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História Will you be mine? - Presságio


Escrita por: Niccha

Notas do Autor


Oi, não morri :D
Capítulo relativamente curto, mas é melhor do que nada, né.

Capítulo 10 - Presságio


- Uuuuuuuuuhhgh-

Desviando a atenção da caneca que tinha em mãos, Midoriya fitou a origem do grunhido, que finalmente tinha saído do próprio quarto.

- Bom dia. – Cumprimentou.

- Bom dia? – A voz da Beta soava seca.

- Na verdade já é fim de tarde. – Admitiu, dando de ombros e servindo chá para a colega, que deixou o torso deitado na bancada enquanto esperava.

- Tão geladinho... – O tom era de alívio. Midoriya deu um sorriso empático.

- Você parece ótima.

Ainda com a bochecha esmagada contra a superfície plana, Uraraka lançou um olhar na direção do rapaz, franzindo as sobrancelhas e agarrando a alça da caneca que tinha sido empurrada em sua direção. Apesar do que Midoriya tinha dito, a garota tinha olheiras acumuladas sob os olhos, mesmo depois do prolongado período de sono.

- Claro.

- Então, como foi? Divertido? – Questionou o Omega, se virando com a própria bebida em mãos e apoiando a parte de trás do quadril na bancada. Com mais um grunhido, Uraraka se ergueu e fez o mesmo.

- Depois que eu bebi mais um pouco... – Murmurou ela, tomando um pouco do chá. Quando Midoriya suspirou, ela abaixou a caneca, falando mais claramente em um tom choroso. – Eu fiquei tão preocupada.

Midoriya deu uma pequena risada, sobrancelhas franzidas.

- Eu sinto muito por isso. Mas, fico feliz em saber que conseguiu se divertir depois de beber, pelo menos.

Um longo suspiro por parte da Beta, e então, numa espécie de muxoxo:

- Eu cantei aquela música do filme do cavalo.

- Eles tinham no catálogo? – A surpresa soava genuína.

- Eu sei, eu também fiquei surpresa. Mina também conhecia e no fim fizemos um dueto muito empolgante.

- Consigo enxergar isso.

- Tenho certeza que estragamos a música, entretanto.

- Tenho certeza que não.

Os dois riram.

- Então... – A mudança no tom de voz da Beta fez Midoriya suspirar, desviando o olhar por saber o que viria a seguir. – Vou assumir que foi tudo tranquilo na volta pra casa.

Ele sabia que a amiga estava tentando soar casual, mas a verdade era que ela mal conseguia esconder a própria curiosidade receosa.

Foi a vez de Midoriya soltar um grunhido.

- Sim. – Respondeu, incisivo. – Ele não fez... – Continuou, dando de ombros de maneira estranha e apertando a porcelana. – Ele não faria nada. – Por que estava afirmando aquilo? Já era óbvio. Ele não precisava ter dito.

- Claro, claro. – A amiga concordou, rápido.

Midoriya podia sentir as pontas das orelhas queimarem.

Ele não estava mentindo. A volta para casa tinha sido tranquila. Como sempre, Todoroki tinha sido educado e gentil. Inclusive, o Omega tinha certeza que ele não faria nenhuma piada sequer sobre seu patético deslize emocional e sua sessão de choro seguida de sua confissão movida a embriaguez.

Deus, ele estava com tanta vergonha.

Como ele ia encarar Todoroki depois daquilo?  Ele até mesmo deixara o outro comprar comida! Como um Alpha podia ser tão atencioso? Era frustrante.

Claro, ele acabara conseguindo falar tudo o que estava sentindo (apesar do choro), e devia se sentir aliviado com isso. Aquele fora seu objetivo o tempo todo, não? Mas ele também tinha basicamente implorado para o Alpha pedir para sair com ele de novo, não tinha? Aquilo era humilhante. Certo, ele provavelmente estava sendo dramático. Ele não tinha implorado. Ele tinha, no máximo, uh, contado seus planos de uma maneira digna de pena? Isso não ajudava.

Bom, de um jeito ou de outro, Todoroki intervira bem rápido depois do que ele dissera, rápido demais. Então ele com certeza não tinha perdido o interesse.

- Você é tão transparente que chego a ficar preocupada. – Comentou Uraraka, empatia presente em seu tom.

Midoriya sentiu os ombros caírem. Por que ele tinha que ser tão chorão?

- Eu sou patético, não sou?

- Não, não, não. – Colocando a própria caneca na bancada, a Beta usou as mãos agora livres para apertar as bochechas do colega, parando em frente a ele e o fitando diretamente. – Você é adorável. E um amigo perfeito. Não mude nunca.

- Você não preshisa fasher isho, eu vou cozinhar de qualquer jeito. – Falou, um beicinho se formando de maneira involuntária graças ao gesto da amiga.

Um sorriso apareceu no rosto da garota.

- Não estou te bajulando, mas eu com certeza vou aceitar sua oferta. Sinto como se tivesse sido atropelada, e só lembro de pouco além da primeira metade da noite.

Com a fala da amiga, um início de pensamento começou a se formar na mente do Omega. Por uma fração de segundo, ele disse a si mesmo que desejava ser capaz de esquecer o que acontecera na noite passada, entretanto, o sentimento não durou.

Não era verdade.

~.~.~

Quando Todoroki abriu os olhos, a tarde já havia caído.

Desnorteado, ele piscou algumas vezes, franzindo as sobrancelhas ao sentir a própria boca seca, além do gosto ruim que se instalara ali. Sua cabeça doía um pouco. Suspirando, ele tateou em busca do próprio celular, com a intenção de descobrir que horas eram. Entretanto, apesar de seu estado físico atualmente incômodo, ele não se arrependia de nada.

Ele e Midoriya finalmente tinham se entendido.

Não apenas isso, Midoriya finalmente tinha aceitado seu convite para um encontro. Ele nunca poderia ter imaginado esse desenrolar das coisas. Ainda assim, ele ainda não tinha se perdoado por fazer o outro chorar. Suspirando, ele fechou os olhos, lembrando perfeitamente da imagem do rosto do outro, bochechas vermelhas e molhadas sob as palmas de suas mãos.

E depois disso, na frente da loja de conveniência, quando a declaração de um novamente choroso Midoriya o deixou completamente perdido. Ele tinha que pensar no que fazer quanto a isso.

Ele queria segurá-lo novamente. Logo.

Balançando a cabeça, ele abriu os olhos. Um passo de cada vez.

Se sentia vitorioso.

Ao ligar a tela do celular para enfim checar o horário, o Alpha se viu franzindo as sobrancelhas levemente ao encontrar várias chamadas perdidas do número da sua irmã. Confuso, ele se perguntou o que ela poderia querer.

Fosse o que fosse, ele não tinha energia para retornar a ligação naquele momento.

Primeiro, tinha que arrumar algo para comer, mas como cozinhar também parecia uma opção exaustiva no momento, decidiu pedir algo e, enquanto esperava, tomaria um banho. Sim, era um bom plano.

Ele podia ligar para Fuyumi depois.

~~~

- Finalmente! – Exclamou a voz na outra linha, e Todoroki franziu as sobrancelhas. – Você não viu minhas ligações?! E minhas mensagens?

O Alpha suspirou, esfregando a própria nuca com a mão livre.

- Eu ia ligar de volta, ontem. – Falou, subitamente se sentindo exausto. – E eu vi as mensagens, mas ignorei.

- Shouto!

- Desculpa. – Respondeu, simplesmente.

Ele não estava mentindo. Ainda no dia anterior, vira as mensagens, mas apenas para fazer as notificações sumirem. Além disso também desistira de retornar a ligação no mesmo dia, por pura falta de vontade. Entretanto, no dia seguinte, não demorou até que sua irmã voltasse com as tentativas de contata-lo.

Um longo suspiro por parte da mulher.

- Você pelo menos abriu o link que eu te mandei?

- Não.

- Mm, o papai já falou com você? – A pergunta foi feita de maneira cautelosa, e o Alpha franziu as sobrancelhas.

- Não. O que ele quer?

- Shouto, você sabe que eu sou contra fuçar sua vida pessoal, e você sabe que eu não faria isso...

- Fuyumi. – Falou em tom repreensivo, sabendo que ela estava fazendo rodeios. Aquilo já era o suficiente para deixa-lo desconfiado sobre o que viria a seguir.

Mais um suspiro.

- Só abre o link que eu te mandei. – Ela soava preocupada, e Todoroki não conseguiu evitar de se sentir incomodado com todo o mistério.

- Tá, espera um segundo.

Afastando o aparelho da orelha, ele clicou algumas vezes até chegar na caixa de mensagens da irmã, que estava logo abaixo da de Midoriya, com quem tinha trocado algumas mensagens desde o dia anterior (ele e Uraraka aparentemente tinham passado o resto do dia fazendo uma sessão de filmes). Finalmente encontrando o tão mencionado link, ele o abriu. O que era aquilo? Uma notícia?

Quando a página terminou de carregar, um pequeno espaço se formou entre os lábios do Alpha, deixando transparecer sua surpresa com o que estava vendo. Piscando algumas vezes e franzindo ainda mais as sobrancelhas, ele encarou a matéria que era exibida em sua tela, incrédulo.

Em sua mão, uma matéria completa, título em letras garrafais com um questionamento sugestivo que com certeza tinha a intenção de atrair cliques:

“DESTRUIDOR DE CORAÇÕES? CAÇULA TODOROKI FLAGRADO COM PARCEIRO INCONSOLÁVEL!”

- Mas o que... – Murmurou para si mesmo, descendo um pouco a tela apenas para encontrar uma imagem que o fez arregalar os olhos.

Ali havia uma foto dele e de Midoriya, de quando o Omega estava chorando e ele tentava consolá-lo, seguida de algumas outras fotos da mesma cena, incluindo o abraço dos dois. A qualidade das fotos não era muito boa, já que provavelmente não tinham sido tiradas de muito perto, além de claramente terem sido feitas em segredo. Ainda assim, o choque do Alpha era inegável. Como diabos tinham fotografado aquilo?

- Shouto? – A voz de sua irmã soou do aparelho, aflita, mas o rapaz ignorou, passando os olhos pela tela e lendo alguns trechos.

“Seria o discreto Alpha mais jovem da família Todoroki na verdade um playboy? Apesar de sua aparência fria e reservada, é inegável que Shouto Todoroki é um colírio para os olhos, e um Alpha de alto calibre. E, ainda que não houvesse (até agora) rumores ou relatos de possíveis relacionamentos do rapaz, um flagra chocante vem para mudar a maré! Na última noite, o Alpha foi fotografado com um possível parceiro na zona X [...]. Não há maneira de confirmar o estado do relacionamento dos dois, e a identidade do pretendente continua desconhecida. Além disso, a razão do desentendimento entre os dois permanece uma incógnita. Teria o Alpha partido o coração de um pobre Omega apaixonado? Toda a situação se torna ainda mais chocante quando levados em conta os rumores sobre os supostos planos do patriarca Todoroki quanto ao futuro do filho [...].”

- Shouto! – Chamou Fuyumi, mais uma vez, e o Todoroki mais jovem levou o aparelho de volta a orelha.

- Como você achou isso?

- U-Uma amiga do trabalho me mandou!

Comprimindo os lábios, Todoroki esfregou a própria testa. O que ele devia fazer? O que ele podia fazer?

Ele não ligava para aquele tipo de coisa. Ocasionalmente, algum site tentava descobrir uma notícia capciosa sobre ele ou algum de seus irmãos (mas principalmente sobre ele), ou até mesmo inventava algo a seu respeito. Como filho e herdeiro do dono de uma das maiores companhias de ciência e tecnologia do país, era natural que tentassem encontrar pontos fracos para explorar. Mesmo assim, como ele nunca criava essas oportunidades e tampouco se importava com a repercussão de potenciais notícias, reais ou falsas, ele era frequentemente deixado em paz.

Entretanto, aquela situação era completamente diferente. Midoriya estava na foto. E ainda havia um outro lado ainda mais problemático.

- D-De qualquer jeito, você não devia se preocupar! – Recomeçou Fuyumi, provavelmente consciente demais sobre o período de silêncio do irmão. - É só um site de fofocas qualquer! E você disse que o nosso pai não tentou falar com você, então talvez ele nem tenha...

- Você sabe que ele tem uma equipe pra caçar esse tipo de coisa. – Falou, balançando a cabeça. – Se ele não viu ainda, vai ver.

Alguns instantes de silêncio.

- Você acha que está com problemas? – Foi a pergunta dela, em tom cuidadoso.

Mesmo sabendo que Fuyumi não podia ver seu gesto, o Alpha balançou a cabeça.

- Eu não ligo pra o que o nosso pai pensa, mas... ele não tem nada a ver com isso.

- Você não acha que ele faria alguma coisa-

- Eu não deixaria. – Seu tom foi mais agressivo do que ele gostaria, e ele sabia que Fuyumi não tinha culpa.

Mais silêncio.

- Eu posso tentar falar com ele. – Ofereceu Fuyumi, um resquício de esperança em seu tom.

- Não é necessário. Obrigado, Fuyumi, mas isso é problema meu. Você já fez o suficiente em me avisar.

Todoroki pôde ouvir um suspiro resignado.

- Só me promete que vai tentar resolver isso de maneira pacífica. Eu tenho certeza que o papai pode ser razoável se você tentar...

- Claro. – Respondeu. – Eu tenho que ir agora, então... falo com você depois.

~~~

- Ah, Todoki-kun, isso é uma surpresa! Na verdade, eu ia te ligar essa tarde, até anotei em um pedaço de papel, onde foi que eu...

- Kamiji, eu já sei. Só me diz quando ele quer me ver. – Cortou Todoroki.

Uma espécie de risada pôde ser ouvida do outro lado da linha. Apesar da rispidez do rapaz, a mulher não soava ofendida.

- E pensar que ainda fico surpresa com vocês. Bom, um carro vai te pegar depois da sua última aula, amanhã.

Aquilo era mais cedo do que ele esperava, mas não tinha problema. Na verdade, quanto mais cedo pudesse se livrar do problema, melhor. Assim podia se concentrar no que realmente importava.

- Certo.

Guardando o celular no bolso, ele apanhou a própria bolsa e saiu do apartamento, rumando a faculdade.

~~~

Quando o meio a meio alcançou os portões da universidade, suas sobrancelhas ainda estavam levemente franzidas, enquanto sua mente insistia e se prender ao incômodo assunto. Não era de seu feitio deixar uma situação com seu pai o estressar daquela maneira, mas não havia como evitar. Ele não pretendia dar ao mais velho mais atenção do que o necessário, de qualquer forma.

Além disso, ele não sabia se Midoriya estava ciente da matéria. O rapaz não falara nada nas breves mensagens que os dois tinham trocado nos últimos dois dias, e o Alpha não encontrara um jeito de perguntar sobre o assunto. Ele se perguntava como o menor reagiria a algo assim.

Estalando a língua, ele apertou a alça da bolsa. Ele não deveria estar estressado. Midoriya tinha aceitado sair com ele. Ele deveria estar no melhor dos humores. Aquela situação era inadmissível.

O pátio principal não estava tumultuado, já que as aulas matinais já tinham começado há algum tempo. Entretanto, ele não estava atrasado, já que ele mesmo comandava o próprio horário quando se tratava da utilização do laboratório.

- Todoroki-kun, bom dia. – Cumprimentou Yaoyorozu no instante em que ele cruzou a porta. A garota já mexia com algumas coisas na própria mesa de trabalho, óculos de proteção postos.

- Bom dia. – Respondeu, colocando a bolsa sobre a própria mesa e tentando organizar os pensamentos para o que iria fazer ali.

- Na verdade, isso é meio embaraçoso, mas, você está com a sua cópia da chave desse armário? – Perguntou a garota, sobrancelhas franzidas e bochechas vermelhas, uma mão posta sobre a lateral do rosto. – Receio que eu tenha esquecido a minha em outra bolsa.

Erguendo o olhar, o rapaz confirmou com a cabeça.

- Claro.

- Obrigada.

Enfiando a mão em um dos compartimentos da própria bolsa, o rapaz puxou uma chave, cuja a etiqueta estava enganchada com um chaveiro, que caiu no chão com seu próprio molho de chaves em um “clac” metálico.

- ...

Depois de se abaixar e pegar as chaves de volta, ele andou até o armário onde a colega esperava, entregando o que ela queria.

- Aqui.

- Obrigada. – Repetiu a Beta, e então: - Ah, é um chaveiro bem interessante. – Comentou.

Distraído, Todoroki abaixou o olhar para o que ainda tinha em mãos. As chaves da própria casa, que estavam presas a um chaveiro em forma de martelo. A visão do pequeno objeto trouxe uma série de lembranças a sua mente, fazendo seu peito esquentar e dissipando parte da tensão que estivera acumulada em seus ombros durante todo esse tempo.

- ... Foi um presente. – Respondeu, por fim.

Ele não queria esperar para encontrar Midoriya de novo.

~~~

Um barulho alto, vindo de fora do laboratório, fez Todoroki levantar o próprio olhar na direção da porta. Era a terceira vez.

- Nosso novo vizinho é bem barulhento, não é? – Falou Yaoyorozu, sobrancelhas franzidas enquanto olhava na mesma direção que o Alpha. – O que foi isso? Uma explosão?

- Eu não sei. – Respondeu.

- Bom, acho que talvez seja um bom momento para sairmos para almoçar.

Com a declaração da colega, Todoroki puxou o celular do bolso, checando a tela. Uma nova mensagem o aguardava ali.

[13:07] Midoriya: Finalmente livre—Indo a cafeteria ´・ᴗ・`

- Sim.

~.~.~

- Como a boca dela consegue ser tão pequena? – Perguntou Uraraka em tom choroso.

- Eu me pergunto como conseguem viver tanto.

- Eu quero uma.

Os olhos da Beta brilhavam enquanto ela assistia o mesmo vídeo de um filhote de tartaruga comendo um morango pelo que podia ser a milésima vez daquele dia. Agora, ela o exibia com orgulho a Iida.

O grupo de amigos tinha suas bandejas em mãos, e já estava ao lado de uma mesa quando a Beta pareceu notar algo.

- Ah, Yaomomo, Todoroki-kun, vocês precisam ver isso! – Exclamou a garota, e Midoriya sentiu o coração pular uma batida com a mera menção do nome do outro (o que era loucura).

Eles tinham se reconciliado. Tudo que ele precisava fazer era agir normalmente. Ele podia fazer isso.

Respirando fundo, ele se virou na direção que sabia que o outro estava.

- O-Oi...! – Cumprimentou, direcionando a saudação a ambos os colegas que se aproximavam. Não havia motivo para não soar casual.

- Vocês não deviam dar corda às... – Começou Iida, deixando a frase morrer enquanto todos direcionavam a atenção ao mesmo tempo para um ponto em comum: Todoroki.

Parado no mesmo lugar, Midoriya mantinha o sorriso que tinha no rosto quando virara para falar com os amigos, mas agora sua expressão era uma confusão vazia e nervosa. Uma gota de suor se formara em sua têmpora.

O que estava acontecendo?

O Alpha se aproximara e parara logo em frente a ele, o olhando de maneira avaliativa por um segundo antes de curvar o torso, se abaixando de maneira estranha até estar no mesmo nível de altura do Omega. Era como se estivesse se abaixando para falar com uma criança. Todos encaravam a ação, parecendo igualmente confusos.

- ... Oi. – Respondeu o Alpha. – Como foi a aula?

- Bem...? – Começou Midoriya, tentando ignorar o quão desnorteado estava. Todoroki maneou a cabeça em resposta. – Mm... Todoroki-kun... O-O que exatamente você está fazendo...? – Perguntou, torcendo para aquela não ser uma pergunta rude.

O Alpha pareceu um pouco surpreso. Os colegas ainda observavam, curiosos.

- Ah, mm... é que, no outro dia, você reclamou sobre como eu era alto demais. E disse que seu pescoço doía, já que tinha que olhar tanto pra cima, então...

Os olhares então vagaram para Midoriya, que arregalou os olhos numa expressão chocada.

- E-Eu o que?! Q-Quando...?!

- Quando eu te dei o onigiri, no banco perto da loja de conveniências. – Esclareceu Todoroki, de maneira impassível.

Midoriya podia sentir o rosto queimar. Ele realmente tinha dito isso? Todoroki não tinha motivos para mentir sobre aquilo, e ele definitivamente não era do tipo que faria uma pegadinha como essa. Talvez houvesse uma ou outra coisa que ele não lembrava daquela noite, afinal.

- Você na verdade começou a ch-

Continuou Todoroki, provavelmente entendendo que sua explicação não tinha sido suficiente para evocar a lembrança do ocorrido, mas Midoriya foi rápido em interrompê-lo.

- C-Certo! D-De um jeito ou de outro, ignore tudo que eu disse! P-Por favor, fique em pé direito! Por favor?

- Mas, -

- Sério! Só esqueça o que eu falei! Uraraka-san, você não ia mostrar a eles o vídeo da tartaruga?! – Questionou, alto demais, desesperado para mudar de assunto. Uma série de pigarros foi ouvido de quase todos os membros do grupo enquanto pareciam sair do torpor do choque, se movendo de maneira desconfortável.

- A-Ah, claro! Yaomomo, dá uma olhada!

- T-Tartaruga...

Logo depois de falar, Midoriya se virara na direção da mesa de maneira rápida e mecânica, sentando enquanto apertava as bordas da própria bandeja. Ele tinha certeza de que Todoroki ainda o encarava por trás (felizmente, agora com uma postura normal), e ele sentia o quão quente as próprias orelhas estavam.

 Após Uraraka terminar de exibir o vídeo, os dois estudantes que haviam chegado depois se afastaram para pegar as próprias refeições, deixando os outros três sentados em um silêncio constrangedor.

- Bom, o Todoroki é bem alto... – Comentou Iida depois de algum tempo, e Midoriya nunca desejou tanto ser capaz de esconder a cabeça em um buraco.

- Iida-kun, só... não. – Pediu, ombros encolhidos na própria vergonha.

- Pronto, pronto... – Acalmou Uraraka, dando tapinhas das costas do Omega. – Não tem do que se envergonhar, todos falamos coisas embaraçosas quando estamos bêbados! E o Iida está certo, Todoroki-kun é mesmo alto!

Midoriya suspirou, resignado com o próprio destino.

Ele estava preocupado sobre como iria ser a primeira interação dos dois depois do que acontecera, mas agora, ao menos, ele sabia que não tinha como a situação ficar mais estranha ou desconfortável. Aquilo na verdade era bom, não? Não há como cair mais quando se está no fundo do poço.

- Sinto como se tivesse perdido toda a minha dignidade. – Comentou, simplesmente. Sua expressão estava vazia. 

~~~

Enquanto andava, Midoriya comprimia os lábios, mantendo o olhar baixo. Ao seu lado, Todoroki permanecia em silêncio. Aquilo era estranho. Ele provavelmente devia falar alguma coisa.

Além disso, por algum motivo, o Omega sentia como se estivessem sendo observados. Em certo momento, ele podia jurar que duas pessoas estavam cochichando algo enquanto olhavam diretamente na direção dos dois.

Ele provavelmente só estava sendo paranoico.

- Ah, Todoroki-kun, amanhã nós vamos a um café pra decidir de uma vez o que vamos fazer no festival. – Falou, erguendo a cabeça com as sobrancelhas arqueadas ao lembrar dos planos, ganhando a atenção do Alpha. – Você devia vir. – Sugeriu, tendo cuidado para não soar muito esperançoso.

- Eu não posso. – Respondeu Todoroki, o fitando. – Sinto muito.

De maneira involuntária, os ombros do Omega caíram. No fundo de seu estômago, ele sentiu uma pontada de nervosismo. Todoroki ainda estava tentando evita-lo? Mas os dois já tinham se entendido, não podia ser o caso. Mesmo assim, ele não conseguiu evitar a sensação de ansiedade.

- N-Não tem problema! – Garantiu, se esforçando para soar natural e torcendo para que seu desapontamento não fosse notável.

Tratando de voltar a olhar para frente, ele apertou a alça direita da mochila enquanto continuava a andar, mas foi forçado a parar ao sentir seu pulso esquerdo ser segurado. Todoroki tinha parado de andar pouco atrás dele. Confuso, ele voltou a atenção para o Alpha.

- De verdade. – O tom do meio a meio era incisivo, e o olhar que ele tinha cravado nos olhos de Midoriya era tão intenso que o fez se sentir embaraçado.

- ... – Encolhendo os dedos, Midoriya permaneceu em silêncio. Quando o mais alto voltou a falar, o Omega virou o resto do corpo em sua direção.

- Eu tenho que... resolver uma coisa. – Declarou Todoroki, se detendo no meio da frase por um instante.

Midoriya puxou o ar para responder. Dizer que o outro não lhe devia explicações. Mudar de assunto e reafirmar que não havia problema. Mas, agora, frente a frente com o maior, o peso dos orbes díspares sobre si era demais. Ele sabia que Todoroki estava dizendo a verdade, e tratando a situação com toda a sinceridade depois do desentendimento pelo qual tinham passado. Não havia motivo para ele não fazer o mesmo.

Com um pequeno suspiro, o mais baixo abriu um pequeno sorriso.

- Tudo bem.

Todoroki concordou com um breve maneio de cabeça, abaixando o olhar por um segundo antes de escorregar a mão do pulso do menor até sua mão, a segurando. Instintivamente, Midoriya encolheu os ombros, olhando para os lados de maneira suspeita.

- Uh... – Começou, desconcertado, mas o meio a meio o interrompeu.

- Você lembrou de algum lugar que queira ir?

- I-Ir? – Questionou Midoriya, agora tentando evitar contato visual. Entretanto, essa acabou não sendo uma boa escolha, pois o Alpha deu um passo à frente, ficando mais perto.

- No encontro. – Explicou o maior simplesmente, inclinando a cabeça para tentar ganhar o olhar do colega a sua frente. – Você também não lembra disso?

Midoriya sentia o rosto queimar. Abaixando a cabeça, ele resistiu ao impulso de se afastar, se limitando a inclinar de leve o torso para trás e na direção contrária do Alpha. Ele realmente tinha esquecido da tendência do outro de não ter qualquer filtro para situações embaraçosas. Entretanto, aquele tipo de atitude mais “íntima” era novidade. Midoriya já tinha reparado, antes, mas Todoroki parecia sempre tentar manter suas mãos para si quando perto dele.

Com a demora para uma resposta, o meio a meio se aproximou ainda mais, e seu rosto agora estava a uma distância pessoal demais para o gosto do Omega.

- Não vou deixar você fugir disso. – Declarou.

- E-Eu não esqueci! – Respondeu Midoriya, apoiando a mão livre no peito de Todoroki e o empurrando levemente, virando o rosto para o lado contrário no que ele sabia ser uma tentativa inútil de esconder a própria vergonha.

- Bom. – Havia uma sombra de provocação no tom satisfeito do Alpha, e Midoriya se perguntou se ele estava apreciando sua reação a tudo aquilo.

- Eu não... consegui pensar em nada específico. – Contou, sentindo o frio na barriga crescer à medida que reunia coragem para dizer o que queria. Ele não podia deixar Todoroki ter a impressão errada de que ele não se importava. – Mas não tem problema, p-porque...

Por um momento, ele deixou a frase pender no ar, incapaz de continuar. Mas quando Todoroki apenas esperou, o encarando com curiosidade (e fazendo menção de chegar ainda mais perto), o mais baixo cerrou os olhos, sentindo sua voz soar engasgada e um tanto quanto fora do tom ao prosseguir.

- Porque... I-Independente do que formos fazer... p-provavelmente já vai divertido s-só por estarmos passando tempo juntos, então...

Ainda de olhos fechados, ele esperou por uma resposta por alguns instantes, apreensivo em seu estado semi-mortificado de vergonha. Ele tinha certeza de que seria possível fritar um ovo sobre seu rosto naquele momento. Quando nada veio, ele entreabriu um dos olhos aos poucos, tentando roubar um vislumbre da expressão do outro.

Todoroki continuava o encarando, rosto desconfortavelmente próximo e olhos com um misto de emoções tão calorosas que Midoriya podia jurar que eram capazes de deixar seu próprio rosto ainda mais quente. E, se não seu rosto, definitivamente seu peito. Ele sentiu como se seu coração tivesse falhado uma batida.

Ele não estava preparado para aquilo.  

O Omega nunca conseguia captar completamente o que se passava na cabeça do meio a meio, nem deduzir algo com facilidade baseado em suas expressões, mas aqueles olhos... como eles podiam, com tanta frequência, parecer tão indubitavelmente carinhosos na direção dele? Todoroki Shouto, o Alpha frio e inalcançável.

Aquilo não era justo.

- Você gosta da minha companhia. – Falou o maior, como se atestasse um fato. Para quem ele estava fazendo aquilo, Midoriya não tinha certeza, mas ele definitivamente soava satisfeito.

- E-Eu vou me atrasar pra aula! – Exclamou, desviando o olhar mais uma vez. O mais baixo tinha certeza de que não era fisicamente capaz de suportar que aquela situação se estendesse muito mais.

Todoroki permaneceu da mesma forma por mais alguns segundos antes de finalmente se afastar, soltando a mão do menor e passando a fitar o caminho a frente. Quando voltaram a andar, o diálogo continuou.

- Esse fim de semana. – Falou o mais alto.

Midoriya sentiu seu coração dando saltos em antecipação.

- Tudo bem.


Notas Finais


Caso você esteja se perguntando quem é Kamiji, é a Burnin, que trabalha na empresa do Endeavor~
Como sempre, peço para deixarem suas opiniões sobre o que ta rolando, se quiserem. Até o próximo!


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