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História Wolf's Bane - taekook - Honrado pt.2


Escrita por: taemutuals

Notas do Autor


ESTOU POSTANDO MAIS CEDO E POR QUÊ? PORQUE HOJE É DIA DE ATUALIZAÇÃO DUPLA!

Então, após esse capítulo, às 18:00 voltem aqui que terá outro, hehe.

Antes de mais nada, gostaria de pedir pra vocês favoritarem o capítulo (clicar na estrelinha) que isso ajuda muito a fanfic a crescer.

Usem a tag #WolfsBaneTK no twitter também e se puderem comentem bastante, eu mereço né? 👉🏻👈🏻

Obrigada pelos comentários anteriores, acreditem ou não, eu li todos. Demorou, mas li, e isso me motivou demais.

Enfim... Creio que todos estamos agitadas graças ao show online do BTS que rolou hoje de manhã, então bora terminar o dia lendo wolfsbane!

O capítulo está grande, cheio de tensão e ação. Espero que gostem, hehe.

A betagem foi feita pela HiShinySmiles e a moinalovesbts, obrigada meninas, revisar dois capítulos em pouco tempo é dificil.

A capa foi feita pela minha leitora FooxyMin obrigada amor.

As músicas indicadas são: "Here I Am - Tomee Profit, Booke" e "Fake Love Orchestral", respectivamente, e eu deixei em negrito.

É isso... Boa leitura ~

Capítulo 20 - Honrado pt.2


Fanfic / Fanfiction Wolf's Bane - taekook - Honrado pt.2

❝O homem procura a paz, mas ao mesmo tempo anseia pela guerra. Pensar na paz enquanto derrama sangue é algo que o ser humano pode fazer. São os dois lados da mesma moeda.❞

— Madara Uchiha


Ω


[1741 d.e]

Julho, trigésima lua do mês, verão



Arregalo os olhos surpreso com a atitude de minha halmeoni, que desvia sua atenção para o filho, que também a encara atônito.

— Contenham-se, vocês dois! — a velha Jeon grita. — E não me faça te bater também, Jungwo! Estamos sendo atacados! Vocês podem conversar sobre isso depois! 

Não digo nada, apenas encolho os ombros, atordoado demais com o que acabou de acontecer. Como se minha halmeoni tivesse me acordado de um transe com sua atitude brusca. Felizmente suas mãos eram leves demais e o tapa não machucou.

— Você está surdo, Jungwo? — Halmeoni esbravejou novamente, sacudindo as mãos exasperada, indicando a porta. — Saia daqui e contenha esses ataques! Ou se esqueceu que é o líder agora? 

Meu abeoji engoliu em seco, trocando olhares breves com Jieun, curvando-se para sua mãe antes de sair sem dizer mais nada.

Era a primeira vez que o via agir dessa forma, como se fosse um garotinho assustado seguindo regras. Ele se parecia… Comigo.

— E você também, Jieun! Vamos, vamos! — Halmeoni a empurrou até a porta. — Distraia os aldeões, acalme eles e não deixem que se desesperem.

— M-Mas… — Jieun piscou confusa, desviando o olhar para meu rosto e então o manto cheio de sangue. — E-Eu…

— Apenas faça isso, mulher. Eu cuido do resto, ande logo! Aish… — Halmeoni se virou, ajeitando os fios brancos e desgrenhados de seu coque. — Ahri, venha aqui, querida. 

Minha ama se aproximou receosa, curvando-se educada e pelo tom de voz de minha Halmeoni, sabia que ambas eram amigas, podia notar em seus olhares.

— Vá com Mika e Sunnie até o salão do templo e limpem aquele sangue do chão sem que percebam. Estava escuro quando o manto sangrou e os aldeões estão assustados demais para pensar nisso agora. — orientou.

— Meu nome é SunHee… — a garota disse, franzindo o cenho. — E ela é MiCha…

— Oh, certo, certo. Desculpem, crianças. Estou velha demais para me lembrar — Halmeoni riu divertida, gesticulando apressada. — Mas, façam o que lhes pedi. E se perguntarem, digam que os Espíritos fizeram aquilo para nos alertar sobre o ataque e que o ritual ocorreu bem.

Ahri e as servas trocaram olhares incertos, mas concordaram, curvando-se educadas antes de sair.

— Halmeoni… Eu não acho que mentir seja a solução — comento, aflito. 

Como enganaremos os aldeões em uma situação como essa? As frutas estão envenenadas. E se isso significar que nossos solos serão afetados de alguma forma? Como poderíamos resolver essa questão sem dizer a verdade? 

— Traga o Sábio aqui, Jeongguk — foi o que ela respondeu, arregaçando as mangas, torcendo o pano encharcado de sangue sobre um jarro de barro.

— Co-Como você…

— Eu não sei quem ele é, não se preocupe — sorriu terna, fazendo uma careta quando uns resquícios de sangue mancharam seu vestido branco. — Mas, meu falecido marido falava muito sobre ele. Um homem que pode falar com os Espíritos… Pois bem, traga-o aqui, sei que ele será capaz de consertar essa bagunça. 

Será mesmo? Talvez Jimin-ssi soubesse que o ataque fosse acontecer, talvez soubesse que eu arruinaria o ritual com meu sangue. Talvez ele soubesse de tudo isso e não evitou porque os Espíritos o impediram, o que significava que ele não iria nos ajudar.

— Halmeoni, ele não-

— Traga-o aqui, querido — insistiu, largando o manto sobre a mesa, as mãos enrugadas repletas de sangue, enquanto os olhos castanhos brilhavam determinados. 

Olhando-a dessa forma, ela não parecia apenas minha avó, mas a ex-esposa de um líder. Então, decidi confiar nela.

— Está bem — respondi, respirando fundo. — Eu vou trazer o Sábio ao templo, halmeoni.

— Que os Espíritos o guiem, querido — sussurrou, sorrindo gentil.

Me curvo antes de correr em direção a saída do templo, escutando os gritos raivosos que ecoam do lado de fora junto do zumbidos de metal se chocando.

Paraliso, sem saber para onde ir quando vejo Jackson e Minjae lutando com outros três homens que vestem uniformes com as cores e o brasão de Aloysia. O alfa desvia do primeiro ataque e Minjae lhe dá cobertura no momento em que atinge um dos inimigos pelas costas, atravessando a espada em seu corpo, fazendo-o arregalar os olhos e cair no chão, morto.

O céu escuro é preenchido por luzes vermelhas, que apagam segundos mais tarde, seguidas de mais outras, isto vindo de diversos lugares da aldeia. São os sinalizadores que sugeri que fizessem após uma invasão, indicando que estamos sendo atacados por todos os lados. 

Não conseguia entender como tantos soldados inimigos conseguiram atravessar os muros e os portões sem serem vistos. Não fazia sentido.

— Jovem mestre! — me viro ao escutar a voz de Heechul, que corre em minha direção com uma espada em punhos, atrás de si, seus guardas o seguem também armados. — O que faz aqui? Deveria voltar para o templo onde estará em segurança!

— Não posso! —  grito, minha voz soando abafada em razão dos sons de metal que ecoam por todos os lados. — Preciso encontrar uma pessoa!

— Vamos ajudar, Majes- — o beta se cala quando seu companheiro lhe dá um beliscão. — Digo… Jovem mestre.

Semicerro os olhos confuso. Ele iria mesmo referir-se a mim dessa forma? Por quê?

— Tome, vai ajudá-lo — o outro beta me entrega uma adaga com a cabeça de um corvo talhada na bainha, as lâminas afiadas, brilhantes e transparentes como cristais. 

— Obrigado… — agradeço, embora um chicote seja a minha primeira opção, é melhor que nada. — Vamos! Eu sei onde encontrá-lo!

Jimin-ssi só pode estar na cachoeira, é o único lugar possível em meio ao caos.

Corremos para longe da entrada do templo, olhando ao redor cautelosos e recuo alguns passos quando um soldado inimigo avança em minha direção.

Desvio por pouco de seu ataque e antes que possa tentar reagir Soohyun e Hwasa noona se colocam na minha frente. A alfa mais velha enlaça a perna do homem derrubando-o no chão ao puxar o chicote, e, aproveitando que o mesmo encontra-se de guarda aberta, Hwasa atravessa a lâmina fina de sua espada agulha no peito no mesmo.

— O q-quê… — “Que rápido.”

— Por que está aqui, jovem mestre? — Soohyun olha para mim por sobre o ombro, chutando um barril que desliza e derruba outro soldado que tenta se aproximar de nós. — Volte para o templo!

— Preciso achar o general — digo-lhe, sorrindo agradecido quando a alfa tira um segundo chicote do cinto e me entrega. 

Finalmente. Uma arma de verdade.

— Então vá, nós seguramos eles — Hwasa grita, girando a espada fina nas mãos de forma habilidosa, varrendo o local com os olhos afiados. — Tem muitos deles, mas podemos ganhar tempo.

— Eu posso ajudar-

— Abaixem! — alguém grita e me jogo no chão por reflexo, arfando assustado quando um flecha atravessa o ar sobre minha cabeça e atinge o muro de uma casa. 

Minjae corre em minha direção, olhando ao redor desesperado, curvando-se para me ajudar a levantar, gesticulando algo para Jackson que se vira e ataca o arqueiro que estava em cima de um dos telhados, lançando uma adaga em sua direção, cravando em seus ombros. Quando o homem cai no chão perto de si, o alfa não pensa duas vezes em atravessar seu pescoço com a espada já banhada em sangue.

— Maldição… Há vários deles — o beta diz, se colocando na minha frente como um escudo. Vejo Heechul e Hwasa fazer o mesmo.

— Não precisam me proteger! — os lembro, cerrando os punhos. Se eles continuassem preocupados com minha segurança, apenas se atrasarão.

— O vice-general nos deu ordens para mantê-lo em segurança — Minjae responde, sem desviar o olhar dos soldados à sua frente.

— Ele estava parecendo um demônio de tão enfurecido, não parece uma boa ideia contrariá-lo agora — Jackson se aproximar, limpando o sangue de sua espada na manga do casaco. — Volte para o templo, jovem mestre. 

Faço uma careta desgostoso, notando alguns corpos inimigos não muito longe de onde estou, com flechas em vários locais do corpo e mesmo que Taehyung não seja o único arqueiro em Bane, sei que foi ele. A maneira como foram mortos de forma brutal e dolorosa, como se quisesse matá-los mas não rapidamente e sim fazê-los agonizar até a morte, era quase uma marca registrada do Kim.

Ele sempre fazia isso, quando estava em sua forma lupina arrancava os membros dos inimigos antes de cravar as garras em seu coração e com o arco, atingia pontos letais mas que levavam certo tempo até a pessoa morrer.

— Taehyung deu ordens a vocês, não a mim! — digo, irritado. — Protejam o templo! Eu preciso encontrar o general! — Me esquivo dos braços de Minjae, que tenta me segurar.

“Maldição! Não tenho tempo para lidar com a preocupação de Taehyung. Apenas Jimin pode nos ajudar e apenas eu posso encontrá-lo.”

Apresso o passo em direção a floresta, esquivando sempre que algum inimigo tentava me atingir ou algum companheiro esbarrava em mim. Queria ajudá-los, mas não tinha tempo.

— Encontrei o garoto! — escuto alguém gritar e giro nos calcanhares a tempo de conter o ataque de um alfa que sorri largo, dilatando as narinas que possuem um arco de metal.

O alfa era grande, tipo, mesmo. Talvez dez centímetros mais alto que eu, porém seus braços são tão fortes que o faz parecer maior. Não está vestindo o uniforme de Aloysia o que me faz deduzir que deve ser um mercenário e preciso recuar um tanto atrapalhado quando ele tenta me atacar novamente com o machado pesado que está segurando.

— Oh, oh… Você é rápido… — comenta divertido, girando o machado no ar antes de baixar os braços novamente e desvio mais uma vez, buscando alguma forma de imobilizá-lo.

Meu chicote não basta, não conseguirei derrubá-lo mesmo se tentar e ele é forte demais para tentar uma luta corporal.

Mordo o lábio inferior e rolo no chão quando o alfa tenta me atingir mais uma vez e sorrio largo quando o metal afiado fica preso na madeira da pilastra que golpeou.

— E você é lento — provoco, umedecendo os lábios com a língua, pegando a adaga, recuando cauteloso quando ele retirou o machado e me olhou irritado.

— Já chega de brincadeiras, ômega — rosnou e prendi a respiração quando a lâmina passou perto de meu rosto, afiada o bastante para cortar alguns fios de meu cabelo.

“Droga!” grunhi.

Não posso derrubá-lo com força bruta e mesmo sendo mais rápido, ele não está com a guarda aberta, se tiver chance de atingi-lo será minha primeira e última.

— Vamos, garoto. Prometi que levaria sua cabeça em bom estado, não me faça machucar esse belo rostinho — ditou e engoli um punhado de saliva, angustiado.

“Oh… Já sei!”

— Desculpe, grandão, mas não posso morrer agora — digo, endireitando os ombros, levando a lâmina da adaga em direção aos lábios, lambendo-a lentamente, sem desviar os olhos dos dele, que estão carregados de malícia, como se tivesse feito algo incrivelmente obsceno na sua frente.

O alfa riu cético, girando o machado antes de correr em minha direção a passos pesados como um búfalo e respirei fundo antes erguer os braços a tempo de conter o impacto, deixando-o me atingir com um chute no estômago, me lançando contra a parede.

— AARRG! — gemi dolorido, cuspindo um punhado de sangue, apoiando a mão na região do estômago.

O alfa sorriu cínico, aproximando-se, embrenhando os dedos em meus fios de cabelo, puxando com tanta força que fui incapaz de conter um grito dolorido quando me ergueu dessa forma e senti uma lágrima deslizar por minha bochecha.

— Últimas palavras? — perguntou, levando a lâmina do machado em direção ao meu pescoço.

— Além de l-lento… — sorri ladino, encarando-o fixamente. — Também é burro.

O alfa franziu o cenho e grunhi quando me soltou de repente e cai no chão, recuando alguns passos atordoado, as veias de suas mãos e pescoço tornando-se vermelhas e negras, crescendo cada vez mais, fazendo-o tossir sangue e cair de joelhos na minha frente quando começaram a dominar sua face.

— O q-que você… Como…

— O que foi, alfa? — me levantei cambaleante, erguendo as sobrancelhas, observando o pequeno corte que fiz debaixo de sua axila quando baixou a guarda para me atingir. — Um ômega te assusta? 

— Br-Bruxo! — vociferou, a voz soando tão fraca que quase não pude ouvi-lo. — Aberr-

Então, mais rápido que suas palavras uma flecha atravessou sua cabeça e saltei assustado quando a ponta da lâmina surgiu do outro lado, entre seus lábios.O alfa caiu no chão, morto. 

Ergui o olhar, avistando Taehyung a poucos metros com o arco em mãos e os olhos brilhando em tons intensos de escarlate.

Sequer tive tempo de reagir, o Kim se virou e atingiu outro homem que se aproximava de mim sorrateiro e depois outros dois arqueiros que miravam em minha direção, sendo necessário uma única flecha para matar cada um deles.  

Estive tão concentrado no alfa com a qual lutava que sequer me atentei aos inimigos ao meu redor. 

— Você está bem? — Taehyung se aproximou de mim, tocando meu rosto com cuidado, me avaliando preocupado. Concordei. — Graças aos Espíritos! Por favor, gracinha, volte para o templo, sim? Não é seguro aqui. — Pediu, manso.

— Não posso, preciso encontrar Jimin — digo e o puxo quando um beta tenta atacá-lo pelas costas.

Taehyung rosna irritado e se vira no mesmo instante, chutando o homem, fazendo-o cair no chão, pisando em suas mãos, impedindo-o de se soltar, mirando a flecha a poucos centímetros de seu rosto, sorrindo de canto, apreciando o pavor que domina sua face antes de soltar a corda do arco.

Sinto meu coração pular uma batida, atordoado demais com sua atitude brutal e estremeço quando ele volta a olhar para mim, de forma totalmente diferente de como fizera com o beta morto.

— Por que precisa encontrar Jimin? — questiona, olhando ao redor cauteloso, segurando meu braço com força medida, me guiando em direção ao templo. 

— Porque sim! Ele pode nos ajudar! Me solta! — reclamo, me afastando dele e sequer temos tempo de discutir quando outros homens avançam em nossa direção.

Pego meu chicote e lanço no que está mais perto de mim, circulando seu pescoço, fechando os olhos com força quando o puxo e as lâminas de escamas rasgam sua pele, afogando-o em seu próprio sangue.

— De-Desculpe… — sussurro, desviando o olhar para ajudar Taehyung, mas ele não parece precisar.

Um homem está caído morto aos seus pés, enquanto ele se ocupa em cortar a garganta de um segundo, sem hesitar. O sangue do mesmo manchando ainda mais suas vestes brancas.

— Eu gostava dessa roupa, desgraçado — rosnou, olhando para o tecido tingindo de sangue, secando os respingos em seu rosto com a manga do casaco. Mas não resolveu muito, em vez disso, sua pele acobreada ficou ainda mais suja de sangue.

Jackson tinha razão, Taehyung estava enfurecido, seus olhos pareciam cada vez mais intensos e sua voz soava tão grave que me fez pensar se não estaria usando a voz de alfa para amedrontar os inimigos. 

Desvio o olhar quando escuto gritos e vejo algumas flechas flamejantes voarem sobre nós e atingir uma das casas ali perto, começando um pequeno incêndio.

— Peguem os baldes e as mangueiras! — Taehyung grita autoritário, retirando flechas de alguns corpos para usá-las novamente. — Apaguem o fogo! Jongin, Suho, Minho! Cuidem da retaguarda! Baehyun, Chanyeol, ajudem os soldados de Minseok que estão próximos aos portões!

— Sim, senhor! — Vários betas gritaram em uníssono, assumindo suas posições, obedecendo-lhe.

Taehyung umedeceu os lábios, as sobrancelhas unidas evidenciando sua irritação enquanto os olhos passavam por todos os inimigos que conseguia ver, como se estivesse calculando seus próximos passos.

— Jeongguk, volte para o templo, eu posso procurar Jimin depois que-

— Eu posso cuidar de mim mesmo! — reclamo, me afastando dele. Treinei por tanto tempo, não posso ficar parado enquanto todos lutam para defender meu povo. — Faça seu trabalho, vice-general e eu farei o meu!

Apenas eu posso encontrar Jimin e mesmo que Taehyung tentasse, ele não sabia o motivo pelo qual eu precisava da ajuda do Park. Eu não estava em busca do general, mas do Sábio dos Montes.

Taehyung não diz nada, apenas me avalia uma última vez, angustiado, como se estivesse lutando consigo mesmo, com sua parte lupina que quer me proteger mesmo que precise me obrigar a voltar ao templo e seu lado racional, que sabe que não têm o direito de fazer isso. 

Ele suspira e concorda com a cabeça.

— Se alguém tocar em você, mate.

— Pode deixar — respondi, embora não pudesse garantir que faria isso, ainda me sentia mal sempre que o fazia. 

Gritos soaram de todos os lados e Taehyung correu em direção aos seus companheiros, então segui na direção contrária, até a floresta. Porém, fui mais uma vez interrompido, dessa vez pelo pedido de socorro de uma voz conhecida por mim.

— Me solta! Socorro! — Somi gritou, sacudindo-se, sendo carregada nos ombros por um homem alto e magricela. Jung Jaewon e Hoseok-ssi o seguiam desesperados.

Trinco os dentes e avanço em direção ao homem, notando com o canto dos olhos quando Hwasa também se aproxima, sendo seguida por Namjoon. Porém a alfa é atacada por outro soldado inimigo, rosnando aborrecida quando o Kim tentou protegê-la.  

 — Eu já disse que não preciso da sua proteção! — grita, afastando-se de Namjoon que a encara irritado após derrubar outro soldado inimigo que tentou atingi-la.

— Não é o que parece!

— Vá cuidar do seu mestre!

— Hoseok me pediu para ajudá-la! — protestou.

— Parem de discutir, imbecis! — Soohyun esbravejou, colocando-se ao lado de ambos. — Vão proteger a entrada do templo, agora!

Volto minha atenção para o homem que carrega Somi e o ataco com o chicote, enlaçando seu calcanhar, puxando com força, fazendo-o cair com minha irmã nos braços.

— Aí — Somi choraminga e Jaewon aproveita a distração do homem para chutar-lhe na cabeça com as botas pesadas.

— Somi-ah! — grito e a ômega corre em minha direção, me abraçando com força, assustada.

— Peguem os herdeiros! Os quatro! — Um mercenário grita, apontando para nós.

— Fala sério, todo dia isso — Hoseok resmunga, erguendo os punhos fechados a altura dos olhos, assumindo uma postura defensiva. — Podem vir, seus babacas!

Me levanto também e vejo Jaewon se colocar na frente de Somi, impedindo-a de ver a cena a seguir.

Dois betas avançam em nossa direção com espadas em mãos e rodeio a cintura de um com o chicote, puxando-o para perto, afundando a adaga em seu tronco logo em seguida, derrubando-o no chão.

Hoseok defende minhas costas e antes que possa pensar em lhe oferecer minha adaga, arregalo os olhos quando o Jung desarma o beta e soca seu estômago com força, fazendo-o gritar de dor.

Hoseok afasta as mãos da região que golpeou e finalmente entendo o que aconteceu. Em seu pulso, há uma lâmina escondida no bracelete de couro que está usando. Provavelmente o acessório é maior do que aparenta ser, mas as mangas longas de sua camiseta o escondem.

— Jae, leve Somi de volta ao templo — Hoseok diz, estalando o pescoço, a expressão comumente gentil e calorosa substituída por um olhar endurecido.

— Eu posso ajudar — Somi protesta e o Jung mais novo revira os olhos.

— Não tenho tempo para cuidar de você, criança. Volte e fique com sua mãe.

— Eu não sou criança! — Somi bufa.

— Somi-ah, não temos tempo pra isso, eu preciso encontrar o general e-

— Eu vou com você, então — diz séria e antes que nós possamos contestar a ômega se afasta e corre em direção a uma carruagem, soltando as fivelas que prendem o cavalo, acenando em minha direção.

— Aish… Teimosia é de família — Jaewon reclama.

— Eu cuido dela — digo, correndo em sua direção, montando no cavalo após ajudá-la, ficando atrás de si.

Avisto outro grupinho de soldados inimigos tentar se aproximar de nós, mas Jaewon e Hoseok se colocam entre eles e suspiro aliviado quando Heechul e seus guardas aparecem para ajudá-los a contê-los. 

Eles ficariam bem. Tinham que ficar.


Ω


Seguro as rédeas do cavalo com força à medida que avançamos entre as árvores na penumbra da noite, semicerrando os olhos, tentando enxergar a trilha que nos levará a cachoeira.

— Para onde estamos indo, orabeoni? — Somi pergunta, abraçando minha cintura, sequer se atentando ao caminho percorrido. O que era bom, a cachoeira não era difícil de ser encontrada, mas não queria que ela soubesse que é o local onde Sábio-ssi costuma estar.

— Tenho que encontrar o general, ele… Pode nos ajudar. — digo, respirando fundo, sentindo meu estômago doer devido ao golpe do alfa grandalhão de outrora.

— Como? 

— Não tenho tempo de explicar, Somi-ah. Ele é forte e precisamos dele — digo-lhe. Felizmente a ômega não faz mais perguntas.

Seguimos em silêncio até o local e seguro sua cintura com força quando o cavalo se ergue assustado e quase caímos no chão.

— Ei, ei! Calma — Somi sussurra, acariciando sua crina e estremeço ao avistar a causa de seu medo.

A cascata da cachoeira despencava e deslizava por entre as rochas. No entanto, não era água, e sim, sangue. 

— Mas que diabos… — Somi desceu do cavalo com minha ajuda, levando as mãos em direção aos lábios, atônita.

Engoli em seco e me aproximei da beira do lago, tocando a água tingida de vermelho, sentindo a espessura molhar minha pele. Não haviam dúvidas, era mesmo sangue. 

“Por quê?”

— Orabeoni… O ritual…

— Sim — concordo, sentindo as lágrimas se acumularem em meus olhos, mas as contenho. Era minha culpa, de novo, estava arruinando tudo. 

— A água corre até o rio no centro da aldeia, na ponte — Somi comenta, angustiada. — Quando os aldeões descobrirem...

— Podemos pensar nisso depois — Falo, tentando me manter calmo. — Felizmente a ponte fica longe do templo e os aldeões não verão nada agora e… Os soldados também estão ocupados.

Jimin-ssi tinha que fazer alguma coisa. Se não…. Eu…

— Orabeoni, vamos resolver isso — Somi segura minha mão e sorri gentil.

— É, vamos — minto.

Caminhamos com cuidado pela trilha íngreme até o topo da cachoeira e nos esgueiramos para alcançar a entrada da caverna escondida atrás da cascata de sangue. 

Abraço Somi com força ao escutar os gritos agudos seguido do bater de asas de uma dezena de pássaros, então baixamos à tempo de evitar que nos atinjam e franzo o cenho quando diversos corvos voam para longe, berrando sem parar, como se precisassem nos alertar dos ataques desesperadamente.

— Jimin-ssi! — grito e escuto minha voz ecoar no vazio da caverna, repetindo-se até desaparecer no vácuo. — Park Jimin! General!

— Isso não faz sentido. Por que o general estaria aqui, enquanto somos atacados? — Somi questiona.

— Ele… Eu pensei que estaria, porque… Ele gosta de vir aqui — minto, engolindo em seco.

— Mas não está. Onde podemos encontrá-lo? 

“Não podemos.”, penso. “Sábio-ssi só pode ser encontrado se desejar e se esse ataque fizer parte dos planos dos Espíritos, então jamais conseguiremos.”

— Vamos voltar, deixarei você no templo e procurarei pelo general na aldeia — digo, ajudando-o a caminhar no chão escorregadio, cobrindo o nariz ao sentir o cheiro de sangue da cachoeira me atingir.

Montamos no cavalo e o guio com cuidado pela trilha mais segura, olhando ao redor, temendo ser atacado de surpresa, estava escuro demais para lutar.

— Orabeoni, o que faremos quando-

Aqui! Aqui! — Minha irmã paralisa assustada e dou uma risada quando vejo Teteco repousar em um galho próximo, abrindo as asas agitado. — Aqui!

— Teteco! — sorrio largo, mantendo o cavalo parado. — Sabe onde Jimin-ssi está?

— Sabe! Sabe!

— Legal! Me leve até ele — peço, guiando o cavalo em sua direção.

— Orabeoni, eu não acho que…

— Relaxa, maninha, ele vai nos ajudar.

Não podia lhe explicar que Teteco era um Espírito capaz de me levar até o Sábio dos Montes, ou seja, Jimin. Em vez disso, deixarei minha irmãzinha acreditar que sou maluco.

Sigo Teteco, tentando acompanhá-lo, mas o pássaro desaparecia no céu entre as copas das árvores e voltava minutos mais tarde como se nada tivesse acontecido.

Estava prestes a lhe perguntar para onde estava nos levando quando o papagaio pousou em um galho e abriu as asas agitado, grasnando desesperado.

Cuidado! Cuidado!

— O quê?! — pisco confuso e antes que possa reagir escuto um barulho estranho e o cavalo cai no chão de repente, sobre meu corpo e o de Somi, fazendo-a gritar assustada, choramingando dolorida logo em seguida.

— Orabeoni! Or-Orabeoni! — Minha irmã tenta sair debaixo do animal, os olhos arregalados e repletos de lágrimas. — Minha perna! 

— Somi-ah, não grite — peço, contendo um gemido dolorido ao sentir minha perna queimar com o impacto da queda. — Eu vou… Eu vou te tirar daí, só espera um pouco… — tento sair debaixo do cavalo, mas o corpo do mesmo cobre metade do meu e sequer consigo me sentar direito.

— Orabeoni… Tá doendo — Somi morde o lábio, tentando conter o choro e a fito preocupado, sem saber o que fazer.

— Eu sei… — Olho ao redor, mas a floresta parece cada vez mais sombria e escura, sem quaisquer resquício de luz devido as nuvens que cobrem a lua no céu. — Fique quietinha — Falo depressa ao notar a flecha cravejada no cavalo. Não foi um acidente, alguém o matou.

“Isso é um mal sinal… Um péssimo sinal!”, penso, tentando sair debaixo do animal, mordendo a língua quando sinto meu músculo queimar com o ato. “Temos que sair daqui…”

Paro de me mover ao escutar passos em nossa direção, lentos, cautelosos, amassando as folhas secas, tornando-se audíveis à medida que se aproximam. E sinto o ar escapar de meus pulmões quando dois lobos de estatura mediana rosnam ao me ver, fincando as patas no solo, curvando-se levemente, preparando-se para atacar.

Aqui! Aqui! — Teteco grita, atraindo a atenção dos lobos para si, voando por suas cabeças, distraindo-os.

Tento alcançar meu chicote que está preso debaixo do corpo do cavalo, pegando-o a tempo quando um dos lobos salta em minha direção e o acerto no focinho, fazendo o recuar, deixando-o ainda mais irritado.

Ajuda! Ajuda! — Teteco voa sobre eles novamente mas se afasta quando outra flecha passa raspando perto de si, arrancando-lhe uma das penas. — Socorro! Socorro! — Ele voa para longe, fugindo das flechas seguintes que tentam atingi-lo.

Respiro fundo, tentando encontrar o arqueiro responsável pelo ataque, mas não consigo enxergar nada além do breu entre as árvores. 

— Or-Orabeoni… — Somi sussurra assustada.

Eu podia tirar o medalhão e acabar com isso, mas minha irmã não conseguiria suportar o veneno por tanto tempo. Tinha que matá-los sem recorrer ao veneno, mas estou com metade do corpo preso debaixo de um cavalo que parece pesar toneladas e além dos dois lobos, um arqueiro está a espreita pronto para me matar.

Faça alguma coisa, Jeongguk. Pense!” me sacudo, tentando sair debaixo do cavalo, grunhindo de dor sempre que sentia algo rasgar minha pele. Os dois lobos rosnaram novamente e então, o maior entre eles saltou em minha direção. “Alfa!”, pensei desesperado, fechando os olhos com força. 

Nada aconteceu.

Abro os olhos lentamente, confuso, notando que um lobo sumiu. O outro, está recuando temeroso, olhando para os lados assustado e antes que possa raciocinar devidamente vejo um lobo negro saltar por entre as árvores em direção ao seu pescoço, fincando os dentes na região, puxando-o para o meio da mata novamente em uma fração de segundos.

— Aah! — Somi grita assustada, se balançando sem parar, tentando sair debaixo do cavalo quando o som angustiante de uivos e rosnados enfurecidos ecoam da floresta, até cessar, de repente. — O que foi is-isso? — questiona alarmada e solto a respiração que sequer notei estar prendendo.

— Meu alfa — respondo, sorrindo de canto, aliviado.

Não tenho tempo a perder. Então aproveito que Taehyung está cuidando do lobo inimigo para empurrar o cavalo, que sequer se move direito e mordo o lábio com força ao rastejar no chão até conseguir sair debaixo dele.

— Fica parada, Somi-ah, eu vou te tirar daí — sussurro, espreitando a floresta com o canto dos olhos, tentando puxá-la sem machucá-la tanto.

Haviam mais deles aqui. Eu conseguia sentir, os feromônios se mesclando sutilmente, o som quase inaudível de suas respirações. Se prestasse atenção, conseguiria ouvir seus passos.

E, como previra, engoli em seco ao avistar as silhuetas ao meu redor, cercando-me.  Sete homens surgiram, todos com espadas e escudos, trajando uniformes com o brasão de Aloysia. Um deles, provavelmente o líder, ergueu a mão com os punhos fechados e estremeci quando outros quatro lobos surgiram entre o grupo, grandes o bastante para fazer meu ômega reagir, prevendo a ameaça. Pelo cheiro forte que exalavam, com certeza eram alfas. E isso só tornava a situação pior.

— Por que vocês- — antes que pudesse concluir a frase, vi uma flecha voar em nossa direção rapidamente, girando no ar e por instinto, abracei Somi com força, usando meu corpo de escudo.

Estranhamente, nada aconteceu. De novo.

Franzo o cenho e olho para trás sobre o ombro, piscando atônito ao notar a presença de Jimin-ssi. O Park estava parado na minha frente, vestindo suas típicas roupas brancas, descalço, com uma lança maior que o próprio corpo presa nas costas e a flecha que deveria ter me atingido entre os dedos, como se a tivesse pegado no ar.

O Sábio não disse nada, apenas soltou o objeto e me encarou com atenção, a expressão carregada de seriedade e… Raiva. 

Por mais adorável que sua aparência fosse habitualmente, Jimin-ssi parecia assustador no momento. As sobrancelhas delineadas unidas formando vincos na testa e os fios castanhos claros jogados em frente aos olhos. 

Ele parecia… Imponente.

— Ah… Caras — O Park balançou a cabeça negativamente, fingindo decepção, caminhando a passos lentos em direção ao líder do grupo, erguendo a mão em busca da lança presa em suas costas por um colete de couro. — Eu tinha um encontro… E vocês arruinaram tudo.

O homem piscou confuso, avaliando Jimin com atenção redobrada.

Desviei minha atenção do Park para Taehyung assim que senti sua presença dominar o local, o cheiro forte de grama molhada e cacau sobrepondo-se aos dos outros alfas, intensificando de tal forma que os outros lobos recuaram receosos perante a presença do Kim, trocando olhares incertos.

Meu alfa não demonstrou qualquer tipo de relutância quando aproximou-se de mim e deslizou o focinho por meu rosto, bagunçando os fios de meu cabelo, soltando uma lufada de ar por não conseguir sentir a presença de meu ômega, inquieto.

— Alfa... — sussurrei, sem saber o que lhe dizer. Taehyung estava a um fio de explodir e matar qualquer ser vivo que ousasse se colocar entre nós. As orbes brilhavam em tons intensos de escarlate e a pelagem negra encontrava-se suja de sangue.

O Kim me avaliou uma última vez, rosnando aborrecido ao notar os machucados espalhados em meu corpo e a julgar pelo modo como seu cheiro ficou ainda mais intenso, meu estado provavelmente está pior do que imaginei.

Jimin se coloca ao lado do alfa, acariciando-lhe ternamente como se fosse um cachorrinho e não um lobo puro de mais de dois metros.

— Rendam-se — O Park falou suavemente. — A Floresta não ficará feliz se derramarem sangue aqui. — prosseguiu, sério.

O suposto líder riu alto, trocando olhares debochados com seus companheiros, nem um pouco intimidado com a fala do general.

— Levaremos a cabeça do garoto para a rainha — respondeu, apontando para mim com a espada. 

— Temos que matá-lo agora, abeoji? — outro rapaz questionou baixinho, mas ainda conseguia escutá-lo com clareza. Tinha as feições semelhantes a do suposto líder e a julgar pelo modo como falou, era seu filho. — Ele é bonito…

— Você o quer? — O alfa líder questionou, sorrindo largo quando seu filho concordou, como se estivessem falando de uma mercadoria e fiz uma careta, desgostoso. — Pois bem… Ouviram, homens — me avaliou dos pés a cabeça e senti meu estômago revirar enojado. — Matem esses dois e a garota agora. Mas deixem o herdeiro vivo, ele será o brinquedinho do meu filho até chegarmos ao Norte.

Em vez de acatarem as ordens de seu líder, os lobos recuaram novamente quando Taehyung ameaçou avançar, rosnando enfurecido para o filho do líder.

Recuo instintivamente, cerrando os punhos, tentando esconder meu tremor. Me colocando na frente de Somi, erguendo o chicote. Não podia usar o veneno para lutar ou machucaria minha irmã e Taehyung — por mais que o alfa pudesse aguentar certo tempo, não queria arriscar.

— Eu tentei… — Jimin deu de ombros, jogando os fios de cabelo para trás, girando a lança nas mãos. — Vai ser um saco limpar esse lugar depois… — comentou e o encarei atônito. 

“Como ele conseguia se manter calmo em uma situação como essa?”

— Fique com os lobos, Taehy. Eu cuido dos- 

No entanto, o alfa não permitiu que terminasse a frase e saltou em direção ao filho do líder, pegando todos de surpresa quando o rapaz gritou e Taehyung o arrastou para o meio da mata. O braço, entretanto, encontrava-se ali, jogado no chão, seguido de uma trilha de sangue.

Arfo angustiado quando os outros quatro lobos se viram e adentram a floresta em busca do Kim e imploro mentalmente para que ele fique bem, afinal, são todos alfas, como ele.

— Desculpe… Ele ainda está aprendendo bons modos… — Jimin sorriu cínico, recuando a tempo de se esquivar de uma flecha que viera de algum lugar entre as árvores. — E vocês, pelo visto, também.

— Você fala demais, criança. Peguem ele! — o alfa líder rosnou e Jimin recuou atento, girando nos calcanhares e quando fiz menção de correr em sua direção e ajudá-lo, o perdi de vista no instante em que uma névoa densa preencheu o local, nublando minha visão, me impedindo de enxergá-lo.

Voltei para o lado de Somi e gesticulei para que ficasse quieta, semicerrando os olhos em busca do Park. 

Indico o cavalo para que Somi fique escondida atrás do corpo do animal. Ainda haviam arqueiros em algum lugar entre as árvores e não podia arriscar que atingissem minha irmã.

Uivos soaram de todos os lados, carregados de dor e angústia, seguidos do ranger de dentes e ossos sendo quebrados. Precisei conter a vontade de fechar os olhos com força e tapar os ouvidos sempre que escutava o grito de dor de outro lobo que meu alfa matara.

Voltei a olhar ao redor em busca de Jimin, atento aos meus sentidos, escutando passos a direita e me virei cauteloso, engolindo um punhado de saliva.

Felizmente, as nuvens abandonaram o céu e a luz da lua beijou o topo das árvores, fazendo com que pequenos raios iluminassem o local e prendi a respiração ao avistar Jimin parado no centro de olhos fechados, como se estivesse aguardando pelo primeiro ataque.

E quando ele veio, o Park o antecipou sem precisar abrir os olhos, abaixando-se a tempo de se esquivar do golpe de um dos soldados inimigos que tentou golpeá-lo na cabeça, dando-lhe uma rasteira, cravando a lança em seu peito quando o mesmo caiu no chão.

Um segundo homem tentou atingi-lo pelas costas e Jimin girou nos calcanhares elegantemente, como se estivesse dançando, girando a lança, saltando com graciosidade, golpeando-os com o cabo da lança em suas costas. E enquanto todos tentavam enxergar através da névoa nebulosa, Jimin conseguia derrubá-los de olhos fechados — literalmente.

Permaneço paralisado, incapaz de desviar o olhar de seus movimentos, hipnotizado demais com a forma como ele não parece lutar de verdade, no entanto, cada um dos homens é levado ao chão, provando-me o contrário.

Porém, minha atenção é tomada por uma luz alaranjada no topo de uma árvore e arregalo os olhos quando noto ser uma flecha flamejante. O arqueiro está mirando no general.

— Jimin-ssi! — grito, correndo até ele, mas a flecha é disparada e a vejo rasgar o ar e se aproximar como um raio selvagem de luz em sua direção.

De repente, a névoa desaparece e sinto o ar escapar de meus pulmões no momento em que a flecha muda o percurso e atinge uma árvore próxima ao Park. O fogo, desapareceu junto com a neblina.

Sábio-ssi sorri de canto, como se já esperasse que tal coisa fosse acontecer e aproveitando-se da perplexidade do soldado a sua frente, o golpeia nas pernas antes de atravessar a lança em seu abdômen.

Ergo o olhar e encontro o arqueiro em uma árvore alta. Não muito longe dali, outros dois arqueiros preparam suas flechas, ansiosos por terem sido descobertos. 

— Orabeoni, tire o medalhão! — Somi grita, notando assim como eu que não terei chance de me aproximar de um deles sem ser atingido pelo outro. 

— Eu não posso machucá-la! — respondo, mordendo o lábio inferior com força. Tinha que ajudar em vez de ficar só olhando Jimin e Taehyung fazerem todo o trabalho sujo.

— É uma boa hora para testar o antídoto, então — Somi diz, retirando um pequeno frasco de seu cinto, virando o líquido nos lábios sem pestanejar. — Agora… Faça alguma coisa! — Aproximou-se mancando e arrancou o medalhão com força de meu pescoço, arrebentando a corrente.

Respiro fundo e concordo com a cabeça, fechando os olhos, lembrando das orientações de minha ómoni.

"Minhas emoções… Minhas emoções…"

Estava bravo, por terem nos atacado e machucado Somi e por invadirem minha aldeia. E também estava com medo, de perder Taehyung… 

Então senti, meu cheiro se intensificar e meu ômega reagir, marcando presença no ambiente, como se quisesse dizer: Ei, esse é meu território, meu povo… Meu alfa!

E, o primeiro arqueiro a cair de uma das árvores era o sinal da qual precisava para saber que estava funcionando.

Corri em sua direção e lancei o chicote em seus pulsos, segurando o cabo com força quando ele tentou se livrar do aperto e, ágil, me aproveitando da fraqueza na qual o veneno lhe induzira, me aproximei e cravei a adaga em seu peito, contendo o bolo que se formou em minha garganta quando seus olhos se arregalaram e o brilho se esvaiu em fração uma de segundos.

“Não hesite… Não hesite…”

Me levantei e vasculhei o local em busca dos outros arqueiros, escutando seus gemidos doloridos, atingidos pelo veneno dos lobos.

Olho para Jimin que acabara de derrubar um beta e tentava acertá-lo mas o mesmo segurava o escudo trêmulo, tentando suportar os efeitos do veneno e se defender do ataque do Park, que por ser humano, não era afetado.

Procuro Somi com os olhos e suspiro aliviado quando a vejo escondida perto do cavalo, sem demonstrar qualquer reação negativa ao meu cheiro. Funcionou!

Me viro e corro até os outros dois arqueiros que restaram e os mato rapidamente, sussurrando desculpas por sequer lhes dar chance de se defenderem. O veneno era poderoso demais e antes que pudessem reagir, estavam mortos.

Respiro fundo e vasculho as árvores em busca de Taehyung, vendo-o cravar as garras no corpo de outro lobo, que sequer tenta atacá-lo de volta, também afetado pelo veneno. O Kim, no entanto, parece suportar o contato por mais tempo, como meu abeoji.

O alfa sequer nota minha presença, em vez disso, seus olhos cor de sangue fixam-se no líder do grupo, que está caído no chão, convulsionando. E, compreendendo suas intenções, corro em direção ao homem, chegando antes de Taehyung que cambaleia e cai sobre as próprias patas, desnorteado.

— O veneno… — sussurro, compreendendo que mesmo sendo um alfa puro, Taehyung não é imune aos efeitos da wolfsbane. — E-Eu… Somi-ah, me devolva, vamos! — peço e a ômega joga o medalhão em minha direção e rapidamente o coloco, prendendo a corrente quebrada um tanto atrapalhado, tentando conter meu cheiro, diminui-lo.

“Por favor… Por favor…”, peço, avaliando o alfa, aflito. 

Taehyung uiva baixinho, angustiado e sinto uma pontada no coração quando uma lágrima silenciosa desliza por seu focinho.

— E-Eu posso ajudar! — Somi diz, mancando em nossa direção, pegando outro pequeno frasco com um líquido roxo que noto ser o antídoto. — Vem cá, lobinho — diz e sorrio de canto quando ela o chama pelo seu apelido sem saber, despejando o antídoto em sua boca.

Jimin se aproxima, arfando cansado, avaliando o melhor amigo temeroso e abro um sorriso largo quando Taehyung ergue a cabeça e lambe o rosto de Somi, pegando-a de surpresa.

— Eca! — ela ri, secando a baba com a manga do vestido. — De nada...

— Br-Bruxos! — o líder que restara balculcia, ainda caído no chão, nos fitando desorientado.

Taehyung se levanta e antes que possa fazer o que planeja me coloco na sua frente e nego com a cabeça.

— Precisamos dele vivo. — Digo, me lembrando de suas palavras sujas referentes a mim momentos antes, compreendendo a ira do Kim. — Eu sei… Mas temos que interrogá-lo. 

— N-Não… Me matem… Me matem — pede, arrastando-se no chão, tossindo sangue.

Suspiro cansado e amarro suas mãos com o chicote, ajudando-o a se levantar, sorrindo agradecido quando Somi lhe deu o restante do que sobrara do antídoto. Deve ser o bastante para que ele não morra.

— Não se mova ou vai se machucar — aviso-lhe, indicando as escamas de lâminas que constituem o chicote.

— Vamos levá-lo ao Mestre Jeon — Jimin diz, prendendo a lança nas costas. — Vice-general, vasculhe a floresta antes de nos encontrar — ordena e Taehyung me avalia preocupado. — Ele ficará bem.

Concordo com a cabeça, sorrindo de canto, o máximo que consigo neste momento e respiro fundo quando ele se aproxima e toca sua testa à minha, tentando me passar certo conforto. Felizmente, funciona. 

— Pode ir, alfa… — sussurro, acariciando-lhe antes de me afastar, desmanchando o sorriso quando ele se vira e salta para longe, desaparecendo entre as árvores.

Olho para Jimin angustiado. Taehyung não sabia que o Park tinha conhecimento de meu veneno e agora certamente desconfiaria visto que o mesmo não reagiu surpreso. Ele teria muito trabalho em enganá-lo.

— O que acabou de acontecer aqui… — Somi murmura, desconfiada, mancando em nossa direção e finalmente noto o inchaço em sua perna. À julgar pela maneira como está roxa, algum osso quebrou ou deslocou. Não podia evitar ficar surpreso por vê-la de pé, sem chorar. Minha irmã é mais forte do que aparenta.

Entreabro os lábios para lhe dar uma resposta, que provavelmente não vai funcionar consigo, mas Jimin é mais rápido e toca sua testa com a ponta dos dedos, deslizando por suas pálpebras.

— Durma — murmura e, como mágica, a ômega cai em seus braços, adormecida. 

— O q-quê?!? — o líder inimigo arregala os olhos horrorizado, fitando Jimin como se fosse uma assombração. — Feiticeiro maldito! Aberração! — esbravejou, tentando fugir, mas o seguro, surpreso com suas palavras e vejo Jimin sorrir de canto, triste.

— Você não dirá a ninguém o que acabou de acontecer aqui, entendeu? — sua pergunta soa como uma ordem e o alfa concorda temeroso. — Jure aos Espíritos.

— E-Eu… Eu juro — gaguejou e notei um brilho prateado surgir e desaparecer nas orbes castanhas do Park rapidamente.

— Pois bem… — Sábio-ssi se endireitou. — Os Espíritos ouviram sua promessa. — decretou.

O Park se vira e empurro o alfa desconhecido, seguindo-o. Porém, antes de partir, Jimin toca o cavalo morto sutilmente, sussurrando palavras carregadas de pesar.

— Obrigado, amigo — diz baixinho e se afasta sem olhar para trás. 

No entanto, curioso, espio com canto dos olhos o local ao escutar o sopro do vento em contato com as folhas das árvores, mas, estranhamente — ou não — o cavalo não estava mais ali. 


Ω



Observo as ruas da aldeia horrorizado. Algumas casas encontram-se destruídas, corpos de soldados inimigos com o uniforme de Aloysia e mercenários estão sobre o chão, as paredes manchadas de sangue só confirmam a catástrofe que a invasão ocasionou.

— General! — Minseok, alfa líder do esquadrão de proteção que vigia os portões grita, correndo em nossa direção, seguido por seus companheiros. — Jovem mestre… O que… A senhorita Jeon está bem?

— Ela ficará — Jimin responde, desviando o olhar para a ômega que permanece adormecida em seus braços. — Iremos levá-la ao templo. Cuidem de nosso prisioneiro — indicou o homem ao meu lado, que mantinha os olhos fixos nos próprios pés desde que saímos da floresta.

Alguns de meus companheiros o fitaram enraivecidos e pigarreei, atraindo-lhe a atenção.

— Não o machuquem. Precisamos dele vivo e consciente para que possamos interrogá-lo — digo, mantendo o tom de voz sério.

— Quem o capturou? — Minseok questiona e Jimin me indica com a cabeça, indiferente. No entanto, o alfa e seu grupo me encaram surpresos.

— Ouviram as ordens do jovem mestre — O Park prossegue. — Levem-no a cela e informem Mestre Jeon. 

— Sim, general! — um beta responde, guiando o alfa, seguido por outros soldados que o observam com atenção, temendo que tentasse escapar.  

Minseok não diz nada, apenas se vira e vai embora, ditando ordens ao seu esquadrão para limparem a bagunça.

Sigo Jimin-ssi até o templo, notando que todos os corredores estão isolados, até mesmo os cômodos de suprimentos. Olho através da fresta da imensa porta de entrada ao salão onde ocorreu o ritual e vejo os aldeões sentados sobre os degraus de concreto, conversando baixinho entre si, assustados.

— O que faremos? — questiono, me afastando da porta, olhando-o angustiado.

— Não se preocupe, mestrezinho. Se estou aqui, é por um motivo — falou, entregando-me Somi com cuidado.

Sábio-ssi se aproxima da imensa porta de madeira maciça e fecha os olhos, sussurrando palavras suaves em coreano antigo, seguido de murmúrios que não compreendo, mas que soavam poderosos.

O silêncio preenche o corredor e noto que os cochichos que vinham do salão cessaram também e, quando penso em lhe perguntar o que está fazendo, sinto meus pelos eriçarem no momento em que Jimin abre os olhos e enxergo um brilho prateado dominar sua íris comumente castanhas. 

O Sábio desvia o olhar rapidamente e recuo alguns passos, desnorteado com o que acabei de ver. Suas orbes pareciam reluzir, como se fogo habitasse na profundidade de sua íris. Era assustador… Não parecia Jimin-ssi ali, conseguia sentir a presença de algo maior… Mais forte. De tamanho poder que o Park sequer conseguia conter, exalando por seus poros.

Entreabro os lábios, abraçando o corpo de Somi com força, temendo fazer algo que desagradasse Eles, porém, felizmente, Jimin-ssi se virou, sorrindo de canto e empurrou a porta.

Encaro o salão perplexo. Todos os aldeões estavam adormecidos. Vejo minha ómoni caída perto de minhas amigas ômegas, não muito distante, Hwasa, Namjoon, Soohyun Noona, Heechul e seus guardas estão deitados uns sobre os outros e avisto Hoseok-ssi e Jaewon ao lado de sua irmã Wheein, Igualmente desacordados. Provavelmente retornaram ao templo após o ataque.

— Deixe sua irmã com a senhora Jeon — Jimin-ssi indica Jieun com a cabeça. — E traga a mesa junto das oferendas para o altar.

— Por quê? — pergunto curioso, deitando minha irmã com cuidado perto de minha ómoni. 

— O ritual não foi concluído — responde, analisando o templo, pensativo. — Talvez possamos tentar… Algo diferente.

Corro até a sala onde Ahri e as servas trouxeram o altar e vejo minha halmeoni sentada no canto do cômodo, dormindo tranquilamente. Beijo sua testa antes de puxar a mesa até o salão principal.

Desvio o olhar ao ver Jimin-ssi retirar a camiseta suja de sangue, trocando por outra peça de roupa que não faço ideia de onde pegou mas prefiro não perguntar e ajeito a mesa sobre o altar, franzindo o nariz ao sentir o cheiro podre das frutas envenenadas.

— Feche a porta e fique de vigia — ordena e concordo com a cabeça, me afastando ansioso, obedecendo-lhe.

— Hum… Não temos música — comento, vendo-o organizar o círculo de velas apagadas como fiz com Jieun momentos antes da desgraça acontecer.

— Eu não preciso — diz, sorrindo presunçoso e lhe mostro a língua, fazendo-o rir nasalado. — É sério… Música é uma… Distração.

Antes que possa lhe responder pulo assustado quando todas as velas do salão, desde as que os aldeões seguravam e encontravam-se no chão às do círculo ao seu redor e do castiçal sobre o altar se acendem de repente, as chamas brilhando intensas, gerando sombras nas paredes.

Jimin-ssi fecha os olhos e prendo a respiração quando ele começa a dançar, movendo-se graciosamente dentro do círculo, com a luz da lua que atravessava a janela oval sobre o teto delineando o corpo esguio.

As chamas nas velas se intensificam e fecho os olhos por um momento quando o vejo se abaixar, tocando a rachadura no chão, levantando-se antes de saltar em um giro e a medida em que avança em direção ao altar, cada vela do templo se apaga por onde ele passa, sem que precise sequer tocá-las, como se fosse capaz de guiar o vento, soprando-as a distância.

Então, ele para de repente, e mais uma vez, o salão escurece quando todas as velas se apagam, ficando apenas o castiçal aceso sobre o altar e prendo a respiração quando Jimin se aproxima do mesmo e toca o manto manchado de sangue, murmurando baixinho algo que não consigo ouvir e sinto o ar escapar de meus pulmões quando, lentamente, o sangue se dissolve sobre o tecido, até ficar completamente branco.

O Sábio retira o manto sobre as bandejas e arregalo os olhos quando vejo as frutas antes envenenadas em perfeito estado e, o local onde estavam as sementes, outras frutas se encontram, brilhantes e maduras.

— Incrível… — sussurro e Jimin sorri de canto, erguendo o polegar. Entretanto, sequer tenho tempo de lhe agradecer e arfo quando o Park cai de joelhos no chão, respirando com dificuldade, visivelmente abatido.

— Sábio-ssi! — grito, correndo em sua direção, circulando seus ombros com o braço, mordendo o lábio aflito ao notar que seus fios estavam mais claros, totalmente loiros.

— Eu estou bem — sussurra, a voz soando fraca e entrecortada. — Só… Nunca precisei que Tantos me ajudassem… — explica.

— É mi-minha culpa, Jimin-ssi… Desculpe… Não vou fazer mais isso, não vou colocar todos em perigo para você precisar consertar as coisas depois, eu-

Me calo ao sentir a ponta de seus dedos em meus lábios, em um pedido mudo para que fique quieto. Jimin não diz nada por alguns instantes, apenas respira lentamente, apoiando a cabeça em meu peitoral, sorrindo de canto, contente consigo mesmo.

— Ele disse que eu não conseguiria — riu soprado e franzi o cenho. — Vovô… Ele me disse isso, esta manhã…

— O que-

Pulo assustado ao escutar o grito de um pássaro do lado de fora e Jimin-ssi se levanta.

— Eu preciso ir… Tenho que ajudar Taehyung.

— O que aconteceu com ele? — pergunto assustado.

— Relaxa… A maior ameaça de Taehyung é ele mesmo — responde, caminhando em direção a saída.

— E… O que eu faço agora? — pergunto, olhando ao redor.

— Você é o jovem mestre, Jeongguk. O futuro líder — responde, dando de ombros, colocando a lança de volta nas costas e sequer me lembro de tê-lo visto tirar. — Faça o que achar que deve ser feito. Diga ao povo o que aconteceu ou… Não sei. — sorriu de canto, enigmático.

Me lembro das ordens de minha halmeoni a Jieun, orientando-a que mentisse sobre o ritual, dizendo que tudo ocorreu bem e que os Espíritos surgiram para nos alertar sobre o ataque. 

Não parecia certo mentir, não quando foi o Sábio-ssi quem resolveu todos o problema que nós causamos. Mas também me lembrei do soldado inimigo que capturamos, da forma como reagiu ao vê-lo apagar Somi…. Os aldeões não entenderiam se lhes contasse a verdade.

— Eu não entendo — confesso. — Por que os Espíritos permitiram tudo isso se pretendiam nos ajudar depois?

Eles não iriam — Jimin respondeu. — Eu toquei os sinos — falou e arregalei os olhos. — Eles não permitiram que eu impedisse a invasão, mas não foram claros sobre avisá-los sobre ela.

— E você pode fazer isso? — pergunto, angustiado.

— Eles terão que aprender a ser mais claros da próxima vez — deu de ombros, sorrindo de canto.

Engulo em seco, desviando o olhar para minhas mãos. Não pude fazer nada por meu povo, Jimin completou o ritual, Taehyung e os guardas nos defenderam do ataque e até mesmo Somi foi útil, salvando-o do veneno, meu veneno. E eu… Estraguei tudo.

— Ei… Está tudo bem. Mesmo que pareça que fez tudo errado, era o que os Espíritos esperavam  e queriam de você — O Park murmura, massageando meus ombros tensos. 

— Mas, por quê? Por que fazer tudo isso, permitir os ataques e  todo esse desastre para concertá-los através de você?

— Se tudo na sua vida ocorresse como deseja, se não houvessem erros e acertos, jovem mestre, não estaríamos onde estamos agora — respondeu. — É preciso errar para acertar no futuro, cair para levantar, sofrer para dar valor as pequenas coisas que lhe fazem bem... Cada escolha que você faz o conduz as lições que deve aprender antes de alcançar o resultado que precisa.

— M-Mas… — engulo em seco, alarmado. — Eu não preciso de nada disso… De toda essa… Pressão, essa… Você sabe.

— Eu sei — concordou, afastando minha franja do rosto. — E Eles sabem também. Mas desejos e necessidades não são a mesma coisa. E quando o dia chegar, você entenderá que tudo que Eles lhe deram, foi o bastante.

Não digo nada, apenas concordo com a cabeça, confuso e cansado demais para absorver suas palavras e o observo sair do templo, que parece estranhamente frio e vazio sem sua presença.

Respiro fundo e vou até o altar, sorrindo pequeno ao pegar uma maçã que em vez de nascer vermelha como a que estava ao seu lado, era verde.

“Será que Jimin-ssi viu?”, penso.

Escuto resmungos baixinhos e percebo que os aldeões estão acordando. Me endireito ansioso, amassando a bainha de minha camiseta.

— O que aconteceu? — Soohyun noona pergunta, se levantando, trocando olhares confusos com Hwasa.

Penso em lhe dizer que o Sábio fez tudo isso, que nos ajudou com o ritual, para que saibam que existe uma pessoa que está disposta a nos ajudar e nos proteger. Que merece ser amado, não julgado e temido como seus ancestrais.

— O ritual ocorreu bem, como sempre — Jieun intervém, seguindo as orientações de minha halmeoni. — E o que aconteceu foi um alerta dos Espíritos, sobre o ataque. 

— Então, Eles nos ajudaram? — uma velha senhora perguntou surpresa e Jieun concordou. — Que bênção! Que bênção! — desviou o olhar para meu rosto. — Os Espíritos estão ao seu lado, jovem mestre. Alertando-nos sobre o ataque enquanto faz o ritual… E… Aquelas chamas, isso deve ser um sinal — comenta empolgada.

Não tenho oportunidade de lhe responder pois todos começam a falar de repente, sobre o ataque e a "ajuda" dos Espíritos e tudo que faço é sorrir forçado, sentindo meu peito comprimir.

“Eu não fiz nada….”, penso, olhando para o céu através da janela no teto. “Me ajudem a entender… O que vocês querem, afinal?”


Ω


— Deixem ele aqui! — digo afoito, ajudando Kyungsoo a carregar um recruta até o local onde algumas mulheres e curandeiros estão cuidando dos feridos.

Desde que os aldeões acordaram e os guardas cuidaram dos invasores, o templo ficou agitado quando começaram a trazer os feridos para cá, visto que, por todos estarem no mesmo local, ficaria mais fácil de reunir os curandeiros e qualquer pessoa que tivesse o mínimo de conhecimento em primeiros socorros para ajudar.

Somi-ah era uma dessas pessoas. A ômega, mesmo sendo tão jovem, estava sentada no canto do salão cuidando de Hoseok-ssi, enfaixando sua cintura.

— Para uma criança, você é bem espertinha — ele comenta, gemendo dolorido quando Somi apertou a faixa com força sobre seu machucado. 

— Eu não serei criança pa bra sempre — ela bufa, organizando as ervas que usara em seu machucado.

— Mas, quando se casar com Jaewon, será praticamente minha irmãzinha mais nova — brincou e franzi o cenho ao vê-la corar, desviando o olhar para o chão.

— Eu não… Não quero ser sua irmãzinha.

— Você pode ser a chefinha, então — o alfa riu, alheio a expressão de minha irmãzinha. — Quando se casar, governe Ídea. Jaewon Hyung sempre faz tudo que você quer.

Somi se afasta de repente, irritada. 

— Você não entende! — reclamou, inflando as bochechas, afastando-se do alfa, mancando.

Há algo de errado… Como nunca percebi antes? Tinha que conversar com Somi e descobrir o que estava acontecendo.

— Alguém me ajuda aqui! — ouço Jackson gritar e me viro, correndo em sua direção ao vê-lo carregar Minjae, que está com o braço sangrando, gravemente ferido.

— Vem! Vamos levá-lo a Jihyo noona — Corro até ele, ajudando-o a carregar o beta até minha amiga. Ela era filha de um dos curandeiros da aldeia, quase tão boa quanto o pai, que está ocupado cuidando de outro soldado.

— N-Não precisa, isso… Não é nada — Minjae murmura baixinho e Jackson revira os olhos, impaciente.

— Você é um grande idiota! Se colocando em perigo daquela forma! — o alfa diz, irritado.

— O que aconteceu? — pergunto, incapaz de conter minha curiosidade.

— Esse imbecil tava lutando com dois soldados inimigos por causa de um cavalo — o Wang respondeu, ajudando-me a colocar Minjae no chão.

“Como assim?”

— Era o cavalo do Jeongguk — Minjae responde e arregalo os olhos. — Yeonjun, Soobin e eu vimos uns soldados de Aloysia invadirem a casa do Mestre Jeon, como estava vazia pegaram alguns cavalos dos estábulos para fugir. 

Pisco depressa, contendo as lágrimas que se formam em meus olhos ao pensar em Guloso e Valente nas mãos desses homens.

— Po-Por que fez isso por mim? — pergunto, contendo as lágrimas, sentindo minha garganta queimar com o ato.

— Eu… — Minjae me avalia com atenção, as sobrancelhas unidas em pura confusão, como se também não soubesse o motivo. — Você… Está diferente e… Parece gostar daquele cavalo. — Dá de ombros, sem graça.

Entreabro os lábios, pego de surpresa com suas palavras e seco uma lágrima depressa, desviando o olhar.

— Obrigado, Minjae-ssi… — sussurro, constrangido e agradecido. — Hum… Guloso está bem?

— Ele 'tá lá fora com Beomgyu e Hueningkai — Jackson diz. — Parece agitado, mas não se feriu.

— E… Valente? É minha égua, crina alaranjada… — pergunto, ansioso.

— Eu não sei, mas posso pedir para verificarem nos estábulos da sua casa — o alfa sugere e concordo depressa.

— Ótimo, agora que já sabem o que fazer, tragam alguém aqui — Minjae reclama dolorido e concordo depressa, procurando Jihyo com o olhar.

— Pensei que não fosse nada demais, idiota — Jackson lhe dá um tapa na cabeça e o beta resmunga.

— Eu posso cuidar disso — Ahri se aproxima ofegante, carregando uma maletinha com ervas, pomadas e medicamentos. — Deixe-me ver, querido.

— Aigoo, não precisa de tudo isso, halmeoni — o beta ri fraco, fechando os olhos com força quando minha ama despeja um líquido estranho em sua ferida.

Paraliso ao ouvi-lo dizer tal coisa e encaro Ahri, que evita me encarar, mas noto como suas bochechas estão enrubescidas.

Eu não… Como não sabia que Ahri é avó de Minjae? Ela nunca me contou nada… E eu já tinha lhe dito tantas coisas sobre o beta, nossas desavenças, tudo!

“Por que ela não me contou?”, recuo uns passos atordoado, me lembrando que, se Ahri é avó de Minjae, isso significa que sua filha morreu no dia em que nasci, porque estava cuidando do parto de minha ómoni…

“Eu… Eu…”

Olho para trás e vejo Jieun ajudar Soohyun com um curativo, enquanto fala algo que não consigo ouvir, parecendo… Irritada. Mas não de um jeito ruim, apenas… Preocupada com a alfa. E me lembro que também não sabia nada sobre ela até poucas luas atrás. Sobre sua família, o fato de crescer sem um sobrenome… Então observo Somi ajudar algumas mulheres a cuidar de outros feridos mesmo estando machucada. Sequer cogitei a hipótese de minha irmãzinha gostar de Hoseok-ssi, de ser a dona das cartas e agora Ahri, minha ama, a pessoa mais próxima que tivesse durante toda minha vida escondeu que era mãe de uma das pessoas que morreram por minha causa.

“O que eu tenho feito durante todo esse tempo? Sei que fugi de muitas obrigações, mas ainda assim… Ignorei tanto assim o que estava ao meu redor a ponto de não notar o que estava acontecendo? Tenho sido um futuro líder tão irracional assim? Enxergado minha própria situação e não a de outras pessoas? É isso que estou fazendo de errado?”

— Jeongguk! Jeongguk! — pisco desperto ao sentir as mãos de Jackson em meus ombros. — Estão te chamando! — o alfa indica Chanyeol que está na entrada do templo me encarando impaciente.

O beta se aproxima, atraindo a atenção de alguns aldeões curiosos, que permaneceram no templo, aguardando orientações de meu abeoji.

— Jovem mestre — Chanyeol se curva antes de continuar falando e ergo as sobrancelhas, surpreso com sua atitude. — Mestre Jeon ordenou que o levasse a Sala de Comando para que possa estar presente antes de decidirem o que fazer com o prisioneiro que capturou. 

Ouço alguns aldeões exclamarem perplexos com a informação, cochichando — não tão baixo pois ainda consigo escutá-los — sobre o fato de ter feito o ritual e ajudado na invasão, comentando que mesmo sendo ômega posso me tornar um líder "razoável". E, em dezessete anos, acho que é o mais perto de um elogio que cheguei.

Porém, sequer consigo me sentir empolgado com a possibilidade. Porque não sinto que mereço. Arruinei o ritual e coloquei a todos em perigo, foi o Sábio dos Montes que consertou minha bagunça e o mesmo vale para o prisioneiro que só capturei graças a sua ajuda, de Taehyung e os incentivos de Somi. E, mesmo assim, só consegui vencê-los graças ao veneno… Sem ele, não teria sido útil de verdade. 

— Quer que eu o acompanhe? — Jackson pergunta.

— S-Sim… — concordo com a cabeça, encontrando Heechul com o olhar, respirando fundo ao vê-lo sorrir de canto, me encorajando com o olhar. — Vamos.

Saio do templo e monto em Guloso após acalmá-lo, prometendo lhe dar dezenas de maçãs quando voltarmos e verificarmos se Valente está bem, seguindo Chanyeol em direção a Sala de Comando.


Ω



Sala de Comando é uma forma humilde de descrever este lugar. Como nunca pude vir aqui antes, sequer sabia onde ficava e não pude evitar suspirar maravilhado ao me aproximar de uma das torres próximas aos muros na área norte de Bane, erguendo-se de forma majestosa, barrando a floresta além dos tijolos e pedras.

Deixei Guloso com alguns guardas e segui Chanyeol até a entrada, sorrindo sem graça quando outros homens abriram as portas pesadas de aço e me guiaram em direção as escadas até o topo da torre.

— As celas ficam no subsolo — Chanyeol comentou, notando meus olhares curiosos por cada local que passávamos e não pude evitar pensar se havia alguém preso lá.

Não sei bem como funciona os julgamentos em Bane, visto que, por estarmos em guerra raramente ocorria algo grave o bastante para ser julgado. 

Escutei fofocas sobre roubos na aldeia, mas sempre que o ladrão era pego recebia a punição de trabalhar para a pessoa da qual furtou o bem até pagar a dívida. Em casos mais extremos, como traição, eles eram mortos sem hesitação, por colocar a segurança do povo em risco.

Seguimos por alguns corredores ao chegar no topo da torre e observo a vista além das janelas compridas, imaginando como deve ser estar aqui ao nascer e pôr do sol. “Deve ser bonito…”

Noto que existe uma sala para o general de cada esquadrão pelas placas com os sobrenomes gravadas nas portas e busco por "Kim", mesmo sabendo que Taehyung é vice-general, meu alfa merece algo melhor que a tenda que tem no campo de treinamento.

— Se atrasaram — um beta que está parado em frente a última porta nos esperando diz, abrindo para que possamos entrar e noto pela insígnia em seu uniforme que pertence ao esquadrão de defesa dos portões.

O cômodo é amplo, circular e perco bons minutos observando as janelas cobertas por cortinas pesadas, além da imensa estante de livros, registros e mapas que ocupam quase todas as paredes. No centro, uma imensa mesa redonda de cascalho encontra-se coberta pelo mapa da Coréia, com alguns bonecos de madeira semelhantes aos do tabuleiro de xadrez que vi Seokjin Hyung jogar, embora alguns sejam diferentes.

Todos os locais estão marcados pelas peças que não compreendo o que significam, desde os vilarejos aliados aos inimigos, as pontes, rios, passagens que levam a divisa entre Norte e Sul às aldeias de nosso país.

Todos os generais de cada divisão estão aqui me observando com curiosidade — com exceção de Jimin-ssi. Além deles, Min Jisung está ao lado de Yoongi Hyung, que sorri igualmente deslocado para mim; senhor Wang que gesticula para o filho ficar ao seu lado; alguns soldados que não conheço e a alcateia de Taehyung.

O Kim está afastado do grupo que se encontra ao redor da mesa, apoiado na parede, afiando a ponta de uma flecha, com a expressão endurecida.

Suas vestes brancas estão rasgadas em alguns lugares, repletas de manchas de sangue que sei que não são seus. Prendo a respiração quando ele ergue o olhar, avaliando-me com atenção, verificando se estou bem, então volta a encarar a ponta da flecha, forçando o maxilar, claramente irritado com alguma coisa.

Noto que suas mãos estão sangrando, de algum golpe recente, como se tivesse socado algo muito duro e se machucado com o ato. Além disso, não consigo ver nenhum outro ferimento em seu corpo, apenas a estranha cicatriz escura no pescoço que parece maior do que quando a vi pela primeira vez.

— Curvem-se para meu filho — Jungwo ordena e sinto meu rosto esquentar quando todos o fazem sem hesitar.

— Tu-Tudo bem, vocês… Não precisam fazer isso — Falo, me aproximando da mesa, receoso com tantos olhares.

— Bobagem! — meu abeoji sorri, orgulhoso. — Depois do que fez no ritual e como lidou com este ataque, já estava na hora de o reconhecerem como futuro líder.

Observo Jimin-ssi com o canto dos olhos, mas o Park não parece incomodado com a fala desprovida de verdade de meu abeoji.

— Eu não fiz nada, foi… Os Espíritos — confesso, me sentindo cada vez pior. Não queria isso, ser reconhecido dessa forma. Não estava certo.

— Tem razão, Eles certamente nos ajudaram esta noite. Mas, graças ao general Kim, que tocou o sino, tivemos tempo de nos preparar — Jungwo comenta.

— Eu não os alertei sobre a invasão — Minseok responde, confuso.

— Como assim? Se não foi você, quem foi? — Taehyung questiona desconfiado e troco olhares rápidos com Jimin-ssi que contém um sorrisinho e encara os próprios pés.

— Não é importante sabermos quem fez isso — Yoongi comenta, sério. — Sejam os Espíritos ou… Tanto faz. Graças ao alarme conseguimos nos antecipar e evitar que vidas fossem perdidas.

— Hyung tem razão. Muitos estão machucados, mas felizmente não tivemos nenhuma morte essa noite — os informo. — Ajudei os curandeiros e algumas mulheres a cuidar dos feridos e pelo que soube, todos ficarão bem.

Vejo seus ombros relaxarem, aliviados com a notícia e observo Jimin e Yoongi trocarem olhares rapidamente e sinto meu coração acelerar assustado ao notar a desconfiança que paira nos olhos de meu melhor amigo. Isso não era bom… Seria perigoso se ele tentasse descobrir algo.

— Ainda assim — Taehyung toma a palavra, a voz rouca soando ameaçadora. — Não é a primeira vez que invadem. E, se você não tocou o sino, o que estava fazendo em vez de vigiar os muros e os portões? — questiona, encarando o outro alfa, sério.

— Muitos mercenários atacaram pela floresta, caso não saiba, vice-general — Minseok rosnou, ofendido com a acusação. — Local onde seu esquadrão deveria estar protegendo. Então me diga, o que vocês estavam fazendo?

Recuo instintivamente quando Taehyung se endireita, semicerrando os olhos, irritado com a ousadia do outro Kim para consigo.

— Nós? Estávamos fazendo o trabalho sujo já que durante meses você não tem cumprido com suas obrigações! — cuspiu as palavras e sinto seu cheiro se intensificar, dominando o cômodo.

— Já chega! — digo impaciente. — Temos que descobrir como invadiram Bane antes de nos acusarmos sem provas reais!

No entanto, ambos os alfas sequer desviam o olhar um do outro, intensificando cada vez mais seus feromônios, fazendo os betas recuarem assustados.

— Vice-general — chamo Taehyung, que cerra os punhos quando Minseok ergue as sobrancelhas em provocação. Não posso arriscar que ele perca o controle com um companheiro. — Taehyung… — repito, mas ele não move um músculo sequer. — Alfa! — digo, sério, finalmente atraindo seu olhar. — Contenha-se e volte para o seu lugar. Agora! — Ordeno e ele respira fundo antes de recuar um passo, e então, se afastar. — Você também, general — peço e Minseok se vira contrariado.

Um silêncio perturbador se instala no local devido a tensão. Felizmente Minho se dispôs a quebrá-lo com uma pergunta relevante.

— O que faremos? 

— Ah, claro — meu abeoji suspirou, cansado. — Temos que interrogar o prisioneiro, conseguir respostas.

— Ele não vai falar — Taehyung comenta, mantendo os olhos fixos no chão. — Eu... tentei. — explica e ergo as sobrancelhas, cético.

Agora acho que sei como ele conseguiu esse machucado na mão.

— Precisamos tentar novamente. Arrancar qualquer informação sobre esse ataque — senhor Min diz e Jungwo concorda.

— Se há algo que devemos arrancar é a língua dele — Taehyung prossegue, claramente enraivecido e sei exatamente o motivo, ele ainda está irritado com as insinuações do alfa para mim na floresta — Hyuna queria a cabeça de Jeo- do jovem mestre — pigarreia. — Ou informações sobre nós, certo? Então, vamos enviá-lo de volta. Colocá-lo em uma carroça com os corpos de todos seus soldados, sem a língua. Para ela entender com quem está lidando.

Estremeço só de imaginar a cena. É perturbador demais fazer tal coisa, mesmo com nossos inimigos.

— Isso só os deixará irritados. — falo.

— Eles começaram — senhor Wang responde, parecendo gostar da ideia mórbida de Taehyung.

— Estamos em guerra, provocá-los não é a solução — contesto.

— Olha só quem fala, depois de enviar aquela carta — ouço o beta ao lado de Minseok sussurrar e me viro irritado.

— Eu sei que o que fiz causou um grande problema a todos nós — digo, em alto e bom som. — Por isso convidei Kim Heechul e aceitei seu pedido de noivado noite passada. — Minto tão bem que quase acredito. Felizmente o beta parece acreditar, pois arregala os olhos perplexo, então continuo: — Pretendia anunciar o noivado no festival, porém o ataque me impediu. No entanto, estou cumprindo com minhas obrigações. E você? Faz parte do esquadrão de proteção aos portões e durante luas não cumpriu com a sua. Não está em posição de me criticar, soldado.

O beta não diz nada, apenas desvia o olhar para o chão e lhe dou as costas, contendo um sorrisinho ao notar a expressão orgulhosa no rosto de Taehyung.

— Pois bem… Voltando ao assunto — Jungwo pigarreia. — O prisioneiro… A ideia de Taehyung não parece em todo ruim, mostrar a Hyuna que somos fortes deve fazê-la recuar, para poupar a vida de seus homens.

— É tolice e arriscado — Yoongi intervém, tomando coragem para dar sua opinião e sorrio largo, contente com sua presença. — Enviar um inimigo que esteve em Bane, que viu como lutamos, como reagimos aos ataques… E mesmo que cortem a língua dele, existe papéis, ele pode transcrever as informações que obteve nesta invasão.

— Cortemos suas mãos também — Taehyung deu de ombros e fiz uma careta. Ia conversar seriamente com ele sobre isso.

— Como ele vai puxar a carroça com os corpos sem as mãos? — Baekhyun questionou, parecendo cogitar a possibilidade.

— Basta amarrarmos uma corda em seu tronco — Jaebeom, alfa general do esquadrão de inteligência, respondeu e senti meu estômago embrulhar.

— Isso é tortura — interpus. — E mesmo que estejamos em guerra, agir dessa forma não nos torna melhores que eles! — Vocifero e todos se calam. — Provocações não é a solução. Esta guerra já é uma grande bobagem! E, se não podemos arrancar informações dele, temos que usá-lo de outra forma. Sem machucá-lo. — enfatizei.

— O que sugere que façamos então, jovem mestre? — Jaebeom questionou debochado. 

Ergo o olhar e encaro Yoongi Hyung em busca de ajuda. O beta sempre teve a mente afiada para estas coisas, no entanto, o mesmo parece perdido em pensamentos no momento.

Respiro fundo e observo o mapa com atenção, avaliando a região Norte onde Aloysia está localizada, me lembrando de uma coisa que Taehyung me disse recentemente.

— Enquanto lutava com o prisioneiro notei que parecia ser o líder do grupo. — comento, pensativo. — E, pelo que sei, cada família no Norte tem um líder. Então, ele certamente é alguém importante.

— Onde quer chegar? — o alfa se inclina sobre a mesa, me observando de cenho franzido.

— Devemos usá-lo. Propor à Mestre Hyuna um encontro, para conversarmos e tentarmos uma possível trégua. Uma… Chance de reconciliação. Em troca de nosso prisioneiro.

— Ela não vai aceitar — Jungwo nega com a cabeça.

— Esse é o plano — sorri de canto e ambos piscaram confusos. — Soube que as famílias no Norte são individualistas e estão sempre brigando entre si. Existe um conflito em Aloysia no momento, entre aqueles que apóiam a alfa no poder e os que são contra. — Explico, me lembrando das palavras de Taehyung. — Nosso prisioneiro certamente é a favor, afinal, invadiu Bane seguindo suas ordens. E, quando Hyuna recusar-se a cooperar e aceitar nossa proposta, a família ao qual ele pertence se voltará contra ela.

— Aloysia terá problemas internos ainda maiores — Taehyung murmura, acompanhando meu raciocínio. 

— Dessa forma, podemos aproveitar esse tempo para descobrir quem está por trás dos ataques, quem contratou os mercenários e se temos algum traidor que ajudou Hyuna com a invasão.

“E se ele estiver aqui e nosso plano vazar, a lista diminui”, penso.

— Isso nos dará um bom tempo para nos preparar, talvez um mês livre dos ataques de Hyuna, que estará ocupada demais lidando com a revolta das famílias que se opõem a ela. — meu abeoji murmura pensativo, cogitando a possibilidade e concordo depressa.

— É uma boa ideia, mas não sabemos se esse cara é mesmo o líder de uma dessa famílias e qual é — Jaebeom observa e mordo o lábio, ansioso.

— Heechul tem parentes no Norte, esse é o principal motivo pelo qual o jovem mestre o escolheu como possível pretendente e agora, bem… Noivo — Jimin intervém pela primeira vez. — Basta pedir ao seu alfa para descobrir, ele deve fazer isso por você.

— Farei isso — concordo, estremecendo ao notar que confirmei indiretamente que Heechul é meu alfa, então observo Taehyung com o canto dos olhos, notando que o mesmo parece igualmente surpreso com minha atitude e… Incomodado.

— Seguiremos seu plano, então — Jaebeom sorriu, me lançando uma piscadela e franzi o cenho, sem saber se isso era uma forma de me elogiar.

— Deixarei meus homens vigiando o prisioneiro até lá — Minseok se oferece e Taehyung nega com a cabeça, ainda desconfiado do alfa.

— Melhor meus homens cuidarem disso.

— Que tal cada um de vocês fazerem isso? — Yoongi Hyung suspira cansado e ambos concordam.

— Minho e Suho farão turnos na cela dele — Taehyung diz e seus companheiros se endireitam. 

— Sehun será o bastante para mim — Minseok sorri de canto, alfinetando-o.

— Pois bem, está decidido! — Meu abeoji se espreguiçou.

— E quanto ao festival? — Jackson, que estivera calado o tempo todo, perguntou. — Sei que estão todos assustados agora, mas é tradição e… Seria uma boa forma de acalmar os ânimos dos aldeões depois do que aconteceu.

— Só está dizendo isso porque não quer perder os barris de cerveja e vinho que sua família família vendeu — Jaebeom comentou, arrancando um riso soprado do alfa.

— Você me pegou. — o Wang sorriu cínico.

— Podemos adiar o festival em um dia para cuidarmos da reparação da aldeia. — Jungwo respondeu. — Não acho que seja um problema realizá-lo no primeiro dia do mês e podemos soltar fogos de artifício para alegrá-los, ainda temos algumas caixas do último feriado no armazém.

Todos parecem gostar da ideia e não digo nada, porque não parece certo. Mais uma vez estão escondendo a importância dessa guerra do povo, fazendo-os acreditar que está tudo bem.

— Recolham os corpos e enterrem fora da aldeia — Meu abeoji ordena e me lembro de quando ouvi Taehyung sugerir que devolvessem os corpos dos soldados que invadiram Bane luas atrás para que fossem enterrados em suas terras. Agora, no entanto, é impossível sequer tentar.

Sempre o achei honrado por sugerir tal coisa e agora que sei um pouco mais a seu respeito fico imaginando se não é uma forma de se redimir por matar tantas pessoas. 

Não esquecerei da forma selvagem como ele agiu na floresta, matando cada um daqueles homens sem pestanejar. Foi necessário, sei disso, porém eu hesitei na maioria das vezes, triste por fazer tal coisa. Taehyung também não se sente assim, minimamente culpado?

— Cuidem dos corpos hoje, amanhã cedo limpamos a aldeia — Jungwo gesticula, encerrando a "reunião" e todos se retiram após se curvarem para o alfa.

Sorrio pequeno para Yoongi quando ele passa por mim ao lado do pai, felizmente meu amigo não parece machucado, apenas cansado.

— Não vejo a hora dos Hyungs voltarem — Yoongi comenta e engulo em seco — Depois desse ataque posso imaginar o quão ruim deve estar a guerra no Norte.

— Tem razão, mas eles são fortes — Senhor Min responde, sorrindo forçado e sinto um bolo no estômago. Ele com certeza sabe sobre a lista e as cartas, porque não diz a verdade?

Não é justo! Yoongi merece saber e se Jisung não quer falar, tudo bem, eu farei! Amanhã, assim que tiver chance de ficar a sós com Yoongi Hyung lhe direi tudo que sei. Ele merecia isso.

— Fique, filho — Jungwo pede e paraliso, me lembrando de sua expressão enfurecida quando lhe contei sobre não engravidar. Não queria falar sobre isso agora...

Taehyung passa por mim lentamente, tocando a ponta de meus dedos sutilmente, acariciando a palma de minha mão antes de sair. Era um gesto simples, mas foi o bastante para me deixar mais calmo, embora o cheiro de sangue que emanava de seu corpo embrulhasse meu estômago. 

Jungwo respira fundo, esfregando o rosto visivelmente esgotado, avaliando-me com atenção.

— O ritual… Foi o Sábio, certo? — pergunta baixinho e concordo com a cabeça. — Entendo… E como você está? Se machucou muito?

— Não — minto. Conseguia sentir várias regiões de meu corpo doer, mesmo depois de Somi cuidar e enfaixar as regiões, sempre que respirava era como sentir um soco no estômago repetidas vezes.

— Nós… Temos que conversar sobre aquilo — ele diz, incerto e não consigo adivinhar o que se passa em sua cabeça. — Mas, não agora, precisamos cuidar dos corpos, dos feridos e… Jieun tem que estar presente. — concordo mais uma vez, aflito. — Então… Tudo bem. Não pense mais nisso por enquanto. — diz, guiando-me até a porta.

Não lhe respondo, porque parece um pedido absurdo. Mesmo que não queira, esse pensamento vai continuar me perseguindo. Então saio da sala, apressando o passo em direção as escadas, contendo a vontade de chorar só de lembrar que esse segredo não me pertence mais e que, novamente, estava decepcionando-o.


Ω


Estou sentado na cama secando os fios úmidos de meu cabelo após tomar um banho decente, vestindo apenas a camiseta de meu pijama e cueca, porque sentia meu corpo quente, provavelmente devido a adrenalina recente. 

Assim que cheguei, dispensei a ajuda de Ahri e das servas, que voltaram para casa para ficar com seus familiares. Então aproveitei o tempo que tive na banheira me lavando com cuidado devido aos machucados recentes que ardiam sempre que caia água na região para pensar sobre tudo que aconteceu, mas não consegui refletir sobre nada na verdade.

Tudo parecia… Nublado na minha mente.

Escuto alguém bater na porta e vejo Jieun entrar antes que eu lhe dê permissão, sentando-se na ponta da cama e me encolho instintivamente, abraçando meus joelhos.

É agora? Ela vai gritar e dizer o quão decepcionante tenho sido e que, mais uma vez, sou incapaz de cumprir meus deveres como ômega.

— Cadê meu abeoji? — pergunto.

— Ele não virá, nós conversamos e chegamos a conclusão que esse assunto diz respeito apenas a nós dois — Jieun respondeu, avaliando-me com atenção.

Isso não é um bom sinal…

Jieun respira fundo, jogando alguns fios de seu cabelo solto para trás. É uma das poucas vezes que não o vejo amarrado… É longo, ondulado nas pontas como o meu.

— Há quanto tempo sabe disso? — pergunta e desvio o olhar para minhas mãos.

— Desde… Meu primeiro cio — digo baixinho, incapaz de encará-la.

— Entendo… Deve ter sido difícil guardar isso por tanto tempo, ainda mais para você, que adora tagarelar por aí — comenta e dou de ombros, porque não sei o que dizer.

— Ainda é doloroso... Eu… Não consigo pensar nisso por tanto tempo e… Desculpe, ómoni — contenho a vontade de chorar e meu peito parece queimar com a sensação de sufocamento. — Por mais uma vez não ser o que esperava de mim, por não cumprir meu dever como um bom ômega e-

— Não é culpa sua — ele responde e arregalo os olhos, fitando-a perplexo, fazendo-a rir soprado. — Não esperava por isso, certo? Porém existem coisas que eu não posso exigir de você e isso… É uma dessas coisas — explica, umedecendo os lábios com a língua. — Posso exigir obediência, bons modos… E até mesmo um casamento se for para a proteção de nossa aldeia. Mas não posso exigir que gere filhotes se não é capaz, isso vai além das exigências de qualquer pessoa. Não sou tão ignorante assim.

Abro os lábios, mas não consigo verbalizar uma única palavra. É tão estranho ouvi-la dizer isso… E não sei se Jieun está brava ou apenas conformada, acostumada com o fato de sempre ser incapaz de fazer o que esperam de mim como futuro líder.

— Essa sensação de impotência — ela murmura, desviando o olhar para a janela. — Não irá desaparecer ou diminuir… Ela vai te acompanhar a vida toda, mas um dia, você vai se acostumar e então… Não vai ser mais dolorosa.

Sinto uma lágrima deslizar por meu rosto e a seco depressa antes que ela veja.

— Co-Como pode saber? Você… Teve filhos, ómoni. Teve Somi e eu… E, mesmo que eu não seja o que você espera, minha irmã é. Ela… Ela é incrível. — falo, minha voz soando falha, quase inaudível. — Mas eu… Eu nunca vou ter filhos. Não dessa forma.

— É complicado explicar — ómoni sorriu triste.

— Quando os aldeões descobrirem, vão me odiar. Serei um péssimo líder aos seus olhos.

— Talvez tenha razão — Jieun deu de ombros. — Você tem muita coisa para aprender ainda. — Diz e faço uma careta. — Mas, não sabemos quem vai vencer esta guerra, quem será o futuro rei… E talvez não sejamos nós, então não terá que se preocupar em gerar herdeiros ao trono. E, se vencermos, Somi pode cuidar disso, ela se casará com Jaewon um dia e terá um filho. Então, sua situação não é tão preocupante para Bane no momento. 

— É por isso que não está brava? — Não conseguia entender, sua reação parecia boa demais.

Jieun revirou os olhos.

— Talvez eu ficasse, se as circunstâncias fossem outras, mas eu estou tentando melhorar, Jeongguk. Estou tentando enxergá-lo de verdade, além das barreiras de ressentimento que eu criei ao longo dos anos. — explicou e engoli em seco, atordoado com sua confissão. — Eu não amo você e não consigo fingir que sim — disse e senti algo se quebrar dentro de mim, um medo que eu vinha guardando no fundo de meu coração e ela acabara de confirmar. — Mas eu quero tentar. Não quero viver mais com essa mágoa, porque isso também nos colocou em perigo, minhas atitudes também tiveram peso em tudo que aconteceu durante esses anos.

— Você fez mais do que isso, ómoni — murmuro, me sentindo um pouco mais confiante em lhe dizer a verdade. — Você me machucou, durante todo esse tempo me fez pensar em tantas coisas ruins a meu respeito e… Me fez desejar… Não estar mais aqui. — Sequei outra lágrima rapidamente. — Mas, Yoongi Hyung e Taehyung me ajudaram a entender que era tudo mentira, meus amigos me mostraram que não sou um ômega ruim, ómoni. E… Eu mereço ser amado! — Digo, erguendo o olhar, encarando-a com uma determinação que nunca tive antes, mas que cresceu dentro de mim inconscientemente. — Mas, talvez, você não mereça essa chance… De me amar.

Jieun arregala os olhos e antes que possa me responder, continuo:

— Eu mereço o amor da minha mãe, mas se você não estiver disposta a me dar isso de verdade, se tudo que quiser fazer for me destruir internamente, então eu não a quero por perto! — Respiro fundo, trêmulo. — Porque… Eu me amo, ómoni, quero me amar cada dia mais e não vou sacrificar o amor que estou começando a nutrir por mim mesmo por você! 

Suspiro, tentando controlar os batimentos de meu coração. “Eu realmente falei… Consegui falar!”, mordo o lábio inferior, contente. 

— Você é inacreditável — Jieun sorri de canto, as orbes castanhas brilhando de forma estranha. — Mas, não estou surpresa. Você sempre evolui. Dentre tantas pessoas, que seriam incapazes de sobreviver a todas essas situações pelo qual você tem passado, você sempre consegue e… Isso é invejável.

Franzo o cenho, tentando entender onde ela quer chegar com isso.

— O que você disse aquele dia no templo é verdade — prosseguiu. — Eu… Queria te machucar, durante todos esses anos eu não consegui olhar para você e enxergá-lo de verdade. Só havia o ressentimento, a mágoa… 

— P-Por quê…? — soluço, abraçando minhas pernas com força, afundando a unha em minha pele, tentando me distrair da dor que é ouvi-la dizer isso. 

— Eu queria que você sentisse o que me fez sentir. E não, não era justo, você era uma criança, mas eu não me importava. — explicou. — Mas , eu não sabia que estava funcionando… Que… Você estava mesmo sofrendo com tudo isso, porque… Você sempre fingiu tão bem, sempre reagiu a tudo que eu fazia, então, eu acho que me convenci de que não estava sendo tão ruim assim, que você só estava sendo mimado e desobediente para me desafiar — explicou e neguei depressa. Não era verdade… Eu tinha medo de dizer e a melhor forma de contestá-la e mostrar que não me sentia bem com sua exigências era fazendo tudo que não deveria. — E isso não justifica, o que eu fiz com você, porque eu deveria ter percebido como você se sentia, então… Me desculpe. Eu estava tão concentrada na minha própria dor que sequer notei a sua. 

Prendi a respiração ao ouvi-la dizer as últimas palavras e não sequei as lágrimas dessa vez. Porque eu precisava disso, precisava senti-las em minha pele, precisava sentir que era real.

Uma lágrima silenciosa deslizou pela bochecha de minha ómoni e acho que é a primeira vez que a vejo dessa forma, como uma pessoa que também carrega dezenas de cicatrizes internas, mas que as escondeu criando-as em outras pessoas.

Era errado e não existiam justificativas para isso, não apagaria toda a dor que ela me fez sentir durante anos. Mas Jieun estava reconhecendo e, eu ainda a amo demais para ignorar o quão deve ter sido difícil para si dar esse passo em minha direção.

— Eu… Ainda estou tentando enxergá-lo de verdade. — a ômega sorriu de canto. — Eu quero ver o jovem mestre da qual todos falam e admiram, quero ver o Jeongguk que cresceu por si só em meio ao caos que eu criei na sua vida… E, talvez eu ainda faça algo que não deveria, eu não consigo tirar isso de mim completamente, mas eu quero tentar. 

— E-Eu… Obrigado… Ómoni — soluço, incapaz de conter o choro. — Qu-Quando você quiser me contar o que aconteceu… Eu estarei aqui…

— Eu ainda não posso, mas me lembrarei disso.

— Tu-Tudo bem… Eu posso esperar — digo, secando as lágrimas com a manga da camisa, contendo a vontade de abraçá-la nesse momento. Mas não parece adequado fazê-lo. 

Ainda existe um muro entre nós, porém, felizmente, conseguimos criar uma porta e quem sabe um dia eu seja capaz de atravessá-la para conhecer melhor esse espaço na vida dela e, se ela quiser, me conhecer também.

Jieun se levanta, tossindo forçado, ajeitando o robe de algodão, caminhando até a porta.

— Continuaremos os treinos após o festival e quando quiser me contar seu plano com todos os detalhes, estarei aqui para fazê-lo dar certo — falou e concordei com a cabeça. — Eu quero que se esforce, quero resultados e não discursos e palavras vazias, entendeu?

— Sim, ómoni! 

— Ótimo… Boa noite, Jeongguk.

— Boa noite, ómoni… — me deito, encarando a porta após ela sair e a fechar, pensativo.

Não me lembro qual foi a última vez que Jieun me chamou de filho, se existiu algum dia em que ela o fez e agora, acho que tenho alguns palpites sobre isso… Mas não acho que estou pronto para saber a verdade sobre minha ómoni… Talvez seja melhor assim.

Abraço meu travesseiro e fecho os olhos, adormecendo logo em seguida, mais uma vez sem sonhos.



Notas Finais


Socorro! Me digam o que acharam, por favor...

Pessoalmente eu gostei das cenas de ação, e vocês?

A do Jeongguk enganando o grandalhão foi satisfatório de escrever.

Aliás, teorias? Hein, hein??

Usem a tag no twitter #WolfsBaneTK ou comentem aqui suas teorias, elogios, críticas...

Não esqueçam que mais tarde eu posto outro capítulo.

Então até daqui a pouco!

Não esqueçam o purple heart.


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