História Winter in hell - Jikook - Bônus Sope

Hobi On

Voltei para aquela casa já conhecida, apesar de ser uma decisão espontânea permanecer aqui, eu nunca tive tanta certeza de uma escolha, a luta pode ter acabado, mas há uma cidade inteira precisando de uma resiliência, e tinha ele. Por mais que a temperatura estivesse elevada ainda tinha a sensação das mãos estarem suando, querendo ou não seria uma grande reviravolta em minha vida, na rotina, e até mesmo no modo como eu costumava enxergar as coisas, contudo, são mudanças positivas, e isso me estimula a continuar.

Entrei no cômodo um pouco nervoso, o casal logo se acomodou no quarto, comecei a buscar algum sinal do pálido, mas não o encontrei pela casa, me causando um pequeno surto momentâneo pelo seu sumiço inexplicável, entretanto, desapareceu quando eu vi um pequeno corpo abrindo a porta e adentrando o recinto, ele estava cabisbaixo mas pude ver sua pele um pouco avermelhada pelo frio, nem ao menos tinha notado que ele havia saído da casa, realmente queria evitar uma despedida, não o julgo, despedidas são sempre difíceis.

- H-Hobi?- Indagou surpreso – Devo estar ficando louco – Sussurrou pondo a mão na cabeça, me fazendo rir pela cena fofa.

- Não é uma alucinação – Falei em meio ao riso atraindo sua atenção – E-Eu resolvi ficar – Ele me encarou assustado se aproximando por impulso.

- Como assim? Enlouqueceu? Você odeia esse lugar – Proclamou.

- Odiar é uma palavra muito forte, em partes eu dizia pra te deixar com raiva, confesso – Vi seus olhinhos revirarem.

- Você não para né, achei que tínhamos um acordo – Brincou.

-  Ah, esse acordo foi na noite em que dormimos abraçados? - Me fingi de desentendido vendo seu rosto tomar uma tonalidade ainda mais vermelha, mas dessa vez não era pelo frio.

- Aish, já disse pra esquecer isso, estava muito frio , meu cérebro entrou em colapso e procurou outras fontes de calor, apenas isso – Defendeu-se.

- Aham sei, você é um péssimo mentiroso Suga – Sua expressão se tornou raivosa, porém nenhum pouco convincente.

- Não irá se repetir avermelhado, vou dormir na poltrona, bem longe de você – Saiu me fazendo rir ainda mais da sua caminhada enfurecida.

- Também estou feliz por te ver! – Gritei da sala, ouvindo um bater de porta.

Esse foi um ótimo recomeço...

5 meses depois...

Hoje seria a típica manhã em que eu e o Suga saíamos pra ajudar nas plantações e colheitas, nos tornamos mais próximos nesses últimos meses, ainda existia as cotidianas alfinetadas e discussões engraçadas, mas esse era nosso modo de convivência e sinceramente, eu não o mudaria por nada.

Acordei mais cedo como sempre, todos os dias era uma batalha para tirar o pálido da cama, eu juro que é mais fácil despertar uma pedra do que fazê-lo deixar a cama quentinha, mas a cada dia eu estava aprimorando minhas táticas para acorda-lo. Me dirigi ao seu quarto que ficava no mesmo corredor que o meu naquele enorme castelo, ele tinha o costume de deixar a porta aberta já que sabia que eu sempre ia no seu quarto pela manhã, mas como todos os dias,  mesmo sabendo que eu iria aparecer naquele horário, ele me xingava por tê-lo tirado do seu descanso.

Abri a porta encontrando um amontoado de lençóis, assemelhando-se a uma montanha, fui tirando a procura do pequeno, achando seu corpo todo encolhido, comecei a apertar suas bochechas e nariz, vendo-o demostrar sinais de incômodo e tentar tirar minha mão, me diverti com a cena, mas ele logo despertou com um olhar raivoso.

- Eu juro que vou te matar Jhope – Ameaçou com a voz rouca pelo sono.

- Tanto mal humor pra tão cedo do dia – Provoquei.

- Está bem você venceu – Disse bufando e me empurrando para se erguer – O que vamos fazer hoje?

- É dia de colheita, então temos que recolher os frutos e levar em algumas casas, o casal ainda está de lua de mel, ou seja, não podemos atrasar nas entregas.

- Ok, me deixe ao menos lavar o rosto e parecer mais vivo – Sorri pelo seu resmungo exagerado e o deixei para que pudesse se arrumar.

                                                                            ***

O dia se passou dessa forma, colhemos o máximo de alimento que podíamos e distribuímos para o maior número de famílias possíveis, a melhor parte das entregas era vê o sorriso gengival que o Yoongi sempre se esforçava para dar a cada morador, era simplesmente lindo e cativante, até parecia outra pessoa agindo daquela maneira, e isso me fazia perceber que seu lado arrogante era apenas um escudo, ele era de fato um ser doce.

Após todas as visitas, estávamos um pouco cansados, andamos de volta para o castelo, e percebi que o Suga estava mais calado que o de costume, sua expressão havia se tornado triste, tentei puxar assunto contudo ele me cortou todas as vezes, achei melhor dar um tempo e ir ver o que estava acontecendo mais tarde.

No final da noite me encaminhei para o seu quarto, porem antes de bater em sua porta vi um pedaço de papel saindo dela, era uma carta, sei que o que fiz foi errado, mas a curiosidade falou mais alto e acabei por abri-la.

“Caro amigo, Min Yoongi...

Sei que odeia essa data e odeia mais ainda quando eu a lembro, mas hoje é um dia especial, o dia em que podemos celebrar sua vida, e isso não deve ser esquecido, sei o quanto se sentia sozinho nessas datas, e me sinto muito mal em ter que te deixar passa-lo assim mais uma vez, minha lua de mel está perto de acabar e logo poderemos comemorar do modo certo, espero que esteja tudo bem com você e o Hobi, ele parece gostar muito de você, talvez possa celebrar com ele este dia...

Feliz aniversário,

Com amor Jimin. “

Então é isso, seu aniversario é hoje, talvez ele estivesse assim por saudade do amigo, sem pensar muito adentrei o quarto o encontrando deitado lendo um livro.

- Você não é de lê – Falei chamando sua atenção.

- Ajuda a distrair – Respondeu simplista.

- De que exatamente? - Indaguei sentando ao seu lado.

- Deveria saber já que invadiu minha correspondência – Disse olhando para a carta em minhas mãos.

- Desculpe por isso, eu só...

- Apenas não pergunte sobre, não é meu assunto preferido – Proferiu um pouco rude.

- Achei que tínhamos avançado essa etapa de guardar coisas pra si – Falei sem conseguir evitar um tom magoado.

- Não é porque a gente mora junto que devo contar tudo da minha vida, nem mesmo o Jimin sabe tudo – Exclamou.

- Achei que nossa relação era diferente da sua com o Jimin, mas pelo visto nem como amigo eu sou qualificado – Disse por último saindo sem olhar para ele, eu estava com raiva não posso negar, achei que tínhamos algo especial.

Yoongi On

Ver o Hobi daquele jeito me fez sentir a pior pessoa do mundo, eu não queria magoa-lo, mas sempre que tocam nesse assunto não consigo evitar meu desconforto, e acabei descontando nele, prometi a mim mesmo mudar meu modo de trata-lo, mas as vezes o antigo Yoongi reaparece para estragar tudo, não importa o quanto eu tente , sempre acabo machucando aqueles que se importam comigo, mas eu não queria afastar ele.

Criei coragem e fui até seu quarto, bati na porta, mas não obtive resposta, resolvi entrar, encontrei ele próximo a uma pequena fogueira, tentando se aquecer.

- Eu imaginei que ainda não estava acostumado com o clima – Ele permaneceu de costas mesmo após minha fala.

- Isso foi deboche? – Perguntou friamente.

- Só não entendo porque continua aqui – Admiti.

- Todos nós temos segredos não é, você tem os seus e eu os meus – Disse com ironia.

- Eu não queria ter sido rude, você é muito importante pra mim Jhope – Confessei mesmo estando envergonhado em dizer tais coisas – Não quero perder o que temos.

- E o que a gente tem afinal Yoongi?– Questionou me olhando pela primeira vez – Fica difícil tentar desvendar tudo, se você nunca me diz nada.

- Ninguém muda da noite pro dia, antes de você chegar, eu não precisava dizer nada ou expressar nada, ninguém precisava, não me cobre algo que ainda estou tentando entender, pra você é fácil, ou pelo menos parece.

- Nada é fácil, também tenho meus demônios – Suspirou.

- É difícil acreditar, as vezes acho que seu rosto fica dormente de tanto que sorri – Ele levantou do chão indo até uma pequena gaveta, tirando de lá um objeto prateado - O que é isso? - Indaguei.

- Um isqueiro, antes dessa coisa toda começar e eu me envolver com tudo isso, eu não conseguia deixar meu vício, não se tratava apenas do maldito cigarro, tinha os remédios, essa última parte era segredo, mas o JK e o Jin já estavam desconfiando há um tempo, mas eles sabiam que só eu poderia me parar.

- Achei que todos em Spring vivessem felizes – Ele sorriu sem humor.

- É ridiculamente fácil ser feliz da porta de casa para fora, mas quando se está sozinho é quando os verdadeiros sentimentos afloram – Disse me entregando o pequeno objeto.

- Ainda não sei o que é um isqueiro – Falei me sentando no chão gélido enquanto estudava a pequena caixa metálica.

- Isso produz uma pequena chama de fogo, foi assim que consegui fazer fogueiras na época da luta, pelo menos me foi útil em uma causa maior.

- Está dizendo que sai fogo disso - Ele riu em minha direção, por dentro me senti feliz por arrancar sua típica risada, seu rosto não combinava com tristeza.

- Sim, chegue mais perto irei te mostrar – Me aproximei sentando ao seu lado na cama, ele posicionou meus dedos em uma pequena rodinha e colocou pressão para baixo, fazendo uma pequena chama sair da caixa, aquecendo meus dedos.

- É lindo – Comecei a passar meus dedos rapidamente pelo pequeno fogo, pude sentir seu olhar sobre mim.

- Fica com ele – Pediu – Eu estava pensando em como me desfazer do meu “Amuleto”, mas acho que achei um dono melhor.

- Obrigado, prometo cuidar bem dele – Assegurei sorrindo para ele – Foi o melhor presente e possivelmente o único que eu ganhei de aniversario – Respirei fundo, seus olhos me encaravam com ternura, suspirei tomando coragem para o que eu diria a seguir - M-Meus pais, eles eram como o Namjoon na época da primeira guerra, foram grandes revolucionários, lutavam contra o sistema e me criaram como um verdadeiro príncipe, mas no dia do meu aniversario de quatro anos, minha mãe saiu para procurar algo digno de um presente, e nunca voltou – Pausei minha fala para recuperar folego para continuar – Descobrimos que ela tinha sido assassinada por complô contra o rei, meu pai não conseguiu seguir em diante depois de uma perda como essa, ele virou outra pessoa, me tratava de maneira rude, e me colocava regras que antes eles abominavam, ele me criou como um cidadão legitimo de Omelas, frio e insensível -Hobi prestava atenção em cada palavra dita por mim – Até que um dia ele não aguentou mais a perseguição e...Tirou a própria vida, me deixou à mercê do frio, sem moradia, nem família, congelando sem ter cobertas ou comida. Por isso eu odeio esse dia, com todas as minhas forças.

- Eu não consigo imaginar que tenha passado por algo assim, desculpe por te fazer reviver isso justo hoje – Lamentou.

- Eu continuar sendo assim significa que eu já revivo esse dia, mas é algo que eu simplesmente não consigo esquecer, me odiei tanto por ter sido covarde ao ponto de não terminar o que eles tinham começado, passei minha vida inteira me escondendo, mas quando o Jimin retornou essa ideia louca, eu vi uma oportunidade de tentar fazer algo.

- Você não foi um covarde, era apenas uma criança, e fez muito por essa cidade quando se juntou a nós e ainda faz todos os dias, seus pais teriam orgulho do homem que você se tornou – Disse pegando uma das minhas mãos me causando arrepios, já que nós nunca nos tocamos assim.

- Digo o mesmo de você, não precisa dos remédios pra se sentir bem, você é um ser iluminado, assim como o sol.

- Obrigado por entender, mas esse não é o único segredo que existe entre a gente.

- Tem outros? - Questionei.

- Só um, me disse que não entendia o porquê de eu ter ficado aqui – Ele se aproximou mais, me deixando um pouco nervoso – Na hora em que tomei essa decisão...Era em você que eu estava pensando.

- E-Em mim? Então você ficou, por minha causa? - Senti as famosas palpitações que o Jimin falava.

- Eu pretendia esperar o momento certo pra te dizer, queria te conquistar aos poucos, pra não acabar me confessando e te assustar, não queria me afastar de você. Está chateado?

- Por que estaria?

- Porque não sei se sente o mesmo – Admitiu.

- Eu não saberia dizer mesmo que sentisse, são sentimentos novos, mas de uma coisa eu sei, não consigo ficar longe de você, foi difícil admitir isso pra mim, você me faz raiva constantemente mas eu até que gosto das suas provocações e gosto mais ainda quando revido todas elas – Ele sorriu com minhas palavras.

- Então...O que vamos fazer em relação a isso?

- Bem...Ainda é meu aniversário, isso me dá direito a um pedido, certo?

- Claro, pode pedir o que quiser.

- E-Eu quero um beijo Hobi – Ele me olhou surpreso pelo pedido.

- Tem certeza? – Perguntou com um belo sorriso no rosto.

- Toda – Falei firme devolvendo o sorriso.

Após minha confirmação ele quebrou o resto do espaço que tinha entre nós, ficando a centímetros dos meus lábios, pude sentir sua respiração bater em meu rosto como uma brisa quente cortando aquele frio, meu corpo inteiro tremia como se acabasse de receber uma grande descarga elétrica, e parecia explodir quando finalmente senti sua boca, era macia e quente, após um tempo senti sua língua úmida tocar meu beiço me dando um leve choque pelo contanto, intuitivamente abri mais dando espaço para ele, acabamos aprofundando o beijo, passando a explorar um ao outro. Sempre começávamos outro osculo quando o contanto terminava, acho que seus lábios seriam meu vicio a partir dessa noite.

E pela primeira vez eu teria uma lembrança boa desse dia.