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História Winter Day - Winter Day


Escrita por: Jujubazilla

Capítulo 1 - Winter Day


W i n t e r  D a y

Penetrar no silêncio que era a cidade, às oito horas de uma nevoenta noite de setembro, pôr os pés na calçada de concreto irregular, trincas onde a grama nasceu e seguir de mãos nos bolsos através de silêncios, isso era o que Melanie adorava fazer. Ela ficaria na esquina de um cruzamento olhando extensas avenidas de calçadas indo em quatro direções, iluminadas pela lua, decidindo qual seguir, embora não fizesse realmente nenhuma diferença, todos davam para o mesmo local, e com uma decisão final tomada, no caminho escolhido, ela andaria com passos largos, formando desenhos de ar gelado à sua frente.

Às vezes, ela caminhava durante horas e quilômetros e retornava, só à meia-noite, para sua casa. E no seu percurso veria os chalés e as casas com suas janelas escuras, e não parecia diferente de caminhar através de um cemitério, onde apenas a tênue luz bruxuleante de vaga-lumes surgia em lampejos atrás das janelas. Repentinos fantasmas cinzentos se manifestavam dentro das paredes dos cômodos onde uma cortina permanecia fechada contra a noite, ou se ouviam sussurros e murmúrios onde uma janela em um prédio tumular ainda estava aberta.

Melanie faria uma pausa, aprumaria a cabeça, ouviria, olharia e iria embora sem fazer barulho na calçada irregular. Fazia muito tempo que ela sabiamente havia decidido usar tênis para sair à noite, porque os cães, em intermitentes esquadrões, cercariam sua caminhada de latidos se ela usasse sapatos comuns e as luzes poderiam se acender e rostos apareceriam e uma rua inteira se sobressaltaria com a passagem de uma criatura solitária, ela própria, em uma noite de início de setembro.

Nessa noite em particular, ela iniciou sua caminhada rumo a oeste, na direção de uma cafeteria escondida. Havia uma geada cristalina no ar; ela invadiu seu nariz e fez os pulmões luzirem como uma árvore de Natal interna, dava para sentir a luz fria piscando, todos os galhos cobertos de neve invisível. Ela ouvia a pressão de seus sapatos macios sobre as folhas de outono prazerosamente e assoviava uma melodia fria e suave por entre os dentes, pegando uma folha ocasionalmente enquanto ia passando, examinando seu desenho esquelético sob a luz de uma ou outra lâmpada, à proporção em que se deslocava, sentindo seu odor ferruginoso.

Assentada sobre uma cadeira retro da cafeteria, ela batucava os dedos na mesa enquanto aguardava a vinda de seu café anteriormente pedido. O balcão, abarrotado de afazeres, é alegrado por uma mulher gorda, sempre sorridente e com os braços enfiados na farinha, flertando continuamente com o garçom. Melanie solta uma risadinha, mal notando quando um homem se aproxima. Mal notando em como ele é lindo e está à procura de uma resposta.

"Pois não?" ela pergunta, colocando um cacho solto para detrás de sua orelha.

"Perguntei se está esperando alguém", ele diz, olhando para os lados à procura de algo.

"Ah, não, não. Pode se sentar", ela sorri amigável, e não entende o porquê de fazer tanta questão de impressionar aquele homem. "Está cheio hoje, não acha?"

"Sim, é verdade", ele concorda, e Melanie percebe que ele não está muito confortável. "Acho que o prenúncio do inverno trás pessoas à este lugar." 

Assentindo, ela sorri para o garçom que trás seu tão esperado café. Inclinando-se, ela segura a xícara com as duas mãos.

"Qual sua profissão?"

"Acho que poderiam me chamar de escritora."

"Sem profissão", ele disse, como se falasse para si próprio. A luz do local o mantinha estático, como uma espécime em um museu, alfinete transpassado no peito.

"Pode-se dizer que sim," disse Melanie. Ela não escrevia fazia anos. Revistas e livros não tinham mais muita saída. Todas as coisas seguiam seu rumo nas casas sepulcrais, agora à noite, ela pensou, prosseguindo em sua fantasia.

"Desculpa, não quis ser rude."

"Você não foi", e, de fato, não fora. Ser escritora — assim como ser qualquer outra profissão — resultava em aceitar as pétalas e os espinhos do ofício. A verdade é que, se você não escrever algo bom, você simplesmente morre de fome. 

"É que... Meu dia está sendo uma merda", ele balança a cabeça e olha pela janela. "Desculpa novamente."

"Sabe, você pode se abrir comigo, se quiser", ela diz e ergue as sobrancelhas quando ele a encara desconfiado de suas ações."Ora! Só estou oferecendo um ombro amigo!", para você chorar e me levar para a cama, de tão carente que vai estar ao se ver sem ninguém mais além de mim.

"Está bem", ele cede, sorrindo relaxado.

"... E então ela simplesmente disse que não me amava mais. Você sabe o quão isso me machucou? Ouvir meus defeitos serem jogados na minha cara repetidas vezes? Oh meu Deus, eu queria nunca ter conhecido aquela mulher."

"Que vadia!" Melanie balança a cabeça, como se não acreditasse. "Ninguém jamais deveria passar por uma humilhação dessas, sinto muito."

Ele fez um movimento desleixado com a mão.

"Já passou."

"Quanto tempo faz que ela te deixou?"

Ele baixa os olhos para o relógio, envergonhado.

"Umas... três horas."

"Mas estamos aqui há tanto tempo!"

Ele dá de ombros, sorrindo levemente.

Caminhando até eles, o garçom adverte que está ficando tarde e logo terão que fechar. Não há tempo para Melanie sequer pegar sua carteira, pois seu amigo já está pagando por todas as bebidas que ambos consumiram. Ela não reclama, no entanto.

Ele abre a porta, deixando que Melanie passe primeiro. Do lado de fora, ela põe seu cachecol e ele faz o mesmo.

"Então..."

"Então", ela repete.

"Você é muito legal. Obrigado por me ouvir por todo esse tempo. Você me ajudou bastante", ele sorri lindamente.

"Oh, bem. Não há de quê", ela ri, tampando o sorriso com a mão pequena e delicada. O homem se viu tentado a tirar a mão dela dali. "Então, acho que isso é um adeus. A propósito, meu nome é Melanie, caso queira... Não sei. Enfim..."

"Adeus, Melanie" 

Ele se virou, distanciando-se da mulher. A verdade é que gostaria de encontrá-la novamente.

Ela abaixou a cabeça, coçando a testa. O que havia feito de errado? Apenas gostaria de saber o nome daquele homem.

A rua era silenciosa, comprida e vazia, só havia a sombra dele movendo-se como a sombra de um falcão no meio do campo.

Se ela fechasse os olhos e ficasse imóvel, enregelada, poderia se ver no centro de uma planície, um invernal deserto americano, sem vento, sem uma só casa por centenas de quilômetros, e apenas leitos secos de rios, as ruas por companhia. Ao abrir os olhos, ele já havia ido embora, deixando as ruas vazias, com calçadas vazias, e nenhum som e nenhum movimento por todo o resto da fria noite de setembro.


Notas Finais


Espero que alguém tenha gostado ;)
Por favor, comente. Me alegra muito <3 <3


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