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História Wondertime - Capítulo I


Escrita por: evilouie

Notas do Autor


Olá, meus amores!

A estreia finalmente chegou, hein? Depois de muito tempo, trago para vocês o primeiro capítulo de Wondertime, história pela qual estou completamente apaixonada.

Espero que gostem de conhecer os personagens, o início de tudo e que se divirtam tanto quanto eu me divirto escrevendo-a.

Uma nota importante: em Wondertime, os personagens terão 18 anos. É como me sinto melhor escrevendo. Aimée tem 17, mas vai fazer 18 no decorrer da história. E, sim, eles estão no Ensino Médio.

Atualizações serão feitas dependendo do feedback de vocês, portanto, deixem aquela força para essa pobre camponesa. Não custa absolutamente nada.

Preparados? Então vamos lá!

Boa leitura! ✧゚・: *ヽ(◕ヮ◕ヽ)

Capítulo 2 - Capítulo I


Kai colocou as mãos na cintura e olhou ao redor, suspirando pesadamente.

A ideia de abandonar a vida que tinha em outro lugar, embarcando para um país completamente diferente para ficar ali por um bom tempo ainda não a agradava. Era diferente de fazer uma visita, ser uma simples turista. Mas toda a família Escobar precisava daquilo no momento, novos ares, um novo ambiente e pessoas diferentes ao seu redor, ainda mais depois de um ano conturbado e repleto de dificuldades.

Vendo o pai e a mãe se afundando em dívidas cada vez mais altas para manter o próprio negócio – uma pequena farmácia local –, Kai entendia os motivos pelos quais eles haviam aceitado um emprego no exterior, se disponibilizando para trabalhar em uma nova companhia enquanto ambas as filhas – Kaia e Alessandra – poderiam finalizar os estudos ali mesmo, em Thorntown, que se localizava a uma hora de Boston, Massachusetts.

Uma das fornecedoras, que também era madrinha de Kai e que mantinha negócios no exterior havia feito uma oferta para que eles ocupassem vagas em um laboratório na capital do estado para o qual haviam se mudado, podendo se instalar na cidade próxima, em uma casa que para Kai, até então, parecia agradável.

A cidade era maior que aquela na qual havia nascido e sido criada, no Brasil, tendo o dobro do tamanho e número de habitantes, mas nada que deixasse Kai impressionada.

Era domingo, e Kai sabia que o dia seguinte seria agitado, já que se tratava de seu primeiro dia de aula na Ravenwood High, onde teria de concluir seu último ano como colegial.

— Vamos, querida, me ajude com isso! – a mãe de Kaia exclamou em seu tom melódico e empolgado.

Seu pai também parecia mais alegre agora, mais tranquilo. E Kai queria muito partilhar daquele sentimento, mas ainda se sentia uma estranha no ninho.

Aparentemente, sua irmã mais nova, Alessandra, também se sentia incomodada ali. Mas nos últimos anos, era impossível distinguir se aquele era o novo normal de Alessa, já que de uns tempos para cá ela passara a se demonstrar mais reclusa e impaciente. Ou se não era o caso.

Não lhes parecia nada de anormal, já que os pais e até mesmo Kai sabiam que aquilo era apenas uma fase. Alessa tinha apenas quinze anos, quase três anos mais jovem que a primogênita da família. Era uma idade complicada.

Se encaminhando para o carro que agora pertencia aos pais, Kai rapidamente começou a ajudá-los com as malas e algumas caixas. Haviam chegado há alguns dias, mas somente agora estavam oficialmente se instalando na nova casa.

Kaia se precipitou em apanhar sua guitarra e uma mala com algumas roupas, oferecendo um sorriso à mãe:

— É, é bem maior do que eu esperava.

— Espere só até ver seu quarto. – Giselle Escobar presenteou sua filha mais velha com outro sorriso enquanto a acompanhava para dentro da casa segurando uma caixa de papelão.

Kai arqueou uma sobrancelha ao ouvir aquilo.

— Meu quarto? – indagou.

Viu a mãe assentir positivamente.

— Eu disse que as coisas seriam melhores agora, não disse? Não vai mais precisar dividir o quarto com sua irmã.

A garota riu baixinho e mordeu o lábio inferior para conter mais um sorriso.

— Vamos, vá ver seu quarto! Não precisa esperar. Mas não se esqueça de descer para o jantar. – a mulher informou e Kai rapidamente correu com sua mala para o andar de cima, a alça da bolsa que carregava sua guitarra encontrava-se ao redor de seu braço enquanto ela subia.

Descobriu-se diante de um corredor que a levava para os quartos, logo decidindo qual seria o seu, que de fato era maior que o seu antigo. Levemente empolgada, ela colocou a mala sobre a cama e deixou sua guitarra no canto, encostada em uma parede; seus olhos logo encontrando uma pequena entrada no teto.

Curiosa, Kaia olhou ao redor, procurando por algo que pudesse ajudá-la a abrir o acesso ao sótão que provavelmente se encontrava por detrás daquela entrada. Encontrou um objeto que ela pôde usar para puxar a porta para baixo, deixando escapar um gritinho quando as escadas caíram da entrada, assustando-a de imediato.

Ela sorriu para si mesma e logo começou a subir as escadas, escalando-as até chegar no sótão.

Não havia nada de muito inusitado por lá além de algumas madeiras, muitas teias de aranha, muita poeira e alguns tecidos velhos. Mas Kaia era demasiadamente curiosa, e, ao se colocar em pé, começou a vasculhar o local, observando o que estava abandonado ali. Provavelmente se tratava de coisas inúteis deixadas pelos antigos moradores, uma prática muito comum. Kai murmurou baixinho e passou a mão por um antigo sofá coberto por um lençol velho, conferindo o quão empoeirado estava. Talvez pudessem restaurá-lo.

Ao puxar o tecido do móvel, no entanto, percebeu que sobre ele havia diversas caixas com outros objetos que certamente também pertenciam aos antigos moradores daquela casa.

Levantando as sobrancelhas em uma reação curiosa e intrigada, Kai rapidamente começou a checar o que havia nas caixas, encontrando alguns livros e revistas usadas, muitos itens de decoração e algo que, de um súbito, chamou totalmente a sua atenção: uma bela caixinha de música, de aparência muito envelhecida como tudo ali, mas que Kai achou interessante.

Era toda feita de madeira, repleta de arranhões, manchas de uso e poeira. E a jovem imaginou que nem mesmo funcionasse. Se descobriu enganada no momento em que abriu a tampa da caixinha e dela surgiu uma suave melodia, diferente das que comumente costumam tocar nesses objetos musicais. Como se alguém tivesse acionado sua corda recentemente. Outro fato curioso.

Ao ouvi-la, Kai sentiu uma sensação de conforto, o que a fez gostar do som e decidir guardar a pequena caixa para si. A melodia era boa, poderia ser até mesmo adaptada como parte de uma sample para uma de suas músicas. Ela faria questão de se certificar qual era o nome e compositor da tal melodia mais tarde.

Puxou o celular do bolso da jaqueta jeans e começou a gravá-la para que pudesse pesquisar mais acerca dela mais tarde.

— Vamos ver o que posso fazer com você. – Kai disse para si mesma e desceu lentamente para fora do sótão, tentando não derrubar a caixinha de música ao fazê-lo.

Colocou-a sobre a mesinha de cabeceira e saiu do quarto para continuar ajudando sua família com o restante das malas e caixas.

Ao sair em direção ao carro para apanhar mais algumas coisas, foi recepcionada por um rosto alegre que se aproximava dela rapidamente. O rapaz tinha por volta de sua idade, entre dezessete e dezoito anos, segundo lhe parecia. Cabelos pretos, levemente ondulados e olhos castanho-escuros, a pele bronzeada e um sorriso largo.

— Bem-vinda, nova vizinha! – exclamou com uma empolgação com a qual Kai não estava acostumada. Ela hesitou, mas acabou emitindo um riso breve ao encará-lo, deixando o garoto continuar: — Sou Nick. Vi que acabaram de se mudar. Acho que vamos para a mesma escola.

Ele estendeu a mão e Kai achou graça, deixando escapar um riso abafado antes de cumprimentá-lo com um aperto de mãos. Formal demais. E engraçado.

— Kaia. Me chama de Kai.

— Estrangeira? – Nick parecia ter notado logo de cara.

— Brasileira. – respondeu a garota. – Estava tão na cara assim?

— Não se julgue, sou rápido para perceber o mais sutil dos sotaques. – ele gracejou. – Minha família é mexicana, mas para esse pessoal daqui é como se fôssemos todos a mesma coisa, não é?

Não precisou de muito para que Kai soubesse que Nick falava de estadunidenses no geral. O que a fez rir genuína e abertamente dessa vez. Ele infelizmente não estava enganado.

— Deve ser por causa da qualidade das aulas de geografia. – ela disse em tom de brincadeira e ele também riu em resposta. – Então vamos ser colegas, hein?

A adolescente continuou falando enquanto apanhava mais algumas coisas para colocar sobre a caixa que levaria para dentro de casa.

— E espero que bons amigos. – Nick completou.

Kai sorriu e meneou a cabeça positivamente.

— É, parece bom. Sei que vai ser estranho ser uma novata no último ano do colégio.

— Vou te ajudar a se enturmar, não se preocupe. Sempre tenho tudo muito bem planejado em mente – ele claramente era um falador, e dos grandes. Não havia parado desde que a cumprimentara. Aquilo não incomodava Kai, mas era uma interessante observação a se fazer. – Devo ter aprendido isso com meu pai. Tipo, ele é extremamente precavido. E um pouco exagerado quando se preocupa. Está tentando instalar um detector de metais na nossa própria casa.

Kai olhou na direção para qual Nick apontou e viu um homem na casa dos quarenta anos lidando com alguns equipamentos na porta de entrada da casa do outro lado da rua.

— Por que tudo isso? – ela quis saber.

Nick deu de ombros.

— Te falei, ele é super precavido. Tem medo de alguma visita aprontar uma boa para a gente.

Kai voltou a olhar para ele e assentiu.

— Bem, acho que cuidado nunca é demais nesse caso. – ela riu e então notou um conversível vermelho se aproximar deles, parando no meio da rua.

Nele, era possível ver três pessoas. Kai percebeu isso rapidamente, era ágil em notar detalhes geralmente ignorados pela maioria das pessoas.

— Ei, Martinez! – o motorista o cumprimentou em um tom exageradamente sarcástico, fazendo Nick revirar os olhos.

O até então desconhecido era o um típico garoto de um grupo popular do colégio: a pele pálida agora avermelhada pelo sol numa tentativa falha de se bronzear no verão passado, cabelos lisos e dourados penteados para trás, olhos azuis por detrás de óculos escuros caindo sobre o nariz comprido e roupas da moda. Além, é claro, do carro de luxo.

Ao seu lado, estava uma garota de cabelos pretos ondulados de um brilho invejável; a adolescente tinha a pele negra, com fundo dourado, o rosto oval que entrava em perfeita harmonia com o nariz largo e os lábios cheios, que agora estavam franzidos em uma expressão de impaciência. Kai também teria visto seus olhos se não fosse pelos caros óculos escuros em seu rosto.

Contudo, foi a passageira no banco de trás que chamou a atenção de Kai instantaneamente por conta da estranha sensação de familiaridade que sua presença causara nela.

Ela parecia ocupada demais em seu celular, nem ao menos desviando o olhar. Mas Kai conseguia notar o quão expressivos eram seus profundos olhos castanho-escuros, sua pele era negra e muito vívida, as altas maçãs do rosto tinham um adorável destaque junto aos cabelos cacheados e o sorrisinho no canto dos lábios fartos.

Ainda assim, não era por ser uma garota bonita que chamara a atenção de Kaia, mas sim por aquele sentimento de familiaridade que Escobar sentiu percorrer todo o seu corpo no instante em que seus olhos posaram sobre ela.

Algo não parecia se encaixar, já que definitivamente elas não haviam se visto antes. Nem ao menos uma vez. Kai teria se lembrado se a tivesse encontrado em outro momento ou em outro lugar. Tinha ótima memória e era boa para se lembrar de rostos.

Ao sair de seu transe, Kai tornou a ouvir a conversa entre Nick e o outro jovem instalado atrás do volante do belo conversível.

— Sem ressentimentos, beleza? É nosso último ano e achei que deveria te convidar para nossa festa hoje à noite, lá em casa. Foi ideia da McKenna. – indicou a garota ao seu lado, no banco do passageiro. Ele então abaixou os óculos escuros completamente e fitou Kai, olhando-a de baixo para cima, exibindo um sorriso que a fez franzir o cenho. – Você pode vir também, se quiser.

Dizendo isso, o rapaz arrancou com o carro, não dando a eles tempo para responder. O som ensurdecedor do motor fez Kai cobrir os ouvidos, cerrando os dentes.

— Mas que filho da mãe! – exclamou. – Quem é esse idiota?

Nick respirou fundo e sacudiu a cabeça.

— Foi mal por isso. Aquele é o Elliot e o pessoal do colégio, McKenna e Aimée. – ele começou a se explicar à nova amiga e vizinha. – Eu já vou nessa, preciso ajudar com o jantar.

Elliot havia se referido à menina ao seu lado como McKenna. Então Kai concluiu que a passageira atrás deles era Aimée. Belo nome, ela pensou.

— Nos vemos mais tarde? – Kai indagou, fazendo-o voltar para ela.

— Mais tarde?

— É, fomos convidados para a festa, não?

Ele levantou uma sobrancelha, parecendo surpreso com a decisão da novata. Não esperava que Kai fosse levar o convite a sério. Ainda mais vindo de alguém tão inconveniente quanto Elliot.

— Olha só, esse pessoal não costuma ser muito receptivo com novos alunos...

— E eu lá ligo para isso? Vão ter comida de graça e música. – Kai encolheu os ombros. – Nada mais justo do que dar algum prejuízo a esses mauricinhos se vão passar o resto do ano nos atormentando.

Ouvindo aquilo, Nick riu alto. Mais do que deveria, chamando até mesmo a atenção de seu pai que ainda lidava com a porta e seu novo equipamento do outro lado da rua.

— Certo, senhorita Kai. Podemos ir juntos e causar um alvoroço na festa depois das oito.

— Estarei esperando. – ela imitou um gesto parecido com uma saudação militar, obviamente brincando. E ele tornou a rir.

Vendo seu novo vizinho atravessar a rua, Kai retornou às tarefas designadas pelos pais, levando o resto das coisas para dentro de casa e eventualmente subindo mais uma vez para seu quarto.

Escobar não esperava muito de sua primeira festa colegial. Imaginava todos os tipos de clichês possíveis: desde a adolescentes bêbados a líderes de torcida dando uns amassos em capitães do time da escola. Nada que fosse impressioná-la.

E ela definitivamente não planejava ir à festa para se enturmar com eles, mas sim para explorar o novo ambiente ao qual teria de se adaptar nas próximas semanas. Talvez o pai de Nick Martinez não fosse tão maluco por ser extremamente precavido. Kaia também era. Não ao ponto de instalar detectores pela casa, mas ela tinha em mente a ideia de observar seus novos colegas para saber exatamente como lidar com eles. Era mais fácil lidar com as pessoas dessa forma.

Em sua antiga escola, Kai era considerada esquisita o suficiente para ser excluída pela galera popular, mas esperta demais para ser colocada no canto dos esquisitos, muito embora ela mesma se achasse um pouco assim. Esquisita.

Horas mais tarde, depois de provar os dois únicos vestidos que trouxera consigo, acabou optando por uma roupa mais casual: jeans e uma camiseta. Penteou os cabelos castanho-claros escorridos em frente ao espelho de seu novo quarto e checou sua imagem por alguns momentos. Os cabelos eram compridos, mas estavam opacos. Uma maquiagem muito leve em seu rosto redondo, onde havia um par de olhos castanho-claros desinteressados, com as pálpebras um pouco caídas, os lábios cerrados em uma linha reta, sem expressar muitos sorrisos.

Essa era uma das coisas que Kai costumava detestar em si mesma quando era mais nova: seu próprio sorriso. Havia sido chamada de estranha algumas vezes no ensino fundamental por causa de alguns dentes desalinhados.

Aprendeu a lidar com isso agora que era mais velha. Mas ainda não era conhecida por distribuir sorrisos aqui e ali. Ainda mais agora.

Ela estava exausta depois da mudança radical feita pela família, dava para notar.

Com um dar de ombros para seu próprio reflexo, Kai concluiu que estava pronta para ir. Desceu as escadas e encontrou os pais na sala, sentados no sofá enquanto assistiam ao noticiário da noite.

— Se lembre dos horários e não volte tarde. – Heitor Escobar, seu pai, apesar de confiar demasiadamente na filha mais velha, ainda estabelecia algumas regras aqui e ali.

Kai balançou a cabeça rapidamente.

— Claro. Pode deixar.

— De quem é a festa? Já fez novos amigos? – sua mãe perguntou curiosamente.

— Um pessoal do colégio. Não vou demorar muito. O vizinho da frente vai me acompanhar. – ela explicou enquanto puxava o celular do bolso de seu jeans para checar a hora.

Sua irmã mais nova os observava do balcão da cozinha.

— Tem certeza de que quer ir? Aquele pessoal parece bem babaca. Vi o jeito que falaram mais cedo. – Alessa comentou, saindo por detrás do balcão com um prato nas mãos, pronta para jantar.

Alessa se parecia muito com a irmã, exceto pelos olhos verdes, os cabelos mais escuros e a maquiagem mais evidente. Kaia já ouvira alguns antigos colegas dizerem que a mais nova era uma versão mais bonita dela. O que a incomodava, já que achava esquisito ter colegas de classe azarando sua irmã.

— É, mas só quero ver com que tipo de gente vou ter que lidar pelos próximos meses.

Com isso, ela se despediu da família e saiu de casa. Nick veio de encontro a ela, atravessando a rua em um look menos casual que o dela, uma jaqueta de couro e os cabelos penteados para trás com muito cuidado.

— É uma festa ou o baile de formatura? – ela brincou ao cumprimentá-lo. – Está querendo impressionar alguém?

Nick mordeu um sorriso tímido e negou. Mas as bochechas coradas entregavam todos os pontos que ele tentou esconder.

— Não exatamente. Quer dizer, vamos ver. Não tenho certeza de que a pessoa vai nem mesmo me notar nessa festa, mas... Não custa nada tentar, né?

Kai concordou e deu um tapinha nas costas dele.

— Bom, te desejo sorte.

Agradecendo-a, Nick a levou até seu carro estacionado em frente ao portão de sua casa e logo estavam a caminho da casa de Elliot Campbell, o garoto do conversível. O trajeto levou alguns minutos, e Nick acabou levando-a para um bairro luxuoso da cidade.

Soltando um assovio de admiração, Kai arregalou os olhos brevemente quando Nick parou o carro em frente à uma casa imensa, de arquitetura moderna, e de onde música alta soava para o lado de fora.

— Exatamente como imaginei. – ela provocou e desceu do carro enquanto Nick fazia o mesmo, dando a volta para caminhar até ela.

Estavam agora lado a lado, parados diante da mansão lotada de Elliot.

— Hora do show, companheira. – Nick devolveu os leves tapinhas nas costas que Kai lhe deu e a guiou para dentro da festa.

Em questão de momentos, a garota já se encontrava perdida no meio daquela multidão, a música alta invadindo seus ouvidos enquanto ela tentava encontrar um caminho para algum canto menos agitado.

Ela começou a se arrepender de imediato de ter vindo, mas não queria ser desagradável ao ponto de ir embora e deixar seu novo colega sozinho naquela bagunça.

Kaia não tinha nada contra festas. Nem mesmo com se socializar em geral. Apenas não costumava ir em situações como aquela com frequência.

Nick a encontrou mais tarde, parecendo muito mais animado do que antes.

— Se divertindo? Posso pedir para que toquem algo que você gosta.

— Não, não precisa. – Kai agradeceu e sorriu de leve. – Olha só, eu vou ao banheiro e quando voltar podemos tocar algo que você gosta. Que tal?

— Beleza. Combinado. – ele concordou e Kai sorriu mais uma vez, passando por ele e procurando pelo banheiro.

Atravessou a multidão que dançava conforme a batida da música, finalmente descobrindo uma porta que a levava para um dos banheiros da casa.

Seus olhos se abriram completamente ao abri-la, se deparando com outra pessoa ali dentro, parada em pé diante do espelho enquanto retocava a maquiagem.

Kai a reconheceu em seguida. A garota bonita no banco de trás do carro. Aimée.

— Foi mal, eu...

— Tudo bem. – Aimée abriu um meio-sorriso, rapidamente colocando o rímel de volta na pequena bolsa sobre a pia do banheiro. – Eu já estava de saída.

Ela apanhou a bolsa e ajeitou os cabelos cacheados em frente ao espelho com uma delicadeza elegante que prendeu por completo a atenção da outra jovem.

Sentindo-se curiosa, Kai fez menção de interagir com ela. Mas foi subitamente interrompida quando ouviu do lado de fora uma comoção preocupante, fazendo a música alta parar.

Ouvia-se gritos de desesperos enquanto alguém aos berros parecia dar ordens aos outros. Uma voz que Kai ano soube reconhecer.

Franzindo as sobrancelhas, Aimée saiu da frente do espelho e seguiu em passos hesitantes para a porta para ver do que se tratava, saindo dali seguida de Kaia, que se retirou logo depois para se certificar do que estava ocorrendo.

— Não faça isso! Você não pod... – uma voz masculina na multidão que outrora encontrava-se dançando uns com os outros soou no meio das outras pessoas que corriam de um lado para o outro.

Em resposta, ouve-se o estrondoso som de uma arma disparando.

Foi quando Kai sentiu seu coração disparar de modo que havia se tornado difícil até mesmo respirar. Ela começou a sufocar como se uma mão a agarrasse pelo pescoço, apertando-a com força.

Ela procurou por Aimée com os olhos, tentando também encontrar Nick, mas não obteve sucesso, a visão se tornando turva, o som dos gritos ecoando em sua cabeça.

Completamente atordoada e sem saber como controlar o próprio corpo, Kaia quase foi ao chão, se apoiando em uma das paredes e tentando encontrar a saída.

Acabou caindo para a frente ao perder o controle das pernas que tremiam violentamente, seu celular escorregando para fora de seu bolso.

Tateando pelo caminho enquanto ainda se encontrava no chão, procurou por seu celular com a mão trêmula. Ao esticar a mão para alcançar o aparelho enquanto pessoas acidentalmente o chutavam enquanto corriam aos quatro cantos para não serem atingidas pela pessoa armada na festa, Kai levantou os olhos para tentar encontrar Nick novamente, porém a visão embaçada a impedia de identificar qualquer coisa

Mas não a impediu de encontrar Aimée dessa vez. Mesmo com dificuldades, assistiu-a arregalar os olhos enquanto a pessoa empunhando a arma a encurralava. Era impossível ver de quem se tratava.

Kai tentou rapidamente se levantar e tentar impedir o pior de acontecer, mas o som do disparo soou mais uma vez antes que ela pudesse agir ou tirar a garota da mira do atirador.

Depois disso, com a mão esticada em um gesto inútil, Kai manteve os olhos muito abertos, sentindo o impacto de estar ali, testemunhando o que parecia um massacre planejado de antemão.

Em seguida, sentiu que algo a arrastava para longe dali, puxando-a pelas pernas, como se estivessem-na sugando para dentro de um túnel, engolindo seu corpo vulnerável. Kai gritava, mas nenhum som saía de seus lábios. Tudo girava em uma velocidade absurda. Seu coração escoiceava o peito enquanto ela – em vão – tentava se manter ali.

Fechou os olhos com força quando sentiu uma forte pressão chocar-se contra seu estômago, fazendo-a se encolher de dor.

E então, como num estranho e inexplicável passe de mágica, todas as sensações horríveis e que a estavam sobrecarregando desapareceram de uma vez. Os sons também haviam cessado.

Ao menos até Kai ouvir Nick Martinez ao seu lado, falando com muita naturalidade.

— Eu não acho que vá rolar. Kai acabou de chegar, não vai ter tempo para suas festinhas.

Abrindo os olhos, a garota fechou seu semblante ao se descobrir em outro lugar.

Não estava na festa de Elliot Campbell, não era noite e tampouco havia um atentado ocorrendo ao seu redor.

Estava em pé, com a caixa de papelão nos braços parada ao lado de Nick que ainda conversava com os jovens no conversível vermelho. Como estivera horas mais cedo.

Aquilo não fazia o menor sentido, mas Kai soube que era realidade quando olhou à sua volta e concluiu que não estava sonhando.

— Sei não, me parece que a sua nova amiga já está meio travada antes mesmo de experimentar qualquer coisa na festa. – a voz e o tom provocador de Elliot a trouxeram de volta à conversa, fazendo Kai o encarar.

Escobar umedeceu os lábios enquanto nervosamente tentava parecer calma, embora ainda estivesse muito confusa e atônita.

— Olha só, acho que Nick deveria ser o anfitrião. Aposto que nunca foram à uma festa dele. – ela sugeriu de repente, pegando todos de surpresa.

Inclusive a garota no banco de trás, a qual deixou de prestar atenção no celular para olhar para a interlocutora; seu olhar finalmente se cruzando com os olhos de Kai, que prosseguiu:

— O quê? O que você acha que está fazendo? – Nick cochichou para a amiga, que deu de ombros e ofereceu um sorriso falsamente simpático a Elliot e às meninas.

— O que me dizem? Festa na casa do Nick às oito? Ou está com medo de descobrir que as suas não são tão divertidas quanto imagina? – ela perguntou ao motorista.

Elliot riu. Uma risada alta e inconveniente.

— Elliot, será que dá para se apressar ou vai ficar o dia todo falando com esses esquisitos? Eu tenho coisas para fazer. – a garota do banco de trás finalmente se pronunciou; a voz suave, um leve e quase imperceptível sotaque, o rosto agora estampando impaciência.

Kai arqueou as sobrancelhas ao ouvi-la. Mal havia chegado e já era considerada uma esquisita? Tudo bem, então.

Elliot grunhiu e assentiu, virando o rosto para Nick e Kai mais uma vez:

— Certo. Nos vemos às oito. Vou avisar os outros que a festa será em outro endereço. – ele finalmente concordou. – Boa sorte com esse fiasco, Martinez.

Acelerando seu carro, Elliot deslizou com o conversível para o final da rua e virou a esquina, finalmente indo embora.

— Que merda foi essa, Kai? Festa em casa? – Nick se virou para ela e cruzou os braços em frente ao peito.

— Olha só, acho que vai ser uma boa. É o último ano e seria uma boa oportunidade para mudar um pouco algumas tradições, não acha?

Ela tentou soar o mais convincente possível, ainda que aquela não fosse o fator que a fizera ter aquela ideia. Kai havia improvisado aquilo por outro motivo.

Nick suspirou e descruzou os braços.

— Vou precisar encontrar um jeito de fazer meus pais saírem de casa hoje à noite.

— Te ajudo com isso. Não se preocupe. – Kai lhe ofereceu um sorriso sincero. – Vai dar tudo certo, relaxa.

Derrotado pelas palavras amigáveis da colega e vizinha, Nick Martinez foi obrigado a concordar. Talvez fosse mesmo uma boa ideia para se enturmar. Algo que ele não havia conseguido fazer nos anos anteriores. Não tinha nada a perder. Ao menos, ele esperava que não.

— Vai me ajudar a organizar isso. – ele não perguntou. Soava mais como uma decisão já tomara, que fez Kai rir brevemente.

— Claro, acha que ia te deixar sozinho nessa? Só vou terminar de ajudar com as caixas e já vamos ver isso, está bem?

Ele concordou em um gesto rápido e Kai sorriu mais uma vez. Sua expressão era de tranquilidade, mas em seu interior ela estava dividida entre a confusão e o choque do que acabara de acontecer.

Ou não havia acontecido?

De qualquer maneira, sendo prevenida como era, Kaia decidiu que a melhor opção para impedir aquilo de acontecer seria mudando o evento para um local mais seguro. Mudar algumas escolhas costumava alterar as consequências delas. Qualquer um sabia disso.

E se os aparelhos do pai de Nick funcionassem, seria fácil pegar quem seria o autor do ataque que ela vira em sua mente. Ou em seu pesadelo, já que ela não sabia definir o que havia acontecido em sua cabeça. Afinal, o que havia sido toda aquela doideira?

Fosse aquilo um sinistro sinal ou apenas um mau pressentimento, Kai nunca pagava para ver. De modo que, como um de seus lemas de vida, era sempre "melhor prevenir do que remediar". E ela assim o faria.

Nick agora tinha uma festa para organizar nas próximas horas. E Kai o ajudaria. Esperando com fé que o que acontecera fosse apenas sua fértil imaginação.

E não uma maldita premonição.



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