“A alta elite deve permanecer”, a frase a qual Hyunjin era obrigado a ouvir todos os dias de seus pais, mentores, e até mesmo dos plebeus que amavam a família real. Aquele seria, definitivamente, o momento mais importante para todos os moradores do reino de Gave Noir; era o momento da renovação da liderança, o momento em que o príncipe, cujo seja o mais velho, deveria subir ao trono como rei, e governar o reino de maneira sábia e cautelosa, assim como seu antecessor.
Com toda essa pressão em cima de um garoto de dezoito anos, ele poderia simplesmente enlouquecer. No entanto, foi treinado desde o seu nascimento para o momento de troca; apenas seus mentores sabiam sobre tudo o que ele foi obrigado a provar, para mostrar seu valor, e o quanto o jovem cresceu revoltado com a sua posição social — não que ele não gostasse disso, pelo contrário, adorava o poder que tinha, mas nunca lidou bem com regras —.
Naquele exato momento, em especial, Hwang Hyunjin, o primogênito dos Hwang, explorava seu imenso closet, à procura de seu novo terno feito pelo mais renomado artesão de Gave Noir. Sinceramente, o rapaz odiava passar horas em pé, parado, apenas para confeccionarem novas roupas, as quais ele usaria apenas uma vez em algum evento, antes de voltar ao artesão e seguir nesse ciclo sem fim, mas seu pai o obrigou a fazer aquilo, já que aquele maldito baile da coroação era especial não só para aqueles de seu reino, mas para reinos vizinhos também, além de ser um evento milenar, como a família dizia. A única liberdade que o pobre Hwang teve em toda essa discussão foi poder escolher o tema da coroação e do seu baile, e, como ele não queria e nem estava com paciência para olhar para os seus convidados, simplesmente deu a desculpa de que um baile de máscaras seria algo adequado para ele, além de ser muito chique e conceituado.
— Querido filho, como está se sentindo sendo o próximo herdeiro do tão glorioso trono real de Gave Noir? – O rei Hwang, pai de Hyunjin, entrou no quarto do rapaz com uma voz forte e confiante, contudo, assim que olhou em volta e percebeu que o príncipe não estava no cômodo, abaixou o tom e, automaticamente, o sorriso orgulhoso que mantinha em seu rosto desapareceu como fumaça.
Faltavam menos de dez horas para que o príncipe Hyunjin se tornasse o mais novo rei Hwang, e cerca de trinta horas para o jantar real, o qual conheceria sua noiva, futura rainha, a princesa Yoon, do reino vizinho ao seu. Sinceramente, o jovem não estava nem um pouco feliz com isso. Não poderia, de jeito algum, escolher viver a sua própria vida, com quem casar, ou até mesmo o que vestir! Esses pensamentos sempre o deixaram revoltado, e sentir que, de algum jeito, deveria parar com essa sua manipulação hereditária.
— Sabe, senhor Choi… — chamou pelo mentor. — Sei que o senhor já explicou diversas vezes que isso que eu irei fazer é bom para mim, mas… Eu ainda não aceito. Não quero liderar todo um reino, não quero me casar com a senhorita Yoon, nem ao menos consigo pensar em mim dentro do que meu pai fala.
O simples desabafo não era algo novo para o mentor, que sempre ouviu isso do jovem Hwang, desde que ele era uma criança, mas suas respostas deveriam ser contrárias ao que o rapaz dizia. Seu objetivo era fazer Hyunjin entender seu lugar no trono real, e agir da mesma forma que todas as gerações passadas agiram. O mentor Choi não conseguiu pensar em uma resposta melhor do que “você já sabe o que vou dizer”, porém, o que o Choi não sabia, era o porquê de o Hwang usar aquelas palavras tão precisas, em vez de um simplório “estou cansado de tudo isso”. O jovem estava desafiando a paciência de seu pai, que estava um pouco afastado, mas ainda assim sob a vista dele, enquanto testavam alguns sapatos sociais. O mais velho, por sua vez, olhou sério para o filho. Ele já sabia há tempos que o jovem não gostava da hierarquia a que foi, e ainda era, obrigado a fazer parte, mas o comportamento revoltado e compulsivo do primogênito da família Hwang era algo simplesmente inadmissível. Até Hyunjin sabia disso, e mesmo assim, tentava ganhar de seu pai por insistência. Sorriu cínico de volta para o pai após o olhar de repreensão, enquanto se levantava para finalmente vestir seus trajes por completo.
(. . .)
Quando o relógio marcou duas horas para a coroação, HyunJin suava frio. Ele estava do lado de fora do jardim real, o local que escolheu para a sua revoltante comemoração. Fevereiro era um dos meses frios em Gave Noir, mas o jardim ficava no campo mais ensolarado do palácio, o que deixava o clima ameno, e não aquele frio congelante, porém, de qualquer forma, todos os ternos e vestidos eram revestidos por veludo. Hyunjin cumprimentava todos os convidados de sua lista, os reis dos reinos vizinhos, seus antigos amigos, e aqueles “amigos” de seu pai também, ou como eles foram apelidados pelo jovem, os baba-ovos.
Todos estavam elegantemente vestidos e usando suas máscaras chiques e deslumbrantes, dignas da realeza, e talvez até um pouco extravagantes demais. Dançavam ao som da música clássica tocada no piano, mas tudo o que Hyunjin sonhava estava acontecendo, nenhum rosto conhecido em seu campo de visão, trazendo um sentimento incrivelmente indescritível de paz; até que duas crianças que ele não fazia a menor ideia de quem eram o acordaram de seu breve devaneio, para dar o discurso de boas vindas para todos os convidados. O jovem forçou um sorriso e revirou os olhos, respirando fundo, enquanto ia até a mesa de banquete, pedindo por fim, a atenção de todos. Tudo o que Hyunjin desejava naquele momento era um pouco de paz de espírito.
Faltavam apenas quarenta e cinco minutos para o início da coroação e do baile real, onde ele seria obrigado a dançar com sua "pretendente", a senhorita Yoon, e seria também, a sua primeira ação como rei. Sua respiração começou a ficar descompassada, sua cabeça a mil, mal conseguia ouvir seus próprios pensamentos no meio daquele bolo de pessoas, mas ele sabia que era obrigado a se manter firme ali, todos os olhares estavam obviamente virados para ele, e alguns passos à sua frente estava a coroa. Hyunjin foi tirado novamente de seus devaneios, com uma mão feminina tocando em seu ombro, coberta por luvas rendadas. O Hwang virou-se na direção de onde foi chamado, vendo uma garota que parecia ser um pouco mais velha que ele, de cabelos escuros e compridos, vestindo um lindo vestido de gala, branco com detalhes cinzas, e seus olhos cobertos por uma delicada, porém deslumbrante, máscara, feita basicamente de renda, que mostrava que a garota estava desconfortável ou envergonhada com toda aquela situação. O jovem Hyunjin, assim que a viu, levantou-se e beijou delicadamente sua mão, obviamente estava forçando essa tamanha etiqueta, mas ele sabia que qualquer deslize que tivesse, estaria “frito”. Assim que ele voltou a sua postura ereta, ouviu a voz de um homem mais velho vindo de trás da jovem moça, que tinha traços semelhantes aos dela, logo chutou que o homem seria o pai.
— Príncipe Hwang, gostaria de lhe apresentar pela primeira vez, minha tão inesquecível filha, a senhorita Yoon. — inesquecível foi apenas o bafo dele, pois, se Hyunjin não fosse obrigado a se casar com ela, a esqueceria em questão de segundos. — Gostaria que você dançasse com ela antes da coroação, vossa alteza. Acredito que assim, o senhor se apaixonaria pelos seus belos passos de pluma mais rápido.
O príncipe foi praticamente jogado na pista de dança, obviamente junto a garota, e quase automaticamente, eles já começaram a dançar pelo centro do jardim, ao som de qualquer música, claramente romântica, tocada no piano. As mãos da jovem estavam pousadas em seus ombros, e seu rosto encaixado entre seu ombro e pescoço, enquanto Hyunjin segurava a cintura de Yoon, claramente com nojo; não nojo da garota, mas da situação em si, e parecia que ambos estavam nessa juntos. O rapaz sentiu a garota virando um pouco o rosto, em direção ao seu ouvido, sussurrando uma frase, que agora explicava o "inesquecível" dela.
— Eu também não queria estar aqui.
Aquilo deu um extremo alívio no coração do Hwang, ele não sabia exatamente o porque, mas não se sentia mais tão deslocado assim. Ele resolveu então responder sua frase, aproximando seu rosto um pouco mais do rosto da senhorita Yoon, mas antes que ele conseguisse ao menos formular a primeira palavra e dizê-la, ele notou um par de olhos chamativo — até demais —, e sua mente começou a borbulhar naquele momento. O príncipe não reconheceu aqueles olhos, e ele cumprimentou todos os convidados, todos mesmo! Nenhum deles era dono daquele par de olhos tão cativantes. Aquilo… Aquilo foi amor à primeira vista? Desistiu de seu movimento inicial, e apenas se manteve firme, liderando a dança com a jovem moça em seus braços, esperando conseguir acabar com aquilo o mais rápido possível, mas sua mente não deixava aqueles doces olhos sumirem de suas memórias em momento algum.
A música finalmente parou, todos olhavam atentamente para os dois no centro do jardim, prestando atenção em qualquer mínimo movimento do primogênito Hwang e da princesa Yoon, a fim de encontrar qualquer minimo erro para falarem sobre depois da festa. Os dois apenas se separaram, sorrindo sem graça enquanto se olhavam, se distanciando em seguida. O pai de Yoon foi diretamente na direção da garota, enquanto Hyunjin foi abordado por seu mentor, Choi, questionando-o para saber se tudo estava de acordo com o previsto, mas, naquele momento, pouco importava aquela festa, sua cabeça girava ao redor do paraíso nos olhos daquele desconhecido da sua festa. De pessoa em pessoa, o príncipe ia encarando e analisando os rostos, principalmente os olhos, descaradamente, o Hwang estava inquieto demais para pensar se aquilo incomodaria alguém, até sentir uma mão em seu ombro, que o forçava a olhar para ver quem era, ele já estava esperando que fosse a senhorita Yoon, mas surpreendeu-se ao ver a pessoa de olhos encantadores, que, a alguns segundos, o fez enlouquecer. Hyunjin analisou-o por alguns segundos breves. Cabelos castanhos, olhos de raposa, uma máscara simples preta, e um smoking preto e branco bem alinhado. O jovem garoto também parecia o analisar, até simplesmente decidir puxar o príncipe e arrastá-lo às escondidas até a entrada da floresta, no fundo do jardim.
— Ei, ei, ei, o que pensa que está fazendo? – Hyunjin esbravejou, não se deixaria levar por um desconhecido!
E, principalmente pelo fato dele ser o dono e a estrela da festa, não iriam aceitar que ele simplesmente sumisse de sua própria coroação, sem cogitar coisas inaceitáveis, como a fuga! Ainda mais agora, que seria sua coroação oficial. Hyunjin não tinha tempo. Por sua vez, o garoto ignorou o que o príncipe dizia e continuou seu caminho, parando frente a frente com ele, encarando-o de forma assustadora.
— Você tem certeza que gosta da princesa Yoon? – O garoto disse sem mais nem menos, direto ao ponto.
Um aceno negativo foi executado por Hyunjin, antes de, aparentemente, perceber o que estava fazendo e começar a dar um sermão no garoto. O príncipe deveria passar a imagem de moral para todos, por mais que odiasse a ideia, deveria defendê-la na frente dos outros para continuar com suas regalias. Enquanto o Hwang dizia apenas bobagens, o garoto pareceu perder completamente sua paciência, até que ele simplesmente aproximou-se do principe e o interrompeu com um beijo delicado, mas útil o suficiente para fazê-lo calar a boca. Hyunjin acabou por continuar o beijo e o garoto comentou:
— Sabe, você fala demais para um principe descontente com a própria vida. Eu sei de tudo o que sente, os rumores se espalham por todo o reino e pelos reinos vizinhos também, sabia? Não precisa continuar com essa históriazinha de “eu sou um ótimo principe e liderarei como tal”, não comigo. Sinceramente, eu acredito que seguir essa baboseira vai— — dessa vez, quem interrompeu foi Hyunjin, que puxou o garoto para mais perto, claramente necessitando mais daquilo. Se separaram por alguns bons segundos depois, se encarando e sorrindo de forma desajeitada, até que Hyunjin se atreveu a comentar.
— Para um intrometido, você também fala demais, huh? Quem é você, afinal?
— Yang JeongIn, principe do reino de Trignor. Prazer em conhecê-lo, vossa alteza.
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