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História With You - She is something to behold.


Escrita por: _EskimoPie

Capítulo 6 - She is something to behold.



POV Cosima

Se tivessem me contado que algum dia eu sentiria falta de alguém desesperadamente como eu sentia de Delphine, jamais acreditaria. Nunca fora do tipo que precisava estar com minhas namoradas todo dia, na verdade mesmo morando perto de Shay já havia passado mais de uma semana sem vê-la e não sentira falta alguma, mas Delphine... Eu não sabia se era ela quem me deixava assim ou se eu que estava carente por estar longe de minha família, mas com menos de dois dias longe dela eu já estava em desespero, uma verdadeira crise de abstinência. Sonhava com Delphine, chamava outras pessoas por seu nome, me pegava rindo sozinha cada vez que via a enorme mancha roxa que ela deixara em meu ombro, lhe mandava mensagens de tudo que me lembrava dela - qualquer gato que passasse por mim contava -, era um absurdo. Como eu estava naquele estado com uma semana - sete dias apenas - de convivência? 

Sarah fora embora sábado, mas deixou Kira comigo até domingo à noite, ia encontrar um amigo em algum bar, típico de minha irmã. Domingo era dia de Tales of Space e, não fosse por Kira, eu teria aparecido na porta de Delphine pronta para assistir o episódio em seus braços. Não podendo demonstrar meu desespero tão claramente, acabei apenas comentando o episódio com ela por mensagem, o que era melhor que nada, Delphine era ótima companhia para assistir séries e seu investimento emocional no romance era extremamente fofo, no final eu tinha certeza que ela estava chorando do outro lado.
D: Cosima, eu apenas acho a história muito bem construída, ela foi feita para emocionar, não sou eu. 
Delphine tentava se defender, horas depois, quando Kira já havia ido embora.  
D: Eu não sou uma adolescente, não estou investida. 
Eu sorria sozinha, conseguia vê-la com aquela expressão séria, levemente ofendida, de olhos arregalados e sobrancelhas levantadas. Um amor. 

Delphine só conseguiu me fazer parar de provocá-la com a questão mudando de assunto, ela queria me ver, e só essas palavras já faziam meu coração disparar. Sim, eu também queria vê-la o mais rápido possível. Me sentia ótima por ter o desespero correspondido. 
Del tinha uma reunião e muitas turmas segunda, mas iríamos nos ver de noite, sendo a única programação viável, decidimos ir ao cinema e depois... Meus reais planos. 
Não sexualmente, apesar de... Bem, sim, também. Mas meus planos eram mais ficar na cama com ela, conversando, a tocando livremente. Era isso que eu queria, a Delphine exposta e aberta que me fazia nunca querer sair da cama. Não era isso estar apaixonada? Querer estar com aquela pessoa, o mais próximo possível, ignorando o mundo ao redor? Todos os passeios e encontros entre esses momentos eram apenas formalidades ou formas de encontrar novos motivos para tirar as roupas. 

Eu passara a segunda inteira agitada. Aldous estava insuportável, me cercando com perguntas sobre sua palestra, eu não sabia não ser um tanto atrevida e imprudente ao respondê-lo, fazendo meus parceiros de laboratório, Helen e Tom, arregalarem os olhos para mim a cada minuto. Não conseguia entender, os dois também haviam ido à palestra, porque Leekie só me perturbava? 

- Me diga, Cosima, - ele começava outra vez, ao me ver parada esperando o sequenciamento de algumas amostras. Me segurei para não revirar os olhos, lhe dando um leve sorriso. - a sua... Amiga, que estava com você, na palestra? 

Concordei com a cabeça, só me faltava ele querer saber a opinião de minha ''amiga'' também. 

- Foi impressão de meus velhos olhos ou era Delphine Cormier? - Meu incômodo piorou naquele instante. A empresa de Delphine, claro que ele iria querer falar sobre. 

- Hm... Sim. - concordei, me esforçando para soar de forma casual. Era apenas Delphine pra mim, minha Del. 

- Wow, Cosima. - Tom se meteu na conversa, recostando na mesa à minha frente. Eu implorava para o sequenciamento ser mais rápido. - Não sabia que era amiga de uma Cormier, vai ser bom para a sua carreira. 

- Com certeza, Tomas. - Leekie sorria, se parecendo ainda mais com uma caveira. - A DunCor é uma grande parceira do Instituto, a Srta Cormier te contou Cosima? 

''Definitivamente, era isso que ela falava enquanto eu estava entre suas pernas.'' eu queria responder, mas respirava fundo, mantendo minha postura apática ao tema. 

- Uhum. Ela mencionou. - sorri, finalmente meus dados estavam sendo gerados na tela, logo eu fugiria dali. 

- Porque você não a convida para um jantar, Cosima? - Leekie se aproximou de mim, tocando meus ombros com suas mãos cadavéricas e geladas. - Conosco. 

- Co...nosco? - me virei, minhas mãos indo à cintura, toda a paciência que eu tinha esgotada. 

- Sim, sim, ela é uma mulher mais interessada na ciência da empresa do que nos negócios, você poderia ser uma ponte para... Nos aproximar. - ele sorriu e piscou para mim. QUE? - Ouvi que está solteira. 

- Hm... Na verdade não, Dr. Leekie, Delphine não está solteira. - disse antes de processar o que eu estava fazendo, enojada e com profunda raiva daquele homem. 

Meus papéis saíram e corri para buscá-los, deixando Leekie atônito por alguns instantes. 

- Bem, se ela tem algo com alguém, não é sério, ainda há chances. - ele riu de sua própria ''piada'' e me deixou sair em paz. 
Argh. Não queria acreditar no que ouvira. Aldous era nojento de todas as formas possíveis, ele nunca falhava em me surpreender nesse quesito. 

Pobre Delphine, deveria ter dezenas de velhos como ele interessados nela por causa da empresa. Minha vontade era de voltar e dizer a Leekie que Del estava comigo e que não, ele não tinha chances. Principalmente porque tinha quase certeza que o tal jantar iria acontecer eu querendo ou não. 

Encontrei Jess na cafeteria do Instituto quando estava indo embora, ela imediatamente me perguntando onde eu estivera o final de semana inteiro, não a via ou falava com ela desde sexta. 

- Minha irmã veio me visitar, eu te contei que ela viria. - disse, conferindo o celular, nenhuma mensagem. 

- Ah tá, Cosima. - Jess riu, me fazendo levantar a cabeça. - Como foi com Delphine? Não adianta tentar me enganar, eu te conheço. 

- Tá óbvio assim? - Sorri um pouco envergonhada. Jess, apesar de ter tentado me convecer no começo a não entrar em nenhum relacionamento tão cedo, estava sendo uma ótima amiga e me apoiando. 

- Bastante. Você está cintilando praticamente. - ela ergueu as sobrancelhas. - Não imagino o que tenha te deixado assim... 
Mesmo com Leekie me importunando, minha felicidade ainda era visível? Era definitivo, eu estava apaixonada por aquela mulher. 

- Droga, achei que fosse discreta. - eu movia minhas mãos, era minha forma de afastar a vergonha, liberar energia. - Enfim, sim, ela é ótima, vamos nos ver hoje. Mas... Você acredita que eu tive que ouvir Leekie praticamente falando abertamente que está interessado nela? 

- Que? Eww. Ele é velho, ela é lésbica!

- Bi. - a corrigi, quase adicionando que eu era, na verdade, a primeira mulher com quem se relacionava, mas achei melhor não. Era pessoal demais. 

- Que seja, ele é velho. - Jess fazia cara de nojo, sintetizando meus sentimentos. - Mas eles se conhecem? Ou ele só sabe que ela é diretora da DunCor e se interessou? 

- Acho que, no máximo, se conheceram em alguma reunião ou sei lá, Delphine parecia nem reconhecê-lo sexta. 

- Aldous pode ter uma ótima mente, mas precisa aceitar que só isso não conquista as garotas. - ela disse, como se a mente de Leekie fosse menos nojenta que ele...

- Nada naquele homem presta, Jessica, já disse tantas vezes... Ele só tem experiência científica porque... Bem, ele deve ter quase cem anos. - tentava a alertar, me irritava profundamente a forma como todos naquele Instituto idolatravam a ''brilhante mente'' de Aldous. Ele era um eugenista quase confesso! 

- Cosima, em algum momento você vai perceber a sorte que tem de tê-lo como diretor de projeto. Aldous é... Brilhante. - revirei os olhos, mudando de assunto antes que perdesse a paciência com Jess também. 

Cheguei em casa cedo, o dia seguinte seria de visita no Instituto então não havíamos feito nada além do básico programado, evitando erros e deixando tudo pronto para as empresas que iriam conhecer nossos projetos em desenvolvimento. Helen havia se oferecido para apresentar o nosso com Leekie, o que fora um alívio pra mim, assim eu poderia apenas passar lá de tarde para conferir algumas culturas e ainda evitaria Aldous e seu planejamento de jantar por um dia inteiro. 

Delphine não havia dado sinal de vida o dia inteiro e, faltando poucas horas para nos encontrarmos, decidi ligar para ela, apenas para confirmar se estava tudo bem e... Ouvir sua voz. 

Meu Deus, eu estava ridiculamente apaixonada. Nem a Cosima adolescente acreditaria, talvez apenas Alison ficasse feliz, ela era uma romântica exagerada de carteirinha. 

- Allô? - Delphine atendeu depois de muitos toques, deveria estar saindo de alguma turma. - Cosima? 

- Hey! - disse, sem saber muito bem o que falar depois, eu só... Queria saber dela, havia sumido. - Ocupada? 

Del demorou pra responder, eu ouvia sussurros de fundo, com certeza não eram de adolescentes em uma sala de aula. 

- Um pouco, na verdade. - deu um risinho rápido, os sussurros se afastando. - Tá tudo bem, Cos? Pra hoje? 

- Hm... Uhum, eu só... Queria saber de você, sumiu hoje. - confessei um pouco envergonhada. Eu não aguentaria esperar mais três horas? 

- Oh, desculpe, ma chérie, hoje foi... Um dia cheio. - ouvi alguém falando novamente e Delphine, fora do telefone, concordando. Droga, ela deveria estar em alguma reunião. - Te vejo daqui a pouco, oui? 

- Sim, sim. Desculpe por... - estática. - Delphine? 

Ela havia desligado o telefone correndo. Droga, eu estava sendo ridícula e a atrapalhando. Me sentia uma idiota, Delphine era uma mulher ocupada, trabalhava em dois lugares, chefiava uma empresa, e eu... A ligando para ouvir sua voz? Tão infantil... Se continuasse fazendo essas coisas ela perderia a paciência comigo. Me ocupei organizando o apartamento, eu tinha tendência a manter uma bagunça
que só fazia sentido pra mim, então a organização demorou o suficiente para me manter longe de fazer outra idiotice. 

Quando comecei a me arrumar para sair, já faltava apenas meia hora. Vesti uma blusa longa de estampa vermelha e roxa, leggings e um casaco fino marrom que os detalhes de espinhos dourados nos ombros me diziam ter sido de Sarah em algum momento. Deixei meus anéis de lado, aprendera com o tempo que eles só me atrapalhavam ao sair com uma mulher, mas coloquei algumas pulseiras e um colar, me sentia seminua sem eles. 

Peguei o trem já bem tarde, com certeza chegaria atrasada. Delphine teria que se acostumar logo com meus atrasos. 
A encontrei antes mesmo de entrar no cinema. Estava sentada em um dos bancos perto da bilheteria, de... Terno. 
Delphine de terno... Me vi parada poucos passos depois da entrada a observando. Era um terninho feminino leve, bem agarrado ao seu corpo, seu belo, encantador corpo... Como podia estar mais linda? 

- Cosima! - ela me viu e vinha andando em minha direção. Os cabelos presos em um coque, com alguma maquiagem... Eu estava encantada como na primeira vez que a vira. - Atrasada. 

Del se abaixou, segurando meu rosto entre as mãos para me beijar rapidamente, mas não tirou as mãos quando se afastou. 

- Tudo bem, Cos? - ela olhava em meus olhos com um meio sorriso. 

- Você... Fica ótima de terno. Mesmo. - disse, a fazendo rir. 

- Bom saber, não tive tempo de me trocar antes de vir e... Bem, reunião importante, precisei ir à caráter. 

- Devemos nos ver toda vez depois dessas reuniões, pela ciência. - ainda estava parada com suas mãos ao lado de meu rosto, minhas orelhas entre seus dedos. Parecia que não me via há dias...

- Pela ciência? 

- É, sabe... Análise de dados de quão afetada eu fico. - ri, a fazendo me acompanhar e me beijar mais uma vez antes de se afastar, seus grandes olhos nunca parando de sorrir. Oh, Delphine... 

Tomei sua mão na minha e fomos à bilheteria, compramos pipoca e ingressos para o único filme que tinha aquela hora, algum drama cult francês legendado, Delphine parecia interessada, mas eu realmente não me importava, só queria ficar com ela. 

A sala estava quase vazia, com exceção de um trio de adolescentes e dois casais mais velhos, fomos para o canto da última fileira, os outros pareciam nem notar nossa presença. Eu mal sentara e Delphine já levantava o apoio de braço, tirando qualquer barreira entre nós. Ela estava tão mais próxima depois de termos dormido juntas, sem toda aquela insegurança que a prendia antes, se permitindo demonstrar mais carinho - e desejo, algumas vezes com mensagens bem claras -, me perguntava se Del também sentira saudade de mim como eu sentira dela. 

- Bem melhor. - ela disse sorrindo e abriu os braços. - Vem cá. 

Obedeci prontamente, tomando cuidado com a pipoca em meu colo ao me aninhar em seu ombro, o cheiro de Delphine invadindo meus pulmões. Doce, mas não puro, quase como o cheiro de alguma fruta exótica. Beijei seu pescoço, a fazendo suspirar e me apertar mais pelos ombros. Deus... Eu sentira falta daquele corpo, de seu calor, de seu cheiro, de seus dedos finos e longos que abaixavam o casaco 
do meu ombro, traçando formas indistinguíveis ali, jurava que até palavras eu podia sentir, mas... Seus dedos tremiam? Olhei para cima, encontrando seus olhos marejados. Delphine tinha lágrimas nos olhos, dava para ver mesmo com a pouca luz. 

Me afastei, ignorando as pipocas que caíam, preocupada com ela. Algo estava errado. 

- Hey, hey... - Delphine desviou os olhos de mim, focando na tela, o filme já passava e nem havíamos notado. - Del, tem algo errado? 

- Non, só... Cansada. Eu disse, foi um dia longo. Só... - ela voltou a me olhar, o lábio inferior entre os dentes, eu já reconhecia aquilo. Haviam lágrimas em seus olhos, não estava delirando. - Vem aqui. 

Abriu os braços novamente, me puxando pela mão, a pipoca caindo aos montes no chão. Ela enfiou o rosto em minha nuca, respirando profundamente antes de se afastar. Estava controlando as lágrimas. 

Certo. Era isso que ela queria. 

Me estiquei para colocar o saco de pipoca na cadeira ao lado, se Delphine queria meu corpo como conforto, ela o teria. Fui para os seus braços, sentando de lado na poltrona para me encaixar melhor, ela passou um braço pelas minhas costas e me segurava pela cintura com o outro, eu estava quase deitada em seu peito. Envolvi a mão em minha cintura com a minha própria, traçando círculos, desenhos, escrevendo segredos, fórmulas químicas... até que Delphine suspirou, seu corpo menos tenso. Voltei a olhar em seus olhos, não haviam mais lágrimas e, ao me ver a olhando, ela os enrugou em um doce sorriso. Minha Del... Algo estrondoso aconteceu no filme, chamando sua atenção, fingi fazer o mesmo. 
Eu não fazia ideia nem sobre o que era o filme. 

- Melhor agora? - perguntei baixinho, mais pra mim que pra ela. Talvez realmente fosse cansaço, fazia sentido. 

- Oui, ma chérie. - Del me puxou pelo queixo para um beijo leve e voltou a olhar a tela, desvencilhando nossos dedos para pegar a pipoca. 

Eu me sentia satisfeita ali, em seus braços. Era impossível, mas era o que eu estava querendo o dia inteiro. Apenas sentir Delphine, ouvi-la, cheirá-la, sentir seu respirar me movendo para cima e para baixo. 

Beijei seu pescoço mais uma vez, me permitindo demorar um pouco mais. Não queria atiçá-la ali, apenas... Lhe fazer carinhos. Sim, era isso, ela parecia tão exausta, tão no ponto de quebrar, que eu só queria lhe dar amor de alguma forma, amaciar seu dia. 
E foi o que fiz pelas quase duas horas de filme. Beijava o pouco de sua clavícula que estava exposto, o queixo, um ou dois beijos nos lábios, traçando segredos em suas mãos, coxas, braços... 

Delphine amolecia a cada toque, seus olhos pesando, ela retribuía mas com mais moderação, se deixando apenas aproveitar naquele momento. Não me importava, estava feliz daquela forma. 

Eu não queria pensar no que sentia, na intensidade de tudo aquilo, no futuro daquela paixão, eu já estava tão apegada, não faltava muito para eu amá-la, por completo. Apenas me deixei estar em seu corpo, naquele momento, naquele espaço. Era o suficiente. 

O filme acabou de forma péssima, pelo pouco que eu entendera, o personagem principal se suicidava. Ouch, não era o que precisávamos. 

- Péssimo, non? - Del se soltou de mim, se esticando na cadeira. - Um final tão triste...

- Uhum... Mas a fotografia era linda, ao menos. - isso eu havia percebido. 

- Hm... Não sabia que gostava de cinema. - ela disse se aproximando para beijar minha bochecha, sua outra mão segurando a outra. 
Todos saíam da sala e precisávamos os acompanhar. 

- Eu até que gosto, e aprecio muito boa fotografia e tons, com certeza. Eu poderia assistir qualquer filme do Wes Anderson pra sempre, é tão agradável visualmente... - levantei a puxando junto. 

- Continua sendo sempre uma surpresa, Cosima. - disse me beijando mais uma vez, meu corpo ainda entrava em surto ao sentir seus lábios prendendo os meus. Me senti esquentar com o simples beijo. 

Começamos a descer as escadas de mãos dadas, eu carregava o saco de pipoca praticamente vazio. Del estava bem mais leve, mais próxima da Delphine despreocupada com quem eu acordara sábado. 

- E agora? O que quer fazer? - perguntou ao sairmos do cinema, o ar frio da noite me arrepiando. 

- Jantar? - procurei por um relógio, já eram quase onze horas. - Ou podemos fingir ser adolescentes e ir pra minha casa pedir uma pizza. 

Delphine riu, se aproximando e passando as mãos pelos meus braços, arrepiados mesmo com o casaco. 

- Pizza e você parecem ótimos pra mim. 

 

Fomos no carro de Delphine, eu me permitindo roubar-lhe beijos a cada sinal. Ela estava mais quieta, claramente cansada, mas continuava me encantando a cada sorriso e palavra solta. Queria lhe contar sobre Leekie, perguntar sobre seu dia, porque estava tão cansada, mas Del não parecia aberta a isso, mantendo nossa conversa leve, sobre cores de carro, músicas na rádio, danças, filmes favoritos. Ela era ótima nisso, em manter uma conversa leve e agradável, mas sem parar de mostrar pedaços de si. 
E fazer eu me apaixonar por todos eles. 

- É a sua cara. - Delphine dissera ao entrar em meu apartamento, ela parecia deslocada ali, em seu terno formal. Não se moveu, apenas observava, sorrindo ao ver o buquê de girassóis sobre a mesa, já murchando. 

- Os lírios estão lá fora, continuam lindos. - eu me aproximava, ficando na ponta dos pés e a abraçando por trás. Delphine cedeu em meus braços, se virando para me encarar, os olhos cansados sorriam com suas lindas ruguinhas. 

Se abaixou para me beijar, um beijo mais íntimo do que os outros, línguas e suspiros se misturando. Devagar, soltei sua cintura para tirar o blazer de seus ombros, revelando a blusa branca de alça por baixo e a puxando de dentro da calça, mas antes que a tirasse também, Del se afastou, encostando nossas testas, as bochechas já corando. 

- Quer pedir a pizza? - perguntou sussurrado, seus dedos traçando a forma de minhas orelhas, minha mandíbula. 

- Uhum. - a beijei novamente, não querendo quebrar o momento, o calor de seu corpo emanando para o meu. 

Sabia que nada iria acontecer naquele momento, Delphine precisava relaxar antes, não queria forçá-la e, honestamente, se ela acabasse apenas dormindo abraçada comigo eu já estaria satisfeita, só queria estar com ela. 

- Acho que vou tomar um banho enquanto isso, não aguento mais essa roupa. - disse, esperando meu aval. 

- Claro. - me afastei de seu rosto. - Pode pegar alguma roupa minha. Bem, se servir. 

Eu notava nossa diferença de altura, por mais que Del fosse magra, minhas roupas ficariam curtas com certeza. Ela sorriu ao perceber que eu trocava olhares de seu corpo para o meu. 

- Vou pegar a minha blusa que ficou com você, posso?

- A blusa infantil do Wall-e? - perguntei a provocando, minha língua apontando entre os dentes, adorava sua reação. 

- Não é infantil, eu... Gosto do desenho, tem blusas da disney para adultos também. E é um ótimo filme. - disse com sua adorável expressão ofendida, mas terminou com um sorrisinho infantil. Eu não aguentava quando fazia aquilo. 

- Awn, eu sei, Del. - beijei sua bochecha corada, tirando meus braços de sua cintura. - Vou pegar pra você. 

Comecei a caminhar em direção ao quarto, só percebendo que Delphine continuava parada no mesmo lugar quando estava no meio do corredor. Ela estava se sentindo deslocada, percebia, não deveria estar acostumada com casas pequenas e simples, parecia até não caber ali. Por mais que eu ignorasse seu status social, eram essas pequenas coisas que o traziam à tona como sua realidade, nossa realidade. 

- Hey. O banheiro é aqui. - abri a porta e esperei que ela chegasse, parecia um pouco envergonhada, tentando se acostumar com o ambiente.

Sussurrou um ''merci'' com um sorrisinho antes de fechar a porta. 

Bem, se quisesse ficar comigo, Delphine teria que se acostumar com lugares simples e pequenos. Ela... Queria ficar comigo, não queria? Ser minha... Namorada? 

Afastei as questões, me lembrando de focar apenas no momento.

Peguei sua blusa - ainda sem ter sido lavada - de algum lugar do meu closet, uma toalha e uma de minhas calças largas, talvez servisse, e a noite estava gelada demais para ela ficar só de blusa. Pedi a pizza, ouvindo a previsão de entrega de quarenta minutos não tão incomodada como estaria se Delphine não estivesse lá. Ela precisava relaxar, não precisava? Eu com certeza poderia a ajudar com isso 
em quarenta minutos. 

Bati na porta antes de entrar com suas coisas, não sabia se Del queria companhia, mas assim que ela gritou um ''oui, Cosima? Abre'' comecei a tirar minhas próprias roupas, ficando apenas de calcinha. 

Ela se virou ao me ver entrar, desembaçando um pedaço do vidro para me ver e seus dentes castigando seu lábio no exato instante em que processou o fato de eu estar quase nua. Sorri com a visão. 
Delphine, de cabelos úmidos e boa parte do corpo escondida pela fumaça no vidro, os olhos arregalados, mas um sorriso tímido brotando em seu rosto. Compreendi como um aval e segui, deixando a calcinha cair no chão com a sua e abandonando meus óculos sobre a bancada da pia. 
Abri a porta do box apenas o necessário para entrar, a água estava quente, deixando o ar lá dentro muito mais aquecido que o do lado de fora. Delphine se virou devagar, com aquele sorrisinho ainda no rosto, seu corpo belamente molhado e avermelhado pela quentura da água. Meu coração acelerando apenas ao vê-la nua. Não me acostumara ainda com a perfeição do corpo de Delphine, as pintinhas por toda parte, o caimento perfeito de seus peitos, a delicada curva de sua cintura... A maravilha entre suas pernas.

- Achei que poderia precisar de alguma ajuda pra... Relaxar. - eu sorria com malícia, me aproximando, entrando sob a água, minhas mãos já se apossando de sua cintura, daquele corpo. - Depois de um dia tão cansativo...

- Hm... Uhum, demais. - Del balbuciou, levando as mãos ao meu pescoço, descendo até meu colo, os dentes prendendo o lábio inferior novamente. 

Ela fazia aquilo quando ficava excitada também, já era perceptível a diferença. 

Fiquei na ponta dos pés para beijá-la nos lábios, de leve, descendo por seu pescoço até a clavícula. Ainda haviam algumas marcas ali de nossa última vez juntas e mantive uma nota mental de tomar mais cuidado daquela vez, eu a marcara muito na última. 

Delphine se aproximou de meu corpo com o toque, me permitindo prender sua cintura entre meus braços, nos mantendo quase grudadas, seus seios encontrando os meus.

- Então... Posso te ajudar a relaxar? - sussurrei em seu ouvido, deixando um beijo logo abaixo. 

- Deve. - ela afastou minha boca de sua pele para me beijar, logo aprofundando o beijo e soltando uma série de gemidinhos e suspiros. Eu a acompanhava, minha própria excitação começando a ser sentida.

Antes que perdesse o foco, parei seus beijos e a girei, encostando suas costas em mim, sua bunda sendo pressionada contra meu sexo de forma deliciosa, tentava resistir a tentação de mover contra ela. Mas aquele momento era sobre Delphine, me lembrava. 

Tracei linhas de beijos por seu pescoço e nuca, a fazendo gemer e rebolar contra mim novamente. Minhas mãos desciam por seu corpo, a apertando por todo canto, seus seios, sua cintura, seu quadril, provocando deliciosos gemidos e, com cada um, ela movia o quadril contra mim, a pressão feita em meu sexo me fazendo a acompanhar em seus sons. 

Finalmente, meus dedos encontraram seu centro quente e úmido, começando de fato meu processo para relaxá-la. 

 

Estávamos deitadas, enroladas em um cobertor na sofá, Delphine aninhada em meu ombro, uma perna sobre mim sob a manta, seus cabelos ainda um pouco úmidos molhando meu pescoço enquanto eu passava os dedos por eles. A caixa de pizza jogada no chão à nossa frente, completamente vazia, a garrafa de vinho que havíamos roubado em nosso primeiro encontro pela metade. Algum filme de comédia romântica passava na tv, eu assistira o começo, enquanto comíamos, mas naquele momento eu já estava completamente desligada, focada nos cabelos de Del, em sua mão espalmada em minha barriga sobre a blusa, no calor que tínhamos criado ali. Nossa bolha. 

- Vão amanhecer completamente armados... - Delphine disse, o sono palpável em seu tom lento e baixo. 

- Seu cabelo? - perguntei, enrolando uma mecha quase seca em meus dedos. 

- Uhum... - ela enfiava o rosto na virada de meu pescoço, deixando um beijinho ali. 

- Mas é tão bom mexer neles... - confessei num sussurro, sem parar com os dedos. Eu amava aqueles cabelos, seus cachinhos, a maciez... 

- É bom aqui. - Del respondeu com mais beijos em meu pescoço. - Tão gostoso... 

Ela subia os beijos, ajustando seu corpo para ficar em cima de mim enquanto sua boca alcançava meu queixo com beijos descuidados e sonolentos. Delphine estava sonolenta - e um tanto bêbada, eu precisava admitir -, mas escorregava uma perna entre as minhas sob a coberta, uma de suas mãos levantando a barra de minha blusa e subindo. 

- Eu quero você. - ela sussurrou sem abrir os olhos, roçando os lábios em mim. Ela estava claramente tão cansada... Segurei seu rosto entre as mãos, a fazendo parar e me olhar. 

- Temos uma manhã inteira amanhã, não temos? - por sorte, ela também não tinha trabalho na terça até de tarde. Seus olhos pareciam ofendidos apesar de eu estar sorrindo. 

- Você não quer, Cos? - Tirava a mão dentro de minha roupa, seus olhos me encarando confusos. - Mas você... Me teve. 

- Uhum, era só isso que eu queria, te relaxar. - peguei sua mão que pairava sobre minha barriga. Eu sabia o que ela estava pensando, era nova em um relacionamento lésbico, ela com certeza estava achando que precisava me fazer gozar para eu estar satisfeita com a noite. Eu passara pelo mesmo pensamento no começo. 

- Mais... - ela suspirou, voltando a descer pelo meu pescoço de qualquer forma.

- Hey, hey... - precisei a puxar para mim de novo, seus olhos estavam tão cansados... Não a queria daquela forma. - Vamos dormir agora e fazer amor amanhã, hum? 

Ela sorriu inesperadamente, um sorriso aberto, quase... Emotivo. 

- Faire l'amour... - sussurrou, a voz doce, quase como se testasse as palavras. Era isso? 

Oh, Delphine... Eu me perguntava qual era seu passado de relacionamentos para ser tão afetada por carinhos, de qualquer forma. Beijei a ponta de seu nariz, aquela pintinha adorável ali, descendo para sua bochecha rosada pelo vinho, a covinha ainda ali por estar sorrindo. Ela se entregou aos carinhos, deitando a cabeça em mim novamente, voltando à nossa posição anterior. Seu corpo ainda mais mole e sonolento que antes, uma perna firmemente presa em mim, meus braços em suas costas. 

- Faire l'amour sonne bien... - falou depois de um tempo, os olhos já fechados, mas um esboço de sorriso ainda nos lábios. 

Não parei de mexer em seu cabelo até senti-la pesar sobre mim. 

Delphine dormiu logo, me deixando apreciando seus traços, angelicais até. Eu queria tanto saber mais sobre ela, sobre seu passado, parecia haver... Um estranho machucado emocional nela. A ideia de seus relacionamentos terem sido abusivos ou tóxicos me gelava a espinha, ela era tão frágil ali, tão exposta... Ver Del e pensar no que a machucara tanto, nos possíveis motivos para ela ser tão sensível à qualquer demonstração de afeto... Pensar na simples ideia de algum homem tê-la machucado tão profundamente, tê-la negado amor... Eu a apertei em meus braços, esquecendo de qualquer cuidado para não a acordar.

Delphine era uma mulher maravilhosa, merecia tanto amor...

Decidia que eu lhe amaria até sarar aquele machucado. Faria amor com ela de todas as formas possíveis, não apenas sexual. Iria suprir a falta que tinha de carinho, de amor. 
Eu... Meu coração acelerou ao tomar ciência de meus pensamentos. 

A paixão estava, rapidamente, evoluindo para algo muito mais profundo, quase como uma doença tomando meu corpo. 
Completamente inesperado e incontrolável. Eu não deveria ter deixado ela entrar em minha vida daquela forma, mas já era tarde demais para arrependimentos. 


Notas Finais


Título: Georgia - Vance Joy.


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