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História You know I do - Avatrice - Capítulo 15 - Romanos 6:7


Escrita por: kcatwarrior

Notas do Autor


"Porque aquele que está morto justificado está do pecado. - Romanos 6:7"

Capítulo 16 - Capítulo 15 - Romanos 6:7


15

 

AVA

 

Por mais que desejasse o fim de todos aqueles problemas que a envolviam, ela queria poder adiar todos eles apenas para não ter que enfrentá-los. Na sua cabeça, ela pensava em como seria do outro lado do portal. Seria vermelho, com um calor de matar, rochoso e escuro? Seria um mundo normal onde a maldade reinava? Seria um vácuo onde, se entrasse, você não voltaria mais? Não tinha certeza se queria descobrir como o outro lado era.

Quase ajoelhou-se no meio do celeiro, querendo agradecer a Deus quando a Dra. Salvius pediu mais um dia para terminar de ajustar os últimos detalhes, mas não gostou do fato de ter que passar aquele dia inteiro junto com a mais velha. Segundo Jillian, o divinium precisa estar ativo para que o portal funcione e a única coisa capaz de fazer isso é o Halo, o qual está preso a Ava.

Passou quase 18 horas – contadas pela doutora – naquele lugar. Na maior parte do tempo ela preferiu ficar deitada no sofá onde a loira dormia, brincando em alguns aplicativos que tinha baixado em um tablet da ARQ-Tech. As vezes se levantava para circular pelo local, mexendo em algumas ferramentas até ser reprendida por Jillian, que pedia para ela voltar para mais próxima do portal. Mary aparecia constantemente, perguntando como as coisas estavam indo e sempre levando algo para Ava comer, aproveitando para atualizá-la da situação de Camila; a pequena freira estava bem melhor e o dia a mais de recuperação tinha ajudado bastante, afinal ela já andava sem problemas e só começava a doer depois de quase uma hora em pé.

Mesmo com tudo que perturbava sua mente, havia algo que se sobressaia e era o fato de Beatrice estar a ignorando. Ava a tinha encontrado algumas vezes pela casa e a inglesa sempre parecia estar num estado pensativo. Pelo menos até perceber que ela a encarava, então ela ativava o estado fugitivo. Sentia-se frustrada como nunca antes. Beatrice era alguém que Ava faria o mesmo sacrifício de Mary: “Eu aprendi a amá-la de longe”, lembrou-se das palavras da guerreira, porque na cabeça da pagã não existia mais uma vida onde ela se visse longe de Beatrice.

Abriu os olhos assustada ao sentir um leve empurrão em seu ombro.

- Desculpa – Jillian ajeitou sua postura curvada. – Eu só queria avisar que já terminei por aqui. Avise para suas amigas descansarem bem essa noite, sinto que as coisas estarão agitadas amanhã.

Ava não a respondeu. Não tinha a intenção de parecer mal educada, mas ainda estava perturbada com toda a situação e escutar a mulher frisar que o dia seguinte seria conturbado não ajudou. Saiu do celeiro sentindo os passos pesarem e sabia que era de preocupação.

Quando chegou à casa, encontrou todas as meninas na sala de jantar. Mary estava em pé e usando luvas térmicas enquanto colocava a panela de ferro na mesa. A guerreira percebeu sua presença, apontando com os olhos a cadeira livre ao lado de Beatrice. Ava não questionou e apenas se sentou, recebendo a atenção das outras garotas.

- Achei que a Salvius iria te prender naquele celeiro para sempre – Lilith chutou sua canela por debaixo da mesa.

- Então você sentiu minha falta? Own... – tentou brincar, mas no segundo seguinte ela teve que rezar para que ninguém notasse a estranheza em sua voz.

- Trate de acordar, Ava – a morena arqueou as sobrancelhas.

- Isso está com uma cara ótima, Mary – disse Camila assim que a negra voltou para a sala depois de deixar as luvas na cozinha.

- Obrigada, Mila – ela falou enquanto se sentava na ponta da mesa.

- Jillian terminou de ajeitar tudo. Faremos tudo assim que amanhecer. – avisou antes que uma delas se esticasse para pegar a comida.

- Oh... – Camila suspirou. – Bea?

- Hum? – foi o que a garota ao seu lado respondeu.

- Você pode fazer uma oração? – a freira pediu.

- Eu... – Beatrice pigarreou. – Claro, posso sim.

Mary foi a primeira a pegar sua mão esquerda e ela viu o momento que a inglesa esticou o braço para segurar a mão de Camila que estava à sua frente. Entretanto, quando Ava abriu a palma em cima da mesa, Beatrice hesitou. A pagã levantou os olhos, observando-a respirar fundo antes de escorregar os dedos por entre os seus. Ava apertou o contato como uma forma de dizer “acalme-se, está tudo bem”.

- Senhor Deus... – ela começou com a voz baixa. – Nós damos graça pelo alimento posto em nossa mesa e pedimos Sua benção para o dia de amanhã. Pedimos Seus conselhos e o Seu guiar durante nossa missão. Oriente-nos para as decisões certas e, por favor, atenda nossas preces e intenções. Amém.

- Amém – as garotas responderam mutualmente.

Durante toda a refeição, ninguém teve coragem de iniciar uma conversa. O silêncio era absurdo. Ava fechava os olhos com força cada vez que escutava um garfo se arrastar pelo prato, um barulho de mastigação, os pés inquietos de alguém que batucavam no chão de madeira. Estava para enlouquecer com todos aqueles sons amplificados em sua cabeça. O quão estranho seria se ela admitisse que estava escutando até mesmo as batidas do coração de Beatrice?

Os ombros dela se mexiam freneticamente conforme sua respiração falhava. Ninguém parecia notar que ela estava à beira de um colapso e ela agradecia por isso. Os dedos trêmulos deixaram os talheres nas laterais do prato e se fecharam com força em cima de sua coxa. Ava olhou para baixo, reparando a coloração esbranquiçada nas juntas devido o empenho para deixar de tremer vergonhosamente.

Sentiu a respiração parar de vez quando Beatrice segurou seu punho com uma mão e a outra parou em seu ombro.

- Venha comigo.

Ava tinha a certeza de que agora ela tinha a atenção total das outras garotas, o que a fez se encolher na cadeira, evitando olhar para elas.

- Está tudo bem – a inglesa sussurrou. – Venha.

Mesmo contrariada, a pagã se levantou. Mantendo a cabeça baixa, ela permitiu ser guiada escada acima até o quarto que estava dividindo com Mary. Encolheu-se quando a porta foi fechada, fazendo o barulho da fechadura ecoou nas entrâncias de sua mente. Ela olhou fixamente para a janela, incomodando-se com o som do vento e correndo até lá para fechar o vidro e as cortinas.

- Ava, o que...?

- Fale baixo, por favor – soou suplicante.

- Sente-se aqui – sussurrou e a guiou até sua cama.

A pagã obedeceu, tirando os tênis para que pudesse colocar os pés na cama e abraçar os joelhos, fazendo questão de tapar os ouvidos com a mão. Beatrice se sentou de frente a ela, cruzando as pernas em cima do colchão.

- O que você está sentindo? – ela percebeu que a inglesa articulou as palavras que Ava pudesse ler seus lábios.

- Está tudo tão... alto – sussurrou entrecortada.

- Tente se concentrar em apenas um som.

- São tantos... – apertou os olhos.

- O que você ouve?

- O vento lá fora... os galhos das árvores raspando no telhado, tem alguém... lavando a louça, eu escuto a água e... seu coração...

Beatrice juntou as sobrancelhas. – Meu coração? – ela assentiu. – Então se concentre apenas nesse som.

- Isso é muito clichê – Ava balançou a cabeça, martirizando-se pela habilidade de fazer brincadeiras nas horas erradas.

- Só... faça isso, tudo bem?

Ainda que relutante, a mais nova concordou. Fechou os olhos e procurou novamente o som ritmado e constante das batidas do coração de Beatrice e, quando o encontrou, relaxou os ombros apenas para que pudesse escutá-lo com mais claridade. As batidas estavam aceleradas e Ava não sabia se devia se sentir feliz ou triste com isso. Eram duas opções: Beatrice estava nervosa em sua presença de uma forma boa ou ruim.

- Obrigada – ela sussurrou depois de alguns minutos.

- Tem certeza de que está melhor? – a inglesa se mexeu no colchão para mais perto dela, pousando a mão em seu joelho.

- Sim, acho que foi um ataque de pânico. Estou com medo sobre amanhã.

- Entendo – esticou os lábios em um sorriso. – Bom, se acontecer de novo me chame, ok?

Ava balançou a cabeça em concordância.

- Vou deixar você descansar – a garota se levantou. – Boa noite.

Beatrice segurou suas bochechas, puxando-a com delicadeza para depositar um beijo em sua testa.

 

*

 

Ava sempre foi uma pessoa que comia muito, mas naquela manhã ela nem tocou no prato que Camila tinha preparado. Estava com uma sensação estranha presa em seu peito. Sabia que era medo, até porque já tinha sentido aquilo antes, mas estava tão mais intensificado que ela sentia que poderia ter outro ataque de pânico a qualquer momento. Era claustrofóbico e ela chegava a comparar com o dia em que voltou a vida, mas agora estava prestes a entrar num lugar que, possivelmente, exalava morte.

Foi a primeira a deixar a casa, caminhando pela trilha de terra entre a grama alta até o celeiro, encontrando uma Jillian já acordada e claramente ansiosa. A mulher caminhava freneticamente pelos arredores do portal, ajustando cabos, conectando fios, digitando algo que Ava não fazia ideia no computador acoplado à máquina.

Quando a doutora se virou, levou um susto ao avistá-la parada no meio do lugar.

- Desculpa, não queria te assustar.

- Tudo bem... – ela levantou o queixo, observando a porta fechada atrás da pagã. – Eu estava querendo conversar com você.

As sobrancelhas dela se arquearam e ela deu alguns passos para mais perto da Salvius.

- Algo errado? – perguntou.

- Não, pelo contrário – a loira apoiou o cotovelo esquerdo no suporte onde o enorme monitor do computador estava. – Eu queria te fazer um pedido.

Ava enrugou a testa. – Claro, pode fazer.

- Michael entrou num portal aberto através do Halo e nós acreditamos que o divinium nos leva para um lugar contrário a onde ele entrou – ela respirou fundo. – Mas isso não é uma certeza.

- Espera – a pagã levantou as mãos. – Você acha que o portal é único? Que não importa a fonte de energia, ele vai nos levar para o mesmo lugar?

- Como eu disse: não é uma certeza – os ombros da mulher caíram. – O que eu quero dizer é que caso você encontre meu filho do outro lado, pode trazê-lo de volta para mim?

- Esse é o seu pedido? – Jillian assentiu. – Bom... se ele estiver lá, eu o trago de volta para você.

- Oh, obrigada – disse em meio a um suspiro.

A mais velha caminhou até uma mesa lateral, tirando dois bastões de uma das gavetas. Ao se virar novamente para Ava, a porta do celeiro se abriu e o resto de seu time entrou no ambiente.

- Bom... acho que devo confiar isso a você – entregou de imediato os bastões a Mary.

- Bom dia... – a guerreira falou baixo, examinando os itens em suas mãos. – O que exatamente seria isso?

- Eu fiz algumas... descobertas – ela começou a explicar. – O portal se fecha depois que uma pessoa passa, mas ele se consegue se manter aberto com uma fonte de energia constante passando através dele.

- O quê? – Lilith balançou a cabeça completamente perdida.

Jillian caminhou até a máquina no centro do celeiro, capturando dois cabos e conectando-os nos bastões. Em seguida, ela se direcionou até o computador e, seja lá o que ela digitou, fez o divinium passar pelos cabos transparentes e chegar até os itens nas mãos de Mary.

- Vocês vão levar isso para o outro lado e fixar no chão. É simples – a loira explicou. – Isso vai manter o portal aberto.

- Certo... – Beatrice falou depois de tanto tempo calada. – Vamos começar?

A doutora concordou, voltando até o computador e ativando o portal que, ao abrir, brilhou em manchas azuis e brancas intensas. Mary subiu os degraus que guiavam até a entrada primeiro, já que ela carregava as coisas que as manteriam ligadas ao plano em que estavam. Ava pode ver o momento em que os ombros da guerreira tensionaram em meio a sua respiração funda, mas ela se inclinou, dando o primeiro passo para dentro do portal e sumindo logo em seguida.

Lilith não hesitou em entrar também e ela desejou ter um pouco daquela coragem e determinação. Camila subiu os degraus sem problemas e também não parecia temer o que estava do outro lado, entretanto as pontas de seus dedos tremiam, forçando-a a fechar as mãos com força e se impulsionar para entrar também. Beatrice foi logo atrás, olhando de relance para Ava antes de entrar.

A pagã respirou fundo, tentando adquirir o mínimo de coragem. Ainda que estivesse travada em medo, ela subiu as escadas, parando em frente àquela luz branca manchada em azul. Seus olhos pousaram em Jillian, que acenou com a cabeça para ela. Ava retribuiu o ato, soltando um longo suspiro antes de dar um passo à frente.

Enjoativa. Essa era a palavra que descrevia a passagem. A pagã até pensou em se manter ajoelhada ali, mas, no segundo em que levantou a cabeça, toda a sensação de mal-estar pareceu sumir de seu estômago.

Elas estavam no celeiro.

Ava olhou ao redor, sentindo que seu pescoço poderia quebrar pela forma que ela se movia procurando a Dra. Salvius, mas o ambiente parecia vazio com exceção delas. Atrás delas o portal continuava aberto, ligado pelos bastões brilhantes nas mãos de Mary.

- Coloque isso em um lugar seguro – pediu Beatrice.

A guerreira de tranças caminhou até a estrutura da máquina, colocando os bastões num suporte que tinha ali. Camila tinha ido em direção à porta do celeiro, não demorando a abrir; as outras a seguiram, intrigadas sobre o que estava acontecendo.

- Ok, agora será que alguém pode me dizer onde estamos? – Lilith quase gritou.

Ava queria fazer a mesma pergunta, mas estava embasbacada demais sobre tudo. O caminhão que tinha trago os Terasks não estava mais estacionado na lateral da cerca que protegia a propriedade, muito menos o carro que as tinha levado até ali.

- Boa tarde – Camila soltou um ruído agudo com o susto. – Desculpe, não queria assustá-las.

- Quem é você? – a pequena freira perguntou; sua mão estava apoiada no peito, ainda tentando se acalmar após a aparição repentina.

- Alguém que está feliz com visitas – ele sorriu largo. – Por favor, sigam-me.

Sem outra saída, as garotas passaram a caminhar atrás da figura desconhecida. O homem era alto, tinha cabelos escuros – levemente encaracolados –, sobrancelhas grossas e olhos expressivos. Possuía uma postura elegante, parecia um CEO de alguma empresa grande. Seu terno era preto e a camisa social que usava era vermelha, tendo um ótimo contraste com a sua pele levemente escura; a lembrava alguém nascido do Oriente Médio.

Caminharam por alguns minutos em silêncio em meio a grama alta, adentrando ainda mais a propriedade de Jillian. A confusão de Ava só piorou quando ela avistou uma mesa comprida cheia de bolos, pães e outros alimentos. Por um segundo a pagã se sentiu dentro do filme “Alice no País das Maravilhas” e estava só esperando um coelho com um relógio, junto a um gato voador sorridente aparecer, já que ela estava dando o posto do Chapeleiro Maluco ao homem estranho que as guiava.

O desconhecido se sentou à ponta da mesa, apontando para os assentos livres e pedindo que as garotas presentes se acomodassem.

- Eu acho que conheço você – Lilith disse depois de se colocar da cadeira próxima a ele.

- Vejo que minha força não foi o suficiente para apagar sua memória – falou tranquilamente enquanto enchia sua xícara com chá.

- Você... apagou minha memória? – ela perguntou atordoada.

- Não me julgue, por favor. Foi necessário.

- Por que fez isso? De onde nos conhecemos?

Ele terminou de beber do chá, voltando a colocar a xícara em cima do pires. – Você já esteve aqui, Lilith.

O nome da garota soou harmonioso na voz dele.

- Vou lhe explicar tudo, mas antes gostaria de conhecer vocês – seus olhos pousaram na pagã. – E principalmente você.

- O nome dela é Ava, o meu é Mary – a guerreira apontou para si mesma. – Camila e Beatrice – as apresentou. – Agora quem é você?

- Meu nome é Samael, mas maioria me conhece como...

- Lúcifer – Beatrice o interrompeu.

- Isso – ela acenou para a inglesa. – Você, Lilith, chegou aqui em um estado deplorável – explicou. – Eu a curei e tive que apagar sua memória porque... bom, as pessoas não costumam ter boas recordações minhas.

- Você é literalmente o Senhor do Inferno. Por que a ajudou? – Camila perguntou.

- Lilith... – ele saboreou novamente o nome.

- Mas é claro... – Beatrice piscou rápido algumas vezes. – Segundo o mito, Samael acolheu Lilith, a primeira mulher de Adão depois que ela o abandonou. Você se casou com ela.

- Exato – pigarreou. – Ao descobrir seu nome eu me senti na obrigação de ajudar, usei do meu único poder para lhe curar.

- Espera, espera... – Lilith levantou as mãos, esfregando os olhos. Ela parecia pensar bastante. – Os demônios. Eles são seu único poder? Você me transformou em um deles?

- Terasks não são demônios – explicou. – São guardiões da Vida e você é apenas metade.

- Como? – a pagã perguntou interessada.

- O sangue dos guardiões corre em suas veias e talvez isso deu a você algumas habilidades deles – Lilith encarou as próprias mãos. –  Sei que estão pensando em como eu tenho o poder de fazer algo assim sendo o Senhor do... Inferno – ele pareceu incomodado com a palavra. – Sou um anjo caído, o mais importante deles, por isso ainda tenho certo controle sobre a Vida.

- Sobre o céu, não é? – ele riu e negou para Camila.

- Inferno... céu... – ele deu de ombros. – As únicas coisas que existem são a vida e a morte – Eu sou responsável por elas.

- Eu sinto que a minha cabeça vai explodir – Ava massageou as têmporas.

- Vou tentar simplificar – ele se esticou e pegou três bolinhos de uma cesta, alinhando-os na mesa. – Existem três planos. A Vida, a Morte e o meio termo. Vocês, mortais, vivem no meio termo.

Ava se sentiu tentada a pegar um daqueles pães para comer, mas Beatrice bateu em sua mão, impedindo o ato.

- Por que “meio termo”? – Lilith perguntou.

- É um plano onde vocês vivem, mas estão sempre esperando pela morte – Lúcifer sorriu. – Continuando, quando uma pessoa morre, ela chega nesse plano.

- Nós estamos na Morte agora? – ele concordou para Ava.

- Eu “julgo” essa pessoa – sua mão se levantou, impedindo que as garotas o interrompessem. – Todas elas acabam indo para a Vida. Minha tarefa é apenas decidir quanto tempo levará até que elas possam voltar para o meio termo.

- Então não existe essa separação de que se alguém for ruim em vida, ele será mandado para o inferno? E se for o contrário, para o céu? – Camila perguntou.

- Todo aquele que morreu já foi justificado do pecado – recitou. – Está no livro que vocês tanto leem.

- Achei que Deus decidia o destino das almas – Ava pontuou recebendo um sorriso de Lúcifer.

- Ele precisava de alguém que já experimentou da maldade, bondade e arrependimento – o homem suspirou.

- Então você julga as pessoas, Deus cuida delas até possam retornar e os Terasks guardam os portões da Vida? – a inglesa questionou.

- Viu só? Não é tão complicado.

- É por isso que esse lugar é tão vazio – o sorriso de Lúcifer se dissipou com a fala de Camila. – Ninguém nunca fica definitivamente na Morte, é sempre passageiro.

Ava levantou a mão, recebendo um aceno do homem para que prosseguisse.

- Se os Terasks são seres divinos, por que eles querem me matar? – a pagã perguntou.

- Isso foi uma ordem minha – ele disse em voz baixa. – Não se exaltem, por favor. Eu apenas queria impedir que o Halo caísse nas mãos erradas.

- Mas os espectros... – Lúcifer decide interromper Lilith.

- Eles não estão mais sob meu controle.

- Sobre os espectros – Beatrice toma a frente. – Acreditávamos que eram almas de pessoas ruins, mas depois de toda essa explicação... O que eles são realmente?

- Meus filhos com Lilith.

- Mas são apenas fumaça... – Ava se encolheu sob o olhar do homem.

- Eles possuem forma nesse plano.

- Então... você perdeu o controle de seus filhos? – Mary perguntou.

- A obediência deles se dissipou depois que eu criei... – ele travou. – Que eu...

- E Lilith? Onde está sua esposa? – Ava perguntou tentando desviar do assunto que parecia incomodá-lo, mas ela percebeu que não tinha sido uma boa troca de assuntos.

- Ela está morta – seu tom de voz saiu amargo.

- Mas... achei que ela tinha alcançado a imortalidade ao se casar com você – Beatrice parecia confusa.

- Apenas imortais podem matar imortais – Lúcifer falou baixo. – Ela foi destruída pela minha própria criação e maior erro.

- Adriel? – ele assentiu diante da pergunta de Mary. – Queremos acabar com ele e precisamos da sua ajuda para isso.

- Ele possui meus filhos e meu sangue. Não posso fazer nada contra ele. Não sem... – seus olhos mais uma vez encararam a pagã.

- Você precisa do Halo, não é? – Ava perguntou.

- Quando eu o criei...

- Primeiramente, por que você o criou?

- Tente ficar decidindo a duração de uma alma na Vida várias vezes por dia por séculos – ele suspirou. – Eu só queria alguém que pudesse dividir essa tarefa comigo.

- Existem outros anjos caídos – Beatrice arqueou as sobrancelhas. – Por que não pediu a eles?

- Existiam outros. Adriel matou todos eles também – um forte suspiro escapou por entre seus lábios. – Enfim... somente alguém que tem ligação com a Vida pode assumir esse posto – ele ajeitou sua postura, cutucando o bolinho que tinha escolhido para representar o plano. – Minha ligação é o Halo e nenhum dos outros possuía um.

- Mas ele não está mais com você – Ava pontuou.

- Eu sei, mas ele continua sendo algo meu – seus olhos se estreitaram. – Adriel foi criado com o Halo e minhas asas.

- Então o Halo tem uma ligação com ele de certa forma? – Camila questionou.

- Infelizmente, sim.

- Como quebramos essa ligação? – Lúcifer encarou Lilith com confusão. – É isso que o mantem imortal, então se quebrarmos isso... podemos matá-lo.

- Como eu já disse, posso destruí-lo, mas... preciso da minha auréola.

Mary se levantou depois de bater com força na mesa. – Tem que haver um outro jeito. Não podemos simplesmente tirar o Halo de Ava.

- O que acontece se tirarmos? – a portadora perguntou.

- Eu não sei – ele resmungou ao receber olhares acusadores. – Nunca vi um caso onde o Halo ressuscitou alguém. Não sei o que pode acontecer se o tirarem. Talvez ela volte a ser tetraplégica, ou morta, ou apenas continue como está agora, só que sem os poderes.

- Não podemos simplesmente arriscar – Beatrice se inclinou assumindo uma postura defensiva.

- Estamos falando da destruição dos planos – ele se exaltou. – Adriel planeja assumir a Morte, decidir o destino das pessoas ou apenas descarta-las para que não cheguem a Vida e tenham a chance de voltar, mas sabe que não pode fazer isso enquanto eu estiver vivo.

- Peça ajuda à Deus! Ele não é o Todo Poderoso? – Mary quase gritou.

- Imagine os planos como reinos, tudo bem? – ele gesticulou. – O rei da Vida não pode simplesmente começar a mandar no reino da Morte.

As garotas iriam continuar a discussão, mas, de repente, o céu mudou de um azul claro para um cinza tempestuoso, assustando-as quando um raio atingiu o solo à alguns metros de distância delas. O time se levantou com rapidez, assumindo posições defensivas.

- O que está acontecendo? – Beatrice perguntou enquanto pegava seu bastão e o abria.

- Ele está aqui – Lúcifer respondeu.

- Por que Adriel está aqui? – ela desembainhou a espada.

- Porque tudo que ele precisa está finalmente junto – o homem tirou o paletó, começando a arregaçar as mangas da camisa vermelha. – Eu e você com o Halo juntos na Morte. Eu devia ter previsto que ele usaria o portal de vocês.

Ava o observou balançar a cabeça em descrença e, ao vê-lo começar a caminhar com pressa de volta para o celeiro. A pagã buscou o olhas das outras meninas, mas todas estavam tão confusas quanto ela. Mary acenou com a cabeça, dizendo que a única opção delas era seguir o homem. Entretanto, o anjo caído parou no meio do caminho e ninguém ali precisou perguntar o motivo dele parecer nervoso.

Adriel tinha destruído completamente a parede dos fundos do celeiro, dando uma visão completa do portal. A criação de Lúcifer não tirava os olhos escuros de Ava enquanto, atrás dele, os espectros passavam pela máquina; adentrando aquele plano eles não eram mais fumaça. A cada minuto que passavam naquela atmosfera, os demônios iam tomando forma, mas ainda pareciam todos idênticos.

- Como vai, Lúcifer? – Adriel falou com a voz alta e grave. – Esse lugar está tão vazio e silencioso... Seus últimos séculos devem ter sido bem solitários.

- Acho que posso lhe dizer o mesmo. Aliás, diga-me como foram seus anos preso naquela cripta – Ava notou um certo nível de deboche no homem.

- Isso não importa mais – ele deu pequenos passos a frente, sendo seguido pelos filhos de Lilith. – Podemos fazer as coisas de forma simples. Você mesmo pode me dar o Halo e se entregar. Ninguém precisa sair machucado dessa história.

- Nem as vidas que você planeja eliminar se tiver todo esse privilégio? – Lúcifer arqueou as sobrancelhas.

- Isso é outro assunto – o ladrão soltou um suspiro entediado. – O que quero dizer é que se formos pelo lado complicado da coisa, você terá que lutar contra eles – apontou para os demônios posicionados atrás de si. – Seus próprios filhos. Não acho que queira perder cada vez mais integrantes da sua família.

Ava percebeu quando os ombros do anjo caído tensionaram em hesitação. Um desespero começou a crescer em seu peito ao notar que ele estava realmente pensando em aceitar os termos de Adriel. Ela deu passos curtos para trás, tentando não ter a atenção sobre si e acabou esbarrando em Beatrice. A garota lhe lançou um olhar medroso, mas agarrou a mão de Ava para demonstrar que estava ali e não a soltaria.

- Lúcifer... – Lilith o chamou. – Você não está considerando isso, está?

- Eu... – ele engoliu em seco.

- Sério mesmo? Você estava falando as merdas que podem acontecer se ele assumir as coisas há alguns minutos atrás! – Mary gritou.

- Eu não vou deixar meus filhos se ferirem – sussurrou.

- Então você vai deixar o mundo ruir? – Camila perguntou.

- Apenas me deem o Halo – ele estendeu a mão. – Com ele eu posso ter controle de novo.

- Da mesma forma que você não quer machucá-los, nós não vamos deixar você tirar o Halo de Ava sem saber o que realmente pode acontecer com ela – Beatrice deu um passo à frente.

- Bea... – a pagã chamou baixo.

- Você nem ouse dizer uma palavra sequer, Ava – a inglesa suspirou irritada.

- Será que vocês podem agilizar nessa decisão? – Adriel gritou.

- Ok, já chega – Mary levantou sua escopeta, disparando de forma certeira em um dos demônios.

- Não! – Lúcifer arregalou os olhos enquanto observava um de seus filhos se desfazer em fumaça, sumindo em seguida.

O homem avançou em direção a Mary, mas Lilith foi mais rápida em o agarrar pela camisa social, lhe dando um soco que o jogou em meio à grama alta da propriedade.

- Eu cuido dele – ela avisou ao abrir as mãos com rapidez, mostrando suas garras. – Os outros são com vocês.

Ótimo! Ava pensou. Tinham ido ao “inferno” em busca de um aliado, mas acabaram ganhando mais um inimigo. Mary já tinha perdido a paciência e corrido em direção a Adriel com Camila em seu encalço, mas a pagã ainda apertava com força a mão de Beatrice, suas botas travadas no solo enquanto a garota tentava processar o que devia fazer.

Foi puxada pelos ombros e a inglesa lhe balançou algumas vezes.

- Não faça nenhuma besteira, pelo amor de Deus – seus olhos estavam arregalados e ela notou a seriedade daquelas palavras.

Antes que pudesse responder, Beatrice a empurrou para o lado, tirando uma das facas presa ao seu peito e atirando no demônio que corria em sua direção. Com pressa, Ava se agachou para pegar a espada que tinha deixado cair com o ato da guerreira e desferiu o primeiro golpe, transformando o ser que a tinha atacado em fumaça.

Não perdeu tempo em correr até Adriel, se juntando a Camila em frente a ele. A freira atirou uma flecha, mas o homem foi capaz de desviar, agarrando a mesma ainda no ar e a jogando de volta em Ava, que cruzou os braços, criando uma barreira de energia para que não fosse atingida. Quando abriu os olhos – fechados depois do susto com a flecha –, Adriel estava tão próximo de si, que foi capaz de chutar seu peito, jogando-a no meio de dois demônios. Não foi fácil para ela manejar a espada de forma que se protegesse de ambos os ataques, mas logo conseguiu fazer com que eles se esbarrassem, deixando-os confusos ao ponto de eliminá-los de uma vez.

Olhando ao redor, ela viu o momento em que Lilith precisou lidar com dois demônios para se proteger, deixando Lúcifer caído no gramado. A pagã correu, mas não para proteger a amiga; sabia que a garota saberia cuidar da situação. Em realidade, a sua espada se chocou com a de Adriel antes que ela chegasse a encostar no anjo caído. Com a ajuda do Halo, ela dissipar energia o suficiente para afastar o ladrão, o arremessando em meio aos outros filhos de Lilith.

- Escute, deve haver algum jeito de fazer isso sem que mais alguém morra – ela gritou, ainda se mantendo na defensiva.

O homem ofegava, parecendo cada vez mais irritado sempre que via mais alguém de sua família sumir diante de seus olhos. Ela tentava ao máximo apenas afastar os demônios com ondas de energia, sabendo que não seria uma boa ideia matar um deles na frente de Lúcifer. Ainda assim, ele encarou a garota, parecendo ter pensado em algo.

- Você se lembra como o portal foi aberto da primeira vez? – estendeu a mão para que Ava o ajudasse a levantar.

- Eu estava com medo e sofrendo, o Halo reagiu as minhas emoções – ela passou a espada para a mão esquerda, segurando a do homem com a outra.

- Não.

Seu pulso foi agarrado com força e ele torceu seu braço, fazendo-a virar de costas para ele. No instante em que pensou em questionar o que ele estava fazendo, as palavras travaram no meio do caminho ao sentir a mão alheia literalmente entrar em suas costas. Tentou gritar com a dor que sentiu, mas perdeu totalmente o controle de seu corpo; Lúcifer que a impediu de cair depois que suas pernas falharam.

- Adriel abriu o portal da última vez – ele sussurrou próximo ao seu ouvido. – Aquele bastardo tocou os exatos pontos do Halo e conseguiu abrir o maldito portal.

- O que...? Ah! – gritou dolorosamente ao sentir a mão se mexer.

- Não me coloque como o vilão da história, Ava – praticamente rosnou. – Você queria um jeito que eu pudesse usar o Halo sem tirá-lo de seu corpo e aqui estou eu.

Ela sentiu quando os dedos dele tocaram sua coluna, desviando dos ossos até que alcançassem o objeto sagrado. A espada caiu no chão junto com um espasmo de seu corpo, fazendo-a gritar ainda mais alto quando ele girou o Halo, procurando pelos símbolos.

- Ava! – levou a cabeça, vendo Beatrice começar a correr em sua direção pronta para atirar uma de suas facas em Lúcifer.

- Pare – conseguiu falar, recebendo uma expressão confusa da inglesa. – Ele não vai tirar, ele não vai... Ah, filho da puta! – suas unhas afundaram no braço dele.

- O que você está fazendo?

- Não está funcionando... – ele parecia incrédulo. – Não estou conseguindo tomar o controle deles – Ava sentiu a mão ficar dormente quando ele apertou ainda mais forte, impedindo a circulação e a prendendo ainda mais ao seu corpo. – Eu preciso...

- Lúcifer, por favor, não faça isso – Beatrice deu um passo a frente. – Por favor... – ela implorou; sua voz saindo falha. – Ela é... Eu...

O homem apoiou a testa nas costas da cabeça de Ava, respirando fundo varias vezes. A pagã se contorceu quando ele voltou a tocar na auréola, pensando que aquele seria o seu fim, mas se surpreendeu quando começou a escutar gritos histéricos vindo de todos os cantos. Beatrice a impediu de cair no chão quando Lúcifer a soltou. Ela ignorou a dor, tentando se ajeitar do colo da inglesa para que pudesse observar o que estava acontecendo.

- Mestre! – seu coração acelerou ao escutar aquela voz. – Mestre, eles vão morrer se continuarem aqui. Temos que voltar!

- Vincent! – Mary gritou com toda raiva que possuía.

Adriel correu até o Padre, fazendo gestos que Ava julgou ser comandos para que os demônios o seguissem e, sem esperar pelo seu lacaio, pulou para o interior do portal. Mary ainda insistia em avançar, afinal, o homem que tinha matado o amor de sua vida estava ali diante de seus olhos. Entretanto, não foi só a guerreira que parou de respirar quando o Padre segurou os bastões que estavam conectados aos cabos de energia.

Lilith até tentou usar seus poderes de teletransporte, mas já era tarde demais. Antes que pudessem gritar em protesto, Vincent entrou no portal e, com ele, os itens que mantinham o portal aberto.

- Filho da puta! – Mary gritou, chutando com força a máquina assim que a alcançou.

Ava, ainda sem conseguir se mover com propriedade, deixou-se cair pela dor e cansaço nos braços de Beatrice, mantendo o rosto pressionado contra as vestes alheias para que pudesse chorar compulsivamente.

- O que aconteceu? – Camila perguntou. – Por que eles ficaram assim de repente?

- Eu... tentei matá-los – confessou em meio a um soluço; ele tentava não se entregar ao choro.

Lúcifer se sentou no chão, apoiando os cotovelos nos joelhos e bagunçando o próprio cabelo. Nenhuma das meninas se atreveu a interrompê-los, acreditando que ele precisava daquele momento para pensar em paz. Mary foi a responsável em puxá-las para longe dele e fazer uma pequena roda de discussão.

- Estamos presa aqui – Ava sussurrou ainda tentando assimilar as coisas.

- Obrigada por dizer o óbvio.

- Ei – Beatrice a reprendeu. – Ela ainda está confusa, Mary. Dê um tempo.

- Não existe mesmo nenhuma forma para que consigamos voltar? – Camila perguntou enquanto girava uma de suas flechas entre os dedos.

Ava levantou a cabeça, dando alguns passos atrapalhados para trás. Lilith tentou segurá-la para que mantivesse o equilíbrio, mas ela apenas desviou do contado, caminhando desastrosamente até Lúcifer e caindo de joelhos em frente a ele.

- Faça de novo – suplicou.

- O quê...?

- Você sabe como abrir o portal da mesma forma que Adriel, não é? – ele, mesmo que relutante, assentiu. – Então...

- Ava – o homem a segurou pelos ombros, se uma forma calma dessa vez.

A pagã se assustou quando ele a puxou e a abraçou, chorando enquanto se mantinha agarrado ao corpo da portadora do Halo. Seu coração quase saltou para fora do peito quando os lábios de Lúcifer tocaram seu ouvido, movendo-se conforme ele murmurava; ela apenas ficou quieta afagando as costas dele em conforto. Quando Ava julgou que ele estava mais controlado, decidiu se afastar, virando-se para sorrir para as amigas.

- O que foi? – Mary perguntou impaciente.

- Eu vou tirar vocês daqui – o anjo caído disse ao se levantar, ajudando a garota que o tinha consolado a se pôr de pé também.

Lúcifer adentrou o celeiro destruído já afastando as mesas do caminho. As garotas se mantiveram perto de Ava, planejando apoiá-la no momento em que o homem voltasse a invadir suas costas.

- Escutem, antes de tudo eu gostaria de pedir desculpas – ele abaixou a cabeça parecendo envergonhado. – Existe uma forma de derrotar Adriel...

- Por que não disse antes? – Lilith se exaltou. – Tudo poderia ter acabado de uma forma diferente.

- Quando nós, anjos caídos, nos sentimos ameaçados ou estressados, nossas asas aparecem e esse é um dos pontos divinos de nossa imortalidade.

- Deixe-me adivinhar – Mary apoiou as mãos das escopetas em seu coldre. – Se arrancarmos as asas dele, ele se torna mortal? – ele assentiu, deixando a guerreira ainda mais irritada. – Por que não disse antes?

- Adriel foi feito das minhas asas... retirá-las para que ele se torne mortal...

- Fará de você um mortal também – Ava concluiu, recebendo a confirmação dele em seguida.

- E assim que ele for morto... – ele continuou. – Eu seguirei o mesmo caminho.

- Se você morrer... como ficará a Morte? – Camila perguntou receosa.

- Lembram-se dos reinos? – as garotas assentiram. – Quando o rei da Morte morrer... O herdeiro do reino da Vida assumirá o trono – ele sorriu. – Algum anjo será enviado para tomar meu lugar.

- Sinto muito que as coisas tenham que ser assim – Beatrice sussurrou.

- Só espero poder encontrar minha Lilith quando minha hora chegar – disse ao se perder em devaneios. – Enfim... podemos começar?

Ava assentiu, virando-se de costas para Lúcifer. No instante em que a mão do homem começou a perfurar suas costas, Beatrice agarrou sua mão e Lilith apertou seu ombro e, por incrível que pareça, aquilo a trouxe tanto conforto que ela não sentiu dor. Tudo que sentia era apenas um forte incomodo cada vez que o Halo girava ao redor de seus músculos. Quando o portal abriu, ela se viu perdendo as forças das pernas, sentindo-se cansada de imediato.

- Vão! – Lúcifer gritou.

Mary novamente foi a primeira a entrar sem hesitação. Camila e Lilith foram logo atrás. A inglesa puxou a mão de Ava para que pudessem ir juntas, mas a garota ficou presa no lugar, lançando um olhar culpado para Beatrice. O anjo caído sequer olhava para a guerreira, não querendo se meter na atmosfera recém criada.

- Sabe... eu estava realmente pensando em porque você deu exatamente essa opção de como matar Adriel – ela balançou a cabeça. – Ele foi criado pelo Halo e por suas asas, mas você deu logo a alternativa onde não precisamos do Halo e isso ficou na minha cabeça... – um longo suspiro escapou pelos seus lábios. – Ava...

- Eu sinto muito, Bea... – sentiu as palavras ficarem presas em sua garganta. – Eu queria que as coisas fossem diferentes.

- Por que você não pode simplesmente entrar na porra daquele portal? – limpou rapidamente a lágrima que escorreu por sua bochecha.

- Lúcifer não pode ir para outros planos e se ele soltar o Halo... o portal se fecha – seu queixo tremeu devido ao choro que segurava.

A pagã se sentiu sonolenta, tendo novamente os braços fortes do anjo caído a segurando para que não desabasse.

- Você precisa ir – ela sussurrou. – As meninas... elas precisam de você.

Beatrice se aproximou, puxando os braços de Ava para sua cintura e passando os próprios pelos ombros dela. Não se viu em outra alternativa e apenas aninhou-se ali, sentindo mais uma vez o perfume único da inglesa e não se importando em molhar o pescoço alheio com suas lágrimas. A guerreira se afastou primeiro, segurando o rosto de Ava e limpando com o polegar as lágrimas que escorriam por ali.

Seus olhos fecharam com força e ela soltou um longo suspiro pelo nariz quando, de forma inesperada, sentiu os lábios de Beatrice esmagarem o canto de sua boca; afobação aparente a atrapalhando de beijá-la devidamente. Ava não soube de onde conseguiu forças para puxá-la para ainda mais perto, virando a cabeça em um ângulo diferente para que pudesse se ajustar melhor na boca da inglesa e aproveitar do beijo que tanto tinha sonhado. As mãos se apertaram na cintura dela quando Beatrice se moveu, sugando seu lábio inferior. Além da maciez de sua boca, ela também sentia o gosto salgado das lágrimas que insistiam em cair dos olhos de ambas.

Nenhuma delas deu a iniciativa de aprofundar aquele contato. Ava queria que a garota avançasse, mas sabia que ela não o faria por vergonha, afinal, Lúcifer ainda estava ali presenciando tudo, mas mantendo-se calando e tentando dar a elas alguma privacidade. Beatrice se afastou de vez em meio a um soluço, o choro se intensificando quando Ava sorriu para ela enquanto suas testas ainda estavam unidas; as pontas dos narizes se tocavam algumas vezes.

- Hey... – foi a vez da pagã limpar as bochechas alheias. – Quando tudo isso acabar... eu vou voltar para você. Tudo bem? – ela sussurrou. – Eu vou voltar, Bea.

- Eu... – Ava sabia o que ela queria falar, mas não conseguia.

- Você tem todo o meu coração. Não se esqueça disso, ok? – a inglesa assentiu. – Agora vá, por favor.

Beatrice lhe beijou uma última vez. Foi rápido e ao mesmo tempo doloroso no peito de ambas. Quando a guerreira se virou e caminhou até o portal, entrando no mesmo, Ava não se aborreceu por ela não ter olhado para trás, pois sabia que se o tivesse feito não seria capaz de voltar para o plano de onde pertencia.

- Você fez o certo – Lúcifer sussurrou.

O homem puxou a mão para fora de suas costas e só então ela se deixou cair de joelhos no chão, apoiando-se com as mãos para que não se machucasse. Seus olhos acompanharam Lúcifer enquanto ele caminhava até o sofá de Jillian, se deitando ali e não se importando em colocar os sapatos em cima das almofadas. Já Ava se arrastou pelo piso metálico, encostando-se em um dos armários móveis te o anjo tinha empurrado para longe do caminho.

A única coisa que ela mantinha a atenção era o céu, o qual voltava para sua coloração azul claro. O silencio era absurdo e assustador, até mesmo suas lágrimas caiam de forma quieta, sem que sequer um ruído escapasse por sua garganta. Ela esfregou os olhos com raiva, querendo ao máximo deixar de sentir aquela sensação da qual passou anos tentando escapar.

- Não é fácil lidar com a solidão, não é? – Ava olhou para cima, respirando fundo e tentando conter aquele sentimento avassalador. – Sabe... eu passei séculos sozinho depois que todos da minha família se foram. Recentemente um garotinho até veio aqui e...

Ela arregalou os olhos, assumindo uma postura surpresa. – Michael? Onde ele está?

- Oh, esse não era o lugar que ele procurava... – Lúcifer mordeu o interior da bochecha. – Eu o encaminhei para a Vida – sorriu de forma contida. – O pequeno vai retornar em breve, não se preocupe.

- Eu disse a mãe dele que o procuraria e... voltaria com ele.

- Sinto muito – ele sussurrou. Ava apenas balançou os ombros. – Seria egoísta da minha parte dizer que estou feliz que você esteja aqui?

- Nem tanto – a pagã se esforçou para dar um sorriso. – Eu também estou feliz por não estar completamente sozinha.

- Quando eu me for... eu espero que vocês fiquem juntas.

A risada da garota dessa vez foi genuína. – É estranho ter essa conversa com você, mas eu também espero que isso aconteça.

Lúcifer se levantou de forma repentina do sofá, aproximando-se da portadora e estendendo sua mão.

- Venha.

- Onde vamos? – perguntou assim que se colocou de pé.

- Primeiro você precisa descansar – ele ajudou Ava a caminhar para fora do celeiro. – Vou te levar até minha casa e depois... bom, quais lugares do mundo você gostaria de visitar? – perguntou com animação. – Creio que temos bastante tempo.

- Você é um cara legal, Luci.

- Não me chame assim – resmungou.

- Como quiser, Luci.


Notas Finais


Olá, halo bearers!

Eu não tenho muito para dizer hoje além de "obrigada". Eu considero o capítulo 15 como a metade da estória e é gratificante perceber o quanto ela cresceu e está realmente agradando vocês, leitores. Então, novamente, obrigada! De coração!

Esse capítulo é enorme, hum? São aproximadamente 7.300 palavras. Por isso acredito que tem muito a se comentar, por favor, deixem suas opiniões, dúvidas (afinal, toda a teoria foi explicada), críticas, etc. Quero muito saber o que acharam!

Nesta vida ou na próxima,

Maluh x.


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