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História Winter Bird - Folhas no Outono


Escrita por: AnTenshii

Notas do Autor


Heey, people!! \o

Esse cap está cheio dos babados e eu estou super ansiosa pra compartilhá-lo com vocês, então nem vou me prolongar aqui.

Boa leitura! <3

Capítulo 8 - Folhas no Outono


Fanfic / Fanfiction Winter Bird - Folhas no Outono

O sabor do passado adocicava seu espírito agora que todos os véus caíram –ou pelo menos algum deles.

As mãos que o tocava eram as mesmas de outro dia. As bochechas que estavam sendo espremidas por ela eram as mesmas também. A expressão nervosa e desacreditada criava nuances pelo antigo olhar bem-resolvido. Sun não sabia lidar com o que sentia e, inacreditavelmente, Kai também não.

Foram anos separados sem saberem o paradeiro um do outro. Sun se lembrava claramente do dia em voltou para o palácio a procura do amigo e este não estava mais lá. “Os pais dele precisaram se mudar de cidade” era o que diziam para sanar suas questões. O porquê, como e onde? Ninguém se atreveu a informar. Não por que não sabiam, mas porque não era verdade.

E talvez apenas Kai soubesse e pudesse lhe contar.

- É você mesmo...- Sun constatou com a mesma sutiliza que suas mãos tocavam a pele bronzeada como se quisesse provar que era mesmo real.

Ah, se aquele momento durasse um pouco mais... Mas a realidade era outra.

Kai se perdeu nas carícias e despertou já quando mãos ferozes agarravam um punhado de seu cabelo e o puxava com brusquidão, pegando-o de surpresa e fazendo-o soltar uma exclamação de dor.

-Yaah!

- Eu vou te matar, Kim JongIn! Seu... seu... pilantra! Traidor!- ela gritou, as palavras servindo como combustível para que ela puxasse mais forte.

E lá estava o verdadeiro temperamento de Sun. Kai podia dizer facilmente que ela jamais o perdoaria e até concordava. Um inimigo faria o que ele fez, embora não tivera escolha para manter as aparências.

- Ficou louca?!- gritou de volta, tentando soltar-se. Sentia o couro cabeludo em chamas.- Yaah, solta! Solta!

Ela obedeceu. Não satisfeita, o soltou ao mesmo tempo em que lhe desferiu um soco, fazendo-o tombar no telhado.

O rosto vermelho de raiva e, por dentro, uma reviravolta de sentimentos se sobrepunham uns aos outros. Estava aliviada por saber que o amigo estava vivo, mas ao mesmo tempo se sentia traída, irritada com tudo o que aconteceu nos últimos dias. Ele sabia quem ela era desde o princípio. Não restavam dúvidas! E esse pensamento fazia suas mãos coçarem de vontade de arrancar-lhe a cabeça –esta que Kai tateava com cuidado para se certificar de que os fios ainda estavam intactos.

- Eu não acredito que você fez isso comigo! Você... eu... Que merda é essa, JongIn?- os acontecimentos do passado se misturavam aos recentes, provocando uma explosão e mais tapas que Kai sequer fazia questão de desviar. Muito pelo contrário, prendeu o riso pelo temperamento louco do qual se lembrava muito bem.

Ele merecia e sabia disso.

- Eu sei. Também estava com saudades.- provocou, tomando a liberdade de segurar-lhe os pulsos. Sun já estava quase em cima dele, e se continuassem assim, despencariam do telhado.

- Cara de pau!- acusou raivosa. Kai achou uma gracinha.

- É assim que você me trata depois de tanto tempo?

- Me solte e eu farei pior.- ameaçou.

- Delicada como coice de cavalo. Tsc, tsc... você não era assim.- fingiu reprovação, percebendo que aquilo não era apenas uma histeria qualquer. Sun o olhava da mesma forma quando se encontraram na vila, a intenção de matar era evidente, mas também mesclava traços de exatos treze anos atrás, quando suas orbes transbordavam mágoa e rancor a cada vez que ele ameaçava partir.

- Você também não era um cretino provocador que machuca mulheres e quase explode o próprio mestre.- replicou, o tom endurecendo.- Por que fez isso, JongIn?

- Sossegue. Olhe a bagunça que você está fazendo.- ele indicou com o queixo o ombro da garota. No calor do momento, Sun esquecera dos ferimentos que, a essa altura, já havia aberto outra vez.- Chamando toda essa atenção, daqui a pouco meus homens estarão aqui.

Sun ignorou. Encarou os olhos de ébano banhados pelo brilho da lua querendo entender os motivos dele.

- Você me deve explicações. Onde esteve esse tempo todo? Por que não me disse logo no início quem você era? Em vez disso, preferiu me manter como uma prisioneira. Como você pôde?!

A resposta não veio de imediato.

- Por que, JongIn?- insistiu, lutando para manter a paciência, que já estava por um fio.

JongIn não era mais a mesma pessoa que zelava pela vida de Sun como se fosse a sua.

Com a proximidade perigosa, ele preferiu analisá-la. Não se arrependeu de ter se apaixonado por ela no passado e pensou ter sentido o coração reacender ao mirar a boca rósea e comprimida numa linha tensa.

Quando a encontrou na vila, notou a semelhança da “andarilha” com a princesa. Porém o fato de estar longe do palácio e sem um guarda levantou questionamentos e dúvidas. Só depois as peças foram se juntando. O cavalo, os trejeitos, o colar. Ah, aquele colar... Ele se recordava de como cortara os dedos durante o processo de dar forma a um pedaço de madeira qualquer e de como, em sua mentalidade adolescente, abriria seu coração antes de partir. Nunca aconteceu.

E agora lá estava ela. Sun ainda continuava a mesma.

- Prometo contar algum dia.

 

- - -

 

 Os portões do palácio se abriram novamente para ele. Estava de volta e de mãos vazias.

O anúncio de sua chegada correu na velocidade de uma bala de festim até os ouvidos de quem lhe confiara tal missão e encará-lo com o fracasso sob seus ombros não era fácil. Os ferimentos eram prova de seu empenho, as cicatrizes contavam histórias das quais apenas seus olhos assistiram, e o desalento em seu semblante refletia uma profunda mágoa.

 JinYoung percebeu tudo isso apenas por olhá-lo, curvado numa reverência diante de si. A cabeça baixa admitindo sua falha como guarda imperial e como homem. Uma vergonha, porém, um ato corajoso. Muitos preferiam tirar a própria vida a assumirem uma missão incompleta. Pessoas fracas jamais conseguiriam viver com a desonra como fantasma.

- Então você não a encontrou.- as palavras deixando os lábios do príncipe num sopro.

Doía saber que Sun estava perdida por aquelas terras sem fim. Guardas de reforço foram mandados atrás dela assim que soube sobre o sequestro. Quais eram as chances de voltarem se nem mesmo o melhor guarda que já conhecera tivera capacidade para tal?

- Não há sinal dela em lugar algum, alteza. Verifiquei em todas as vilas próximas, nas florestas e nas fronteiras. Quando comecei a busca, era suposto que a senhorita Gong não tivesse ido muito longe com o tempo que teve para fugir.- ZhouMi explicou. A fala ensaiada desde que o libertaram, afinal, prometera a Kai manter sigilo pelo bem de Sun.

Com o sangue em ebulição, JinYoung caminhou até o guarda e o puxou pelo colarinho das vestes para que ficasse de pé, mas não o largou. A aflição que vinha remoendo fazia tremerem seus dedos.

- Como não a trouxe de volta? Você precisa encontrá-la, ZhouMi! Você é o guarda pessoal dela!- exasperou conforme o chacoalhava. Estava tão desesperado.- Procure em todas as casas e até em baixo de todas as pedras se precisar.

- Acalme-se, alteza...- ZhouMi tentou acalmá-lo, mas não funcionou. JinYoung estava no ápice.

- Minha noiva foi sequestrada! Como espera que eu me acalme?- o príncipe o soltou bruscamente e se colocou a andar pela sala quase arrancando os cabelos com as mãos.- Aqueles rebeldes imundos a capturaram. Nada disso estaria acontecendo se ela não tivesse fugido!

Tudo o que recebeu de ZhouMi foi um olhar pasmo. De que forma JinYoung ficara sabendo?

- Como?!

Ele apenas maneou a cabeça para o lado e continuou a caminhar de um lado para o outro na tentativa de amenizar suas angústias. As mãos atrás das costas atribuíam-lhe o ar de superioridade, embora estivesse ruindo por dentro. A farsa não adiantaria aos olhos de alguém que praticamente o viu crescer e o conhecia como se fosse da família.

- Eu não sei, ZhouMi. Com ela sozinha andando por aí e facções querendo nos atacar, certamente a reconheceram e tiraram proveito da situação. É questão de tempo até nos chantagearem em troca da vida dela. E é isso o que me preocupa.

Os passos cessaram diante da janela por onde observou Sanshiro sumir no horizonte.

- Meu pai jamais abrirá mão do trono seja por qual vida for, porque é isso o que eles querem. Mesmo se eu ou SeHun estivéssemos no lugar de Sun.- a voz oscilou sutilmente diante da respiração acelerada.- Sun é apenas a representação de paz entre nossas famílias. Diante de poder, paz não significa nada.

Diante do silêncio do guarda, JinYoung se virou para encará-lo. Emoções oscilavam pelo semblante alheio, mas ele não conseguiu discernir quais eram. Devia ser difícil para ZhouMi, assim como para ele, digerir o inferno que se preparava para engoli-los.

- Enviei soldados, mas duvido que consigam avançar. Minha única esperança era você.- o amargor tomou sua voz.

- Como sua alteza disse, eles virão até nós para a barganha. Eu estarei pronto quando acontecer.- ZhouMi garantiu, sabendo que nunca aconteceria.

Fez uma última reverência quando o príncipe o dispensou e deixou a sala com um peso na consciência. Já não tinha mais certeza de quanto as coisas desandariam a partir dali e o sentimento se intensificou ao dar de cara com SeHun parado no corredor, claramente ouvindo a conversa.

A presença do mais jovem lhe causou calafrios da pior espécie. O rosto inexpressivo dava destaque ao olhar fumegante. Nele ZhouMi enxergou satisfação  e o ar de quem já esperava por isso.

O guarda fez uma mesura breve, pretendendo sair de cena o mais rápido que pudesse para não enfrentar o veneno, mas não teve escolhas. SeHun interceptou o caminho com o próprio corpo, obrigando-o a parar.

- Muito esperto, soldado. Só não o suficiente.- a voz escorrendo como fel.

 SeHun o encarou, as feições passivas em contraste das sensações em ebulição em seu interior. Sim, ele estava excitado com a discórdia, com o temor oculto no olhar alheio e o modo como este se controlava para não deixar transpassar uma reação sequer.

ZhouMi era água. Sempre foi. Calmo na superfície, feroz em suas profundezas.

- Não soa irônico o próprio cúmplice da fuga não saber onde ela está?

- Sun foi sequestrada.- disse sucinto, movendo-se para o lado a fim de continuar a caminhada, mas SeHun ficou no caminho outra vez.

- Oh, sim. Uma fatalidade, acredito.- deu um passo para frente, o rosto mais próximo do que o guarda gostaria na intenção de intimidá-lo. SeHun lia suas frestas.- Tomarei esse fato como a razão pelo qual não me trouxe a cabeça da garota. Certifique-se de que ela não volte. Sua missão não acabou.

- Com todo respeito, alteza, não são a ordens suas que obedeço.

E SeHun sabia a resposta, o que fez crepitar ainda mais sua raiva, mas se controlou. ZhouMi soprou um riso de escárnio e se desvencilhou do príncipe como se houvesse confrontado as ordens de uma criança mimada. Não o atingia. Sua lealdade pertencia a apenas uma pessoa, e ela não se encontrava naquele palácio.

- Nem mesmo se colocasse a vida de sua esposa em risco? Shuu é seu nome, não?- um golpe fatal que fez a audácia do guarda ruir. Os passos cessaram ao ouvir o nome e o coração gelou com as próximas palavras vindas da víbora.- Não me obrigue a matar ela e o bebê. A propósito, devo parabenizá-lo, papai.

Cada frase atravessou ZhouMi como flechas afiadas. Procurando manter o controle para não demonstrar o quanto a descoberta do outro o afetava, ele apenas maneou a cabeça e nada disse. SeHun o viu partir com a mesma imponência que seu cargo lhe atribuía, só não sabia que a muralha estava prestes a desabar.

 

- - -

 

 Uma sensação estranha a predominava ao andar livre pela base em conjunto do vazio que predominava seu peito desde a noite passada com Kai. Os pés rumaram o caminho conhecido até o jardim onde TaeMin costumava ficar, imaginando que pudesse encontrar a mesma paz.

Deparou-se com o inverso. O coração vindo na boca ao quase ser atingida por uma lâmina em forma de estrela, a qual se cravou no batente da porta a centímetros de distância.

- Yah! Quer me matar do coração?- Sun bradou, levando a mão ao peito.

Só então TaeMin virou o rosto em sua direção, surpreso.  Estava tão absorto em matar seus próprios demônios conforme treinava que sequer se deu conta da presença dela – o que era estranho para alguém considerado como um grande radar. Nada passava despercebido pelo rapaz. Seus sentidos apurados dificilmente deixavam algo passar.

Algo não estava certo.

- Não senti sua presença.- explicou, mas também não se desculpou. Era ela quem tinha olhos, logo, deveria prestar atenção a sua volta.

Outra lâmina dançou no ar e se cravou no centro do alvo que ele delimitara numa das paredes. Haviam outras semelhantes caídas no chão, mas a maioria pontilhava o alvo. A precisão era incrível. Sun se deslumbrou com a destreza que nem ela possuía.

Silenciosamente, sentou-se num lugar seguro e se pôs a observá-lo. Os olhos vazios estavam fixos num ponto e as mãos se encarregavam do restante do trabalho. Cada gesto fluído, porém agressivo como se as lâminas fossem sua válvula de escape.

TaeMin estava prestes a explodir.

- Você vai mesmo ficar aqui?- ele questionou sem interromper o que fazia.

- É o único lugar onde encontro um pouco paz.

- Eu nunca disse que compartilharia meu lugar com você.- as lâminas chegaram ao fim, e então ele se virou na direção de Sun. Conseguia sentir o vibração diferente que ela emitia.- Kai a tornou uma de nós por puro capricho. Saiba que ninguém te vê dessa forma.

- Também não confio em nenhum de vocês.- ela devolveu mais rápido que pretendeu.

A insinuação de um sorriso cruzou o semblante masculino com a precipitação. Sun estava nervosa.

- A futura imperatriz veio chorando até mim como uma criança após ver a morte de perto e me confiou seu segredo para livrá-la do mesmo destino.

- Isso não vem ao caso.- bradou, boquiaberta. TaeMin a lia tão facilmente que, mesmo que Sun tentasse ocultar seu íntimo, seria inútil.

- As pessoas se apegam a quem primeiro lhes estende a mão quando estão em situações difíceis. Não há mal nenhum nisso.- deu de ombros, caminhando calmamente até encontrar os degraus da escada, onde se sentou.- Sobre o que veio conversar?

Foi a vez de ela bufar com indiferença.

- O que te faz pensar que vim conversar com você?

- O timbre da sua voz sugere que você tem algo entalado na garganta e precisa colocar para fora antes que te sufoque. Levando em conta que eu sou a única pessoa aqui em quem você confia...- fez uma pausa, curvando os cantos da boca para baixo.- É... Acho que posso emprestar meu ouvido mais uma vez. Sobre o que vai ser? O fato de não saber que rumo tomar, como planeja fugir da facção ou sobre o amigo de infância descoberto tardiamente?

O queixo de Sun caiu e, por um instante, ela perdeu a fala. Desde quando TaeMin a conhecia tão bem? Estaria ela sendo óbvia demais em relação aos seus pensamentos?

- Acho que já fiquei aqui fora o suficiente.- tentou fugir do assunto, já levantando-se na intenção de ir embora.

TaeMin concordou.

- O destino é incontrolável independente do caminho que siga; você nunca conseguirá fugir da facção; e as pessoas mudam como folhas no outono.- enumerou os itens para cada pergunta enquanto abaixava o dedo a cada um deles.- Lutar contra isso é perda de tempo. Respondidas suas dúvidas?

Silêncio. Fora deixado sozinho outra vez. A brisa o respondeu com um sopro fresco, mas ele tinha certeza de que Sun pega fogo.

 

- - -

 

 - Tome cuidado para não esbarrar em algo.- avisou ele, convidando-a a entrar em seu mundo particular.

Sun passou pela porta, observando curiosamente o local. Uma espécie de biblioteca cheia de pergaminhos enfileirados em estantes baixas de madeira, acompanhadas de uma mesa central e algumas almofadas como acentos. Sentado á mesa estava quem ela menos tinha vontade de ver além de Kai, SiWon.

A aversão de ambos era mútua, tanto que sequer tentaram disfarçar. Sun não queria estar ali, ainda mais por um motivo como aquele.

Kai fechou a porta e contornou a mesa para se acomodar no lado oposto ao dela –e numa das pontas estava SiWon. A convidou para sentar com um gesto, mas Sun permaneceu de pé. Tinha consciência de que ele não a chamara ali para uma conversa de velhos amigos, até porque não tinham motivos para isso. Para Kai, Sun era apenas mais uma peça na linha de frente e ele estava realmente decidido a levar os planos da facção adiante.

- Encare essa reunião como um presente de boas-vindas.- disse ele. O olhar levemente brincalhão em contraste da voz séria. Não houve reação alheia.

Depois da última noite Sun construiu uma espécie de parede entre ela e JongIn –muito mais resistente do que quando o conhecia como um algoz chamado Kai.

Alguém que conhece suas fraquezas é o pior tipo de inimigo.

- Pensei que tivesse desistido daquele teatro.

- O palco esconde muitas verdades.- disse, enigmático.- Toda peça é real em sua irrealidade, assim como sonhos são sonhos, e loucuras são loucuras. É relativo.

- Então, o que você quer?

- O mesmo que você queria nessas terras esquecidas pelos deuses: conhecer o território. Nobres nos roubam e nós retribuímos o favor. Pensei que soubesse como funciona a barganha entre os dois mundos.- SiWon interveio, revirando os olhos como se fosse óbvio.

Kai estalou os dedos e um sorriso audaz se mostrou.

- Ninguém se arrisca a se opor ao governo e é por isso que a facção existe. Você entende muito sobre o assunto, baobei, assim como também sei que você não vê o mundo como os outros do palácio. É a nossa chance de reverter o jogo e garantir uma vida confortável para todo o nosso povo.

Sun crispou os lábios, incerta. Kai foi quem lhe ensinou a pensar fora da caixa e a ver o mundo com outros olhos. Olhos de alguém comum, olhos de quem podia enxergar os dois lados da moeda. A injustiça estava estampada para quem quisesse ver.

Sun apoiava a igualdade, mas sabia que alcançar os direitos sem guerra era um sonho distante, se não impossível. Ambos os lados estavam preparados para um massacre e era a última coisa que Sun queria. Sangue inocente seria derramado, tanto de guardas que serviam a nação como de pessoas que ansiavam por seus direitos a uma vida melhor. Tinha de haver alguma maneira de evitar a barbárie, nem que precisasse se colocar entre os dois lados e atuar.

- O que eu preciso fazer?- a cadência na voz. O receio começou a tomar conta de suas mãos trêmulas e suadas de repente.

Kai coçou o queixo em sinal de interesse e deixou que as atitudes alheias lhe contassem a história. Juntou as peças com facilidade.

- Vamos voltar para o palácio.

O choque. Por essa Sun não esperava. Suas ideias pré-concebidas caíram por terra.

- Você só pode estar de brincadeira.- exasperou, tentando não demonstrar a aflição que a ideia lhe causava.

- Se eu quisesse brincar com você, não seria desta forma.- insinuou, fazendo um gesto sutil para SiWon, o qual passou despercebido por Sun.

- Não vou me envolver nisso mais do que já estou, JongIn. Eu fugi do palácio exatamente por isso, para não sujar as mãos e nem participar de uma elite que vê o país em ruínas e sequer movem uma palha para ajudar.

- E você quer que continuemos assim, a mercê dessas pessoas?- ele se exaltou. Os olhares não vacilavam.- É por medo que muitos se calam, é por promessas vazias que muitos permanecem na inércia. Somos convencidos a obedecer como um rebanho. Fomos criados assim. Eu, você, JinYoung e toda Sanshiro. Estamos todos no mesmo barco.

Sun mordeu o lábio, digerindo o que lhe era dito. No fundo, Kai tinha razão.

- Se não nos levantarmos para lutar, quem o fará?- o tom amenizou. Kai recostou-se na parede atrás de si e cruzou os braços, a cabeça ligeiramente inclinada para trás como se buscasse por algo.

No calor da discussão, Sun não percebeu os movimentos do outro homem. E bastou um sinal de Kai para que acontecesse.

Um descuido, e o pano molhado pressionado em sua boca e nariz. Um instante, e o cheiro forte de éter a invadiu sem pudor. Não houve tempo para reagir, tampouco resistir ao ataque surpresa.

TaeMin estava certo. Uma vez na facção, jamais poderia sair.

As pálpebras de Sun pesaram e o corpo amoleceu instantaneamente, acompanhando o ritmo desacelerado que as engrenagens de seu cérebro se submetiam. O olhar perverso tom de ébano foi a última coisa que viu.

TaeMin estava certo. As pessoas mudavam como folhas no outono.

 

- - -

 

TaeMin sentia a presença dela. A vibração dos pés descalços cruzando o assoalho, da respiração descompassada, do retumbar forte de um coração que carregava o peso dos piores pecados. Ele sentia as emoções devassas que ela abrigava e sabia que aquela pressa, aquele desconcerto tinham nome e rosto.

O vulto passou pela porta de seus aposentos e ele só teve tempo de puxá-la para dentro, ignorando o susto alheio com a atitude assertiva. A mulher protestou, mas antes que pudesse escapar, a porta do quarto já havia sido fechada.

- Yah! Ficou louco?

- Onde você estava?- ignorou a pergunta.

HyunJoo encarou os olhos vazios que a miravam sem titubear. O tipo de olhar que a fazia se sentir a pior pessoa do mundo, mas ainda assim não inibia seu ego e autossuficiência. Ela riu com resignação e sentou-se no pequeno banco no canto do quarto quando viu que ele não cederia até ter o que queria.

Se lembrava bem do que acontecera naquele lugar. Era uma bênção que as paredes não tivessem boca para contar o que presenciaram outrora.

- Até quando vai ficar me seguindo como uma sombra? Nós terminamos há muito tempo e o que eu faço ou deixo de fazer não lhe convém.

- Onde você estava?- repetiu pausadamente. As feições ficando sombrias de repente.

- Por que pergunta se já sabe a resposta?- devolveu no mesmo tom.

TaeMin bufou, incomodado. Conhecia HyunJoo bem antes de ela se envolver com o lado obscuro e se tornar uma concubina e doía ver alguém que um dia amou se afundar cada vez mais por moedas de ouro e jóias. Poder era tudo o que ela queria, e a ambição a levaria a ruína cedo ou tarde.

Infelizmente TaeMin ainda tinha o impulso de querer protegê-la, embora HyunJoo não precisasse e não nutrissem sequer um resquício de sentimento um pelo outro. A paixão havia morrido e fora enterrada. Então por que ele ainda se preocupava?

- Aquele homem só está se aproveitando de você.

- É recíproco.

- Você o ama, HyunJoo. É por isso que suja as mãos com o lixo dele e trai quem mais lhe ajudou. Traiu a Kai, a mim... a todos nós! E a troco de que?- exaltou-se. Tinha vontade de chacoalha-la para ver se os parafusos entravam no lugar, porém se saísse da porta, sabia que HyunJoo fugiria.

Ao contrário dele, HyunJoo apenas deu de ombros.

- Ninguém saberá se você não abrir o bico.- ela se levantou e seguiu até ele. Os dedos magros deslizaram suavemente pelo pescoço numa intenção clara do que viria.- Se tem amor a vida, como sei que tem, não irá arriscar. Inclusive preciso encontrar Kai agora. Chega de perder tempo com você.

Numa fração de segundo, TaeMin capturou-lhe o pulso, fazendo-a olhá-lo.

- Kai já se foi. Deu ordens para que desocupássemos esse QG e é o que estamos fazendo.

- Para onde ele foi? E a garota?- o interesse não passou despercebido.

- Não sei. Todos se espalharam para as bases pelo país e territórios vizinhos. Ficarão lá até chegar a hora.

As sobrancelhas da outra se arquearam, juntando as pontas soltas do que TaeMin lhe dizia. Então Kai já estava movendo as peças... Alguém não ficaria muito feliz em saber disso.

- Certo. Vou me preparar para partir.

A rota já estava traçada.

 

Dois dias depois...

 

Mais um dia comum e monótono. As pessoas da vila faziam seu trabalho, guardas andavam para lá e para cá trazendo consigo a exaustão devido aos últimos dias. Desde que houve o atentado na capital, os homens trabalhavam em dobro para reforçar o provável próximo alvo. Até quando aquele inferno continuaria?

Alguns deles - que estavam sentados do lado de fora do portão-, se puseram de pé e pousaram a mão da bainha de suas espadas ao notar um rapaz se aproximando. A julgar pelas vestes desgastadas e o chapéu e sandálias de bambu, era um viajante. Talvez estivesse querendo ajuda ou mendigaria alimento ou um pouco de dinheiro como muitos faziam.

- Quem é você?- o guarda perguntou, observando a face escondida pela sombra.

Enquanto isso, o outro guarda examinava sua carga. Seu cavalo trazia o símbolo imperial nas rédeas e um corpo adormecido em seu dorso. Posicionado como um saco de batatas e de barriga para baixo, o homem não pôde ver o rosto escondido pelos cabelos longos e soltos.

Algo estava estranho e o outro logo percebeu, segurando a bainha com mais firmeza caso precisasse usar a espada.

Em meio a tensão, o viajante relutou para esconder um sorriso. Os soldados, na sua época, não eram tão frouxos e despreparados assim. Ah, o império Park já tivera dias melhores.

- Venho para falar com vossa alteza, JinYoung.- a cabeça ainda baixa para ocultar seu rosto. De soslaio, notou que o homem estava tentado a revirar sua carga, portanto puxou a rédea do cavalo para lhe chamar a atenção.

- Identifique-se.

- Sou um velho conhecido vindo da zona leste de Mansae. Atendo pelo nome Kim. Prestei serviços ao imperador anos atrás.- explicou pausadamente, testando o terreno desconhecido. Como não pareciam muito convencidos, ele continuou.- Por ventura, encontrei essa moça nas trilhas da floresta. É muito semelhante a princesa e o cavalo também tem o símbolo dos Park.

A constatação pareceu descarregar uma onda elétrica nos guardas. Rapidamente, o que analisara o cavalo contornou-o e afastou os cabelos da face para que pudesse vê-la.

- É ela...- o homem sibilou.

Os homens se entreolharam, ponderando se deveriam lhe dar acesso ao palácio ou que providências tomariam. Tinham ordens restritas para que nenhum desconhecido penetrasse os muros do palácio. Estavam em guerra e envolvidos em um sequestro que, cedo ou tarde, cobraria seu valor. O inimigo não possuía rosto. Podia ser qualquer um.

Um seqüestrador se passando por bem-feitor que resgatara uma moça indefesa era o disfarce perfeito. E Kai sabia disso mais do que ninguém.

Acenou com a cabeça humildemente em resposta ao guarda que se retirou para comunicar ao príncipe sua chegada. Nesse meio tempo, Kai procurou ajeitar Sun da melhor forma sobre Mochi para que não ficasse com dores mais tarde –apesar de que duvidava de que ela despertaria tão cedo.

Kai puxou a manga das vestes mais para baixo. O tecido raspando em suas feridas fazendo-o se lembrar do quão feroz sua gatinha era.

As memórias do dia que partiram –dois dias atrás- vinham frescas em sua mente. Sun tentou fugir a todo momento quando despertava, confrontou-o, fez um escândalo, partiu para a porrada e seu nariz quase levou o mesmo fim que o do amigo SiWon. Nunca nenhuma mulher lhe deu tanto trabalho. Nem mesmo HyunJoo.

ZhouMi a treinara bem. Kai não podia negar. Pena que seu estoque de paciência estava no limite e, para não machucá-la, ele optou por dopá-la com ervas medicinais. Preferia mil vezes ouvi-la delirar, rir sozinha, toda molenga até apagar do que ter de feri-la outra vez. Uma já havia sido o bastante para que se arrependesse amargamente.

Minutos mais tarde, os portões se abriram outra vez. Não foi os guardas quem o recepcionou novamente e sim o rosto conhecido de seu amigo de infância. JinYoung passou pelas portas de madeira como um furacão, sem estruturas para esconder a bagunça emocional na qual se encontrava.

Kai fez uma mesura breve, mas JinYoung ignorou. Estava tão transtornado que a única coisa em que conseguia pensar era em Sun Li. Só de ouvir dos guardas que ela estava ali, a poucos metros de distância, lhe causou um efeito enorme, uma mistura louca de alívio, ansiedade e emoções que não soube nomear.

Ouvir o nome dela simplesmente o cegou. No instante em que a viu desmaiada sobre Mochi ele teve certeza de que não era um sonho. Seus dedos reconheceram a textura da pele, o cheiro que só ela emanava e cada pedacinho do corpo que lhe pertencia. As mãos tremiam ao tocá-la e o coração vibrava no peito.

- O que aconteceu com ela?- perguntou preocupado. Agora ele tinha Sun em seus braços, adormecida como um bebê. A sensação era inexplicável.

A cena despertou repulsa em Kai, mas ele preferiu afastar a sensação para o ponto ínfimo de seu ser. Seus propósitos eram outros, afinal.

- Quando a encontrei, já estava desmaiada.- o rapaz disse, educado.

- Certo. O importante é que ela está bem.- disse mais para si mesmo, em êxtase.

Sob suas ordens, os guardas que o acompanhou levaram Sun para dentro para que pudesse ser examinada pelos melhores médicos. O retorno dela era o embolo que impulsionaria um caloroso debate entre anciões, seu pai e ele. As atitudes de Sun teriam graves conseqüências, mas JinYoung não quis pensar nisso naquele momento.

- Você tem minha gratidão eterna. Obrigado por salvá-la.- agradeceu com sinceridade, mas o outro ainda se escondia debaixo do chapéu.

- Só fiz o meu trabalho, alteza. Fui criado para protegê-la.- Kai fez uma mesura breve e depois retirou o chapéu. O sorriso largo com a expressão cômica de espanto de JinYoung. Parecia ter visto um fantasma.

A alegria de rever o velho amigo tomou o lugar da surpresa.

- Eu sabia que um dia você iria voltar!


Notas Finais


Ai, ai... como a vida é bela, né nom? -v-

Os três reunidos de novo depois de tanto tempo. É tão lindo que até emociona -sqn ahsuhaushuahushua
Só sei que o cheiro da treta ta forte e oremos pro nosso príncipe maravilindo não arrancar a cabeça da Sun por ela ter fugido. Amém? -NNN

Espero que tenham gostado!! E até a próxima! \o
Kissus kissus ;** <3


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