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História Wonderfall - Occhiolism


Escrita por: uncover5h

Notas do Autor


Oi!!! Então, como prometido, não demorei!
Vamos começar a desenvolver esse relacionamento?! Vamos começar a descobrir os sentimentos junto com elas?! ><
Bom, espero que gostem do capitulo!

E MEU DEUS, O QUE ESTA ACONTECENDO COM O MUNDO? Eu nem acredito no tanto de favoritos que Wonderfall ja tem, tipo, não acredito mesmo. Muito obrigada por isso! Espero que continuem gostando da leitura!

Enfim, boa leitura.

Quaisquer erros, conserto assim que os ver.

Capítulo 11 - Occhiolism


 

Lauren’s pov

Occhiolism (n.) : a consciência da pequenez da sua perspectiva.

Eu sempre achei que a parte mais difícil da vida fosse “crescer”, ter responsabilidades adultas e priorizá-las. Entretanto, um mês em Harvard havia cravado na minha essência, uma placa de letras gigantes com a revelação de que a parte mais difícil da vida é aceitar a si mesmo. 

Uma das fases mais difíceis do processo de ser um ser humano é aquela onde você tem que se aceitar. Magro, alto, gordo, baixo, infantil, maduro, mentiroso, sincero demais, insuportável, escrachado, “maria vai com as outras”, inteligente, não tão inteligente assim, preguiçoso, não comprometido, comprometido demais, fofoqueiro, omisso, “furão”, atrasado, “certinho”, desleixado, filhinha de papai, não gosta de academia, “come mais do que deveria”, medroso, gay, “bicha pão com ovo”, “mulher macho”, lésbica.

As coisas sempre haviam sido muito fáceis, muito claras, para mim. Eu era Lauren Jauregui, fruto da união de um empresário bem sucedido com uma filha de pastor. Eu ia à igreja todos os domingos, ia à uma boa escola, tinha “paixonites” pelo capitão do time de futebol, estudava (porque gostava) e estava tudo muito confortável para mim. Eu não tinha consciência alguma dessa parte complicada da vida. Chegou para mim como uma bala perdida, um terremoto sem aviso, uma erupção espontânea, um telão gigantesco de led no meio da quinta avenida, estampando a notícia: “Lauren Jauregui, você é lésbica”, acompanhada de explicações para tudo o que eu ainda não entendia em mim.

Era como se eu estivesse sendo jogada na minha própria cara, com força; como se houvesse um outro lado de mim despertando apenas naquele momento e estivesse gritando com a boca colada no meu ouvido: “é isso o que você é, está na hora de viver de verdade”. Então era de se esperar que nesse ponto específico eu estivesse entrando em estado de pânico. Era de se esperar que, como todo mundo faz, eu tenha tentado fugir.

O magro tenta engordar porque todo mundo diz que ele está magro demais. O gordo diz que vive de dieta porque todo mundo diz que ele come demais. O baixo dá desculpas hormonais para sua estatura, o alto faz o mesmo. O infantil tenta ser maduro, o maduro esconde sua maturidade pra não ser taxado como chato. O preguiçoso finge que não é preguiçoso, porque estamos na “geração saúde” e a moda é a disposição. O filho desleixado finge ser aplicado, mas na verdade odeia estudar. O gay, tenta não ser gay. A lésbica tenta não ser lésbica. E no final, tá todo mundo tentando ser exatamente quem não é. E eu, por um momento, afundei-me em negar o que brilhou instantaneamente como verdade dentro de mim, desde a primeira vez em que o assunto havia surgido na minha mente: eu era lésbica.

Tá, e agora? O que eu faço?”, perguntei-me mentalmente, mexendo as pontas dos dedos entre a testa e o cabelo, enquanto estava de cabeça baixa, olhando para o livro sobre a mesa, mas sem realmente ler sequer uma vírgula do que estava escrito ali.  

O clima em Cambridge começara a esfriar mais do que as roupas de outono costumavam suportar e o aquecedor daquela biblioteca, com certeza, não estava ligado, ou eu estava com algum desequilíbrio na minha temperatura corporal. O dia estava nublado, o que, brilhantemente, combinava com a iluminação da biblioteca, criando uma sensação tão forte de aconchego que, ainda que estivesse frio, eu não sentia a mínima vontade de sair dali. Camila havia sido absolutamente brilhante na construção daquele edifício, até mesmo em detalhes como aquele, que usualmente passavam desapercebidos da atenção da maioria dos arquitetos.

Mas para ela, nada passa desapercebido”, pensei, dando um sorriso para as letras do livro aberto abaixo de mim.

- Normani... – falei em voz baixa, levantando o olhar do livro.

Antes de me olhar, Normani terminou uma anotação rapidamente e colocou a lapiseira em cima da mesa de madeira da biblioteca da HGSD.

Naquela quinta feira, havíamos decidido ir para a biblioteca antes de irmos ao The Village, para adiantar alguns trabalhos, já que a professora Hadid havia acabado a aula quase duas horas antes do tempo correto, depois de receber uma ligação inesperada.

Normani usou o tempo para estudar. Eu usei o tempo para “tentar estu.pensar.em.camila”. Não era como se eu não me sentisse intimamente culpada por não estar dando atenção a um trabalho importante da faculdade, mas também não era como se minha mente estivesse permitindo que qualquer outro pensamento fosse tão agradável quanto ela.

Como uma coisa pode ser tão incrivelmente boa e perturbadora ao mesmo tempo?”, pensei, observando Normani largar a lapiseira em cima da mesa.

- Oi? – Normani perguntou, olhando-me através dos óculos modelo gatinho, relutando em tirar os olhos no livro, mas cedendo em seguida.

- Eu não consigo parar de pensar nela... – admiti, desviando o olhar para baixo e mordendo o interior da minha boca.

Admitir aquela verdade era como se eu estivesse libertando de uma jaula o monstro que tinha o poder de me engolir inteira. Ainda assim, eu não tinha mais forças para lidar com aquele assunto sozinha. Eu me sentia fraca. Meus sentimentos eram tão fortes que estavam consumindo as minhas forças físicas.

É exaustivo ficar fugindo de mim mesma.”, pensei, considerando que aquilo poderia confortar-me do incômodo de falar abertamente sobre o assunto.

- Olhe para mim, Lauren. – Normani disse, tirando os óculos do rosto.

A olhei e ao mesmo tempo, Normani empurrou para o lado o livro que eu “lia” e segurou as minhas mãos, olhando-me fixamente.

- Repita o que disse. – Ela falou, passando os polegares pelos meus dedos, carinhosamente.

- Eu não consigo parar de pensar nela. – repeti, desviando mais uma vez o olhar para baixo.

- Lauren... – Normani apertou os meus dedos, o que me fez olhá-la. – Você não precisa desviar o olhar do meu para dizer isso. Olhe nos meus olhos. – ela realçou o olhar que se prendia ao meu em confiança. – Não há nada de errado em você estar pensando nela. – ela, como sempre fazia quando falávamos naquele assunto, não desviava os olhos dos meus por nenhum segundo. – Não há nada vergonhoso nisso. – ela sorriu com certo humor, como se risse de algo que acabara de pensar. – E, de qualquer forma, não é como se eu já não soubesse disso. – seu sorriso se abriu mais ainda.

Era incrível a capacidade que Normani tinha de tornar puro e leve tudo o que era rarefeito e pesado. Sua maneira de reagir às situações me dava tal sentimento de conforto que seus sorrisos, que sempre finalizavam suas palavras doces, eram como o êxtase de uma droga que me curava.

A encarei por algum tempo, sentindo-me grata por ela, antes de respondê-la. Sorri, porque Normani se tratava de sorrisos.

- É só que...eu não sei o que fazer. Sabe? – falei, olhando-a nos olhos. – Quer dizer, eu não sei se sou lésbica, não sei se não sou, mas tenho quase certeza que sou. – uni as sobrancelhas, fazendo uma careta e quase soltando a respiração pesadamente de tanta frustração por não saber como expressar-me.

- Lauren, Lauren. – Normani apertou minhas mãos, interrompendo-me. – A questão aqui não é a sua sexualidade. Ninguém é uma coisa só nessa vida. A questão aqui são os seus sentimentos pela professora Cami...

- SHHHHHH. – exclamei, colocando a mão na boca dela e quase me jogando por cima da mesa. – Você está maluca? – sussurrei em completa exasperação. – Não fale o nome dela, pelo amor de Deus. As pessoas escutam demais.

Normani arregalou os olhos e levantou as mãos em posição de rendição. Eu tirei a mão de sua boca e respirei profundamente.

- Enfim, a questão não é a sua sexualidade, Lauren. A questão são os seus sentimentos por ela. – ela disse, sentando-se melhor na cadeira. – Não interessa por “quem” você sente. Importa “o que” você sente. – Normani declarou.

Não importa por ‘quem’ você sente. Importa ‘o que’ você sente.”, repeti mentalmente, preocupando-me em deixar o que minha amiga havia dito em destaque para mim mesma.

- Tá, mas o que eu faço com isso? – perguntei, sentindo-me inquieta e frustrada. – O que eu faço com o fato de um poder descrever o cheiro dela com perfeição, mesmo eu nem tendo notado que havia prestado tanta atenção assim ao cheiro dela? O que eu faço com o fato de que toda vez que eu a vejo, acontece uma explosão nuclear no meio peito. Sinceramente, meus joelhos até ficam fracos! – exclamei, sentindo leves reflexos daqueles sentimentos a partir das lembranças deles próprios. – O que eu faço com o pulso dela que fica se movimentando em câmera lenta na minha mente, toda vez que eu fecho os olhos. E repete, repete, repete. Eu até sei das marcas do dedo dela, se você quer saber. – Todas as palavras saíam de mim como o jato mais forte de uma mangueira impulsionada à bomba. Meu pulmão parecia ter diminuído de tamanho e eu tinha dificuldades em respirar. – O que eu faço com o maldito fato de que toda vez que eu falo dela eu fico parecendo uma asmática em crise?! – joguei-me para trás, encostando-me pesadamente na cadeira. Tudo aquilo estava me deixando exausta.

Normani manteve-se calada por alguns instantes, fitando-me com atenção. Pela milionésima vez em semanas, eu suspirei, sentindo-me entrar em combustão, como se cada suspiro fosse um aviso da explosão atômica que estava por mim de dentro de mim.

- O que as pessoas fazem quando estão apaixonadas. – Normani disse, como se fosse a coisa mais natural do mundo. – É o que tem que fazer.

- Quem está apaixonada aqui? – a voz de Drew surgiu atrás de mim e o susto foi tão grande que dei um salto na cadeira e meu rosto provavelmente havia perdido todo o sangue.

Enchi os pulmões de ar e soltei devagar, para que ele não percebesse minha inquietação. Falhei.

- iiii, nem precisa dizer... – Drew disse, sorrindo com aqueles enormes dentes desconfortavelmente brancos e sentando-se ao meu lado. – sua expressão denunciou tudo, pequena Jauregui. – completou, colocando a mochila bege na cadeira ao lado.

Drew costumava ser bonito e charmoso, mas naquele dia, ele estava particularmente atraente. Usava calças chino azul marinho, camisa xadrez branca e azul, e tênis listrados brancos. O olhei por algum tempo, achando-o 100% bonito e charmoso e sentindo 0% de atração.

Se Drew não é atraente, quem nesse mundo é?”, pensei, zombando de mim mesma e imediatamente a resposta me foi gritada mentalmente. “CAMILA”.

- Não tem ninguém apaixonada aqui, Chadwick. – falei, tentando soar natural. – Você está ouvindo demais. Deve ser a idade, está velho, sabe como é... – falei em um tom brincalhão, tentando desviar o assunto.

 - Ah, qual é?! Não precisa ficar com vergonha. Eu ajudo. – Drew fez uma expressão de quem podia fazer qualquer coisa que quisesse, colocando as mãos na nuca para apoiar a cabeça. – Quem é o sortudo que levou o coração da garota mais difícil de Harvard?

- Acho que dessa vez você não pode ajudar, Drew. – Normani falou, dando o mesmo olhar apaixonado de sempre para garoto.

- Ué, por que? – Drew exclamou, provavelmente desacreditando da sua incapacidade de ajudar em qualquer situação. – Conheço todos os caras por aqui e os que eu não conheço, posso conhecer facilmente. Qual é? Eu ajudo.

A curiosidade de Drew estava me deixando inquieta e a minha mente já começara a trabalhar alguma desculpa para eu poder me retirar e além de me livrar do peso da conversa, aproveitaria para deixar Drew e Normani sozinhos.

- Não pode ajudar porque não tem ninguém apaixonada aqui. – falei, dando-lhe um sorriso que dizia “vamos encerrar esse assunto agora”.

- Tudo bem, tudo bem... – ele falou, sacudindo as pernas e tamborilando os dedos na mesa. – Mas quando precisar de ajuda, pode contar comigo, mesmo que o cara seja eu. – Ele falou o final da frase olhando fixamente para Normani que inicialmente o olhou da mesma forma, mas em seguida desviou o olhar em total desespero.

Eu ri.

- Por que está rindo, Jauregui? É tão difícil assim ser eu? – ele falou sarcasticamente, tentando soar ofendido.

Eu continuava trancando um sorriso nos lábios, mas quase tremendo de tanto rir da cara de Normani por dentro. Levantei as sobrancelhas, para tentar amenizar a expressão de riso, mas provavelmente aquilo só piorara tudo.

- Claro que não, é muito fácil ser você. Isso, considerando que existe alguém apaixonado aqui, coisa que não existe. – falei, começando a recolher as minhas coisas para colocar dentro da mochila.

- Já vão almoçar? – Drew perguntou.

- Vamos sim, já está na hora. – Normani falou, recolhendo também as suas próprias coisas. – Se não, vamos nos atrasar pra aula do professor Newton.

- Então eu vou com vocês. – ele falou e os olhos da minha amiga quase viraram estrelas de tanto que brilharam. – Vou mandar mensagem pra uma “mina” de engenharia, pra ela ir com a gente. – ele completou, levantando-se e pegando o celular do bolso dianteiro da bermuda.

- Estão ficando? – Normani perguntou, tentando parecer natural e pode até ter parecido para Drew, mas para mim era claro o medo que ela tinha da resposta.

- O que? Com ela? – Ele tirou o olhar do celular, rapidamente olhando para Normani e voltou a olhar a tela, digitando enquanto caminhávamos através das filas de mesas e cadeiras da biblioteca. – Nãaao. – ele falou, rindo um pouco. – Bem que eu quis, mas a “mina” nem me deu moral, daí a gente virou “parceiro”.

- Ah... – Normani e eu nos expressamos ao mesmo tempo e da mesma forma, no exato momento em que atravessamos a porta automática da biblioteca.

Caminhamos pelos corredores da HGSD juntos. Drew entre mim e Normani, com os braços em nossos ombros, com um ar protetor demais. Era fácil estar perto de Drew, sua companhia era como um entardecer na praia, em um dia sem nuvens e com muito vento.

Durante as semanas anteriores eu o vira apenas rapidamente, apesar de suas tentativas de estar sempre perto de mim e de Normani. Ele estava ocupado com seus infinitos trabalhos do curso e nem sempre podia nos acompanhar nas horas de almoço, mas todo tempo livre que tinha, nos dava toda a atenção do mundo.

- Como estão com os trabalhos? Estão tendo dificuldade em alguma coisa? – Ele perguntou, atencioso, enquanto caminhávamos pelas calçadas frias de Cambridge, rumo ao The Village.

- Estamos bem com as matérias. – falei, tendo instantaneamente uma ideia. – Exceto por Normani que está tendo dificuldade em matemática... – menti e percebi Normani arregalando os olhos e olhando para mim. – Você sabe, essa coisa de derivada e integral é bem chatinha...

Drew olhou para Normani no mesmo momento, o que a fez arregalar ainda mais os olhos.

- Está mesmo com dificuldade? – Drew perguntou, sendo “homem” demais para perceber a comunicação oculta que estava acontecendo entre mim e minha amiga.

- Não exatamente...

- Ah, Normani, não tenha vergonha. – a interrompi. – Drew é nosso amigo e ele é muito bom em matemática.

Ela também era muito boa em matemática, era quase um gênio da matemática, mas Drew não precisava saber daquela parte da informação.

- Isso! – o garoto exclamou. – Eu posso mesmo ajudar. Vamos marcar um dia e eu vou lhe ajudar com isso.

- Tá... Tudo bem. – Normani concordou, olhando para mim como se fosse me matar.

Eu sorri largamente para ela e, como resposta, recebi um revirar de olhos que somente me fez sorrir ainda mais.

O The Village estava mais vazio do que na maioria das vezes em que havia estado ali. Talvez a minha percepção de vazio fosse muito mais pelo fato de que eu não vira Camila Cabello, sentada em sua mesa habitual, do que pelo espaço estar realmente vazio. Talvez, a sensação de frustração por não vê-la tenha aumentado ainda mais a impressão de que não havia mais ninguém além de nós, ali.

O meu estômago inflado de borboletas pela ânsia em vê-la murchou tão instantaneamente quando os meus olhos distinguiram a ausência dela naquele espaço. De repente, as cores ficaram menos coloridas, as luzes do The Village ficaram menos brilhantes e o meu apetite foi embora.

“Mas que droga está acontecendo comigo?!”, exclamei mentalmente, sentindo-me irritada com a minha falta de controle sobre os meus sentimentos e minhas sensações em tudo o que dizia respeito à ela. “Por que eu não posso simplesmente deixar isso pra lá? Por que ela tem que fazer falta até em um maldito restaurante?”, eu estava pensando, quando Drew puxou a cadeira para que eu sentasse e assim o fiz, evitando olhar de novo para onde ela deveria estar, mas não estava.

Eu não dava atenção alguma para o que Normani e Drew conversavam, absorta demais em mim mesma para conseguir distinguir qualquer palavra do que eles diziam, pelo menos até ouvir o nome dela.

- ...que a professora Camila é gata demais. – Drew falou, largando-se, desleixado na cadeira.

Gata demais?! Pelo amor de Deus, ela é maravilhosa, ela é incrível, ela é...ela”.

- Sobre o que estão falando? – perguntei, colocando minha mochila encostada ao lado da minha cadeira.

- Drew estava dizendo que “apesar de ser chata e um demônio na face da terra, a professora Camila é gata demais”. – Normani repetiu, fazendo aspas com os dedos.

- Ah, você são mulheres, não vão entender. – ele falou, encarando um ponto fixo atrás de mim. – Mas olha aquilo... olha aquele corpo... – Drew falou e antes que eu me virasse, Normani fez um sinal com a cabeça, indicando que eu olhasse para trás.

Eu olhei.

Meu coração disparou. Meu pulmão explodiu. Minha cabeça rodou.

Camila Cabello estava encostada no balcão de pedidos do The Village, de costas para nós, com o cotovelo apoiado na pedra de mármore e os dedos da mão apoiando a testa, enquanto lia algum papel e como se ela já não fosse suficientemente estonteante em todos os outros dias de sua vida, naquele, particularmente, ela estava exalando exuberância, feminilidade, imponência e tantas outras coisas que meu cérebro não conseguia expressar em palavras, mas meu corpo se encarregava de sentir. Como se as coisas que ela era, estivessem sendo faladas pelo meu corpo e não pela minha boca.

Seus cabelos estavam presos em um coque frouxo, mas que havia sido claramente planejado para compor o seu visual. Blusas de manga cumprida em um tom de rosa claro cobriam o seu busto e os seus braços até os pulsos. Uma saia de cintura alta quadriculada em pequenos detalhes de branco e preto, beijava seu corpo, bumbum e coxas, até os joelhos, com uma leve abertura na parte de trás, que eu via perfeitamente, deixando parte de suas pernas à mostra. Nos pés, saltos delicados de tiras finas, combinavam com a cor da blusa que ela escolhera.

O resultado de toda aquela combinação foi o meu coração sendo escutado à quilômetros de distância. Eu tinha certeza que todos estavam escutando o meu coração batendo feito louco dentro do peito.

Pare de olhá-la. Pare de... Esses brincos de pérola ficam tão delicados nela... deixam a orelha dela tão atraente... O pescoço parece...”.

- Calma, Jauregui, não vai babar. – Drew disse com humor, jogando o guardanapo de pano em cima de mim.

Dei um pulo, virando-me de frente para Drew e Normani outra vez.

- A roupa dela está maravilhosa!!! – falei, exasperada demais, tentando disfarçar meu comportamento descompensado.

- Ma ra vi lho sa. – Normani concordou, usando o mesmo tom que eu, apenas para me ajudar, embora fosse verdade que a roupas dela estava maravilhosa.

- Mulheres... – Drew disse, balançando a cabeça negativamente, dando um sorriso de inconformidade.

- Ah, nos deixe! – Normani disse, batendo nele com o seu próprio guardanapo e os dois entraram em algum tipo de discussão a respeito da forma como mulheres enxergam mulheres.

Eu estava com a mente mergulhada demais em Camila para conseguir prestar atenção a qualquer coisa que não fosse ela. Todos os meus esforços estavam sendo empreendidos em conseguir me manter na mesma posição e não virar para trás para olhá-la novamente.

Senti o meu corpo se auto retesar, sem explicação alguma, acompanhado por um corte gelado, que subiu pelas minhas costas e perfurou minha nuca, fazendo-me arrepiar. A única explicação para aquele calafrio inesperado era o frio do outono, mas somente até perceber a presença de Camila ao meu lado e entender que meu corpo estava somente reagindo instintivamente à sua aproximação.

- Olá. – Ela cumprimentou educadamente todos na mesa, apoiando a mão esquerda no encosto da minha cadeira.

- Olá professora. – Drew e Normani responderam, um seguido do outro.

- Olá... – Eu disse, olhando para cima, para poder cumprimentá-la educadamente, mas arrependendo-me quase que instantaneamente, quando encontrei o seu rosto voltado para mim, carregando um sorriso que delineava seus lábios que me pareceram especialmente mais vermelhos naquele dia.

Ela alargou levemente o sorriso e continuou olhando para mim, parecendo não se importar nenhum pouco com a presença dos meus amigos.

- Olá, Lauren. – ela falou. – Eu gostaria de falar com você. Pode me acompanhar? – completou, perguntando, mas me soou mais como uma ordem.

- Comigo? – perguntei o óbvio, precisando expressar externamente o meu espanto para poder ter algum tempo de lidar com aquilo.

- Sim... você. – Ela repetiu, deixando a cabeça pender um pouco de lado, dando um sorriso quase maquiavélico, cavando os meus olhos com os seus. – Preciso conversar com você a respeito do seu trabalho da aula passada. – Ela explicou.

- Fiz algo errado? – perguntei, variando entre o desespero por ela estar perto demais de mim e o desespero de talvez ter feito algo muito errado em sua aula.

- A senhorita pode, simplesmente, me acompanhar? – ela falou, levantando uma sobrancelha e mexendo petulantemente a cabeça.  

- Sim... – falei, afastando a cadeira um pouco para trás, para poder levantar e segui-la.

- Obrigada. – Ela falou, seguindo para a mesa onde costumava sentar.

Caminhei logo atrás dela, exatamente como da última vez em que me chamara para conversar em sua mesa.

- Sente-se. – ela falou, logo depois de sentar-se em seu lugar de costume.

Obedeci, puxando a mesma cadeira na qual eu havia sentado da última vez.

Ela nada disse, apenas afastou a sua bolsa que estivera ali desde sempre, mas fora um detalhe que me passara desapercebido no momento em que havia sido impactada pela sua ausência física no restaurante.

De perto, eu podia distinguir melhor seu cheiro e, como se eu já não tivesse aquele cheiro decorado e decifrado na minha memória o suficiente, meus pulmões absorveram mais ainda as partículas do cheiro dela.

Inspirei o ar por mais tempo do que precisava, somente para me preencher do cheiro dela. Prendi a respiração para não deixar que a sensação que aquele aroma doce e envenenante saísse de mim.

Os olhos dela não saíam dos meus e os meus não saíam dos dela. Eu estava tão consumida pela imagem dela formada na frente dos meus olhos que nem o nem todo o nervosismo que fazia meus músculos se contraírem foi capaz de me fazer tirar os olhos dos dela e ela, por algum motivo, tampouco ela tirava os seus olhos dos meus.

Camila cruzou os dedos em cima da mesa e deixou a cabeça pender levemente para o lado e semicerrou os olhos tão sutilmente que se eu não estivesse tão atenta a todos os movimentos que seu corpo fazia, não teria percebido. Sua postura era tão reta e intimidadora quanto seu olhar, o que me fazia sentir encolhida diante de toda a presença exuberante de Camila.

Seus olhos semicerraram-se um pouco mais e ao mesmo tempo percebi seu lábio inferior sendo levemente mordido. Meus dentes se apertaram em resposta àquilo e apertei o apoio de braço da cadeira, o que não passou desapercebido pela minha professora, que deu um sorriso quase que malicioso e finalmente decidiu falar, coisa pela qual agradeci mentalmente, porque ao mesmo tempo eu lembrei que precisava respirar e soltei o ar preso do pulmão.

- Por que está me olhando assim, Lauren? – ela perguntou.

O ar ficou preso em meu pulmão outra vez. Aquela respiração travada e irregular constante por causa de Camila Cabello estava me deixando zonza.

- Eu... – tentei responder com rapidez, para não parecer mais idiota do que provavelmente já estava parecendo, mas a minha mente congelada me fez fracassar. – Eu...

- Você...? – ela levantou ligeiramente a sobrancelha e passou os dentes pelos lábios, mordendo-os quase que em câmera lenta.

- Eu nada... – respondi, sentindo uma pontada de desespero na cabeça. – O que a senhora quer falar comigo? – perguntei, apertando as mãos embaixo da mesa.

- Responda-me uma coisa... – ela falou, passando a ponta do dedo indicador pelo cabo da faca, mantendo o olhar em mim. Engoli seco. – Por que você insiste em me chamar de “senhora” mesmo depois de ter me beijado? – Ela perguntou, direta, sem rodeios.

Levantei as duas sobrancelhas e abri ligeiramente a boca para responder qualquer coisa, mas o número de palavras que veio à minha boca foi igual ao número de controle que eu tinha perto dela: zero.

Ela sorriu, docemente, aliviando a expressão extremamente profunda com a qual me olhava e tomou um pouco da água que estava em sua taça.

- Bom, eu quero falar com você a respeito dos seus croquis da aula passada. – ela falou, puxando o pequeno bloco de folhas com meus croquis de dentro de sua pasta preta, que estava na cadeira ao seu lado.

- Há algo de errado? – perguntei, esforçando-me para controlar o tom de voz.

Ela desviou seu olhar da pasta para mim pelo canto dos olhos e seus lábios subiram levemente em um sorriso que eu não soube decifrar. Virou-se de frente novamente, e colocou os croquis em cima da mesa.

- Pelo contrário, Lauren. Seus desenhos estão excelentes. – Ela os deixou na mesa, exatamente no espaço entre nós.

- Então, por que quer falar sobre eles? – perguntei novamente, concentrando meus esforços em prever do que se tratava aquilo para poder reagir corretamente.

- Quero dizer que estão muito bons. Os analisei milimetricamente e estou contente com o resultado que encontrei em seus traços. Estão muito satisfatórios. – ela disse, olhando para a folha com um dos meus desenhos.

- Ah... obrigada... – eu disse, sem saber exatamente o que responder. – Quer dizer, vindo de você, esse é um elogio que eu mal posso medir o tamanho da minha alegria por receber.

Ela sorriu e balançou a cabeça positivamente.

- Estou tão alegre por lhe dar o elogio quanto você, provavelmente, está por receber. – disse em um tom ameno.

A expressão dela estava amena, quase como um entardecer de verão, o que me fez sorrir em reação à beleza de seu rosto. Seus olhos estavam castanhos, quase cor de mel, delineados perfeitamente em um contorno preto que acentuava a profundidade de seu olhar.

Olhar que me cortava ao meio.

- O seu sorriso é bonito. Devia sorrir mais. – ela falou, voltando a encarar-me nos olhos.

Involuntariamente sorri e senti meu rosto queimar.

- Ammm... fiquei desconsertada. – deixei a verdade sair de mim, ao invés de tentar achar desculpas para respondê-la.

- Fique desconsertada mais vezes. – ela falou, e eu voltei a olhar para ela, somente para me arrepender.

Seus olhos me devoravam, me mastigavam inteira. Engoli a bola de ar que se formou em minha garganta.

- Você não me chamou aqui só para falar dos meus desenhos... Não é? – perguntei, variando o olhar entre o rosto dela e a sua mão, fazendo e refazendo o contorno circular da taça de vidro em cima da mesa.

- Definitivamente, não. – ela disse e seus olhos desviaram-se dos meus para outro ponto do meu rosto.

Ela está olhando a minha boca?!”, a dúvida surgiu nervosamente em minha mente.

- Então, por que me chamou?

Ela está olhando a minha boca.”, afirmei mentalmente.

- Porque queria conversar com você. – ela respondeu, simplesmente, apoiando o cotovelo sobre a mesa e depois o seu rosto, sem parar de me olhar nem por um segundo sequer.

- Conversar sobre o que? – perguntei, intrigada, observando sua tatuagem do dedo indicador sumir e reaparecer a cada volta que seu dedo dava na taça.

- Sobre qualquer coisa. – ela disse.

- Sobre qualquer coisa? – perguntei, repetindo para ter certeza de que ouvira direito.

- Sim. Sobre qualquer coisa. – Camila respondeu, como se estivesse falando a coisa mais normal do mundo.

- Desculpe, não estou entendendo exatamen...

- Eu queria a sua companhia, Lauren. É simples. – ela disse, desapoiando-se da mesa e pegando a taça para tomar mais um gole de água.

- Queria a minha companhia? – perguntei, sentindo meu coração variar entre profunda euforia e choque de susto.

Camila riu e seus olhos quase se fecharam de tão gostoso que foi aquele sorriso. Poderia comê-lo e sentir toda a doçura do mundo.

- Você sempre pergunta tanto... - ela constatou novamente.

- Por que queria a minha companhia, professora? – perguntei, focada demais no assunto para me deixar desviar.

Por que ela queria a minha companhia?! Por que?!”.

Camila ficou séria, seus olhos vacilaram entre os meus e o copo de água, mas o vacilo não demorou mais que um instante, logo pareceu vencer algum tipo de conflito interno e levantou os olhos, transpassando os meus, como se fosse um tiro.

Meu corpo reagiu àquele olhar com o tremer de meus lábios e o comprimir desesperado do meu estômago.

- Porque eu gosto da maneira como você me olha, Lauren. – Camila disse, com seus olhos intensos invadindo a minha alma.

Minhas pernas se contraíram e um frio ártico subiu pelo meu corpo, quase congelando-me inteira.

- Como eu olho você? – perguntei com a voz baixinha, quase sem fôlego para falar.

Seus olhos ganharam uma mistura de intensidade e doçura. Olhava-me como se... como se...

- Como se eu fosse a única pessoa no mundo. 

 


Notas Finais


Estão vivas? c.c
Se preparem, camren vem com toda força. E lembrem-se: essa é uma fanfic sobre o amor, superando todas as coisas.
Vocês poderiam, por favor, me dizer o que estão achando? A opinião de vocês é muito importante!!!
Ja same.. @uncover5h
ask.fl/uncover5h
ou falem de wonderfall no tt, que eu sempre vejo!


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