História Words - Hard School

Desabrochar 1979 (aos 16 anos)

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O despertador tocava incessantemente, a garota se virou de lado tentando alcançar o radio-relógio para desligar o mesmo. Por mais que quisesse ficar na cama e dormir, tinha que levantar. Hoje começava para Ellen mais um ano letivo, ela ingressava no 02º ano do ensino médio. O primeiro tinha sido meio confuso, afinal ela tinha acabado de retornar para Lafayette e tinha poucos amigos, mas agora estava mais fácil, tinha Mônica e Paty, além de seus amigos de sempre Bill e Jeffrey.

Levantou-se, espreguiçando na cama enquanto ligava seu radio-relógio em sua estação de radio favorita. A mesma tocava Night in the Ruts do Aerosmith. A garota se levantou no ritmo da música, animada e dançando conforme a mesma.

Ellen estava mais alta, agora com 1,68m, seus cabelos estavam mais loiros e lisos um pouco abaixo dos ombros. Seu corpo também havia ganhado mais curvas, desenhado por uma cintura fina e um bumbum arrebitado. Além do mais, seus seios também estavam maiores, mas a garota ainda se incomodava com as mudanças tão repentinas em seu corpo, tinha vergonha e não se sentia completamente à vontade com tais mudanças. Sempre tentava se esconder por baixo de blusas mais largas e folgadas.

Dançando pelo quarto, pegou suas coisas e caminhou para o banheiro, a fim de fazer sua higiene matinal e se arrumar para o primeiro dia de aula.

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Enquanto isso, do outro lado, na casa vizinha, Jeffrey já havia apertado soneca três vezes em seu velho despertador. O garoto relutava em levantar, pensou seriamente em matar esse primeiro dia de aula, mas lembrou-se das ameaças de sua mãe em tirar sua bateria e proibi-lo de ensaiar com seus amigos na garagem de sua casa.

No último toque do despertador deu-se por vencido, notou seu travesseiro molhado, provavelmente apagou de tal forma que acabou por babar no mesmo. Sentou-se na cama com a cara amassada e os cabelos arrepiados.

Jeffrey também estava mais alto, agora com 1,80m, seus cabelos pretos estavam maiores, um pouco abaixo da orelha, tentava por tudo deixa-los crescer, assim como eram os cabelos de seus ídolos, mas seu cabelo quando grande acabava por enrolar as pontas e não ficava tão liso como gostaria. Estava bem mais magro que antes, devido o “estirão” da puberdade e sua pele mantinha a mesma cor clara, tendo se acostumado a ser chamado de albino por seus amigos mais próximos.

Isbell entrou rapidamente no banheiro, pegou uma escova e creme dental e saiu pelo quarto com a escova na boca procurando se tinha algo limpo ou quase limpo para vestir. Foi até sua janela, afastando a cortina e olhando para o dia ensolarado que podia curtir, mas que acabaria perdendo preso naquele “inferno”. Olhou para frente e se deparou com sua melhor amiga, cantando feito uma louca, dando a melhor performance que ele poderia ver da música de Steve Tyler. Sorriu vendo como a loira se arrumava cantando e dançando por todo o quarto.

- Hey!!! – Ela disse assim que o viu.

- Deveria cobrar pelo show Ellen. – Ele gritou zombeteiro tirando a escova da boca.

- E você devia se preocupar em se arrumar, ao invés de estar assistindo meu show de graça. – Brincou.

Ele apenas sorriu e voltou para o quarto, já que não tinha escolha, o jeito era ir mesmo para a escola.

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Jeffrey desceu as escadas com pressa, como era de se esperar, hoje Calvin estava em casa. O novo namorado de sua mãe havia se mudado de vez para lá e se apossado completamente das coisas, e o pior de tudo, queria mandar em sua vida como se fosse seu pai. Calvin não passara do dono de uma borracharia e só por isto se achava o empresário da cidade, vivia bêbado e gostava de jogar. As brigas entre Calvin e Donna eram frequentes e sempre muito intensas, mas Jeffrey já havia perdido as esperanças de ver sua mãe dá um chute nesse cara. Então o jeito era esperar, para quem sabe um dia, esse milagre acontecer.

A fim de evitar brigas pela manhã, o garoto saiu sem nem ao menos passar na cozinha, não estava afim de sermão logo cedo pelo seu “padrasto” o chamando de vagabundo irresponsável pela manhã.

Ao sair de casa, Ellen já estava o esperando. Apesar de nem sempre ir com a amiga para a aula, já que o mesmo mais cabulava do que ia, hoje era um desses dias que eles iam juntos conversando animadamente.

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Era a hora do almoço entre as aulas. Esse ano os amigos haviam ficado em turmas diferentes, apenas uma ou duas matérias que faziam juntos.

Ellen aproveitava o intervalo para pôr os papos em dia com sua amiga Mônica.

- Ellen, por que não faz a seleção para líder de torcida? Tenho certeza que passaria. – Mônica comenta.

- Eu não levo jeito para isso Mônica. – A loira sorri enquanto come seu almoço.

- Depois que virei líder de torcida, minha vida só melhorou. É cada gato do time de futebol americano que me deu mole, mas claro que escolhi o Tim, o zagueiro mais gato de toda Lafayette. – A morena deu um sorriso convencido.

- Você combina com isso, eu não. Essa roupa ficaria estranha em mim. – Ellen diz olhando o conjunto de blusa e saia rodada com pregas, farda oficial das líderes, que Mônica usava.

- Amiga, não tem como uma pessoa ficar feia com essa blusa e essa saia. – Mônica se levanta dando uma voltinha. A morena adorava chamar a atenção.

- Está bem, Mônica. Eu irei pensar. – Ellen se dá por vencida.

- Pense mesmo. – Ela reforça. – Esse ano me candidato a chefe das líderes. A Roberta vai se formar e sairá de vez.

- Aí que fila para pegar essa comida insonsa. – Paty chega com sua bandeja em mãos. A morena de pele cor de jambo se queixa com suas amigas. – Vi que a turma do Tim já saiu Mônica, com certeza ele vem para cá, fala para ele falar de mim para o Pierre. – Paty pede.

- Falarei sim. – Mônica pisca para a amiga. – Bem, acho que só falta você Ellen. Eu tenho o Tim, a Paty em breve estará com o Pierre e você...já sei...o Adam. – Mônica disse animada batendo palminhas.

- Verdade Ellen, soube que ele terminou com a antipática da Carmen. Daria certinho com você. – Paty também se empolgou com a ideia.

- Eu? Com Adam Griffin? Vocês só podem estar delirando meninas. Adam só namora as garotas populares. – Ellen balança a cabeça descrente.

Adam era o sonho de toda garota do colegial. Era alto, forte, tinha olhos e cabelos castanhos e era o atacante do time de futebol. Diversas garotas suspiravam por ele.

- Ah quem sabe. – Mônica cogitou, mas Ellen nem deu tanta bola.

- Aí Ellen, se não ele, talvez outro. Não acredito que você nunca namorou. – Paty comenta. – O que houve com o Jonny? Soube que ele era interessado em você. Até te chamou para sair uma vez, não foi? – A morena relembrou.

- Sim, conversamos algumas vezes e ele me convidou, mas depois ele meio que me deu um bolo, adiou o convite algumas vezes e sei lá, ficou estranho comigo e se afastou. Acho que os garotos não gostam muito de mim, eles nunca chegam em mim. – Ela diz chateada. 

- Aí amiga desencana. Você é linda, talvez só precise mudar um pouco essas roupas, não sei. – Mônica diz avaliando as roupas de Ellen, pensando em alguma coisa. 

A loira já ia responder quando foi surpreendida por Jeffrey ao seu lado na mesa. O albino chegou quieto, cumprimentou as demais garotas e se abaixou ao lado de Ellen para falar em particular com ela.

- Eu preciso de um favorzão seu. – Ele mira nos olhos da amiga que já imaginava qual seria o pedido.

- Jeffrey, hoje é o primeiro dia de aula, não me diga...

- Eu preciso sair e resolver umas coisas Ellen, é realmente importante.

- Sei. – Ela rola os olhos. – Ensaio de banda não é algo urgente Isbell.

- Não é isso, tanto que vou sozinho. Bill e Mike vão continuar aqui e eu volto para o fim das aulas, prometo. – Ele diz.

Ellen olhava duvidosa para o amigo, mas acredita.

- Assina a frequência para mim? – Ele finalmente faz o pedido já esperado pela garota.

- Tá certo, eu assino. – Ela concorda e ele imediatamente sorri.

- É por isso que eu gosto tanto de você. – Diz repentinamente dando um beijo em sua bochecha. A garota arregala os olhos levemente. – É minha melhor amiga, a única que confio. – Ele finaliza se levantando e saindo.

- Tchau Jeffrey!!! – Mônica grita tentando chamar atenção do garoto que apenas acena de longe.

- O que ele queria? – Paty pergunta curiosa.

- Nada demais, besteira. – Ellen disfarça.

- Ele tá diferente né, tem algo a mais nele...- Mônica fita descaradamente o garoto ao longe.

Ellen repara no olhar de interesse da amiga. Lembrava que eles tiveram um rolo, saíram umas cinco vezes, mas Mônica acabou o dispensando ao entrar para o time de líderes de torcida. Para ela, não pegava bem ser vista com alguém como Jeffrey no colégio, Mônica queria os jogadores, os populares, algo que com certeza nem Jeffrey e nem Bill eram. Já fazia um bom tempo que os dois não se viam, depois do rolo que tiveram se evitavam na escola e depois vieram as férias do final de ano.

- Hey o que aquele “perdedor” fazia aqui com vocês? – Tim chegou à mesa abraçando Mônica.

- Não fala assim dele. – Imediatamente Ellen o repreendeu. 

- Ele é amigo da Ellen, amor, são vizinhos. – Mônica explicou.

- Ah claro, só podia ser isso mesmo. Mas não é bom vocês andarem com esses caras, bando de perdedores. – Ele repetiu enquanto Ellen fechou a cara. – Ouvi dizer que os idiotas tem uma banda, imagina uma banda de rock em Lafayette. – Riu debochado. – São mesmo uns perdedores idiotas.

- Já chega!!! Não fale assim deles. – Ellen repetiu altiva é irritada.

- Tá legal, se acalma loira. Foi apenas uma brincadeira. – Tim puxou Mônica para seu lado. – Não precisa ficar estressadinha.

- Olha, eu já vou indo, vou passar na biblioteca. – Ellen se levantou saindo da mesa.

- E então Tim, o Pierre não vem? – Paty mudou de assunto.

- Ele deve está vindo, aquele poço sem fundo deve tá na fila da comida, de novo. – Zombou. – Interessada é morena? – Ele indagou, enquanto Paty apenas deu um sorriso de canto. – Já entendi, vou falar com meu amigo. – Tim sorriu.

- Amor, e quanto ao Adam, sabe se ele está saindo com alguém? – Mônica perguntou como quem não queria nada.

- Aquele ali nunca está sozinho – Sorriu. - Mas nada sério. Por quê? – Tim questionou curioso.

- Acha que ele se interessaria pela Ellen? – Mônica disse sem rodeios.

Tim analisou por um momento.

- Bem, se ela se acalmar mais um pouco. – Riu em escárnio. - Até que é bonitinha. Posso vê isso também. – Tim piscou para sua namorada.

- Obrigada, amor. – Mônica deu um sorriso travesso piscando em seguida para Paty.

A morena realmente queria ajudar Ellen a arrumar um namorado e entrar para seu clubinho “perfeito”.

...

Jeffrey pegou sua bicicleta saindo escondido pelo estacionamento da escola, iria até um rally de motos que não ficava muito longe dali.

Ao chegar, se deparou com diversos motociclistas, diferentes tipos de motos e uma espécie de exposição das mesmas. O garoto tinha um fascínio por motos, colecionava revistas, artigos, tudo que saía referente as mesmas. Sonhava no dia que poderia ter uma moto só pra si e cair na estrada viajando pelo mundo.

- Hey Isbell! Quanto tempo não o vejo. – Jonas se aproximou do albino. – Também gosta de motos?

- E aí cara? Sou vidrado nelas. Fugi um pouco das aulas, não podia perder essa oportunidade, nunca vem nada parecido para esse fim de mundo. Vim dar uma olhada, nem que fosse rápido. – Explicou. - Mas pensei que você não estava mais aqui por Lafayette. – Ele salienta.

- Que nada, só saí do Dunk, mas continuo por aqui. – Jonas explicou. – Venha, quero lhe mostrar um negócio.

Jeffrey acompanhou o velho conhecido.

- Veja, não é uma belezinha. – Jonas aponta para sua moto nova totalmente modificada.

- Caraaaalho Jonas, que moto maneira. – O albino diz boquiaberto admirando a moto do colega.

- Fiz umas modificações, turbinei algumas peças. – Ele contava orgulhoso.

- Deve ter sido uma grana. – Jeffrey coçou a cabeça, mas não parava de olhar a moto.

- Digamos que meus negócios andam muito bem. – Jonas sorriu.

- E sua moto antiga? – Jeffrey perguntou.

- Cara, apesar de gostar muito dela, acho que vou vender. Por que não fica com ela, Isbell? Te faço um preço camarada. – Jonas oferece. 

- Quem me dera, precisaria sair quase de graça. – O moreno diz em desalento. Quem dera tivesse algum dinheiro para poder comprar algo desse tipo, pensa.

Jonas se aproxima mais no amigo, falando com discrição. 

- Cara, já te disse. Por que não entra no meu negócio? Tô te falando, rende uma boa grana, eu consegui expandir meus negócios e agora olha só, tá chovendo grana, cara. Tu poderias vender por aquelas bandas do teu bairro.

- Não sei Jonas, acho que...

- Bro, tô te falando. Risco zero, até agora, olha como estou tranquilo, nem com os "poliça" tenho problema. – Tenta persuadi-lo.

O garoto dá um suspiro, pensando na ideia de Jonas, sabe que seria a forma de conseguir sua moto, mas sabia que não seria o certo. Ele olha para o relógio vendo o quão tarde já era. Tinha que voltar para o fim das aulas.

- Prometo que vou pensar, Bro. – Diz a Jonas.

- Espere! Pegue isso aqui. – O rapaz entrega disfarçadamente um pacote com erva para Jeffrey. – Digamos que seja um brinde. Faz o que quiser, tenta vender, isso vai lhe render uns 06 ou 08 cigarros, ou usa se preferir. Verá que é da melhor. Depois me diz o que decidiu. – Ele sai logo em seguida indo em direção a outros camaradas.

Jeffrey esconde bem o pacote dentro de sua mochila. Olha mais uma vez para as motos e sobe em sua bicicleta indo embora de volta para colégio. Em sua mente milhares de pensamentos sobre o que faria com aquilo.

...

Ellen estava no portão de saída da escola. Olhava de um lado para o outro procurando por Jeffrey, queria ver se o amigo havia mesmo voltado para o colégio como prometido.

- Hey Bill!!! – A garota enxergou o ruivo que vinha conversando com uns amigos, mas nada de Isbell.

O ruivo também estava mais alto, com 1,75cm. Continuava magro, seus cabelos estavam cada vez mais avermelhados, mas ainda tinha um tom dourado. Seus olhos verdes contrastavam bem com seu tom de pele e cabelo.

- Ellen! Faz uns dias que não a vejo. Viajou nas férias? – Ele pergunta.

- Sim, fui para casa da tia Ayla. – Ela responde sorrindo. – E o Jeffrey? Não voltou, né? Sabia que não podia confiar nele. – Diz chateada.

- Não loira, ele voltou sim, mas saiu na minha frente. Ele assistiu as duas últimas aulas “porres” de história comigo. – Bill contou. 

- Tem certeza? – A garota indaga desconfiada.

- Claro, Ellen. – Ele pisca para loira.

Algumas garotas saiam também pelo portão e todas ficava observando Bill e Ellen conversarem. O ruivo não perdia nunca a oportunidade de flertar com as garotas do colégio, apesar delas não darem tanta bola para ele. Ellen apenas rolava os olhos observando a cena.

- Hey e por que do boné? – Ellen pergunta chamando a atenção do amigo paquerador.

O ruivo então tira seu boné revelando seus cabelos mais cumpridos. Já fazia mesmo um tempo que não se viam, pensou.

- Nossa Bill, tá muito legal. – Ela olha para o cabelo liso do ruivo que estava um pouco abaixo da orelha.

- Espero que até o meio do ano já esteja abaixo dos ombros. – Ele diz animado.

- Vai deixar crescer tudo isso? – Ela indaga surpresa. Sabia que na cidade as pessoas não viam isso com bons olhos.

- Vou sim. – Ele diz firme.

- E por que do boné?

- Para evitar discussões com o maldito do Stephen. Ele fica implicando comigo, aí tô sempre de boné em casa, acabei me habituando. – Explicou. – Bem Ellen, já vou indo. Nos vemos amanhã. - Se despede.

A loira desiste de esperar Jeffrey e resolve ir para casa sozinha, mas assim que caminhou uma quadra avistou o albino em um canto conversando com uma garota.

Ellen arregalou os olhos assim que viu que a garota se tratava de Mônica, a mesma havia entregado um papel nas mãos de Jeffrey e em seguida saiu sorrindo, olhando para ele que lhe sorria de volta. Assim que Mônica se afastou, Ellen foi até Jeffrey indignada com a cena.

- O que você fazia aqui com a Mônica? – Perguntou exasperada. – Vocês estão juntos de novo? – Fitou o amigo, séria e com raiva.

Jeffrey olhou assustado para Ellen, não entendendo o porquê dessa reação e tom de voz.

- Anda Jeffrey, me responde? – Exigiu.

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