História Wolf Moon - Chapter 12

Beco sem saída, era como eu definia esse momento. Era como se eu estivesse no meio de uma gangorra equilibrada, cada lado sendo o resultado definitivo de uma escolha que eu teria que fazer. Se eu me rendesse e me integrasse, perderia minha liberdade, minhas próprias escolhas e teria um bando de lobos sempre na minha cola, sem contar que não poderia mais me vingar pela minha irmã. E se eu continuasse a me rebelar, lutando contra isso, certamente iriam me matar, e tenho certeza que o Alpha não teria problema nenhum em fazê-lo.  Não importa qual decisão eu tome, nas duas eu me ferro. Não disse? Beco sem saída.

A pressão subia à minha cabeça e o meu tempo se esgotava lentamente. Com dois extremos, eu não sabia o que fazer, já tinha passado por uma coisa assim antes mas não desse jeito. Tudo isso graças ao meu querido amigo Anthony. Argh! Eu juro, se eu encontrar aquele imbecil outra vez... Eu nem sei o que eu faço! .. Por outro lado, apesar de estar com raiva dele, eu queria saber se ele estava bem. Ele levou uma surra feia, mesmo pra um lobo, aquilo com certeza causou um bom dano nele - ainda mais que foram lobos que o espancaram.

Ah... Preciso me acalmar um pouco, só assim pra conseguir pensar em algo.

Muitas coisas me deixavam tranquila, ler, escutar ou cantarolar uma música, montar um cubo mágico - embora muitos se irritem, comigo é o contrário. Mas o que mais me acalmava era lembrar da época de criança, acho que isso acalma qualquer um, afinal quem não gosta de lembrar dos tempos de quando era só um piá? Seguindo essa ideia, levei minha mente até a época em que tinha seis anos. Mesmo não fazendo questão de recordar minhas lembranças, algumas eram boas e me ajudavam em uns momentos, como esse. É até engraçado se parar pra pensar.

Fui me aprofundando, lembrando dos dias no pré e das poucas vezes que ficava com minha mãe e minha irmã. Dora só tinha três anos, e era tão pequena que cabia quase certo no meu colo. Era bem cabeludinha e tinha um rosto gordinho, muitas vezes dormindo, ficava um amor daquele jeito. Minha mãe não se metia muito, costumava ficar só me observando brincar com Isadora.

'Remoer o passado não vai nos tirar daqui, Lotte.' Ela me despertou de meus pensamentos. 'Foi mal a grosseria, mas é a verdade. Precisamos achar uma forma de escapar, e pra isso não podemos ficar lembrando de coisas que só vão nos distrair.'

Às vezes essas coisas que ela falava me perturbava, porém ela estava certa, não podia me distrair. Não agora.

Logo que voltei a pensar em como resolver esse meu "probleminha", ouvi passos virem do topo da escada de metal. Minha primeira reação foi ficar na defensiva, mas ao sentir o cheiro do Anthony, me tranquilizei um pouco. Pelo menos não era nenhum dos outros da matilha.

Segui o som de seus passos até ele chegar ao chão. O rosto dele não tava dos melhores, meio roxo e avermelhado em algumas partes, mas se fosse humano seria muito pior então tem esse lado bom. Reparei que ele trazia consigo uma tigela pequena, dentro dela tinha algo com um cheiro forte e um pouco azedo. Fiquei curiosa, mas irei questioná-lo depois. De início ele apenas ficou parado me encarado, como se achasse que eu fosse dar uma bronca nele ou algo do tipo - vontade não faltou. Ele foi até um balcão pegar um par de luvas e veio até a porta da cela, abrindo-a com umas chaves que tirou do bolso.

Recuei um pouco quando ele entrou, queria evitar falar com ele mesmo não tendo essa opção, só não fui mais pra trás porque não tinha mais espaço. Anthony se aproximou mais um pouco e sentou-se em minha frente, ainda com a tigela em mãos e pôs a mão dentro da mesma, tirando uma "pasta" esverdeada meio esquisita. Ele se curvou para passá-la em mim e, por instinto, desviei, já que não sabia o que era, nem o que faria comigo.

- Não seja teimosa. - Ignorando minha defesa, ele passou aquela coisa em meu pescoço, por toda a parte queimada pela prata e depois esfregou-a em meus pulsos, tirando o excesso nas mãos ao terminar. Ter aquilo em contato com minha pele era esquisito, mas aliviava a parte queimada. Ele pegou a tigela e fez menção para eu segurá-la. - Pegue só um pouco com a ponta dos dois dedos, ponha na boca e esfregue-a perto da garganta, depois cuspa. Vai te fazer bem.

Fiz como ele disse sem hesitar, não tinha motivo para questioná-lo nesse ponto. Logo que coloquei a "pasta" na boca e fiquei passando-a pela entrada da garganta, senti um gosto muito azedo e amargo, queria, de cara, cuspir aquele troço, mas precisava dele por um tempinho ainda. Quando terminei, cuspi-o para fora da jaula, olhando para o lobo a minha frente em seguida.

- Pensa em gosto de vômito. - Falei limpando minha boca.

- Hehe! Imaginei que não tivesse um gosto muito bom. - Ficamos quietos por um tempo, eu preferia assim mas ele começou a falar de novo. - Olha, desculpa por tudo o que eu te fiz passar, mas tenta entender que-

- Por tudo que você está me fazendo passar.

- Ah não vem com essa, Lotte! Achou mesmo que conseguiria se esconder por muito tempo? E mesmo que conseguisse, esqueceu do que aqueles lobos fizeram com você? Seu estado não era nada bom, não tinha como você melhorar só se curando normalmente, eu não tinha escolha.

- Foda-se meu estado! - Esbravejei, minha loba apenas assistindo. - E eu não sou mais humana! Eu podia muito bem me curar sozinha, mesmo que levasse dias pra isso. Você me trouxe aqui porque quis. - Minhas palavras aparentavam ter tido algum efeito nele, pois ele não revidou e nem tentou se explicar.

- .. Em parte sim, mas-

- Ah! Falei!

- Em parte. Eu tava cansado dessa sua teimosia e queria que você desistisse de uma vez essa história de loba solitária e vingança, que não tinha acabado como você disse ontem mais cedo. - Bufei e virei o rosto, persistente. - Por outro lado, você realmente não tava nada bem. Era a única opção! Nunca que você se safaria sem ajuda médica.

- Eu já passei por isso antes, esqueceu? - Calei-o com isso, ainda que precisasse me abrir um pouco, o que eu não queria fazer. Tem coisas que devem ficar guardadas pra nós. - Você não faz ideia do que é passar pela mesma situação duas vezes, e ser pisada nas duas. Nunca se perguntou como é falhar com as pessoas que você ama e Vê-las pagarem o preço por isso na sua frente? É por isso que eu tenho que vingá-los, por isso não desisti de caçar aquela matilha. Só assim eu ficarei em paz por eles e comigo mesma.

O papo morreu ali. Ele não sabia o que dizer, e eu não estava mais afim de continuar a conversa. Quando eu ia falar para ele me deixar quieta aqui, ouvi um barulho de passos vindos do topo da escada metálica. Meu coração falhou uma batida.
 

Scott
 

Merda! Bem quando eu estava no controle de tudo e mostrando pra alcateia quem é que mandava, o Alpha apareceu. Por quê ele tinha que chegar justo hoje? Depois que ele ditou as ordens, Caesar veio até mim, usando seu poder para fazer-me obediente, e me levou até o pátio da casa. Minha vontade era de sair daqui e também de dar um murro na cara dele, mas minha parte lupina me impedia de tentar qualquer coisa agressiva contra ele. É um saco ser lobo às vezes...

'Não é pra tanto! Há coisas piores do que isso e você sabe.'

"Eu sei, mas você entendeu." - Pensei, falando com meu lobo.

Ficamos esperando-o naquele pátio por nem sei quanto tempo, então, aproveitando sua ausência, fui tentar esclarecer as coisas com Caesar pra ver se conseguia uma ajuda na hora em que o Alpha me interrogasse

- Caesar, tenta ver o meu lado, eu tinha que punir o Anthony de alguma forma. Se eu não fizesse isso os outros começariam a achar que qualquer coisa que eles fizessem, eu aceitaria "na boa". Eu não podia deixar isso acontecer!

- Eu tô tentando ver os dois lados do que ocorreu hoje. - Ele disse sem tirar os olhos de onde o Alpha passaria para vir pro pátio. - Talvez eles pudessem se influenciar com isso que o Tony fez, mas você não sabia se isso aconteceria mesmo e isso não te dava o direito de fazer aquilo. - Ele se virou para mim, já ficando puto. - O que você tem na cabeça pra mandá-los espancá-lo quase até a morte?

- Eu não podia deixar aquilo passar como se não fosse nada! Eu tinha que pôr a ordem senão daria só problema depois.

- Mas você esqueceu que quem manda aqui não é você. Suas ordens não valeriam nada depois que o Alpha retornasse, você se ferrou à toa, inteligência. - A raiva começou a subir à minha cabeça, mas tive que contê-la assim que vi, de canto de olho, o Alpha se aproximando. Senti o poder de Caesar sumir e passei a sentir o que era emanado pelo lobo que vinha.

Ele dava passos normais, não era daqueles que andava lentamente pra mostrar que estava insatisfeito, principalmente porque ele mostraria isso falando mesmo. Ele andou até nós dois e ficou me encarando de braços cruzados, inexpressivo, como se esperasse uma explicação de minha parte, e foi o que eu fiz.

- A-Alpha, tudo o que eu fiz agora há pouco foi-

- Eu disse que podia falar? - Engoli em seco e abaixei minha cabeça. Mas que merda! Ele só emanava seu poder, nem o concentrava em mim, e eu já ficava nesse estado. - Nada do que disser vai justificar o que fez, até porquê eu sei o que você pretendia, você não me engana.

- S-Se o senhor me escutar-

- Cale a boca. - Ele falou completamente indiferente, causando-me calafrios. Ele conseguia assustar quando queria. Ele olhou para Caesar, mantendo a postura. - Enquanto eu não resolver esse problema todo com a loba, você ficará o vigiando na casa dele, já que não há lugar no Prédio de Questionamento. Não o perca de vista nem por um segundo.

- Sim, Alpha. - O lobo disse indo até seu carro, entendendo o comando indireto do líder. O Alpha se virou para mim novamente, mudando sua expressão vazia para uma mais aborrecida.

- Vou avisando, se tentar qualquer coisa contra um dos lobos ou a fêmea, não vai acabar bem pra você. Estamos entendidos?

- Sim senhor.

Ele não disse mais nada e Caesar buzinou, chamando-me para irmos de uma vez. Andei até o carro e entrei, o lobo dando a partida em seguida. De início, apenas olhei para a rua, mas ao olhar para o retrovisor vi o Alpha fuzilando o veículo com os olhos e voltou pelo mesmo caminho, certamente indo ver aquela cadela.
 

Charlotte
 

Fiquei acompanhando os passos descendo pela escada, às vezes ele os retardava, mas não demorava praticamente nada para voltar ao ritmo. Sabia que era ele, eu reconhecia aquele cheiro de longe. Minha loba e eu estávamos ficando tensas, porém tentávamos não demonstrá-lo. Anthony pareceu também perceber que seu líder estava vindo e começou a se preocupar, talvez mais comigo do que com ele, pois, eu acho, ele pensava que o que quer que acontecesse entre mim e o Alpha, o resultado não seria dos melhores. Provavelmente daria nisso mesmo, não sei. Ele pegou a tigela em um movimento rápido e me olhou como se quisesse me convencer de algo.

- Não faça nenhuma burrice! - Ele se levantou depressa e saiu da jaula, fechando-a logo em seguida e subiu as escadas.

Não demorou muito e logo ele estava ali no porão. Por causa da escuridão, minha visão estava levemente prejudicada, só conseguia vê-lo por ser lupina. Mas aquelas silhueta em meio a imensidão escura me trazia uma sensação nada boa. Sabe quando você fica nervoso quando aparece, em um filme de terror, a silhueta do assassino mascarado segurando um facão e indo atrás da sua vítima calmamente? Era parecido com essa sensação a que eu e minha loba compartilhávamos pelo Alpha à nossa frente.

Aumentando minha defesa, ele foi até a mesa ao lado da cela e pegou uma cadeira, sentando-se logo depois de colocá-la de uma maneira que o fizesse olhar diretamente para mim. Que ótimo... De qualquer forma, mesmo entre dois extremos - rendição ou rebeldia -, eu ia continuar em frente por mim. E se esse Alpha quiser mesmo me integrar em sua alcateia, vai ter um trabalhão desgraçado para consegui-lo, e nem assim! Por isso que, mesmo com medo do que iria acontecer daqui pra frente, eu continuava a encará-lo nos olhos firmemente, ele fazendo o mesmo comigo. Um tentando entrar na mente do outro.