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História Wonderwall - O Morte


Escrita por: Kirilov

Notas do Autor


Desculpa a demora.

Capítulo 3 - O Morte


Morte.

Os amigos de Sasuke Uchiha o chamavam de Morte.

Chegar para o trabalho às 13hs me rendeu encontrá-lo encostado no muro, fumando um cigarro em seu provável horário de almoço, enquanto mantinha uma conversa com dois caras tão mal-encarados e tatuados quanto ele. Não que eu fosse curiosa, mas a medida que passava devagar pela possível gangue criminosa, fingindo ler meu livro, prestei atenção que falavam sobre uma apresentação num lugar chamado Led Rock Bar.

Talvez eu seja, de fato, um pouco curiosa. Não nego que havia baixado o som dos fones, quando me aproximava e o vi parado ali com dois estranhos, afinal aqueles deveriam mesmo ser os amigos marginais, e eles poderiam, naquele instante, estar tramando uma invasão a ONG.

— Porra, Morte. Precisamos de você, caralho. Como vamos fazer isso sem um guitarrista? — Foi a última coisa que escutei. Tive de me controlar para não ter calafrios ao ouvir tantos palavrões juntos.

Sério, por que precisavam ter uma boca tão suja? E que tipo de pessoa tem um apelido como esse? Morte?

É… Macabro. Estranho, no mínimo.

No entanto, pensando bem, fazia sentido. Sasuke sempre estava de preto, e sua aura  era sombria.

Num gesto impensado, olhei para trás, a fim de confirmar que sim, ele era sombrio. Para minha grande agonia, o objeto da minha análise estava olhando para mim. Seus olhos negros me encaravam sem disfarce atrás de uma cortina de fumaça de cigarro. Assustada, virei-me rapidamente, fugindo constrangida do flagra.

Ele havia percebido minha curiosidade? Eu estava encrencada? Morta? Sasuke Uchiha era um assassino e, por isso, o chamavam de morte?

Apertei o passo, ouvira o bastante. Minha sanidade estava afetada.

Fazia algum sentido? Ou no fim eu estava sendo um pouco louca, e o nome realmente se devia ao gosto esquisito dele por de vestir de preto? Não tive certeza. Mas de qualquer forma, apressei-me a entrar, buscando a falsa segurança dos corredores movimentados do prédio. Tranquei-me na minha sala, e quase cedi a tentação de os vigiar pela janela; porém, não o fiz. Seria pior para mim se o Uchiha me flagrasse outra vez.

Ino não trabalhava às quartas, então não pude comentar com ela sobre minhas descobertas. Pensei até em ligar, mas desisti. Ela me acusaria por escutar a conversa dele e me chamaria de neurótica, outra vez. Então fiquei confabulando apenas com meus botões.

Durante muito tempo me peguei pensando nos fragmentos da conversa que ouvi. Sasuke tocava mesmo numa banda nas horas livres? Analisando bem, ele tinha um jeito meio assim, de guitarrista de uma banda de rock, ou sei lá o quê.

Led Rock Bar bem provavelmente era um nome em referência ao Led Zeppelin. Lembrei de já ter visto Sasuke usando uma camisa da banda. Também sabia que a introdução de Hey You do Pink Floyd era o toque do celular dele, o vira atendendo uma ligação uma vez.

Será que o Led era um bar da família?

Forcei um pouco minha memória visual, chegando a conclusão que um dos caras conversando com Sasuke mais cedo se parecia com ele. Um pouco mais velho, cabelo comprido, o braço fechado de tatuagens… Não analisei o rosto direito, mas pude notar que tinha olhos negros também. É, o cara mais alto poderia facilmente ser o irmão dele. O outro, um primo, talvez? Amigo?

Por que isso me interessava? Não sei. Mas fugindo de qualquer recriminação ou da voz de Ino sussurrando em minha cabeça que eu estava obcecada, peguei uma caneta e rabisquei na agenda aberta sobre a mesa:

Sasuke Uchiha (O Morte)

Ex-detento

Fumante compulsivo

Gosta de Led Zeppelin e Pink Floyd

Só usa preto

Toca guitarra

Olhei as palavras por um bom tempo, antes de decidir esquecê-lo um pouco e me dedicar ao trabalho. Não foi tão difícil, afinal estava cheia de tarefas. E como chegara tarde, devido o almoço com minha mãe, resolvi que somente iria embora quando terminasse tudo que havia para fazer. Foi cansativo, e como sempre, um pouco desesperador, visto que as coisas ainda estavam ruins para a organização, e eu não enxergava uma possibilidade, além daquela em que, mais uma vez, pedia dinheiro da empresa do meu pai para sustentar a ONG por mais um mês. Era o que fazia sempre, antes do Dread Pirate. Também, mais uma vez, mandei e-mail para ele.

Só no início da noite a minha caixa de e-mail atualizou, com uma resposta aos meus inúmeros pedidos desesperados por ajuda. No entanto, a mensagem dele se resumia a:

O seu aniversário está chegando, Buttercup. Espere e terá uma surpresa.

Att. Dread Pirate Roberts

Buttercup, da princesa prometida. Se bem me lembrava, na história o Pirate Roberts era apaixonado por Buttercup. Foi a primeira vez que ele me chamou assim, e eu não soube exatamente o que pensar disso. Porém, logo comecei a digitar, perguntando se estava enganada, ou ele nos via como algum tipo de casal. O que parecia loucura realmente, mas que poderia ser verdade, pois de súbito me veio a ideia se o cara misterioso na verdade era Naruto.

Certo, isso não tinha lógica, considerando que Naruto sempre criticava minha escolha por me dedicar a ONG, e não a empresa do meu pai, embora soubesse muito bem que o Sr. Haruno nunca me deixaria chegar longe nos negócios, já que sua visão machista o impedia de acreditar que um dia eu tocaria a empresa dele. Ele vivia repetindo que o meu negócio era distribuir o dinheiro dele para os outros, o que não deixava de ser verdade, de alguma forma.

Mas quem sabe, Naruto não fazia apenas um jogo na frente do meu pai, quando de verdade resolvera me ajudar, escondendo-se atrás de um nome secreto? Isso mudaria muita coisa entre nós, inclusive a visão atual que eu tinha dele, por ter passado o mês inteiro sem comentar a respeito do meu aniversário que se aproximava.

Preparei a mensagem. Olhei para a tela alguns minutos. E quando estava prestes a enviá-la, um barulho estrondoso me assustou, a ponto de me fazer gritar. De repente, tudo se apagou. A cidade, por inteiro, parecia ter imergido no breu. A única luz que se fez presente foi o clarão de um raio cortando o céu, apresentando-se assustadoramente atrás da janela de vidro.

Perturbada com o apagão e os raios, tateei tudo a procura do meu celular, porém, como imaginava, o maldito estava sem bateria, sequer consegui ligar a lanterna sem que ele se apagasse. O celular não tinha nada a ver com minha estupidez, sei bem disso, mas não pude evitar a vontade dilacerante de jogá-lo contra a parede. Quebrar tudo não resolveria, a única culpada era eu. Eu e meu horroroso costume de escutar música o dia inteiro, e apenas me preocupar em carregar o aparelho alguns minutos antes de voltar para casa.

A chuva começara no fim da tarde, uma tempestade terrível com direito a relâmpagos de dar calafrios, então por que não pensei um pouco e saí mais cedo? Não sei. Sinceramente não sei.

Senti perder a tranquilidade com as implicações da situação em que me metera. Provavelmente não tinha culpa por tudo, mas era inevitável não pensar em como poderia evitar de várias maneiras as atuais circunstâncias; porque, justamente naquele dia, também não saíra de casa com meu kit de sobrevivência. Quer dizer, desde a semana em que trocara de bolsa, não havia me preocupado em passar os itens indispensáveis para a bolsa nova. O que era uma burrice sem tamanho. Costumava andar com o kit para todo canto: uma lanterna, uma bússola, um canivete e fósforos. Mas justamente no dia em que precisei, fui refém da minha própria preguiça e esquecimento.

Tudo seria mais fácil com uma lanterna. Nas atuais condições, não conseguia nem mesmo me mover direito, não enxergava nada a minha frente. Tropeçava em tudo, a cada passo que dava em direção a janela, tencionado ver o que acontecia lá fora. Também, como se não fosse suficiente, a escuridão desagradável tocou justamente no meu ponto fraco, o mais terrível entre eles: o medo.

Estava prestes a gritar de frustração, quando vi uma luz opaca surgindo pelas frestas da porta. Uma lanterna, provavelmente. Era o meu socorro, acreditei nisso. No entanto, no instante em que a porta se abriu, mais uma vez lamentei profundamente não ter saído de casa com o kit de sobrevivência. Porque, definitivamente, além da lanterna, eu precisaria ter o meu canivete de estimação comigo, caso não quisesse morrer pelas mãos de Sasuke Uchiha.

Diante da presença dele, tudo que fiz foi dar alguns passos para trás, buscando manter uma distância segura, se é que poderia ser possível. E ele sorriu, colocando aquela luz no meu rosto. O descarado simplesmente riu.

— Se chegar perto eu vou gritar. — Para quem escutar? Minha consciência fez questão de perguntar. Àquele horário, aparentemente só havia nós dois no prédio.

— Está com medo de mim?

— Estou falando sério. Acho melhor você ir embora, se não quiser que eu grite — disse, tentando parecer segura, e fugindo de uma resposta mais direta. 

Era óbvio que estava com medo dele. O cara simplesmente tinha passagem pela prisão, poderia facilmente ser um assassino, embora Ino e Sai achassem que não. Se ele me matasse ali, ninguém ficaria sabendo. Tudo bem que, na segunda-feira, ele havia me levado até o terminal de ônibus, e cheguei viva em casa, mas agora o cenário era outro. Estávamos sozinhos num prédio sem energia. A rua inteira parecia sem energia, na verdade. Dadas todas as circunstâncias, para ele seria muito fácil me matar e sumir com o corpo.

— Sabe que todo mundo já foi embora, né? — ele perguntou, aproximando-se.

— Mais um passo, e eu juro que grito.

— E ninguém vai escutar — desdenhou. — Olha, maluca, eu vim porque te escutei gritando, e porque a água já estava chegando no portão, claro. Não sei se percebeu, mas a chuva alagou vários pontos na cidade, está nos noticiários. Além do mais, acabou de cair uma árvore aqui na rua, que puxou basicamente todos os fios de energia que estavam por perto. Então, se juntar isso ao fato de que os carros estão sem acesso ao bairro, vai demorar bastante até a situação voltar ao normal. Eu até poderia te levar ao terminal, outra vez; mas como eu já disse, aparentemente ninguém entra e ninguém sai. Como pode ver, tenho uma lanterna, e estamos apenas nós dois aqui, então acho prudente ficarmos juntos. Claro, se você não preferir ficar aí no escuro.

— Prefiro ficar sozinha.

— Ok... Como quiser — disse simplesmente, dando-me as costas e me devolvendo a sala escura.

Temendo o completo breu, ponderei quais as reais probabilidades de Sasuke ser mesmo um assassino. Se ele quisesse me matar, já teria matado, eu acho. Talvez meus colegas estivessem certos sobre mim. Sou neurótica e tenho mania de perseguição.

— Espera! — gritei, antes que fosse tarde demais. 

Ele voltou, imediatamente me constrangendo com a intensidade dos seus olhos acusadores e expressão convencida. Suspirei, derrotada. 

— Você não está armado, está?

— Por que eu estaria armado?

Diante da minha mudez e evidente estado de inquietação, o Uchiha se aproximou, deixou a lanterna sobre a mesa e veio a mim com as mãos para o alto. Parou bem perto, de onde eu conseguia enxergá-lo com detalhes e sentir o seu perfume misturado ao cheiro de cigarro, então levantou a blusa até a altura do peito, revelando um abdômen desenhado; não tão malhado como dos caras da TV, mas havia um tanquinho ali, que involuntariamente me fez morder o lábio em apreensão.

Como se não bastasse, ele não estava usando um cinto, a calça um pouco folgada na cintura revelava a faixa de uma cueca preta da Calvin Klein. Engoli em seco vendo aquilo, a minha parte de mulher neurótica deu lugar a que sabia reconhecer os atributos de um cara bonito. Acho, também, que o Uchiha notou a minha afetação, pois quando voltei a subir o olhar, encontrei um sorriso cínico no rosto dele, que me despertou da análise indiscreta.

Ele girou devagar, exibindo o corpo perfeito e uma linda tatuagem de asas nas costas, que pouco racionalmente me fez engolir em seco.

— Viu? Não estou armado.

A única resposta que eu tinha em mente eram coisas inapropriadas que, com certeza, não poderia falar, então apenas acenei positivamente.

Sem pedir permissão, ele sentou sobre a minha mesa, o que me deixou um pouco desconfortável. Sem hesitar, a parte de mim safada que chegou a gostar da exibição dele, novamente cedeu lugar a parte sensata, que naquele instante o considerou um sem educação por sentar na mesa dos outros. Tudo bem, Sasuke aparentemente não era um assassino, mas ainda estava muito distante de ser um modelo de bons modos.

— Sem cigarro. — Adverti logo, ao vê-lo pegando uma caixa do bolso.

Ele levantou as mãos em rendição, sorrindo descarado. Juro que o ouvi sussurrar um “mandona”. Mas fingi não escutar, seria melhor.

Sentei-me na cadeira, ficando ali calada, até o silêncio se tornar perturbador entre nós.

— Então você toca guitarra? — tentei iniciar uma conversa. — Mais cedo, acabei ouvindo sem querer.

— É.

— Legal... E toca mais alguma coisa?

De imediato, ele não respondeu, apenas me olhou com a cabeça um pouco deitada de lado, como se estudasse minhas ações.

— Acho que devemos conversar um pouco, já que ficaremos presos aqui — esclareci.

— Violoncelo.

— Sério? — Não. Sasuke certamente estava zoando com a minha cara.

— Sério.

Encarei-o, esperando que sorrisse daquele jeito torto dele, antes de sussurrar "É claro que não". Contudo, isso não aconteceu. 

No fundo, quando perguntei, foi apenas por me sentir desconfortável com o silêncio entre nós, e não porque de verdade acreditava nas habilidades dele com a música. Mas agora, estava vendo a possibilidade de colher informação do inimigo. Reveladoras, por sinal.

— Tenho um pai maestro e uma mãe violinista — explicou, muito provavelmente notando minha expressão de incrédula curiosidade. — Eles são da orquestra sinfônica da cidade.

— E você pratica?

— De vez em quando. Sabe, às vezes eles precisam de mim, e lá vou eu…

— Não precisa de um teste para fazer parte da Orquestra?

— Precisa. Mas já passei na seleção, fui de lá por um tempo, então… Sei lá, acontece de me chamarem. Agora, por exemplo, tem um concerto importante na sexta, o violoncelista principal está doente, e eu sou o único que parece agradá-los para a substituição.

— Por isso não vai tocar no bar com a sua banda?

— Você estava ouvindo minha conversa?

— Quê? Não! Eu só estava passando. Não tenho culpa se falam alto.

— Sei… De qualquer forma, não tenho uma banda. Meu irmão tem.

Voilà, eu estava certa. O cara alto todo tatuado era irmão dele.

— Gaara, o guitarrista deles, decidiu não fazer o show. A namorada pediu, e ele simplesmente deixou os caras na mão, é um escravoceta. Como pode perceber, estou sempre tapando buracos. O que foi?

— Pode não falar essas coisas, perto de mim?

— O quê? Escravoceta?

— É. Isso.

— Isso? Você é algum tipo de puritana e tal?

— Não. Não sou puritana. Só detesto xingamentos e palavras chulas.

— E cigarro. E ser chamada de princesa… Ainda bem que você é gostosa, porque é chata pra caralho. — Ele ficou rindo sozinho, desdenhando de mim.

Abri a boca umas duas vezes, exasperada com a audácia dele em ser tão descarado. Mas, no fim, não falei nada. Absolutamente nada. O cara havia acabado de ser totalmente indiscreto comigo, e eu simplesmente fiquei calada. Não valeria a pena bater boca com um sujeito rude como Sasuke. Não mesmo. Então apenas encostei a testa na mesa e me perguntei até quando precisaria suportá-lo.

O silêncio novamente tomou conta da sala, porque me recusei a retomar qualquer tipo de conversa. Estava indignada demais para isso. E minha determinação a ignorar a existência dele foi suficiente para que também me evitasse, pelo menos por um tempo.

— Certo — disse, de súbito.

De início mantive-me imóvel. Pensei que estávamos de acordo em não trocar nem mais uma palavra e só aturar a presença um do outro. Portanto, não fiz questão de erguer a cabeça para prestar atenção seja lá no que fosse que ele queria dizer.

— Não vou xingar mais na sua frente, não vou fumar, nem te chamar de princesa… Ou gostosa. Nunca. Em troca, você me diz qual sua música favorita.

Olhei-o, finalmente.

— Por que eu faria isso?

— Porque, se não disser, vou fazer todas essas coisas.

Revirei os olhos, revoltada.

— Que diferença faz para você a música que gosto?

— Nenhuma. — Deu de ombros. — Mas quero um cigarro, e isso está me deixando meio inquieto. Então se não quer que eu fume ou te deixe aqui sozinha, distraia-me.

Ok, pensei comigo. Posso fazer isso.

— Across The Universe. E a sua?

— A nona, de Beethoven.

— É. Parece que os criminosos gostam, em geral.

— O quê? — ele perguntou, uma expressão séria no rosto.

Foi só então que percebi o que havia falado. Tentei disfarçar, mas notei, pela forma que ele me olhava esperando uma explicação, que seria mais fácil concluir o pensamento.

— Laranja mecânica. O Alex… Você não vai saber.

— Por que eu não vou saber, Haruno?

— É um livro.

— E você acha que não sei ler? — Sorriu indignado, ou mais provavelmente fingindo esse sentimento. Não dá para saber. — Criminoso e burro. — desdenhou, mantendo o sorriso em minha direção, agora com um ar de crítica, a qual eu não soube bem como reagir.

— Não falei que você é burro. — Sinceramente, foi mais ou menos o que pensei, quem estou enganando? Não que o considerasse burro, mas de fato não achei que ele pudesse se interessar por literatura.

No fim, Ino tinha total razão quando me acusava por me precipitar nos meus julgamentos sobre Sasuke. Na minha cabeça ele era só um cara chave de cadeia; bem atraente, mas sem muito cérebro; e com um ar de mistério que conotava perigo. Eu sei, era puro preconceito com ele. E me dei conta disso tarde demais.

— Alex DeLarge, líder dos drugues, apreciador de Ludwig van… É. Eu sei ler. Gosto de literatura, se quer saber. Aliás, não sou como Alex, não sou um assassino e estuprador.

— Desculpa, ok? Eu não quis dizer que você é. Só achei interessante que goste de Beethoven. Na minha cabeça, só pessoas com alguma perturbação gostam de música clássica.

Ele sorriu com o canto da boca, de novo.

— Sabe, Haruno, eu fui a faculdade — disse, num tom de provocação que eu ignorei. Não seria sensato mantermos aquela guerra fria.

— É mesmo?

— Sim.

— O que estudou?

— Matemática.

Uau. Isso realmente me surpreendeu. Sasuke Uchiha estudou matemática. Minhas mãos até coçaram para pegar a minha listinha e adicionar essa façanha dele, acompanhada da atualização: “Toca Guitarra e Cello”.

— Estou te dando essa informação para que não continue achando que sou tão patife. Não que isso mude muita coisa, mas você realmente parece o tipo de pessoa que se preocupa com títulos.

— Eu? — É, talvez. Me fiz de ofendida, porém sabia que havia um pouco de verdade no que ele dizia. — Tudo bem, digamos que me precipitei um pouco sobre você. Então agora, de fato, estou surpresa. Odeio matemática. E sem dúvida, um cara que sabe tocar Cello e gosta de matemática, não pode ser um completo patife.

— Na verdade, eu não gosto.

Minha expressão denunciou minha dúvida, porque ele logo completou:

— Só porque não gosto, não quer dizer que não entendo. Algumas pessoas odeiam matemática por não conseguir entender; eu odeio por entender demais. Os números me deixam louco às vezes, de uma forma que não sei explicar muito bem. Eles me fazem pensar em coisas que eu não gosto, entende? Eles deveriam descrever o universo, mas há tanto empirismo… Manipulamos os números para chegar a conclusões que na verdade não estão descritas na natureza, ou estão, mas não enxergarmos, e simplesmente soltamos lá sem uma explicação plausível. E onde está a verdade nisso? Não sei. Um dia calculei o infinito, e foi ridículo a resposta que encontrei, porque conclui que se o universo for seguir os números, só posso pensar que ele é como um espeto de uvas, largo no meio, estreito nas bordas, formando túneis de buracos negros entre um e outro. E isso me deixa louco, porque a verdade é abstrata na matemática. Na vida, eu acho. Os números são a razão, na maioria das vezes; mas nem tudo faz parte de uma ordem. Os números mentem, Haruno, entende? É disso que tenho raiva.

Meneei em confirmação. Mas não, não entendi. Calculou o infinito? O universo um espeto de uvas?

Percebi que ele era louco, isso sim. E me dediquei a observá-lo, estudando seu semblante, enquanto ele olhava o teto de uma forma vaga, meio perdido em pensamentos, provavelmente pensando no universo.

Embora eu quisesse saber mais e não conseguisse parar de olhá-lo perdido em divagações distantes, inevitavelmente voltamos ao silêncio. Minha cabeça estava trabalhando a todo vapor. Sasuke Uchiha não era só um homem de cara fechada com passagem pela polícia. Era músico e matemático! Tinha uma teoria sobre o universo e falava em buracos negros. Meu Deus, onde estava o erro? Por que isso parecia tão esquisito? O que diabos aquele homem tinha feito para ir parar na prisão? Por que estava trabalhando conosco, quando evidentemente podia procurar fazer outra coisa da vida?

Várias perguntas sem respostas, isso me deixou mais pirada em relação a ele.

De repente, Sasuke parou de analisar o teto e voltou a olhar para mim. O que, claro, deixou-me sem jeito por não conseguir disfarçar que o encarava.

— Quanto a você, sei que curte os Beatles… Essa Across The Universe é deles? Não me lembro de já ter ouvido.

Não sei que cara eu fiz, mas ele me olhou de um jeito engraçado, denunciando que minha expressão deveria beirar o ridículo. 

— Não é difícil saber o que escuta. Você sabe… — Fez um sinal, apontando o ouvido direito, como se eu realmente soubesse o que estava tentando dizer. — Os fones. Você sempre está de fones, com música alta. E a atenção presa em um livro, nunca olha para o mundo. Eu sempre acho que você vai tropeçar em alguma coisa e cair… É perigoso, ler enquanto anda, não acha?

Aquelas palavras me fizeram perceber que Sasuke prestava mais atenção em mim do que eu poderia imaginar. Precisei piscar atônita, digerindo a informação. Tudo bem, antes eu achava que ele tinha algum tipo de antipatia por mim, mas percebi, naquele instante, que não era exatamente isso. Cogitei até, considerando minhas novas descobertas, se seria o melhor momento para questionar o porquê de ele me envolver em suas conversas com Sai, chamando-me de burguesinha mimada. Contudo, achei melhor não. Ainda não.

Sorri, sem jeito.

— Acho que sim, pode ser um pouco perigoso… Sobre os Beatles, a música é deles sim. Em geral, gosto bastante de todas as músicas deles. É a minha banda favorita. Mas bem, também curto música clássica, e não me considero normal. Por isso que tenho minha opinião sobre quem gosta de Beethoven. — tentei, mais uma vez, aliviar minha barra por ter insinuado pouco discretamente que ele tinha uma mente criminosa.

— De quem você gosta?

— Bach, Debussy…

— E no rock? Você deve curtir outras bandas, ou no seu coração só há espaço para Beatles?

— Gosto de muitas, e de estilos variados. Oasis, Radiohead, Aerosmith, Pink Floyd, The Police, Nirvana, Pearl Jam, Kansas, Creedence, Bob Dylan… — pensei em mais.

— Janis Joplin?

— É. Janis Joplin, eu gosto. Escuto tão alto assim, sério?

— Não.

— Então como sabe?

Sasuke sorriu sarcástico, olhando-me como se eu fosse óbvia demais.

— Sei lá.

— Sei lá?

— Você é meio hippie. — Apontou para a minha roupa. Dessa vez sem aquele sorrisinho de canto, mas com um olhar esnobe. — Outro dia veio trabalhar com um óculos azul em formato de coração.

Lembrei da segunda-feira, no terminal, quando o flagrei me analisando descaradamente dos pés à cabeça.

— Qual o seu problema com as minhas roupas?

— Nenhum — respondeu, dando de ombros, antes de desviar o rosto e se apegar a olhar para a janela. Também olhei, a escuridão lá fora era instigante. — Eu até gosto do seu estilo, se quer saber. Você fica… Bonita.

Gostosa. Ele diria gostosa. A pausa dramática e o sorriso cínico foi suficiente para revelar seus pensamentos indecentes. Eu deveria me sentir indignada de novo, culpá-lo pelo simples fato de pensar em se referir a mim dessa forma, quando havíamos selado um trato. Mas não me senti ofendida. Sequer o recriminei com um olhar, que poderia evidenciar algum desconforto. Muito pelo contrário. Eu sorri. Eu sorri para ele, pura e simplesmente. Porque a parte louca e desesperada dentro de mim, que sofria com o desinteresse do noivo demonstrado nos últimos meses, estava gostando dos flertes pouco discretos de Sasuke Uchiha, O Morte.

— Gosto de Oasis também, bastante. – murmurou, ainda olhando o tempo lá fora. — Gosto de todas que você falou, sua lista é bem boa. Só faltou Led Zeppelin. E algumas outras, na verdade. Mas a lista realmente não é ruim. Você tem bom gosto.

É, você também não é tão ruim, pensei comigo. Acho, inclusive, que se a energia não tivesse voltado minutos depois, teríamos conversado mais e chegado a algum meio termo que o tirasse da minha lista de pessoas a serem evitadas.


Notas Finais


Agora que "Além do que se vê" entrou em reta final, prometo me dedicar a essa fic, de verdade. Já estou fazendo isso 😊. Essa é uma história que gosto muito, e estou animada para escrevê-la.



Beijos. Espero que tenham gostado!


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