História Your Heart - Vkook II Taekook - - Bem-Vindo -

“Fico com medo. Mas o coração bate. O amor inexplicável faz o coração bater mais depressa. A garantia única é que eu nasci. Tu és uma forma de ser eu, e eu uma forma de te ser: Eis os limites de minha possibilidade.” – Clarice Lispector

Jungkook P.O.V’s

Foi preciso esperar alguns minutos até Taehyung adormecer, somente após o anestesista atestar sua inconsciência pudemos dar início aos procedimentos, ou melhor, a cirurgiã responsável pode fazê-lo. Por questões éticas e razões óbvias não pude estar na liderança daquela cirurgia, as chances de matá-lo seriam bem maiores do que tirá-lo desta sala com vida. Não tenho condição emocional alguma para abrir o peito de alguém, tampouco se a pessoa é ligada fortemente a mim como é o caso do paciente.

A cirurgiã preparou a incisão, abriu o corte de mais ou menos vinte centímetros no meio de seu peitoral. Com muito cuidado e atenção ela cortou parte de seu osso esterno, deixando livre a parte onde o coração doente batia de forma bem fraca. Era nítida a insuficiência cardíaca, e ver aquele órgão quase sem forças apenas comprovou o quadro que atestei há meses atrás. Dando sequência ao procedimento, seu corpo foi conectado à circulação extracorpórea¹, o que lhe manterá vivo durante todo o procedimento.

A médica foi bem minuciosa na remoção do órgão doente. Apesar de não ser uma das melhores profissionais do hospital, doutora Im já fez diversos transplantes e devo reconhecer a alta taxa de eficiência de seus procedimentos. Sobre a maca está um paciente ligado indiretamente ao diretor do hospital, e sua pouca idade faz com que os cuidados para um ótimo procedimento sejam ainda maiores. No entanto, aprendemos desde a faculdade que não existem casos prioritários, de um recém nascido a um idoso, toda vida deve ser salva até que o último recurso se esgote.

Os batimentos nulos do órgão doente indicam que já não tem mais vida, e este foi colocado em uma das bandejas a disposição da cirurgiã. O coração novo foi levado à cavidade onde passará a ocupar a partir de hoje, tão saudável quanto o seu estivera antes de ser acometido à tais anomalias. Ele ficará bem, terá um tempo para se recuperar, mas no fim de todo esse sufoco terá a vida normal que sempre sonhou. Tudo o que mais quero é ver seu sorriso, saber que o terei por longos anos e quem sabe até o fim da vida.

O coração que agora baterá por mim, em breve iniciará sua jornada colocando o corpo ainda imóvel para funcionar. A médica suturou tudo no local correto, dando total atenção e precisão aos movimentos feitos ali. A parte mais incrível é que não precisou de muitos estímulos para o órgão saudável bater no ritmo correto, devolvendo vida a alguém que até então tinha suas inúmeras limitações. A máquina foi finalmente desconectada de seu corpo, dando acabamento ao procedimento. O último trabalho feito pela doutora foi a sutura do local, deixando limpeza e curativos por conta da equipe de enfermeiros.

Quando ela finalmente terminou a surpreendi com um abraço, não pude conter a emoção depois de tanto sufoco. Em minha frente está a responsável por salvar a vida daquele que amo, e devo confessar que doutora Im fez um trabalho magnífico. Precisava agradecê-la, assim como a família Kim que a abraçou bem apertado quando a mais velha foi até eles anunciar o sucesso daquela operação. Tudo fica melhor quando a família reconhece o esforço, e de certa forma me senti aliviado por vê-los felizes novamente.

Antes de sair da sala descartei as luvas e a máscara na lixeira, não me importei em tirar o restante dos equipamentos, segui até onde os familiares do garoto estavam para de alguma forma tentar comemorar com eles. Os pais do mais novo estavam felizes, mas ainda cheios de dúvidas, então soltei um longo suspiro para só assim encará-los. Olhando para o relógio percebi que a cirurgia tinha durado pouco mais de quatro horas, um tempo consideravelmente bom para algo com tamanha gravidade. Foi ali que sorri para os mais velhos, queria lhes passar a tranquilidade que estava sobre minha consciência naquele instante.

– Jungkook, como está meu filho? – senhora Kim perguntou segurando minhas mãos com as suas um pouco trêmulas.

– Não se preocupe, senhora. Como a médica já disse, a cirurgia foi muito bem sucedida. – senti os braços da mulher em volta de meu corpo, e suas lágrimas molharem minha camisa. – Nosso garoto vai ficar bem.

– Obrigada, meu querido. – disse a mais velha aparentemente mais calma.

– Obrigado, rapaz. – senhor Kim me surpreendeu quando nos abraçou. – Serei eternamente grato a você.

– Agradeça a Deus, senhor Kim. Sou apenas um instrumento nas mãos dele. – sorri ao perceber que o mais velho realmente passou a confiar em minha. – Sinto muito pelas coisas que eu disse no passado, aprendemos com os erros.

– Fique tranquilo, filho.

– Você é um anjo, Jeon Jungkook. Ou ao menos tem as mãos de um. – a mulher voltou a dizer com seus olhos repletos de lágrimas. – Quando poderemos vê-lo?

– Taehyung está passando pelo pós-operatório, precisa se recuperar do anestésico. Iremos transferi-lo para um quarto apropriado assim que os efeitos passarem, para evitar qualquer tipo de infecção. – o casal estava atento a todas às minhas palavras. – A recuperação de um transplante é um pouco mais delicada. Seu filho passará cerca de um mês aqui, e as próximas quarenta e oito horas são de extrema importância.

– Entendemos. – disseram em uníssono.

– Assim que ele acordar, peço que avisem vocês. – me afastei um pouco. – Preciso ir em casa para tomar um banho, assim que possível retornarei ao hospital.

– Descanse um pouco, meu filho. Você merece isso. – disse senhora Kim com um sorriso materno estampado em seu rosto. – Mais uma vez obrigada.

Me despedi de todos, e segui até o estacionamento do hospital. JungHyun me acompanhou até em casa, depois de uma cirurgia tão demorada quanto aquela seria melhor se alguém dirigisse por mim. Assim que cheguei em meu apartamento, caminhei direto para meu quarto, meu irmão se encarregou de fazer algo para me alimentar enquanto eu procurei para alguns minutos de descanso. No entanto, não estava nem um pouco a fim de ficar em casa, então apenas tomei um banho rápido e vesti algo mais confortável, deixando meu uniforme ainda guardado. Depois de tudo ainda estou afastado de minhas atividades na clínica, porém, reconheço que foi um ato necessário.

JungHyun não me deixou sair enquanto não comi ao menos um prato de sua sopa repleta de legumes, algo bem nutritivo para quem não come direito há dias. Estava mesmo morrendo de fome, mas minha preocupação afastou todas as minhas vontades. Depois que me senti satisfeito ainda tive que esperar o mais velho tomar um banho para me acompanhar de volta ao hospital. E nesse tempo de espera, nada melhor que brincar com Henry, que agora fica a todo amores ronronando quando acaricio sua barriga.

– Também estou feliz, garoto. As coisas parecem tomar um rumo perfeito agora. – sorri enquanto o pequeno passava a cabeça em minha mão em busca de mais contato.

Obviamente precisei lavar as mãos antes de sair, apesar de ser um animalzinho domesticado e limpo, Henry ainda porta bactérias em seus pelo. Não posso chegar perto de Taehyung com minhas mãos infectadas, ou melhor, devo me certificar de que nenhuma infecção chegue até ele. Já era noite quando cheguei ao hospital, o relógio marcava pouco mais de dez horas e toda a equipe envolvida no caso ainda estava em seu monitoramento. Senhor e Senhora Kim haviam saído para jantar, ao saberem que o mais novo continua se recuperando no pós-operatório. Caminhei até o quarto onde o deixaram, e de longe pude observá-lo através do vidro, a respiração tão serena quanto à de um felino.

Foi quando percebi um pequeno movimento de seus dedos, então me aproximei da porta, mas antes de entrar esterilizei minhas roupas e vesti o macacão que o hospital disponibiliza. Coloquei luvas, uma máscara e todo o aparato necessário antes de finalmente me aproximar do meu garoto. Taehyung mexia levemente os olhos, ainda não havia abertos os mesmo, porém, assim que toquei em sua mão pude vê-los piscar levemente.

– Bem-vindo de volta, meu anjo. – abaixei a máscara lhe mostrando meu sorriso.

– Eu morri, e fui parar no céu? – sua voz saiu quase inaudível, mas consegui ouvir por estar bem próximo. – Estou vendo um anjo.

– Seu bobo. – apertei uma de suas mãos ao perceber que ele finalmente está de volta, fazendo até mesmo suas piadas em momentos errados.

– Você cumpriu suas promessas, meu amor. – o garoto sorriu enquanto piscava lentamente os olhos. – Salvou minha vida, e seu sorriso foi à primeira coisa que vi assim que acordei.

– Você é meu mundo, Kim Taehyung. Nunca pensei amar tanto uma pessoa, quanto eu amo você. – mesmo sendo arriscado, não resisti em abaixar a cabeça e lhe dar um selinho. – Tudo vai ficar bem agora, meu anjo.

Nossos lábios se encaixaram de forma perfeita, sua boca um pouco ressecada por conta do ar condicionado, um convite perfeito para umedecê-la usando a minha. Foi apenas um beijo simples, mas o suficiente para fazer meu coração acelerar, e o dele reagir no painel de controle do ritmo cardíaco. Seus batimentos foram acusados pelo monitor, porém, voltaram a se acalmar assim que me afastei. Pude vê-lo sorrir mesmo estando sonolento, como uma criança que sabe que acabou de quebrar algumas regras.

– Ouviu?! Até meu coração novo está completamente apaixonado por você. – seu sorriso quadrado se fez presente, e aquilo acabou fazendo minhas bochechas corarem. – Te deixei envergonhado, amor?! Que bonitinho.

– Que bebê malvado, você é. – gargalhei levemente me sentindo bem por conseguir deixá-lo calmo. – Preciso avisar ao seus pais que você despertou.

– Jungkook, eu não quero ver meu pai. – disse Taehyung segurando levemente meu pulso. – Por favor.

– Não tem porque guardar rancores, meu anjo. Foi ele quem me buscou em meu apartamento, me parou quando estava prestes a... – parei por um instante, percebi não ser o melhor momento para alguns assuntos. – Seu pai está de acordo com nosso relacionamento, Taehyung.

– Tem certeza? – seus olhos brilhavam pela nova notícia.

– Tanta certeza quanto meu amor por você. Não se preocupe, meu bem. Seremos mais felizes agora. – me despedi do mais novo, então o deixei novamente sozinho para ir dar a notícia aos seus pais.

Segui para fora do quarto deixando o garoto encarando um ponto qualquer do cômodo. Pude permitir a entrada dos pais por alguns minutos, mas antes fizeram o mesmo procedimento de esterilização que fiz mais cedo. Assim que entraram percebi a emoção de senhora Kim, e do marido que permanecia ao seu lado. Era nítido que meu sogro estava segurando as lágrimas, porém, as deixou cair somente depois que Taehyung sorriu aceitando seu abraço. Através do vidro pude encarar a cena de uma família perfeita, deixando lágrimas escorrerem por minhas bochechas ao sentir que meu dever foi cumprido.

A mais velha sibilou novamente um obrigado ao me ver parado do outro lado, então minha atenção foi tomada quando senti uma mão firme tocar meu ombro. Observei Seokjin bem ali, sorrindo abertamente e aparentemente orgulhoso de mim. Meu amigo parece contente pela família, ainda mais agora que soube que seremos cunhado, seu relacionamento com Namjoon deixou de ser segredo para todos à nossa volta.

– Bom trabalho, Doutor Jeon. – Seokjin disse animado. – Pode me seguir até o escritório? Discutiremos sobre seu retorno às atividades e seu possível aumento salarial.

– Esquece isso, meu amigo. – deixei uma risada escapar ao me lembrar da condição que havia colocado para cuidar do garoto. – Ganhei algo mais valioso que qualquer quantia.

– Sabe, às vezes sinto falta do Jungkook frio. – meu amigo disse rindo discretamente. – Mas logo me lembro, este é bem melhor.

– Ajudei a encontrar um coração novo para ele, e Taehyung descongelou o meu. – sorri com minha própria piada. – Estou feliz, hyung. Não me lembro de ter sido tão feliz assim, em toda minha vida.

– Isso se chama amor, meu caro. Aquele belo sentimento que muda as pessoas. – mantive o sorriso enquanto ainda encarando o vidro. Se esse é o verdadeiro amor, não quero mais me afastar do mesmo.

Meu chefe se afastou, e voltou ao seu escritório acompanhado por Namjoon. Bom, ele precisa passar o relatório da cirurgia para a central de transplantes, mas acredito que irá adiar por alguns minutos essa tarefa. Ainda fiquei um tempinho ali de pé, observando Taehyung conversando com os pais, ora ou outra o mais novo me encarava aproveitando para lançar um belo sorriso. Ele está de volta, mais saudável que nunca, disposto a me fazer feliz o resto de minha vida, e eu disposto a correspondê-lo da melhor forma possível.

– Espere aí! Eu saio por alguns dias e perco o roteiro de um drama digno de Oscar. – Yoongi disse chamando minha atenção. – Para quando é o casamento?

– Quando voltou? – perguntei o encarando, já estava vestido em seu jaleco, aparentemente animado para voltar a ativa. – Senti sua falta, ser irritante.

– O respeito foi para casa do caralho, não é? – Yoongi me puxou para um abraço. – Felicidade ao mais novo casal, e só para início de conversa eu já sabia de tudo.

– Como?

– Tenho olhos e ouvidos neste lugar, meu amigo. – disse o mais velho cheio de energia. – Ah, Jiminnie mandou lembranças.

– Ele ainda não vai retornar ao trabalho?

– No próximo fim de semana. Agora ele está cuidado de nosso filho. – ergui uma sobrancelha ainda o observando. – Um Spitz Alemão. Uma bela raça por sinal, muito fofo.

– Idiota.

É, acho que não será apenas Taehyung presenteado com uma nova vida.