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História Xícara (ou o café frio) - A Xícara (ou a história do café se esfriando)


Escrita por: DadivaDoNilo

Notas do Autor


Da Dádiva do Nilo, de sua Perpétua Sepultura Arcaica, de sua Terceira parte, e dos Ninjas, apresentamo-vos "A Xícara"!

Capítulo 1 - A Xícara (ou a história do café se esfriando)


Fanfic / Fanfiction Xícara (ou o café frio) - A Xícara (ou a história do café se esfriando)

Xícara

A xícara de café esfriava parcialmente cheia em sua mesa. Fazia-se intragável por conta do consumo excessivo, mas reluzia triunfante ao raiar do dia. A noite acabava e levava com ela os assombros que alteraram os rumos de sua vida.

Há dias sua rotina era a mesma: acordava, lia, comia, jogava, dormia. Conforme passavam os dias, questionamentos invadiam-lhe a mente. Desde seu propósito no universo até as suas escolhas de vida. Dizia que não importava, que devia relaxar, e relaxava, e as dúvidas voltavam.

Essa condição de dúvida para com o mundo e para consigo se esvaia na medida em que seu café esfriava. Havia uma relação intima entre esses eventos. É que o problema da entropia fora-lhe clarificada num flash de sinapses informacionais que nunca antes haviam ocorrido em tal proporção na historia da humanidade. O sol fazia seu percurso sobre a cidade e sua mente percorria por entre as nuvens passageiras. Seu corpo estava fraco, mas sua mente, na condição de compreensão última da existência, não se importava. O sol se punha fora de sua visão e a xícara de café estava fria.

Foi então que se lembrou de suas conquistas, tudo que batalhara bravamente para conseguir, tudo o que ralava, dia após dia, seguro de que o futuro lhe guardava um presente. Tudo, tudo o que almejava e lutava. Tudo, tudo em vão, tudo indiferente, tudo irrelevante. Seu tudo logo seria o nada, e o nada logo seria seu tudo. Perante a realização que tivera, as suas conquistas e suas batalhas demonstravam tamanha pequenez que o faziam envergonhar-se da vida que levara. Era tudo irrelevante, tudo pequeno, em contraposição a imensidão de luz que sua mente alcançara. Seu estado psicológico atingira níveis extraordinários, mas o seu corpo, incapaz de acompanhar, deteriorou-se. A fraqueza que sentira em seus membros aumentou. Primeiro seus ombros enrijeceram-se, depois, seus braços, por fim, seus dedos. A imobilidade estava a sua espera...

Não havia porque resistir, sua mente podia aventurar-se por suas compreensões da existência, enquanto o sol insistia em nascer para então se por, mas apenas isso. Estava enjaulada em sua inevitável mortalha, por sua vez enjaulada em um universo que existe apenas para findar-se. Seu corpo não possuía uma função ou um motivo para evitar o seu inevitável abandono, não mais do que a xícara merecia ter sua função concluída e seu frio líquido consumido. Naquele momento, percebeu: invejava a xícara. Bela, concisa e útil. Criada com um propósito, o qual concluía com maestria todos os dias de todos os meses. A ela cabia apenas receber, guardar e repassar. Não há de se questionar o motivo ou a finalidade, apenas fazia, indiferente e realizada. O homem notou, porém, que sua inveja era injustificada. Assim como a xícara, ele também recebia, guardava e repassava. Não. Era diferente: não era repassar, mas, sim, espalhar, descentralizar. Era essa a inevitabilidade e essência do universo, era o motor e seu motivo de ser. O objetivo do cosmos sempre foi diluir-se para finalmente começar. Todo o eterno anterior ao homem foi um prelúdio, assim como o próprio homem faz parte desse prelúdio. A pretensão humana de reverter a entropia era uma imaturidade adolescente que não queria se tornar adulta. Ele notou que era seu dever acabar com essa imaturidade. Ele deveria convencer a humanidade da essencialidade da diluição.

Um objetivo, enfim, surgia. O inevitável fim não precisava ser um problema, mas uma resposta em si mesmo. Para tal, o necessário era apenas entender e aceitar. O curto período de sua existência não seria um impedimento, mas um instrumento para a averiguação de tal verdade. Seria o emissário do fim, não como uma tragédia, mas como uma solução. Nesse momento, porém, notava que seu corpo se deteriorara à inutilização. O fim era iminente e suas reflexões seriam enterradas junto à sua eterna jaula. Desesperou-se, encontrara uma razão, mas não seria capaz de dá-la utilidade. Essa era sua sina: o tempo passaria e seu conteúdo não seria consumido; esfriaria e seria esquecido, assim como cada ser humano, sua xícara de café e a totalidade do universo.


Notas Finais


Espero que tenham desfrutado a experiência literária. Se for de vosso interesse, comentem, favoritem e deem nota. Apenas se for de vosso feitio. Aviso-lhes aqui, que categoricamente é de vosso interesse.


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