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História Yin Yang - Crónicas do Equilíbrio - Asleep - Christmas clouds


Escrita por: HonTsu

Notas do Autor


Oi pessoal!


Espero que tudo esteja bem com todos vocês e com as vossas famílias e amigos!


Espero que gostem do capítulo!


Os textos a negrito e itálico são pensamentos.
As frases a negrito são conversas normais.

Capítulo 40 - Christmas clouds


Fanfic / Fanfiction Yin Yang - Crónicas do Equilíbrio - Asleep - Christmas clouds

*** *** ***

Hon


A noite passou lentamente…ou assim me parecia. Ia acompanhando a conversa do Jon só o suficiente para saber quando responder. Ia fazendo os pratos conhecidos de forma quase automática, sem ter de pensar muito neles a não ser para explicar um passo ou outro ao meu companheiro.

As palavras da Nao não me saíam da cabeça. O que podia eu fazer? Obrigar o Donatello a estar comigo? O que podia dizer? Ele disse que não se lembrava de estarmos juntos...e eu acreditava. Não conseguia conceber que ele não me quisesse se se lembrasse do tempo que passamos juntos. Era isso que estava a deixar-me tão desesperada…o facto de me lembrar do quão maravilhoso é estar com ele…os nossos momentos…adormecermos junto ao rio, ouvirmos musica juntos, lermos juntos, as brincadeiras, as piadas, os toques discretos e os não discretos… como se o meu corpo conseguisse sentir o seu toque naquele instante, deixando-me arrepiada. Como é que eu ia conseguir estar perto dele e fingir que não o amava? Que não o queria e desejava acima de tudo?

Jon: Ouviste-me? - Voltei finalmente à terra.

Hon: Desculpa…não, não estava a ouvir.

Jon: … devias ligar ao trabalho e dizer que não vais hoje.

Hon: Não! Nem pensar! Já viste o aspeto que daria?
- E além disso, eu precisava daquilo…da única coisa que poderia fazer-me sentir que a vida estava normal.

Jon: Ainda viras almoço de tigre.

Hon: Ahah, mais depressa o tigre virava o meu.

Jon: E como é que ias explicar saíres ilesa de um ataque desses?

Hon: mmm…pessoa mais sortuda do mundo?

Jon: Sim, claro! Mas estava a dizer-te, são quase 7h! Não te percas ok!

Hon: Mas quem é a mãe aqui? Não devia ser eu a chatear-te para não chegares atrasado às aulas?

Jon: Sim, mas como tu é que normalmente te distrais com tudo, esse papel tenho de o ter eu!
- Acabei por não contestar aquele facto. Até porque ele tinha razão, ainda para mais agora. Era verdade que se ele não me tivesse avisado eu estaria completamente a leste das horas.

Hon: Ok ok…vou só acabar de fazer o pudim e meto-o ao forno? Não te esqueças de o vigiar!

Jon: Não me esqueço.

Ficamos mais uns minutos em silencio até eu terminar a minha tarefa, metendo, finalmente, o pudim ao forno.

Jon: E pronto. Do que tínhamos da noite está tudo certo? - Acenei-lhe. Tinha sido produtivo e tudo estava adiantado. - Boa. Vou fazer limpezas e tratar das decorações enquanto vais para o trabalho ok? Vá, vai-te arranjar.

Acabei apenas por virar costas e seguir para o andar de cima, ainda pasmada com o quanto ele tinha crescido. Parecia um adulto a falar…exceto quando fazia algumas birras menores, mas mesmo assim, ninguém diria que eu era a mais velha se nos ouvisse apenas.
Tomei um banho rápido apenas para retirar o cheiro a doce e a farinha do corpo e cabelo. Vesti-me, preparei o meu saco e voltei para baixo. Ele já tinha dois sacos em cima da mesa, tal como ontem.

Hon: Isto já é costume ou é só por eu andar maluca?

Jon: Não, já é normal. Se não sou eu a cuidar de ti nunca comes direito.

Hon: Eu também não preciso de comer tanto. Não sou humana! Mas, não posso negar que estes mimos sabem bem!

Jon: Ahahah, e achas que eu não sei? No tempo da escola és tu que me mimas a mim!
- Acabei por chegar junto dele e abraça-lo forte. Havia uma parte de mim que ainda temia que ele pudesse evaporar-se e desaparecer. - Hey…não vou a lugar nenhum ok! Relaxa.

Hon: Ás vezes ia jurar que lês mentes.

Jon: Posso ser teu filho, mas não herdei as tuas capacidades mágicas. Hihi.

Hon: És o melhor filho que eu alguma vez poderia ter!
- Dei-lhe um beijo forte na bochecha redonda antes de me virar e sair de casa.

No caminho para o trabalho, a minha mente voltou a encher-se de memórias, sentimentos, ideias… Ponto de situação…algo me dizia que enquanto o Donny não se relembrasse do mundo real, como eu lhe chamava, nós não íamos estar juntos… a questão seria…e eu conseguiria agir como a eu desta realidade paralela? Conseguiria agir como se não o amasse? Como se cada milímetro do meu ser não se desesperasse por ele?
Não…não achava que conseguisse…e na verdade nem queria conseguir. Mas aí, a imagem da sua face assustada e o seu ar de repúdio voltou a assolar-me. Não queria estar a aborrecê-lo…a ser persistente e a persegui-lo como a Naomi tinha sugerido. Não sentia que fosse correto…

O que me deixava sem grandes opções… … a não ser entrar por ideias mais estupidas…

 

 

 

*** *** ***

Raphael


“Porra! Já não aguento mais!” Foi o último pensamento que tive antes de saltar da cama, após cerca de cinco horas às voltas sem pregar olho! Aquilo estava a massacrar-me! Como diabos é que me podia lembrar de dois eventos ao mesmo tempo? Como é que ela tinha estado na escola, dado concertos, estado connosco numa boa…ao mesmo tempo que estava inconsciente e ferida? Claro que não era possível! E o pior é que eu queria que fosse! Porque se não era…isso significava que ela tinha razão e que alguém tinha mexido nas nossas cabeças, além de que alguém lhe tinha feito mal…muito mal! E essa ideia estava a deixar-me louco!

Nada daquilo foi real? Os nossos momentos? Os sorrisos que ela me deu? As danças, os abraços, os carinhos? Quem quer que tivesse mexido na porra do tempo só podia odiar-me! E eu a pensar que estava no bom caminho. Ela já há muito não chorava comigo, não falava no meu irmão…eu conseguia fazê-la rir e esquecer-se dele…ela já me não se retraia aos meus toques, nem às minhas declarações…mesmo que me pedisse sempre desculpas e para eu não ter esperança em algo impossível…eu sentia que estava a conseguir conquistá-la…aos bocadinhos…passo a passo… E agora descubro que nada daquilo se passou? Que todo este tempo ela esteve com o Donny?

Isto era demasiado louco…demasiado cruel…

Na altura da invasão, eu já tinha aceite que eles iam ficar juntos…já tinha conseguido interiorizar aquilo e estava bem… mas agora…depois de todo este tempo…como é que eu vou conseguir apagar isto e ficar bem? Como é que eu vou voltar a dar uma coça ao meu irmão para ele ir atrás dela e deixar de ser parvo? Porque é isso que sinto que devo fazer!

Eu sei que ela o ama… mesmo sentindo que os sentimentos dela estavam a aumentar por mim… E sei que ele a ama também… sei o quando ele sofreu…

Eu ouvi-o…durante meses…parado em frente ao espelho a repetir e repetir “não fomos feitos para estar juntos” uma e outra e outra vez… Acredito que tentava fixar essa ideia no seu subconsciente. Mas, mesmo que ele tenha chegado a um estado em que conseguir até entrar em brincadeiras com ela de forma natural, eu via o olhar dele nela, via como ele ficava de cada vez que ela dizia ter de ir para o clube dançar, os ciúmes brilharem nos seus olhos sempre que ela falava nos amigos da banda ou que contava que um dos colegas da equipa de futebol se tinha feito a ela ou dito algo indecente… Eu via o amor que ainda ali estava.

E eu…destinado a falhar naquilo, tinha caído no engodo de ter esperança…

“Merda p’ra isto”.

Estava na sala, tendo dado um grande soco no meu velho saco de box tendo-o feito rasgar, fazendo toda a areia começar a escorrer dele para o meio do chão!

Ótimo” Como se me faltassem problemas…

 

 

 

*** *** ***

Leonardo


Era a primeira vez quase num ano que não conseguia adormecer na situação em que me encontrava. Sempre que me deitava enroscado com o Mike que o sono vinha naturalmente, dando-me das noites mais descansadas de que me conseguia lembrar. Claro que o problema prendia-se com isso mesmo…o que me conseguia lembrar. O que era ou não real. E as horas passavam…e o corpo quente ao meu lado dormia, apesar de inquieto no seu sono…e eu estava dividido entre a felicidade de o ter ali vivo e a culpa em saber que os meus irmãos estavam infelizes. A Hon não tinha o Donny…o Donny tinha metido naquele cérebro genial que não queria a Hon…e o Raph… o Raph… …se haveria alguém capaz de ir meter algum juízo na cabeça do Donatello seria o Raphael… e ele sabia disso…

Aquilo não ia correr bem… um que se tinha tornado casmurro como um velho de 80 anos e o outro que fervia em pouca água e que devia estar a sentir-se completamente derrotado. Para todos estava a ser difícil…mas o Raph ia sair muito mal disto…

Eu via como ele não desistia dela…estava sempre lá, ouvia-a em todos os momentos... Mas até eu sentia que ela e o Donny estavam destinados…por mais voltas que o destino pudesse dar…eles pertenciam-se. E sabia que ele também sabia, mesmo deixando a esperança ganhar raízes no seu coração…mesmo com ela sempre avisando.


O meu irmão caçula mexeu-se de novo, voltando a envolver-me nos seus braços. Sabia bem ficar assim com ele…e, por mais egoísta que fosse, não podia deixar de me sentir de certa forma aliviado por não ter de passar por nenhum drama relacionado com romance…eu já tinha encontrado a minha cara metade…agora de forma definitiva. Não que não fosse haver drama na nossa relação…haviam muitos ciúmes… e, claro, não íamos poder passar a vida a amar-nos em segredo, o que ia causar um outro drama muito maior… mas por agora, apenas me enrosquei mais profundamente nele e tentei esvaziar a mente para tentar dormir.

 

 

 

 

*** *** ***

Donatello



Não conseguia dormir. Não conseguia concentrar-me em projetos. Não conseguia ler nem um mísero parágrafo fosse do que fosse.

Sentia-me cheio, como se tivesse comido o jantar de cinco sozinho. Estava enfartado, era esse o termo. Mesmo não tendo conseguido comer nada.

Que diabos tinha aquela vampira feito comigo? E como é que ela deixou? Que diziam eles de um espírito? Desde aquele episódio estranho em que me deixei enlouquecer nunca mais senti nada estranho. Pensei que aquilo tinha desaparecido. Mas agora conseguia sentir…a sensação de preenchimento, o ligeiro e muito ténue formigueiro… Que carapaças!?

Já tinha feito um exame médico exaustivo a mim mesmo e nada dava errado. Fisicamente eu estava perfeitamente bem. Então o problema era na minha cabeça…o que assustava ainda mais. Eu definia-me pela minha inteligência…era tudo o que tinha. Se essa ficasse comprometida… perderia tudo.

Estava a meio de umas pesquisas de neurologia e psicopatologia, tentando diagnosticar-me, quando ouvi um barulho seco e forte vindo da sala comum. Não devia de estar ninguém acordado ainda, por isso, senti-me na obrigação de ir espreitar, só por segurança. Não que achasse que alguém poderia entrar no covil sem ser detetado. Os meus sistemas de segurança eram quase infalíveis…

Assim que coloquei a cabeça fora da porta vi o vulto do Raph na escuridão e ouvi o som de areia a cair no chão e um vernáculo impróprio ser proferido por ele.

Donny: Esse saco já deu o que tinha a dar hein?

Ele não se voltou para mim, apenas grunhindo em sinal afirmativo. Fui até à cozinha buscar a vassoura e a pá voltando vagarosamente para junto dele e comecei a varrer. No entanto, ele logo me arrancou a vassoura das mãos, mantendo o seu silêncio.

Donny: Estás tudo bem Raph?

Ele parou de varrer, suspirou alto e respondeu-me, ainda sem me olhar.

Raph: Não Don…não está tudo bem…nem vais estar enquanto tu continuares a agir como um merdas e um cobarde que tem demasiado medo de se deixar ser feliz com quem ama! - E então finalmente olhou para mim. Nós já tínhamos discutido aquilo…era um assunto encerrado! - Carapaças mano! Estás perante uma segunda oportunidade de não estragares tudo! Vê se atinas e se não voltas a fazer cagada ok!?

Donny: Raph…
- Talvez ele tivesse razão…eu seria apenas um cobarde… mas… - Nós…nós não funcionamos. Já tivemos prova disso.

Raph: Que prova Donny? Que merda de prova hein? Vocês nem tentaram. Desistiram logo!

Donny: Desistimos assim que nos demos conta que estaríamos a arriscar de mais e a colocar todos em perigo por nossa causa. Desculpa se preferimos não ser egoístas a esse ponto!

Raph: Tu és mesmo idiota sabias!?

Donny: Achas? -
Respondeu-me com tom sarcástico

Raph: Não…tenho a certeza! És um idiota de merda que não entendes que isso não tem qualquer lógica! Qualquer um de nós preferiria ver-vos juntos e felizes do que separados e miseráveis! - Aquelas palavras conseguiram mexer comigo...tanto que acabei por dar um passo atrás…

Donny: N-nós não estamos miseráveis…

Raph: Tu olhas para ti mesmo ao espelho? Dás conta da tua cara de babado a olhar para ela e do teu ar infeliz quando ela se vai embora? Tens ideia do quanto ela chorou? Do quanto lhe dói ter de evitar abraçar-te, comprar-te prendas pessoais, proteger-te mais? Tudo para não parecer que te está a favorecer?


Não…eu não sabia nada daquilo. Sempre me foquei em olhar apenas para o que ela me mostrava…no inicio em sentia a tristeza nos seus olhos sempre que me olhava e se forçava a sorrir-me. Mas, há medida que o tempo tinha passando, ela ficou melhor a fingir e eu consegui mentalizar-me que ela já não me queria…e que eu não a queria. E não queria…não podia. Não ia deixar que tudo viesse abaixo.

Donny: Raph…isso está no passado. Nós estamos bem, somos irmãos…e isso…chega.

Raph: … e isso chega… mesmo quando ela não se lembra disso e se lembra apenas de ter sido feliz contigo?

Donny: Sim…mesmo assim…
- Eu não queria pensar naquilo…não queria recordar-me do sonho…era doloroso demais pensar que a posso ter realmente tido… Não…não podia deixar as imagens entranharem…

De repente, senti uma dolorosa pressão no peito, que atirou comigo até ao outro canto da sala. Senti o ar sair forçado dos pulmões, tendo emitido um som custoso e afunilado.

Donny: Que carapaças Raph? - Quando olhei para ele as lágrimas escorriam pelo seu rosto.

Raph: Porquê? - A sua voz carregava uma dor imensa…como nunca tinha ouvido antes. - Porque é que ela tem de te amar a ti? Tu não a mereces…começo a duvidar até se alguma vez a amaste! - Como é que ele se atrevia? Ele não sabia…não faz ideia do que foi… - Ignoras os sinais, ignoras os sentimentos dela, os teus, os meus… PORRA DONNY! Porque é que não páras de uma vez de tentar esconder o que sentes por ela? E tu sabes, não sabes? Tu lembras-te! - Como é que ele sabia? - Claro que te lembras. Eu vi como olhavas para a vampira ruiva. Tu sabes quem ela é, por isso tens de te lembrar de mais do que dizes! É isso que te assusta? Hein génio? Saíres da tua zona de conforto? Saíres da merda de casulo em que tens estado metido? A ignorar o que sentes? Tens medo de sentir? De que seja demasiado bom e que depois possa acabar… é isso não é?

Não lhe consegui responder… como é que ele sabia? Como é que me conseguia ler como a um livro aberto? Nunca diria em voz alto…mas sim… eu tinha medo… Um medo atroz que me impedia de ir agora mesmo ter com ela e nunca mais me afastar… porque se havia alguém que tinha poder para me destruir…era ela…

Donny: E tu…já que sabes tanta coisa e se eu sou assim tão horrível… e tu és assim tão bom…então porque diabos não ficas tu com ela e pronto? - E então virei-lhe as costas e voltei para o meu laboratório. - Deixa de me chatear!

 

 

 

*** *** ***

Hon


Tinha ligado à Heidi, numa correria, antes de entrar ao trabalho e ficamos de nos encontrar pelas 15h30 no Luna Caffe, que ficava a meio caminho para todos. Eu, claro, com os meus passos rápidos, costumava ser a primeira a chegar. No entanto, quando cheguei a Heidi já lá estava.

Hon: Hey miúda! Chegaste cedo!

Heidi: Queria apanhar-te um bocadinho sozinha. E sei que tu chegas sempre primeiro.
- Fiquei ligeiramente apreensiva…o que será que ela queria que tinha de falar a sós comigo?

Hon: ahah, eu, a pontual! - Pousei as minhas coisas e pus-me confortável. - E então, conta lá, o que se passa? - Não valia a pena engonhar aquilo.

Heidi: Pois…essa era a minha pergunta para ti.

Hon: Que queres dizer?
- Ela ia perguntar-me porque faltei ao trabalho e eu não tinha pensado numa desculpa.

Heidi: Não te vou pedir detalhes do teu imprevisto… - Ok… - Mas sinto que se passa algo grave…

Hon: N-não se passa nada Heidi…
- Claro que se passava…mas eu não podia dizer-lhe nada sobre aquilo.

Heidi: Conta-me Hon…sou a tua melhor amiga… - Sim, era… mas eu não podia contar-lhe nada sobre manipulações de tempo e invasões extraterrestres. No entanto…podia partilhar outras ideias com ela… até porque, se essas ideias passassem a ações, ela merecia saber…

Hon: … bem…há uma coisa…

Heidi: O quê?
- Mas hoje não era dia de falar naquilo…

Hon: Não quero dizer-te hoje. Combinamos outro dia…pode ser?

Heidi: Não!
- Eu ia contestar, mas não consegui. - Hon, não interessa o que é. Eu…só…preciso de saber…ok? - …e agora? Podia contar-lhe algo daquilo? …podia…sem certezas…

Hon: …eu…eu posso…posso ter de voltar para a Irlanda…em breve…

Heidi: … temia isso…
- Ouvi o trepidar da sua voz… e vi os olhos encherem-se de água…era mesmo por aquilo que não queria ter dito nada, não no natal! - Quando? Quanto tempo?

Hon: Depois da passagem de ano…
- Precisava de tempo para decidir em concreto…o problema era responder à segunda questão… - …mas não sei quanto tempo…não sei se… - Quanto tempo demoraria um coração estilhaçado voltar a juntar-se? Quando tempo demoraria uma mente perdida voltar a encontrar-se?  Quando tempo demoraria uma alma ferida voltar a curar? Não podia dizer…

Heidi: …não sabes se voltas? - Apenas baixei os olhos. Eu estava a deixa-la triste…e era a última coisa que queria. - Prometes…que desta vez não ficas sem contactar? - Um grupinho de lágrimas descia pelas suas bochechas rosadas…

Hon: Prometo! - Agarrei as suas mãos. Sim, se eu fosse, não ia perder contacto…com ela não! Devia-lhe isso. E ela era uma amiga real! - E, ainda não é certo ok. Não fiques assim…por favor!

Heidi: Dizes-me assim que souberes?

Hon: Vais ser a primeira a saber.
- Bem, não literalmente…mas dos meus amigos humanos… - 

Ela prometeu que guardaria segredo.



Depois daquela conversa, os restantes elementos foram chegando: os irmãos Sean e Kaycee, o Richard e o Michael. A Heidi recuperou-se e agiu como ela mesma o resto do tempo, mesmo que eu conseguisse perceber um rasgo de tristeza na sua voz. Falamos das férias, do último concerto (o que foi desesperante para mim, dado não me lembrar de nada, mas safei-me), do Natal e das prendas que esperávamos receber.

Kaycee: E tu Hon? Os teus pais mandaram-te prendas pelo expresso? - Senti o olhar da Heidi em mim.

Hon: Não! Achas!? Fica muito caro mandar essas coisas! A minha prenda é estar aqui.

Michael: Ah, e achas mesmo que te safas sem prendinhas nossas? Nem pensar borracho!


E então, no meio de baboseiras e risos, todos trocamos prendas simples uns com os outros. Pequenas coisas que nos fariam lembrar uns dos outros. Eu tinha as pulseiras, a Heidi tinha pins, o Sean e a Kaycee arranjaram canecas com as nossas fotos, o Michael fez-nos um CD com as nossas musicas de dança mais marcantes e o Richard deu-nos uma garrafa miniatura com as nossas bebidas favoritas (as que tinha álcool, claro…a minha tinha Malibu!), fazendo-nos prometer que as beberíamos juntos quando finalmente nos graduássemos! A nostalgia invadiu-me. Eu estava mesmo com saudades deles! Eram o meu pessoal, a minha malta louca, o meu bando! Com eles podia estar sem preocupações, sem responsabilidades. Podia viver a juventude que, uma parte de mim, me dizia nunca ter tido. Ia custar separar-me deles… mas eu não era jovem…mesmo desejando por tudo poder ser…mesmo tendo essa aparência. O meu mundo era demasiado complicado, com demasiados perigos, enigmas e magias para eu poder relaxar e viver aquilo ao máximo. E era por isso que aproveitava todos os momentos com eles. Sentia-me livre…



Ao voltar a casa obriguei-me a desligar os pensamentos e apenas puxar pelos músculos e pela atenção, atrevendo-me a correr a céu aberto em plena luz do dia… Sinceramente, já pouco se me dava se me viam, me fotografavam ou o raio… Eu precisava de falar com o Jon e saber se estaria mesmo a ficar maluca ou se alguém mais entendia o sentido dos meus pensamentos.


Ao chegar, fiquei maravilhada. A casa estava repleta de cor que passava por vermelhos, dourados e verdes. Um pinheiro decorado na perfeição encontrava-se num dos cantos da sala, perto da janela, com várias prendas já debaixo dele. A mesa estava posta com o serviço de loiça que eu me lembrava de ter começado a poupar para comprar…mas que não me recordava de ter, de facto, comprado. Era lindo...de porcelana bege, delineada a dourado e pintada à mão com motivos japoneses. Tinha-me apaixonado desde que a tinha visto. O que talvez significasse que não seria tão boa ideia usá-la naquela noite…na minha família havia quase a tradição de partir sempre algo. Respirei fundo, tentando não pensar naquilo.

Jon: Foste rápida. Pensei que ias ficar mais tempo com a banda.

Hon: Não podia abandonar-te aqui! Aliás, já são quase 17h. Daqui a uma hora eles hão de aparecer por aí. Que falta?

Jon: Nada…ainda é cedo para começarmos a cozinhar. Que achas de irmos é relaxar um bocadinho?

Hon: Acho ótimo…até porque tenho de falar contigo de algo.


Fomos para a sala, sentamo-nos no sofá e ele ficou apenas à espera que eu começasse… e como ia eu abordar aquilo?

Hon: …há algum sitio que…bem…que gostasses de visitar? Qualquer parte do mundo?

Jon: Ah, já estás a planear férias é?

Hon: Algo assim. Diz lá…um país que gostasses de visitar.

Jon: mmm, bem…não me importava de visitar…França ou Itália ou Grécia ou Espanha…Alemanha…bem, na verdade adoraria viajar por quase todo o mundo.

Hon: Ok…e assim, um sitio fora daqui onde gostasses de viver?
- O semblante dele alterou ligeiramente.

Jon: …suponho que, qualquer um desses. Bem, sinceramente agora que não como há alguns que perderam algum atrativo… Pensando em cultura e geografia…não me importava de passar uns meses em Espanha. Até porque falo alguma coisa de espanhol…

Hon: Espanha hein… com o flamenco, as tortillas, as festas noturnas…estou a ver…
- Mas não seria um bom país para ele…muito sol… - Não preferirias algo mais nórdico para poderes sair?

Jon: … se for só uma semana ou duas não me incomoda…
- Eu estava distraída a pensar em países como Dinamarca, Gronelândia, Escócia…sítios com pouco sol. - Hon? - Mantive o cariz baixo… - Estás a pensar sair de NY?

Hon: Talvez… - Ele encostou-se no sofá, colocando uma mão na testa. - Seria assim tão mau ir explorar o mundo? Somos vampiros…podemos fazer o que quisermos.

Jon: E deixamos a nossa família? Assim, do nada?

Hon: Jon…
- Havia uma conversa…algo não tanto distante…com a Rouge…que não me saia da cabeça… - Nós somos a nossa família. - …palavras das quais eu sempre tinha fugido… - Os outros…não são imortais como nós… - …uma ideia em que eu não acreditava… - Para quê nos agarrarmos tanto a algo que vamos eventualmente perder? - …mas que naquele momento estava a usar de forma cobarde para tentar esconder o meu egoísmo…

Jon: Não podes estar a falar a sério! Por essa lógica devíamos era então aproveitar todos os momentos com eles! Como tu dizes, somos imortais! Que pressa temos para ver o mundo se temos a eternidade para o fazer?

Hon: Ok…
- Eu já tinha ponderado o cenário em que ele não quereria vir comigo. - Não precisas de vir comigo… - Mas eu iria ficar ansiosa e seria impossível para mim não manter contacto com ele…

Jon: Hon…não sejas parva! Para onde tu fores eu vou…sempre! Só…não entendo porquê…? - Eu podia admitir a minha fraqueza? Que não sabia como estar ali dada a situação? - É por causa do Donatello, não é?

…Seria mesmo preciso responder? Nem sabia para que me dava ao trabalho de tentar esconder. Ele conhecia-me tão bem que metia medo. Se bem que começava a achar que qualquer um deles iria conseguir deduzir aquilo. O nosso amor…quer dizer…o meu…não era secreto, muito menos depois da minha demonstração de ontem. Que adiantaria tentar negar aquilo? Mas não era por causa dele, era por minha causa. Porque não sabia lidar com aquilo…

Jon: Ok…quando vamos? - Olhei para ele, sem conseguir esconder a minha surpresa.

Hon: … pensei…depois da passagem de ano.

Jon: Ok…vai ser mais caro nessa data. Temos de pensar bem para onde vamos e o que levamos connosco. E temos de falar com o dono da casa. Que vamos fazer com esta mobília toda?


Ele apenas divagava em pensamentos altos… e eu em pensamentos baixos… Não tinha lógica…

Hon: Jon…?

Jon: Diz?

Hon: Tu não vens comigo…

Jon: Que dizes? Claro que vou!

Hon: Tu acabaste de começar as aulas noturnas…de fazeres novo amigos… de realmente começares a viver outra vez e a adaptares-te a toda esta nova vida… não posso obrigar-te a mudares tudo outra vez…

Jon: Hon…
- Ele apenas se colocou perto de mim agarrando-me num abraço apertado. - Tu és a minha melhor amiga! A única com quem eu posso partilhar tudo e com quem posso contar seja para o que for. Não vou ficar aqui sem ti! E alguém tem de ficar de olho em ti menina!

Hon: Em mim?

Jon: Claro! Tu és muito irresponsável! Haha.
- Ele afastou-se ligeiramente, prendendo o olhar no meu. - Vamos para a Irlanda!

Hon: Para a Irlanda?

Jon: Sim! Nós não somos nativos de lá? Que raio de nativos que não conhecem o seu próprio país? Já estava na hora de abraçarmos as nossas raízes, não achas, mana?


Não era má ideia. E a Irlanda tinha poucos dias de sol no ano. Seria mais fácil para ele.

Hon: Ok…vamos conhecer a Irlanda!

Jon: Boa! Vou procurar os voos!

Hon: Nah ah…
- Eu tinha olhado para o relógio… - Agora vamos é para a cozinha…eles daqui a nada estão a chegar.

Jon: … não lhes vamos dizer nada?

Hon: Para já não…

Jon: …mas vamos dizer?
- Era uma questão pertinente…há qual eu só tinha meia reposta.

Hon: Ao Mestre Splinter sim…

Jon: … vamos mesmo embora sem eles saberem?

Hon: Se souberem vão fazer de tudo para não irmos…

Jon: …sim…eu sei…
- E então, suspirou fundo. - Vou ter saudades deles…


Hon: … eu também Jon… ... eu também …

 

 

*** *** ***

Jonathan


Uma semana…tinha uma semana para tentar resolver este dilema. Mas se não conseguisse, iria de bom grado com ela e não voltaria a olhar para trás. Eu tinha noção do quanto e há quanto tempo ela estava a lidar com o seu amor…nem sabia classifica-lo. Não era um amor proibido, nem um amor não correspondido…era um amor manipulado pelo ambiente. Se tudo no mundo funcionasse de forma correta nada impediria este amor. Mas o mundo não funciona assim. Há caos, maldade, perigos…riscos que acabam por deturpar os sentimentos mais puros. Se eu estivesse no lugar dela já teria desaparecido daqui há muito tempo. Mas agora era pior…agora ela tinha memórias das quais não se conseguia desligar. Mesmo que pudessem ser falsas, ou reais…não interessava...existiam na mente dela. Já não eram só sonhos acordados. Durante a noite ela foi-me descrevendo tudo o que se lembrava… e era por isso que eu a entendia. Mas não achava nem irmos assim, sem sequer tentar resolver as coisas. E eu ia, por tudo, tentar resolver alguma coisa.

Mas hoje não. Hoje era noite de natal…e eu adorava o natal! Ela não também queria que aquela fosse uma noite tranquila e normal, apenas para aproveitar o tempo em família… tempo esse que podia estar contado.


Eram cerca de 18h10 quando ouvimos a janela abrir. Estes quatro nunca entravam pela porta! Céus!

O resto da tarde passou a correr. Entre mantê-los ocupados e organizar tudo na cozinha o tempo foi passando. Dava para notar alguma tensão entre o Don e o Raph…mas nada de alarmante. Aqueles dois tinham vários momentos assim. Se bem que, desta vez, eu suspeitava do porquê. Mas tudo calmo. Eles conversavam entre si, enquanto atacavam os sumos e tentavam roubar comida da cozinha. A certa altura invadiram a gaveta dos jogos e ficaram entretidos a ver o Mike jogar e a desafia-los.
Por vezes um deles vinha espreitar, perguntando se era preciso ajuda. A Hon apenas ria enquanto eu os enxotava. Já os conhecia bem demais para saber que eles acabavam por comer mais do que trabalhar e por isso só os queria longe!

Pelas 19h30 chegou o Mestre e vinte minutos depois, a April…sozinha.

Hon: April…o Casey?

April: Ahmm…o Casey…bem…teve de trocar o turno com um colega de trabalho e não vai conseguir vir.


Estranho. Ele tinha dito que tinha pedido para não fazer noite no natal. Ia questionar sobre isso, mas senti um ligeiro toque que me fez olhar para a minha companheira, sendo que o olhar dela me avisava para não aprofundar.

Hon: Que pena. Mas podemos sempre ligar-lhe mais logo para desejar bom natal.

April: Sim sim…claro…


Era cerca de 20h15 quando eu e ela começamos a levar a comida para a mesa. O perú cheirava divinamente. Estava tostadinho, mesmo como se vês nos filmes! A nossa mesa era grandita, cabíamos bem os 8. Já encaixar as travessas todas foi desafiante, mas lá conseguimos.

Todos estávamos animados. Riamos, dizíamos disparates, comíamos…parecia um natal normal… parecia! Isto porque apesar da aparente descontração, eu conseguia detetar a tensão na sala. Da Hon, do Don, do Raph e da April, especialmente. Bem…algo me dizia que a noite ainda iria ser...interessante…só isso…


 

*** *** ***

Hon


Não sei quantas vezes já dei comigo a pensar no simples dado que: Se a minha família está com problemas, os meus ficam de imediato para segundo plano. E havia, com toda a certeza, dois pontos problemáticos naquele momento.

O primeiro, e que mais me preocupava, prendia-se com a April…fora o óbvio, havia algo que se passava entre ela e o Casey que me estava a escapar. E o segundo tinha a ver com dois dos meus irmãos que estavam, nitidamente, em guerra um com o outro! Poderia ser fácil que passasse despercebido no meio da animação da noite, mas estava claro como água que eles não tinham dirigido a palavra um ao outro todo o tempo desde que tinham chegado. Além de que eu conseguia sentir, literalmente, o estado de espírito do Donatello e sabia que ele estava aborrecido. E algo que dizia que eu poderia ser a causa daquele desacato entre eles. Tinha de arranjar maneira de entender o que se tinha passado.

Leo: O jantar estava maravilhoso meninos!

Hon: Obrigada Leo!

Jon: É bom que esteja…ao trabalho que deu!

Hon: Jon…que exagero! Deu bem mais trabalho montar a casa quando nos mudamos que fazer o jantar!

Jon: Que raio de comparação!

Hon: É válida!

Jon: Ok ok! Ainda bem que está tudo ok! Vamos atacar as sobremesas?

Hon: Só se fores o primeiro a comer!

Jon: mmm…obrigada, mas acho que fiquei cheio com a quantidade astronómica de perú que ingeri…

Hon: Sim, claro… e que quantidade foi essa? A raiz quadrada de 0?

Jon: Exatamente essa! Não podes dizer que não é alguma coisa!


Todos nos rimos daquela brincadeira palerma antes de levarmos os pratos para a cozinha e trazermos as sobremesas. Enquanto eles comiam, dediquei-me a lavar a loiça, ato que demorou cerca de 3 minutos. Quase não deu tempo de sentirem a minha falta. Era realmente vantajoso ser rápida como o som quando queria!

Raph: Boneca…devo dizer-te que este pudim está de morrer!

Hon: Não morras já que está tudo de férias, não há enterros e depois começa a cheirar mal!

Mikey: A gente atira-o para uma das estações de tratamento…aquilo tritura seja o que for!

Raph: Engraçadinhos! Vocês amam-me de mais para isso. Quando morrer vão embalsamar-me só para poderem continuar a admirar esta beleza!


Um som de tosse forçada obrigou-nos a parar com a palermice…

Splinter: Não me parece que estejam a tocar num tema que se encaixe com o clima natalício. Tenham maneiras!

April: Realmente meninos! Que conversa tão soturna!

Hon: Sim sim…
- Eles tinham razão…mas havia alí tanta possibilidade de achocalhar…

Jon: Depende Mestre…já se refestelaram com comida feita por dois mortos-vivos…que também enfeitaram a casa e tal… eu até acho que se encaixa!

Eu, o Raph, o Mike e o próprio Jon ficamos literalmente a morder os lábios para não nos rirmos enquanto víamos a cara de chateado do Mestre…no entanto, o primeiro a ceder à piada idiota foi o Donatello!
Desmanchou-se a rir…levando os outros a acompanhá-lo…todos menos o Mestre, a April…e eu…que me perdi no som do seu riso, tendo até esquecido o que o tinha originado. O meu corpo parecia ter-se enchido de borboletas, que me faziam cócegas na barriga e os meus olhos perderam-se nele. Tentei controlar o sorriso tolo que sabia ter na cara…não queria que ninguém desse conta. No entanto, assim que desviei o olhar dele, o meu irmão de bandana vermelha olhava-me intensamente. Desviei o olhar do dele e rapidamente me voltei a sentar à mesa, atacando uma taça de leite-creme.

April: Coff coff… bem…pessoal…agora que já comemos e…nos acalmamos todos… eu…tenho algo muito importante para vos contar… - Todos ficaram atentos, esperando a notícia…que eu já sabia… - Eu estou…grávida! De praticamente 4 meses…

Fizeram-se uns segundos de silêncio e depois foi o descalabro!

Os meus irmãos, o Mestre e até o Jon ficaram em êxtase com a notícia de que teríamos mais um elemento a acrescentar à família em breve. Os rapazes felicitavam-na e fazia perguntas, uns por cima dos outros, acabando por ninguém entender nenhuma.

April: Obrigada rapazes…mas talvez uma pergunta de cada vez fosse mais fácil, haha. - Eles sossegaram ligeiramente e ela olhou para mim, sorrindo levemente.

Hon: Parabéns mamã!

April: Eu já suspeitava que tu sabias.

Hon: É difícil não saber quando partilho enjoos matinais contigo e noto as diferenças todas…assim como ouço um som de asinhas de colibri extra vindas da tua direção…não é fácil passar despercebido!

Leo: Hon, tu sabias e não disseste nada?

Hon: Ora, não é algo meu para eu partilhar! Não ia meter-me assim na privacidade deles!

Mikey: Uau…um bebé! É menino ou menina?

April: Ainda não sei…na verdade, ainda não sei nada de nada…

Donny: Ainda não foste ao obstetra?

April: Não… eu só tive confirmação há umas semanas…mas já marquei consulta. Também estou ansiosa para saber se está tudo bem.


Senti um ligeiro toque no braço vindo do Jon.

Jon: Acreditas que só agora que mencionaste um outro bater de coração é que o estou a ouvir? - Sussurrou-me, tentando ser discreto.

Hon: Acredito, é tão estranho que passa facilmente despercebido não é? - Era uma sensação maravilhosa poder ouvir o que os outros só ouviriam com a ajuda de máquinas. Era um som leve, rápido e constante…que transmitia uma paz e alegria indescritíveis.

Jon: É um som bonito…

April: Hon?

Hon: Diz April!

April: Importavas-te de…ir comigo à consulta? É na terça-feira de manhã.

Hon: Claro que vou…só tenho trabalho de tarde… mas, não devia ser o Casey a ir contigo?
- O semblante dela alterou-se e ela adotou uma tez triste. - Não leves a mal, eu tenho todo o prazer em ir contigo! É uma grande honra até! Mas…acho que o pai devia ter prioridade nisso… - E então comecei também eu a sentir a tristeza que via na sua face…uma tristeza profunda, seguida de insegurança, confusão… - April…o que se passa com o Casey?

Ela tardou uns segundos a responder-me e a resposta veio acompanhada de algumas lágrimas que se escapavam dos seus olhos.

April: Bem…isto não foi bem planeado sabem…acho que…bem…o apanhou demasiado de surpresa e…

Ela estava a dizer o que eu estava a entender? Levantei-me de rompante batendo com as mãos na mesa, assustando o Mike e alertando o Jon com o movimento brusco e chamando a atenção de todos.

Hon: Ele deixou-te? - Ela apenas olhou para mim, encolhendo os ombros levemente. - Eu mato esse desgraçado! - Senti a fúria apoderar-se de mim, trazendo a mudança de cor aos meus olhos. Mas não quis saber! Como é que ele se atrevia a engravida-la e a abandona-la?

April: Hon… ele…apenas me pediu um tempo ok…para ele pensar…

Hon: Para pensar? Pensar em quê? Pensar era antes!

April: Isto caiu do céu…e ele entrou em pânico. Precisa de tempo para se habituar à ideia de ser pai!

Hon: Ah…ele precisa de tempo? E tu? Quando é que tu tens tempo para te habituares à ideia de seres mãe?

Raph: A Hon tem razão April! O que ele está a fazer não tem desculpa!

April: Mas irem atrás dele e pressiona-lo pode fazer ainda pior. Por isso ninguém vai fazer nada! Isto é entre nós dois!


Obriguei-me a respirar fundo e a recuperar a calma.

Donny: Somos família… e essa situação não vos afeta apenas a vocês…

Mikey: Claro!


Leo: Se não queres que falemos com o Casey…não o faremos.

Donny: Mas não nos peças que fiquemos indiferentes.

April: Obrigada rapazes. Eu sei que posso sempre contar convosco!

Hon: Não vou atrás dele…mas te garanto que se ele se armar em idiota e se pirar vou persegui-lo até aos confins do mundo se for preciso.

April: Se ele realmente fugir…conto com isso!


Eu sentia-me demasiado zangada para conseguir acalmar estando ali tão perto dela e a conseguir ver a tristeza que ambas sentíamos…

Hon: Preciso de apanhar ar! Desculpem!



Saí pela janela e fui sentar-me no telhado. Estava furibunda! Eu nunca tinha criado laços muito fortes com o Casey. Gostava dele, mas nada como da April. Mas nunca imaginei que ele pudesse descer tão baixo! Que classe de homem é que abandona a namorada grávida? Só os nojentos, cobardes, bestas sem coração… podia lembrar-me de vários nomes que poderiam classificar aquele tipo de comportamento…mas nenhum era forte o suficiente! Eles não eram namoradinhos de meses…estavam juntos há quatro anos! Tinham vida estável, ambos trabalhavam, viviam juntos… Eu sei que um bebé altera muito a vida às pessoas…mas daí a ele fugir dada a situação…não entendo. O Casey sempre foi imaturo! Pior que um adolescente. E só podia advir daí, este comportamento intolerável, a meu ver!

Raph: Já estás mais calma?

Ele sentou-se ao meu lado calmamente. Já era algo habitual ficarmos no telhado a conversar, mesmo nas minhas memórias. Acreditava que mesmo nas dele, seria algo que nunca deixamos de fazer. O Raphael e eu tínhamos uma ligação especial e eu conseguia falar de tudo com ele sem medo nem sem precisar de esconder nada.

Hon: Nem por isso. Achas isto normal?

Raph: Não…mas sinceramente não me admira tanto. O Casey não é o adulto mais maturo do mundo…

Hon: Quão ridículo é ouvir um adolescente dizer isso de um adulto hein?

Raph: Não és tu que dizes que nós só somos adolescentes de idade?

Hon: Não me lembro…mas acredito que o tenha dito. Vocês tem responsabilidades a mais para adolescentes e lidam com situações que puxam demasiado por vocês. Isso obriga-vos a crescer.

Raph: Não te lembras mesmo de nada? Sem ser do teu sonho?

Hon: Nada… é como…de repente ter caído num videojogo e não saber nada…nem comandos, objetivos, regras…nada…

Raph: Ufff….tanto trabalho para nada…

Hon: Que queres dizer?

Raph: … que passei este tempo todo a tentar conquistar-te…só para agora te esqueceres…


A única memória que eu tinha das tentativas dele eram o nosso beijo, as cantadas dele durante as danças, os toques carinhosos, as musicas que me dedicava… e todos os momentos em que me ouvia, me deixava chorar no seu colo…ouvia dos meus dias, dos problemas… da voz dele a trazer-me de volta onde pertencia…

Hon: Há coisas anteriores que não se esquecem…e momentos do meu sonho…

Raph: … como é que ficaste tão magoada? A imagem que tenho de ti…é digna de filme de terror…

Hon: Os Krang tinham armas específicas para magoar vampiros… sinceramente não entendo como não morri…

Raph: Ainda bem que não…não sabia como viver sem ti boneca.


Ele encostou a cabeça ao meu ombro e senti a pele por baixo da camisola aquecer de imediato.

Hon: Achas mesmo que ele é capaz de a abandonar?

Raph: Quero acreditar que não… mas se o fizer, conta com a minha ajuda na tua perseguição!

Hon: Só me ias atrasar…
- Disse-o em tom de brincadeira, lembrando-me da Rouge a chamar-lhes lentos. Era algo que eles detestavam.

Raph: Brinca brinca! Mas sabes…até entendo o pânico…

Hon: Eu não! Se eles não tivessem estabilidade até entendia…mas assim…

Raph: Ha…imagina a ideia de criar uma criança no meio de quatro tartarugas e um rato mutante e dois vampiros! Qualquer um se passava Hahahaha.
- Aquela frase, apesar de ser uma piada, tocou num ponto sensível…

Hon: …acho que não vão ter de se preocupar com os dois vampiros… - E acrescentei tentando que aquilo passasse despercebido, mas no fundo sabendo que seria em vão...ele merecia saber aquilo...certo? - E a infância dessa criança vai ser brutal com tios desses!

Raph: … como assim não vão ter de se preocupar com os vampiros?
- Tentei mudar de assunto.

Hon: Acho que vai ser uma menina sabes? As meninas são melhores de lidar, são melhores a guardar segredos!

Raph: Hon…não esquives? Que diabos estás a esconder?


Não estava…por isso é que tinha falado… se havia alguém que tinha de saber fora o meu pai, era ele.

Hon: Eu e o Jon vamos para a Europa por uns tempos…partimos após a festa de fim de ano. - Ele ficou impávido a olhar para mim, de olhos arregalados. A sua boca ia abrindo e fechando à medida que ele pensava e repensava o que dizer… - Não vai ser para sempre! Só achamos que devíamos aproveitar para ver outras cidades, outras culturas…

Raph: …assim de repente?
- Não tinha como justificar aquilo… Ele mexeu-se tão depressa, agarrando as minhas mãos, que me assustou. - Não vás Hon…por favor não vás embora!

Hon: Raph…


Raph: Eu sei…eu sei e entendo porque queres ir! Consigo entender em parte o que estás a sofrer depois de teres visto que afinal o “vocês” não é real! Mas eu posso ajudar-te. Começamos do zero, como antes ok. Podes desabafar comigo, chorar, gritar…até me podes bater se quiseres mas não nos deixes…por favor não me deixes…

O olhar dele não se tinha desviado um milímetro que fosse do meu durante todo o seu monólogo, fazendo com que as palavras ganhassem uma intensidade ainda maior ao serem acompanhadas pela visão da sua dor.

Hon: Raph…eu não sei o que a eu desta realidade estava a pensar… mas eu seria incapaz de te usar assim. - Eu não podia brincar com ele daquela forma… e era horrível saber que aparentemente o tinha feito. - Não posso aproveitar-me do teu amor por mim para curar as minhas feridas. Tenho de o fazer sozinha…e acho que se ficar nunca o vou conseguir fazer…

Raph: Eu sei que é praticamente impossível…sempre soube. Mas…se tiver de escolher, preferiria um milhão de vezes viver a tentar fazer-te apaixonar por mim em vão e ir tendo os teus sorrisos e a tua confiança do que não te ter de todo…
- E naquele momento, ao ouvir aquela declaração algo no meu interior se acendeu…e toda eu desejei poder realmente estar apaixonada por ele. Ele tinha sempre estado lá para mim, amava-me, nunca me tinha deixado nem duvidado… seria tão mais simples…fácil, como respirar… Mas havia algo que faltava… - Mas não posso ser egoísta ao ponto de te fazer ficar só por mim sabendo que vais estar a sofrer… Desculpa.

Hon: Eu é que tenho de te pedir desculpa…
- Foi a minha vez de me encostar a ele. - Devia ser fácil…simples…ficar contigo…

Raph: … sabes que ele me disse para eu ficar contigo?

Hon: ahm?

Raph: Tivemos uma discussão hoje… atirei-lhe à cara que ele era um cobarde por não ter coragem de ficar contigo por medos estúpidos. No final ele disse-me que já que era tão mau e eu tão bom que ficasse eu contigo… Mas até eu sei que não é simples… Como se houvesse

Hon: Algo a faltar…
- Então…ele sentia o mesmo que eu?

Raph: Sim… Como se existisse algo incompleto no meu amor por ti…uma pequena peça que não encaixa no puzzle…apenas uma…

Hon: Bem…no meu caso a peça tem nome, cor, cheiro…

Raph: ahahah…bem, eu ainda tenho de encontrar algo que identifique a minha…

Hon: …sabes que mesmo amando mais o teu irmão…não sei estar sem ti Raph. E sei o mal que isto soa e o egoísta que é. Sou horrível por dizer isto. E é por isso que acho mesmo que tenho de sair daqui uns tempos. Tu também precisas de tempo de mim…

Raph: mmm…sabes o quando isso me dói?

Hon: …acho que tenho uma noção…


Ficamos uns minutos em silencio, apenas a olhar para o céu escuro. Quase não se viam estrelas.

Raph: Se eu tivesse um filho contigo jamais pensaria fugir… - Suprimi um risinho ao imaginar aquele cenário...eu, ter filhos...

Hon: Acho que os vampiros não podem ter filhos…

Raph: …e desde quando é que as regras dos vampiros se encaixam em ti?

Hon: … bem…não seria mau de todo que não se encaixasse…seria bom ter essa opção num futuro longínquo...muito muito longínquo espero...

Raph: Dirias o mesmo se fosse o Don a dizer isso?


Hon: ahmmm…sim! Raph, ainda tenho tanto para fazer antes de alguma vez poder considerar filhos.

Raph: Se ao fim de 200 anos ainda não está pronta…vou ter de esperar quê…mais 200? 300? Para ser tio?

Hon: Pfff…sei lá! E para que estamos a ponderar o impossível?

Raph: Porque preciso de imagens bonitas para não me ir abaixo…

Hon: Ok… tu ias ser um tio fantástico sabes?!

Raph: Achas?

Hon: Claro! Ias ser o tio que os levaria em aventuras, que os ia treinar para ficarem fortes e ágeis! Serias o padrinho perfeito!

Raph: Melhor que o Leo?

Hon: Melhor que o Leo!
- Sorri-lhe abertamente! Se eu tivesse um filho, não imaginaria alguém mais qualificado para o educar na minha ausência que o Raph! Ele era o mais protetor, o mais forte. Podia sem dúvida confiar nele para aquele papel!

Mikey: Hon! Raph! É quase meia noite! Vamos abrir as prendas! Venham!

Raph: Não lhes dizes nada para já?

Hon: Até ter certeza de quando vou não…

Raph: Ok…
- Eu ia levantar-me mas ele parou-me. - Mas o meu silêncio tem um preço!

Hon: Um preço?

Raph: Se vais embora sem data de regresso…posso pedir-te algo?

Hon: Claro!
- Tudo o que pudesse dar-lhe daria…sempre!

Ele não disse nada…apenas se aproximou até as nossas laterais se tocarem, colocou uma mão atrás do meu pescoço, fazendo-me festas ali, fazendo-me arrepiar, sem nunca tirar os olhos de mim. Com a outra mão, retirou a sua máscara, deixando-a pender no pescoço, deixando-me ver a sua face antes de afagar a minha. Eu estava congelada, apenas deixando-o avançar para mim lentamente. Ele ia beijar-me…e eu ia deixar. Algo dentro de mim desejava aquilo. Algo inconsciente, irracional, mas decidido.

Os lábios dele colaram-se lentamente aos meus deixando-me sentir novamente a sua textura lisa e suave. O nosso primeiro beijo também tinha sido assim. Mas desta vez eu queria mais. Como se o meu corpo tivesse vontade própria, eu cheguei-me mais a ele, levando a minha mão ao seu pescoço, pressionando-o contra mim, deixando os meus lábios separarem-se e envolverem os dele. Ele logo me correspondeu, abrindo a boca e deixando-me sentir o aroma a chá de limão e mel característico dele. Os nossos lábios dançavam sincronizados e não tardou às nossas línguas entrarem na coreografia, bailando docemente entre o espaço das nossas bocas. Ele mantinha os olhos fechados…e eu os olhos abertos. Estava deliciada com a visão da face dele tão perto da minha. De repente, tive um estranho vislumbre. Ia jurar que as laterais dos seus olhos se tinham iluminado com uns traços vermelhos, apenas por uma milésima de segundo.

E, tão depressa como aquela cor surgiu, a minha mente começou a girar e um turbilhão de memórias invadiu o meu consciente! Memórias que iam desde Maio até aquele momento. Memórias de mim, dos rapazes, do Jon, da escola, da banda, dos meus amigos, do trabalho, conversas, momentos, atos, compras, sabores, sensações, choros, danças… Do nada tudo estava ali…como se o beijo dele tivesse desbloqueado algo na minha mente e eu conseguisse ver-me neste realidade fora da do meu sonho.

Perdi-me no tempo, não sabendo dizer quando tempo o nosso beijo durou…apenas que, lentamente, o beijo foi diminuindo de intensidade, mantendo-se até ser apenas um tocar de lábios. Como se insistíssemos em procurar algo no beijo um do outro. Eu procurava algo…uma razão…uma esperança… Mas as novas lembranças, tão distintas das primeiras que mantinha, não me davam muitas razões para me manter firme. Pelo menos agora podia ter a certeza do porquê de me ter separado do Donny em primeiro lugar…e da estupidez que era! Assim como me lembrei de todos os momentos que o Raph me apoiou…e que eu apoiei e Leo e o Mike… Estava tudo aqui…

Raph: Estás bem?

Hon: … lembro-me…de tudo…

Raph: De tudo?

Hon: Sim…foi como se te beijar tivesse ligado um interruptor na minha mente…as memórias desta realidade…tenho-as todas.

Raph: …uau…se eu soubesse que o meu beijo era assim tão poderoso já te tinha beijado ontem! Ahah… E…perdeste as outras?

Hon: Não…está cá tudo…como se tivesse vivido em dois mundos ao mesmo tempo…

Raph: Muda alguma coisa?
- Eu sabia que ele queria muito que eu dissesse que sim…

Hon: …Não… talvez pelo contrário…ainda me dá mais certezas…

Raph: mmm…diabos… Foi bom pelo menos?

Hon: Ahah…sim…foi muito bom!

Jon: Raph! Hon! Venham!!!

Raph: Estamos a ir! Bem…lá vou ter de cumprir a minha promessa!

Hon: Como se já não o fosses fazer…abusador!

Raph: Acabaste de dizer que gostaste!

Hon: Não quer dizer que não tenhas sido interesseiro!



Voltamos para dentro, rindo daquele nosso momento impensado.

Naquele curtíssimo caminho, não pude deixar de me aperceber da diferença que havia entre beijar os dois. O Raphael beijava bem. O seu beijo era suave, mas decidido e o seu sabor era cativante. Mas o meu corpo não tinha as reações que o beijo do Donatello despertavam. Com o Donny o meu corpo derretia, arrepiava, refazia-se em ondas de prazer de todas as formas e cores. O beijo do Donatello era igualmente decidido e suave, mas o seu sabor era do outro mundo. E, muito mais que as diferenças corporais…eram as diferenças no meu coração e mente. Enquanto beijava o Raph, consegui manter-me concentrada, medindo as ações e o meu coração reagiu como sempre reagia. Já com o Donatello…bem…com ele a minha mente viajada para um lugar onde nada mais existia senão eu e ele. Conseguia esquecer-me de onde estava, perder a noção do tempo…e o meu coração acelerava sempre… Se isso não era amor…não sei o que seria…


Quando entrei pela janela fiquei pasmada com o que vi! O meu pai estava vestido de pai natal! Barbas brancas e tudo! Não consegui evitar rir-me. Ficava-lhe bem.

Splinter: Este ano é o pai natal que distribui as prendas.

Hon: Ainda bem que me lembrei de etiquetar!


Passamos quase uma hora com as prendas porque o Mikey insistia em que de cada vez que uma prenda fosse entregue, a mesma tinha de ser de imediato aberta. Claro que isso levava a adivinhar de quem a prenda vinha e os porquês das escolhas.
Eu recebi várias coisas, desde meias até aos joelhos até um novo Ukulele dado pelo meu pai! As meias vieram do Mike, mais um conjunto fabuloso da April, livros do Leo, umas sapatilhas do Jon, um perfume do Raph … e caramelos … Bem, pelo menos tínhamos ido na mesma linha de pensamento um em relação ao outro…
E seria algo maravilhoso, porque eu adoro caramelos…se tivesse vindo num outro contexto.

De todas as reações deles aos vários presentes, a melhor foi sem dúvida do Raph quando, mesmo antes de abrir, se apercebeu do que era a minha prenda! Levantou-me do chão, rodopiando comigo nos braços, agradecendo mil vezes! Pelos vistos o saco de box dele tinha mesmo dado o "último suspiro" essa manhã e, segundo palavras dele, sem saco de box a vida dele não tinha cor! Ainda bem que eu tinha uns espiões que me tinham avisado que o saco estava prestes a falecer e eu encontrei uns bons a bom preço! Se havia algo que me podia animar mesmo no meio do meu desespero interno, era ver a minha família feliz!


Não comentei o facto de ter recuperado…ou adquirido…as memórias do ultimo ano nesta realidade e o Raph também não se pronunciou sobre isso. Ele entendia que eu falaria quando fosse oportuno.



A noite foi passando, resumindo-se a conversas sem sentido e comida…muita comida. Não entendia como estes rapazes comiam tanto!

Estava deliciada a comer uma fatia de pudim quando a April bocejou, dizendo que estava a ficar tarde e que teria de ir descansar. Claro que o Mestre aproveitou a deixa dela, como sempre fazia! Combinei direitinho as coisas com a April para terça feira e deixei-os ir. Realmente, já era quase quatro da manhã. Ainda bem que não ia trabalhar de manhã. Aliás, entrava em férias na próxima quinta-feira. Férias essas que podiam ser definitivas. Ia ter de deixar o trabalho, a escola, a banda… Ainda agora tinha voltado e já estava a pensar em ir embora. Sim, porque apesar das memórias terem regressado, não passavam mesmo disso…memórias…de momentos e de sentimentos. Mas é uma coisa lembrar sentimentos e é outra coisa senti-los de facto. Lembrava-me de dançar em frente a estranho…mas não conseguia identificar-me com as sensações na minha memória. Assim como de dar um concerto patrocinado…com luzes, efeitos… mas nem sabia se gostava ou não de o fazer. Como me lembrava de estar com os meus amigos…mas as saudades de quem não os via à quase um ano continuavam aqui. Assim como me lembrava da distancia entre mim e o Donny e de conseguir estar “bem” com ela… e naquele momento não fazia ideia de como tinha aguentado. Lembrava-me de porque tínhamos terminado a nossa relação…se é que chegou a ser isso…não durou nem 24 horas por isso nem acho que conte… e o que me lembrava era uma autêntica parvoíce! Ou era o que eu sentia. Porque, novamente, não conseguia recriar o que senti na altura. Mas para me ter feito concordar com aquilo… Não… nada neste momento me faria concordar com aquilo! Não depois de ter vivido o terror que vivi. Nada, medo algum alguma vez seria maior que esse. Por mais em perigo que pudéssemos ter estado, eu vivi os dois cenários: um em que todos sobrevivemos e vencemos apesar dos riscos e perigos para todos e outro em que aconteceu o contrário. E mesmo com todos os perigos, mesmo sabendo que eramos o alvo de algo horrendo…nós ficamos juntos! Como é que sobrevivemos a um apocalipse e não a uma vitória? Não entendia!

Kyūbi: Por vezes o destino muda por um motivo…

Hon: Se o motivo for tirar-me força está no caminho certo.

Kyūbi: …podes encontrar força de outra forma…

Hon: Queres dar um exemplo?

Kyūbi: mmm…tens sempre o Raphael! Ele sempre te ajudou…
- Ouvi um leve rosnado vindo da escuridão.

Hon: …sim…mas, mesmo que o adore não posso continuar a usá-lo como amparo…não seria justo.

Kyūbi: …quem sabe com o tempo não se apaixonariam de verdade?
- O rosnado agora foi bem audível…

Hon: Lilith…passa-se algo?

Lilith: Nada…estou ótima, maravilhosa, diva como sempre!
- Podia notar raiva na voz dela…

Hon: Estás chateada por ter beijado o Raph? - Novamente um rosnar baixinho, quase impercetível… Oh céus! - Estás!

Lilith: E de onde tiraste tu essa conclusão sua energúmena?

Hon: Bem, fora o facto de estares a fumegar de raiva e dos rosnados… nada…

Lilith: Não me interessa quem beijas, quem fodes ou quem matas, estás a ouvir? - Ela era realmente irritante…mas eu também gostava de a irritar.

Hon: … bem, se é assim, pode ser que siga o conselho do Kyūbi e que vá aproveitando o Raph…quem sabe não treino beijos, fodas e matanças com ele!?

Ela chegou junta à grade, deixando-me ver as suas presas e os seus olhos vermelho-sangue. Fixou-me por uns segundos… e depois largou as grades e virou-me as costas de novo, seguindo para a escuridão.

Lilith: Faz a porra que te apetecer!

Quando desviei o olhar da jaula, Kyūbi olhava-me com ar acusatório!

Hon: Que foi? - Ele suspirou, deitando-se lentamente enquanto falava.

Kyūbi: Observar-vos é como ver uma partida de ping-pong…ora estão bem, ora não estão…até enjoa!

Mikey: Hon?

Hon: Sim mano? - O meu espaçamento tinha sido muito óbvio?!

Leo: Estávamos a dizer que secalhar também vamos indo. Está a ficar tarde.

Hon: Ah, sim, claro. Desculpem…conversas internas!
- Sabia que eles iam entender após aquele comentário. Se bem que continuava sem saber se acreditavam mesmo que eu tinha as personagens que tinha na mente ou se eu era apenas esquizofrénica… dado que até eu já tinha considerado, para ser sincera. - Sim, claro, ide! Com cuidado ok! E obrigada por terem vindo!

Raph: Não precisas de ajuda a arrumar nada boneca?
- O sorriso dele transmitia um misto de malícia com tristeza que me faziam querer aninhar ao lado dele e mimá-lo só para o ver feliz.

Hon: Não, obrigada. Já está praticamente tudo e o que falta demora apenas uns minutos para nós. - Cheguei-me perto dele e abracei-o. Ele levantou-me logo so chão, como eu sabia que faria, deixando-me em posição para sussurrar ao seu ouvido sem que os outros percebessem. - Estás bem?

Raph: Sim, isto passa.

Hon: Se precisares de mim…ainda sabes onde estou.

Raph: …ainda sei…


E então senti-o apertar-me com mais força e dar-me um enorme beijo no pescoço, fazendo cada mineral do meu corpo arrepiar! Acabei por não resistir a rir e a dar-lhe uma pequena sapatada no ombro.

Raph: Autch!

Hon: Bem feito!


Ele pousou-me no chão e eu corri para o Leo para também o abraçar. Depois para o Mike. Aproximei-me do Donny com alguma cautela. Agora que as memórias estavam presentes, sabia que há muito que evitávamos abraçar-nos. Mas eu não ia manter aquilo. Eu não era aquela Hon. Ele estendeu-me a mão, e eu rapidamente lhe dei um safanão e atirei-me para os braços dele. Não sabia o que esperar daquilo, não sabia se ele me ia abraçar ou afastar, se iria ralhar comigo, insultar-me ou dizer que me amava. Nem contava com a descarga que me percorreu, mesmo sendo conhecida.

Ele ficou reticente de inicio, mas logo senti as mãos dele a tocarem o meu corpo levemente. Ele era ligeiramente mais baixo que o Raph, então bastou-me pôr-me em bicos de pés para conseguir sussurrar-lhe.

Hon: Tinha saudades de te abraçar… porque paramos de o fazer?

Ele demorou uns segundos a responder.

Donny: Não sei… acho que por prevenção…

Hon: Prevenção? Sermos carinhosos é perigoso?

Donny: Não para o mundo…mas para a nossa força de vontade…talvez…


E aquela simples frase foi o que bastou. Ele estava a admitir que sentia algo comigo por perto e por isso evitava tocar-me, falar-me, estar muito por perto, com medo de não conseguir resistir.

Talvez…apenas talvez…o plano da Naomi funcionasse… E eu tinha de tentar, mesmo não me agarrando a esperanças...

Hon: Talvez fosse hora de largar a força de vontade…? - Senti os seus músculos tencionarem debaixo de mim e o seu coração acelerar…

Donny: Não me parece sensato… - E então, senti-o afastar-se de mim, sendo obrigada a soltá-lo.

Ficamos a fitar o olhar um do outro… e agora entendi que nada restava do olhar que vi ontem, quando o assustei ao beijá-lo. Agora, via apenas o olhar profundo e maravilhosamente belo do rapaz que amava.

Não foi fácil deixa-los ir. Eu queria que o Raph ficasse…queria garantir que ele não se afundava, não suportava vê-lo triste. E queria que o Donny ficasse…queria poder falar com ele, entender o que vai na sua mente… tentar por tudo que ele quisesse conhecer o que é estarmos juntos…

Mas tive de os deixar ir…daquela vez.

Não ia decidir nada de forma definitiva antes de sentir que não havia nada a fazer em relação a nós…


...Tinha apenas uma semana para descobrir…

 

 

 

 


Notas Finais


Opiniões e comentários são sempre bem vindos! :D

Tenho uma amiga que lê a fic que tenta a todo o custo que lhe conte como a história vai correr. E, apesar de eu ter os pontos cruciais todos pensados, não lhe conto nada. Não há spoilers. No entanto, em compensação por não lhe dizer nada, ele enche-me de mensagens com teorias, o que faz rir imenso! :P
E isso fez-me pensar, haverá mais alguém com teorias? ( E depois lembrei-me...ninguém mais deve dar tanta importância à minha história, não é assim tão boa e eu sou só uma novata nisto! :P )

Mesmo assim, espero que estejam a gostar (minimamente) da história!

Até já! <3


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