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História Will you be mine? - Heróis e cafés


Escrita por: Niccha

Notas do Autor


Sentiram saudades?
Como o capítulo anterior foi mais curto que os outros, esse é maior. Espero que gostem, boa leitura.

Capítulo 4 - Heróis e cafés


- Quê?! Sem chances! Se algo acontecer com ele eu vou morrer de tristeza! – Exclamou a garota, semblante aparentando receio genuíno enquanto apertava as bordas da bandeja que carregava, encarando o colega com sobrancelhas franzidas.

- Ah, mas isso é só uma teoria! – Declarou Midoriya rapidamente, querendo afastar as preocupações da amiga que se sentava ao seu lado.

- Mm... – Num muxoxo, a Beta desviou o olhar de volta para o próprio sanduíche, desembalando-o e dando uma mordida antes de voltar a se direcionar para o colega, soando estranho pela comida ainda em sua boca. – Mas eu realmente... – Uma pausa para engolir – realmente preciso reassistir os filmes mais antigos. Não lembro de nada.

Midoriya terminou de mastigar um pedaço de seu próprio sanduíche antes de responder.

- Deve dar tempo antes da estreia do próximo. Se assistir em ordem cronológica vai ser ainda melhor. – Sugeriu o Omega, parecendo animado com a ideia de uma possível maratona.

A garota ponderou por um instante, olhar perdido em um ponto qualquer. Por fim, balançou a cabeça de maneira negativa, encolhendo os ombros.

- Sem chance! Não com a quantidade de trabalhos e as provas se aproximando... – Queixou-se, dando um gole em sua bebida antes de voltar a comer, fitando o colega pelo canto do olho.

- Ah... Verdade. – Concordou Midoriya, ombros caindo e semblante de empolgação sumindo e dando lugar a um sorriso desconcertado. – Esqueci desse detalhe.

- Não posso ficar pendurada em nenhuma matéria de novo. Não faz bem pro meu coração. – Concluiu a garota, tirando o celular do bolso e desviando o olhar para o mesmo, quase engasgando ao ver o horário na tela. – Eu vou me atrasar! – Exclamou, enfiando o celular de volta no bolso e começando a dar mordidas gigantes no próprio sanduíche, enchendo tanto a boca que ficava com as bochechas inchadas, como um pequeno roedor.

- Eh? – Midoriya pareceu levemente surpreso, pegando o próprio celular para também olhar a hora.

- Isho é culpa shua, - Acusou ela entre mordidas, boca cheia demais para vocalizar as palavras perfeitamente – é shempre ashim quando comecha a falar de heróis! – Com mais duas enormes mordidas, ela enfiou na própria boca o que restava do sanduíche, logo em seguida pegando o próprio copo e o virando enquanto se levantava, engolindo tudo de uma vez com uma cara de quem estava entalada.

Midoriya encarava a amiga com preocupação desnorteada, mãos levemente erguidas como se estivesse de prontidão para resgatá-la caso se engasgasse. A Beta tossiu duas vezes, batendo no próprio peito com a mão fechada. A garota logo em seguida jogou a mochila por cima do ombro com olhos fechados, antes de abri-los e estender o braço para apontar para o rapaz que estava sentado do outro lado da mesa.

- Todoroki-kun, não caia no papo desse otaku! Falar sobre heróis com ele é um caminho sem volta! – Exclamou.

O Alpha, que até então apenas vinha comendo seu sanduíche em silêncio, arqueou as sobrancelhas minimamente, pego de surpresa pela atenção repentina. De fato, desde que o assunto sobre heróis tivera início, os outros dois pareciam ter entrado em uma dimensão completamente diferente, na qual ele não estava presente. Essa sensação só se intensificou com a reação do Omega à declaração da colega, também se voltando para o Alpha com o rosto ganhando um tom vibrante de vermelho até as pontas das orelhas, parecendo só então ter lembrado de sua presença ali.

- O-Otaku?! – Repetiu, visivelmente envergonhado.

- Vejo você mais tarde, não esqueça de comprar leite na volta. Me manda mensagem se precisar de alguma coisa! – Completou ela apressadamente, agora direcionada a Midoriya, e, sem esperar resposta de nenhum dos dois, correu para fora da lanchonete, deixando para trás um Omega desnorteado e um Todoroki atônito.

- T-Todoroki-kun, eu sinto muito! – O pedido de desculpas fez o mais alto voltar o olhar para o garoto que estava sentado do outro lado da mesa com os ombros encolhidos e a cabeça baixa, olhos fechados com força. – Eu e a Uraraka começamos a conversar e eu me distraí completamente. Ignoramos você esse tempo todo, mesmo que eu tenha te convidado para comermos juntos! Isso foi muito rude da minha parte! Eu realmente sinto muito! – Despejou o Omega, as mãos abanando no ar em gestos exagerados.

Todoroki apenas balançou a cabeça, querendo dar a entender que não havia problema. E realmente não havia. Muito pelo contrário, toda a experiência vinha sendo fascinante para o Alpha.

Já fora surpresa o suficiente receber o convite para comer junto aos outros dois, mais cedo. E, além disso, com a distração do menor ele fora capaz de ver um lado do Omega que ele ainda não tinha descoberto. Um Midoriya completamente relaxado e descontraído enquanto falava sobre um tópico que gostava. Por esses e outros motivos ele preferira se manter em silêncio, observando toda a situação sem se intrometer.

- Não tem problema. De verdade. – Assegurou, dando uma mordida no próprio sanduíche.

Midoriya entreabriu um dos olhos, avaliando a expressão do Alpha com cuidado por alguns instantes, e ele ainda não tinha relaxado completamente quando voltou a comer, encolhido em seu assento, olhar baixo.

- Não sabia que gostava tanto de heróis. – Comentou o mais alto de maneira casual depois de alguns segundos de silêncio, testando algo que ele mesmo via como uma espécie de isca.

A declaração captou a atenção do menor, que ergueu o olhar para o rosto do outro, o vermelho voltando ao seu rosto de maneira sutil. Ele ainda parecia envergonhado.

- A-Ah... Sim... Bem, eu não queria soar como um... o-otaku absoluto, mas vai estrear mais um filme em breve então eu meio que fiquei empolgado...? – Justificou-se inseguro, coçando uma das bochechas com o indicador enquanto desviava o olhar.

- Mm. – Confirmou Todoroki com um pequeno maneio de cabeça, engolindo mais um pedaço de seu sanduíche antes de voltar a falar. – Acho que vi o trailer na internet.

Aquilo fez o olhar do Omega voltar para o outro, um quê de curiosidade e interesse se fazendo visível atrás de ações comedidas.

- Todoroki-kun... – Hesitante, Midoriya se fez soar mais uma vez, observando o mais alto de maneira avaliativa enquanto perguntava de maneira tímida. - ... gosta de heróis?

- Bem... Acho que se pode dizer que sim. – Respondeu, desviando o olhar brevemente um tanto desconcertado com o tom esperançoso do outro. Um som de quem puxa a respiração em surpresa por parte de Midoriya fez sua atenção se voltar ao Omega mais uma vez, e o Alpha não conseguiu evitar de prender a própria respiração ao se deparar com a cena a sua frente, pego desprevenido.

Os olhos de Midoriya brilhavam enquanto olhavam diretamente para o rosto do Alpha, pela primeira vez sem qualquer traço de insegurança, boca entreaberta num pequeno sorriso depois de sua própria surpresa, mas logo notando o olhar concentrado do maior e desviando o seu próprio.

 A expressão do outro só durou uma fração de segundo, mas foi o suficiente para Todoroki sentir o coração falhar uma batida, piscando algumas vezes confuso com sua própria reação a imagem do Omega e pigarreando antes de falar.

- Mas eu não sou nenhum especialista no assunto. – Completou rapidamente depois da estranha situação, voltando a atenção para o próprio sanduíche e mordendo-o com as sobrancelhas levemente franzidas. – Li alguns quadrinhos quando era mais novo, eu acho. E, mm, vi os filmes.

- Qual o seu herói favorito? – Perguntou o outro quase que imediatamente após o Alpha concluir sua fala, o que fez o mesmo erguer o olhar mais uma vez de maneira surpresa, desacostumado com o engajamento tão ativo do menor. Entretanto, Midoriya pareceu perceber o choque do mais alto, levantando as mãos e balançando a cabeça com uma breve risada apologética. – Quer dizer, não precisa responder! Você não deve querer conversar sobre isso, de qualquer forma, principalmente depois do aviso da Uraraka!

- Ah, não. – Respondeu Todoroki rapidamente, balançando a cabeça e pensando por um breve segundo antes de dar sua resposta. – ... Thor. – Cauteloso, o Alpha avaliou a reação do rapaz a sua frente, que arqueou as sobrancelhas com a resposta à sua pergunta, sorrindo enquanto confirmava com a cabeça. Aquilo era desnorteante. – Acho que algumas pessoas não gostam muito dos dois primeiros filmes por serem mais sérios e sombrios... – Continuou, um pouco inseguro sobre o que estava dizendo, mas sem querer deixar o assunto morrer, já que era a primeira vez que conseguia tamanha abertura por parte do outro. – Mas eu gosto mesmo assim. Ele tende a ser bem franco com o que pensa e tenta sempre fazer o que acha que é certo. E ele é bem forte, então... – Dando de ombros, parou de falar, mordendo mais uma vez o próprio sanduíche enquanto torcia para que aquilo fosse o suficiente para o outro continuar a conversa. Aparentemente era.

Midoriya confirmava enfaticamente com a cabeça, o próprio sanduíche esquecido em suas mãos enquanto ele se distraia com o assunto pelo qual tinha tanto interesse.

- Sim! Os filmes não são tão coloridos e não tem tanto humor quanto os outros da fase de ouro do MCU, mas ainda são muito bons! Ver o desenvolvimento dele enquanto ele aprende costumes diferentes e se adapta as situações é bem divertido. Além do fato disso desenvolver bastante ele como personagem!

 Midoriya falava tão depressa que era difícil acompanhar, e Todoroki tinha que se esforçar para entender exatamente sobre o que o outro estava falando. “MCU”?

Suas sobrancelhas levemente franzidas em confusão não pareciam ter sido notadas pelo menor, que continuava falando empolgadamente sobre eventos dos filmes nos quais Thor tinha participação, fosse direta ou indireta. De qualquer forma, ele não se sentia incomodado em apenas ouvir, então se resignou a comer em silêncio, ocasionalmente balançando a cabeça em concordância com o que o outro falava.

Foi então que, de repente, o ritmo da fala de Midoriya mudou, com o mesmo desviando o olhar e dando um pequeno sorriso sem graça antes de continuar de maneira encabulada.

- Na verdade, Todoroki-kun, é um pouco engraçado que Thor seja seu herói favorito... – Comentou o mais baixo, inclinando um pouco a cabeça e voltando a fitar o Alpha, que tinha uma expressão confusa no rosto. - ... afinal, vocês dois têm olhos parecidos. – E então levantando os indicadores respectivamente ao falar, direito, esquerdo. – Um escuro e o outro azul. Até mesmo a posição de cada cor corresponde! – Completou, sorrindo. – É uma coincidência muito legal!

Involuntariamente, Todoroki levou a mão até a armação dos próprios óculos, piscando algumas vezes sem saber como reagir. Com os segundos de silêncio se estendendo, a falta de resposta fez Midoriya recuar em sua cadeira, balançando as mãos freneticamente enquanto ficava com o rosto vermelho mais uma vez. Era um mecanismo de defesa bem enérgico.

- Q-Quer dizer...! Não que eu ache que você dê alguma importância a isso, afinal ele é só um personagem! É besteira! Foi só uma observação idiota. Acho que é preciso ser um otaku pra ficar reparando nessas coisas, afinal, mas eu não consigo evitar...!

 Mais uma vez uma enxurrada de palavras com a intenção de se justificar era despejada sobre o meio a meio, que a essa altura já havia se recuperado da observação inesperada.

- Bem, acho que você tem razão, afinal. Eu nunca tinha parado pra pensar nisso, na verdade. Mas acho que o olho direito dele é mais claro que o meu.

A resposta foi dada no mesmo tom inalterado de sempre, e a falta de irritação ou aborrecimento aparentes pareceu acalmar um pouco Midoriya, que cessou suas justificativas. Mesmo assim, o rapaz parecia ter perdido a confiança em continuar o assunto, e agora se limitava a mastigar a própria comida de maneira silenciosa, o olhar baixo concentrado na mesa e o comportamento introspectivo retomando seu espaço. Todoroki não gostou daquilo.

E então, com casualidade comedida na voz baixa, perguntou:

- Então... qual o seu herói favorito?

Bingo.

O olhar de Midoriya voltou a se erguer, ainda um tanto receoso a princípio, mas logo recobrando a fagulha de animação que apresentara antes, acompanhado por uma breve troca de posição na cadeira e o surgimento de um sorriso tímido que fez o coração de Todoroki falhar mais uma vez.

Aquilo era realmente estranho. Todoroki não conseguia se recordar de sentir algo semelhante àquilo. A comparação mais próxima a qual conseguia chegar era a de quando se está na descida de uma montanha russa, só que condensada em uma fração de segundo. Mas não era exatamente igual, ainda. De qualquer forma, ele não conseguiu dar continuidade a essa linha de raciocínio por muito tempo, porque havia outra coisa prendendo sua atenção naquele momento. Na verdade, não outra coisa. Alguém.

Estranho.

~.~.~

Certo, ele tinha que admitir: ele nunca teria sido capaz de prever o rumo que as coisas tinham tomado.

Mesmo que estivesse determinado a se esforçar para melhorar sua convivência com o Alpha depois do diálogo que tinham tido durante seu último encontro, ele nunca teria adivinhado que as coisas poderiam correr tão suavemente como estava acontecendo.

Mais cedo, fora sua determinação que o fizera tomar a decisão de convidar o Alpha para comer junto a ele e Uraraka antes que pudessem seguir de volta para o campus, onde usariam uma sala de estudos para se reunir e continuar a elaboração do trabalho, já que nenhum deles tinha almoçado ainda. Além disso, a presença de sua amiga serviria para fazê-lo sentir-se mais confortável e seguro, ainda que na presença do outro, tornando assim toda a situação mais fácil, teoricamente. Entretanto, ele acabara ficando confortável demais com a presença de Uraraka e se empolgara em uma conversa sobre um de seus temas favoritos, acabando por basicamente ignorar completamente a presença de Todoroki. Aquilo tinha sido extremamente rude, não importando como se olhasse. Ele tinha certeza de que o Alpha ficaria extremamente ofendido, mas, se isso aconteceu, o outro não deu sinal algum.

Além disso, Todoroki até mesmo demonstrara interesse no tópico, não se importando em continuar a conversa sobre o assunto com o Omega de maneira natural.

Mesmo que no começo estivesse receoso, Midoriya acabara descobrindo que era surpreendentemente fácil manter um diálogo com Todoroki. Ainda que não falasse muito, o Alpha respondia tudo com franqueza e objetividade (coisa que Midoriya notou ser uma característica do outro), mas sem soar desinteressado ou aborrecido em momento algum. Além disso, o meio a meio era um bom ouvinte, aparentando realmente prestar atenção no que o Omega falava. Assim sendo, a conversa acabou ganhando um ritmo agradável de maneira muito mais natural do que o menor poderia esperar, e antes mesmo que percebesse, ambos estavam caminhando lado a lado na calçada, conversando de maneira quase que completamente descontraída.

- Então quer dizer que você tem irmãos, Todoroki-kun? – Perguntou Midoriya enquanto tirava a mochila dos ombros, a colocando no banco e a empurrando para sentar em seguida.

- Sim. Três. – Respondeu Todoroki, tirando alguns livros de dentro da própria mochila para coloca-los sobre a mesa, já sentado. – Uma irmã e dois irmãos, todos mais velhos.

- Uau! Então isso significa que você é o caçula! – Exclamou Midoriya, genuinamente admirado. 

- Você parece surpreso. – Constatou Todoroki de maneira plana. A declaração fez o mais baixo corar um pouco, levemente envergonhado com a própria reação desmedida.

- Ah, bem, sim. É que você não passa muito a imagem de “irmão caçula”. – Retrucou numa pequena risada sem graça.

Quando pensava em famílias grandes, a imagem que vinha a cabeça de Midoriya era a de um lar agitado, no qual irmãos caçulas são alvos de mimos e pegadinhas dos irmãos mais velhos, mas essa imagem não combinava em nada com a de Todoroki, com seu semblante sempre sério e suas poucas palavras.

Por outro lado, parando para pensar, Todoroki carregava um sobrenome de peso no mundo das grandes corporações. Midoriya sabia, por alto (e graças às investigações de Uraraka), que esse parentesco era o suficiente para gerar uma entrada na universidade por recomendação à Todoroki, ainda que Midoriya não tivesse qualquer dúvida de que o Alpha era extremamente qualificado. Aparentemente o meio a meio não tinha a menor dificuldade nas atividades universitárias, conseguindo se manter no topo dos rankings de desempenho quase que sem esforço aparente. Todoroki exalava imponência, isso era inegável. Isso fazia Midoriya se perguntar se a dinâmica no lar de alguém assim era realmente como ele imaginava vindo de qualquer lar “comum”. Talvez todos os irmãos do Alpha fossem como ele, afinal.

E então, como se pudesse ler os pensamentos do menor, o meio a meio voltou a falar:

- Eu fui criado de forma diferente dos meus irmãos. – Declarou. – Meu pai já tinha planos pra mim a partir do momento que eu nasci.

Aquilo fez o sorriso de Midoriya sumir. Ainda que o tom de Todoroki estivesse tão imutável quanto sua expressão, o Omega pode perceber um relance de... alguma coisa passando pelos olhos díspares que se escondiam atrás das lentes dos óculos do meio a meio. Algo semelhante a o que ele percebera na biblioteca em seu último encontro.

“Afinal, eu sou um Alpha...” Lembrou Midoriya, tendo uma nova amostra do pesar que sentira quando ouvira essas palavras pela primeira vez na voz do mais alto, olhar perdido em algum lugar distante que ele não era capaz de ver.

Aquilo o fez decidir que já havia falado o suficiente sobre aquele tópico, e que ir mais além seria imprudente e desrespeitoso de sua parte. Mesmo que Todoroki não tivesse, até agora, demonstrado qualquer sinal de irritação ou descontentamento com qualquer que fosse o assunto, o Omega ainda não queria arriscar aborrecer o Alpha.

- Ah... Bem, eu não tenho irmãos, então não tenho como ter uma ideia real sobre como deve ser. – Comentou da maneira mais casual possível, abrindo o próprio caderno que colocara sobre a mesa e procurando as anotações que tinha feito anteriormente. – Eu trouxe as anotações sobre as quais mencionei por mensagem. – Continuou, aproveitando a oportunidade para trocar de assunto.

Todoroki balançou a cabeça, confirmando sem tirar o olhar da tela do notebook que acabara de abrir, procurando algum arquivo.

Enquanto esperava, Midoriya apoiou o cotovelo na mesa para repousar o queixo na mão, cruzando os pés e deixando o olhar vagar pelo ambiente no qual estavam até parar no rosto do Alpha, que estava concentrado em sua tarefa atual.

Ele então deixou sua atenção passear pela figura do meio a meio.

Se Midoriya não conhecesse o outro e alguém tentasse descrevê-lo, ele provavelmente imaginaria alguém de aparência completamente excêntrica e caótica, algo que seria difícil de ignorar por chamar tanta atenção. Teoricamente seria difícil se afastar desse tipo de percepção inicial quando se tem cabelo bicolor, olhos díspares e uma cicatriz misteriosa no rosto. Era quase como que se um personagem de mangá tivesse criado vida.

Entretanto, Todoroki não passava nenhuma dessas coisas. Muito pelo contrário, tudo que fazia parte de sua “composição” era perfeitamente harmonioso. O cabelo caía de maneira suave e fluida, passando a sensação de que ele não precisava realmente se esforçar para deixa-lo bonito, ainda que o comprimento, somado aos óculos que o Alpha usava, dificultasse um pouco a visualização dos olhos do meio a meio de maneira clara. De qualquer forma, isso não era nem de longe suficiente para ofusca-los completamente. Com a parte branca do cabelo caindo em volta do olho direito, o preto acinzentado da íris passava um ar de frieza que era acentuado pelo semblante constantemente sério do outro. Enquanto isso, o olho esquerdo, azul, estava cercado de vermelho, tanto do cabelo quanto da cicatriz que se estendia por parte do seu rosto, assim acabando por inevitavelmente chamar mais atenção. Juntos, os olhos de Todoroki eram agentes extremamente influentes em sua aura imponente e de aparência inalcançável. O Omega já sabia como era a sensação de estar sob o olhar incisivo do outro, e considerava algo realmente intimidante (ainda que hipnotizante). Ele podia apenas imaginar que ser o alvo de um olhar de desprezo por parte desse Alpha não devia ser uma experiência muito agradável.

E, mesmo com todas essas considerações, Midoriya não conseguia fugir de sua opinião inicial de quando vira aquele par de olhos pela primeira vez.

Eram incrivelmente lindos. Fascinantes, até.

Não só os olhos, na verdade. Todoroki era, na sua opinião, alguém muito bonito. Todas as características que convencionalmente serviriam para orquestrar uma cacofonia, nele pareciam ter sido cuidadosamente encaixadas para formar uma obra perfeita, impossível de se reproduzir. Com sua aparência e porte incontestável somados a sua inteligência e competência, mais sua essência avassaladora, Todoroki poderia muito bem ser considerado o Alpha dos sonhos de qualquer Beta ou Omega.

Midoriya sabia como isso podia ser perigoso.

Como Alphas poderiam ser perigosos.

- Pronto. Pode me passar as anotações.

Perdido em seus próprios pensamentos e considerações, o menor acabou tendo um pequeno sobressalto ao ouvir a voz do outro puxando-o de seu devaneio. Sem perceber, acabara encarando o meio a meio de maneira descarada, e a vergonha e o medo de ter sido pego em flagrante fizeram as pontas de suas orelhas esquentarem.

- A-Ah, sim! – Desviando o olhar rapidamente, Midoriya se apressou para pegar o próprio caderno e empurrá-lo na direção do Alpha, que inclinou levemente a cabeça ante a reação exagerada do menor, aparentemente um pouco confuso. – Aqui está.

Bem, se Todoroki tinha percebido o comportamento do outro, decidira não fazer qualquer comentário a respeito, apenas pegando o caderno que lhe era oferecido e começando a transcrever informações para o arquivo que aparecia em sua tela.

- Acha que essa parte fica melhor no tópico 3.5? – Perguntou o meio a meio, girando um pouco o laptop  para que Midoriya pudesse ver a tela.

Se esticando um pouco por sobre a mesa, o menor leu rapidamente as informações na tela e balançou a cabeça, concordando.

- Provavelmente. Acho que combina mais.

Com um pequeno maneio de cabeça, Todoroki virou o aparelho de volta para si para aplicar as devidas alterações acordadas, e Midoriya recuou de volta em seu assento, se ocupando em abrir um dos livros que o Alpha trouxera e procurar por partes que pudessem ser usadas no trabalho, finalmente focando no desenvolvimento de sua tarefa.

Assim sendo, ele não foi capaz de reparar que durante várias ocasiões durante as horas que se seguiram, olhos díspares encontravam oportunidades de fita-lo de maneira discreta por cima da tela de um notebook.

~.~.~

Um breve toque de notificação fez Todoroki desviar a atenção do espelho meio embaçado para o celular que jazia no canto da bancada, uma pequena luz piscando rapidamente com pequenos intervalos para sinalizar que havia uma nova mensagem. Cessando os movimentos da própria mão e tirando a escova de dentes da boca, o meio a meio cuspiu brevemente na pia antes de trocar o objeto que segurava para a mão esquerda, apanhando o celular e checando do que se tratava com a mão agora livre: uma nova mensagem com foto.

Normalmente, ele ignoraria o celular até que tivesse terminado o que quer que estivesse fazendo - especialmente em um momento como aquele: escovando os dentes ainda de toalha amarrada na cintura depois do banho – mas...

[15:06] Midoriya: Contemple!

E, logo abaixo, a imagem. Uma foto tirada por Midoriya com foco em duas esferas relativamente grandes sendo seguras por uma das mãos do Omega, ainda que Todoroki não tivesse muita certeza do que eram, cada uma tinha uma espécie de marca que as dividia exatamente no meio. Também era possível ver parte das pernas do rapaz, que aparentemente estava sentado num vagão de trem. Aquilo significava que o garoto já estava a caminho.

Colocando a escova de volta na boca e a prendendo ali para ficar com ambas as mãos livres, o meio a meio digitou sua resposta.

[15:08] Todoroki: Impressionante.

[15:08] Todoroki: O que são?

A réplica não demorou a chegar.

[15:09] Midoriya: Você vai ver.

Aquilo fez as sobrancelhas de Todoroki se contraírem por um breve segundo, a mensagem despertando um pouco da curiosidade do Alpha. E, antes que ele pudesse enviar qualquer resposta.

[15:09] Midoriya: Acho que só faltam três estações agora, quase lá.  (•̀ᴗ•́)و ̑̑

[15:09] Todoroki: Isso é novidade.

Comentou, ciente de que o outro entenderia a que ele se referia.

[15:10] Midoriya: Uraraka me ensinou a usá-los!

[15:10] Midoriya: (人´∀`*)

A troca de mensagens entre os dois vinha se tornando algo mais comum desde que Midoriya, pegando o Alpha de surpresa, mandara uma notícia sobre novidades nas produções vindouras no universo dos heróis, um dia depois de se reunirem para a elaboração do trabalho e terem conversado sobre o assunto pela primeira vez. Na verdade, de terem conversado pela primeira vez.

A partir dali, as mensagens que antes se resumiam exclusivamente ao propósito de troca de informações acerca do trabalho começaram a ganhar aberturas para assuntos casuais, o que era muito bem-vindo. Era interessante conversar com o outro por aquele meio. Todoroki descobrira que Midoriya conseguia ser quase tão expressivo por ali quanto era pessoalmente, e, assim, o Alpha se pegava por muitas vezes conseguindo projetar uma imagem mental de como o outro deveria estar no momento que falava alguma coisa.

De qualquer forma, era a primeira vez que o outro usava aquele tipo de emoticon.

[15:10] Todoroki: É adorável.

Após enviar a mensagem, Todoroki aguardou um pouco, observando o ícone que indicava que o outro ainda estava online. Entretanto, quando vários segundos se passaram sem que o “online” se transformasse em “digitando”, o meio a meio voltou a pousar o celular na bancada sem o bloquear. Enquanto retomava sua tarefa de escovar os próprios dentes, Todoroki franziu as sobrancelhas minimamente para o próprio reflexo, se perguntando se o que dissera tinha sido um erro, ainda que estivesse sendo franco. Talvez tivesse feito Midoriya se sentir desconfortável com o comentário, mesmo que sem intenção.

Ou talvez ele estivesse apenas se preocupando sem motivo. Pensar demais em algo tão trivial como aquilo não era de seu feitio, mas quando se tratava de Midoriya, Todoroki tinha percebido que era inevitável para si mesmo.

O pensamento o divertiu com sarcasmo.

Ele já estava secando a própria boca com a toalha que tinha jogada por cima dos ombros quando finalmente viu uma alteração na tela de seu celular, o “digitando” e o “online” alternando-se entre si enquanto o outro provavelmente escrevia e apagava o que quer que fosse dizer, até que, enfim, uma nova mensagem chegou.

[15:14] Midoriya: Vou tentar pegar uma mesa perto da janela.

Parado na mesma posição, Todoroki continuou fitando o celular, que permaneceu imutável por alguns segundos, até que, brevemente, o “digitando” voltou a aparecer, dando lugar a um “offline” imediatamente depois.

[15:15] Midoriya: (//Ò/﹏Ó//)

O Alpha não escreveu uma resposta, ciente de aquele tinha sido o fim da pequena conversa. Tudo que restava então era se vestir e arrumar a própria mochila para poder sair e finalmente encontrar o Omega.

Sem que percebesse, um pequeno sorriso de canto se formou em seu rosto.

Ele podia apostar que Midoriya devia estar vermelho agora.

~~~

A fachada do café era exatamente como ele se lembrava. Bom. Aquilo significava que ele a tinha descrito corretamente para Midoriya, e, assim sendo, o outro não devia ter encontrado problemas em achar o lugar. Além disso, ele não tinha recebido qualquer nova mensagem, o que também indicava a mesma coisa. Se tivesse se perdido, o Omega provavelmente teria mandado algo.

O tilintar de um pequeno sino soou quando Todoroki atravessou a porta para dentro do ambiente aconchegante, o cheiro de café que tomava conta do ambiente invadindo suas narinas. O meio a meio não se considerava um grande amante de café, mas o cheiro era algo indiscutivelmente agradável.

Agora parado junto a porta, o rapaz deixou seus olhos vagarem pelo local rapidamente, escaneando toda a figura diante de seus olhos e se detendo para uma atenção mais minuciosa às mesas que se postavam próximas às grandes janelas do lugar.

O café não estava lotado, mas ainda estava bem movimentado. O ambiente era preenchido por vozes de diversas pessoas em conversas sobre os mais variados assuntos, mas o som era comedido, e, portanto, não era incômodo. Esse era um dos motivos pelos quais aquele café atraía tantos estudantes. Em várias mesas podia-se ver pessoas sozinhas com seus livros, notebooks e copos de café. Claro, havia também pessoas acompanhadas, fosse também estudando ou apenas num encontro casual.

Entre todas essas pessoas, um garoto de cabelo verde.

De onde estava, Todoroki podia ver apenas a parte de trás dos ombros e cabeça do Omega, distraído com algo que via através da janela que se estendia logo a sua esquerda. Ele então se encaminhou até lá.

- Olá. – Cumprimentou simplesmente ao parar ao lado da mesa, jogando a mochila no banco em frente a Midoriya antes de sentar-se.

- Ah, oi! – Respondeu o menor, voltando a atenção para o recém-chegado e o saudando com um sorriso. Todoroki sentiu uma pontada no peito por uma fração de segundo.

- Está esperando há muito tempo?

Midoriya negou com a cabeça.

- Não mesmo, acabei de chegar! Fiquei com medo de me perder no caminho, mas, como você disse, foi bem simples de achar. – O garoto deu uma pequena risada, apoiando os braços na mesa. – Você vem muito aqui, Todoroki-kun?

Foi a vez de Todoroki negar com a cabeça.

- Na verdade, não. Só vim aqui uma vez, pra ser sincero. – Revelou. – E, mesmo assim, não demorei muito. Só comprei algo e fui pra casa. Aqui é bem tranquilo, mas ainda não é tanto quanto o apartamento.

Midoriya confirmou com um maneio de cabeça, sinalizando que tinha entendido.

- Faz sentido, já que mora perto.

Era a primeira vez que se reuniam em um lugar que não a biblioteca da faculdade (afora a lanchonete na qual eles haviam comido os sanduíches um dia, antes de finalmente voltarem para a faculdade). A mudança de ambiente ocorrera graças a uma manutenção que seria realizada na biblioteca, nesse dia, impossibilitando a visita de estudantes. Assim sendo, a dupla teve de decidir um novo local para a reunião.

Com o apartamento de qualquer um dos dois sendo uma opção claramente nula, Todoroki sugerira o café próximo a sua casa, e Midoriya aceitara.

- Você já pediu algo? – Perguntou Todoroki enquanto abria a própria mochila, fitando o Omega pelo canto do olho por um instante logo depois de falar.

- Ah, ainda não. – Negou o outro.

- Certo, então eu vou até o balcão fazer os pedidos, e quando eu voltar você me mostra o que era aquilo na foto de mais cedo. – Sugeriu o Alpha, deixando o laptop sobre a mesa e o ligando antes de levantar. As esferas não tinham fugido de sua memória. – O que vai querer?

- A-Ah, certo! – Concordou o mais baixo num pequeno sobressalto, se virando e começando a remexer a própria mochila, em busca de algo. - Só um chá gelado simples, o número quatro - especificou -  aqui está o... eh? –

Assentindo com a cabeça, Todoroki não esperou Midoriya terminar sua sentença, ignorando o dinheiro que o outro tinha apanhado da mochila e se virando para caminhar até o balcão, deixando para trás um Omega desnorteado de sobrancelhas arqueadas, ainda sendo capaz de ouvi-lo o chamar enquanto se afastava.

Chegando ao caixa, Todoroki apoiou uma das mãos no balcão, desviando o olhar para o painel na parede atrás do mesmo onde eram exibidas as opções de bebidas.

- Boa tarde. – Falou, ainda enquanto escolhia o que ele mesmo beberia. – Um chá gelado número quatro e... um cappuccino italiano. – Resolveu, por fim, abaixando o olhar para a atendente que até então estivera em silêncio.

Quando o fez, Todoroki percebeu que a garota tinha no rosto uma expressão de choque, olhos surpresos vagando pelo rosto do meio a meio, como se tentassem absorver tudo que estavam vendo. Aquilo fez o Alpha estreitar os próprios olhos de maneira ínfima na direção da atendente, que abaixou o próprio olhar rapidamente para o caixa num sobressalto, começando a tocar em alguns pontos da tela e exclamando como se tivesse sido puxada de um transe:

- A-Ah! Boa tarde! Claro! Um chá gelado e um cappuccino italiano, saindo! – Confirmou com um sorriso desconcertado, as orelhas ganhando um tom rosado, provavelmente envergonhada por ter sido pega encarando.

Enquanto a outra falava, Todoroki tirou a própria carteira do bolso, separando o dinheiro e o depositando no balcão sem nem mesmo esperar que a atendente falasse o preço, ciente dos valores do que tinha pedido graças a tabela na parede. Ainda com ares de vergonha, a moça recolheu o dinheiro e concluiu o pedido.

Sem mais uma palavra sequer, Todoroki se afastou, dirigindo-se até próximo da parte do balcão onde as bebidas eram entregues, deixando os olhos passearem pelo lugar de maneira entediada enquanto esperava.

Ele pode ver quando a atendente abandonou o caixa pouco depois de ele se afastar, correndo até as máquinas de café nas quais outra funcionária trabalhava, a puxando e começando a falar algo aos cochichos. Ainda juntas, as garotas viraram a cabeça de maneira desconfiada para olhar na direção de Todoroki, apenas para se assustarem e se separarem num pulo ao perceberem que estavam sendo observadas, começando a operar as máquinas imediatamente. O Alpha franziu as sobrancelhas levemente, confuso e minimamente incomodado por uma fração de segundo.

Seu pedido não demorou a ficar pronto, e quem veio entregar os copos foi a atendente do caixa. No fundo de sua mente, Todoroki absorveu a ação com estranheza, pensando que aquele não seria o procedimento normal. De qualquer forma, aquilo não o incomodou o suficiente para que pudesse dar alguma importância.

- Aqui está! – Exclamou a funcionária enquanto estendia os copos. Por algum motivo, os olhos da mesma disparavam entre o Alpha e um dos copos de maneira veloz e repetitiva. Além disso, suas bochechas estavam rosadas, e ela parecia um tanto nervosa. Todoroki se perguntou se ela tinha um resfriado ou algo assim.

- Obrigado. – Ignorando o comportamento da moça, o meio a meio agradeceu de maneira pragmática e pegou suas bebidas, se virando para voltar até Midoriya.

Assim que chegou na mesa, o Omega disparou:

- Todoroki-kun, você não esperou eu entregar o dinheiro! – Queixou-se enquanto o mais alto se sentava.

- Não tem problema, fica por minha conta. – Comentou o Alpha simplesmente, entregando o copo com chá ao seu respectivo dono.

- Mas... – Midoriya tentou continuar, mas Todoroki o cortou.

- Se o incomoda, pense como uma compensação por ter feito você pegar o metrô enquanto eu pude vir a pé.

Midoriya ainda não parecia exatamente satisfeito, mas se resignou a encolher os ombros e desviar o olhar, cessando as reclamações e puxando o copo recém-entregue para junto de si com ambas as mãos.

- ... Obrigado, então.

- Disponha. – Respondeu, dando um gole no próprio café antes de deixar o copo de lado, digitando a própria senha no notebook antes de se voltar para o Omega mais uma vez. – Então... as coisas da foto? –

- A-Ah... Sim...! – Exclamou o outro, também deixando sua bebida de lado e se voltando para sua mochila, abrindo o bolso da frente da mesma e tirando dali as mesmas duas esferas que Todoroki tinha visto através da foto, mais cedo.

Todoroki continuou em silêncio, observando quieto e com interesse enquanto Midoriya se remexia no próprio assento e mostrava os objetos, um em cada mão, parecendo começar a ficar um pouco envergonhado. Agora, ao vivo, ele podia entender melhor do que se tratavam. Duas esferas de plástico, cada uma com um vinco que as dividia no meio. O Alpha tinha a vaga lembrança de já ter visto algo assim em algum lugar... Aquelas eram...?

- E-Eu sei que eu fiz todo um mistério sobre isso mais cedo, mas... é só que eu fiquei realmente empolgado quando os consegui e achei que eram superlegais, mas parando pra pensar na verdade é meio bobo! – Justificou-se o Omega em antecedência apressada, rosto começando a mudar de cor. – Acontece que quando estava indo pra estação vi que tinha essa máquina nova do lado de fora dessa loja, e eu acabei não resistindo e parei pra tentar a sorte e acabei conseguindo esses...

Midoriya então colocou uma das esferas em cima da mesa, segurando a outra com ambas as mãos antes de dividi-la em duas metades, revelando um chaveiro com uma aranha na ponta. Bom, não qualquer aranha. Todoroki podia não ser tão fã de filmes de heróis quanto Midoriya, mas foi capaz de reconhecer aquilo, e agora entendia a empolgação do outro. Era o símbolo do Homem-Aranha.

O Alpha estava prestes a fazer um comentário quando o menor depositou o chaveiro e as partes da esfera, agora aberta, sobre a mesa, pegando a outra e a estendendo na direção do maior, parecendo cada vez mais inseguro. Curioso, Todoroki pegou o objeto, continuando a olhar Midoriya enquanto o mesmo voltava a falar.

- Quando vi o que veio nesse, eu, mm, acabei lembrando de você, Todoroki-kun, e eu pensei que tinha sido muita sorte ter conseguido esse, na verdade. – Contou, coçando a bochecha com o indicador de maneira desconsertada. - Uh, eles são colecionáveis, mas eu soube que os objetos dos Vingadores originais são mais difíceis de conseguir, então...

Todoroki observou o rapaz sentado a sua frente por mais um segundo antes de baixar o olhar para o que tinha em mãos, finalmente separando as partes da esfera e encontrando mais um chaveiro, só que, dessa vez, não era uma aranha que estava pendurada na ponta.

- É o... – Começou, erguendo o olhar de volta para o Omega, que também voltara a olhá-lo, um sorriso tímido exibido em seus lábios.

- O Mjolnir. É. – Completou Midoriya com animação contida enquanto o Alpha abaixava o olhar mais uma vez, estendendo o chaveiro na palma da mão para vê-lo melhor. A correntinha de metal se conectava a pequena réplica do martelo usado por Thor, e era muito bem feita, na verdade. Haviam imitado os detalhes do cabo e até mesmo os padrões nórdicos da arma. – Achei que fosse gostar. – Essa última parte foi pronunciada mais baixo do que o que vinha falando antes, mas não foi tão baixo que Todoroki não pudesse ouvir.

O meio a meio imediatamente ergueu a cabeça, fitando o outro com um leve misto de confusão e surpresa.

- Você... está me dando ele? – Perguntou, piscando algumas vezes.

Midoriya confirmou com a cabeça, desviando o olhar mais uma vez, agora com as bochechas mais vermelhas do que nunca.

- E-Eu sei que não é grande coisa! Não precisa aceitar se não quiser, é só... – Começou o Omega, dessa vez falando mais alto com o nervosismo.

- Não. – Cortou o meio a meio, balançando a cabeça e alternando o próprio olhar entre o objeto que tinha na mão e a pessoa a sua frente. – Eu quero sim, mas, quer dizer, tudo bem você me dar isso? Você disse que os objetos dos originais são mais difíceis de conseguir, certo? E você realmente gosta de heróis. Se quiser a coleção...

Dessa vez, foi a vez de Midoriya interrompê-lo.

- Tudo bem! – Declarou o Omega, sorrindo de uma maneira tão sincera e gentil que Todoroki não pode evitar de prender o ar por um segundo, pego de surpresa. – Eu realmente quero que fique com você. – Completou, firme.

Ah, aquilo realmente não podia fazer bem pro coração.

Todoroki podia sentir o ribombar em seu peito, acompanhado de uma espécie de calor desconhecido que se espalhava pela mesma área. Aquilo não era normal.

Pigarreando de maneira inaudível e se recuperando parcialmente do choque, o Alpha voltou o olhar pro outro, fechando a mão em volta do novo presente e o apertando levemente.

- Obrigado. – Agradeceu, ganhando em troca mais um sorriso avassalador.

- Disponha.

O Omega então recolheu o outro chaveiro que ainda estava sobre a mesa, o guardando e pegando um livro, começando a procurar por uma página para que pudessem dar início ao trabalho.

Enquanto isso, Todoroki se virou no assento, abrindo um dos bolsos da mochila para guardar seu novo presente. Decidiria onde iria coloca-lo depois.

Quando voltou para a posição anterior, ficou surpreso ao ver que a expressão no rosto de Midoriya tinha mudado completamente. O sorriso havia sumido, e o garoto tinha toda a atenção concentrada em um ponto logo ao lado do notebook do meio a meio, que não teve tempo de acompanhar o olhar do outro para ver do que se tratava, já que assim que percebeu a atenção do Alpha em si o menor o desviou a própria, dando uma risada sem graça e corando de leve antes de falar.

- A-Ah, como esperado você também é popular fora da faculdade, Todoroki-kun.

- O que? – Perguntou, sobrancelhas se juntando em confusão genuína.

- O seu café. – Respondeu o Omega de maneira simples, sorrindo de maneira pouco natural enquanto indicava o copo do meio a meio, quase intocado.

Todoroki imediatamente voltou a atenção para o cappuccino que havia deixado de lado, pegando o copo e o girando, ainda com as sobrancelhas levemente franzidas, mas logo tendo sua expressão de confusão sendo substituída por uma de surpresa ao ver algo que não tinha reparado antes escrito na parte lateral inferior do copo.

Um número de telefone.

- Eu não tinha visto. – Disse finalmente depois de piscar algumas vezes, balançando a cabeça e abaixando o copo. O mais baixo apenas deu de ombros de maneira quase imperceptível, mantendo o pequeno sorriso enquanto abaixava o olhar para o livro que tinha sobre a mesa. – Bem, não faz diferença. – Continuou de maneira simples, redirecionando sua atenção para a tela do computador. – Isso não me interessa.

Ele sequer precisava ter dito aquilo? Estava sendo completamente franco no que tinha dito, mas não obteve resposta por parte do outro. Em vez disso, Midoriya fitou o Alpha de soslaio por alguns instantes, olhar cuidadoso como se tentasse decidir se podia ou não confiar na declaração.

- Tudo bem. – Ouviu, enfim.

Depois disso, ambos pareceram decidir se dedicar a elaboração da tarefa a qual tinham como objetivo desde o início. O clima estranho demorando a se dissipar enquanto o tempo passava. Ainda que aquele não fosse o melhor cenário, Todoroki sabia que não deveria pressionar Midoriya de qualquer forma que fosse. Prometera isso a ele. Então, em vez disso, optou por simplesmente respeitar o espaço do outro.

Assim sendo, a tarde se passou sem muito mais conversas, e quando ambos guardaram suas coisas para irem embora, Todoroki não notou nada de especial em suas ações. Com seu próprio desinteresse sincero sobre aquilo, o gesto foi tão trivial e sem importância que ele não percebeu. Ele jogara fora o copo de café sem dar sequer uma segunda olhada no número escrito.

Ele também não percebeu que Midoriya tinha reparado naquilo.


Notas Finais


É isso, espero que tenham gostado. Me deixem saber o que estão achando, isso ajuda bastante! Ainda não tinha trabalhado em algo mais puxado pra um slow burn, então espero estar fazendo um bom trabalho. Sei que pode ser meio torturante ter que esperar por algo mais, mas a recompensa depois de uma longa jornada é sempre mais gratificante.


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