade no rosto de Shane, eles podiam perceber que a relação entre ele e Jared era muito real.
- Eu te disse que ela era minha amiga – Jared continuou. – É tudo que somos.
- Sem chance – Mutano balançou a cabeça, começando a rir. – Ele é o seu Cavalheiro de Diamante... Por que não falaram antes?
- Porque era segredo e depois nós brigamos no ano novo – Shane explicou. – Fizemos as pazes na viagem que eu fiz para conhecer o meu novo emprego. Combinamos de contar, mas não seria desse jeito.
- Mas você já ficou com a Ravena – o metamorfo apontou para Jared. – Ficou de verdade. Ela comentou sobre isso uma vez.
- É verdade – Jared deu de ombros. – Eu tentei... Como posso explicar? – murmurou, olhando para Shane. – Quando eu conheci a Ravena, ainda queria mentir sobre quem eu era. Queria esconder isso de mim mesmo. Eu pensava que era errado e que seria “normal” se me esforçasse. Eu já conhecia o Shane dos corredores da empresa, mas nós nunca tínhamos conversado, até ele me ver discutindo com o cara que eu gostava na época. Nós estávamos em um pub, e o cara queria que eu me posicionasse sobre o que nós tínhamos, mas eu não sabia o que era. Eu estava assustado. – ele continuou, deixando os Titãs sem palavras. – O Shane esperou que ele fosse embora e veio conversar comigo logo depois e... Vocês conhecem o Shane. Não existe pessoa mais direta e sincera no mundo do que ele. Até a Lexi fica para trás nesse quesito.
- Obrigado. – Shane sorriu, orgulhoso.
- No fim das contas, o Shane acabou me perguntando se eu era gay e eu respondi que não sabia, que não tinha ideia do que estava sentindo e abri o meu coração para ele. Falei sobre os meus medos, sobre o meu pai, sobre a empresa...
- Foi aí que eu sugeri que ele procurasse o Wildfire. Eu entendia o que ele estava passando porque o meu pai me expulsou de casa quando eu resolvi contar que era gay. Eu sabia como era uma sensação horrível ser rejeitado pela própria família, e por mais que eu soubesse que o Jar já tinha certeza sobre a sexualidade dele, eu quis tentar ajudar.
- Você falou para ele procurar a Ravena? – Cyborg perguntou.
- Exatamente. Eu já a conhecia há alguns meses e sabia que ela era confiável... Ela ainda era nova no clube e não contaria para ninguém que o herdeiro de uma das maiores joalherias do país estava indo em um clube de striptease. Mesmo assim, ela não soube que ele era gay até que ele estivesse pronto para contar.
- E quando foi isso? – Mutano arqueou uma sobrancelha.
- Na sexta vez em que eu a procurei – Jared respondeu. – Acho que foi uma das piores coisas que eu já me obriguei a fazer. Eu estava com ela, mas não sentia nada. Era como se eu estivesse morto por dentro. A tentativa foi boa, mas enquanto eu pagava para ficar por uma hora com a Ravena à noite, eu me encontrava com o Shane durante o dia. Na empresa, em pubs, restaurantes, em qualquer lugar... Eu acabei me apaixonando por ele.
- Você tem medo do seu pai, não é? – Asa Noturna concluiu.
- Eu não quero decepcioná-lo.
- Mas isso não é justo! – Mutano disse bravo. – Vocês se amam!
- Do mesmo jeito que você ama a Ravena mas não está com ela.
- Nossas situações são bem diferentes, Jared.
- Que seja, mas você não precisa ter ciúme. O que aconteceu entre nós ficou no passado e não foi porque nós quisemos. Fomos obrigados pelas circunstâncias. Em relação ao namoro, ela me ajudava porque era minha amiga. Nós nunca tivemos nada além de uma relação falsa e paga, pelo menos romanticamente falando.
- Às vezes vocês atuavam bem – Shane falou, lembrando-se do beijo que Jared e Ravena tinham trocado no festival da joalheria. – Eu ficava com um pouco de ciúme.
- Vocês não precisam ficar com ciúme. Nenhum de vocês dois. – Jared voltou a garantir. Olhou para Shane e acariciou a bochecha dele, roçando o nariz no dele. – Eu te amo, Sunshine.
- Eu também te amo. Muito.
Quando os dois se juntaram em um beijo apaixonado, Mutano levantou-se do chão, aproximando-se de Cyborg e Asa Noturna. Os três suspiraram e olharam para o casal récem-assumido, quase invejando a sorte que eles tinham por estarem juntos naquele momento complicado.
- E eu pensando que o Shane estava apaixonado por mim... – Cyborg suspirou.
- Só a Lexi se apaixona por você – Mutano riu. – Ela é a única doida o suficiente para fazer isso.
- Por que tudo parece ser tão mais fácil para os dois? – Asa Noturna perguntou.
- Porque nós estamos vendo isso de fora. Queria ver se tivéssemos que passar pela barra que o Jared passa com o pai. – Mutano deu de ombros. – Eu quero sair daqui. – segurou as barras da cela, afastando-se um pouco assim que Morris ameaçou acordar de seu sono. Suspirou e fechou os olhos, pensando em Ravena. Ele tinha a deixado ir. Estava cansado de segurar o mundo dela e deixar o seu cair, estava cansado de resolver os problemas dela e deixar os seus sem solução. Estava cansado de sofrer e de se decepcionar. Estava cansado de enxugar as lágrimas dela e deixar as suas secarem. Estava cansado de tudo, menos dela. – Vocês acham que se eu me transformar em um animal pequeno...
- Eu já pensei nisso – Asa Noturna balançou a cabeça negativamente. – Quando você se transformar de volta, o Morris vai sentir a sua presença. Ele tem o sono leve. Não sei como não acordou com a nossa conversa.
- Estou começando a reconsiderar a minha regra de não usar o canhão sônico em humanos. – Cyborg bufou. – Esse cara está longe de ser uma pessoa.
- É – Shane concordou, aproximando-se de mãos dadas com Jared. – Ele está mais para um monstro.
- E se nós... – Jared parou de falar e arregalou os olhos, olhando para o lado de fora da cela. Arqueou uma sobrancelha e mexeu as mãos para que os Titãs se virassem. Quando eles o fizeram, prenderam a respiração.
Amália e Briana estavam andando devagar e o mais silenciosamente que conseguiam, fazendo de tudo para que Morris não acordasse. Elas acenaram para a cela ao lado dos meninos, dando um pequeno susto em Ravena, Lexi, Estelar e Geórgia.
- Fiquem em silêncio – Briana pediu, colocando o indicador sobre a boca. Gesticulou para Amália, pedindo para que ela pegasse as chaves que estavam presas no cinto de Morris. A gêmea assentiu e prendeu o revólver na calça que usava. Olhou com raiva para Morris e tirou a chave com cuidado, encolhendo os ombros quando a deixou cair no chão. – Cuidado!
- Não foi culpa minha!
- Me dá isso logo!
Amália entregou as chaves para Briana e esperou que ela abrisse as celas, soltando os Titãs e seus amigos. Geórgia correu até a irmã, abraçando-a com força e agradecendo pela ajuda, enquanto Briana ficava quieta no canto do corredor, vendo Asa Noturna prender Morris com uma corda e tampar sua boca com fita adesiva.
O tempo que ele gastou foi exato.
Assim que o serviço foi finalizado, Morris abriu os olhos, percebendo que estava preso. Tentou gritar e falar, mas não podia por conta da fita adesiva. Mexeu o corpo para deixar as cordas mais bambas, porém, isso só serviu para que seus pulsos e calcanhares fossem machucados.
- Parece que você não pode fazer muita coisa agora – Amália aproximou o rosto do dele, zombando. – Onde está o todo poderoso Morris agora? – riu. – Onde ele está?
Morris soltou alguns barulhos que não podiam ser entendidos e olhou com raiva para ela, ameaçando-a com o olhar. Geórgia enrijeceu no lugar e esforçou-se para puxar Amália para longe dele.
- Não faça isso.
- Por quê? Ele está preso!
- É, mas isso é agora.
- Vamos levá-lo quando voltarmos – Asa Noturna prometeu. – Se ele não for preso aqui, podemos tentar abrir um processo com a polícia de Jump City.
- Você acha que vai resolver? – Ravena perguntou.
- Talvez, eu não sei. É complicado dizer... Ele não foi preso até hoje pela polícia daqui...
- Porque eles têm um trato. Os policiais tem desconto no clube.
- Eu sei, mas precisaremos de provas para denunciá-lo.
- Mais provas do que o próprio Wildfire? – Geórgia olhou com nojo para Morris. – Todas as garotas lá em cima podem confirmar a nossa história.
- Eu tenho uma história particularmente boa para contar para a polícia, mas não quero fazer isso – Amália cuspiu. – Eu quero vê-lo morto.
- Essa não é a solução.
- Eu não ligo! Eu jurei pela Anna e vou fazer isso.
- Amália...
Estelar pigarreou alto antes que Geórgia pudesse repreender a irmã mais vezes. Secretamente, ela também desejava que Morris fosse morto, e sabia que Ravena pensava do mesmo jeito que ela. Elas não moveriam um dedo para ajudá-lo, caso Amália fizesse o que estava prometendo.
- Por que você está aqui? – perguntou para Briana. – Por que veio nos soltar?
- Eu e a Amália ficamos entediadas lá em cima. Escutamos alguns barulhos e resolvemos descer... Foi quando vimos o Morris dormindo e vocês presos.
- Você ainda não respondeu a minha pergunta.
- Olha, eu não sou a melhor pessoa do mundo, ok? – Briana arqueou uma sobrancelha. – Na verdade, gosto de estar no grupo de quem faz maldade. É o que eu sou.
- Mas?
- Mas quando você me disse lá em cima que quando eu tiver um filho vou entender o seu desespero... Você conseguiu acender uma luz dentro de mim que não era acesa desde que eu entrei no Wildfire.
- Como assim? – Ravena franziu o cenho.
- Vocês sabem, eu sou uma das funcionárias mais antigas.
- Como esquecer disso? Você tem até orgulho.
- Eu não tenho orgulho. Eu só não me permito esquecer.
- Por que você nos ajudou? – Estelar perguntou outra vez, sabendo que Briana escondia mais coisa do que aparentava.
Todos ficaram em silêncio esperando por uma resposta. Briana balançou a cabeça, enfezada por ser o centro das atenções. Ela não tinha culpa se eles não entendiam o que ela queria dizer com o silêncio.
- Eu já fui mãe – ela falou rapidamente, assustando-os. – Eu seria mãe, se o meu filho não tivesse morrido.
- M-Mas o que aconteceu? – Estelar tentou se aproximar dela, mas a cada passo que dava para frente, Briana dava dois para trás.
- O meu namorado me largou, meus pais me expulsaram de casa e eu vim parar aqui. Se for parar para pensar, todas as funcionárias desse clube tem algo em comum, além do desespero para conseguir sobreviver.
- Briana...
- O Morris me enganou. Ele sabia que eu estava grávida e disse que eu podia ficar, disse que depois que o meu filho nascesse, nós daríamos um jeito. Eu nunca tive a ilusão de que criaria o bebê. Estava disposta a entregá-lo para a adoção porque sabia que ele teria uma vida melhor, mas ele nem chegou a nascer.
- O que o Morris fez? – Cyborg rosnou.
- Ele me operou. Não, não foi uma operação. Ele simplesmente resolveu brincar de médico e me dopou. Quando eu acordei, ele já tinha feito tudo e...
- Ele tirou o seu bebê! – Estelar tampou a boca com as mãos.
- E eu pensava que isso só acontecesse na TV. – Shane murmurou.
- Eu não entendo muito bem o que aconteceu até hoje. Só me lembro de algumas coisas, mas não consigo ter uma imagem clara do que aconteceu naquele dia. Eu demorei meses para ficar boa de novo, mas era obrigada a trabalhar mesmo machucada. Eu já não tinha mais o meu bebê dentro de mim, mas ainda sentia ele crescendo. – Briana piscou algumas vezes para não chorar. – É por isso que eu queria me vingar dele. – olhou para Ravena. – Se eu me tornasse sócia do clube, não precisaria de muito esforço para destruir tudo isso aqui.
- Você sempre foi a mais ruim daqui. – Ravena balançou a cabeça. – Por quê?
- Do mesmo jeito que você deixa de conversar para se proteger, eu infernizo a vida de cada menina que entra aqui. Eu faço de tudo para que elas desistam e saiam no primeiro dia. Eu tento dar a chance que eu não tive. Tento abrir os olhos de cada uma porque esse é um caminho sem volta e você sabe disso, Ravena.
- Por que ele não fez o mesmo comigo quando eu estava grávida? – Estelar perguntou, confusa. – Ele me deixou trabalhar só bar e...
- Ele não precisava de você. Ele tinha a Ravena e quando ele cisma com alguém, pode esquecer. Ele vai fazer de tudo até destruir a vida dessa pessoa, do mesmo jeito que ele fez com a Anna.
- Anna? – Asa Noturna perguntou.
- Nossa irmã – Geórgia contou. – É uma longa história e eu não quero falar disso agora.
Briana respirou fundo e esfregou as mãos, olhando para Morris. Arqueou uma sobrancelha quando ele tentou gritar e fez um esforço a mais para não rir do desespero dele.
- O menino precisa ser salvo – falou, lembrando-se de Max. – Mais um motivo para eu ajudar. Eu não estou arrependida de ter denunciado a Ravena para a assistente social, mas uma criança não merece sofrer. Vocês precisam ir atrás dele.
- Nós vamos. – Asa Noturna garantiu. – Vocês vão ficar aqui?
- É claro – Amália riu. – Vamos brincar um pouco com o Morris... Ah! A cidade está um caos. Está tudo destruído.
- Merda, vamos precisar nos dividir.
- O quê? – Mutano arregalou os olhos. – Mas...
- Cyborg, você vai com o Gar, Geórgia, Shane e Lexi. Eu fico com a Kori, Ravena e Jared. Vocês vão para a cidade e nós vamos para a Endeavour.
- Você quer mandá-los para lutar com os clones? – Cyborg arregalou os olhos. – Nós vamos perder!
- Você está insinuando que eu não sei atirar? – Lexi perguntou.
- Os clones foram feitos em cima do modelo usado na guerra de Tamaran – Estelar explicou. – Um tiro no meio do corpo e eles devem entrar em curto-circuito.
- Nós podemos fazer isso! – Shane comemorou.
- Vamos arrasar! – Geórgia bateu a mão na dele.
Mutano balançou a cabeça, olhando para Ravena. Ela sustentou o olhar dele e abriu um sorriso mínimo, como se desejasse boa sorte. Ele revirou os olhos e aproximou-se dela, afobado. Mexeu as mãos depressa e abriu a boca algumas vezes, pensando no que falar:
- Eu... Eu...
- Você...?
- Eu sinto muito, Rae – ele confessou. – Me desculpe por tudo. Eu fui um idiota.
- Está tudo bem, eu pedi por isso. Eu menti pra você e...
- Não te entendo nem de longe, mas te quero bem perto de mim.
- Eu gosto disso.
- Você promete que vai tomar cuidado?
- Eu sempre tomo cuidado. – Ravena riu, acariciando o rosto dele. – Espero que você faça o mesmo. Aqueles clones são... Assustadores. – Mutano a puxou para um abraço e tentou fazer com que ele durasse o maior tempo possível. Não era o pedido de desculpa que ele tinha planejado, mas já era alguma coisa.
- Eu não ganho um beijo de boa sorte? – perguntou, aproximando o rosto do dela. – É meio que um tipo de tradição, não é?
- Volte vivo, Gar – ela riu. – Então veremos.
Cyborg riu dos dois e puxou Mutano pelo braço, afastando-o de Ravena. Shane deu um longo e demorado beijo em Jared, deixando claro para Ravena, Lexi e Estelar que tinham se assumido. Geórgia se despediu de Amália e pediu para que ela tivesse cuidado, desconfiada de que Morris estava planejando alguma coisa.
Os dois grupos seguiram caminhos opostos e rezaram baixinho para que todos voltassem bem.
Asa Noturna tentou segurou a mão de Estelar e, ao contrário do que ele pensou, ela não se afastou ou brigou. Os dedos dela apertaram os dele com mais força e eles correram para chegar mais rápido na Endeavour.
O caminho que antes parecia ser longo, não durou tanto tempo quanto eles gostariam que durasse. Antes que pudessem perceber, já estavam nos porões da Endeavour, onde a cela de Mia costumava ficar. Estelar arregalou os olhos quando viu onde estavam e correu para a porta da cela da menina, destruindo-a com suas starbolts. O barulho fez Jared se encolher de susto, e Ravena sorriu de lado, feliz por ver a amiga com sua antiga força.
- Quem nós estamos procurando? – Asa Noturna perguntou, entrando na cela vazia.
- Mia. – Estelar respondeu.
- Quem? – Ravena franziu o cenho, passando os dedos pela parede suja de sangue seco.
- Mia, a irmã do Michael... Ele me ajudou enquanto eu estava aqui, ele...
- Michael? – Asa Noturna arqueou uma sobrancelha. – Esse seria o cara que nos ajudou a te tirar daqui?
- Sim. – Estelar concordou, lembrando-se das histórias que Mutano e Cyborg contaram. – Ela ficava aqui! Ela tem que estar aqui!
- Kori...
- Escutem, eu sei que o Max é a prioridade, mas não vamos sair daqui sem a Mia, entenderam?
- Completamente – Ravena arfou, olhando para a entrada da cela. – Mas primeiro vamos ter que lidar com esses caras. – apontou para os guardas que começavam a cercá-los.
- Rae? – Jared a chamou, engolindo em seco enquanto ajeitava a arma que Asa Noturna havia lhe dado. – Sem querer ofender, mas... Acho que está na hora de você usar o seu bibidi-bobidi-bu.
~*~*~
Se pela manhã Midnight City estava um caos, no meio da tarde a situação estava bem pior.
Uma fumaça escura começava a tomar conta do céu, deixando o dia de inverno mais escuro do que o normal. As ruas estavam tomadas por clones, que brincavam com carros capotados, motos partidas no meio, e barras de ferro que costumavam dar sustentação para os prédios. Os focos de incêndios eram tantos, que Mutano e Cyborg não sabiam por onde começar.
Cyborg aumentou a velocidade do T-Car, atropelando um clone ou dois. Lexi finalizou o trabalho, atirando na barriga deles e comemorou, fingindo ser parte de um filme de zumbis. Shane, Mutano e Geórgia dividiam o banco detrás, atentos a qualquer clone mais violento que pudessem encontrar.
Infelizmente, não estava adiantando. Todas aquelas Estelares pareciam estar em diferentes níveis de programação, fazendo com que algumas ficassem mesmo parecidas com a princesa alienígena, na intenção de mexer com a mente dos Titãs.
O carro fez um zig-zag na pista quando um clone o atingiu com uma starbolt. Lexi gritou de susto e olhou para a rua, dando de cara com os olhos robóticos de um clone raivoso. Cyborg virou o volante, rápido o bastante para evitar que a médica fosse atingida no rosto por um raio verde, mas devagar demais para proteger o T-Car.
- O meu carro! – ele gritou com raiva! – Você vai pagar por isso seu robô mal-feito!
- Cyborg... – Mutano o chamou, vendo o clone raivoso se aproximar de novo.
- Eu vou acabar com você! Vou te destruir e depois vou consertar o meu carro com as peças que vou arrancar de você!
- Cyborg...
- Ninguém põe a Baby de lado!
- Você sabe – Lexi olhou para Cyborg. – Essa frase é de um...
- Filme do Patrick Swayze, eu sei. Dirty Dancing. – Cyborg balançou a cabeça. – Swayze sempre sabe o que dizer.
- CYBORG! – Mutano gritou, interrompendo o discurso do amigo. – A loja de doces! – apontou para o lado esquerdo, mostrando a loja aberta.
- Você não vai saquear uma loja de doces no meio de uma guerra! – Geórgia protestou.
Mutano revirou os olhos e sorriu de lado, olhando para ela. Arqueou uma sobrancelha e trocou um olhar cheio de significados com Shane, como se o agradecesse pela ideia.
- Não vamos saquear – ele explicou. – Vamos atrair esses robôs para lá.
- Como? – Geórgia, Cyborg e Lexi perguntaram alto.
- Se eles têm o DNA da Estelar, devem compartilhar dos mesmos gostos. – Shane disse sério. – Qual é a coisa que ela mais gosta no mundo, depois da mostarda?
- Doces. – Lexi arfou, puxando o freio de mão do T-Car. Eles saíram do carro e correram para a loja, desviando com certa dificuldade dos ataques dos clones. – Está na hora de mostrar quem manda. – sorriu maldosamente, acertando um robô com um tiro na barriga.
~*~*~
- Filho da puta! – Ravena gritou quando o último guarda que estava na cela conseguiu atirar em seu braço esquerdo. Ela gemeu e colocou a mão no machucado, tentando estancar o sangue. Asa Noturna virou-se para ajudá-la, mas ela balançou a cabeça e derrubou o guarda com um tiro. – Eu vou ficar bem.
- O corredor está livre! – Jared disse, aparecendo na porta da cela. – Eu não sabia qual botão apertar para desligar aquele painel de controle, então só atirei em tudo.
- Não tem problema – Asa Noturna deu de ombros. – Isso vai nos dar algum tempo.
Estelar foi a primeira a sair da cela. Correu pelo corredor, encontrando a escada que os levaria até sua antiga cela. Se estivesse certa, só precisariam subir mais alguns andares para encontrarem Estrela Negra e Ryag’r.
A falta de guardas durante todo o caminho estava deixando Asa Noturna desconfortável. Ele se xingou mentalmente e arrependeu-se de não ter mantido Cyborg e Mutano em seu grupo. Estelar era a única com poderes, uma vez que Ravena não conseguia usar a sua magia. A situação estava se tornando preocupante, talvez caótica. Ele não gostava quando as coisas ficavam calmas demais.
Ravena travou sua mandíbula com força e quase implorou para que suas emoções a ajudassem. A única que respondeu foi Raiva, prometendo ajudar, caso fosse liberada. Infelizmente, isso não aconteceria. Ela já tinha problemas com a emoção quando tinha o controle de seus poderes, não gostava nem de imaginar o que aconteceria se a deixasse livre sem ter o mínimo de controle. Seria o fim do mundo ou algo parecido.
Ela apertou o braço machucado e fechou os olhos de dor, gemendo baixinho. Desta vez, não viu Asa Noturna se aproximando, e não teve tempo de avisar para que ele mantesse distância. Ele enrolou um pedaço de pano no ferimento e garantiu que não era nada preocupante. Fazendo força para engolir seu orgulho, ela agradeceu e o viu voltar para o lado de Estelar, segurando a mão da princesa outra vez.
- Então a vida que você levava era sempre cheia de ação? – Jared sussurrou para Ravena.
- Sempre.
- E como você lidava com isso?
- Eu gostava. A parte mais legal é chutar a bunda de um vilão ou dois.
- Mas você arriscava tanto a sua vida...
- Não se sinta mal, estou acostumada com isso. – ela riu, chocando-se contra as costas de Estelar. Balançou a cabeça e olhou para frente, querendo entender o motivo pelo qual tinham parado. Não precisou fazer muito esforço para ver qual era o problema.
- Eu estava esperando por vocês – Estrela Negra sorriu, apontando para Max, que estava no canto da sala, encolhido e sem se mexer. Asa Noturna rosnou e entendeu o motivo da falta de guardas. Eles já estavam sendo esperados por Estrela Negra e ela tinha preparado tudo. Estelar deixou seus olhos brilharem assustadoramente e preparou-se para atacar a irmã. – Sejam bem-vindos.
~*~*~
- Você parece estar bem – Mutano falou, agachando-de atrás de uma prateleira cheia de barras de chocolate, com Georgia. – Tem alguma coisa a declarar?
- Sim, eu declaro que a sua ideia foi estúpida! – ela encolheu os ombros quando um raio verde passou perto de seu braço direito.
- Atrasar a morte é um dos meus hobbies favoritos. – ele deu de ombros, transformando-se num pterodáctilo e segurando-a em suas garras. Geórgia gritou e concentrou-se em atirar nos clones que começavam a ir atrás deles, mas ela tinha uma péssima mira.
A ideia de Mutano e Shane havia sido completamente falha.
Os clones não tinham o mesmo gosto de Estelar e pareciam irritados por precisarem lutar dentro de um lugar fechado. A situação também não estava nada boa para o grupo dos heróis. Eles estavam cercados e não conseguiam encontrar uma saída que não fosse explodir a loja, mas como fazê-lo sem se machucarem?
- VICTOR! – Lexi gritou quando um clone derrubou Cyborg. Correu até ele e ajoelhou-se no chão, jogando no clone todos os doces que encontrava pelo caminho. – Você está bem?
- E-Estou. Você precisa se esconder. Procure o Shane e se esconda. Nós não vamos ganhar isso, eles só estão aumentando e não estamos dando conta.
- Eu não vou te deixar pra trás.
- Alexia, procure o Shane.
- Não! – ela revirou os olhos, ajudando-o a se levantar. Viu Shane atirando em alguns clones e quase sorriu quando eles explodiram. – O Shane está dando conta.
- Acho que ele é o único. – Cyborg apontou para Mutano e Geórgia, que tentavam fechar a porta da loja de doces para evitar que mais clones entrassem. – Merda!
- O que nós vamos fazer? – Shane gritou, assustando-se com um clone que apareceu do nada.
- Precisamos destruir a loja! – Mutano respondeu, transformando-se em um gorila para manter a porta fechada.
- Mas por onde vamos sair? – Lexi franziu o cenho.
- Eu estou cansada desses robôs, com todo respeito, Cyborg – Geórgia tentou sorrir. Andou até o balcão da loja e arrancou a mangueira do botijão de gás, deixando que o cheiro tomasse conta do lugar. – Eu posso estar do lado dos heróis, mas isso não significa que eu seja uma. É melhor tamparem o nariz. Isso aqui vai começar a feder.
Mutano concordou com a cabeça e abriu a porta, esforçando-se para manter os clones longe enquanto seus amigos corriam para fora da loja. Cyborg parou ao lado dele e só precisou acender a chama de seus dedos indicadores para que a explosão começasse. Os dois correram para longe o mais rápido que conseguiram e esconderam-se atrás dos carros capotados que estavam na rua.
O barulho da explosão chacoalhou o asfalto, e eles esperaram pacientemente até que o fogo diminuísse. Viram os clones queimados e comemoraram, mesmo estando cientes de que ainda precisariam lidar com vários. Cyborg ligou para o comunicador de Asa Noturna, querendo pedir para que ele encontrasse a máquina que liberava os clones, mas o líder não atendeu.
O pequeno grupo preparou-se para lutar de novo e Mutano olhou para o lado da cidade onde a Endeavour estava, pensando em Ravena.
O mundo estava desmoronando, e a única coisa que realmente importava para ele, era se ela estava viva.
~*~*~
Morris sorriu quando Amália o soltou, exigindo que ele saísse do túnel com ela e Briana. Sua boca ainda estava colada, e seu rosto começava a ficar roxo por conta dos tapas que as duas haviam lhe dado.
Elas estavam tão felizes, que ele não precisou fazer muita força para tirar a arma das mãos de Amália. Agradeceu mentalmente pela fita adesiva em sua boca, sabendo que seus movimentos haviam sido tão silenciosos quanto ele precisava que fossem.
O grito que Amália deu quando ele pegou a arma, ficaria na memória dele para sempre, assim como a expressão chocada de Briana. Elas deram alguns passos para trás e arregalaram os olhos, sem saber o que fazer, enquanto ele apontava a arma para elas.
Não estava com vontade de conversar. Só de olhar para o rosto de Amália, sentia seu corpo implorando para que ele apertasse o gatilho, e assim ele o fez.
Um. Dois. Três. Quatro. Cinco tiros perfuraram o corpo da gêmea, que não teve tempo nem de gritar ou implorar por perdão, não que ele tivesse um coração bom para perdoá-la, é claro.
Briana gritou e correu. Morris deixou que ela se afastasse alguns metros, antes de atirar outra vez. Riu ironicamente quando ela caiu no chão, chorando. O sangue saía e manchava as costas dela, fazendo-o acreditar que havia errado algum órgão importante. Confiando em sua mira, não se preocupou em olhar mais atentamente onde tinha acertado.
Revirou os olhos e voltou sua atenção para Amália, cutucando o corpo dela com a ponta da mesma bota que estava usando no dia em que Anna morreu. Ficaria com pena do terrível destino que as irmãs tiveram, se não estivesse sentindo-se orgulhoso por seu serviço. Ele sempre tinha sustentado a ideia de que deveria ser paciente e, dessa vez, sua paciência havia lhe servido bem.
Olhou de longe para Briana e fez cara de nojo, guardando a arma no cinto. Voltou a fazer seu caminho para fora do túnel e permitiu-se comemorar internamente. Lembrou-se da história que ela havia contado para Estelar e quase rezou para a alma de mãe e filho. Quase. Ele não era tão piedoso assim.
Seria questão de tempo até que Briana Wright estivesse tão morta quanto Amália Young.
~*~*~
Geórgia gritou e caiu de joelhos no chão, assustando seus amigos. Levou as mãos ao rosto e percebeu que estava chorando sem nenhum motivo aparente. Olhou desesperada para Mutano e Cyborg, e balançou a cabeça, incapaz de explicar o que estava acontecendo.
- Você está bem? – Mutano perguntou, tentando tirá-la do chão. Ela continuou chorando e não fez esforço nenhum para segurar-se nele e ficar de pé. Shane, Cyborg e Lexi se entreolharam, confusos demais para falar qualquer coisa. – Geórgia, você está bem?
- AMÁLIA! – o grito dela cortou o silêncio do centro da cidade, mostrando-se capaz de fazer até alguém poderoso como Ravena encolher os ombros. Geórgia tentou afastar os braços de Mutano e chorou mais alto, pensando na irmã. Não sabia o que tinha sido, mas sabia que Amália estava morta. Era inexplicável a conexão que elas tinham e, naquele momento, Geórgia havia perdido uma parte de si mesma.
~*~*~
Estelar gritou quando Ryag’r ameaçou chutar o corpo de Max. O som estridente foi o suficiente para que o menino se mexesse e coçasse os olhos, virando-se na direção da mãe. Ele bocejou e Asa Noturna conseguiu reparar que ele não tinha nenhum machucado aparente.
- Mamãe!
- Max – Estelar quase chorou, indo para abraçá-lo. Ryag'r saiu do caminho e viu Estrela Negra rindo. – Você está bem? O que eles fizeram com você?
- O Michael cuidou de mim. – Max sorriu, alheio ao perigo que estava correndo. – Ele é tão legal. Eu goto dele.
- Nós vamos sair daqui, ok? Vamos para casa, eu prometo.
Estrela Negra riu outra vez, ainda mais debochada. Arqueou uma sobrancelha e balançou a cabeça, fazendo uma expressão forçada de pena para olhar para a irmã e para o sobrinho.
- O que te faz pensar que vocês sairão daqui vivos?
- Nós não jogamos para perder – Asa Noturna sorriu, percebendo que aquele era o momento certo. Jogou uma granada no chão e viu tudo ficar embaçado com a fumaça. Correu até Estelar e Max, abraçando-os com força. Jared e Ravena atacaram os poucos guardas que estavam na sala, e tentaram encontrar Ryag’e e Estrela Negra, mas não os enxergaram. – Ela fugiu? Nós precisamos achá-la e...
- Eu estou bem aqui, Robin – Estrela Negra sorriu, desativando um tipo de escudo que saía da joia que lhe dava poder. – Sua tentativa foi boa, mas tão fracassada. Eu não tenho interesse nenhum em você, na Ravena, nessa criança chata ou nesse... Quem é você? – perguntou para Jared.
- Jared. – ele tentou sorrir. – E você?
- Que seja. Só estou aqui por causa da minha doce e querida irmã. Eu preciso dela para concluir os meus objetivos e prometo voltar para o Sistema Vega se ela se entregar.
- Você quer me matar! – Estelar empurrou Max para Asa Noturna, aproximando-se da irmã. – Você não pode governar Tamaran.
- Eu já governo Tamaran... Só preciso da sua cabeça para comprovar que você está morta.
- Isso nunca vai acontecer.
- Eu odeio ter que recorrer a esses meios, mas... Ryag'r, você pode me trazer a menina, por favor?
Estelar engoliu em seco quando Ryag'r apareceu alguns instantes depois, puxando Mia pelo pescoço. Ela estava pior do que Estelar se lembrava e já não conseguia mais se manter em pé.
Chefe apareceu logo atrás dela, algemado e todo machucado. Murmurou um pedido de desculpa e acenou para Max com a cabeça, fazendo o menino rir um pouco. Tentou sorrir, mas seu rosto doeu só de tentar mexer os lábios.
- Dick – Estelar murmurou, perdendo a paciência. – Você confia em mim?
- Até de olhos fechados. – ele deixou escapar.
- Ótimo. Tire a Mia e o Max daqui.
- O que você vai fazer? – Ravena sussurrou, percebendo que Estrela Negra tentava escutar a conversa deles.
- Eu vou lutar.
O clarão verde das starbolts de Estelar teria sido o bastante para deixá-los desnorteados, se não estivessem acostumados com a luz forte. Ryag'r pulou para o lado quando viu a princesa atacar sua “senhora” e voltou sua atenção para Asa Noturna, Ravena e Jared.
Estrela Negra levantou os braços para se defender, mas Estelar estava determinada a deixá-la sem opções para fugir. Tinha passado por tanta coisa por causa da mulher que deveria ser sua irmã, sua âncora, sua amiga nas horas boas e ruins, exatamente como Ravena era. Ela ficava com o coração partido quando se lembrava da infância que elas tinham tido. Elas eram amigas, ou quase amigas... Onde foi que tinham se perdido?
Raios verdes e roxos voavam pela sala e todos precisavam ficar atentos para não serem atingidos. Asa Noturna correu até Mia e a pegou no colo, entregando para Jared. Pediu que ele a tirasse dali junto com Max e começou a soltar as algemas de Chefe, que mexia-se impaciente.
- Vocês dois precisam sair daqui – ele informou, olhando para Asa Noturna e Ravena. – Essa nave vai explodir e vocês precisam sair!
- Não podemos deixar a Kori! – Ravena exclamou.
- Ela sabe se defender.
- Não vamos deixá-la! – Asa Noturna enfatizou.
- Para onde vocês levaram a minha irmã?
- O Jared... Eu pedi que ele a tirasse daqui e...
Chefe não esperou pela resposta completa. Saiu da sala correndo e encontrou com Jared, Mia e Max em outro corredor, tentando encontrar a saída. Jared parou de andar quando ouviu os passos de Chefe atrás dele e pensou em gritar por socorro, pensando que ele estava ali para machucá-los.
- Mia... – Chefe abraçou a irmã, fazendo-a abrir os olhos.
- Michael...
- Olhe só onde você está. Você está sendo salva, do jeito que eu prometi.
- Eu nunca duvidei de você.
- Você promete que vai ficar bem?
- S-Sim e você?
- Com certeza.
- Para onde ele está me levando? – ela olhou para Jared.
- Para fora da Endeavour. Não se preocupe, ok?! Mais alguns corredores e vocês estarão longe daqui – Chefe disse para Jared. – Quando sair, corra para longe da nave e proteja a Mia e o Max.
- Ahn... Eu não tenho super-poderes, você sabe. – Jared falou envergonhado.
- Nem eu, mas hoje é o dia em que podemos brincar de herói.
- Essa frase é de algum livro de autoajuda?
- Eu realmente não sei, mas... Por favor, proteja a minha irmã.
- Eu vou tentar.
- Tentar não, você precisa me prometer!
- E-Eu prometo. – Jared engasgou. – Vou protegê-la, eu prometo.
- Ótimo.
- Michael... – Mia o chamou outra vez. – Quando você vai nos encontrar de novo?
- Em breve.
- Eu não quero ir sem você.
- Mas você precisa ir... Vamos ficar juntos quando eu sair e esse homem... O...
- Jared. – ele se apresentou outra vez.
- O Jared vai cuidar de você.
Mia assentiu com a cabeça e tentou abraçar o irmão com mais força, mas não conseguiu. Chorou baixinho e não reclamou quando Jared a segurou outra vez, começando a se afastar de Chefe. Ela virou a cabeça para olhar o irmão e o viu sorrindo para ela, tentando passar confiança. Esforçou-se para sorrir de volta e sentiu uma mão quente e pequena apertando seus dedos.
- Você vai ficá boa – Max prometeu, brincando com os dedos dela. – A mamãe vai pedí a tia Lexi pá te dá memédio, né Jaied?
- É. – Jared riu. – Você vai ficar boa, Mia. Eu prometi para o seu irmão e estou prometendo para você.
- O-Obrigada. – ela murmurou, fechando os olhos e prestando atenção no aperto que Max dava em seu dedo.
Chefe secou uma lágrima quando Jared sumiu com Mia e Max no corredor e andou rapidamente para o lado oposto, indo a passos firmes para o seu destino.
A sala de Ryag'r não ficava muito longe de ele estava, e se conhecesse bem o pai, sabia que ele estava se escondendo como o ótimo covarde que era. Pegou uma das armas dos guardas caídos no corredor e respirou fundo. Estava na hora de ter a sua vingança.
Ryag'r deu um pulo de susto quando Chefe entrou na sala dele. Gritou de dor quando o filho acertou um tiro em sua perna e tentou fugir, mas foi atingido por outro tiro, caindo no chão.
- Michael... Por favor...
- Cala a boca! – Chefe gritou, aproximando-se dele. – Você matou a minha mãe! – deu outro tiro, vendo o laser vermelho atingindo a outra perna do pai.
- Ela me traiu!
- Você a traiu primeiro! Todo mundo sabia que você mentia pra ela!
- Isso não é motivo para ela ficar com um humano - Ryag'r cuspiu. – A pior raça de todas. Eu não aceito perder para um humano. A sua mãe era nojenta!
- Não ouse falar dela!
- E o que você vai fazer? Me matar?
Chefe balançou a cabeça e apontou a arma para a cabeça de Ryag'r, tentando parar de tremer. Fechou os olhos com força e escutou a risada dele, sentindo-se um idiota. Soltou a arma no chão e começou a se afastar. Enfiou a mão em um dos bolsos e apertou um pequeno botão que carregava há alguns dias. O objeto apitou e ele suspirou, sabendo que tinha ativado a autodestruição da Endeavour, que havia encontrado no dia em que contara sobre a existência de Max. Em questão de minutos, ele, Ryag'r, Estrela Negra e toda aquele nave virariam um monte de cinzas.
- Eu não vou me tornar um monstro como você. – rosnou, dando as costas para Ryag'r. – Você não é meu pai. Eu te odeio e nunca vou te perdoar.
Ryag'r não respondeu nada, apenas viu o filho se afastando devagar. Esticou o braço e pegou a arma que ele havia deixado no chão e mirou na cabeça de Chefe, dando um tiro certeiro. O corpo dele caiu no chão com um barulho oco e Ryag'r bufou quando olhos para seus olhos sem vida.
- Essa é a diferença entre nós, filho – levantou-se com dificuldade, ignorando os machucados em suas pernas. Arrastou-se até a parede mais próxima e pegou o suporte de uma das bandeiras de Tamaran, apoiando o peso do corpo nele. – Eu não estou procurando por perdão. Estou procurando por poder.
Enquanto isso, Asa Noturna tentava a todo custo ajudar Estelar a vencer Estrela Negra. A luta que parecia ganha tinha mudado completamente, e a princesa estava apanhando de sua irmã, precisando do dobro de concentração para usar seus poderes.
- Desista, Koriand’r! Você perdeu essa luta!
Estelar balançou a cabeça negativamente e olhou suplicante para Asa Noturna. Ele travou os olhos nos dela e olhou de relance para a joia que Estrela Negra carregava no pescoço. Pegou a arma que estava nas mãos de Ravena, que estava distraída demais cantando seu mantra, e mirou no pescoço da “rainha”.
Estrela Negra riu e, com um aceno de mão, lançou os três Titãs para trás, prendendo-os no chão. Preparou-se para matá-los e começou com Estelar, vendo-a se contorcer quando apertou seu pescoço. Ela engasgou e olhou desesperada para a irmã, perguntando silenciosamente o motivo de tanto ódio.
Ravena apoiou o peso do corpo no braço esquerdo e apertou o braço de Asa Noturna, vendo os olhos de Estrela Negra brilharem e um raio roxo quase atingir a cabeça de Estelar. Ela estava entre os dois Titãs e não tinha tempo para escolher. Fechou os olhos e agarrou-se mais à Asa Noturna, fechando os olhos.
- Azarath Metrion Zinthos.
A última coisa que ela viu antes de sumir em sua alma escura, foi a destruição da joia que Estrela Negra usava. Quando abriu os olhos outra vez, ela estava no meio do milharal, ainda segurando o braço de Asa Noturna, vendo a Endeavour de longe.
- NÃO! – ele gritou, nervoso. – O QUE FOI QUE VOCÊ FEZ?
- Eu nos salvei!
- A Kori! A Kori ainda está lá dentro!
Ravena balançou a cabeça confusa e escutou a explosão forte da Endeavour, encolhendo-se com a claridade e com o barulho alto. Asa Noturna gritou mais algumas coisas para ela e andou de um lado para o outro, sem saber o que fazer.
Não. Estelar não podia estar morta. Não depois de tudo que eles tinham feito. Não, não, não!
- Você não podia ter feito isso! – acusou Ravena, fazendo-a dar alguns passos para trás. – Você não...
- Richard... – Estelar gemeu no meio do mato, levantando-se um pouco tonta. Colocou a mão na cabeça e olhou para Asa Noturna, fazendo com que ele sorrisse. Abraçaram-se e seus rostos ficaram a milímetros de distância. – É... A Komand’r – ela se afastou, apontando para o chão. – Precisamos prendê-la. – olhou para a irmã desmaiada no meio do mato, deixando um sorriso brincar em seu rosto.
- Eu consegui... – Ravena arregalou os olhos. – Eu consegui! Eu consegui! Eu nos tirei de lá! Eu... Eu...
Estelar a envolveu num abraço de urso, impedindo-a de falar mais. Asa Noturna algemou Estrela Negra e aplicou o sonífero que ela tinha usado em Max, para ter certeza de que ela dormiria por dias até ser enviada para o Sistema Vega outra vez. Olhou de relance para o fim do milharal e viu Jared segurando Mia e Max, tentando protegê-los.
- MAMÃE! – Max gritou, correndo para onde eles estavam. Estelar o pegou no colo e deixou que ele fizesse parte do abraço com Ravena.
- Onde está o irmão dela? – Asa Noturna perguntou a Jared, apontando para a Mia.
- Ele não saiu antes da nave explodir. – Jared respondeu, olhando com pena para a menina em seu colo. – Ele...
Mia chorou baixinho no peito dele e escondeu o rosto, envergonhada. Sabia que as chances eram quase nulas, mas ainda tinha esperança de sair da Endeavour junto com Chefe, infelizmente, essa esperança não existia mais.
- Não choia – Max pediu, dependurando-se no braço de Jared. – Você qué bincá comigo?
- Agora não, meu amor – Estelar acariciou o cabelo dele. – Ela precisa de um tempo para ela...
- Kori... – Mia a chamou.
- Eu estou aqui e não vou a lugar nenhum.
- O-Obrigada.
Estelar deu um beijo na testa dela e murmurou que ficaria tudo bem. Prometeu que Chefe estava em paz e em um lugar melhor, e suspirou aliviada quando a menina dormiu com tranquilidade no colo de Jared. Ravena se concentrou outra vez, erguendo os braços e levando-os para o centro da cidade. Depois de três ou quatro tentativas, ela conseguiu.
A confusão no rosto de Cyborg, Mutano, Shane, Lexi e Geórgia era completamente visível. Eles estavam machucados e cansados, mas nada disso chamava mais atenção que suas expressões quando os clones de Estelar começaram a cair no chão, entrando em curto-circuito. Quando o corvo astral de Ravena apareceu na frente deles, seus queixos quase caíram.
- Acabou? – Shane arregalou os olhos, soltando a arma no chão. – Nós conseguimos?
- A nave já era – Asa Noturna mostrou Estrela Negra para os amigos. – Acabou.
Shane gritou e pulou em Jared, esmagando ele e Mia em um abraço apertado. Por sorte, ela continuou dormindo e seu namorado apenas riu de sua animação, beijando-o com vontade para comemorar a vitória.
Lexi abraçou Geórgia e Cyborg bateu as mãos nas de Mutano, mostrando-se aliviado. Asa Noturna tentou aproximar-se de Estelar para conversar, mas ela pegou Max no colo e foi conversar com os outros, deixando-o sozinho com Estrela Negra no colo.
Geórgia perguntou sobre Amália, mas ninguém soube responder o que tinha acontecido. Ela se despediu rapidamente de todos e voltou para o Wildfire, encontrando o clube do mesmo jeito que no início da manhã. Contudo, quando entrou no túnel, viu o corpo de sua irmã e não conseguiu controlar o choro. Outra perda. Ela não sabia se aguentaria.
Briana gemeu baixinho e virou-se para ela, suplicando por ajuda. Geórgia ligou para Cyborg e ele foi até o Wildfire, levando-as para a cobertura. Estelar prometeu que Amália teria um enterro digno e tentou, junto com Lexi, dar o apoio que Geórgia precisava naquela hora.
A noite finalmente caiu e Ravena deitou-se em sua cama, tentando dormir. Por algum motivo, o sono não aparecia. Ela pensou em seus poderes e teve certeza de que tinha sido sorte. Precisaria voltar a treinar e até a meditar, se não quisesse perdê-los outra vez. Agradeceu suas emoções mentalmente e olhou para o escuro.
- Eu não sei porquê, eu apenas sei, mas se precisarmos lutar de novo, vou lutar ao seu lado. – Mutano falou, entrando no quarto, apressado. Ela sentou no colchão e arregalou os olhos, assustada. – Nós nunca vamos nos afastar outra vez. – continuou, segurando o rosto dela com as duas mãos. – Eu te amo.
Quando ele a beijou naquele quarto escuro, ela tentou não pensar em mais nada. Rendeu-se ao momento e o puxou para mais perto, jogando um travesseiro na porta para fechá-la. Deixou o corpo cair sobre a cama e sorriu contra a boca de Mutano, resolvendo ignorar o pensamento chato que começava a surgir em sua mente.
Ao contrário do que Shane havia pensado, ainda não tinha acabado. Pelo menos não para ela.
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