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História Your only One - Imagine Bakugou Katsuki - Vinte e dois - Uma família feliz;


Escrita por: Strawgr

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 23 - Vinte e dois - Uma família feliz;


Fanfic / Fanfiction Your only One - Imagine Bakugou Katsuki - Vinte e dois - Uma família feliz;

Foi apenas depois de quase vinte minutos jogado naquele sofá enorme com Katsuki — os dois pelados, com as roupas jogadas pelo chão — que você se lembrou daquela parede de vidro da varanda que deixava os dois totalmente amostra para o resto do mundo enquanto trepavam. Tá que todos os outros prédios estavam muito longe, mas torceu de todo o coração que ninguém tenha visto.

Era meio impossível de acontecer, mas já estava careca de saber que isso não impede nada.

O loiro ligou o ar condicionado, te dando um alívio enorme quando finalmente sentiu aquele vento gelado atingir os dois, limpando rapidamente a sua pele do suor grudento no corpo dos dois.

Havia transado com ele. "De verdade", dessa vez. Totalmente acordado e consciente.

Não queria mesmo se sentir assim, mas era muito gratificante devolver o chifre ao seu namorado. Sabe, tinha até vontade de contar ao moreno que ele devia tomar mais cuidado ao passar por uma porta pequena.

Ao mesmo tempo em que estava meio tímido perto de Bakugou. Sabe, dava uma sensação que depois disso vocês dois deram um grande "avanço". Nem sabe se é certo ou errado se sentir assim, mas estava meio sem jeito e bastante pensativo com a cabeça dele descansando na sua barriga.

Ele estava com os braços ao redor do seu quadril, abraçando essa parte específica do seu corpo como uma criança carente. A sua mão fazia carinho levemente nos fios claros, sentindo aquela textura macia e sedosa nos dedos enquanto encarava fixamente o teto.

Será que é mesmo uma ideia tão ruim deixar Katsuki por um "fim" em Shindo?

Sempre achou a coisa mais óbvia do mundo que sim, mas agora...

Seria perfeito agora, se não tivesse nada para interromper o relacionamento dos dois. Você poderia passar todos os dias de "folga" da faculdade na casa do seu namorado — Bakugou — naquele apartamento gigante e tão belo. Poderia passar os dias em paz com ele sem ser o tempo todo às escondidas.

Sem Shindo, não tinha mais praticamente nenhum problema te atormentando.

Quer dizer, tem toda a questão de Katsuki ser um demônio, mas talvez restasse mais tempo para discutir sobre isso se não tentasse aproveitar a maior parte do tempo que passa com o loiro por medo do seu namorado vir encher o saco a qualquer momento.

A coisas seriam minimamente mais simples sem Shindo empacando qualquer coisa que fosse tentar ter com o demônio.

Será que Shindo realmente mandaria Katsuki te matar caso estivesse no seu lugar nessa situação? De verdade?

Ele é capaz de muita coisa, já sabe disso. Mas pensar isso te causava uma mágoa muito grande, já que nunca fez nada de ruim para o moreno.

Mesmo ele te infernizando tanto como faz, ainda o protege de morrer. Mas aparentemente, ao contrário é bem diferente.

Caramba. Se alguém te contasse que como Shindo realmente é no primeiro ano do namoro dos dois, você jamais acreditaria. Mesmo.

Mexer com gente é uma merda. De verdade.

Mas ainda não tem coragem de "permitir" (já que se Katsuki quisesse mesmo, ele já teria feito) que Shindo fosse morto por uma decisão sua. É uma coisa que nunca ia sair das suas costas. As vezes se odeia por ser tão sensível.

— [Nome] — parou de pensar em coisas aleatórias quando escutou a voz rouca soprar no seu estômago, Bakugou apoiou o queixo na sua barriga e te olhou meio sonolento. — Por que você fica pensando demais o tempo inteiro?

— O quê?

— Dá pra escutar os seus pensamentos daqui. — o incubus retrucou te olhando irônico. — Você nunca se permite esvaziar a cabeça e parar de se preocupar.

— Eu não tô me preocupando com nada. — responde horrorizado com a possibilidade dele conseguir ler os seus pensamentos.

Ele deu um sorriso malicioso, os olhos vermelhos quase cobertos pelos fios loiros bagunçados da cabeça dele.

— Você está o tempo todo se preocupando com alguma coisa. — ele diz. — Para um humano tão jovem, devia ser mais inconsequente.

— Você é que não se preocupa com nada, aí por eu me preocupar acha que eu me preocupo com tudo. — argumenta, surpreso consigo mesmo por ter falado com uma dicção tão boa. — Eu tô aqui quieto sem abrir a boca.

— E a sua cabeça está em outro lugar. — ele insiste quase em tom de zombaria. — Mais especificamente, em quem menos devia pensar agora.

— Você consegue ler o que eu penso? — perguntou tentando se sentar.

— Não. — Katsuki responde com uma risada pelo seu desespero. — Eu sei o que está pensando pelas suas vibrações. Não estão muito altas agora.

— Vibrações?

— Todo mundo tem. — o loiro explica. — Quanto mais altas, melhor são as coisas que a pessoa está sentindo.

— Ah. — disse baixo. — É bom saber.

O demônio deu uma mordida fraca na sua barriga, te fazendo se contorcer de susto e o olhar estranho.

— Eu sei... O que pode te deixar com as vibrações muito altas agora. — ele passa a língua pelos lábios, roçando a bochecha onde acabou de morder.

— Ah não. — recusou imediatamente. — Eu tô morto. Não aguento mais nada.

— Não estou falando de transar. — ele ri da sua cara. — Isso também, mas é outra coisa... Quase tão emocionante quanto isso.

— Como assim? — perguntou, já notando que era aquelas presepadas malucas.

— Eu queria te mostrar isso há um bom tempo, mas estava esperando a hora certa. — Bakugou divaga desviando o olhar. — Não sei se eu devia. Mesmo. Mas quero muito ver a sua reação.

— Do que você está falando? — questiona realmente ficando curioso.

— Primeiro, vamos tomar banho. — o demônio diz saindo de cima de você. — Nós dois estamos pregando de suor.

— Você me deixa morrendo pra saber o que é e agora não quer contar? — chia se desesperando. — Fala enquanto a gente toma banho.

— Não. — o loiro se levantou do sofá, caminhando para as escadas e largando as roupas no chão. — Vou contar só depois.

— Você realmente é um demônio. — xinga o seguindo de mau humor, cantando as suas roupas do chão para não caminhar completamente nu pelo apartamento igual ele. — Eu te detesto.

— Vou levar isso como um "eu quero muito te comer de novo".

Filha da puta.

#

Você realmente o comeu de novo. E de novo, de novo, depois dos dois transarem pra caralho no banheiro — do de vistas, já que ele recusou a entrar no quarto com você.

— Eu exijo que você me conte o que ia falar mais cedo. — falou, com uma toalha branca em volta da cintura e o cabelo meio úmido. — Se não eu vou... Vou... O que tem dentro do seu quarto que eu não posso ir lá?

— Eu ainda estou pensando se você merece saber. — o loiro fingiu pensar indeciso, caminhando (ainda pelado, mesmo depois de tomar banho e se secar) pelo corredor longo após saírem do banheiro — Senti que você ainda podia ter me fodido com mais vontade.

Minha nossa. Como ele consegue falar essas coisas com tanta tranquilidade?

— Isso não importa agora! — rebateu indignado. — Por favor, conta o que diabos você estava falando! O que te custa?

Ele parou de caminhar abruptamente, se virando te encarar com aquela cara de quem estava aprontando. Você quase trombou nele, por estar andando rápido atrás de nervosismo.

— Custa, que eu posso te matar. — Katsuki responde sínico. — Você odeia tomar susto.

— Odeio. — concorda, tentando ficar sério. — Não vou tomar susto se me contar.

— Não sei. — ele hesita te olhando de cima abaixo. — Você se assusta muito fácil.

— Bakugou, por favor. — geme quase entrando em pânico. — Eu não vou aguentar ficar nesse mistério. Odeio mistério.

— Também odeia surpresas. — o loiro atiça ainda mais, jogando levemente a cabeça para o lado. — E isso vai te surpreender. Muito.

— De forma boa ou ruim? — você pergunta levemente desconfiado.

— Não sei. — Katsuki morde o lábio inferior. — Eu realmente não sei.

— Não sabe? — ergue as sobrancelhas quase com deboche. — Não havia dito que sabe de tudo o que eu gosto?

— Que você já experimentou. — o demônio argumenta tranquilamente. — Sei o seu sabor favorito de refrigerante porque já bebeu, mas não sei se você gosta de sangue de morcego porque nunca tomou.

Mais desconfiado ainda agora, o olhou de cima baixo e se arrependeu de imediato pelo incubus estar totalmente pelado.

— Você já?

— Não. — Bakugou faz uma cara de sonso não muito convincente. — Isso foi apenas um exemplo.

Você fez uma cara meio ruim, mas preferiu não se aprofundar muito nisso antes que as coisas ficassem mais estranhas do que já estavam.

— Tá. — balançou a cabeça e suspirou. — Eu estou assumindo a responsabilidade de tomar susto. Não vou te dar paz enquanto não me contar.

Katsuki observou atentamente o seu rosto, os olhos em tom de cereja analisando a sua expressão decidida como se a visse como a coisa mais adorável do mundo.

— Tem certeza, meu bebê? — ele pergunta em tom brincalhão, mas de aviso ao mesmo tempo. — Depois não diga que eu não avisei.

— Pode deixar. — suspirou de nervoso.

— Tudo bem, então. — Bakugou dá de ombros com aquela cara de safado que está aprontando. — A surpresa está no meu quarto, sobre a cama. Você vai ir até lá, pegar e trazer para mim, que vai estar te esperando na sala, lá embaixo. Entendeu?

— Entendi. — disse, ainda sem entender direito. — É uma coisa perigosa?

Ele não respondeu imediatamente, começando a dar passos para trás na direção das escadas.

— Para você, não.

E saiu, virando as costas com toda calma do mundo sob o seu olhar tímido que falhou miseravelmente em não olhar a bunda dele enquanto ia embora do corredor.

Isso foi esquisito. Tipo, mais que o comum.

As coisas com Bakugou são naturalmente esquisitas, mas agora foi um pouco mais. Ainda apenas com uma toalha branca amarrada na cintura, você ficou parado no corredor chique por uns instantes até reunir coragem para caminhar até a porta do quarto dele.

Não podia ser algo absurdo demais, como todo o suspense que ele parecia querer fazer.

Tipo, tinha um corpo em cima da cama?

O que pode ser de tão incrível assim?

E você ter que ir lá ver isso sozinho te dava mais angústia, mas tentou se convencer de que não era nada demais.

Bakugou não estava armando nada para tentar te matar. Bakugou não estava armando nada para tentar te matar.

Chegou na porta com aquele símbolo mítico entalhado, engolindo em seco com os olhos presos na madeira branca e gelada. Segurou a maçaneta de pouca vontade e suspirou fundo ao empurrar a porta até ter a visão da grande cama no quarto.

Fleur estava lá. Deitado, e ergueu a cabeça feliz ao te ver. Os olhos azuis alegres pareceram ganhar mais vida com a sua expressão surpresa, mas confusa por ser apenas ele.

Porque foi perceber a serpente espalhada no colchão apenas só depois de uns segundos.

Serpente mesmo. A cabeça dela era quase do mesmo tamanho do cachorro. Pode ver quando ela ergueu o "pescoço" para te observar.

Tinha os olhos verdes esmeralda profundos. A língua cinza deslizou para fora da boca achatada por instinto e sibiliou silenciosamente enquanto te analisava.

Você demorou bastante para ter qualquer reação. A cobra foi se erguendo sobre a cama, te encarando fixamente de forma quase humana e parecendo te julgar.

Fleur continuou no colchão, o rabo branco e peludo abanando amistoso e alheio a sua paralisia na porta.

Tinha uma... Cobra enorme em cima da cama de Katsuki. Te encarando.

Uma cobra enorme. Enorme mesmo, ela tinha o corpo grosso com escamas ébano intenso que ocupava boa parte da cama.

Você, bem lentamente, tirou a mão da maçaneta fria. Sem tirar os olhos das duas pedras verdes brilhantes e assustadoras.

Deu um lento passo para trás, movendo apenas os músculos das pernas. A cobra lambeu o ar novamente, prestando atenção nos seus gestos.

Continuou se afastando aos poucos da porta, os olhos paralisados no réptil gigante e negro jogado na cama com Fleur totalmente calmo e pacífico do lado.

Você não sabe o quanto se afastou da porta antes de começar a correr pelo correr para literalmente qualquer direção, sem nem prestar atenção no que tinha na sua frente.

Apenas começou a correr em puro pavor. E gritar.

Porque a cobra veio atrás, rastejando no chão numa maldita velocidade que nem sabia que esses bichos desgraçados tinham.

Fleur veio atrás, mas provavelmente pensando que estavam numa brincadeira de corre-corre.

Os seus pés estavam meio úmidos do banho, então nem sabe (e nem se importa) como diabos não escorregou no chão e bateu a cabeça para morrer logo e virar a janta daquele monstro que vinha atrás sibilando e provavelmente rindo do seu desespero na linguagem dos bichos.

Você nunca mais (nunca mesmo) vai pedir para Katsuki te mostrar uma "surpresa". Nunca. Mais.

O apartamento dele parece ter ficado maior enquanto corria pelo piso liso e impecável, batendo o ombro nas paredes enquanto movia as pernas na maior velocidade que a toalha na sua cintura permitia, o corpo se arrepiando de pavor com o barulho que as escamas da cobra faziam ao se esfregar no chão.

Fleur te passou facilmente, correndo na sua frente e rebolando de felicidade por estarem numa brincadeira tão animada.

Depois de muito desespero e vontade de viver, ainda berrando como um doido conseguiu chegar nas escadas para descer até a sala, onde Bakugou estava.

— Uma cobra! — você berrou entre o ódio e pânico, sem coragem de olhar para trás e ver o quão perto ela estava. — Uma porra de cobra!

Você não ia conseguir descer aqueles degraus naquele desespero todo. Por isso foi literalmente pulando vários deles na hora do desespero sem se importar no perigo de tropeçar e ter um traumatismo ao colidir com o chão.

Também não sabe como conseguiu descer as escadas sem morrer, com aquela desgraça vindo atrás a todo vapor.

Você não sabia se chorava de alívio ou ódio quando viu Bakugou pelado e jogado no sofá, assistindo televisão com toda a tranquilidade do mundo. Não soube decifrar o que havia no rosto dele quando te olhou correndo na direção do sofá com a serpente atrás.

E nem deu tempo, já que praticamente atravessou aquele cômodo aos pulos e se jogou nele como uma criança apavorada.

— Uma cobra! Uma cobra! — disse aos berros tentando se fundir a ele, tentando fugir daquele bicho. — Faz alguma coisa!

A cobra desceu as escadas deslizando com rapidez, o corpo flexível e longo escorregando pelos degraus como um líquido malicioso que insiste em te perseguir.

Já estava para dar adeus a esse plano espiritual quando aquela coisa tenebrosa chegou na sala e foi se aproximando do sofá. Katsuki nem teve a chance de abrir a boca, já que você estava gritando em pânico agarrado a ele e procurando algum canto alto para subir e tentar se proteger.

— Bakugou, some com esse bicho! — implora no maior desespero do mundo. — Ela vai vai me comer!

Fleur passou a correr pela casa a todo vapor numa animação contagiante, ia em disparada pela sala até a cozinha, no quarto, voltava, dava latidos em resposta ao seus gritos e exalando euforia com aquela barulheira toda.

— [Nome] — Katsuki chamou baixo, tentando não rir com a sua inquietação o balançando freneticamente para que fizesse algo a respeito da cobra. — [Nome].

— Mata, mata! — gritou sem nem controlar as reações do corpo, quase chorando de medo na dúvida se ficava perto de Bakugou ou continuava correndo para longe. — Mata ela! Bakugou!

— [Nome] — o incubus chamou com uma calmaria extremamente irritante, o corpo balançando nas suas mãos de desespero e tentando não rir. — [Nome], fica calmo...

— Ela tá vindo! — gritou se soltando dele dando outro salto para o outro lado do sofá, no canto. — Essa coisa vai me matar!

A serpente sibilou e foi rastejando na direção do loiro, que a permitiu subir no móvel para se aproximar, o olhos verdes fixos na sua figura quase desfalecida de tanto medo.

— Me desculpa, por favor! — você estava chorando a esse ponto, agonizando no canto do sofá quando o réptil foi se arrastando na sua direção lentamente. — Nunca mais eu vou te pedir para me mostrar nada! Eu juro!

Fleur veio em disparada da cozinha, subiu no sofá e resolveu se juntar a você naquele desespero. Ainda bem que os vizinhos escutavam aquele bezerreiro extremamente abafado.

O loiro estava se segurando muito para não rir, se levantando do sofá para ir na sua direção sem a menor preocupação com a cobra enorme. Ele engatinhou na sua direção ainda pelado, estendendo os braços com uma expressão apaziguadora.

— Está tudo bem, ela não vai fazer nada. — o incubus murmurou tentando passar a voz sobre os seus gritos apavorados. — [Nome], para de gritar! Calma!

— Calma é o caralho! — tentava se esconder atrás do corpo grande do cachorro de pelo claro, já que ele não estava estranhando a maldita cobra. — Tira essa cobra daqui!

— Mas ela não vai fazer nada! — ele insistiu se aproximando mais, tentando afastar o cachorro para te abraçar. — Se quisesse, já teria feito.

Como em provocação, a serpente rastejou com mais vontade e e finalmente te alcançou, passando debaixo de Fleur e tentando se enroscar no seu tornozelo, roçando as escamas frias na sua pele.

Em meio aos gritos, você finalmente desmaiou. Katsuki estava quase te pegando no braços quando perdeu a consciência e caiu no sofá.

Fleur se virou para te olhar curioso, parando de abanar o rabo quando te viu agora mudo e sem se mexer, jogado de qualquer jeito no sofá branco e espaçoso.

— Merda. — Katsuki chiou te puxando para o colo dele com zelo, e olhou os dois bichos que agora te observavam com atenção. — Por que é que vocês nunca me obedecem?

#

[Nome]

Não sei quanto tempo fiquei desmaiado. E sinceramente preferia ter continuado assim.

Eu ainda estava nos sofá, percebi pelo som da televisão ligada, o primeiro som que meu copo identificou. Levou um tempo até eu abrir os olhos, mais por falta de vontade.

Encarei o teto, ainda muito desnorteado para raciocinar corretamente. A minha cabeça estava querendo doer, por isso fiquei uns instantes parado até reunir forças para tentar me sentar lentamente.

Mesmo sem fazer movimentos bruscos, senti uma latejação incômoda que me forçou a me sentar de forma desajeitada com os olhos fechados para tentar aliviar a pressão nas têmporas. A minha boca estava com aquele gosto de quem havia acabdo de acordar depois de horas de sono, a mente ainda muito sonsa e o corpo não totalmente desperto.

A sala estava silenciosa e exatamente como quando eu cheguei. Como se eu não estivesse fugindo de uma cobra gigante e feito o maior escândalo e desmaiar de pavor.

Aliás. Cadê a cobra? Fleur? Katsuki?

Eu olhei lentamente em volta, tentano caçar alguma presença além da minha. Não havia ninguém, e a televisão agora desligada.

Ué. Será que foi tudo um sonho maluco?

Eu me levantei do sofá aos poucos, ainda me "adaptando" de novo ao ambiente. Tenho a sensação que estava inconsciente durante horas, tanto que não tinha mais Sol clareando a parede de vidro que dava a vista para a cidade. Provavelmente já estava no fim de tarde.

O apartamento de Katsuki estava iluminado pelas lâmpadas acesas, o clima meio frio pelo ar condicionado ligado. Tentei olhar em volta para procurar meu telefone, mas não vi nada. Nem ninguém.

Bakugou saiu para algum canto e me deixou aqui? Onde Fleur está?

Minha atenção se voltou para o barulho de passos quase imperceptível que eu notei mais por instinto que pelo som, me virando para ver Bakugou aparecer com um copo de água na mão, vindo na minha direção com um olhar esnobe.

— Você é o humano mais escandaloso e apavorado que eu já vi. — o moreno me estendeu o copo, mas nem me atentei a isso. — Estou surpreso de não ter urinado nas calças também.

Eu fiquei estático do lado da mesinha de centro olhando para a cara dele, que me encarava de volta com deboche pelo meu espanto silencioso.

Ele estava usando uma regata preta que exibe os braços musculosos, com algumas veias saltadas pelo pulso estendido na minha direção.

Não movi um músculo. Continuei encarando Bakugou de cabelo preto sem que o meu cérebro conseguisse formular algum comando para que eu sequer consiga ter uma reação a... Isso.

O incubus arqueou as sobrancelhas para o meu silêncio, me olhando com um deboche até então desconhecido.

— Estava no maior berreiro umas horas atrás. — Bakugou inclina levemente a cabeça para o lado achando graça, os olhos verdes cintilando. — As suas cordas vocais explodiram?

Era Katsuki. Ao mesmo tempo que parece não ser.

O corpo e a cara são literalmente os mesmos. Mas a voz e o olhos me causam uma estranheza enorme. A voz não era dele, assim como a falam me é desconhecida.

É Katsuki. E não é.

— O que você fez no cabelo? — foi a única coisa que me veio a mente, conseguindo mover apenas os lábios.

Ele pôs o copo na mesinha de centro, sem alterar o tom de cinismo.

— Meu cabelo sempre foi assim. — o demônio ri levemente. — Eu acho que está me confundindo.

— Não tem graça. — retruquei o olhando de cima abaixo com desconfiança frágil. — Por que mudou a cor dos seus olhos?

Tinha que ser Bakugou. Se não, eu estou fodido.

— Meus olhos também sempre foram verdes. — o possível estranho responde dando um lento passo para frente, e pude ver um brilho de malícia passar pelas orbes brilhantes. — Será que você está curado do seu daltonismo? E só agora está me vendo normal?

Eu com certeza ainda estou sonhando. Isso só pode ser algum tipo de brincadeira sem graça que aquela praga fez novamente. Mas eu tenho certeza que mesmo num sonho, com certeza vou morrer do coração se tomar outro susto.

— Para de brincadeira, Katsuki. — tentei reprimir a estranheza que a presença dele estava me causando, com zero da confiança que ele geralmente traz. — Cadê a cobra que estava aqui? Cadê o Fleur?

Não recebi nenhuma resposta de imediato. O moreno continuou com uma cara de puro deboche ao meu desentendimento como se eu fosse a criatura mais sonsa que ele já viu na vida. Katsuki não costuma me olhar dessa forma.

— Você não entende mesmo nas entrelinhas, né? — ele se aproxima mais, mas eu me afasto sem nem pensar duas vezes. — A sua cabeça só acompanha se desenhar tudo direitinho. Como um bebê.

Será que é Touya? Ele havia tomado a forma do irmão para vir até aqui me ver?

Porque não é Katsuki. Não adianta tentar negar para não entrar em desespero.

A forma que ele me encara. É analítica. Esse sujeito está me vendo pela primeira vez, e a voz mais... Carregada? Ele parece ter algum sotaque leve de um idioma que não faço ideia.

— Bakugou. — eu tentei, apenas para ver se ele começa a falar coisa com coisa. — Porque você está assim?

O cara revirou os olhos, de saco cheio das minhas perguntas.

— Você já devia ter notado — ele abriu os braços e apontou para si mesmo. — Mas eu não sou o seu loirinho. Parece que é muito raro encontrar humanos com inteligência aceitável.

Tá. Não é Bakugou.

— Então quem é você? — perguntei com medo da resposta. Estava tentando soar firme, mas sem ser desafiador demais. Ele parece ser bem pavio curto. — Tá fazendo o quê aqui?

— Não vou fazer isso ser tão fácil assim. — o sujeito se endireitou e deu um falso suspiro de decepção. — Vamos, use a cabeça de cima um pouco. Olhos verdes, e a cor preta. Te parece estranho?

Não.

Só não.

Nem fudendo.

— Não sei. — disse, bloqueando o pensamento que ele queria me fazer seguir. — Por que você só não diz o que quer?

O desconhecido soltou um rosnado alto de frustração, jogou a cabeça para trás com força e me olhou como se quisesse afundar a minha cara na parede.

— Vamos, humano avoado! Pense! Qual foi a última coisa de olhos verdes que você viu?!

— Não me diga que você é a cobra que estava atrás de mim uns minutos atrás. — não demonstrei intimidação pela falta de paciência dele. — Você não é.

O cara ergueu as sobrancelhas pela afronta, parecendo se sentir ofendido.

— Ah, mesmo? — o moreno sorriu raivoso e fingiu que eu era um sábio do qual ele precisava de informções importantes, se inclinado para frente com deboche puro. — E como vossa senhoria sabe mais de mim do que eu?

— Porque cobras não viram gente. — afirmei mais para mim mesmo do que para ele.

O moreno piscou os olhos verdes, que tomaram uma coloração mais escurecida e intensa pela minha ousadia. Mas a expressão esnobe continuou lá, e eu estava tão atordoado com essa situação que nem consegui me irritar.

— Você estava fodendo a porra de um demônio em cima desse sofá há quatro horas atrás. — engoli em seco pela voz mais baixa, que soa extremamente suave e provocante perto do meu rosto. — Por que acha que eu não sou uma cobra? Uma das bem venenosas como o seu namorado, só que sem ser um corno e broxa?

— Katsuki? — eu chamei um pouco alto, me virando para caçar Bakugou pelo apartamento com um medo genuíno. — Você tá aí? Por que me largou sozinho com esse cara?

Ele não pode ter feito isso. Me largou aqui com esse doido estranho no próprio apartamento?

— Ei, seu porra! — tomei um susto quando o Katsuki moreno veio como um boi raivoso pro meu lado. — Eu ainda não terminei.

— O que você quer?! — eu estava quase chorando, olhando em volta na esperança que o Katsuki de verdade surgisse das sombras e dissesse que aquilo é tudo uma pegadinha desgraçada.

— Nossa conversa ainda não acabou! — ele se irritou ainda mais com o meu desespero, os olhos brilhando em verde raivoso. O sotaque desconhecido ficou mais puxado na voz jovem e grave.

— Eu não quero conversar com você! — gritei me estressando também, e que se foda se ele me matar. É até um favor. — Eu quero sair desse sonho!

— Isso não é um sonho, seu jumento! — o moreno gritou se pondo na minha frente de forma agressiva. — Eu sou real, inferno! Quer um soco pra notar isso?!

— Eu acho que já está bom, já que você não consegue não ser você. — uma terceira voz nos interrompeu. — Pare de assustar ele.

O Bakugou de verdade finalmente apareceu, saindo da cozinha pelo mesmo caminho que a cópia enfezada dele fez. Eu senti um alívio imenso em ver aquela expressão meio irônica e calma dele. Agora estava usando roupas, quer dizer, apenas um short que vai até os joelhos com o tronco nú.

O outro cruzou os braços na frente do peito, parecendo inconformado pela interrupção. Eu notei que estava a até respirando melhor quando Bakugou chegou perto e me olhou com um sorriso tranquilo.

— Oi, amor. — ele ronronou parecendo com dó. — Me perdoa, ele te assustou?

— Eu não assustei ninguém. — o moreno respondeu ranzinza no meu lugar. — Ele que é um...

— Lorcan. — o demônio repreendeu sem sequer usar firmeza na voz, apenas o olhando. — O que nós conversamos sobre insultar os outros?

— Ele não é um outro. — Lorcan (que nome diferente?) argumentou me olhando de cima abaixo com desprezo. — É seu marido. Posso xingar ele o quanto eu quiser.

— O quê? — eu arregalei os olhos sem nem saber para qual dos dois olhar. — Você fica falando que eu sou seu marido?

Bakugou me olhou com cara de sonso, mordendo o lábio inferior rosado num sorriso nervoso.

— É claro que não. Eu só falei para ele porque... O Lorcan é da família. — o demônio explicou olhando pro moreno, como se esperasse uma confirmação para ajudar.

Ele só o encarou com aquela cara esnobe que com certeza ia arrumar briga com qualquer um minimamente estressado.

— Que família? — eu perguntei com ódio por simplesmente não estar entendendo porra nenhuma.

— A nossa. — o loiro me abraçada forçado. — Eu, você e o Fleur. Uma linda família.

Lorcan olhava dele para mim com nojo, uma veia grossa pulsando no pescoço forte enquanto os olhos verdes quase soltavam faíscas de raiva.

Isso era ciúmes do Bakugou?

— Não muda de assunto. — eu rosnei me debatendo para sair de perto dele. — E ele é seu irmão gêmeo ou coisa parecida?

— Não. — o incubus respondeu. — Lorcan tem uma puta sorte de ter nascido com a minha cara.

— Você é que tem sorte de ter a minha cara. — o moreno revidou arrogante.

Eu fiquei olhando para ele, ainda assustado com as semelhanças tão diferentes de Bakugou. O rosto era o mesmo, e ainda sim dava para saber que não é a mesma pessoa apenas pelo olhar.

— Eu ainda sou mais gostoso, né? — Katsuki perguntou no meu ouvido quando percebeu que eu estava avaliando os dois. — Desculpa a brutalidade desse malvado. Eu mandei ele não ser rude, mas ele é muito desobediente.

— Por favor. — eu pedi fechando os olhos em agonia. — Não fale nesse tom como se eu fosse uma criança.

— Ele não acredita em mim. — Lorcan chama a nossa atenção parecendo que ia vomitar com o carinho do loiro. — Conta. Esse molenga acredita em tudo o que você diz.

Eu não sei o que foi que eu fiz para ele me menosprezar tanto assim, mas olhei Bakugou esperando uma explicação.

— Por que foi que eu achei que você conseguiria fazer isso sozinho? — o mais velho provoca, o olhando de forma cortante antes de se voltar para mim novamente. — [Nome], Lorcan é aquela cobra que você encontrou com Fleur no quarto. Essa é a forma humana dele.

Silêncio.

Eu sei que os dois estavam esperando uma reação vinda de mim, mas eu novamente fiquei mudo olhando pra cara dele esperando alguém dizer que era só uma brincadeira.

Mas ninguém falou. Katsuki não começou a rir da minha cara falando que era tudo uma brincadeira, como eu esperei.

Ele estava até meio preocupado com a minha falta de reação.

— Esse humano que você arrumou é esquisito. — Lorcan desdenhou atrás de mim. — Ele fica quieto te encarando no lugar de esboçar alguma coisa. É pior que o Stolas, porque é um humano.

— Será que tem como você calar a boca? — Bakugou diz ríspido, mas sei que o outro não se abalou. Fiquei até surpreso por vê-lo usar um tom rude. — Meu amor, diz alguma coisa.

Eu continuei olhando para Bakugou, sem abrir a boca. Me virei lentamente para olhar Lorcan. Ele me olhava de volta com ar de julgamento e os braços cruzados.

Olhei Bakugou novamente. E abri um sorriso sem graça.

— O que você vai falar agora? — soltei uma risada nervosa. — Que o Fleur também tem uma forma humana e vai sair da cozinha saltitando com pernas iguais as minhas?

— Sim! — eu paralisei quando uma nova voz ecoou do cômodo que acabei de citar. — Eu também viro humano!

Katsuki estava com os olhos levemente arregalados, me olhando. Eu não movi um músculo do corpo quando escutei passos alegres vindo na nossa direção.

— [Nome], olha para mim! — uma voz jovem e alegre me chamou, mas eu nem sentia meu corpo mais. — Olha, eu também sou igual a eles dois!

— Ele não quer se assustar com a sua feiúra. — Lorcan boceja com tédio. — Para de balançar esse rabo perto de mim. Não quero pegar as suas pulgas.

— Não tenho pulgas. — a voz dele lembrava a de Bakugou e Lorcan, só que um pouco mais inocente e nova. — O Bakugou me leva para tomar banho toda semana.

— Amor — Katsuki chamou baixo, prestando atenção em mim. — Está me ouvindo?

Não. A última coisa que eu ouvi foi uma risada estridente de Lorcan quando perdi a consciência de novo e cai para trás.



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