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História Within (Changlix) - Único


Escrita por: Persefones

Notas do Autor


Hello, hello ~♡
Há quanto tempo não venho aqui! Como você estão?!

Vou falar um pouco dessa one shot que estou postando hoje. Bom, eu assisti Wandavision pela primeira vez recentemente e em determinada cena teve uma fala que me marcou muito. Do nada veio esse plot na minha mente e eu tive que botar no papel.

Ah! Quem já assistiu Wandavision, vocês vão ver que a fala está embutida dentro da fanfic.

À todos que chegarem até aqui, eu desejo uma boa leitura.
Desculpem qualquer errinho.

Tia pê.

Capítulo 1 - Único


Fanfic / Fanfiction Within (Changlix) - Único

25 de Março de 2018
__

Muitas áreas metropolitanas no mundo são chamadas de “cidades que nunca dormem”, mas, se existe um local que corresponde perfeitamente bem a essa descrição, certamente é Seul. 

Assim que o sol se põe, é injetado nas ruas daquela cidade uma espécie de novo tipo de vida, já que os trabalhadores cansados desaparecem dali para dar espaço para os jovens que buscam uma diversão noturna. Seja em baladas, locais para jogos, espaços ao ar livre para jogarem conversa fora enquanto seguram uma lata de cerveja na mão ou, para os mais calmos, pubs e restaurantes comuns para aproveitarem um belo Tteokbokki, um ótimo Hot Pot e muito mais.

Neste processo, a vista do horizonte que de dia mostrava uma cor em tom sépia, se transforma em um recipiente de várias luzes néon chamativas e festivas durante a noite. 

“Seoul. You are here, have some fun!”, era o que estava escrito em um dos muitos letreiros de led que acabava de acender chamando jovens estrangeiros ou nativos para a diversão.

Para os frequentadores assíduos daquelas ruas, aquela era uma noite ótima para aproveitar o clima gostoso e propício. Entretanto, para quem gostava de curtir o conforto do próprio lar, visitar um local como aquele neste horário, ver tantas pessoas e luzes assim, podia ser um pouco confuso e exaustivo.

Neste ponto, temos Seo Changbin. 

O tipo de homem que adorava ficar em casa, aproveitando seu fim de dia com um bom filme, um balde de pipoca e um refrigerante de qualquer marca que tivesse gás suficiente para refrescar sua língua. Principalmente, se fosse numa sexta-feira.

Entretanto, diferente do que estava acostumado, sim, ele estava na rua procurando o endereço de um pub que Bang Chan, seu melhor amigo, lhe indicou. E, não, não gostava nem um pouco disso.

'Já chegou? Não vai se atrasar e chegar depois do cara.
Olha o mico, Changbin'.

Changbin leu em seu celular a mensagem enviada pelo amigo e apenas revirou os olhos. Era a vigésima vez que ele mandava aquilo, parecia que estava usando o copia-cola, nem se dando ao trabalho de escrever algo novo ou útil.

— Tsc. Chan-hyung é tão insistente em ficar mandando mensagens repetitivas que nem ele mesmo aguenta mais digitar - Sussurrou para si mesmo enquanto checava as numerações e nomes dos estabelecimentos na rua para ver se encontrava o certo — Esse cara que ele inventou de me apresentar hoje deve ser muito importante, porque ô encheção de saco

Não fez questão de responder a mensagem.

E não precisou. Seu celular já apitava de novo com uma nova.
 

'Já chegou? Não vai me fazer passar vergonha.
Não se esqueça que fui eu que arranjei esse encontro para você'.

— Fala como se eu estivesse desesperado para arrumar um namorado - Continuou resmungando sozinho - Para começar, eu nem queria estar aqui.

Depois de andar mais alguns quarteirões, para seu alívio Changbin finalmente achou seu destino: Um pub chamado Haengbok.

O local tinha uma atmosfera jovem e descontraída, e seu ambiente era escuro - a única iluminação ali, vinha de vários varais de luzes espalhados que relembravam um bar praiano. Para completar, haviam poucas pessoas sentadas nas mesas e elas conversavam mais tranquilamente, o que deixava tudo mais calmo.

Essa última parte em especial junto com a decoração de bom gosto do local, agradou um pouco aquele rapaz de espírito caseiro.

— Boa noite! Seja bem-vindo ao Haengbok - Um belo recepcionista de cabelos longos e escuros o chamou da porta de entrada.

— A-ah… Oi, boa noite! Um amigo reservou uma mesa para mim aqui. Acredito que seja na área da varanda.

— Você é o Changbin-ssi, certo?

— Sou… - Estranhou um pouco — Como sabe?!

— Bang Chan-hyung me disse que viria. Foi ele quem fez a reserva para você, certo?

Hyung? Você o conhece?

— Hm… Digamos que sim. Ele adora nossas batatas fritas, então, vem aqui quase todos os dias - Riu nostálgico — Bom, muito prazer, eu me chamo Hyunjin. Já sei qual é a sua reserva, vou levá-lo até lá.

Changbin não tinha entrado muito no humor do outro, devido a isso manteve a desconfiança quando seguiu-o para dentro do pub. Contudo, mesmo assim, ao chegar na tal mesa, apenas acomodou-se no assento indicado.

Sentia-se um tanto desconcertado com toda aquela situação.

Changbin realmente não buscava um namorado, ficante ou algo do tipo, estava realmente feliz da maneira dele. Porém, seus amigos não pensavam daquela forma, há anos tentavam criar ocasiões para que ele encontrasse alguém para sua vida, alguém para amar. Principalmente, Bang Chan que era quem mais insistia em arranjar encontros às cegas para ele sempre que tinha a oportunidade.

Normalmente, Changbin tinha sucesso em despistar o amigo e fugir de suas invenções, mas naquele dia não teve tanta sorte.

— Gostaria de pedir algo para beber? - Hyunjin perguntou.

— Gostaria, mas parece que é mais educado eu esperar o meu convidado chegar… Ou seja lá o que ele for.

— É! Se você vai se encontrar com alguém, seria melhor esperar mesmo - Disse sorrindo — Bom, qualquer coisa é só chamar à mim ou aos demais atendentes. Teremos o prazer em atendê-lo.

— Obrigado!

— Ah! Antes que eu me esqueça. Você parece um pouco perdido, então, provavelmente não sabe. A programação da noite é pop, hip hop, R&B… Mas sinta-se à vontade para solicitar outro ritmo ao DJ, caso deseje.

— Espera, espera. Do que está falando?

— Por volta das 21h, nós costumamos puxar uma pequena baladinha para dar uma animada no ambiente e deixar as pessoas descontarem suas bebidas na dança - Explicou — Esses que te falei, são os ritmos programados para a noite de hoje.

— Baladinha? Sério? - Bufou irritado - Preciso dar um jeito de sair daqui antes desse horário então.

— O que?

— O-oh… Nada não. Estou apenas resmungando coisas aleatórias comigo mesmo.

Changbin era do tipo travado que detestava se expor e, também, tinha horror de ser puxado para uma pista de dança. Por isso, naquele momento, já tinha começado a arquitetar um plano para acabar com tudo o mais rápido possível e ir embora.

Daria um jeito de dispensar seja quem fosse a pessoa que jantaria com ele naquela noite.

Não tem como Chan-hyung reclamar. Eu disse que viria, não que ficaria. Changbin pensou.

— Tudo bem. Vou me retirar para atender aos demais clientes! Fique à vontade, senhor.

— Obrigado.

Quando o atendente se retirou, Changbin aproveitou para pegar de dentro de seu bolso um pequeno bloco de anotações e um lápis apontado quase até seu toco. Queria aliviar seu estresse e esperar o tempo passar fazendo o que mais gostava de fazer: Desenhar.

Antes de ir para o Haengbok, ele tinha passado o dia inteiro em casa esboçando traços de uma imagem borrada que não saía de sua mente desde a hora que acordou. Não sabia muito bem o que era, um rosto, um olho ou, até mesmo, uma paisagem... Mas, estava doido para descobrir. E, como um amante das artes, não podia esperar pela hora de ver mais uma obra sua finalizada, colorida e, dependendo do resultado, emoldurada. Assim ele poderia pendurá-la em sua parede como enfeite ou vender na internet para ganhar algum dinheiro.

Uma mesa, um bloco e um lápis… Tinha tudo ali para continuar a sua arte.

Então, é claro que aproveitaria o momento para desenhar.

'Espero que você já esteja aí, Seo Changbin'. 

Outra mensagem.

'Felix acabou de me avisar que já está chegando'.

Mais uma mensagem.

Porém, dessa vez, como se Bang Chan fosse um vidente que fazia profecias através do celular, um rapaz se aproximou da mesa carregando um sorriso enorme em seu rosto.

— O que você está rabiscando aí? - O recém chegado perguntou.

Imediatamente, Changbin contorceu a sobrancelha enquanto intercalava o olhar entre o papel debaixo de sua mão sobre a mesa e o estranho parado em pé em sua frente. 

E que belo rapaz ele era! Loiro, olhos levemente amendoados, sorriso largo e sardas distribuídas pelo rosto deixando-o ainda mais encantador. Certamente, se houvesse a oportunidade, ele seria um ótimo modelo para as obras de arte que Changbin criava na ponta de seu lápis ou pincel. 

— Nada… - Amassou o papel e escondeu o bloquinho dentro do bolso esquerdo do blazer bege que vestia — Nada de mais.

— Tá, okay… - O rapaz estranhou o comportamento — Bom, espero que você seja o Changbin, porque você é muito bonito.

Tsc! - O moreno soltou um riso lateral debochado não gostando muito do flerte descarado — E você deve ser o Felix, certo? Bang Chan-hyung me avisou que você poderia ser um pouco direto demais nas suas… investidas.

— Eu só disse a verdade! - Adicionou vendo o outro desviar o rosto um pouco incomodado com o elogio — Hm… Posso me sentar?

— É-er… Claro... Tanto faz.

Pacientemente, Felix retirou a jaqueta branca que utilizava - o que não foi nada muito revelador, já que usava uma camisa na mesma cor por baixo - e a pendurou na cadeira antes de se sentar de frente para Changbin.

Observou-o detalhadamente.

Por causa disso, trocas e desvios de olhares tímidos com a presença alheia, ocorreram mais de uma vez entre eles durante aquele curto período inicial de estranhamento, conhecimento e afinidade.

— Você trabalha com desenhos ou algo do tipo?

— O que disse?

— Seus dedos… - Felix apontou — Estão um pouco manchados de grafite como alguém que usa muito as mãos para criar artes. Então, deduzo que deva ser um designer ou um pintor.

Changbin se sentiu intimidado pois o loiro tinha conseguido analisá-lo rápido demais para seu gosto. Logo ele, uma pessoa que se considerava extremamente discreta.

— Hm, é… Você acertou! Eu pinto quadros.

— Legal, parece que tirei a sorte grande! Um encontro completo com um homem atraente e talentoso.

Tsc! Elogios de novo… - Changbin sussurrou.

Felix tirou um momento para deslumbrar o local. Aconchegante, agradável e com vista para a lua e as estrelas; perfeito para o que estavam fazendo ali naquela noite.

— O lugar é bonito, né?!

— É. Parece que o Chan-hyung sabe o velho caseiro que eu sou então escolheu um lugar em que eu me sentiria como se não tivesse saído de casa.

— Tem razão! - Felix gargalhou gostoso.

— Do que está rindo?

— Nada… É só que… Atraente, talentoso e, agora, com uma certa dose de humor autodepreciativo - Manteve a expressão risonha — Você é totalmente o meu número¹.

— Aish… - Coçou o couro cabeludo, não lidava bem com cantadas tão diretas e, na concepção dele, aquela era a terceira seguida —  Olha, Felix, eu sei que o Chan-hyung teve a melhor das intenções ao marcar esse encontro às cegas para que nós dois pudéssemos nos conhecer e tentar engatar um relacionamento ou algo do tipo, mas tem uma coisa que eu quero deixar clara: Essa é vontade do Chan-hyung e não a minha. Olhando para você, percebo que é alguém jovial, agradável e educado, por isso, acho que devo ser sincero contigo e te dizer que, no momento, eu realmente não estou interessado em relacionamentos amorosos. Sugiro que aproveite a noite e encontre alguém mais interessante do que eu nesse pub com quem possa gastar as suas cantadas, pois está perdendo o seu tempo comigo.

Um momento arrastado de silêncio pairou.

— Uau! Depois dizem que eu sou o direto… - Felix tinha os olhos expandidos em espanto — Que tal nos acalmarmos e pedirmos algo para comer? Daí, depois disso, você deixa que eu decida o que é interessante para mim ou não? Afinal, eu já sou um adulto e, assim como você, sei o que eu quero. Nunca precisei que ninguém decidisse essas coisas por mim, você não será o primeiro.

A fala do loiro podia ser séria, mas seu tom era doce e o sorriso que carregava em seu rosto o deixava superior a qualquer forma de ofensa que pudesse surgir daquele jantar claramente indesejado pelo outro.

Changbin ficou extremamente encolhido frente a isso.

— Hm… E se começarmos pedindo as famosas batatas fritas daqui junto com alguns coquetéis? - Felix sugeriu mostrando o cardápio — Acho que seria um bom pedido.

Não obteve resposta.

Tomando as rédeas da situação, Felix se prontificou a chamar um dos vários garçons dali para solicitar os comes e bebes da noite, sendo simpático ao passar todas as instruções da forma que desejava para que o encontro fosse perfeito. O garçom parecia novato, então ele teve que explicar até qual era o ponto de fritura da batata, a temperatura e o nível de açúcar da Pinã Colada² que pediu para ambos.

Changbin o achou um pouco controlador por causa disso mas, também, o admirava por não ter se abalado com seu discurso idiota de antes e corajosamente continuar ali como se nada tivesse acontecido. Ele parecia ser alguém decidido e forte; atributos pelos quais o moreno sentia encanto e respeito.

Então, pela primeira vez, mesmo que relutante, Changbin resolveu deixar a noite seguir do jeito que ela tinha que seguir. 

Também, qualquer plano que ele tinha arquitetado para dispensar o outro, dava os primeiros sinais de que iria se dissipar.

— Me desculpe, Felix.

— Hm? Pelo quê?

— Por ter sido um ignorante com você antes… É que eu realmente só vim aqui porque o Chan-hyung insistiu muito - Explicou sinceramente arrependido — Eu sou do tipo caseiro, então, coisas como encontro às cegas me põem fora do meu habitat natural e me deixam um pouco desconfortável. Acabei sendo rude com você sem motivo. Peço que me perdoe por isso.

— Sabe o que eu acho? Que nós começamos com o pé esquerdo. Que tal consertamos isso?  - Ajeitou-se na cadeira e estendeu a mão — Muito prazer, eu sou Lee Felix. E você, meu caro senhor, como se chama?

— Olá, Felix… - Respondeu ao gesto enquanto ria — Eu me chamo Seo Changbin.

— E?

— “E”, o que?

— Faltou dizer: “E é um imenso prazer conhecer alguém tão interessante como você”... - Felix ditou o que o outro tinha que falar, fazendo-o rir mais ainda.

— Sim, sim… É um imenso prazer conhecer alguém tão interessante como você, Felix.

— Oh?! Muito obrigado pelo elogio, Senhor Seo Changbin! Estou lisonjeado - Disse com a mão no peito — Bom, pelo pouco que o Chan-hyung falou de você, acredito que você seja mais velho do que eu, então, posso te chamar de hyung?

— Como quiser.

Felix então parou por alguns segundos para mirar profundamente os olhos do outro e puxar algum ar para seus pulmões.

— Changbin-hyung! - Silabou aquele nome pausadamente ao mesmo tempo que ia abrindo um sorriso largo e iluminado, que fazia o canto de seus olhos enrugarem e suas orbes desaparecerem. As sardas entraram em evidência.

Changbin ficou tão fascinado com isso que parecia que tinha uma câmera lenta rodando em sua vista.

Tsc! Você é engraçado, Felix — Fofo e lindo também. Guardou essa parte em seus pensamentos.

— Que bom que acha isso.

 O brilho de Felix era tão grande, bonito e quente que era possível vê-lo e senti-lo através de seu olhar cintilante, capaz de aprisionar qualquer um e o deixar sem escapatória. Isso era algo que ativava a curiosidade de Changbin.

Sem contar que não fazia nem 5 minutos desde que se conheceram e o garoto já foi capaz de deixá-lo sem graça por no mínimo 2 vezes. Isso sim era uma raridade.

Será que Bang Chan finalmente tinha acertado na escolha da pessoa do encontro às cegas do amigo?

— Sigamos o roteiro. Hora das perguntas, então... - O loiro voltou a falar — O que você faz da vida, hyung?

— Espere. Existe um roteiro para encontros às cegas?

— Não sei. Mas algo me diz que se eu não puxar assunto primeiro, cairemos num silêncio eterno.

— Faz sentido! - Disse derrotado.

— Então, de novo: O que você faz da vida, hyung?

— Eu já te disse, eu sou pintor de quadros. 

— Certo, isso eu entendi, bobo. Mas além do trabalho… Você não faz outra coisa? Por exemplo, sair para se divertir?

— Como você deve saber, Chan-hyung é meu amigo de infância, meus momentos de diversão são todos com ele. Às vezes vamos para um barzinho, cinema ou, na pior das hipóteses, ele me mete em alguma confusão como a de hoje e some.

— Ouch! Obrigado pela parte que me toca.

— Ah-ah, n-não! N-não foi isso que eu quis dizer… Você não é uma confusão, eu… - Se atrapalhou tentando desfazer a cagada que tinha dito — Meu Deus! Acho que vou ficar quieto a partir de agora, é melhor.

— Tudo bem, tudo bem. Eu estou brincando com você. Entendi o que quis dizer! - Riu baixinho enquanto balançava os braços no ar compreensivamente  — Mas, voltando ao assunto. Você falou de casa, trabalho e amizade. Nada de romances na sua vida, então?

— Já está puxando assuntos amorosos? Você é bem rápido, Felix.

— Preciso saber logo com que cartas estou jogando. Como vou conseguir te conquistar se não for assim?

— E você quer me conquistar?

— Desde que te vi, hyung - Disse naturalmente.

Um momento de silêncio percorreu até que Changbin balançasse a cabeça freneticamente para sair do rápido transe em que aquelas palavras o colocaram.

— Idiota! Mas, então, voltando… - Quis retornar ao assunto anterior para quebrar o gelo que se instalou — Do que estávamos falando mesmo?

— Relacionamentos, hyung.

— Verdade. Hm, namorei duas ou três vezes no passado. O meu último relacionamento foi há uns 9 meses, mais ou menos na metade de 2017. Mas no final não deu muito certo, então eu desisti. Acho que os caras de hoje em dia não querem o mesmo que eu. 

— Que seria?

— Você não vai querer saber, é brega demais.

— Se eu não quisesse saber, não estaria perguntando - Felix fez uma cara de tédio impagável frente aquela enrolação toda de Changbin mas, mesmo assim, não perdeu a sua graciosidade e simpatia. Dessa forma, a patada em sua frase saiu extremamente mansa  — Vamos lá, me conte, hyung!

— Bom… Digamos que eu sou o tipo de pessoa que só entra em um novo relacionamento se for para tentar fazer dar certo de verdade. Pode não parecer, mas eu quero um romance para a vida toda, daqueles de filmes clichês em que eu não me importaria em reconquistar a pessoa que amo a cada nova manhã e, claro, eu adoraria que isso fosse recíproco  - Changbin expressou a sinceridade em seu coração, por algum motivo sentiu que não precisava esconder aquilo do outro — Mas, já que é impossível achar isso no mundo dos dias de hoje, prefiro ficar quieto na minha.

Após tais palavras, Felix o olhou paralisado por algum tempo.

Estava deslumbrado.

— Que foi? Fui muito cafona? 

— Não, não…  Na verdade isso foi muito bonito, hyung. Você encontrará o homem certo para a sua vida e ele fará reciprocamente tudo isso por você.

— Eita! - Riu breve — Falou como se tivesse certeza.

— Eu tenho.

O garçom com o qual Felix tinha falado antes voltou com uma bandeja que continha os pedidos feitos e distribuiu-os organizadamente pela mesa. Depois disso, o correto seria que se retirasse, mas incomumente o garçom ficou parado ali esperando a chance de falar.

— Sim?

— Desculpe, senhor… - Estendeu na frente do rosto do loiro uma outra bandeja que continha um coquetel adicional e um bilhete dobrado  — O cavalheiro da mesa n. 8, solicitou que eu trouxesse isso para você. 

“Largue o babaca que está com você e venha se divertir conosco”.

Felix pegou o bilhete e leu em voz alta o que estava escrito antes de procurar no ambiente quem era o tal cavalheiro que tinha lhe enviado aquelas coisas. Encontrou num canto mais ao fundo, um grupo de seis homens estrangeiros que claramente estavam ali em busca de diversão e pegação com coreanos. Voltou sua atenção para Changbin e viu que ele estava de cabeça baixa, brincando com a taça de Pinã Colada.

Fuzilou o garçom, mas esse não pareceu entender a sua própria inconveniência.

Para Felix restou revirar os olhos.

— Por favor, leve isso de volta e agradeça ao cavalheiro que enviou. Não tenho interesse.

— Sim, senhor - Disse se afastando — Aproveitem seus aperitivos. Com licença.

Enquanto pegava alguns guardanapos e abria o canudo para tomar sua bebida, Changbin seguiu o garçom com olhos. Viu quando ele devolveu as cortesias e passou o recado de Felix para o grupo de amigos numa mesa próxima. 

Eles não pareceram se intimidar com isso e continuaram empenhados em conquistá-lo de alguma forma.

— Eles estão realmente interessados em você, Felix.

— Eu não me importo. Minha companhia dessa noite é você.

— É… Mas do jeito que eles estão, me pergunto se eles não virão até aqui te buscar na próxima tentativa - Comentou despretensiosamente.

— O que você deveria realmente estar se perguntando agora, Changbin-hyung, é: Você permitirá?

O moreno apenas riu timidamente, mas tendo uma certeza dentro de si: Não, ele não deixaria ninguém roubar Felix. Não sabia se era por causa do álcool em sua bebida, por causa do flerte descarado do loiro ou por causa da personalidade segura dele, mas, mesmo que tivessem iniciado o encontro há pouco, Changbin já tinha se encantado o suficiente para desenvolver um senso de posse sobre o garoto.

Felix tinha conseguido fazer o que ninguém conseguiu em tempos: Mexer consigo.

— Sua vez, Felix.

— Minha?

— Sim. Já falei bastante sobre mim, agora é a sua vez. Me diz. O que você faz da vida?

— Eu? Hm… - Ponderou por um tempo — Eu conto estórias.

— Conta estórias?

— É.

— Tá… - Changbin não entendeu bem. Não lembrava de muitas profissões na qual era possível ganhar um salário apenas por contar estórias — Para quem?

Felix apenas sorriu bebericando seu coquetel e não o respondeu.

— Você é professor? Conta estórias para vários alunos? 

— Não para vários.

— Então, é um aluno particular?

— É, é. Algo desse tipo.

— Você é bem evasivo e misterioso, né? Mas, okay... - Resolveu não insistir. Se contentou com a mínima resposta que recebeu — Seguindo o seu roteiro, acho que devo perguntar: Nada de romance na sua vida, então?

— Ah, sim, sim… Isso eu tenho de monte.

— Sério? - Pegador então? Changbin se questionou internamente sentindo um leve ciúme quase que imperceptível para si.

— Hum, hum! Eu já me casei, Changbin-hyung.

— Como é que é? - Saltou na cadeira, completamente surpreso — Você não tem tipo uns 20 anos de idade?

— 22 anos, para ser mais exato! 

— Uau. Você é bem novo!

— Ué?! Para quem acabou de dizer que deseja encontrar um amor que dure para sempre, não acha que está julgando rápido demais quem escolheu casar cedo por amor?

— Aigoo, não é isso! Eu só fiquei surpreso. Afinal, não é uma coisa que se vê todos os dias. Mas o que você faz ou deixa de fazer a comando do seu coração é totalmente da sua conta e risco - Explicou-se, não queria falar outra besteira na frente do outro.

— É bom que pense assim.

— Mas, e aí? O que aconteceu? Acabou?

— Hm… Digamos que o amor eterno que você mencionou antes se parece muito com uma faca de dois gumes. Da mesma forma que ele pode te deixar nas nuvens, ele pode te machucar repetidas e repetidas vezes.

— Explique melhor.

— Como posso dizer isso…? - Puxou uma mecha de cabelo para trás da orelha, pensativo e compenetrado em busca de palavras - Por um tempo, o amor fez eu me sentir como se estivesse caminhando tranquilamente dentro do mar raso, completamente feliz, até  que ondas e mais ondas vieram uma após a outra e começaram a me derrubar sem parar.

 — Você sofreu... - Changbin comentou um pouco tocado, dava para perceber o quanto aquele assunto mexia profundamente com Felix. 

Algo dentro de si quis protegê-lo.

— Confesso que sim. Ao ponto que fiquei com medo de me afogar.

— Mas parece que não se afogou.

— É! Eu acho que foi porque ao invés de viver o resto da vida sofrendo, eu achei melhor decidir o que faria com esse sofrimento - Disse de forma madura demais para a sua pouca idade — Deixaria ele continuar me derrubando ou superar?

— E qual escolheu?

— Superar! Por isso posso estar aqui com você hoje, Changbin-hyung - Sorriu.

— Como superou? Isso não é tão fácil.

— Comecei a contar estórias.

— Contar estórias?

— É!

— Ah, sim… Para aquele seu aluno particular, né? - Changbin questionou descrente e viu o outro acenar animado com a cabeça — Ham, ham, sei! Vou deixar o número da polícia na discagem rápida, porque você é muito suspeito.

— Não precisa, hyung bobo.

— Bobo?

— Hum, hum!

Riram juntos.

— Com licença, senhores! - O mesmo garçom de antes retornou interrompendo a conversa. 

Novamente, ele segurava um coquetel adicional e outro bilhete.

— Você só pode estar de brincadeira, né? - Felix reclamou.

— Me desculpe, senhor. Mas os rapazes da mesa n. 8 insistem.

Dessa vez, o loiro nem fez questão de ler o que estava escrito, apenas se levantou rasgando o ar com uma fúria enorme e saiu dali. 

Não houve nem tempo para Changbin conseguir impedi-lo. Quando notou, Felix já estava do outro lado do salão encarando aqueles rapazes irritantes enquanto batia sua mão com força na mesa para deixar o bilhete ali.

— E aí, gatinho?! - Um rapaz francês tomou a dianteira do diálogo — Parece que parou de se fazer de difícil.  

— Nem nos seus sonhos! - Esnobou corajosamente — Ótimo que vocês falem coreano, vão conseguir ouvir direitinho o que tenho para dizer. Que é: Parem! Está ficando chato e vocês todos estão parecendo idiotas. 

— Ele é bravinho, gente.

Todos os seis amigos sentados na rodinha riram da cara de Felix.

— Eu não tenho interesse e não me importo com nenhum de vocês - Voltou a falar sem se intimidar com aquilo — Já estou com quem é importante para mim esta noite e ninguém. vai. atrapalhar. isso. de. novo. — Foi rude.

Dito isso, apenas se virou e partiu de volta para sua mesa. Todavia, um dos homens - alterado pela bebida - segurou seu pulso fortemente, impedindo-o de se mover.

— Pare de se fazer de difícil, garotinho. Só queremos diversão.

Mais da metade dos garçons, alguns clientes e Changbin se levantaram na hora para defender Felix daquele assédio forçado e sem limites. Com isso, imediatamente, o estranho retirou sua mão e começou a murmurar alguns pedidos de desculpas amedrontados.

 Esbanjando um sorriso vitorioso, o loiro voltou para perto de seu acompanhante.

— Pronto! Ninguém mais vai nos atrapalhar.

O moreno apenas o fitou em um misto de braveza e preocupação, em seguida, desceu os olhos para o pulso um pouco avermelhado. Suspirando enfurecido, levou seu dedo indicador para deslizar pela pele do braço de Felix até finalmente virar a mão dele sobre a sua.

Observou o local.

— Você tem que tomar cuidado, Felix.

— Eu sei.

— Não parece que sabe! - Changbin estava com a expressão completamente fechada quando largou o braço do outro com carinho — Não há necessidade em se irritar tão facilmente assim.

— Está preocupado comigo, hyung bobo? 

Felix jogou o corpo todo para frente ao dizer a última frase, aquilo fez com que os rostos ficassem extremamente próximos.

O moreno estremeceu e sentiu seus pelos arrepiarem.

— Hem, hem… - Limpou a garganta tentando afastar a tensão — Por que você disse aquilo para aqueles caras?

“Aquilo” o quê, hyung?

— Que eu sou importante para você.

— Porque o hyung é importante para mim! 

— Acabamos de nos conhecer, Felix.

— E o que isso tem haver?

—  Aish… Se tem algo que não conseguem fazer comigo há muito tempo é me deixar confuso e você conseguiu em menos de 2 horas com essa sua personalidade enigmática, garoto - Bagunçou os cabelos sem paciência — E o que quis dizer com, “Ninguém vai atrapalhar isso de novo”? Por que “de novo”?

Outra vez, Felix não respondeu. Apenas tombou a cabeça para o lado e abriu um sorriso grande que, na concepção de Changbin, era suspeito.

Ao mesmo tempo, uma música de fundo começou a tocar e, aos poucos, o volume ia aumentando. Aquilo significava o início da balada oferecida pela administração do pub naquele horário. 

Todos os demais clientes, já sabendo disso, levantaram-se afobados de suas mesas e correram para a pista de dança meramente iluminada pelos canhões de luzes coloridas.

— Opa! Música? - Felix também se alegrou — Vamos dançar, hyung?

— O que? Jamais! - Changbin sentou-se de súbito.

— Aah! Por favor, hyung? 

Felix tentou puxá-lo insistentemente pelo braço, mas sem sucesso. O homem parecia uma rocha colada na cadeira.

Ele, realmente, detestava dançar.

 — Nem pensar, Felix! Eu não danço.

— Mas todo mundo está dançando!

— Sua mãe nunca te disse que você não é todo mundo? Pois a minha sim.

Vendo que o outro não ia mudar de ideia tão facilmente, Felix apenas largou-o derrotado.

Bufou desanimado, intercalando o olhar entre as pessoas festivas na pista e Changbin imóvel. 

— Me resta ir sozinho.

— Você parece gostar de dançar, então, vá lá se divertir. Eu fico aqui de guarda na nossa mesa até você se cansar e voltar.

— Tá, tá… - Disse tristonho.

— Não fique assim! Prometo te assistir daqui. Que tal?

— Ah, é?! - O ânimo de Felix voltou de imediato ao ouvir aquilo. Desse modo, sorrindo sapeca, ele abaixou um pouco para levar os lábios até a orelha do outro — Então, trate de não piscar, hyung.

Ainda olhando sedutoramente para seu hyung, o loiro pegou sua taça de coquetel cheia até a metade de cima da mesa, virou o líquido restante em sua boca de uma só vez e, depois de deixar uma piscadela no ar, foi em direção à pista de dança, juntando-se à multidão alegre. 

Encontrou um local onde pudesse ser captado completamente pelos olhos Changbin e, sem delongas, entregou-se ao ritmo pop que tocava.

A música era uma das antigas da cantora internacional Rihanna e era extremamente gostosa para dançar naquele momento, então, Felix se divertia bastante erguendo os braços para cima, jogando a cabeça e os cabelos para ambos os lados, e trabalhando bem com seu quadril.

Ele não tentava ser sexy naquele momento, porém, sua beleza encarregava-se disso naturalmente. Isso junto com sua personalidade descarada, fazia com que ele proporcionasse uma cena gostosa de se ver e foi por isso que se tornou impossível para Changbin não sorrir com aquela visão maravilhosa.

— Uau...!

Cada vez que Felix fechava os olhos para aproveitar as batidas, a admiração do moreno na mesa crescia exponencialmente. O que o fez pensar em como seria fácil para ele se apaixonar por alguém assim.

Changbin estava tão vidrado na cena e em seus devaneios, que quase não viu quando um estranho barbudo se aproximou do loiro por trás, colou seus corpos e cochichou algo no ouvido dele.

Sem pensar duas vezes, Changbin se levantou e foi a passos largos na direção deles.

— O que acha que está fazendo? - Levou a mão para o peito do estranho e o afastou moderadamente.

— E-ele… Ele tá com você, cara?

— Tudo que precisa saber é que com você, com certeza, ele não está! - Respondeu pondo-se na frente de Felix — Vaza.

— Foi mal, cara! Não queria pegar o que já tem dono.

— Circulando.

Changbin encarou o estranho até que ele sumisse dali por completo. 

Sua irritação naquele momento ia muito além da falta de noção daquele desconhecido ao chegar tocando alguém sem pedir permissão. O que o deixava realmente puto era que esse alguém era Felix.

Tentava se acalmar da fúria momentânea que o fez se levantar automaticamente, quando ouviu uma risadinha fina ecoar atrás de si.

Virou-se para dar de cara com o loiro risonho.

— Quer dizer que pra fazer você vir dançar, eu tenho que te deixar com ciúmes. É isso, hyung?

— E-e-eu n-não estou com c-ciúmes… - Gaguejava — Só achei o cara babaca e completamente sem noção em chegar tocando intimamente em você.

— Ah, é?! Foi só por isso?

— Claro! - Tentou ser convincente mas viu que Felix não caiu nem um pouco — A-acabamos de nos conhecer, por que eu sentiria ciúmes de você? Só estava te protegendo.

— Você viu o que aconteceu antes com os outros caras e sabe que eu sei me defender sozinho, hyung - Espremia os olhinhos minimamente — Então, a sua desculpa não colou.

— Quer saber? Eu vou me sentar - Tentou fugir.

— Por que não fica e dança comigo?

— Já te disse. Eu não danço.

— Ah, tá bom então… - O loiro fingiu um assobio desinibido — Pode deixar que eu dispenso sozinho o próximo barbudo que me puxar pra dançar.

Aquela fala rapidamente ativou um fogo de rivalidade dentro de Changbin e ele parou os passos no meio do caminho. Não importava se no começo ele não quisesse esse encontro e tivesse ido até ali apenas por insistência de seu melhor amigo. Naquele momento e naquele local, Felix era dele.

Tinha que deixar isso claro para qualquer um ali.

Respirou fundo enquanto praguejava mentalmente e, então, finalmente voltou para parar de frente com o outro novamente.

— Você vai ter que me ensinar.

— Pfft! Realmente, é o ciúmes que move o hyung… - Debochou rindo.

— Tchau! - Insultado, Changbin tentou ir embora outra vez.

— Espera, espera. Calma, calma… Só estou brincando com você, pare de ser tão irritado! Vem cá, eu te ensino - Segurou a mão dele e o trouxe de volta — Está ouvindo esse ritmo? Se chama pop.

— Eu posso ser todo quadradão, mas eu sei o que é música pop, Felix.

— Quem tá ensinando aqui? Eu ou você? Então, quieto - Franziu a testa fofamente — Tudo o que você precisa fazer é sentir a batida e se mover à vontade - Demonstrava com o próprio corpo — Pra lá e pra cá. Pra lá e pra cá.

— Pra lá e pra cá… - Changbin tentava imitá-lo, movendo-se extremamente travado — Assim?

— Isso! - Felix gargalhava com a dança alheia, mas o incentivava a prosseguir — Isso mesmo, hyung.

— Pra lá e pra cá… Pra lá e pra cá… Pra lá e pra cá...

— Não precisa ficar contando todos os passos, hyung. É só ficar no ritmo.

— Ficar no ritmo é bem difícil para quem está dançando pela primeira vez na vida, rapazinho.

Felix o observou por um tempo e pensou se deveria ou não fazer o que estava em sua mente: Se aproximar e tocá-lo. Tinha medo da reação dele ser muito negativa, entretanto, ao mesmo tempo, não conseguia controlar seu desejo pelo moreno a cada segundo que passava na presença dele. 

Foi então que, corajosamente, grudou seus corpos e abraçou o pescoço quente, trazendo-o para perto. 

— Vem cá, eu te mostro como sentir o ritmo, hyung.

Felix sentiu que houve um momento de estranheza e relutância por parte do outro a primeiro momento, mas rapidamente tudo se esvaiu naturalmente. Teve certeza disso quando as mãos de Changbin seguraram sua cintura com certa força, certa posse e vontade.

Adorou aquilo.

— Estou fazendo certo? - Sussurrou pela proximidade.

— Está perfeito, hyung.

Olharam-se profundamente e dançaram juntinhos por algum tempo.

Aos poucos Changbin ia se soltando mais e mais, não só apenas motivado pelo ritmo gostoso mas, principalmente, por estar inebriado pela fragrância e pelo charme alheio. Era como estar hipnotizado dentro de um sonho bom e inacabável do qual ele não podia sair. E, se pudesse, não iria querer.

Por sua vez, Felix sabia que a cada segundo que se passava ele era mais observado e desejado pelo outro, o que aumentava seu ego. Em sua vida, muitos já haviam lhe dito o quanto ele é bonito e atraente, mas o loiro geralmente não acreditava nisso. Contudo, ali, naquele momento, com aquele homem, ele sentia a verdade daquelas palavras pesando fortemente.

Ao se dar conta do quão tentado Changbin estava, o quão preso em seus encantos ele se encontrava, o quão mais louco ele ficava com o tempo… Felix não resistiu e aproveitou a oportunidade. Levou seus lábios até o pescoço dele e deixou um pequeno selar molhado ali.

O moreno se viu suspirando alto com o simples toque, em seguida, sentiu suas pernas amolecendo. Teve que saltar em uma espécie de susto para recuperar seus sentidos.

Foi um pouco engraçado.

— O que foi? Está passando mal, hyung? - Felix decidiu brincar com a situação.

Changbin riu de si mesmo por agir assim por conta daquele homem e por estar tão entregue. Menos de duas horas atrás ele daria tudo para escapar das invenções de Bang Chan e voltar para casa mas, agora, estava ali se achando um completo idiota enamorado.

Outro selinho foi depositado no outro lado e, novamente, Changbin estremeceu.

— Meu Deus, isso é tão errado.

— O que é errado, hyung?

— Eu… Você… Não deveríamos estar fazendo isso, Felix.

— Ué? E, por quê não? Somos dois adultos e sabemos lidar com as consequências de nossos atos.

— E, também, acabamos de nos conhecer.

— Pare com esse discurso de “acabamos de nos conhecer e não deveríamos bla bla bla”, hyung - Riu soprado — Algumas pessoas se conhecem e ficam no primeiro encontro, outras têm uma noite de sexo e depois voltam a viver as suas vidas normalmente. Algumas se apaixonam à primeira vista, outras demoram mais um pouco para abrirem seus corações. Algumas precisam de determinadas condições para se entregarem ao amor, outras nunca se entregam durante toda a vida, etc. Para adultos, não existe uma regra específica para coisas desse tipo.

— Você tem razão… - Concordou mas desconfiou do objetivo do outro com aquilo — Mas, qual a sua intenção ao me dizer tudo isso, Felix?

— Minha intenção? Hm, minha intenção é perguntar: Por que você ainda não está me beijando?

Changbin apenas riu sentindo-se provocado. Aquele rapaz realmente sabia ser direto com as coisas que queria. Mas, bem, se era para ser assim, o moreno adoraria vê-lo batalhar um pouco mais para ter o beijo que desejava. 

O atiçaria um pouco mais.

Houve então uma inversão, a música mudou para um ritmo mais lento e Changbin mudou para um ritmo mais rápido. De repente, ele passou a sorrir de canto numa expressão quase perversa ao tomar o controle da situação e, no instante seguinte, virou Felix de costas.

O loiro já ia reclamar por querer continuar olhando Changbin de frente, porém o moreno o segurou com força e colou seus quadris juntos para continuarem dançando a música calma.

As forças de Felix foram drenadas ali mesmo.

Por vários minutos o loiro sentiu como se estivesse em um mundo paralelo. O pouco álcool em seu sangue bagunçava seus pensamentos e seus sentidos. A música parecia estranhamente distorcida. O toque de Changbin em seu corpo parecia a cada segundo mais intensificado. 

Ele sentia tudo, como se o mais velho estivesse o deixando nu a cada centímetro que o tocava.

Uma evidente provocação.

— Já entendi: Está se fazendo de difícil enquanto me provoca. Estou certo, hyung?

— Acertou.

— Por que?

— Porque eu não quero que você perceba algo que tenho tentado negar desde a hora que você chegou.

— E o que é?

— Eu acho que… Dentre aqueles exemplos que você deu, eu me encaixo perfeitamente naquele que se apaixonou à primeira vista.

Com sua cabeça caída para trás deitada no ombro do outro, Felix apenas gargalhou alto da tamanha fofura dele ao dizer aquilo. O tom da voz de Changbin foi como uma mistura de timidez e anseio, o que o deixou incrivelmente dócil.

Presenciar aquilo fez o loiro esbanjar uma felicidade extrema que não podia ser explicada ou descrita nem pelo maior escritor do mundo, apenas ser sentida.

 Mas seu riso não pôde durar por muito tempo, já que ele teve que parar para gemer quando lábios quentes escorregaram de seu lóbulo direito até seu pescoço, traçando um fio lento e deveras sensual. Em adição ao seu desespero, uma das mãos também tocavam suas coxas enquanto a outra abraçava seu abdômen. 

Tudo isso ao mesmo tempo.

Felix não aguentou.

Se virou de frente, empurrou Changbin até uma parede próxima e capturou os lábios dele num beijo apaixonado. Aquele pelo qual eles enrolaram tanto durante toda aquela noite de conhecimento, curiosidade e flerte.

Agora unidos, os lábios se acariciavam e as línguas se chocavam de forma deliciosamente mágica. Ambos dominados um pelo outro, nunca desejando que aquele momento, aquele encontro chegasse ao fim.

O amigo deles, responsável por unir os dois, tinha realmente acertado daquela vez. 

A mão do moreno deslizava pelas costas do outro e seus dedos apertavam algumas aéreas por ali querendo puxar Felix para mais e mais perto. As línguas trocavam salivas levando-os a um estado de torpor.

Nesse ponto, Changbin não soube se foi um mal estar momentâneo ou um prazer muito grande, mas sua mente caiu num escuro profundo e, depois de meros segundos, voltou.

Teve que quebrar o ósculo para sacudir a cabeça e se recuperar por completo.

Era uma sensação estranha, como se tivesse drogado. O beijo de Felix tinha todo esse poder?

— Está tudo bem? - Felix ficou atônito com aquilo. 

Então, quando o mais velho apenas sorriu afirmando que estava bem e tentou capturar os lábios dele outra vez, ele se afastou. 

Tinha algo para falar.

— Você desenha, não é? - Sussurrou rente ao rosto alheio.

— Hm?! - Que tipo de comentário era aquele, assim, do nada? O moreno pensou.

— Você... Desenha, certo?

— S-sim.

— Que tal ir ao meu apartamento? Hm? Eu adoraria ser o seu modelo exclusivo essa noite, hyung.

— Ah, Felix… Isso… E-eu não sei… - Changbin tinha entendido claramente o que ele estava sugerindo de verdade — É-é perigoso.

— Confia em mim, eu não sou perigoso!

— Hm… Não sei se é uma boa ideia.

— Eu moro perto. Hm? Hm? - Roçou o nariz no rosto do outro.

— Como se esse fosse o único problema aqui.

— E qual é?

— Estamos indo rápido demais, Felix.

Tsc.

Como se o loiro não estivesse afim de deixá-lo pensar com clareza, apenas o puxou para se beijarem outra e outra vez. Repetidas vezes, sem parar. Aquele era um convite óbvio para um sexo que, na concepção de Changbin, além de ser rápido demais também seria meramente casual.

Não estava acostumado com aquilo e nem sabia se era isso que queria.

Com isso, uma batalha de beijos para decidir quem ganharia a decisão da noite foi iniciada.

E o loiro, com certeza, ganhou disparado na frente com uma pontuação impossível de contabilizar.

Changbin foi facilmente convencido.

— Vem!

Felix puxou o outro pelo braço e juntos passaram rapidamente na mesa em que estavam sentados antes apenas para recolher suas coisas e partirem em direção à saída do pub. 

— Espera! - Changbin parou no meio do caminho antes de seguirem para a rua — Preciso pagar o jantar.

— Depois cuidamos disso, hyung.

— Como assim “depois”? Está louco? - Riu sem entender — Me espere um minuto, voltarei rapidinho.

— Hyung!

— Não há necessidade! - O recepcionista de cabelos longos, Hyunjin, surgiu repentinamente na porta do estabelecimento com sua face simpática — Não se preocupem, o jantar de vocês será por conta da casa hoje.

— Ué? Por qual motivo? 

— Não precisa de um motivo. Apenas aceite a nossa cortesia.

— Assim, do nada?

O moreno estava completamente perdido naquele favor imerecido, porém, parado atrás dele, estava aquele que entendia muito bem tudo o que estava acontecendo: Felix, que trocava olhares cúmplices com Hyunjin e sorria agradecendo sua ajuda de última hora.

— Obrigado, Hyunjin. Então, vamos, Changbin hyung?

— Espere só um pouco, Felix! - Se aproximou da recepção com curiosidade — Hey! O que é isso? 

Novamente, Changbin parava seus passos mas, desta vez, foi por estranhamento. Via na parede algo que não tinha percebido quando chegou ali mais cedo para seu encontro: Um quadro receptivo, com alguns tipos de traços que ele achou conhecer bem.

Ficou admirado.

— Que quadro bonito! - Falou para Hyunjin — Quem é o pintor?

— É-er… O pintor? Ér...

— Não deve ser de ninguém famoso, hyung - Felix interrompeu — O dono do pub provavelmente comprou em alguma lojinha qualquer.

— É. É isso! Encomendamos um quadro já impresso na loja de um amigo - Hyunjin respirou um pouco aliviado — Foi baratinho, só o penduramos aí.

— Sério? Está muito bem feito para ter sido comprado pronto ou ser chamado de baratinho. Uma impressora não faz um quadro tão detalhado como esse, deve ter sido feito a mão - Comentou eloquente como um bom conhecedor das obras — Me desculpe, rapaz, é que eu sou pintor também.

— Eu sei que é.

— Hyunjin?! - Felix repreendeu fortemente ao recepcionista que logo deu alguns tapinhas na própria boca por ter falado demais. 

Um clima tenso foi instalado e, por conta disso, os três rapazes ficaram se entreolhando por longos segundos.

Um confuso, outro bravo e o último arrependido.  

— Ãhm… Vamos embora, hyung? 

— Ah, sim! Vamos sim, Felix - Changbin se desprendeu da tensão ao ouvir o loiro chamando-o e decidiu deixar o tal quadro pra lá — Muito obrigado pela sua gentileza, Hyunjin.

— Não tem de quê.

Após isso, os dois voltaram a caminhar e finalmente saíram dali, mas não antes de Felix se virar para trás para deixar um olhar reprovador na direção de Hyunjin. Este, por sua vez, simplesmente respondeu silabando em silêncio um “me desculpe” em seus lábios. 

'Treine melhor os
garçons novatos, Hyunjin'.

Foi a mensagem que o loiro digitou em seu celular e enviou ao recepcionista.

Changbin não percebeu nada daquilo acontecendo.

— Não entendi o porquê do recepcionista fazer tanto mistério sobre o quadro. Eu só queria saber quem pintou, o achei bonito.

— Aish! Ainda está falando disso, hyung? Vem cá.

Para calá-lo, Felix agarrou os lábios de Changbin o selando com vontade, uma, duas, três, quatro, cinco vezes, até que por decisão própria o mais velho abriu a própria boca. 

Os pares de olhos de ambos, que até agora estavam semicerrados, fecharam por completo quando os lábios se encaixaram perfeitamente e um novo beijo teve início.

Ao sentir a língua de Felix na sua, Changbin apertou a cintura dele com força. E, de repente, todas as indagações desnecessárias em sua mente que seguravam e tentavam lhe manter longe do loiro na noite que os esperava nos próximos minutos, foram destroçadas.

O beijo aprofundou-se, trazendo consigo breves e pequenas mordidas, e suaves chupadas. 

—  Uau, Felix, o seu beijo... - Sussurrou inebriado.

Com aquilo, parecia que não mais importava o quão errado e perigoso Changbin acreditava ser ir para a casa de uma pessoa que ele tinha acabado de conhecer para passar a noite, ele apenas obedeceria o que aqueles beijos o ordenavam a fazer.

E por que? Porque a química entre os dois revelou-se ser perfeita. 

— Eita! Hoje tem, hein! - Gritou um grupo de jovens parado ao longe. Todos com suas latas de cervejas na mão.

— Belo casal!

— Chama ele de oppa na cama que ele vai adorar.

— Lindos!

— Gatos demais!

Comentários sem noções ou não, começaram a surgir das ruas vívidas e alegres da Seul noturna. E, de um lado Changbin sentia uma timidez extrema, enquanto do outro Felix não podia se sentir mais satisfeito amando o fato de ter conseguido conquistar alguém como aquele pintor ao seu lado, justamente no primeiro encontro deles.

Riram juntos da situação constrangedora daquelas pessoas gritando e, em seguida, entrelaçaram os dedos.

 Daquela forma, juntinhos, foram em direção ao apartamento de Felix.

Como havia sido dito antes, o local era realmente perto do pub, por isso eles precisaram andar apenas dois ou três quarteirões para chegar a um condomínio fechado, não muito luxuoso mas bem organizado, com um belo jogo de luzes e áreas verdes.

Foi ali que a segunda estranheza da noite de Changbin se fez presente.

— Espera. Você mora nesse condomínio?

— Moro sim, hyung.

— Okay, isso é estranho - Cismou — Muito estranho.

— Por que?

— Como eu nunca te vi por aqui antes? 

— Você mora aqui também, hyung?

— Sim! Desde que saí da casa dos meus pais há mais ou menos 5 anos -  Revelou  — E você?

— Hm… Há uns dois anos, eu acho.

Changbin franziu o cenho. Realmente, apesar de se considerar uma pessoa caseira, seria alguém tão caseiro assim, ao ponto de nunca ter visto alguém tão bonito como Felix no elevador, no corredor ou na praça?

Resposta: Não.

Considerou aquilo um pouco impossível e improvável. Dois anos era tempo demais para isso.

Mesmo assim, Changbin deixou mais essa desconfiança de lado e seguiu o mais novo para dentro do prédio, corredor e elevador. Até que, mais uma vez, não conseguiu ficar calado com o que viu.

Felix estava apertando o botão do 15º andar.

— Não vai me dizer que você mora no 15º andar também.

— Exatamente.

Essa desconfiança Changbin não poderia deixar passar.

— Felix, o que está acontecendo aqui? - A graça da noite se esvaiu por completo quando tanto a voz do mais velho quanto a expressão dele se tornaram mais confusas,  receosas e, por causa disso, sérias — Isso é algum tipo de brincadeira sua com o Bang Chan-hyung? Se for, saiba que não é muito engraçada.

— Calma, hyung - Felix pediu quando a porta do elevador se abriu revelando o corredor de acesso aos apartamentos — Está tudo bem.

— Existem quatro apartamentos por andar, eu acho que saberia se-

Changbin teve que se calar pois quando saíram e caminharam pelo corredor dourado e bege até a frente do apartamento n.1511, Felix prontamente pegou uma chave única em sua carteira e levou à fechadura, destrancando-a facilmente.

Foi nesse momento que o medo do moreno assustado se tornou tão grande que ele se afastou do mais novo rapidamente.

Em seguida, retirou o celular de dentro do bolso e discou o número da administração do condomínio.

— Para quem está ligando, Changbin-hyung?

— Para os seguranças.

— Não faça isso.

“Não faça isso”, Felix? Você acha que eu sou palhaço?

— Não, não acho. Por que pensa assim?

— Olha… - Gargalhou sem humor nenhum, pelo contrário, estava cheio de cólera — Eu não sei o que você pretende fazer comigo, mas eu não sou idiota ao ponto de me deixar ser assaltado por um enganador qualquer que eu conheci num pub. Se quer dinheiro vá enganar outro idiota.

— Eu não vou te assaltar.

— Meus quadros não valem muita coisa, se é disso que você está atrás 

— Também não estou aqui para isso.

— Então, me explica, como você tem a chave da minha casa? Como sabe onde eu moro? - Questionou inquieto — Bang Chan-hyung não seria louco de passar minhas informações pessoais para você.

— Changbin-hyung, me escuta - Falou pausadamente — Eu tenho a chave daqui… Porque eu moro aqui.

O moreno paralisou no tempo por vários segundos. Não estava acreditando na cara de pau do outro ao dizer aquilo quando ele claramente estava de frente com o dono do apartamento que morava sozinho ali há anos. Se essa era a nova jogada da moda do mundo dos bandidos para engabelar as pessoas, era a pior que ele já tinha visto.

Não cairia tão fácil.

— Ah, tá! Claro que mora… - Zombou rindo — Mora sim.

Yeoboseyo! - A voz do outro lado da linha ecoou do celular.

— Oi, eu sou o morador do apartamento n.1511 e tem um louco, ou sei lá o que ele é, parado na minha porta dizendo que mora aqui - Explicou furioso — Ele tem a chave, então, deve ter acontecido alguma falha na segurança. Pode mandar alguém aqui para retirá-lo imediatamente?

Pode repetir para mim? O senhor disse que é o morador do apartamento n.1511?

— Exatamente.

Ah! Então, é o Sr. Seo Changbin que está falando. Estou certa?

— Correto.

Não se preocupe, senhor, está tudo bem. Não se assuste e mantenha a calma, logo logo tudo será explicado. 

— O que? 

Você deve estar com o Sr. Felix, então não será necessário um segurança aí.

— Como assim!?! Eu exijo que mande alguém aqui agora.

Estou desligando. Tenha uma boa noite, Sr. Seo.

Tudo o que sobrou para Changbin escutar foram os repetidos e irritantes sons de fim de ligação. 

Aquilo o enlouqueceu por completo.

— Que merda está acontecendo aqui?

— Se você entrar eu posso te explicar tudo, hyung! 

Felix tinha uma expressão completamente diferente daquelas que ele já tinha mostrado durante toda aquela noite até agora, era com um misto de tristeza profunda, medo e angústia. 

Qualquer um que o olhasse naquele momento podia quebrar apenas por sentir a sua dor há quilômetros de distância.

Changbin iria embora na primeira oportunidade para salvar sua vida do então criminoso, se não tivesse visto o loiro daquele jeito tão abalado e não tivesse sentido suas pernas travarem não permitindo que ele se movesse para longe dali.

Estava num impasse mais forte do que podia controlar.

— Não quer entrar… na nossa casa, hyung?

Nossa…? 

— Hum, hum!

— Que palhaçada é essa…?

Não aguentando mais tanto mistério, o moreno simplesmente atravessou a porta esbravejando e adentrou averiguando todos os lados para tentar entender alguma coisa.

À primeiro momento, tudo parecia de acordo e da mesma forma que estava na parte da tarde, quando Changbin trabalhou ali. O cavalete tripé apoiava uma tela que continha uma pintura não finalizada e estava comumente posicionado no canto direito da sala. Todo o material de desenho, paleta de pintura, espátula, spray fixação, estojo de pincéis, prancheta… Espalhados como de costume.

As paredes estavam da mesma cor, o sofá cinza no mesmo local e os móveis planejados continuavam ali. 

Tudo estava normal.

— Você não tem um ateliê para pinturas pois seu salário não permite um apartamento maior, por isso você usa a sala. Não é? - Felix questionou mais retoricamente pois já conhecia a resposta.

Como ele sabe disso? Foi a única coisa que Changbin respondeu em mente, mantendo sua boca em silêncio contra quem ele achava ser um farsante descarado: Felix. Contudo, quando ele notou as pequenas diferenças sutis do ambiente, começou a compreender que algo estava errado.

— Chan-hyung me ajudou a trazer as coisas de volta para cá, enquanto eu e você estávamos jantando - Felix comentou enquanto colocava seus pertences no chão e observava Changbin andar vagarosamente pelo local em busca de alguma lógica.

Realmente, algo estava muito errado.

Sob o rack de mármore, logo abaixo da televisão, haviam vários porta-retratos distribuídos.

Eles não estavam ali antes.

Changbin se aproximou para olhá-los com atenção nos detalhes. Notou que a pessoa nas fotografias era naturalmente ele, mas, também, ao seu lado, estranhamente havia um loiro sorridente.  

Felix estava com ele na foto da praia; pulava em suas costas. Felix o abraçava na frente de um parque de diversões; segurava um algodão doce. Felix fazia uma cara emburrada no piquenique; estava com chantilly na pontinha do nariz. 

E.

Por último.

Felix o beijava em uma cerimônia; era o casamento deles.

Juntos, os dois pareciam tão felizes. Em todas as fotos, eles sorriam seus sorrisos mais sinceros.

“Eu já me casei, hyung”. A voz do loiro, no jantar de minutos atrás, veio na mente de Changbin e ele fechou os olhos tentando segurar uma lágrima que quis escorrer.

Tentativa completamente falha pois ele já chorava ao parcialmente se dar conta do que estava acontecendo - mesmo que não quisesse acreditar nas próprias conclusões que tirou.

— O que são essas coisas? Essas fotos são montagem? - A resposta não veio rápido, então ele aumentou o tom de voz — O que está acontecendo, Felix?

— Não são montagens! Calma, eu vou te explicar.

— Então, explica de uma vez.

— Você sofreu um acidente, hyung.

O tempo congelou e, como se um balde de água gelada fosse jogado sobre Changbin, o fogo de sua fúria foi substituído por correntezas agitadas de perplexidade.

— O que? D-do que está falando?

— Ér… Bom… Você geralmente fica mais calmo quando eu te conto toda a história desde o começo, então… Hm... - O mais novo iniciou tentando buscar palavras.

 — Geralmente?

— O meu sonho sempre foi ter um negócio só meu e ser o meu próprio chefe. Como o melhor marido do mundo, você sempre me apoiava, me incentivava e me ajudava... Então, depois de um tempo trabalhando muito, nós conseguimos juntar um dinheirinho e abrir o pub, ou melhor, o Haengbok, para que eu pudesse administrar.

— Marido? - Questionou quase que inaudivelmente, apenas para si mesmo.

— A noite de estreia do pub estava perfeita e nós estávamos muito felizes naquele dia, toda a nossa família estava lá e o Chan-hyung também. Mas, então, um grupo de malandros apareceu para jantar no Haengbok; no começo, eles gostaram da comida e tudo estava bem. Até que eles descobriram que os donos do estabelecimento eram um casal de dois homens - eu e você - e implicaram um pouco com isso, causando uma confusão.

Ouvindo aquilo, a imagem de Felix se levantando e indo bater boca com os estrangeiros que tentaram cortejá-lo mais cedo, fez um pouco mais de sentido para Changbin.

Ele tinha um histórico com aquele tipo de escória, então, era normal ficar bravo facilmente.

— Você não tinha interesse em cuidar do pub, continuaria pintando seus quadros em casa enquanto eu trabalhava, então, com medo de não estar sempre presente para me proteger, você decidiu bater boca com aqueles caras para que eles não voltassem mais. E, por um bom tempo, por uns três meses, tudo ficou tranquilo; aqueles bandidos não apareceram mais. Aí… - Felix teve que parar sua explicação, pois uma bola se formou em sua garganta forçando-o a tentar controlar o choro que queria tomar conta de si — Aí a fofoca sobre nós se espalhou. Outras pessoas voltaram em nome dos malandros antes expulsos por você, só que dessa vez essas pessoas carregavam canos e metais nas mãos. Implicaram conosco de novo, exigindo que nós fechássemos o pub. Depois de muita discussão, tivemos que fugir de carro, mas eles nos seguiram. Então…

O loiro parou outra vez. Estava enfrentando uma dificuldade aterrorizante para conseguir contar aquela história. 

— Então? 

— Houve um acidente de carro, você bateu a cabeça muito forte e foi levado às pressas para o hospital.

— O que aconteceu comigo?

— Amnésia. 

— Amné…? O que?

— Você ficou em coma por algum tempo apenas para que sua mente fosse deletando os últimos anos da sua vida, mais precisamente os 3 últimos anos que você conhecia viraram um enorme preto em sua mente. - Explicou pausadamente — Depois disso, quando acordou e exames foram feitos na sua cabeça, você apresentou piora.

— Como isso pode ficar pior?

— Você desenvolveu amnésia anterógrada, ou seja, toda vez que você dorme de noite, sua mente deleta tudo de novo que você vivenciou no seu dia.

O chão debaixo dos pés de Changbin virou um buraco vazio e ele se sentia zonzo por estar perdido no tempo e no espaço. Aquela revelação foi forte demais para que pudesse suportar com tranquilidade, por isso, quis desacreditar.

— Não, não… Pare com isso - Riu descrente — Isso não é possível. Eu lembro de ontem, lembro de anteontem, lembro do mês passado, lembro de tudo da minha vida… Eu almocei com o Chan-hyung ontem, foi quando ele me disse que estava procurando pessoas novas para me apresentar. Eu… Eu… Eu lembro de ter brigado com ele e… e... lembro de estar bravo porque eu já tinha cansado dos encontros que ele arrumava pra mim.

— O seu ontem, hyung, é dia 24 de março, o seu hoje é dia 25 de março de 2018. Mas, para o resto do mundo, nós já estamos em 25 de março de 2021! - Felix revelou já coberto pelas lágrimas que escorriam em sua face incontrolavelmente — Não tem um motivo específico para isso, o médico disse que sua mente escolheu uma data aleatória mas, em resumo, você se lembra de tudo que aconteceu somente desta data para trás.

— Felix, eu… - Andava em círculos tentando processar tudo — Não pode ser. Eu acordei hoje de manhã, tomei café e assisti ao jornal. A previsão do tempo falava justamente sobre o clima… o clima de hoje, 2018! - Um estalo ecoou em sua mente e ele olhou para o outro furiosamente — É isso! É isso! Eu estou certo. Então, pare de me enganar, garoto. Eu vou chamar a polícia e, dessa vez, você sai daqui algemado.

— O jornal matinal e a previsão do tempo que você viu, são falsos. Sou eu quem prepara tudo pra você! Eu acordo mais cedo, troco a decoração do apartamento, deixo a programação da TV gravada, configuro o seu celular... - Explicou superficialmente o esforço que fazia diariamente pelo marido, porque, na verdade, tudo era muito desgastante e difícil de detalhar. Recorreu ao mais simples — Eu praticamente crio o seu mundo todos os dias.

— Mentira!

— Se não acredita em mim, pode fazer um teste - Felix estendeu e ofereceu seu aparelho telefônico serenamente, sabia que era o que precisava naquele momento — Que tal acessar a TV do meu celular ou pesquisar no Google?

Ainda que um pouco relutante, Changbin precisava entender o que estava acontecendo, então, pegou o objeto na mão, abriu o aplicativo e observou a tela pequena. Mudou de canal de canal algumas vezes para procurar alguma coerência com a época vivida em sua mente, porém, a linearidade do tempo perdia o sentido em algumas propagandas exibidas pois nunca tinha as visto.

“A falta de energia que atingiu o interior na última sexta do dia 19 de março, é um reflexo da falta de conscientização dos últimos anos e agora prejudica o ano de 2021 e ameaça os próximos que virão...”

Disse uma jornalista na TV.

Changbin fechou os olhos sentindo uma dor de cabeça tremenda assolando-o, estava cansado de tanta nova informação que precisava assimilar. A doença que ele tinha, exigia muito esforço de seu cérebro, por isso ficava facilmente exausto em momentos como aquele.

— Você está bem, hyung? 

— Se afaste de mim! - Recusou a ajuda vinda da mão alheia. 

— Okay, okay - Deu dois passos para trás — Eu vou ficar aqui, longe. Só se acalme, está bem? Você não pode se agitar muito.

— Me agit…? Se isso fosse verdade, eu ter saído sozinho para ir ao pub, seria perigoso. Não acha que eu podia facilmente ouvir alguém falar de datas ou ler sobre isso em algum lugar?

— Eu não te deixei sozinho! Eu estava te seguindo e, também, o Chan-hyung te distraía com mensagens. Assim, você não precisava buscar informações como horário e data em outro lugar a não ser na tela do seu celular - Felix notou que Changbin o olhou atônito e correu a esclarecer — Às vezes, eu conto com a ajuda dos vizinhos, do Chan-hyung e do Hyunjin para cuidar de você.

— Hyunjin? O recepcionista?

— Ele é o namorado do Chan-hyung e, também, trabalha no pub - Informou — Você é incapaz de se lembrar dele porque é um relacionamento recente, mas eles já estão planejando se casar.

— Meu Deus, eu não estou sabendo que o meu melhor amigo vai se casar… - Changbin levou as mãos à cabeça, estava exasperado — Isso não pode estar acontecendo comigo. O que eu fiz de errado para merecer isso? Não pode ser verdade. 

O coração de Felix se apertou ao ver o estado do marido. Já tinha contado essa história para ele inúmeras vezes, mas nunca deixou de ser difícil ver tais reações.

Era doloroso.

— Geralmente, eu te conto tudo isso no período da manhã. Daí, nas vezes que você aceita bem a sua condição, apenas fica atordoado por um tempo, mas depois passa a tarde e a noite comigo. São dias que eu fico muito, muito, muito feliz ao seu lado, hyung - Os olhos do loiro brilhavam ao falar disso — Mas, hoje, é um dia mais especial para mim, para nós. É o nosso aniversário! Nessas datas eu sempre faço algo especial.

“Eu conto estórias”. O mais velho lembrou-se outra vez de algo que Felix lhe disse no pub e sentiu um pouco de pena dele, já que, supostamente, ele fazia tudo isso apenas para que os dois pudessem ficar juntos. 

— Você conta estórias… - Sua ficha caiu.

Entretanto, apesar de momentos atrás estar tão encantado pelo loiro a ponto de aceitar passar uma noite de sexo com ele, isso foi antes dele saber de tudo isso. Pois, se for parar para analisar a fundo, na realidade de Changbin o amor deles não existia em tamanha imensidão, já que, para ele, Felix não passava de um estranho que conheceu há pouco tempo.

Isso tudo era muito complicado e difícil de filtrar.

Sua mente não tinha forças para isso agora.

— Me desculpa, Felix. Eu sei que tudo isso deve ser muito doloroso para você, mas você entende que para mim você não passa de um estranho? - O moreno foi sincero — Então, eu te peço, por favor, que você me dê um tempo para assimilar tudo isso, okay? Se você puder ir embora, eu vou agradecer…

— Não, por favor, não me mande embora, hyung! - Se aproximou pedindo choroso e exasperado — Eu posso esperar, eu te dou o tempo que precisar. É-é q-que é o no-nosso aniversário. Me deixe passá-lo com você? Só hoje! Por favor, não me expulse outra vez.

Changbin franziu o cenho tentando compreender o desespero e as palavras de Felix. Choro, aniversário, expulsão… Mas do que é que ele estava falando?

— Te expulsar? 

—  Algumas vezes você fica um pouco agitado ao ouvir sobre o que aconteceu, me culpa e me manda embora. Ou, é você quem vai embora e fica na casa do Chan-hyung. Nem todos os dias são iguais - Explicou cabisbaixo — No começo, quando seu acidente ainda era muito recente, isso acontecia com maior frequência. Hoje em dia, digamos que eu posso ser feliz ao seu lado.

—  Por que você se esforçaria tanto por mim? Seu amor por mim é tão grande assim?

—  Grande? Você não faz ideia do quão grande ele é! - Felix riu um pouco atordoado. Seus olhos se perderam enquanto ele tentava achar uma maneira de contabilizar o sentimento em seu coração — É algo tão forte e tão arrebatador que não cabe dentro de mim. Changbin, você é o homem da minha vida, eu soube disso quando te vi pela primeira vez, por isso, não importa o que aconteça, eu nunca vou te deixar.

“Por um tempo, o amor fez eu me sentir como se estivesse caminhando tranquilamente dentro do mar raso, completamente feliz, até  que ondas e mais ondas vieram uma após a outra e começaram a me derrubar sem parar, mas ao invés de viver o resto da vida sofrendo, eu achei melhor decidir o que faria com esse sofrimento. Deixar ele continuar me derrubando ou superar?” Changbin o admirou por um instante, recordando dessas palavras ditas mais cedo. 

E, por Deus! Como ele tentou aceitar aquilo facilmente, seguir em frente mesmo sabendo de sua condição e abraçar o garoto. 

Mas não conseguiu. 

Estar com Felix o deixava perdido, com medo e cansado.

Changbin precisava ficar sozinho.

—  Eu…

—  Por favor, não me mande embora, hyung.

— Eu sinto muito, mas eu não consigo.

— Amor!

— Por favor… - Changbin apontou para a porta, indicando a saída.

Foi como se Felix sentisse o ar estancando dentro dele. Levou a mão à boca e a apertou com força como se tentasse segurar um grito que o seu choro quis explodir em sua garganta. 

'Chan-hyung, o aniversário não deu certo outra vez.
Você pode cuidar dele para mim?
Ano que vem eu penso em uma história melhor'.

Digitou em seu celular.

Inúmeras lágrimas escorriam sem parar quando ele recolheu seus pertences e, vagarosamente, partiu para fora do apartamento que dividia com o marido muito antes de se casarem.

Do outro lado, Changbin assistiu aquela cena sem sentir remorso algum, pois achou não haver tamanho amor em seu coração que fosse suficiente para retribuir ao pedido do mais novo e deixá-lo ficar.

Desse modo, quando a porta se fechou, Changbin quis tirar um tempo para chorar e caminhar pelo apartamento tentando perceber as diferentes memórias distribuídas por ali. Fotos, horas, datas, pinturas assinadas com anos diferentes… Isso era muito confuso.

Tudo o que ele queria era que tudo fosse um pesadelo que deixaria de existir depois que ele acordasse no dia seguinte. E, bem… Segundo o que Felix disse era justamente o que iria acontecer.

Então, não aguentando mais tamanha dor, resolveu dormir e, consequentemente, esquecer de tudo isso. Esgotado e enfraquecido, ele retirou seu cinto e desabotoou sua calça para puxar a camisa social de dentro.

Todavia, quando ele tocou em seu terno para tirá-lo, ouviu o som de um papel raspando contra o pano de sua roupa. Levou a mão ao bolso e tirou de lá o esboço que desenhava em seu bloco de anotações quando estava no pub mais cedo aguardando sua companhia chegar.

Assim que o abriu e viu os rabiscos feitos ali, simplesmente saiu correndo.

Correu porta afora.

Correu para encontrar ele.

Correu para Felix.

Para sua sorte, conseguiu encontrá-lo milésimos antes de ele entrar no elevador que tinha acabado de abrir em sua frente.

— O que você quis dizer com “Nosso aniversário?” - Questionou ofegante.

— O-oi? - Se assustou com a súbita chegada.

— Você disse que hoje é uma data especial e, por isso, você preparou todo esse encontro para nós. O que estamos comemorando?

— O nosso primeiro encontro.

— Felix, você disse que hoje é dia 25 de março de 2021.

— Sim, eu disse.

— Então, isso significa que…?

— Isso significa que sua mente escolheu regredir a um ponto que ela lembra de tudo da sua antiga vida antes do acidente, menos de mim - Esticou os lábios forçando o sorriso falho em meio ao choro que ainda o assolava — Você revive o dia em que iria me conhecer, repetidas vezes.

— Eu sinto muito...

— Tudo bem! Não é como se fosse sua cul-

— Mas você está enganado! - Changbin cortou o discurso do outro — Eu me lembro de você.

— O… O-o quê? - Questionou um tanto quanto perdido — Do que está falando?

— Desde a hora que eu acordei hoje, uma imagem borrada não sai da minha mente. Eu não sabia muito bem o que era, um rosto, um olho ou, até mesmo, uma paisagem… Mas eu sabia que era algo que eu precisava descobrir. Era isso que eu estava rabiscando quando você chegou para o nosso encontro... falso - Riu emocionado e esperançoso — E esse é um pouco do resultado.

Changbin estendeu o bloco de notas na direção do mais novo para mostrar para ele o que estava desenhado.

Era um esboço confuso.

Eram traços de um rosto.

O rosto de Felix.

Vendo aquilo, Felix que já estava chorando há tempos apenas quis chorar mais ainda e, agora, suas lágrimas não estavam apenas em suas bochechas mas também na folha que continha o seu desenho.

Seu coração doía mas, pela primeira vez depois de muito tempo, não era de tristeza ou de desespero. Doía por conta de um amor tão grande que não cabia em seu peito, um amor que rompia barreiras, um amor que vencia dificuldades, um amor que não se cansava, um amor que era puro amor.

Um amor que estava desafiando protocolos médicos e teorias de especialistas.

Um amor que ia contra a ciência.

 — Eu me lembro de você, Felix - Changbin repetiu como se afirmasse aquilo mais para ele do que para o outro — Do meu jeito, como um borrão, mas eu me lembro de você.

— Isso é verdade, meu amor?

— Sim! Eu me lembro… Eu me lembro...

Naquele momento, o tempo, as lembranças, a memória, o medo, o desconhecido… Nada disso foi capaz de impedi-los de se entregarem um ao outro. Changbin apenas segurou a cintura de Felix com força e o puxou para um beijo apaixonado, afoito e arrebatador.

Deixavam que todos seus sentimentos transbordassem naquele ósculo que tanto os fazia flutuar. Felix trazia as memórias antigas de uma vida feliz esquecida, Changbin criava novas. Ali eles simplesmente eram a ponte que conectava o inexistente e o existente da história um do outro.

Ofegante, Felix sentiu-se ser prensado na porta do elevador, em seguida, na guia, e depois em uma parede. Estava sendo puxado e, mesmo sem ver o caminho, ele sabia exatamente para onde estava sendo levado.

Novamente uma parede e a porta de entrada do apartamento, dessa vez, Changbin agarrou os dois braços do mais novo e os prendeu sobre a cabeça dele, em seguida desceu os beijos para o pescoço querendo marcá-lo como se aquilo fosse uma maneira de nunca mais se esquecer dele.

— Binnie…?

— Eu não sei o porquê, mas eu preciso disso… - Sussurrou em resposta ao breve momento de surpresa do loiro — É como se você estivesse gravado dentro de mim e eu tivesse que entender o motivo. Eu preciso… Eu preciso descobrir você… Eu preciso de você.

— Eu sei.

Felix sorriu e deu alguns passos para trás e se curvou para baixo, apenas para deixar seu rosto rente ao peito do outro, mais precisamente no lado esquerdo. Ouviu as batidas aceleradas ali e, então, puxou na memória que só ele tinha as palavras que Changbin lhe disse no dia do casamento deles: “Não importa quanto tempo passe, o que aconteça ou o que nos separe, eu vou te amar para sempre, Lee Felix”.

Sim, Felix estava provando mais uma vez que o marido cumpria o que prometia e  que apesar de ter sido esquecido por ele, nunca poderia ser arrancado de seu coração.

E saber disso, recompensava tudo.

— E quando eu penso que não posso te amar mais, hyung... - Sorriu mais largamente. 

Changbin pegou Felix em seu colo e o levou para dentro do apartamento novamente e fechou a porta atrás de si. Desta vez, foram em direção ao quarto, em direção à cama deles, onde o loiro foi gentilmente colocado sobre o colchão. 

O moreno permaneceu em pé por alguns minutos, gravando cada centímetro dos detalhes daquele homem em sua memória - mesmo que de curto prazo. Porém, logo, apenas olhar foi insuficiente, ele também precisava senti-lo.

Senti-lo de inúmeras formas.

Grava-lo em seu corpo.

Quando finalmente Changbin engatinhou pela cama para se pôr em cima do outro e começar distribuir beijos arrastados pelo rosto e pescoço dele, foi que Felix sentiu seu coração acelerar feito um louco e ele teve que revirar os olhos por causa da onda de deleite que aquilo lhe trouxe.

— Me mostra… Me mostra quem é você, Felix - O moreno sussurrou no ouvido dele — Me mostra quem somos nós. Nesta cama, me faz entender o porquê de nos amarmos tanto.

A resposta veio em um beijo profundo e avassalador mas, acima de tudo, cheio de histórias para contar, memórias para compartilhar, amor para sentir. 

Felix abraçava a nuca de Changbin como se ele fosse o seu bem mais precioso, na verdade, ele era. Changbin passava suas mãos por todo o corpo de Felix como se estivesse descobrindo o tesouro mais desejado de todo o universo. Sim! De seu próprio universo interior.

Ambos eram o início e o fim um do outro.

Começando pelo terno e pela jaqueta, seguindo pelas calças e depois por camisas… Peça após peça foram se tornando desnecessárias para o amor que fluía por ali. As mãos de Felix vagaram pelas costas do marido, sentindo a pele dele se arrepiando com o contato. Em resposta, sentiu beijos sendo distribuídos por sobre seu corpo.

Eles tinham a necessidade enlouquecedora de se desvendarem por completo.

Os dígitos de Changbin percorreram intimamente o abdômen, cintura e as coxas do mais novo, dessa vez não tendo que se conter e, muito menos, estipular limites para seu desejo como quando dançavam no pub.

Quando agiam como desconhecidos um para o outro.

De repente, Felix que antes se deleitava de desejo e prazer, parou de mover o corpo apenas para olhar no fundo dos olhos de Changbin.

— O que foi, lindo?

— Diz que me ama? - Suplicou segurando o rosto do marido entre suas duas mãos — É o nosso aniversário, então, por favor, me chama de amor e diz que me ama?

Changbin ficou um pouco desconfortável pois, mesmo sabendo de toda sua história, Felix parecia ser um estranho para ele. Palavras como “eu te amo” são difíceis até mesmo para pessoas próximas, imagina para alguém praticamente desconhecido. 

— Me chama de amor? Só dessa vez.

Depois de uma noite inteira conversando com o loiro e, consequentemente, conhecendo e descobrindo sua própria memória perdida, Changbin passou a entender que tudo nas palavras de Felix tinham algum sentido escondido. Daquela vez não foi diferente, com certeza o “Só dessa vez” tinha um significado e era fácil para qualquer um entender que provavelmente, fazia muito tempo que o loiro não ouvia aquelas palavras.

— Por favor.

Desde o acidente até o resto dos dias da vida daquele casal, sempre que fizessem sexo seria como se fosse o primeiro. E quem nunca temeu palavras sentimentais no primeiro encontro, que atire a primeira pedra.

Contudo, Changbin entendia a necessidade de Felix ouvir aquilo, ele era alguém que vivia seus dias com a incerteza de ter seu amor retribuído ou não. Por isso, Changbin decidiu jogar seus questionamentos fora e fazer a vontade do loiro - que nada mais era do que a sua própria vontade, escondida no seu mais profundo ser. 

— Eu amo você, Felix… - Falou alto e claro -  Eu te amo, meu marido, meu amor eterno, minha lembrança, minha memória.

— Eu… - Um fio de lágrima que pesava no canto do olho de Felix, pesou e escorreu em cima dos lençóis — Eu também amo você, Binnie. Eu te amo muito.

Sentindo-se no paraíso, Felix trocou posições e, agora, ele subia em cima do marido para beijar boca, rosto e pescoço dele. E, também, para posicionar-se sentando no colo dele.

Não houve necessidade de sexo oral naquele momento, a sede física que um tinha pelo outro poderia esperar, pois o que seria saciado naquela noite, era a sede emocional. 

A sede do amor esquecido.

— Eu preciso de você, hyung - Sussurou — Eu preciso agora. 

Foi só o que o loiro teve que dizer para Changbin deixasse seus dedos vagarem pela entrada dele, acariciando delicadamente a área numa velocidade suficiente para inebria-lo por completo. 

Felix  moveu o quadril para baixo quando o marido posicionou um dígito naquele ponto tão sensível, por isso, foi com facilidade que um dos dedos deslizou para dentro de si para prepará-lo.

Movimentos de vai e vem juntos com movimentos circulares ocorreram por um tempo até que houvesse líquido suficiente para lubrificação.

— Binnie...

Vendo que ele estava pronto, Changbin removeu sua mão apenas para segurar seu próprio membro pela base e o direcionar até a entrada do outro, o penetrando devagar.

— A-ah... Ah…

— Deus...

Gemeram juntos.

Abraçando o marido com força, Felix colou sua testa suada na dele enquanto ia descendo o quadril. Sorriu quando suas nádegas se encostaram levemente nas coxas de Changbin, indicando que a penetração estava completa. 

Ali ele se sentiu tão cheio, tão preenchido. 

Cheio de amor, preenchido de paixão.

— Se move, Lix. Se move. Me mostra como nós fazemos amor. 

Lix? Changbin não sabia o peso daquele apelido quando o sussurrou com seus lábios roçando os de Felix e, por isso, não entendeu o motivo de vê-lo gemer tão grandemente ao ouvir aquilo.

Como consequência, não demorou muito para que ele sentisse aquele quadril sobre si se mover para cima e para baixo, começando devagar e, depois, aumentando a velocidade gradativamente.

Changbin aproveitou a oportunidade para explorar toda a parte traseira de Felix, desde seus cabelos, até suas nádegas redondas que cabiam perfeitamente entre seus dígitos. Puxou-o para um beijo intenso e profundo, mas que logo teve que ser apartado por conta dos gemidos impossíveis de serem contidos. Em seguida, segurou firme na cintura dele e o virou para subir novamente por sobre ele, mas, desta vez, sobre as costas dele. 

Com os lábios colados em sua nuca, Changbin deslizou as mãos por todo o braço suado abaixo de si, até alcançar as pontas dos dedos e entrelaça-los, mantendo-os juntos enquanto faziam amor.

O ritmo voltou a acelerar e os gemidos foram aumentando, tanto em intensidade, quanto em volume.

— Lix... O-oh...

Changbin estocava Felix com força e precisão, levando-o a um estado jamais visitado antes. Um estado onde suas mentes, almas e corações se fundiam completamente. Era como se eles fossem apenas um em inúmeros sentidos. Os pensamentos carinhosos a respeito do outro, rondavam a mente de ambos. Suas almas, se sentiam completas e em paz. E seus corações... Ah, seus corações jamais estiveram tão felizes como naquele momento.

Devido à posição que os deixava extremamente próximos, foi fácil para Changbin pressionar a próstata do outro com força e, com isso, um gemido longo e audível abandonou sua garganta.

— Aqui é gostoso pra você? Hm?

— S-sim, Binnie... Aí, amor... Aí… - A resposta veio ao som de mais gemidos.

Mais uma vez eles se beijaram, sabendo que o ápice estava cada vez mais próximo e tendo a certeza de que não conseguiriam adia-lo, não quando havia tantas sensações e sentimentos envolvidos. Não quando a felicidade que sentiam parecia ter vida própria. 

Foi quando outra vez seus olhos abriram e encontraram o olhar alheio, que eles souberam que tinha chegado o momento.

Os espasmos vieram de forma rápida e intensa, o orgasmo cada vez mais próximo, trouxe três palavras para a ponta da língua de Changbin. Só que dessa vez Felix não teve que pedir, era simplesmente algo que queria ser dito por seu coração, por sua mente e por sua alma.

Enquanto seu sêmen era despejado no interior de Felix e o de Felix molhava seu abdômen, ele tomou coragem para proferi-las.

— E-Eu te amo... Lix.

Naquele momento, não se via um fio de tristeza ou dor estampada na face do mais novo. Apenas um sorriso, um sorriso que indicava o tamanho do sentimento que habitava dentro dele, aquele que era capaz de fazer os mais renomados neurologistas questionarem suas profissões, aquele que era capaz de mover montanhas.

— Eu também te amo, Binnie.

A lágrima solitária que saiu dos olhos de Changbin caiu no rosto de Felix, misturando-se com a dele, brilhando lindamente sobre aquele amor que parecia ter sido um presente dos deuses.

Quando Changbin se deixou cair ao lado de Felix, ele rapidamente puxou o loiro ao seu encontro, não querendo ficar longe dele por nada nessa vida. 

Mutuamente eles limparam o rosto um do outro e sorriram antes de mais uma vez 

Se beijaram.

— Isso foi… estranho.

— Estranho? - Felix gargalhou alto, já tinha visto de tudo naquele relacionamento mas ouvir que o sexo tinha sido estranho foi novo.

— Você entendeu! - Changbin acompanhou o riso e falou um pouco tímido — Hm, então isso quer dizer que, para mim, essa é a nossa primeira vez?

— Hum, hum - Confirmou o questionamento — E, para mim, eu acho que essa é a nossa 105ª primeira vez.

— Uau! Nós somos um casal diferente, então.

— Sim, nós somos especiais.

Riram e brincaram juntos para não terem que trazer o clima mórbido de antes. O que, infelizmente, durou apenas por pouco tempo, já que Changbin ainda tinha alguns questionamentos.

— Por que você faz tudo isso?

— Como assim, hyung?

— Sei lá… Você me conquistou facilmente hoje no pub e, muito provavelmente, nós acabaríamos assim de uma forma ou de outra - Referia-se ao fato de fazerem sexo — Não seria mais fácil se você deixasse rolar naturalmente e se poupar de todo esse trabalho de me contar tudo?

— Mas aí não seria real, seria? Pelo menos, não seria para mim.

— É… Você tem razão.

Com o pequeno em seus braços o acariciando, Changbin percorreu os olhos pelo quarto escuro sendo iluminado apenas pela luz que vinha da sala. Pensava em como era engraçado ele não amar e amar Felix ao mesmo tempo. Adorava a personalidade, a coragem, o esforço e o amor dele mas, sobretudo, sentia pena do quão solitário ele era por viver sozinho uma jornada que deveria ser vivida a dois.

Changbin era grato por isso mas, também, sentia-se culpado.

— Acho que você me deixou cansado, porque eu estou morrendo de sono — Disse bocejando — Mas, você disse que eu vou esquecer tudo se eu dormir, então, cheguei a conclusão que para resolver nossos problemas, eu nunca mais vou dormir nessa vida.

— Isso seria muito fofo da sua parte, hyung - Felix riu baixinho — Mas você não conseguiria nem se quisesse.

— Por que?

— Sua mente tem um limite, quando se sobrecarrega demais ela desliga sozinha - Explicou sereno — Você começou a dar indícios de que estava próximo desse limite quando estava dançando comigo no pub, por isso, decidi trazer você pra casa às pressas.

— Hm. E se gravarmos um vídeo? Assim você não precisa me contar a mesma história todos os dias.

— Nós já gravamos, mas o médico disse que não posso usá-lo sempre. Primeiro, eu tenho que saber como você está e se dormiu bem, e, então, escolher a melhor forma para te abordar. Se não for assim, você pode ter ataques violentos ou histéricos, e sua condição pode piorar.

— Eu nunca fui violento com você. Fui? - Questionou atônito.

— Não! Não se preocupe - Confortou-o — A única vez que isso aconteceu foi quando você estava com o Chan-hyung pois eu precisei sair para ajudar o Hyunjin com um problema no pub.

—  O-oh…! - Franziu o cenho por não entender uma parte da frase — Como você toma conta do pub se tem que ficar de olho em mim o dia inteiro?

— Ah! Eu não fico mais lá, o Hyunjin cuida de tudo pra mim.

Changbin apenas se sentiu mais e mais culpado ao ouvir aquilo, sua expressão se horrorizou um pouco mas logo se amansou quando o sono começou a tomar conta de si.

— Eu sinto muito por isso, eu estraguei a sua vida - Piscava devagar quase entrando no mundo dos sonhos.

— Você não estragou, muito pelo contrário, você me tornou uma pessoa melhor, hyung. Me deu uma vida melhor! Eu não tinha nada até você aparecer e me agraciar com o seu amor. Me ajudou a construir o negócio dos meus sonhos e, até mesmo, decorou tudo para mim - Felix sussurrou enquanto observava o marido já com os olhos fechados —  E a forma que eu vou te agradecer por isso é estando para sempre ao seu lado.

— Por que? Por que faz isso…? Você não devia sofrer assim.

— Hm… Digamos que é porque eu sou o tipo de pessoa que só entra em um novo relacionamento se for para tentar fazer dar certo de verdade. Pode não parecer, mas eu quero um romance para a vida toda, daqueles de filmes clichês em que eu não me importaria em reconquistar a pessoa que amo a cada nova manhã - Felix repetiu exatamente as mesmas palavras que Changbin lhe disse mais cedo no pub. Elas expressavam exatamente toda a verdade que ele acreditava e, era por isso, que lutava para manter seu amor todos os dias. Faria isso pra sempre — Binnie, você é uma memória esquecida que vive dentro mim. Eu te amo.

— Obrigado… - Pouco a pouco ele foi desligando e caindo no sono profundo —  E me desculpe.

Dormiu.

X

Din-don. Din-don.
Din-don. Din-don.

Changbin saltou da cama quando ouviu a campainha tocar repetidamente lhe tirando de seu sono gostoso. Ele quis matar quem quer que fosse que estivesse o importunando tão cedo.

O toque não parecia querer parar, então, ele percebeu que não adiantaria ignorar, teria que levantar para verificar quem era. Olhou no relógio rapidamente e viu que marcava 7 horas da manhã. Desencostou do colchão para se sentar, se espreguiçar largamente e bocejar gostoso. 

Checou as mensagens em seu celular, entre elas, como de praxe, havia várias de Bang Chan. As leu rapidamente, não prestando atenção em metade delas.

Em seguida, pegou o controle da TV e a ligou.

“A previsão do tempo para o dia 25 é de muito sol e poucas nuvens”.

Explicou o garoto do tempo para as paredes do quarto de Changbin escutarem, pois ele não estava mais ali.

— Quem é você e o que quer? - Disse abrindo a porta com a cara toda inchada de sono. 

— Oi, bom dia, Changbin-hyung! - Um rapaz disse sorridente. Segurava em suas mãos várias telas de pintura, pincéis e tintas, e parecia um pouco afobado e alegre. Estava uniformizado com um macacão azul como um estudante de artes — Tudo bem?

Que belo rapaz ele era! Loiro, olhos levemente amendoados, sorriso largo e sardas distribuídas pelo rosto deixando-o ainda mais encantador. Certamente, se houvesse a oportunidade, ele seria um ótimo modelo para as obras de arte que Changbin criava na ponta de seu lápis ou pincel. 

De fato, Changbin ficou admirado com tanta beleza.

— Hello? Hyung? 

— Ah, ops, desculpe. Você deve ser o ajudante que o Chan-hyung falou na mensagem - Sacudiu a cabeça para sair de seu transe, tinha sido hipnotizado pelo loiro parado em sua frente — Foi mal não saber que você chegaria tão cedo! Acabei de acordar e só vi a mensagem do Chan-hyung agora.

— Tudo bem! - Sorriu — Posso entrar na sua casa?

— Claro, Felix. Fique à vontade.

O rapaz estava prestes a entrar mas parou assustado no meio do caminho ao ouvir seu nome ser proferido. Seus olhos se expandiram numa esperança na qual ele nunca tinha se permitido se agarrar antes.

— Do que me chamou?

— Felix! É o seu nome, não é?

— S-sim! Mas como você sabe, hyung?

— Ah…! - Changbin o mediu dos pés à cabeça e depois olhou para o peito dele — Está escrito no seu uniforme. Bem aí, ó! - Apontou — Você é da Faculdade de Artes Cênicas de Seul, não é?

— O-oh… S-sim! - Murchou em completa tristeza — Sim, sou.

— Tsc! Que estranho… - Changbin riu do rapaz — Entre aí, fique à vontade.

             Parece que nosso contador de estórias, teria um novo plot para criar naquele dia.

__

 ̶2̶5̶ ̶d̶e̶ ̶M̶a̶r̶ç̶o̶ ̶d̶e̶ ̶2̶0̶1̶8̶

25 de Março de 2021

 

Within.

 


Notas Finais


Totalmente meu número¹ -- Acho que foi possível entender, mas, apenas para confirmar, eu quis dizer "Totalmente o boy dos meus sonhos".

Pinã Colada² -- Coquetel alcoólico doce feito com rum, leite de coco e suco de abacaxi.

_____________________________

Eu repeti algumas frases do começo da fic no final para tentar criar uma conexão entre os dois pontos, espero que tenha dado certo XD
_____________________________

É isto! 🥺
Muito obrigada por ler ♡
Me fale o que achou nos comentários.


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