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História Wolf's Bane - taekook - Indefeso


Escrita por: taemutuals

Notas do Autor


Oi ~~ saudades? Eu senti

Finalmente mais um capítulo, não aguentava mais a ansiedade pra postar assim que conclui ele.

A cada nova atualização eu fico indecisa sobre qual eu gosto mais, por que este definitivamente está uma loucura!

Ele tá bem grande, de novo, perdão pra quem não gosta...

Então não esqueçam de me mimar de volta favoritando e comentando muito, isso ajuda a fic a crescer!

Aliás, gostaria de agradecer pelos comentários no capitulo anterior.

Não sei se mereço tanto, mas obrigada.

Saibam que eu li todos sem exceção, fiquei boas horas surtando com o surto de vocês e logo em seguida fui escrever este capítulo então os créditos pela minha motivação e inspiração é todo de vocês >.<

A betagem foi feita pela HiShinySmiles e moinalovesbts que se esforçaram pra garantir que qualquer erro fosse corrido, por isso, vamos agradecê-las pelo trabalho duro

A tag no twitter é #WolfsBaneTK

Bem... É isso... Não vou me prolongar... Boa leitura ~

Capítulo 8 - Indefeso


Fanfic / Fanfiction Wolf's Bane - taekook - Indefeso

❝Eu sou bem mais forte do que pareço.❞

— Anne With an E



[1741 d.e]

Junho, décima lua do mês, verão

Arregalei os olhos, assustado, quando senti o meu cobertor sendo puxado bruscamente por alguém. Ahri e as servas, vestindo seus robes de dormir, estavam no meu quarto e estranhando a situação, olhei para a janela, percebendo que estava mais cedo do que o esperado.

— O que foi…? — sussurrei, escondendo o rosto com um travesseiro. 

— Levante-se logo jovem mestre, você precisa ver isso antes que seja tarde — MiCha falou, me entregando um robe de algodão azul celeste e pantufas.

— O que aconteceu? — perguntei, calçando-as, me enrolando no tecido quentinho. 

— Jovem mestre nos pediu para avisar quando o próximo alfa fosse convidado — Ahri falou, me guiando pelo corredor a passos lentos e silenciosos, falando tão baixo que quase não a escutei. — Senhora Jieun convenceu um senhor feudal a vir visitá-lo — explicou e estremeci com a simples menção ao pretendente.

— E quando será?

— Essa é a questão, a senhora Jieun escreveu uma carta marcando o encontro ontem à noite e entregou a governanta e… Estamos do seu lado jovem mestre, podemos destruir essa carta e ele nunca a receberá — propôs e pisquei emocionado. 

Eu tinha bons servos. Ou melhor, amigos.

— Não destruam a carta, minha ómoni notaria que não houve resposta e enviaria outra…

— O que faremos então? — SunHee questionou, abrindo a porta da cozinha, ficando do lado de fora com MiCha, vigiando o corredor.

— Vamos enviar outra, o selo ainda está quente?

— Sim, jovem mestre.

— Perfeito… Não podemos arriscar entrar no escritório de meu abeoji para conseguir um novo, temos que ser rápidos — disse, sorrindo para Heejin. — Onde está a carta? 

A governanta me entregou o envelope com o selo de Bane e suspirei, abrindo-o com cuidado, retirando a carta dali.

Li rapidamente, sentindo meu estômago embrulhar com as palavras de minha ómoni, descrevendo-me como se fosse uma mercadoria em promoção. Ela realmente se importava com a honra de nossa família...

— Ce-Certo — ri forçado, grato por Ahri e Heejin não terem tentado ler a mensagem, me sentia envergonhado e chateado.

Por que Jieun dizia essas coisas? Talvez eu não fosse mesmo um bom filho afinal, um ômega decente…

— Está tudo bem, jovem mestre? — Ahri me observou preocupada e concordei com a cabeça.

— Si-Sim… Vocês tem uma caneta? — pedi, agradecendo quando Heejin retornou com a mesma. — Tenho que convencê-lo a não vir… — refleti, pensativo. — O que sabem sobre o senhor… Jang? — li o nome escrito por minha ómoni.

— Ele é um senhor feudal muito rico — Ahri falou, sentando-se ao meu lado, não se atrevendo a ler a carta aberta sobre a mesa. — Tem trinta e dois anos, se não me engano. — Pisquei em compreensão, apoiando o rosto na mão. 

Tinha que ser convincente o bastante para que ele perdesse o interesse em mim e gentil para não causar uma guerra ou arruinar a aliança de Bane com o alfa.

— Não é tão velho… Qual a idade de Siwon? — perguntei, lembrando-me do alfa. Talvez ambos tivessem ideais parecidos…

— Vinte e oito — Ahri respondeu.

— Minha ómoni realmente não está brincando, alfas nessa idade são difíceis de atrair, geralmente já estão noivos… — comentei.

— Mesmo? Não é a idade dos alfas que temos aqui? — Heejin perguntou a si mesma.

— É diferente, temos poucos alfas para muitos ômegas, devido às guerras, perdemos muitos alfas adultos — a lembrei. — Eles preferem se divertir com quantas puderem antes de se casarem de fato, já que qualquer ômega que for pedida não recusaria.

— É verdade… Uma pena não existir nenhum alfa adulto em Bane entre os nobres para desposá-lo, jovem mestre — minha governanta suspirou, triste, mas dei de ombros, não me importava com isso porque não tinha interesse em ser desposado.

— Nem se existisse — falei.

— Mas nem todos são como o jovem mestre disse — minha ama interveio. — O vice-general é um bom alfa e nunca houve boatos sobre ele desse tipo, sequer é visto com frequência na taberna.

Revirei os olhos. Por que ela sempre insistia em envolver Taehyung nos assuntos?

— Ele pode ser discreto, apenas isso — falei.

— Quantos anos o vice-general tem? — Heejin perguntou, claramente interessada e logo soube que o Kim seria alvo dos comentários dos servos mais uma vez.

— Não sei — disse indiferente.

— Vinte e dois — Ahri respondeu radiante. — É jovem, não? E já é vice-general — elogiou e desviei o olhar, fingindo desinteresse, embora estivesse surpreso por Taehyung ser apenas cinco anos mais velho que eu.

— Incrível — Heejin concordou e Tossi forçado, atraindo a atenção de ambas para mim. Tínhamos que pensar em algo para escrever na carta e não no alfa aparentemente perfeito. 

— Foco — pedi. — Não posso arriscar insultá-lo nesta carta, seria perigoso — murmurei e ambas concordaram, voltando sua atenção á mesma.

— Siwon queria um esposo bonito e obediente, talvez o senhor Jang deseje o mesmo? — Heejin opinou.

— Oh — me endireitei, passando os olhos pela carta novamente. — “Meu doce Jeongguk ficará muitíssimo honrado em dar a luz ao futuro herdeiro de suas terras” — li em voz alta, incapaz de conter uma careta. 

— Não entendi — Heejin não parecia incomodada com a frase proferida e é claro que não estaria, não sabia a verdade sobre mim, o veneno e o fato de eu ser um ômega amaldiçoado e incapaz de gerar filhotes. Eu era tudo que não deveria ser, quase uma aberração.

— O senhor Jang é viúvo — Ahri exclamou ávida, como se estivesse acabado de se lembrar de tal coisa. — Ele não tem filhos, então precisa se casar o quanto antes para que suas terras sejam deixadas para seus herdeiros quando partir, afinal estamos em guerra, nunca se sabe o que pode acontecer.  

— Então o objetivo dele é me desposar para que eu seja seu… — grunhi, incapaz de concluir a frase. — É repugnante.

Meus pais sabiam que não poderia beijar outra pessoa pois a levaria a morte, no entanto, não tinham consciência de que meu ventre não seria capaz de gerar um filhote sem matá-lo com o veneno antes. O Sábio dos Montes dissera aquilo apenas para mim e meus progenitores não tinham cogitado essa possibilidade.  

Mas claro que Jieun não descartaria a hipótese de usar algo desse gênero para conseguir um alfa para mim. Desde que não o beijasse quando me deitasse com o alfa e permitisse que me tocasse, funcionária.

Tal opção me fazia sentir ainda pior, insignificante. No entanto, precisava agradecer minha ómoni por ser tão direta nesta carta, agora sabia o que escrever para amedrontá-lo o bastante.

Respirei fundo e reli a mensagem de minha ómoni, precisava mantê-la devido sua assinatura, mas nada me impedia de colocar um recado meu no envelope. Então, comecei a escrever.


“Caro senhor Jang, 


Escrevo-lhe essa breve mensagem como forma de agradecimento a sua imensa bondade para comigo. 

Estou admirado! Com sua coragem e altruísmo, mesmo diante de uma situação tão delicada como seus herdeiros.

Certamente sabes da promessa que fiz aos Espíritos Ancestrais quando tinha apenas dez anos, prometendo-lhes minha devoção de corpo e alma por três longas décadas, impedindo-me de deitar com qualquer alfa antes de completar o tempo prometido, em troca, teria sua bênção e proteção nesses tempos de guerra. 

Por esta razão, tem sido tão difícil para mim e minha família conseguir encontrar alfas que aceitem me desposar sabendo que não poderão deitar-se comigo por longos trinta anos.

Mas o prazer carnal não é tudo que constitui um bom relacionamento, estou certo? E repito que estou admirado pelo senhor aceitar me conhecer diante desse infortúnio, mesmo que após trinta anos, eu talvez sequer possa gerar-lhe herdeiros para assumirem suas terras. Mas tentarei fazê-lo estando muitíssimo honrado, como foi dito por minha ómoni, quando o momento chegar.

E não me refiro apenas ao seu altruísmo por aceitar conhecer-me diante desses termos, mas sua imensa coragem também, por, mesmo estando viúvo, arriscar-se a se casar novamente em tão pouco tempo. Soube através de alguns monges que a viuvez pode trazer maldições aos homens que se casam rapidamente novamente, sem esperar o tempo ordenado pelos Espíritos… 

Esplêndido! Saiba que minha devoção se ampliou ainda mais, és um alfa muito respeitável e admirável.

Aguardarei ansioso para conhecê-lo e prometo me empenhar para agradá-lo de outras formas se tomar-me como seu noivo.


Com respeito e afeto, 

                           Jeon Jeongguk”


Sorri largo após reler, satisfeito comigo mesmo por escrever algo desse tipo de forma tão convincente. 

Se o alfa realmente precisava se casar apenas para conseguir herdeiros, não arriscaria me desposar e esperar tanto tempo — mesmo que fosse mentira minha a respeito da promessa, ele jamais saberia — e se ainda houvesse alguma hipótese, não arriscaria enfurecer os Espíritos a ponto de ser amaldiçoado.

Guardei o bilhete junto ao de minha ómoni e entreguei a Heejin, que colocou um pouco mais de cera no papel, cobrindo-a com a carimbada com o brasão de Bane.

Se meu plano funcionasse, o próximo pretendente sequer se atreveria a pisar nessa aldeia.

— Vou entregar a carta ao mensageiro — Heejin falou, apressando o passo e concordei agradecido, notando pelo relógio de bolso de Ahri que logo os servos acordariam para iniciar suas tarefas.

— Será que consigo cochilar mais um pouquinho? — perguntei a minha ama, que me acompanhava junto de MiCha e SunHee para meus aposentos. — Estou cansado…

— Claro, jovem mestre — concordou, sorrindo gentil.

— Iremos preparar seu banho e suas vestes para que possa dormir mais um pouco — MiCha falou e agradeci, jogando-me na cama, sequer retirando o robe do corpo, caindo no sono rapidamente.


×


Me observava no espelho com um sorriso no rosto, muito satisfeito por estar vestindo algo de meu agrado. 

Desde o dia em que peguei as roupas que meu abeoji mandou fazer algumas luas atrás, trazendo-as comigo com a ajuda de Taehyung, tenho tido a oportunidade de usar trajes confortáveis e bonitos.

Naquele momento, vestia uma camiseta de mangas longas preta de seda com botões, junto de uma calça cinza levemente justa, embora confortável.

— Jovem mestre irá devolver as botas ao vice-general? — Ahri perguntou quando as peguei e franzi o cenho, porque minha intenção era calça-las. Gostava delas, não queria devolver…

— Hum, eu… Já a sujei, não seria educado entregá-las dessa forma — respondi, colocando-as, sentindo os olhares das servas sobre mim. — Não entendam errado… Eu posso, hum… Dar outra a ele — indiquei os pares de botas novas que Jungwo me deu. — São todas novas, pegue uma delas, darei a ele hoje.

Ahri arregalou os olhos, enquanto SunHee e MiCha correram em direção aos pares, escolhendo um deles. 

— Jovem mestre, pretende cortejar o vice-general?

— Pelos Espíritos Ahri, não! — bufei. — Estas estão gastas já, seria mais justo dar-lhes botas novas, como ele fez comigo — expliquei, me levantando. — Acham que ele calça o mesmo tamanho que eu?

— Sim! — MiCha concordou. — O que acha dessas?

— Ah, não, pegue aquela, foi a que menos gostei — menti, ainda sentindo o olhar de Ahri queimar minhas costas. Eram apenas botas! 

Após colocarem o par em um saco de pano, agradeci, saindo de meus aposentos rapidamente, temendo ouvir mais baboseiras de minha ama. Entrei na cozinha e peguei o almoço que Doroth deixou preparado para mim e Woozi e sai pelas portas dos fundos, dando-lhes um bom dia.

Meu escudeiro já estava terminando de ajeitar os cavalos e não demoramos para partir em direção ao campo de treinamento.

Já haviam se passado quatro luas desde que Siwon foi embora e tive o prazer em me ocupar com os treinamentos e exercícios propostos por Taehyung e sua alcatéia. Era gratificante notar o quanto meu rendimento havia melhorado, eu não me cansava rapidamente como antes e meu corpo já estava se adaptando a esta nova rotina.

Aprendemos a lutar, praticavamos todos os dias recebendo novas orientações sempre que necessário e agora o vice-general se concentrava em nos ensinar a usar as armas, até descobrirmos qual seria a mais adequada para cada recruta. 

Eu já sabia que espadas eram minha opção, ver Taehyung manejá-las durante o ataque aos portões me fez sentir grande admiração pela mesma, embora ainda tivesse certa dificuldade. O alfa insistia em nos treinar com cada uma delas, solidificando o que nós já sabíamos, espada é a arma que nasci para lutar. Afinal, não me sai bem durante os treinos com arco e flecha, adagas, ou katanas, nem mesmo lanças, que eu achava serem fáceis de usar. 

Mas eu iria melhorar e me tornar um bom guerreiro, só tinha que me esforçar mais e logo me tornaria tão bom quanto o vice-general e sua alcatéia. E não tardaria para entrar em seu esquadrão.

Chegando no campo de treinamento notei que já haviam muitos recrutas e me apressei em desmontar de Guloso e prender suas rédeas. Olhei ao redor, não avistando o vice-general e talvez fosse melhor entregar-lhe as botas outra hora, não queria causar fofocas errôneas novamente.

— Irei esperá-lo ali jovem mestre — Woozi apontou uma das árvores e concordei, apressando o passo em direção a meus amigos.

Era engraçado chamá-los dessa forma, sequer sabia se me consideravam um amigo. Eu esperava que sim.

— Onde está Yoongi Hyung? — perguntei a Yeonjun.

— Atrasado, imagino — o beta respondeu sonolento, abraçando Soobin. — Também gostaria de me atrasar, perder o treino… — comentou preguiçoso e ri.

— Temos que nos esforçar — falei e Hueningkai concordou. — Onde está Kyungsoo? 

— Com Jackson — Taehyun indicou o alfa que conversava com o beta descontraído. — Viraram amigos, acho que não vai mais querer andar com a gente.

— Por que? Por ele ser um alfa? Isso é bobagem — falei, observando-os de longe.

— É verdade, somos mais importantes também, temos o jovem mestre no nosso grupo — Yeonjun gabou-se e revirei os olhos, sorrindo pequeno.

— Devemos nos gabar por sermos bons recrutas e não porque sou o futuro herdeiro — comentei e todos concordaram. — Aish… Yoongi está demorando muito… 

— Eu posso ocupar o lugar dele hoje se quiser — alguém falou e me virei confuso, sentindo meu coração falhar uma batida quando Minjae sorriu cínico.

Era o maldito beta que me desrespeitou luas atrás e quase fora castigado por Taehyung.

— O qu-que você… — pensei que depois de seu comportamento, ele tivesse sido expulso do grupo de recrutas, sequer tinha visto ele no teste.

— Sentiu saudades? — riu, cruzando os braços. — Tive que me afastar por algumas luas como punição graças ao seu showzinho, mas estou de volta e confesso estar surpreso por um ômega como você fazer parte da equipe, deplorável.

Cerrei os punhos e dei um passo em sua direção.

— Teve sorte por eu ter salvo sua pele naquele dia, deveria me agradecer e admitir que é um grande covarde, deixando um ômega como eu aceitar uma punição em seu lugar. — refutei, erguendo as sobrancelhas desafiador.

Minjae sorriu largo e se aproximou de mim, umedecendo os lábios lentamente.

— Eu devia saber que um ômega vira lata não faria aquilo sem segundas intenções… — zombou. — Quer meu agradecimento? Posso satisfazê-lo atrás daquela tenda em poucos segundos… — falou e franzi o cenho, enojado e ofendido. 

— Desgraçado — grunhi. — Eu não sou esse tipo de-

— Vice-general — comandante Choi gritou, abrindo o portão do cercado para Taehyung e notei com o canto dos olhos quando Minjae se afastou de mim como se não tivesse acabado de me insultar.

Respirei fundo, não podia permitir que as palavras dele me afetasse como ocorreu com os guardas.

"Eu não serei uma serpente…", disse a mim mesmo em pensamento, repetindo tal frase até me convencer.

Voltei para meus amigos, que me olhavam apreensivos e suspirei ao notar Yoongi se aproximar com as roupas amassadas. Provavelmente viera correndo assim que notou seu atraso. 

— Em posição! — o vice-general gritou e corremos para o meio do campo, formando filas organizadas, enquanto o Kim se ocupava em conversar com o Jongdae, um dos membros de sua alcatéia. — Andem, eu não tenho o dia todo! — repetiu ao notar que alguns tentavam encontrar seus lugares. 

— Ele está de mal humor de novo? — Yoongi questionou e dei de ombros. Taehyung não parecia mal humorado, só… Concentrado, como nos dias em que nos ensinaria algo novo, ele agia dessa forma. 

— Acho que não — sussurrei.

— Vocês comeram antes de vir? — Comandante Choi perguntou e respondemos em uníssono. — Bom… O treino de hoje vai ser diferente e mais pesado, por isso vamos adiar o horário de almoço de vocês — explicou e mordi a bochecha empolgado.

— Darei detalhes mais tarde, comecem o aquecimento! — Taehyung ordenou e fizemos os alongamentos antes, seguido dos exercícios de aquecimento logo em seguida e sorri satisfeito ao terminar e notar que já não me sentia esgotado como antigamente e meu corpo já estava se habituando a rotina.

— Sinto que vou odiar não ter ficado em casa dormindo — Yoongi bufou após terminar suas flexões e ri de seu comentário.

— Acho que vai ser divertido.

— Seu sinônimo de diversão vem de confusão — ele ralhou, grunhindo dolorido ao se levantar.

— Não diga isso, você também não é santo.

— Graças aos Espíritos que não.

— Por que se atrasou? — o olhei curioso, Yoongi não era do tipo que perdia horários, gostava de dormir, mas era pontual.

— Teve uma briga na taberna e eu assisti tudo de camarote — comentou com um sorriso gengival e arregalei os olhos. 

— Você estava na taberna?

Por que só eu não podia ir a esse lugar? Será que depois do meu aniversário de dezoito anos poderia? Provavelmente não… Não era lugar para um ômega como eu.

— Claro, eu precisava de algumas doses, tenho boas idéias quando estou bêbado — falou e suspirei com inveja. Às vezes me esquecia que Yoongi Hyung tinha vinte e três anos e podia fazer coisas de adultos sem mim. 

— E o que aconteceu lá, quem brigou?

Yoongi se calou por um momento e riu debochado.

— Jaebeom e um beta, não sei o nome, eles estavam interessados em uma das dançarinas, foi incrível, você precisava ver, voou copos por todos os lados — falou animado e pisquei surpreso, minha mente fértil visualizando perfeitamente o que meu Hyung dissera.

— Há dançarinas na taberna? Pensei que iam lá apenas para beber… — comentei. — Então há música também? É divertido?

Meu Hyung piscou desperto e se afastou, concordando.

— Não vou entrar com detalhes Ggukie, você é muito jovem e eu nem deveria ter lhe contado isso — confessou e cruzeiro os braços emburrado. — Mas assim que fizer dezoito anos, levarei você lá, podemos ir escondidos.

— Promete? — sorri animado e ele concordou, rindo quando lhe abracei. — Obrigado, Hyung.

— Aigoo, não tem de quê criança, agora me solta, os outros recrutas já estão terminando o aquecimento deles, Taehyung logo deve começar o treino.

Concordei e me afastei. Não demorou para todos terminarem o aquecimento e ficamos observando o vice-general entregar um punhado de fitas roxas a seus companheiros que começaram a distribuí-las aos recrutas.

— Vocês devem usar isto a partir de agora — falou. — Amarrem no braço esquerdo e deixem o brasão da aldeia exposto. Elas são como uma identificação, de que pertencem ao grupo de recrutas de Bane. São como as nossas — ele indicou a insígnia de ouro com a gravura do brasão de Bane presa ao uniforme da guarda que estava vestindo. — Trabalhem duro e no futuro trocarão esse pano por ouro, o que acham? Parece bom. — a maioria riu, concordando.

— Mas a deles são de prata — Jackson falou, indicando as insígnias dos companheiros do Kim.

— Por pouco tempo, Taehyung tem que tomar cuidado ou tomarei o lugar dele — Minho falou, socando o ombro do alfa levemente, que riu com sua atitude.

— Claro, serei o general e você poderá pegar o posto de vice — retrucou, jogando o braço em torno do pescoço do amigo, arrancando mais risadas de nós, recrutas.

— Faça isso logo então!

— Claro, claro, Hyung — murmurou, retomando a postura. — De qualquer forma, hoje usaremos essa fita de outra forma — pegou a de Jackson rapidamente. — Nos próximos treinos iremos trabalhar os sentidos de vocês: audição, olfato e visão —  levou a fita aos olhos. — Hoje, será audição, por isso usaremos isso desta forma e estas ervas que irão impedi-los de sentir o cheiro uns dos outros por alguns minutos — indicou um pote nas mãos de Baekhyun e Chanyeol. 

— Por que? — outro beta questionou.

— Iremos motivá-los a ampliar seus sentidos. Nunca sabemos o que pode acontecer, minha alcatéia por exemplo faz a patrulha durante a noite e a floresta é escura e nebulosa, se não tivéssemos os demais sentidos trabalhados e aguçados, estaríamos em desvantagem e em perigo. — Taehyung explicou e arfei surpreso, compreendendo onde queria chegar com aquele treinamento. 

— Quero que formem filas, iremos tentar atacar cada um de vocês, por isso é importante que façam silêncio enquanto seu companheiro está concentrado — Jongae ergueu as mãos e corremos em sua direção, formando filas à sua frente.

— Para motivá-los ainda mais, nosso bondoso vice-general lhes dará uma recompensa — Minho brincou e fitei o alfa curioso, cada vez mais interessado e a reação do demais recrutas não foi diferente.

Taehyung sorriu e concordou, devolvendo a fita a Jackson, o primeiro da fila.

— Os cinco melhores poderão nos acompanhar na patrulha de hoje á noite. — Ditou e todos arfaram surpresos, os olhos brilhando ainda mais determinados. — Poderão aprender mais e experimentar um pouquinho da rotina de um membro do esquadrão de vigilância.

Mordi o lábio inferior ansioso, observando-o determinado, sentindo meu coração sacudir quando seu olhar encontrou o meu brevemente. 

— Certo… Quem é o primeiro? — o vice-general perguntou, sorrindo quando Jackson deu um passo à frente.

Todos permanecemos em silêncio quando o alfa colocou a venda roxa nos olhos como indicado por Taehyung, junto do gel no nariz, impedindo-o de usar o olfato.

O vice-general não estava brincando quando disse que iria ampliar nossos sentidos com aquele treino e fiquei levemente assustado e receoso quando Jackson recebeu o primeiro golpe e não conseguiu se esquivar. 

No entanto, bastou poucos segundos para o alfa se atentar aos sons praticamente inaudíveis do vice-general, começando a se mover à tempo de não ser atingido.

Os demais recrutas continuaram, um por um, passando pelo mesmo tipo de treino, fosse com o Kim ou um de seus companheiros. E eu me senti cada vez mais angustiado ao observar que eles sequer estavam pegando pesado. Se moviam devagar e os golpes eram fracos e calculados, entretanto, muito betas acabavam atingidos com facilidade, incapazes de manter o controle, desesperando-se, virando-se para todos os lados incapazes de distinguir de onde vinham os ataques.

Yoongi Hyung não ficou apavorado, mas também não se saiu muito bem, resmungando sobre como aquilo era mais difícil do que imaginara. 

Infelizmente, Minjae conseguiu desviar dos golpes quase tão bem quanto Jackson e Kyungsoo, o que tornava minhas chances de ser um dos escolhidos cada vez menor.

— Jeongguk — Suho chamou meu nome e me coloquei no centro do círculo que havíamos formado, estremecendo quando Taehyung se aproximou.

— A venda gracinha — sussurrou e pisquei desperto, concordando, levando-as aos olhos logo em seguida, comprovando que de fato não conseguia enxergar nada. Amarrei e suspirei ao ouvir alguns passos seus, sentindo meu nariz coçar quando ele passou um gel na região, me impedindo de sentir qualquer tipo de cheiro. Eram ervas semelhantes as que eu usava durante o banho.

Me endireitei, notando que um silêncio perturbador se instaurou no ambiente e engoli em seco quando os sons quase inaudíveis de passos amassando as folhas secas atraíram minha atenção.

"Esquerda!", pensei depressa, me virando cambaleante, escutando nitidamente quando ele pisou com força no chão.

Cerrei os punhos e girei nos calcanhares de novo ao ouvir sua lufada de ar próximo á mim, sentindo sua mão esbarrar na minha cintura.

Eu estava me saindo bem, bastasse continuar atento e-

— Atrás da tenda? — ouvi alguém sussurrar e franzi o cenho, querendo manter o foco nos passos de Taehyung. — Mesmo? Aish… Que sujo… — a pessoa riu soprado e bufei, desviando por pouco de outra investida do Kim.

— Ele disse que eu deveria agradecê-lo — Minjae sussurrou em resposta e travei o corpo, compreendendo do que estavam falando.

O maldito beta estava espalhando mentiras sobre nossa conversa! 

Grunhi dolorido quando Taehyung acertou minhas costas, não foi um golpe forte, mas me pegou de surpresa. 

Droga.. Não podia me distrair, eu estava indo tão bem…

— Venha nos ver se quiser, um ômega como ele deve gostar de platéia — Minjae zombou e cerrei os punhos irritado, retirando a venda dos olhos, notando que o beta estava a poucos centímetros de mim.

— Está cansado jovem mestre? — Taehyung perguntou, estava mais distante de nós. Concordei, embora não estivesse de verdade, mas não queria arriscar perder a paciência. — Tudo bem, acho que já tive o bastante, quem é o próximo?

Soobin se aproximou e fui até Yoongi, irritado.

— Você não escutou nada?

— Que?

— Minjae! Estava falando sobre mim.

— Não escutei — ele franziu o cenho, fitando o beta do outro lado do círculo, que sustentava um sorriso ardiloso. — Além de nós, muita gente tá cochichando por aqui. — falou e notei que era verdade, embora estivesse irritado por permitir me distrair daquela forma. — Você deveria ter ignorado aquele babaca e se concentrado só no Taehyung, assim como ele está fazendo conosco, estava se saindo bem no começo.

— Eu sei… Droga… — resmunguei impaciente. Tinha acabado de jogar fora minha chance de ir a patrulha com o vice-general e sua alcatéia. 

O treino realmente acabou depois do horário de almoço e não fiquei surpreso por não ser um dos escolhidos, embora ainda estivesse sustentando um pouco de esperança por ter me saído bem no começo. Jackson, Kyungsoo, Soobin, Hueningkai e Minjae foram os escolhidos, desse modo decidiram não ficar pra treinar um pouco mais para descansar e encontrar o Kim e sua alcatéia ao anoitecer para ir a patrulha.

— Isso não é justo — falei irritado, devorando meu almoço com uma expressão ranzinza. — Jackson é um alfa, ele tem vantagem com seus sentidos, diferente de mim que sou um ômega.

— Não diga isso — meu Hyung falou, chamando minha atenção. — Hueningkai foi escolhido e é um descendente lupino, o que significa que você teria vantagem sobre ele, que sequer possui os sentidos de um lobo — argumentou e desviei o olhar constrangido. — Não se saiu bem hoje, aceite isso e pare de colocar a culpa em seu genes o tempo todo, se esforce e faça melhor.

— Desculpe Hyung é só que… Eu me saí bem… E se o vice-general não me escolheu exatamente por ser um ômega? E se não me escolheu por ser o jovem mestre também?

Yoongi suspirou, erguendo as sobrancelhas e endireitando os ombros de tal forma que logo soube que outro sermão viria.

— Você precisa parar de generalizar tudo Jeongguk. Taehyung não é esse tipo de pessoa, se fosse sequer estaria aqui, ele foi contra seu pai e o aceitou como recruta, ele te treina da mesma forma que faz com os demais e te trata como igual, independente de ser ômega ou não. — disse sério e mordi os lábios contrariado. — Os outros alfas são uns babacas? São, mas nem todos, assim como todos os betas não são como Minjae ou eu sou como ele? — neguei rapidamente. — E você não é como todos os outros ômegas. — me lembrou. — Se quer parar de ser julgado por ser um ômega e sim por quem é, faça o mesmo com Taehyung, o julgue por quem ele é e não por ser um alfa. Convenhamos, ele não demonstrou ser o tipo de alfa que faria o que você disse ou seria?

— Não… — murmurei envergonhado. — Ele não fez nada do tipo…

— E o que isso significa?

— Que estou sendo um idiota hipócrita ultimamente — suspirei aborrecido comigo mesmo. 

Não queria estar fazendo esse tipo de coisa, mas bastasse ouvir a palavra alfa que eu já criava um milhão de pré-julgamentos e definições sobre o Kim e os demais devido ao meu histórico de convivência. Mas tinha que parar com isso, pelo menos com Taehyung, que até agora, não demonstrou nenhum comportamento que me desagradasse.

— Não seja tão duro consigo mesmo — Yoongi me abraçou. — Só pense bem em como tem olhado para o vice-general até agora e decida se foi justo ou não.

Concordei vencido, agradecendo-o por mais uma vez abrir meus olhos para algo que eu mesmo queria evitar. 

Eu não desejava apenas que os ômega fossem respeitados devidamente, eu queria que fossemos tratados igual aos demais, alfas ou betas, assim como eles deveriam ser.

— Eu vou treinar mais um pouco — me levantei em um pulo, me sentindo revigorado. — Se quero ser chamado pra próxima patrulha, tenho que me esforçar e melhorar, independente de ser ômega, porque o Hueningkai-ssi conseguiu o que significa que não trabalhei duro o bastante.

— Boa sorte — Yoongi riu, recolhendo seus pertences. — Porque eu vou pra casa dormir um pouco. 

— Preguiçoso — zombei.

— Ei, terei que ajudar meu pai na oficina mais tarde — argumentou, acenando para mim e retribui, correndo em direção ao campo, pegando uma espada de madeira.

Fiquei treinando sem parar, golpes, movimentos e até ousei colocar a venda e pedir ajuda de um dos recrutas que estava ali treinando também, praticando meus sentidos.

Aos poucos, cada um foi deixando o campo de treinamento, ficando apenas eu e meu escudeiro, que permanecia sentado debaixo de uma das árvores, me observando.

— Woozi-ssi, pode ir, só vou recolher minhas coisas e te sigo — falei ao meu aproximar. Já estava escurecendo e logo Taehyung e os demais se reuniriam para partir em direção á floresta. 

— Certeza? Eu espero.

— Sim, pode ir, serei rápido, chegue antes de mim e peça pra Ahri encher minha banheira, sim? — sorri cansado, porque tudo que eu mais queria era entrar na água quente e sentir os dedos ágeis de MiCha nos meus cabelos.

— Claro, jovem mestre — se curvou e montou em seu cavalo, partindo.

Me virei e recolhi as espadas de madeira que outros recrutas deixaram espalhadas, guardando-as no baú de uma das tendas e fui até Guloso, que se ergueu assim que me viu chegar.

— Ei garotão, te fiz ficar esperando né? Desculpe — lhe entreguei a maçã que não comi e acariciei sua crina, notando a sacola de pano com as botas presa a sua cela e me lembrei que esqueci de entregar a Taehyung. — Aigoo… E agora? — olhei ao redor e fui até uma das tendas pegando um pedaço de papel e lápis.


“As botas que você me deu estão sujas, então aceite estas no lugar, por favor.

Bom trabalho,

      Jeongguk.”


Voltei com o bilhete e o coloquei no saco, desamarrando-o da cela de Guloso. 

— Eu vou deixar isso na tenda do vice-general, me espera mais um pouco O.K? — pedi, rindo quando ele se balançou. — E coma rápido, temos que voltar pra casa.

— Já devia ter voltado — Minjae falou e me virei enojado, grunhindo ao vislumbrar o sorrisinho em seu rosto. — Ou veio aqui para deixar esse presente? É pro vice-general? — riu, puxando o saco de minhas mãos, retirando o bilhete. — Olha só… Ele te cortejou? Corajoso… — Zombou, jogando o papel no chão, pisoteando-o.

— Me devolve — bufei, tentando tomar o saco de suas mãos, mas ele era alguns centímetros mais alto e mais forte do que eu. — Minjae!

— O que um ômega vira-lata como você pensa que pode fazer, hein? Se engraçando com todos que vê por aí.

— Cale-se! — o empurrei enfurecido, puxando o saco de suas mãos, fazendo o mesmo cambalear surpreso. — Se continuar-

— Se continuar o que? — riu, dando um passo à frente, seu porte físico e altura me fazendo encolher os ombros.

Eu não era pequeno e magro como a maioria dos ômega, pelo contrário, mas Minjae ainda era nitidamente maior.

— Me deixe em paz.

— E se eu não quiser? Vai continuar usando seu título para me prejudicar? — rosnou, me empurrando. — Ou vai comprar o vice-general com esses presentes baratos? Se quer tanto subir entre os recrutas ofereça seu corpo a ele, deve valer um pouco mais.

Cerrei os punhos irritado e o empurrei com força, socando seu rosto no mesmo segundo, pegando-o de surpresa.

— Desgraçado… — vociferou trincando os dentes, avançando em minha direção e desviei a tempo, ouvindo Guloso relinchar e erguer as patas assustado.

Recuei ao vê-lo tentar acertar outro golpe, batendo as costas no cercado, vendo o momento exato em que ele ergueu os punhos em minha direção e fechei os olhos por instinto.

— Já chega! — estremeci ao ouvir a voz de Taehyung soar enfurecida e abri os olhos lentamente, vendo-o se aproximar com seus companheiros, fuzilando-nos com os olhos. — O que pensam que estão fazendo?

— Ele começou! — dissemos juntos e o Kim bufou, afastando o beta de mim.

— O que aconteceu aqui? — perguntou, nos olhando sério e de braços cruzados e engoli em seco ao sentir os olhares dos demais sobre mim.

Queria explicar sobre as malditas botas e o bilhete, mas só acabaria gerando a reação que eu desejava evitar.

Notando nosso silêncio o alfa suspirou contrariado e pediu para todos irem à tenda se preparar.

— Vá Minjae, falo com você depois — ditou e o beta concordou assustado, seguindo os demais.

Me aproximei de Guloso e acariciei seja rosto tentando acalmá-lo, resmungando baixinho.

— O que aconteceu aqui, jovem mestre?

— As botas — falei, entregando-lhe o saco de pano agora sujo de terra, ao menos elas ainda estavam limpas. — Eu trouxe pra você, eu… Hum… Fique com elas.

O alfa franziu o cenho e pegou o saco, arregalando os olhos surpreso.

— I-Isso…

— Não pense errado! — me apressei em dizer. — As que me deu estão sujas então julguei melhor lhe dar uma nova, como fez comigo — expliquei, indicando o bilhete amassado no chão. — Eu ia deixar na sua tenda com um bilhete, mas o Minjae apareceu e estragou tudo.

— É por isso que brigaram?

— Não — neguei. — Eu o soquei porque me chamou de… — engoli em seco, sentindo minha garganta arder com o esforço. — Ele fez uma insinuação da qual não gostei.

— Que tipo de insinuação? — me fitou sério, forçando o maxilar e logo reparei que estava trincando os dentes. 

Dei de ombros, não queria repetir em voz alta.

— Não importa mais, ele teve o que merecia e eu deveria ter batido mais e-

— Não faça mais isso — pediu, se aproximando de mim, avaliando-me com uma expressão preocupada. — Não estou te treinando para entrar em brigas dessa forma.

— Queria que eu o escutasse me insultar sem fazer nada?

— Não, mas deixe que os outros cuidem disso, diga a seu pai ou.... Hum, a mim, se quiser.

— Você? Por que?

— Porque, hum, eu sou o vice-general, é meu dever cuidar dos recrutas.

— Você disse a mesma coisa quando me deu as botas — o lembrei, erguendo as sobrancelhas descrente. 

— Então faça o que lhe pedi e não fique até tarde treinando, é perigoso — pediu e cruzei os braços, negando.

— Você não manda em mim e nada vai acontecer, meu escudeiro fica comigo, ele só foi embora mais cedo porque pedi e se Minjae me irritar novamente tomarei o cuidado de chutar no meio das pernas dele na próxima vez.

O Kim conteve um sorriso e negou com a cabeça, apreensivo.

— Não arrume confusão com ele novamente gracinha, Minjae é grande e forte, é perigoso.

— Ele é grande, mas não é dois! — retruquei aborrecido.

Não sou um ômega indefeso e incapaz de cuidar de mim mesmo, bastasse um simples beijo meu e Minjae estaria morto.

Taehyung revirou os olhos, mordendo o lábio a fim de evitar uma risada e se afastou, me observando com atenção e curiosidade.

— Vá para casa jovem mestre — ditou e grunhi contrariado. — Nos vemos nos treinos amanhã.

Dei de ombros e me virei, montando em Guloso, galopando para longe do alfa.


Assim que cheguei em casa e deixei meu cavalo nos estábulos, subi correndo para meu quarto irritado, ignorando o chamado de minha irmã, que me seguiu teimosa.

— Somi, por favor, vá embora — pedi, retirando minhas botas frustrado. Logo Ahri viria me dar uma bronca por não fazê-lo antes de entrar.

— O que houve orabeoni?

— Nada, só estou cansado.

— Você é um péssimo mentiroso, sabia? — ela disse, sentando-se ao meu lado da cama. — Me conte ou não lhe direi o que descobri.

A encarei curioso e suspirei vencido. Ela sempre sabia como arrancar informações de mim.

— Tive uma briga com Minjae, sabe, aquele beta que me desrespeitou luas atrás — me deitei e ela fez o mesmo, na minha frente. — Ele disse coisas ruins sobre mim Somi-ah…

— Orabeoni — ela choramingou e me abraçou, arrancando um sorriso triste de mim. — Não ligue pra esse beta bobão, você é um irmão incrível, o melhor de todos!

— Mesmo?

— Mesmo, mesmo!

— Aigoo — funguei e a abracei também. — Obrigado…

— Não me agradeça, é a verdade — se afastou, me olhando surpresa. — E quem ganhou a briga?  — questionou curiosa.

— Acho que foi um empate — murmurei pensativo.

— Precisa treinar mais pra desempatar então — me deu um tapa fraco no braço e estremeci dolorido. — O que foi? Está machucado?

— Hum, não, estou bem.

— Já disse que é um péssimo mentiroso! — se levantou e saiu correndo do quarto, me deixando ainda mais confuso.

Me sentei na cama e me ocupei em retirar minhas meias, dando um pulo assustado quando Somi voltou com um pote em mãos e um olhar determinado.

— Deixe-me ver o machucado orabeoni — pediu e neguei, praguejando quando ela bateu os pés e puxou minha camiseta.

— Aish! Somi-ah! — bufei, cruzando os braços aborrecido enquanto tentava impedi-la. — Pare com isso!

— Eu vou cuidar de você.

— Você é só uma criança, sai daqui sua doida!

— Eu tenho treze anos!

— Uma criança!

— Pelo menos eu tenho um noivo!

— Aigoo sua pirralha mimada! — bufei, afastando-a de mim. — Jaewon é dez anos mais velho que você.

— Mas ele é meu amigo e prometeu esperar eu crescer.

— Isso é nojento!

— Ele também não quer se casar comigo! — me mostrou a língua. — Ele só está me ajudando!

— Ajudando com o quê?

— Não é problema seu! — ralhou, me empurrando.

Arfei surpreso e segurei seus pulsos.

— Somi-ah, me conte!

— Não, eu sou uma criança lembra?

— Tudo bem eu retiro o que disse, agora me conte.

— Você é um péssimo mentiroso — choramingou. — E pare de mudar de assunto eu quero cuidar do seu machucado.

— Mas eu estou bem- me calei quando ela cutucou minha cintura, bem no corte, me fazendo fechar os olhos dolorido. — Ai!

— Viu? Deixa eu passar essa pomada, é boa — garantiu, me mostrando o potinho e a olhei desconfiado.

— O que é isso?

— É uma pomada, já disse — respondeu, obrigando-me a virar. — Eu quem fiz.

— Tira isso de perto de mim — praguejei mas a ômegazinha é mais forte do que parece e me segurou, impedindo-me.

— Vai melhorar eu juro.

— Desde quando faz pomadas Somi?

— Abeoji me deu aquela estufa de presente lembra? Eu plantei algumas ervas e flores e comecei a estudar, eu gosto.

— Por que? — olhei para seu rosto concentrado sobre o ombro.

— Para encontrar uma cura.

— Uma cura?

— Pro seu veneno — explicou, sem desviar o olhar da região na qual passava a pomada e pisquei surpreendido, sentindo meus olhos lacrimejar.

— Somi-ah… Não existe cura…

— Todo veneno tem um antídoto — retrucou. — Tenho mais tempo de estudar que você já que será o futuro herdeiro e quero fazer algo de útil além de me casar — murmurou. — Também quero ajudar, orabeoni, quero ser mais que uma ômega obediente e sem graça, quero fazer a diferença como você...

Engoli em seco, tocado por suas palavras. Nunca tinha imaginado que minhas atitudes pudessem influenciar Somi dessa forma, sempre pensei que ela me visse como um problema, o motivo de ter que se casar já que eu não conseguia ser desposado.

— Obrigado… — sussurrei agradecido. Ela não encontraria uma cura, não quando o próprio Sábio dos Montes não conseguia, mas sua intenção bastava para mim. — E desculpe-me, por chamá-la de criança… Você está crescendo e amadurecendo, estou orgulhoso.

— Orabeoni... — Somi fungou baixinho, secando as lágrimas rapidamente e ri soprado, me lembrando que ela continuava um bebê chorão.

— Vou confiar em você então, tudo bem? — continuei, me virando quando ela terminou de passar a pomada na região. — Você vai me salvar, certo?

— Si-Sim, orabeoni, eu vou — concordou rapidamente, escondendo o rosto com as mãos. — Prometo.

— Promete? Aigoo, os Espíritos estão vendo, terá que cumprir agora, hein?

— Tud-Tudo bem — murmurou, formando um bico adorável com os lábios e a abracei com força.

— Agora pare de chorar e me conte o que você descobriu… — mudei de assunto. Não tinha esquecido do que me dissera momentos atrás.

— Ah, sim! — ela se afastou de repente. — Ómoni convidou outro alfa, ela me disse que escreveu uma carta ontem à noite!

— Eu já sabia disso — suspirei, me deitando na cama após vestir uma camisa larga. — Mas acredito que ele não virá…

— Mesmo? Por que?

— Digamos que seu orabeoni já cuidou disso — ri sádico e Somi franziu o cenho, confusa. — Confie em mim.

— Eu confio — garantiu, se deitando ao meu lado. — Posso dormir aqui com você hoje? — pediu sonolenta e concordei, cobrindo-nos com o cobertor.

Fechei os olhos e agradeci mentalmente aos Espíritos por ter uma irmã tão boa quanto Somi, adormecendo rapidamente logo em seguida, ignorando o barulho estranho que escutei vir do lado de fora. Jungwo tinha me proibido de sair sem permissão, então de nada adiantaria alimentar minha curiosidade, afinal, provavelmente não era nada.


×

[1741 d.e]

Junho, décima primeira lua do mês, verão



Assim que cheguei no campo de treinamento fui pego de surpresa com a locomoção entre os recrutas, reunidos em um círculo tagarelando sem parar sobre algo que eu estava louco para descobrir. Desci de Guloso às pressas e deixei as rédeas nas mãos de meu escudeiro, correndo em direção ao grupo, me enfiando entre a aglomeração.

— O que aconteceu? — perguntei a Yoongi Hyung, que se encontrava mais à frente.

— Houve outro ataque — disse com um semblante sério. — Jackson e os outros viram tudo, soldados de Ume invadiram os portões e silenciaram os sentinelas, sequer puderam acionar os moradores com o sino.

Arregalei os olhos assustado e confuso.

— Se invadiram, por que estamos todos bem? 

— Eles não tentaram atacar os habitantes, foram direto pra floresta e tentaram… — Engoliu em seco e me fitou com atenção. — Eles tentaram atacar sua casa.

— O qu-quê… Eu…

— O mestre Jeon alertou o vice-general e os demais, eles conseguiram afastá-los antes que chegassem perto — continuou, indicando Jackson e Minjae, que narravam com entusiamos como ocorrera o ataque. — Os recrutas que o Kim convidou ontem ficaram em perigo e um dos membros da alcatéia teve que escoltá-los de volta, mas não deu tempo, houve uma batalha na floresta.

— Pelos Espíritos! — arfei angustiado sentindo meu coração falhar uma batida. — E o que aconteceu?

— Nós o derrotamos! — Minjae falou alto e desviei o olhar pro beta, que sustentava um sorriso ardiloso.

— Nós não — Kyungsoo o interrompeu. — Taehyung cuidou de tudo com seus companheiros, foi surpreendente — narrou, a voz soando grave de tal forma que todos os recrutas entreabriram os lábios espantados. — Nós ajudamos, claro, mas o vice-general cuidou de todos eles.

— Ele estava assustador — Hueningkai comentou, se encolhendo quando todos lhe fitaram com atenção. — Ele se transformou em um lobo negro gigante e quase partiu um dos soldados inimigo ao meio com os dentes — estremeceu e fiz o mesmo só de imaginar.

— E antes disso, ele atravessou o crânio de dois deles com suas flechas — Jackson riu admirado, como se tal fato fosse divertido.

— E então? — um beta perguntou curioso. — O que aconteceu com os invasores?

— Foram todos mortos, assim que o mestre Jeon chegou após despistá-los para longe de sua hanók, o vice-general e sua alcatéia cuidou de tudo — Kyungsoo respondeu. — Tudo que pudemos fazer foi dar-lhes cobertura, mas eles não precisavam de nossa ajuda de fato, eles… São surpreendentemente bons.

Ainda sentia meu coração disparado com tal informação, lembrando-me de ter ignorado um barulho antes de dormir na noite passada. No fim, era meu abeoji nos protegendo de outro ataque. 

Os inimigos de Bane estavam cada vez mais determinados a nos atingir e estava surpreso por meu abeoji não ter me proibido de vir esta manhã treinar, conhecendo-o bem, teria me trancado em meus aposentos. A menos que…

— Eles estão bem? O vice-general, meu abeoji e os outros? — questionei angustiado. Não tinha falado com meu abeoji esta manhã como de costume, visto que saia mais cedo para os treinamentos e não os acompanhava durante o café da manhã.

— Eles estão bem — Soobin se pronunciou pela primeira vez, era um dos recrutas que foi chamado para acompanhá-los na patrulha, mas parecia assustado com tudo que ocorreu, diferente dos demais que narravam o ocorrido empolgados. — Quer dizer, ninguém morreu, mas o vice-general ficou bastante ferido.

Engoli em seco, sentindo meu peito comprimir com tal sentença, enquanto o ar parecia se tornar escasso.

 — Ba-Bastante…? — sussurrei preocupado, sentindo o braço de Yoongi Hyung circular meu pescoço.

— Que bagunça é essa? — o comandante Minho gritou e nos afastamos surpresos. — Em posição, vamos! 

Corremos para o centro do campo e foi praticamente impossível não notar a tensão no ar quando os demais membros da alcatéia do vice-general chegaram, mas o próprio não.

— Provavelmente sabem do que aconteceu na madrugada da noite passada — falou, suspirando cansado e notei alguns curativos em seu braço. — Todos estão bem e não tivemos perdas, então tirem essa expressão de luto do rosto e se concentrem! Algo assim pode e vai acontecer novamente e cabe a nós tomar os devidos cuidados para proteger os habitantes, entendido?

— Sim, senhor! — dissemos, embora o bolo ainda se formasse em minha garganta. Queria saber se Taehyung estava mesmo bem.

— Ótimo… Hoje faremos o mesmo treinamento para aprimorar a audição de vocês, alguns recrutas que estiveram conosco na noite passada entende 

como isso foi capaz de nos manter vivos — comentou e avistei Jackson concordar com a cabeça. — O vice-general não poderá vir supervisioná-los hoje porque acabou se machucando um pouco e precisará descansar, mas amanhã ele estará de volta e não vai ser bonzinho com vocês se cometerem erros, estamos entendidos?!

— Sim, senhor!

— Ótimo, façam seus aquecimentos e logo começaremos…


Os treinos ocorreram sem complicações e eu me saí bem mesmo perdendo a concentração com frequência, buscando Taehyung entre os membros do esquadrão inconscientemente, esperando ouvi-lo gritar com um de nós por errar algum movimento.

Era estranho não tê-lo por perto.

Minjae não dirigiu uma única palavra a mim durante os treinos, o que foi surpreendente, embora eu imaginasse que fosse porque ele estava animado demais com toda a atenção que estava recebendo de alguns betas por ter presenciado todo o ataque e “ajudado”.

— Você melhorou muito — Yoongi Hyung me elogiou e dei de ombros. —Treinou tanto assim ontem?

— Treinei…

— Você está bem?

— Estou é só que… Estou preocupado, o Ta- o vice-general se saiu tão bem no ataque como os outros disseram, mas também acabou super machucado, não é estranho?

— Soube que ele estava sozinho quando a maioria atacou, ele precisou cuidar deles enquanto seus companheiros alertavam os demais e auxiliavam o mestre Jeon.

— E deixaram ele sozinho? Não parece certo…

— Foi uma ordem dele Jeongguk — respondeu, me observando com atenção. — Se está tão preocupado assim, vá visitá-lo.

— O que?

— Vá até lá e confirme se ele está bem.

— Não é nada disso, eu só-

— Não mata admitir sabia? — riu, montando em seu cavalo. — Quer ir ou não? podemos pedir às suas servas para descobrirem onde ele mora, elas são tão boas que conseguirão.

Mordi o lábio inferior incerto. Eu estava preocupado e curioso, na verdade, com tudo que aconteceu, se eu pudesse vê-lo rapidamente talvez ele me contasse qual o propósito real dos inimigos… Isso… E eu poderia levar a pomada de Somi, que acabaram sendo bem úteis…

— Hum, tudo bem, mas rapidinho — montei em Guloso ignorando o olhar malicioso que ele me direcionou. — E pare de sorrir assim, eu só estou indo vê-lo porque você disse e porque estou curioso sobre o ataque, nada mais!

— Eu não disse nada…

— Nem precisa — ralhei, desviando o olhar do seu. — Vamos rápido para acabar logo com isso!


×


Não foi difícil para Ahri descobrir onde o alfa morava, muito menos distrair Jieun  durante minha fuga com Yoongi Hyung à casa de Taehyung. 

Chegando lá, fomos surpreendidos com algumas ômegas barrando a entrada, todas tagarelando sobre desejarem ver o vice-general enquanto uma mulher de idade aparente as impedia da porta. Ela tinha feições semelhantes as de Taehyung, então supus que fosse mãe do mesmo.

— Voltem para casa de vocês, meu filho está bem e só precisa descansar, parem de causar confusão — pediu e puxei Yoongi comigo para trás de uma carroça, observando tudo com atenção.

— Ele é mesmo popular — Yoongi riu. — Você tem muita concorrência hein.

— Ah, cale-se — revirei os olhos, vasculhando o local em busca de uma forma de entrar sem ser visto pela mãe do alfa. — Não tenho esse tipo de intenção com o vice-general.

— Ah, não?

— Não! E estou aqui apenas para descobrir mais sobre o ataque.

— E para dar essa pomada — me lembrou e concordei. — É o jovem mestre, basta dizer isso e ela o deixará entrar.

— E causar mais fofocas sendo visto por essas ômegas? De jeito nenhum.

— O que pretende fazer então?

— A janela — indiquei. — Vamos dar a volta no terreno, pular o cercado e entrar por ali.

— Aish… Isso não vai acabar bem — protestou, me seguindo mesmo assim.

Entramos no terreno sem dificuldades e nos aproximamos da janela, mas o quarto estava vazio, então fechei os olhos e tentei me concentrar no cheiro de Taehyung, sentindo-o não muito distante, cacau e grama molhada, intensos.

— Por aqui — sussurrei e apressamos o passo abaixados, observando uma janela aberta com cuidado. 

Para minha surpresa Taehyung não estava sozinho, Sábio-ssi se encontrava sentado na cama á sua frente, trocando seus curativos, passando um tipo de gel na ferida do Kim.

"Provavelmente eram mais eficazes que os meus…"

— Há muitas ômega lá fora — Jimin comentou, sorrindo malicioso. — Elas gostam de você, hein, garanhão.

Taehyung negou com a cabeça, indiferente e me ergui para escutá-los melhor. Tinha que esperar o Sábio-ssi ir embora para entrar.

— Elas não gostam de mim — respondeu, praguejando quando o Park passou mais do gel em sua ferida. — Ai, não use tanto, atrapalha meu olfato. — protestou. — Elas gostam dos meus genes. 

— Isso não é verdade, você é interessante e atraente — Jimin assegurou, enfaixando seu braço machucado.

— Isso não importa pra elas no momento, aparentemente. Estamos em guerra, Bane precisa de novos alfas, assim como precisamos dos ômegas para continuar a linhagem — reclamou. — Mas é estranho, sempre que um ômega vem falar comigo é para dizer como são obedientes, bons cozinheiros, organizados, limpos… — explicou e prendi a respiração, escutando-o com atenção. — Eu não gosto disso, não parece que desejam um parceiro e sim um emprego — ralhou e ergui as sobrancelhas  surpreso com sua resposta. 

— Um emprego? — Sábio-ssi riu, negando com a cabeça. — Taehy…

— É sério — insistiu. — Só falam sobre como podem fazer tudo que eu desejar… Eu não quero isso, quero um companheiro e não um escravo. 

Arfei e me escondi quando Yoongi me puxou, temendo que tivessem me escutado. Meu Hyung levou o dedo em direção aos lábios, pedindo silêncio.

— O que você espera, que eles se rebelem? — o Park questionou e me remexi inquieto. 

Era igualmente estranho ouvir um alfa dizer aquelas coisa e só me sentia ainda mais determinado a escutá-los. Mesmo que não devesse, já estava ali de qualquer forma e tinha que esperar para entrar e conversar com ele. Seria ruim sair agora, certo?

— Um pouco de rebelião não faria mal — o alfa respondeu, rindo sem graça. — Gosto de ser surpreendido.

— Boa sorte então, para encontrar um ômega assim que esteja disposto a se casar com você.

— Bem, eu-

— Além dessas ômegas, existem outras em Bane e precisa dar uma chance a elas, mesmo que estejam interessadas em você por seus genes, não pode se esquecer que isso é algo da qual deve se orgulhar, ser filho de dois alfas é quase uma raridade.

Yoongi e eu nos entreolhamos de olhos arregalados, surpresos com essa informação.

— Não faz diferença porque não nasci um lúpus — retrucou. — Sou um alfa puro mas não sou um lúpus, faz algum sentido?

— Não, mas nada costuma fazer quando se trata dos Espíritos, eles agem de maneiras confusas.

— Eu sei…

— Ainda assim, não deixe algo assim afetá-lo, sua mãe é uma alfa e foi contra a própria honra lupina para conceber você e seus irmãos mais novos. E seu pai está lutando na frente da batalha agora, precisa manter o controle sobre essa família.

— Não precisa me dizer o que já sei — bufou. — Nem sei o que pensar sobre isso, se quer saber a verdade. Minha mãe é uma alfa e uma ótima guerreira mas não pode ir pra guerra por ser mulher, no entanto, mandaram meu pai que sequer sabe segurar uma espada direito.

Jimin gargalhou e me ergui com Yoongi, espiando os dois conversarem. O Sábio já tinha cuidado de todas as feridas do Kim.

— Não diga isso, ele é um bom guerreiro.

— Ele é um bom estrategista e espião, isso sim, mas deveriam ter mandado ela para a guerra, as chances de voltar viva seriam maiores — zombou descontraído. 

Ele não soava como se estivesse desejando ou caçando seus pais, parecia ser apenas uma piada interna que eu infelizmente não sou capaz de compreender.

— Seu pai sempre se dava mal quando precisava lutar — Jimin comentou, rindo alto. — Ele não conseguia segurar a espada direito, sempre foi muito lento, até mesmo eu quando era criança era melhor.

— Ele é um desastre — o alfa concordou, secando uma lágrima. — Me lembra alguém.

— Quem?

— Jeongguk.

Senti meu coração falhar com a breve menção, embora não tenha gostado nem um pouco.

— Se refere ao jovem mestre?

— Sim, eu lhe disse que ele estava treinando conosco e insiste em usar espadas, mas é tão ruim quanto meu pai.

Cerrei os punhos e pensei em entrar por esta janela só para pegar o alfa de surpresa, mas Yoongi me segurou, negando com a cabeça, embora estivesse com um sorrisinho nos lábios.

Dois idiotas!

— Basta praticar, ainda estão no começo dos treinos, ele vai melhorar — Sábio-ssi respondeu e sorri convencido. Ao menos ele estava do meu lado.

— Não… Jeongguk deveria tentar outra arma, estive pensando esses dias e um chicote seria ideal…

— Está falando sério? — Jimin o olhou espantado e não o julgo por isso, porque o alfa certamente estava delirando, embora não estivesse surpreso, ele tinha me dito isto algumas luas atrás. — Esses chicotes são ainda mais difíceis de manusear, além de sua mãe, não conheço ninguém que o faça tão bem por aqui.

— Eu sei…

— Como vai treiná-lo com um chicote se você mesmo não é tão bom?

— Eu aprendi quando era mais jovem!

— Mas não o bastante para treinar o jovem mestre.

— Eu poderia pedir ajuda à minha mãe, ela poderia treiná-lo.

— Está louco? — o Park riu incrédulo. — Sabe que ninguém aceitaria ter uma mulher ensinando-lhes, não é? Mesmo que seja uma alfa.

— Ela não precisa ensinar todos, apenas ele. — murmurou convicto.

— Não acho que deveria se preocupar com isso, ele não se tornará um guerreiro, o mestre Jeon disse que os treinos são para que ele possa se proteger, não é como se fossemos enviá-lo para as linhas de batalha, então não é importante que ele tenha mesmo uma arma ou algo assim — Sábio-ssi argumentou. 

Eu não iria pra guerra e isso era certo, mas eu queria sim me tornar um guerreiro.

— Eu discordo, ele estará em segurança se tiver uma arma da qual esteja familiarizado com ele, é importante.

— Ele não precisa de uma arma, acredite — Jimin retrucou e senti meu coração acelerar só com a possibilidade de ele contar meu segredo, o que seria um desastre porque Yoongi não sabia que ele era o Sábio dos Montes. Ninguém sabia. E eu não queria que Taehyung soubesse que além de dispensável, era amaldiçoado.

— Ele tem guardas, eu sei — Taehyung deu de ombros e suspirei aliviado.

— Exato, bom… Eu preciso ir, tenho que cuidar de umas coisas, descanse.

— Sim, senhor — Taehyung respondeu com um sorriso pequeno.

Assim que o Sábio saiu, me preparei para entrar mas notei Yoongi se afastar.

— Hyung! — sussurrei. — Onde vai?

— Aquele cara… Ele não tinha nenhum cheiro lupino — respondeu. — Não é estranho?

— Idai?

— Eu senti o cheiro de pão recém assado e mel vindo dele — continuou, os olhos castanhos brilhando de forma única. — Mas não era dele de verdade entendeu? Tipo, era como se ele tivesse absorvido… Como seus perfumes…

— Não entendo.

— Nem eu. Todos possuem algum traço lupino mas ele não tem nenhum, é possível? Nunca vi nenhum humano assim — continuou, e logo notei que ele estava curioso e tentado a seguir o Sábio, o que não era uma boa ideia, mas eu não podia dizer-lhe isso.

— O que vai fazer?

— Quero verificar uma coisa… Então fale com seu alfa e me encontre na pontezinha perto do lago da cidade.

— Ele não é meu alfa! — o lembrei. — Tudo bem, pode ir — respondi ainda sussurrando.

Espero que o Sábio-ssi note estar sendo seguido, seria mais seguro se meu Hyung não descobrisse seu segredo, os Espíritos não pareciam bondosos quando se tratava do escolhido deles.

Respirei fundo e pulei, entrando pela janela, notando com o canto dos olhos o momento em que Taehyung se virou assustado.

— Pelos Espíritos! — falou, puxando o lençol para esconder o tronco nu. — Não faça uma coisa dessas sem avisar antes gracinha.

Ele parecia envergonhado e foi inevitável não rir da situação, embora não se devesse ao fato de estar sem camisa e sim machucado, como se não quisesse ser visto dessa forma.

— Parece que você teve uma noite difícil, hein lobinho — provoquei, comprovando minha hipótese quando ele rosnou baixinho, evidenciando o quão orgulhoso era.

— Saiba que as pessoas que fizeram isso ficaram piores — retrucou convencido e dei de ombros porque não duvidava de suas palavras depois de ouvir os recrutas narrar o ocorrido.

— Mesmo? Não sei não… — ri, me sentando na beira da cama, prendendo a respiração por estar novamente em um lugar cercado pelo seu cheiro.

— Não duvide das palavras de um alfa — falou, sentando-se ereto, o movimento fazendo um pouco do lençol cair de seus ombros, evidenciando a clavícula marcada e o tronco bronzeado.

Engoli em seco, amassando o tecido de minha camisa com força, contendo novamente meu lobo interior que despertou assim que senti seu feromônio me atingir.

— Nenhum alfa além de meu abeoji me deu motivos para confiar em suas palavras.

— Me deixe ser a exceção então,gracinha

— pediu abrindo outros de seus sorrisos ladinos e cínicos.

— Faça por merecer, lobinho — ditei, retribuindo o sorriso.

O alfa mordeu o lábio levemente e concordou, como se aceitasse meu desafio.

— O que o traz aqui?

— Ah — pisquei constrangido. — Soube do que aconteceu e fiquei um pouco preocupado e curioso.

— Preocupado comigo? — sorriu quadrado e não neguei, embora quisesse.

— Com todos, na verdade — continuei. — Então queria saber qual o motivo do ataque e-

— Não posso lhe dizer, pergunte a seu pai, sinto muito.

— Ma-Mas…

— Tudo que posso lhe contar é que eram soldados de Ume, aldeia aliada de Aloysia, a mesma que sequestrou Hanseo, filha do Mestre Kim.

— Então… Eu era o alvo dessa vez? — murmurei e ele não me respondeu.

— Fale com seu pai, jovem mestre, ele sabe mais do que ocorre que eu, sou apenas um soldado.

— Mas é o vice-general.

— Ainda assim, não sou o general — me lembrou. — Desculpe.

Suspirei vencido e concordei. Não podia obrigá-lo a me contar algo mesmo se ele soubesse.

— Tudo bem… Eu também trouxe essa pomada — entreguei, porque não podia dizer que vi Jimin passando nele antes ou ele descobriria que o espionei de novo. Era um péssimo hábito, tinha que parar.

— Obrigado — ele riu, desviando o olhar constrangido e senti minhas bochechas ruborizar.

— Não pense que estou, err… Você sabe, não é isso…

— Como as botas? — ele riu e concordei. — Mas estávamos quites com ela, agora terá que aceitar algo meu em troca, já que me trouxe esta pomada — falou, molhando os lábios com a língua, curvando-se em minha direção, fazendo o lençol deslizar e mostra o restante de pele que ele tentou esconder antes.

— N-Não precisa, é só uma pomada boba!

— Mesmo? Eu ficaria feliz em retribuir — insistiu, aproximando-se um pouco mais, apoiando  o braço que não estava machucado ao lado do meu corpo, próximo o bastante para que eu sentisse sua respiração mesclar-se a minha.

"Mova-se Jeongguk, saia dai!", pensei, mas me mantive parado, fitando o olhar intenso que ele dirigia a mim.

— Que tipo de retribuição? — perguntei em um sussurro, me xingando mentalmente logo em seguida.

O que diabos eu estava fazendo? Porque não o afastava de uma vez? Porque meu lobo interior reagia de forma tão desejosa e me obrigava a ficar um pouco mais? 

Era irritante.

— Do que você gostaria, gracinha? — perguntou, a voz grave soando ainda mais aveludada devido ao tom baixo que usou.

 — E-Eu… — mordi o lábio levemente, desviando o olhar do seu, incapaz de sustentar por tanto tempo.

O que eu poderia querer? Não sabia o que pensar ou pedir naquele momento.

— Sim…? — sorriu canalha, atraindo minha atenção para seus lábios e a maldita língua traiçoeira que serpenteava entre os dentes.

Era definitivamente uma mania que eu detestava.

— Quero aquela espada — falei, me lembrando de ter visto a mesma em seu baú, quando entrei em sua tenda luas atrás. — A que você guardou do beta inimigo que atacou os portões.

Taehyung franziu o cenho, confuso com meu pedido, mas concordou.

— Tudo bem, ela é sua então — disse indiferente e sorri largo.

Finalmente eu a teria para mim! E bastou pedir! 

— Ótimo, assim não ficaremos devendo nada um ao outro — ditei e ele concordou, ainda próximo o bastante pro cheiro de cacau me deixar desnorteado. 

— Infelizmente… Mas sou um alfa de palavra, lhe darei a espada amanhã.

— Eu agradeço.

— Sem problemas gracinha — sorriu, pendendo a cabeça para o lado, fazendo alguns fios longos de sua franja cobrir-lhe os olhos.

Antes que eu pudesse ao menos pensar em afastá-los escutei passos vindo do corredor e a voz da mulher que imagino ser a mãe do Kim, então me afastei do mesmo subitamente.

— Eu vo-vou indo.

— Use a porta — ele riu, quando saltei pela janela. — Hum, ok, a janela também serve… Tchau então — acenou e retribui, correndo para o mais longe possível do alfa.

Encontrei meu Hyung na ponte e suspirei aliviado ao escutá-lo dizer que perdeu o Sábio-ssi de vista, me despedindo logo em seguida, voltando para casa com um sentimento estranho no peito.


×


[1741 d.e]

Junho, décima segunda lua do mês, verão



Taehyung apareceu para o treinamento desta vez, embora tenha ficado apenas nos observando sentado, o braço direito tomado por curativos que eu sabia que não acabavam ali. 

Ele se desculpou por colocar os recrutas em perigo e disse que não voltaria a fazer tal coisa novamente até que tivesse certeza de que seria seguro. Isso me deixou um pouco chateado, porque estava me esforçando para ser escolhido na próxima vigilância, mas compreendia que a decisão tomada por ele era a mais adequada.

Os exercícios foram os mesmos e sorri satisfeito por ter me saído bem desta vez, contente por também receber um elogio do Kim e de Yoongi Hyung. 

Assim que os treinos acabaram o alfa foi para sua tenda cuidar de outros assuntos, visto que não podia acompanhar os demais na patrulha por ainda estar machucado e foi evidente o descontentamento do mesmo.

Yoongi Hyung foi embora após o almoço com a desculpa de que iria ajudar o senhor Min na oficina, mas eu sabia que ele pretendia procurar Jimin-ssi pela aldeia e se o Park não fosse o Sábio dos Montes eu lhe diria que o mesmo trabalha na padaria, mas não queria arriscar, minha intuição me dizia que era melhor mantê-los longe um do outro.

Então, após me despedir dele, voltei a treinar um pouco mais com os betas que decidiram ficar no campo, reparando que Taehyung também não pretendia ir embora tão cedo, provavelmente determinado a ser útil de alguma outra forma.

Conforme o tempo foi passando, o campo se esvaziou até que ficasse apenas eu, meu escudeiro e o Kim em sua tenda. Já iria escurecer, então acenei para Woozi pedindo que ele esperasse um pouco mais e comecei a recolher meus pertences, resmungando sempre que encontrava algo de outro recruta e precisava levar à tenda menor ou armazém.

Precisava continuar me esforçando para provar a Taehyung que era capaz de manejar uma espada, diferente do que o ouvi dizer no dia anterior. Bastasse me concentrar e-

Paralisei, escutando um som estranho vindo das árvores e franzi o cenho, apressando o passo para longe, me aproximando de Woozi.

No entanto, fui pego de surpresa quando alguém colocou uma espécie de pano na minha cabeça e mãos firmes prenderam meus pulsos, me puxando bruscamente para trás.

Gritei assustado, me sacudindo, tentando me desvencilhar do aperto, conseguindo me afastar com dificuldade, caindo no chão bruscamente, grunhindo ao sentir meu joelho e braço machucar.

Paralisei e me virei, notando que tinham prendido meu pulso e eu não conseguia enxergar nada, embora escutasse os resmungos dos responsáveis.

Respirei fundo e tentei me acalmar, atento à seus passos e girei no chão a tempo de evitar um ataque, rolando o corpo, chutando a região onde imaginei que estivessem e por sorte — ou não — meus pés atingiram alguém, que caiu sobre mim, grunhindo dolorido.

— Maldito… — o sujeito rosnou e ergui as pernas, chutando-o mesmo que não pudesse vê-lo, mas conseguia sentir seu corpo se afastar e me levantei, me balançando enquanto conseguia me livrar das cordas mal amarradas.

Retirei o pano da cabeça e arregalei os olhos, me afastando á tempo de não ser pego novamente.

— Woozi! — gritei, notando com o canto dos olhos que meu escudeiro estava ocupado demais lutando contra dois betas de estatura mediana. — Taehyung! — chamei, correndo dos dois homens que tentavam me pegar, avistando outros três entrar na tenda onde o Kim estava.

Droga! 

Avancei em direção a tenda onde guardavamos as armas e peguei uma espada, me virando a tempo de bloquear o ataque de um dos betas inimigo, que riu e ergueu a sobrancelha desafiador.

— Não tão rápido — ele falou, me chutando bruscamente, lançando meu corpo contra o baú que guardava as armas, derrubando todas. Peguei uma adaga e joguei contra o homem, que desviou sem muito esforço. — Você é mais bonito do que imaginávamos — falou, rindo quando tentei atacá-lo com a espada de novo, arrancando-a de minhas mãos com facilidade. — Mas é um pouco arisco, tsc.

— Saia! — gritei, me afastando do ataque do outro beta, tropeçando em um dos equipamentos, notando ser um chicote velho, de comprimento razoável, com as cordas de metal revestidas de lâminas de ferro, tão afiadas que se assemelhavam a escamas de dragão.

Agarrei o objeto e me afastei antes que pudesse ser atingido novamente, movendo o braço com força, lançando a corda contra o homem, que ágil contornou seu calcanhar me fazendo piscar surpreso junto com o mesmo que desviou o olhar do meu para o próprio pé. Então a puxei com força, arfando quando o beta gritou dolorido no momento em que as lâminas rasgaram sua pele e ele caiu para trás com o impacto do puxão, batendo a cabeça contra o chão, apagando no mesmo instante.

Arregalei os olhos junto do companheiro do beta inimigo, que me encarou cauteloso, rosnando irritado.

— Ora seu...-

Cambaleei para trás e lancei o chicote contra ele, as lâminas afiadas rasgando sua roupa e a carne de sua cintura, arrancando um grito de dor do mesmo e filetes de sangue, fazendo-o me lançar um olhar furioso.

Ele ergueu a espada contra mim e desviei a tempo, o chicote era leve e acelerava meus movimentos. Por isso, não foi difícil investir contra ele novamente, a ponta do chicote enrolou em seu braço e o puxei sem remorso, fechando os olhos quando ele gritou angustiada novamente. Era de fato uma arma poderosa. 

O beta caiu no chão e corri em sua direção, prendendo suas pernas com uma corda que encontrei, amarrando-o ao companheiro desacordado.

— Fi-Fique aqui — disse ansioso, sentindo minhas mãos tremer enquanto o amarrava e meu coração pulsar de pura adrenalina.

Sai da tenda correndo vendo que Woozi também conseguiu lidar com os homens, mas os dele não pareciam vivos.

— Jovem mestre, você está bem?

— Ajude Taehyung — indiquei a tenda, me lembrando que o alfa estava machucado e no mesmo instante, um imenso lobo negro saiu do local, com um dos betas inimigos entre seus dentes, morto.

Cobri a boca horrorizado, me afastando do lobo que cuspiu o corpo do homem como se fosse uma sopa mal feita e entrou na tenda novamente, mancando.

Alguém gritou e não me movi, sabendo que não era a voz do vice-general e logo dois betas correram para fora da tenda, seguidos do lobo negro, que afundou as garras em suas costas, apagando-os no mesmo instante. Certamente, não sobreviveriam.

— Tae-Taehyung! — o chamei, me encolhendo quando o lobo se virou enfurecido, os olhos escarlate brilhando intensos em minha direção. — Alfa… — Ergui o braço trêmulo, engolindo em seco enquanto ele se aproximava, me avaliando com atenção redobrada. Woozi se encontrava paralisado, temendo se mover e provocar o Kim.

Ele aproximou o focinho do meu rosto, deslizando-os então por meus cabelos bagunçados, soltando uma lufada de ar.

— Ei… Lobinho… — sussurrei, encontrando seus olhos, notando que havia preocupação e desespero em sua íris. — Eu estou bem… 

Ele rosnou e estremeci me encolhendo instintivamente, sentindo o ômega dentro de mim choramingar assustado.

O alfa notou um ferimento em meu braço e fez menção de lamber a região, mas me afastei de súbito, sentindo meu coração acelerar ainda mais. Ele não podia fazer isso, mesmo que tal ato fosse uma demonstração de carinho de alfas para com seus ômegas. E eu nem era seu companheiro.

— Eu estou bem — repeti, sorrindo pequeno e o alfa se afastou, caindo sobre as patas e no mesmo instante grunhiu dolorido. 

Arregalei os olhos notando que ele estava voltando á sua forma humana e me virei, correndo em direção á tenda, ignorando os resquícios de sangue espalhado pelo lugar, pegando a manta de tricô que havia ali, retornando, desviando o olhar de seu corpo nu, cobrindo-o.

— Jeongguk… — sussurrou e me virei para Woozi, ordenando que fosse buscar ajuda e meu escudeiro concordou, sabendo que eu estaria em segurança junto do alfa. — Jovem mestre…

— Fique quieto — pedi, ajudando-o a se levantar, sentindo um arrepio quando ele jogou um dos braços em torno do meu pescoço, apoiando-se. — Vem, sente-se ali…

— Você está bem mesmo?

— Estou.

— Perdoe-me por assustá-lo.

— Eu não me assustei — menti, porque a visão do lobo negro cravando as unhas nos soldados inimigos não sairia da minha mente tão cedo. 

Deixei Taehyung sentado e fui verificar se o beta que amarrei ainda estava na outra tenda e suspirei aliviado ao vê-los ali, imóveis e desacordados.

Escutei então o galopar dos cavalos se aproximar e corri até os portões do cercado, avistando meu abeoji e alguns guardas, junto da alcatéia do Kim. Por precaução, escondi o chicote em meu casaco. 

Assim que Jungwo desceu do cavalo me puxou para um abraço apertado e retribui, sentindo lágrimas se forem em meus olhos. 

Pelos Espíritos, eu fiquei tão assustado! Minhas mãos ainda estavam trêmulas.

— Você está mesmo bem?

— Sim, abeoji.

— Ah, graças aos Espíritos! Obrigado, obrigado!

— Taehyung se feriu — o informei e logo notei que o comandante Minho estava cuidando de seus machucados. — E eu amarrei dois betas naquela tenda — indiquei e Jungwo me fitou surpreso.

— Você amarrou?

— Ele os venceu — O vice-general falou, sorrindo pequeno, me olhando com orgulho nítido.

— Meu garoto — meu abeoji elogiou, me abraçando novamente. — Cuidem do vice-general e interroguem os invasores! — ordenou e todos concordaram. — Venha filho.

— Es-Espere — Taehyung gritou e nos viramos, notei que ele segurava a espada que me prometera e engoli em seco, vislumbrando-a com fascínio. Havia dois lobos em seu punhal, lado a lado, revestido de prata e bronze. Mas, naquele momento, ela não parecia tão tentadora. — Fique com isso, jovem mestre.

Neguei com a cabeça, deixando-o claramente confuso, afinal, eu tinha pedido ela.

— Não preciso dela — respondi, sorrindo pequeno, despedindo-me do alfa.

Montei no cavalo de meu abeoji pois Woozi tinha usado Guloso para alertar os guardas e o deixou em casa. Então suspirei cansado, apoiando as costas contra seu tronco, permitindo que ele circulasse minha cintura e me levasse para longe daquele lugar. 

Respirei fundo e fechei os olhos, pensando no que acabará de acontecer. No fim Taehyung estava certo. Talvez… Só talvez… Eu me desse bem com chicotes. 


Notas Finais


*surto interno*
Pensaram que o chicote era pra outra coisa né safadinhas(os)?
Gostaram? Odiaram? Amaram?Teorias?

As coisas estão avançando lentamente e eu gosto disso, desenvolver tudo com calma e atenção hehe.

Eu postei um spoiler no twitter e muita gente errou e acertou!

O próximo capítulo vai sair dia 30/05 ás 18:00 então agendem ai, hehe.
(Estou cumprindo os prazos por enquanto, espero continuar assim)

Não se esqueçam de favoritar e usar a tag no twitter (#WolfsBaneTK) se quiserem falar sobre, é a melhor forma de eu encontrar vocês.
É isso, não esqueçam de deixar o purple heart.

~até a próxima


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