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História Com você - Sentimentos são


Escrita por: dandania

Notas do Autor


Boa leitura!!

Capítulo 12 - Sentimentos são


Yuri havia piorado da febre e sua mãe teve que levá-lo ao médico, que apenas receitou um xarope para tosse e que o menino ficasse de repouso.

Notava seu corpo mole, mal se aguentava de pé, sua mãe não teve dificuldade em carregá-lo até o banheiro, devido ao seu corpo ser leve. Yuri, por mais que já tenha quinze anos, é um menino pequeno e magro para a sua idade.

Decidirá dar-lhe um banho com água morna, para ver se a temperatura corporal do ruivo abaixava.

Yuri se encolhia e tremia debaixo d’água, que estava mais fria do que morna. Seus dentes batiam com força, seu abdômen doía, quase não conseguia permanecer de pé.

Em seu corpo nu, os hematomas roxos e azulados eram visíveis, em suas coxas, costelas e em seu braço direito, que se destacavam em sua pele alva.

— Ma-Mamãe! A água t-tá muito fri-fria. — choramingava trincando os dentes.

— Fica quieto!  — exclamou em seu tom ríspido, segurando-o pelo braço para Yuri não fugir.

Rosana desligou o registro e enrolou Yuri em um roupão azul-marinho, o garoto estremecia, as pontas de seus dedos estavam brancas e enrugadas.

Após se secar e vestir uma roupa quente e confortável, Rosana pegou uma toalha para secar o cabelo dele. Yuri foi forçado a se sentar na beira da cama, ficou imóvel, sentindo o tecido sendo esfregado contra sua cabeça, brincou em silêncio com os dedos, fazendo círculos, mordeu de leve seu lábio, quando sua mãe concluiu a secagem.

— Aqueles garotos vão vir aqui de novo? — perguntou fitando seu rosto rubro.

— Acho que sim. — disse com incerteza. — Mamãe.

— Hum.

— Posso ficar na sala? — um temor passou pelo seu corpo, quando a resposta demorou.

— Pode. — falou seca, segurando o braço dele, o guiando para fora do quarto.

 

Ainda era cedo, e Yuri contava os minutos para os amigos chegarem.

Se sentou no sofá, sentiu um desconforto na lateral da coxa, fez uma careta, mas a desfez rapidamente para que a mãe não notasse. Rosana ligou a tv deixando em um desenho aleatório.

***

Lia ficou na frente do portão esperando por Lucas e Caíque, e como eles estavam demorando, teve que mandar uma mensagem para os apresar.

Minutos depois, os dois apareceram. Lia franziu as sobrancelhas devido ao comportamento deles.

— Vocês vão comigo na casa do Yuri? — perguntou ela, assim que pararam a sua frente.

— Eu vou, já o Lucas. — dizia Caique, apontando para o amigo. Lia franziu o cenho, tentando entender o que estava rolando.

— Antes que você me xingue... — começou Lucas. — Só não vou porque marquei de sair com a Carina.

— Se você vai sair com ela, porque disse pro Yuri que ia ver ele hoje? — Lia parecia frustrada.

— Escuta, não precisa ficar brava, acho que ele nem vai ligar se a gente não ir. — por alguma razão, Lucas se sentiu mal por ter dito isso, mas já era tarde para voltar atrás.

— Certo. — falou ela e, fitou Caique. — Caique, você vem! — o garoto assentiu. — E Lucas, bem diferente de você, eu costumo cumprir com as minhas promessas.

Deu as costas e saiu pisando forte. Caique encarou o amigo sem entender nada e foi atrás da cacheada.

***

Yuri estava deitado abraçado ao ursinho que ganhou da nova amiga, se sentiu enjoado e seu estômago não estava legal. A febre diminuiu um pouco.

Alguém bateu na porta e, ele se sentou, sentindo a cabeça pesar, disse um “pode entrar” rouco e esfregando o olho. Lia e Caíque adentraram, a cacheada foi logo abraçá-lo o derrubando na cama, fazendo o menino rir pela primeira vez no dia.

— Oi, meu floquinho! — dizia o apertando. — Que saudade! Te vi ontem, mas senti saudade!

Yuri não parava de rir com Lia por cima dele.

— Oi, Yuri. Você parece pior. — diz Caíque sem maldade, fechando a porta.

— Caique! — Lia o mirou de cara feia, quase atirando a sapatilha na cabeça dele, o moreno ergueu os ombros sem entender a bronca.

— Ele tá certo, Lia. — falou o ruivo se sentando e pondo a mão no estômago. — Subi para o meu quarto porque não estava me sentindo bem.

A cacheada afagou as costas dele.

— Hmm... O L-Lucas não veio? — perguntou.

— Não. — disse Caíque com as mãos nos bolsos. — Ele saiu com a Carina. Já tinha uns dias que ela “tava” cercando ele, e só não ficaram por causa da Sofia, mas agora que ele tá livre pode pegar ela... quer dizer, a essa hora já deve tá pegando...

— Caique... se você falar mais alguma coisa, eu juro que te taco por aquela janela! — Lia imediatamente olhou para Yuri, seu rosto estava abatido e, os cantos da boca estavam caídos.

Seus sentimentos estão uma bagunça.

Sentiu o estômago se revirando e rapidamente cobriu a boca, saltando da cama, esticando um braço na direção do banheiro. Lia notando seu desespero o ajudou, o conduzindo até o banheiro. Yuri se ajoelhou de frente a privada e vomitou, a cacheada ficou ao seu lado, fazendo carinho em suas costas.

Caíque apareceu na porta:

— Eu deveria ter ficado de boca fechada? — falou e, Lia o mirou por cima do ombro.

— Eu sou um burro. — falou se derramando em lágrimas e limpando a boca com a manga da blusa. — E-Eu sabia que n-não ia dar certo, mas aceitei mesmo a-assim!

— Não fala isso, você não é burro. — disse Lia, sentindo seu coração diminuir.

Yuri sabia que ficar com Lucas não seria igual a um conto de fadas, que essa tal de “amizade colorida” não dá certo, até porque um lado sempre se apaixona e se machuca, e esse lado pendeu para ele.

Por alguns minutos quando estava com Lucas, acreditava que seus sentimentos eram recíprocos, mas pelo que parece, Lucas só estava curioso.

Suas lágrimas escorriam por seu rosto, o deixando molhado e vermelho. Seu coração estava em frangalhos. Yuri agora está pensando que, gostar tanto assim de alguém seja tão doloroso, principalmente quando não é correspondido.

— Yuri, não chora. — Lia o consolava, o ajudando a ficar de pé. — O Caique só tava brincando, né, Caique? — Lia o mirou de olhos semicerrados.

— Tava nada. — disse e se arrependeu em seguida quando viu uma sapatilha voando em sua direção, o moreno conseguiu desviar a tempo.

Após lavar a boca e o rosto, ainda sentindo as pernas moles e o peito dolorido, Lia o guiou de volta para a cama, o ruivo se deitou de costas para os amigos, agarrando o ursinho e, chorando baixinho para não os incomodar.

Lia ficou próxima à cama, observando o garoto todo encolhido, Caique estava confuso e tinha inúmeras perguntas para fazer à Lia, porém preferiu esperar. Se colocou ao lado dela e lhe entregou a sapatilha, a cacheada pegou dando um longo suspiro e seus dedos roçaram-nos de Caíque, Lia finge que esse simples toque não lhe causou nada.

Yuri se fechou em sua bolha de tristeza. Para alguns, pode parecer drama, mas para ele não é. Yuri achava que nunca teria um namorado devido ao preconceito das pessoas, nunca em seus quinze anos imaginou que alguém algum dia gostaria dele.

Nunca teve ninguém para conversar sobre a sua orientação, de vez ou outra ouvia comentários de pessoas que diziam que ser gay era pecado, cansou de ouvir essas palavras vindo da boca de pessoas próximas à mãe dele, mas nunca ouvia sua mãe concordando. Rosana sempre ficava calada, mas Yuri não sabia se o seu silêncio era de aprovação ou reprovação de tais palavras.

Sua amiga Lia foi a primeira pessoa que o ruivo conseguiu se abrir, ficou com medo dela se afastar, mas deu tudo certo.

Quando o seu sentimento por Lucas nasceu, Yuri ficou com medo e confuso, não queria confundir amizade com paixão, mas toda vez que ouvia a voz rouca de Lucas, seu coração disparava, as mãos suavam e sua cabeça fervilhava.

Yuri sentiu o impacto de saber que o garoto que ele gosta estava com uma garota. Talvez Lucas não goste tanto assim dele, talvez estava só curioso em relação ao ruivo, e essa curiosidade acabou ferindo o seu coração.

Não queria se apegar a Lucas, mas esses poucos momentos que tiveram juntos foi o suficiente para uma paixão crescer. Agora está com medo de voltar a ficar sozinho, de Lia o deixar de lado ou ir embora como o seu amigo Bernardo.

Lia se aconchegou atrás do ruivo ficando de conchinha e, Caique que estava perdido sem entender nada, apenas se sentou na beirada da cama e pegou o celular para jogar.

Um silêncio incômodo caiu sobre o cômodo, o clima do lado de fora ficava mais frio e escuro com o passar das horas. Lia sabia que não podia ficar com ele até tarde da noite, que logo mais a mãe do ruivo viria avisá-los que já era tarde.

Por volta das 19 horas, Rosana abriu a porta e avisou que já estava na hora de ambos irem embora. Lia e Caíque não reclamaram, a garota se despediu do amigo o apertando bem forte por trás, dando vários beijos em sua bochecha.

— Prometo que amanhã depois da aula eu apareço. — Yuri apenas assentiu, com os olhos inchados e vermelhos.

Caique deu a volta na cama, se sentou na beirada e disse para o ruivo:

— Não fica triste, Yuri. — o menino fungou. — Lucas é especialista em deixar as pessoas magoadas com ele, mas aquele canalha sempre acha um jeito de se redimir.

Lia estava descontente por ter que deixar Yuri nessa situação, o menino precisa de conforto e ela é a única que sabe o motivo de suas lágrimas.

***

Na praça...

Caique convidou a cacheada para comer pipoca doce na praça. Lia aceitou porque fazia tempo que não comia pipoca.

Estavam caminhando devagar em direção a pista de skate. Lia comia a pipoca uma por uma. Caique a fitava notando o seu desânimo, como se a pipoca estivesse com um gosto amargo, mas não era isso.

— Lia. — a garota o fitou parando a pipoca no meio do caminho. — Eu posso ser meio lerdo às vezes, mas não sou burro.

— Quer dizer o que com isso? — Lia joga a pipoca dentro de sua boca, e observa o moreno coçar a cabeça.

— Hum... — ele não sabe nem por onde começar.

Caique, visto de fora de seu grupo de amigos, aparenta ser um garoto encrenqueiro, de cara amarrada que puxa briga só de olharem para ele, porém, Caíque não é nada do que aparenta. Ele é um garoto na dele, que não gosta de confusão, é bom em matemática e quer cursar culinária.

Simpatizou com Yuri assim que o viu, quando Lucas os apresentou. Yuri parece ser para Caíque, aquele tipo de pessoa carente de afeto que precisa ser mimado e paparicado sempre, alguém doce e gentil, tipo de pessoa que Caíque quer por perto, porque é o que seu avô sempre lhe diz.

— O Yuri gosta do Lucas? — Lia se engasgou com o milho de pipoca, o moreno teve que dar batidinhas em suas costas.

A cacheada o fitou com os olhos assustados.

— Escuta, eu não tô nem aí se ele é gay, ok! — Lia assentiu boquiaberta. — O que quero dizer é que, o Yuri não é o primeiro garoto que gosta do Lucas.

Lia arqueou uma sobrancelha, ficou quieta comendo sua pipoca, querendo ouvi-lo até o final.

— No primeiro ano, tinha um cara chamado Ted, ele ficava seguindo o Lucas para todo canto, “stalkeava” ele, mas nunca fez nada, nunca chegou nele para dizer que gostava, apenas ficava o observando de longe, acho que ele tinha medo do Lucas bater nele caso se aproximasse.

Ted?

— É como chamam ele. — Caique deu de ombros e o seu jeitinho fez com que Lia sorrisse.

Caique a fitou.

— Não quero ser mal educado, mas tem um pedaço... — dizia ele apontando para o dente. Lia grunhiu ficando rosa e deu as costas a ele para limpar o pedacinho de milho de pipoca que ficou preso entre seus dedos.

— Credo, que vergonha. — murmurou se virando para ele. Caique sorria lindamente e sacudiu a cabeça.

— Você fica linda até com um pedaço de milho entre os dentes. — bem, isso bastou para a cacheada corar e sentir seu estômago se revirar de nervosismo.

Queria beijá-lo ali mesmo, mas a imagem de Lucas atrás de Caíque, vindo na direção deles, fez seu sangue ferver.

Não interessa quem Lucas é para ela. Não foi com a cara do garoto de primeira. Vamos dizer que, Lia tem um pé atrás com garotos que se chamam Lucas. E magoar o seu amigo foi a gota d’água.

Lia entregou o saquinho de pipoca para Caíque e, passou por ele feito um foguete, marchou de punhos cerrados ao encontro de Lucas.

O moreno arqueou uma sobrancelha quando viu Lia se aproximando, seu coração saltou para a garganta e sentiu que ali seria o seu último dia na terra.

Lia freou a sua frente, ergueu a mão aberta e a acertou no rosto de Lucas, com força e vontade, o estalo pôde ser ouvido até onde Caíque estava e, vendo a cena, arregalou os olhos e correu até eles, segurou Lia pela cintura antes que ela desferisse outro tapa.

Lucas a encarou perplexo, com a bochecha latejando. E se afastando para os chutes de Lia não acertarem nele.

— Qual é o seu problema?! — vociferou o moreno. Tocou de leve o rosto e se arrependeu quando ardeu.

— EU ... TE ... AVISEI...SEU ... MERDA! — berrava ela sem fôlego e tentando se livrar dos braços de Caíque. — Se você... magoasse o Yuri... eu ia te bater até você perder a memória!

— O quê? — disse confuso. — Eu não fiz nada, cacete!

— Não fez nada! — Lia se enfureceu mais ainda achando que Lucas estava se fazendo de sonso. Esticou as mãos tentando alcançá-lo, mas Caíque recuou com ela. — Fica... longe do Yuri, seu merda! VOCÊ NÃO TEVE UM PINGO DE CONSIDERAÇÃO POR ELE, SIMPLESMENTE O DEIXOU DE LADO... — gritava a cacheada ficando com a voz embargada. — N-Não é engraçado brincar com os sentimentos de alguém, você mais do que ninguém sabia que essa merda ia dar errado, então fica longe dele, o Yuri merece alguém melhor e menos filho da puta!

— Lia, chega! — Caique disse a colocando no chão e a virando para o seu lado. A cacheada estava com os olhos marejados e, fazendo um bico que tremia. — Se acalma, não dá pra resolver com violência e gritaria.

— Eu vou socar ele. — sussurrou. Ela olhou para Lucas por cima do ombro e o olhar do garoto estava perdido. — Desaparece antes que eu te soque! 

***

— Lucas?! — ao abrir a porta Marian se assustou com o estado do sobrinho. — O que houve com seu rosto?

Lucas sem dizer nada, apenas adentrou o apartamento, indo até o sofá e se sentando meio deitado, fazendo um bico e encarando o teto.

Marian fechou a porta e foi até ele, o encarando preocupada, achando que o sobrinho pudesse ter entrado em uma briga.

— Lucas, me diz o que aconteceu, não me deixa preocupada. — se acomodou ao seu lado, fitou a mão do garoto que estava caída ao lado do seu corpo, quis tocá-la e afagá-la, porém hesitou. — Gabriel, pelo amor de Deus!

O garoto virou o rosto para a Tia. E Mari sentiu um alívio por Lucas ter dado um sinal de vida.

Ele piscou algumas vezes e suspirou pesado.

Deixou um sorriso murcho aparecer no canto da boca.

— Você só me chama de Gabriel quando tá brava. — encarou o teto novamente.

— Não estou brava com você, apenas preocupada. — dizia levando sua mão até os cabelos dele e os afagando suavemente. — Você se parece muito com o seu pai, os olhos são idênticos. — Mari se perdeu na face do sobrinho, a cor âmbar de seus lumes fez com que Mari lembrasse do passado, não notando que Lucas a encava com as sobrancelhas franzidas.

— Sério? — retirou a mão da tia de seus cabelos. — Eu não acho.

Mari suspirou e se recostou no encosto do sofá.

— Me conta o que houve, tô te achando tristinho. — afagou o queixo dele. Lucas suspirou e sentiu as palavras de Lia vindo em sua mente, o estapeando sem parar.

— Posso passar essa noite aqui? — perguntou sentindo a garganta secar.

Mari assentiu e disse:

— Quando quiser conversar, eu estarei aqui. — o garoto assentiu com o olhar distante e triste.

***

Lucas sabe que sempre terá um cantinho disponível no apartamento da tia. Então, sempre quando briga com o pai, o garoto passa a noite na tia, mas dessa vez a briga não foi com o pai.

Sabe que fez merda, que Lia não o estapeou a troco de nada, se a cacheada fez o que fez foi porque provavelmente Yuri ficou sabendo de Carina e se chateou.

 

Estava deitado em sua cama, no quarto do apartamento da tia, os braços atrás da cabeça, uma perna sobre a outra e os olhos âmbar estavam focados no teto, e com uma coloração escura devido ao breu do cômodo.

Pensava em tudo o que aconteceu desde o momento em que conheceu Yuri. De como seu coração disparou, do frio na barriga que sentiu ao olhar para Yuri pela primeira vez, de como o ruivo parecia minúsculos ao lado da vice-diretora, do modo que suas bochechas estavam rosadinhas, das mãos apertando com força as alças da mochila, de como parecia inocente e de seus cabelos alaranjados que brilhavam.

Se recordou do primeiro beijo, de como foi rude com Yuri o culpado por ter brigado com Fábio, de sentir medo de estar gostando dele. Do fato do ruivo ser inexperiente e o beijo ter sido um pouco atrapalhado e, Yuri travado, dos lábios tentando se moverem.

Riu nasalado ao se lembrar da cena. E engoliu em seco quando notou que estava rindo feito bobo ao pensar no ruivo.

Seus devaneios foram interrompidos por batidas na porta, ele não olhou e Mari entreabriu a porta o encarando.

— Posso entrar? — Lucas apenas assentiu.

Acendeu a luz do abajur e se acomodou na beirada da cama, cruzando as pernas e o fitando.

— Quer conversar? — Lucas a encarou de soslaio, pensou um pouco e assentiu. Sabia que podia contar com a tia, que Mari sempre o escutava e entendia. — Então?

— Acho que fiz merda. — disse se ajeitando na cama, se sentando e entrelaçando os dedos, de cabeça baixa.

— Prossiga. — Lucas não manteve contato visual com ela, estava com vergonha.

— E-Eu fiquei com uma garota hoje... — Mari arqueou uma sobrancelha. — Lembra do Yuri?

— Sim.

— Decidi tentar como você disse, eu propus a ele uma...bem, uma amizade colorida, sabe o que é?

— Com certeza. — disse sorrindo. E Lucas permanecia com o olhar abaixado.

— Ele aceitou, mas acho que o Yuri não levou a sério. — Lucas comprimiu os lábios.

— Deixa eu ver se entendi. — disse Mari. — Ele achou que vocês estavam ficando, mas não era nada sério, e você ficou com uma menina sem ele saber? — Lucas assentiu. — Mas ele ficou sabendo de alguma forma. — Lucas assentiu novamente se odiando cada vez mais. — Agora ele está magoado com você?

— Acho que sim.

Mari tirou o sapato e se ajeitou ao lado dele, passando seu braço por trás de seu pescoço e trazendo Lucas para mais perto.

— Eu “tô” com medo, Tia. — falou baixinho, deitando a cabeça no ombro dela. — Fiquei assustado e confuso com o que comecei a sentir por ele e... — engoliu em seco, se lembrando da tarde no banheiro. — E acho que ultrapassei o limite dele, acho que o pressionei a fazer algo que eu queria, mas ele estava assustado e talvez só aceitou porque eu o pressionei.

— O que você fez?

Lucas se mexeu, ficando sem graça, mas falar sobre sexo com a Tia sempre foi algo normal para ele. Quando perdeu a virgindade, Mari foi a primeira a saber e, teve uma longa conversa com ele, sobre doenças sexuais e o uso de camisinha. Lucas quase morreu de vergonha, mas entendeu que o que sua tia dizia era para o seu bem, e ele nunca conseguiria ter essa conversa com os pais.

Raspou a garganta e disse baixinho:

Masturbei ele. — sua voz soou tão baixa que Mari se curvou um pouco em sua direção para ouvi-lo.

— Desculpe, eu não ouvi. — disse ela, o encarando de tão perto que Lucas corou, fechou os olhos e berrou:

— EU MASTURBEI ELE! — Mari afastou a cabeça e, fez uma careta escutando um zumbido do ouvido.

—Acho que até a Letícia te ouviu. — Lucas corou mais ainda, cobriu o rosto com as mãos, sussurrando um “Tia!” constrangido.

— É, eu passei dos limites, fui um pervertido apressado e não me importei se ele tava com medo. — dizia tendo sua voz abafada pelas mãos.

— Como você tem tanta certeza sobre isso? — Lucas retirou as mãos do rosto e fitou a tia, com uma cara de cachorro sem dono.

— Ele ficou estranho. — disse.

— Vocês precisam conversar sobre isso, Lucas. — Mari alisou os cabelos dele. — Só assim para você tirar essa dúvida da sua cabeça.

— Eu perguntei se ele tava bem, e ele só assentiu, tipo. — deu de ombros. — Fiquei com isso na cabeça, e achei que ficando com a Carina as coisas iam se resolver, que esse sentimento confuso ia sumir, que eu teria certeza de que não sinto nada por ele, mas quando beijei ela, pensei nele. — se deitou de costas para a tia e falou baixinho: — Tia, o que eu faço?

— Admita que você gosta dele, peça desculpas, explique o que aconteceu, acho que ele vai entender.

— Será? — Mari afagou o ombro dele. — Estraguei tudo, como sempre.

— Não diz isso.

Lucas ficou em silêncio por alguns minutos, pensando em como se aproximar de Yuri sem que Lia saiba.

— Acho que o medo do meu pai saber que fiquei com um garoto foi um dos motivos. — disse se virando para a tia. — Ele vai me chamar de aberração e dizer que a culpa é sua. Você é a única pessoa que me entende, que sabe como ele é.

— Do Roberto cuido eu, agora dorme um pouco e não pensa em como o seu pai vai reagir e sim, na sua felicidade, pense em como você se sente quando está com o Yuri, e se pergunte se vale a pena sacrificar esse sentimento apenas pelo fato do seu pai reprovar.

Lucas recebeu um beijo no rosto e, observou ela caminhar até a porta. Mari o deixou pensativo, já era bem tarde da noite.

Voltou a posição de barriga para cima e braços atrás da cabeça. Queria que fosse fácil, que o pai o apoiasse.

Ficou acordado até às 3 da manhã.

Tudo que Lia havia lhe dito vinha em flashes o deixando mal, sabia que tinha feito merda, nem precisa ver Yuri para saber disso.

O sono não vinha. Mudou de posição várias vezes, e por fim aceitou de vez que gosta de Yuri. Lucas sabe que ficar reprimindo seus sentimentos só o machucará.

E pensar que Yuri está machucado com o seu ato, o deixou inquieto e sem sono. Seus olhos arderam, ele os apertou com força, esfregou as costas das mãos nos olhos, tentando evitar que as lágrimas rolassem sem sua permissão.

Quer conversar com Yuri, se explicar e se desculpar, mas seu coração gelou apenas com a possibilidade de Yuri não o perdoar.


Notas Finais


Até o próximo!


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