História World Of Lies - The Beginning Of The End.

Megan Westbrook P.O.V
                São Paulo, Brasil.

– Ah, eu não acredito! – Emma exclamou após abrir a porta do quarto e deixar um pouco de ar fresco e iluminação entrar. – Está um dia lindo lá fora.

Ela atravessou o quarto com suas botas até a canela e escancarou as cortinas, fazendo o quarto todo se iluminar. Não havia Sol, continuava a mesma São Paulo carregada de nuvens. O clima se parecia com meu humor. Eu grunhi com a claridade nos meus olhos e continuei enrolada nas cobertas, querendo que Emma sumisse para que eu continuasse o que estava fazendo: Nada.

– Vamos lá, levante. Hoje é sábado! – A felicidade dela me irritava. A Tv que mostrava algum Jornal aleatório me irritava. As roupas delas jogadas me irritavam. Tudo me irritava. A droga do meu celular que não recebia nenhuma mensagem de certa pessoa desde ontem era o que mais me irritava naquele momento.

Sem notícias de Cameron Dallas desde que ele me ligou dizendo que não iria vir mais para o Brasil. Foi triste? Sim, muito. Mas isso a gente supera. O problema é que ele achou que tudo aquilo foi sua culpa, parecia um louco socando as paredes e se xingando.  Estava claramente transtornado. E, para piorar a porra da situação, ele sumiu do mapa e não me dá noticia alguma.

E Emma ainda quer que eu me levante da cama?

– Eu só quero um pote muito grande de açaí com leite condensado. – Choraminguei.

– Megan, o Cameron está bem. – Ela caminhou até mim tentando ser intimidadora.

– Mas eu não estou, e não vou ficar até ele me ligar. – Ela bufou, como sabemos, não possui muita paciência.

– Se ele estivesse morto já teríamos descoberto. – Eu arregalei os olhos, não acreditando no o que ela tinha acabado de dizer.

– EMMA! – Gritei, sem ar. – Cala a boca, meu Deus!

– Ele só deve estar te evitando. – Deu de ombros.

– Bom, das duas coisas me disse, nenhuma ajudou. – Resolvi pelo menos me sentar. – Péssima amiga.

– Ei! Eu vim aqui te chamar, já é um grande avanço ok?

Tive que concordar. Antigamente, se eu dissesse a palavra “amiga” Emma já começava a berrar comigo.

Eu estava naquela posição desde ontem de manhã, até faltei na faculdade. Simplesmente não queria encarar a face de ninguém, principalmente das pessoas que estavam me ajudando a fazer uma festinha para o Cameron. Eu não conseguia dizer “Cancelem tudo. Ele não vai vir mais” Eu só queria me afundar na ilusão de que era uma trollagem e que ele chegaria a qualquer momento.

Talvez se não tivéssemos posto tanta expectativa nessa viajem, como se fosse nossa salvação, não ficaríamos tão destruídos.

E ele teria se lembrado das coisas.

– Dá para você pelo menos escovar o dente? – Emma falou provavelmente sentindo meu mau hálito.

– Cadê meu celular? – Perguntei após não ter o achado.

– Provavelmente sem bateria, já que você ficou chorando e mexendo nele a noite toda.

– Que droga! E se alguém tiver me ligado? – Eu saí da cama com as pernas bambas e comecei a vasculhar o quarto.

Eu o encontrei em baixo da minha cama. Não me pergunte como. Eu devo ter me mexido tanto que ele escorregou.

Rapidamente, peguei o carregador e o liguei. Emma me olhava com expectativa, torcendo para que Cameron aparecesse e eu voltasse a viver.

4 mensagens de Mel

40 mensagens do grupo WEED SQUAD

2 ligações perdidas de Casa.

– Filho da puta.  – Era para ser um xingamento mental, mas saiu.

– Isso! Xinga mesmo! Extravasa! – Encorajou-me Emma.

Uma noite inteirinha sem mandar um ALO?!

Mordi os lábios enquanto ia ver as mensagens de Melanie.

Mel: 16 FUCKING ANOS!!

Mel: Cameron disse que vamos fazer algo especial.

Mel: Estou muito ansiosa *smile emoji*

Mel: Quando Cameron chegar eu te ligo, aí você participa da minha comemoração pelo FaceTime, o que acha? Quero muito que esteja aqui, não importa como. 

Meu Deus. Hoje era aniversário da Melanie? Merda. Como pude esquecer?

Péssima irmã.

Me: MANDE O CAMERON TOMAR NO C....

Quase enviei, mas ela não tem nada haver com isso. Escrevi um textinho de feliz aniversário e disse que aceitava “participar” de sua comemoração. Ah, e no finalzinho ainda coloquei se ela tinha noticias do Cameron.

– Hoje é aniversário da minha irmã. – Falei, não sei por que meus pensamentos estavam todos saindo em voz alta. – E eu tinha esquecido.

– Que triste. – Emma não fingiu importância.

– Eu sinto tanta falta deles. – Eu dizia as coisas sem parar, com o olhar fixo na janela. – A dor é tanta que parece que a toda noite eu vou morrer.

– Nossa.

– É tão horrível. Eu sinto falta dos meus irmãos correndo pela casa. Do cheiro de comida da minha mãe. De sentar e ver as notícias com meu pai. Sinto falta das brigas desnecessárias, sinto falta de ter eles lá sempre que algo dava errado. – Suguei o ar, mas parecia que ele não vinha. – Aqui eu me sinto uma escrava. Acordando e sobrevivendo completamente sozinha.

Emma ergueu os olhos para mim. Dessa vez não vi sarcasmo, malicia ou raiva. Só o par de olhos de uma garota que, talvez, esteja sentindo o mesmo que eu, ou algo pior.

– Você não está sozinha.

Não deu. Voltei a chorar. Eu odiava tudo naquele momento, não tinha o um dia ali que eu não queria me jogar da sacada. TUDO ESTAVA TÃO ERRADO. Eu não merecia isso, cara. Não mesmo.

– Você não entende! Não sei se aguento mais um mês. 

– Eu entendo sim. Eu aguento á quase dois anos. – Ela falou assim, sem mais nem menos, a coisa mais rara estava acontecendo. – Eu vim para Los Angeles, onde conheci o Cameron, justamente por causa da facção. Antes eu morava em New York onde tudo era perfeito. Meus pais eram grandes empresários que não ligavam para mim, e eu não me importava... Desde que me dessem um cartão sem limites. A única coisa que eu realmente amava era a minha avó. Ela era a única pessoa no mundo que se importava de verdade comigo e a única que cuidava de mim.

Parecia que Emma estava contando algum segredo do FBI. Eu prestava tanta atenção nela que quase chegava a assustá-la. Só queria que ela soubesse que poderia confiar em mim para falar qualquer coisa.

– Meu pai estava se afogando em dívidas e começou a fazer negócios com a Dead Souls. E se estou aqui hoje, é porque claramente deu tudo errado. Meu pai praticamente me vendeu para a facção. Aquele desgraçado. Ele estava devendo tanto para o RJ que simplesmente disse: “Ah, toma aqui minha filha.” E minha mãe não fez absolutamente nada. Um belo dia eu acordei em um lugar totalmente diferente do meu luxuoso apartamento, com vários caras me dizendo o que fazer. É óbvio que eu não concordei com nada. É óbvio que eu ameacei e lutei de todos os jeitos possíveis contra a facção, mesmo sabendo dos riscos. Eu pensava que se eles matassem meus pais, eu apenas agradeceria. Eu achava que não havia nada á perder, mas...

– A sua avó. – Continuei. Não era fácil para ninguém contar uma coisa daquelas, nem mesmo para Emma Collins.

 – Sim, minha querida avó. De algum modo, eles sempre sabem seu ponto fraco. Quando eu estava dentro da delegacia, prestes a contar sobre toda a Dead Souls, vejo no noticiário a... Morte dela. Eles tinham matado a única pessoa que eu não queria que matassem. – Segurei sua mão. – Eu fiquei com tanta raiva, você não faz ideia... Eu só queria morrer, como você disse, todas as noites eu sentia que iria morrer, até porque, qual era o sentido de eu continuar viva?

 – Emma, eu sinto muito. Não precisa contar mais nada, está tudo bem.

– Percebi que não tem como lutar contra eles. Eu vi centenas de garotas chorarem por tentar e perder alguém querido. Você deve simplesmente de acostumar com sua nova vida, assim como eu fiz. Disse á eles que queria me mudar para LA, eles concordaram. Lá eu fazia alguns trabalhos, mas também tinha minha própria vida. Não posso dizer que sou feliz, de jeito nenhum. Eu só... Aceitei? Não há uma palavra certa. Eu só não me importo tanto como antes. Agora apenas tento aproveitar minha vida para chegar pelo menos aos 40 anos.

– Oh Emma. Eu nem imaginava...

– Está tudo bem. Quando eu disse que havia perdido tudo, foi porque minha avó era tudo para mim. E quando digo para que não tente lutar contra eles, é porque não quero que aconteça a mesma coisa com você.

– Seria estranho se eu te abraçasse agora? É que eu realmente quero fazer isso. – De novo, pensamentos altos.

– Sim, seria estranho. – Ela tirou sua armadura por alguns segundos, que logo voltou. Mas ok. Foi o suficiente.

– Obrigada por contar. – Eu não devia ter pedido para abraça-la. É claro que ela queria. – Emma Collins tem sentimentos, quem diria.

Ela deu um sorrisinho cínico, e meu celular apitou com uma mensagem da Melanie.

Mel: Ele acabou de chegar aqui em casa.

– Canalha! Ele está na minha casa! – Emma se divertia com minha indignação.

me: Pede para ele me ligar agora.

Mel: Já estamos saindo. Daqui a pouco te ligo no FaceTime.

Droga de FaceTime.

Eu não queria ver o Cameron antes de brigar com ele, porque nunca consigo ser durona o suficiente olhando naqueles malditos olhos. E do jeito que estou provavelmente vou chorar na frente da minha família inteira.

Emma agora mexia em seu celular, e estava sorrindo para a tela. Isso não é uma coisa normal de se acontecer.

– Está rindo de que?

– Ãhn? Nada. – Ela fechou a boca. Eu caminhei apor trás e estiquei o pescoço para ver o que era tão engraçado.

– Simon? – A tela estava aberta em uma conversa com nosso tradutor.

– Ele está me mandando uma coisa chamada “Memes Brasileiros” e eu não consigo parar de rir. – Ela forçou para deixar a boca rija, mas não aguentou.

Eu sabia que eles iam se dar bem.

Mel: NÓS VAMOS PRA DISNEY!!!
            AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

Engasguei.

Mal me recuperando da noticia, ela começou a me ligar.

– Ela está ligando! Meu Deus ela está me ligando! – Comecei a gritar sem saber o que fazer.

– Atende ué!

– Não posso, olha meu estado. – Eu não sou de ligar muito para isso, mas eu estava horrível. Um emaranhado de fios chamado cabelo se enrolava com meu roupão branco, e meus olhos estavam fundos e roxos de tanto chorar.

Ela arrancou o celular da minha mão enquanto eu corria para o banheiro. Tirei o roupão rápido e vesti a primeira roupa que encontrei no banheiro (Nem sei se era minha). Enquanto escovava meus dentes escutei ás vozes de longe.

– Ela está no banheiro, espere só um minuto.  – Emma falou. – Hey Cameron, sumido.

Meu coração se contraiu.

– Oi, Emma. Fala para a Megan ir logo, pois já estamos indo para o aeroporto. – A voz daquele desgraçado entrou como uma faca.

Saí correndo do banheiro, provavelmente com a boca ainda cheia de pasta.

Como ele ousava?

– Boa noite e bom dia para você também Cameron Dallas, parece que você esqueceu de me desejar essas coisas né? Pois você SUMIU da face da TERRA! Me ignorou completamente, me deixou plantada sozinha aos gritos e ainda tem coragem de me dizer “Vai logo”? Por que você não “vai logo” para o inferno?!

Parecia que eu tinha tirado três pianos de cima das minhas costas. Eu vi seu rosto através do celular, não estava muito melhor que o meu. Dava para perceber que ele tinha dormido mal e seu cabelo também estava toda bagunçado. Sua expressão não mudou, Cam apenas respirou fundo antes de falar.

– Desculpa.

Ele nem tentou revidar ou se defender. Ele simplesmente desistiu sem mesmo começar.

Ele estava cansado. 

– É só isso que tem a me dizer? – Questionei incrédula.

– Você está... – Ele apontou para o próprio rosto. – Não consigo me concentrar com você toda suja de pasta de dente.

 Como eu imaginava.

Eu peguei uma toalha e limpei rapidamente, enquanto via Melanie aparecer ao seu lado. Eles estavam em algum tipo de táxi.

– Não digam que vão brigam no meu aniversário. – Ela falou.

– MELANIE! Parabéns meu Deus, você está tão linda. Parece que faz anos que não te vejo. – Ela sorriu e fez um coração com mão. – A partir de agora você sempre terá os melhores aniversários de todos e espero passar os próximos ao seu lado.

– Estamos com muitas saudades. Nick e Ben perguntam sobre você todos os dias e se pudesse a mamãe te ligaria a cada segundo. – Ela falou e eu me segurei para não desabar ali mesmo. – Mas por favor, não briguem.

– É porque Mel, seu querido irmão desapa... – Parei subitamente. – Você tem razão. Não adianta eu ficar aqui berrando, se o Cameron quiser falar comigo, ele sabe onde me encontrar.

– Eu estou meio ocupado agora. – Como a voz dele tinha ficado tão cínica e irritante?

Eu olhava para Emma no estilo “AHHHHH ME SEGURA.”

– Você é quem sabe. – Eu estava arrasada. Ele não estava dando a mínima para mim.

– Posso te ligar depois então? – Ele sorriu de lado.

FILHO DE UMA AAAAAAAAAAA.

– Depois? Eu já passei a noite inteira esperando a sua ligação! Custa você tirar 1 minuto do seu tempo e explicar o que aconteceu?! – Isso não pode ficar assim.

Emma fez sinal de positivo com a mão e Cameron continuou me encarando através do celular. A vontade de abraça-lo atravessava todo o meu corpo como uma flecha.

 Então a música do rádio do carro que eles estavam se intensificou, e mesmo nunca tendo realmente a escutado, eu reconheceria aquela letra em qualquer lugar.

“I promise that one day I’ll be around. I’ll keep you safe. I’ll keep you sound...

Cameron cantou essa música para mim no dia em nos perdemos na floresta.

''– Vou tentar dormir. – Falei fechando os olhos. – Você podia cantar para mim né? – Brinquei, só que ele levou a sério.''

Eu não a conhecida e não imaginava que ela era tão linda. Era tudo ainda tão claro na minha memória, como se isso tivesse acontecido ontem.

right now it’s pretty crazy and I don’t know how to stop or slow it down”

– Cameron. – Eu torcia para que ele se lembrasse, pois era muita coincidência.

A música ecoava no carro inteiro e a voz do cantor tocava cada pedaço da minha alma.

– Me desculpe, Meg. Eu não sabia como falar com você novamente... Eu... Eu não tive forças para escutar suas perguntas ou suas lamentações. – Ele lembrava. – Eu só queria esquecer esse incidente.

O que estávamos fazendo? Desde quando somos tão destrutivos um ao outro? 

– Era só ter me dito: Amor, não quero falar sobre esse assunto. Eu compreenderia Cameron.

“Hey, I know there are some things we need to talk about
             And I can’t stay
            Just let me hold for a little longer now...”

– Não é apenas sobre o Brasil. Eu vou começar a fazer uma tour mundial. – Ele disparou a falar. – Eu vou para Japão assim que voltar da Disney. Se você acha que os horários já não batem agora, quando eu estiver lá vai ser noite, e para você será dia.

Eu olhei para cima do celular, em direção a Emma, que tinha os olhos arregalados.

Isso era o fim? Por que.... Por que ele estava dizendo essas coisas? 

– São doze horas de diferença. – Comentou Melanie, depois de ter calculado com os dedos.

– O que adiantou você me ignorar? Não está falando agora do mesmo jeito? A dor causada não é a mesma? – Firme. Continue firme.

– Eu sabia que não adiantava ficar prolongando isso, mas... – Ele olhou para baixo. – Tive que buscar minha mãe no aeroporto logo cedo, é aniversario da Melanie e preci... – Levantei a mão para que ele parasse.

– Tudo bem. Não quero ouvir mais justificativas. Você é livre para fazer o que quiser, mesmo que não tenha avisado que estava pelo menos vivo, está tudo bem. Eu entendi. – Eu não sabia onde estava tirando força para falar com aquela firmeza, mesmo após descobrir que iríamos ficar muito tempo sem se falar.

– Eu sinto muito.

– Eu já disse que está tudo bem. Só preciso saber quando vamos nos falar novamente.

– Durante da viajem, que é uma semana. Depois disso eu não faço ideia.

– Então ligue seu celular e converse comigo. – Minha respiração era controlada, contendo a enxurrada de lágrimas. – Depois damos um jeito.

– Você sempre diz isso.

– Porque eu tenho esperança.

– Eu espero que sua esperança seja o suficiente. – Murmurou.

– O que quer dizer? Que você não tem esperança em nós?

– Já disse que nunca vou desistir, mas ás vezes...

– Não termine a frase.

Respira. Respira. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10. 

– Esquece, esquece, esquece, esquece. – Ele balançou a cabeça. – Vamos celebrar o primeiro aniversário da Megan conosco e depois falamos disso, pode ser? – Ele tentou sorrir.

– Claro, só vou terminar de arrumar ás... Coisas. Aqui. Depois te ligo. – Apertei o botão vermelho o mais rápido que pude.

Assim que a chamada se encerrou Emma me olhou preocupada, e eu nem precisei responder para que ela adivinhasse “as coisas” que eu tinha que fazer.

– Megan. – Ela tentou, assim como ontem e hoje.

Mas não deu.

Eu me virei e cai de volta na cama, me enrolando no cobertor e sentindo meu rosto molhado outra vez. Eu queria ser forte. Eu queria ser como era antes de conhecer o Cameron, a garota que não tinha medo de nada. Mas sempre quando acordo, sinto medo de ele me deixar sozinha nesse meu pior momento. Sinto medo de ele ter me esquecido, ou esquecido meu toque, meu cheiro e essas coisas. Sinto medo de ele perceber que não vale mais a pena me esperar.

Mas nada se comparava ao meu medo de acordar e descobrir que minha família toda está morta. Ao meu medo de nunca mais voltar para Califórnia e ao meu medo de não aguentar sentir todos esses medos juntos.