História Year After Year - Teus olhos abrem pra mim todos os encantos bons

3:30 am

Naquela noite, tudo o que Henrique deveria ter feito era ter dirigido até o seu apartamento para que, talvez, por um milagre, conseguisse colocar seus pensamentos agora tão atormentados em ordem.

O que ele fez não foi isso. Foi o contrário. Foi o que seu coração mandou ele fazer sem pedir licença à razão.

De forma quase inconsciente, Fogaça dirigiu sua moto até o portão de Carosella. O portão que protegia quem ele gostaria de proteger. O portão que marcava a entrada de um lugar onde ele gostaria de passar intermináveis dias e noites. 

Assim que chegou, o chef avistou uma janela no segundo andar da casa. A luz que vinha lá de dentro trazia consigo uma ponta de esperança no coração de Henrique. Esperança de conversar com a argentina e, finalmente, esclarecer todas aquelas atitudes e sentimentos até então disfarçados de uma bonita amizade. 

Após o banho, Paola vestiu-se de forma confortável, preparou uma xícara de chá e sentou-se na grande e macia cama na intenção de esvaziar sua cabeça dos pensamentos que a rodeavam naquela noite. A intenção era somente essa quando de repente Carosella avista o seu celular acendendo indicando uma nova notificação:

Paola, eu preciso te ver. Não posso e não quero esperar até amanhã. Desce, tô te esperando na sua porta. Henrique.

- What a fuck!!! Esse homem é louco ou o quê??? Paola diz, incrédula, ao ler aquela mensagem na tela do seu celular. - Não vai ter jeito, eu vou até lá! - Nesse momento, Paola rapidamente pega o seu roupão preto de seda que estava logo em cima de sua cabeceira, ajeita-se e começa a descer as escadas. Carosella já não mais controlava as fortes batidas do seu coração e a ansiedade que aumentava em cada degrau que descia. 

- Henrique Fogaça! Você já olhou a hora?

- Paola, me desculpa... Me desculpa de verdade. Mas eu não iria conseguir dormir sem falar com você, olhando nos teus olhos.

- Entre, por favor - Diz Paola dando maior abertura por meio da porta para que Fogaça passasse. - Você quer tomar alguma coisa?

- Não, Paola. Eu não pretendo te incomodar mais do que já estou incomodando. 

- Henrique, mi bien, você não me incomoda! Pelo contrário! Mas achei que fosse melhor mantermos uma certa distância depois do que quase houve entre a gente hoje no apartamento da Ana. Sei lá, eu me senti assustada com aquilo tudo... Por isso resolvi sair logo de lá. Nossos desejos nos traem, Fogaça. Você sabe disso melhor do que eu. 

- Eu sei, Paola. Eu concordo com você! E eu nem tô aqui pra falar nada... Eu tô aqui pra estar com você! Pra estar perto e sem a interferência de outras pessoas. Eu posso te dar um abraço?

- Fogaça... - Henrique se aproxima da chef antes que ela continue a falar e a oferece um abraço cheio de desejo, intensidade e, principalmente, carinho. O corpo de Paola se arrepia por inteiro e implora, internamente, para que aquele abraço durasse horas, ou talvez que durasse por toda a eternidade.

- Posso te fazer um pedido, argentina? - Diz Henrique se afastando do abraço mas ainda com as mãos sobre os braços gelados da chef - Se for possível, não vamos deixar que o que aconteceu hoje mude alguma coisa entre a gente. Eu adoro a sua amizade, eu adoro a sua companhia e amo a cumplicidade que temos um com o outro. 

- Ô meu tatuado... Eu preciso confessar que o que aconteceu hoje mexeu pra caramba comigo. Muito mesmo. Eu não gosto de desejar o que eu não posso ter. Tudo que eu quis na minha vida, até hoje, eu consegui. Seria muito frustrante sonhar com algo impossível. E, pra mim, algo entre a gente seria impossível. 

- Mas seria bom, concorda?

- Yo no sé! Eu diria... Perigoso! Mas fique tranquilo... Nada vai prejudicar a nossa amizade e o nosso convívio. Gosto muito de estar com você, seria doloroso ter que me manter distante - Paola dá uma risadinha tímida e instantaneamente seus olhos negros se enchem de lágrimas. Assistindo à cena, Henrique a abraça, dá um forte beijo em sua bochecha, os dois tomam uma certa distância e encostam suas testas um no outro. Em meio a sussurros, Fogaça diz:

- Obrigado por hoje! Obrigado por tudo!

- Boa noite, Henrique! Fiquei feliz com a sua visita! 

- Até amanhã, minha argentina preferida!

- Hasta mañana!

Os dois se despedem, embora, no fundo, definitivamente, não fosse aquilo que gostariam de estar fazendo. 

7:00 am

O despertador toca e Paola, com a maior ressaca do mundo, levanta para dar início ao seu dia que a princípio seguiria o ritmo de dias repletos de compromissos, reuniões, ligações e......

- Cazzo!!! A reunião da Band!!! Tô completamente atrasada!!! Vamos, Paola, vamos! - Ainda tropeçando em tudo o que via pela frente, devido ao sono e ao restante do efeito das bebidas da noite anterior, Carosella se arruma às pressas, desce as escadas e quando vai pegar a chave do carro, é deliciosamente surpreendida por um bilhete enrolado em meio aos chaveiros que dizia:

"Buenos dias, guapa maravilhosa! Espero que você tenha sobrevivido à ressaca! Henrique."

Paola, emocionada e com o coração quase saindo pela boca, riu da tentativa de Fogaça de formar uma frase em espanhol. Essa era uma das coisas que também a encantava no tatuado. Essa simplicidade e o dom que tinha de surpreendê-la com pequenas coisas que, diante daqueles olhos argentinos, se tornavam grandes e inesquecíveis presentes.