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História Your only One - Imagine Bakugou Katsuki - Vinte e Sete - Ruína;


Escrita por: Strawgr

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 28 - Vinte e Sete - Ruína;


Fanfic / Fanfiction Your only One - Imagine Bakugou Katsuki - Vinte e Sete - Ruína;

Denki permanecia sentado naquele banco do corredor de espera, onde haviam outras pessoas sentadas aguardando para serem atendidas ou esperando conhecidos voltarem de uma consulta ou coisa assim.

Jirou se sentou do lado do namorado com a expressão tão desanimada e preocupada quanto a dele. Mina e Sero não estavam muito melhores, em pé e de braços cruzados. Todo mundo olhando para um ponto aleatório e fixo enquanto pensam.

— Você... Acha que ele está usando drogas? — o loiro perguntou baixo, entrelaçando as mãos.

— O Shindo usa. — a garota argumenta baixo. — Maconha, LSD, essas coisas mais comuns de achar em festas. Pode ter oferecido alguma pro [Nome], que acabou começando a usar também. Deve ter dado algum efeito no corpo dele que o fez desmaiar.

— É só chamar o Shindo e fazer ele falar pra saber. — Hanta diz, encolhendo os ombros. — Porque o [Nome] mesmo não vai admitir.

— Ele com certeza vai negar também. — Ashido discorda balançando a cabeça. — Se o [Nome] não quer que a gente saiba, não é o Shindo que vai falar.

— Não consigo imaginar o [Nome] usando droga. — Kaminari resmunga inconformado. — Ele bebe refrigerante quando a gente pras festas.

— Uma coisa não tem nada haver com a outra. — Sero contestou se sentando no banco também. — Ele pode preferir refrigerante e ainda usar droga.

— Isso explica bastante esses sumiços dele. — Ashido divaga com as mãos na cintura. — Provavelmente vai com o Yo pra algum canto onde tem esses negócios. Por isso ele nunca conta onde é.

— Faz sentido. — o loiro suspira. — Também dá pra saber se tem algo no sangue dele pelos exames. Se ele ficar inconsciente por tempo o suficiente dá pra fazer o Katsuki ver o que é, já que ele tá lá como namorado dele.

Hanta deu uma risadinha sem graça.

— Fiquei de boca aberta quando ele disse aquilo. — o moreno cruzou as pernas de qualquer jeito. — Falou com tanta... Vontade. E ainda disse que vai pagar tudo.

— Ele é ator. — Kaminari responde. — Tem que saber atuar.

— Considerando o ramo de atuação dele, o Bakugou é bastante versátil.

— Calem a boca, seus idiotas. — Mina fez um barulho esquisito para conter o riso, que logo virou falsa raiva. — Tão me fazendo querer rir.

— Mas, voltando ao que importa. — Jirou continuava pensativa. — Acha que devíamos falar com ele sobre isso?

— Se ele estiver bem quando acordar, a gente vê. — Ashido considera andando em círculos meio inquieta. — Mas eu acho que ele vai negar até a morte. Será que a gente acha alguma coisa no apartamento dele?

— Duvido. — Denki diz. — Ele não seria tão descuidado. Além de que seria bem inconveniente.

— O Katsuki tá demorando. — Sero resmungou cansado. — O que será que é?

— Eu acho que deve ter sido fraqueza ou algo parecido. — Kyouka morde o lábio inferior, pensativa. — Parece que ele tava virado uns três dias quando o Bakugou se sentou com a gente no refeitório'da faculdade. Lembra?

— É. — Denki ergue as sobrancelhas ao se lembrar. — Mas ainda é tão... De nós, ele seria a última pessoa que eu imaginaria usando droga.

— O Katsuki também tem cara de um anjinho. — Jirou resmunga. — E é a porra de um ator pornô. Nunca mais confio em ninguém.

A garota percebeu o olhar da amiga sobre si, a observando com aqueles olhos que apenas garotas entendem; quero falar com você mais tarde.

Ela deu um aceno quase imperceptível, que apenas a rosada captou também. Os quatro continuaram especulando o motivo do seu desmaio e juntando teorias pouco prováveis.

[Nome]

Eu não sei mais exatamente o que pensar de Nejire. Ela simplesmente fica se enfiando na minha cabeça sem permissão apenas para vir atacar a minha ansiedade, igualzinho aquela peste do Touya.

Eu sabia que era ela assim que eu "acordei", no sonho. Pela grama bem aparada e o céu azul, eu me levantei já caçando uma cabeleira azul balançando por aí.

E encontrei, bem rápido. Nejire estava sentada do meu lado com aquela expressão serena e calma, piscando lentamente enquanto avalia o meu rosto.

— Será que tem como você parar de ficar entrando na minha cabeça do nada? — perguntei, me levantando para me sentar também. — Isso está me assustando.

Nejire não se ofendeu com o meu comentário, apenas inclinado o rosto angelical na minha direção com um sorriso mínimo. Eu fiquei a observando de volta quase incomodado pelo suspense que essa garota carrega.

— Você sabe que já está acontecendo, não é? — ela perguntou suavemente, usando um tom quase malicioso.

Lá vem. Odeio a linguagem de charadas que ela usa.

— O que está acontecendo? — perguntei, já me preparando para por a cabeça para funcionar enquanto tento entender o que ela fala.

Nejire muda o foco dos olhos para frente, observando aquele campo tão pacífico e fresco onde nós estávamos, ainda sorrindo levemente.

— A sua ruína. — a moça diz baixo, me fazendo arquear as sobrancelhas de estranheza. — Está começando.

— Por favor, para de falar em enigmas. — choramingo tentando não me preocupar. — Do que você está falando? Que ruína?

— Você... Sabe por que está aqui? — Nejire pergunta com a voz aveludada, soando quase irônica. — O que aconteceu antes que vir parar aqui comigo?

Meu pai. Eu não tenho neurônios para lidar com ela, mas tentei forçar a minha cabeça.

Eu lembro de estar na sala do meu apartamento com os meus amigos. Em algum momento enquanto conversávamos, eu me levantei dizendo alguma coisa. E após isso não consigo me lembrar de mais nada.

— Eu não sei direito. — respondi tentando acompanhar os pensamentos dela. — Eu estava em casa, me levantei para ir não sei a onde...

— E perdeu a consciência. — a azulada completa suavemente.

— Perdi? — eu a encarei, meio encucado.

Não gosto da forma que ela me olha. É como se Nejire estivesse o tempo todo tirando uma com a minha cara. Como se ela me achasse burro por não ter notado algo que está bem debaixo do meu nariz.

— Perdeu. — a moça concorda naquele tom sereno.

— E o que isso tem haver com a "minha ruína?" — perguntei me inclinado na sua direção. — Não diga em meias palavras, por favor.

Nejire pareceu pensar na última condição. E preferiu não atender.

— Você sempre teve uma saúde de ferro. — ela começa, me causando desânimo. — Não ficou debilitado nem quando tinha dez anos e tomou aquela picada de cobra venenosa. Conseguia passar horas a fio trabalhando no campo dos seus avós debaixo do sol quente e permanecer firme e forte quando ainda era um adolescente. Estranho que você desmaie justo... Agora.

Eu pisquei, repassando todos os motivos do qual eu provavelmente não devo mandar essa mulher ir a merda. Não sei qual a dificuldade em apenas me dizer onde caralhos ela quer chegar.

Me esforcei para absorver essas palavras, tentando seguir a fina linha de raciocínio da garota. Ela está certa, eu não sou de cair de cama tão fácil. Por mais que o Katsuki fique me chamando de velho, a minha saúde sempre foi ótima.

O que ela quer dizer, meu deus...

Não. Não tenho direito de pedir a sua ajuda.

Ela continuava me observando, se divertindo em me ver quebrando a cabeça inutilmente.

— Não tenho a menor ideia do que isso quer dizer. — admito com um suspiro. — Eu estou doente, é isso?

A moça encolhe levemente os ombros, não cedendo tão fácil. Ela queria que eu chegasse a conclusão certa.

— Não agora. — Nejire divaga desviando os olhos cristalinos dos meus. — Mas vai ficar.

Puta que pariu. Eu mereço.

— Como assim? — nem percebi que alterei levemente o tom de voz. — Eu estou desenvolvendo uma doença mortal?

— Você já tem. — ela sorri, um sorriso totalmente seco de sinceridade. — Uma doença que já está te matando todos os dias. Ela tem um belo sorriso e é ótima em te enganar.

Eu pisquei lentamente, encarando Nejire. Ela piscou de volta, me encarando.

— Isso é algum tipo de brincadeira? — perguntei sério. — O Bakugou te mandou para vir ficar se enfiando na minha cabeça apenas para me perturbar?

— O pior tipo de cego é aquele que não quer ver. — a azulada retruca, ainda sorrindo tranquilamente. — Já está na sua frente, acontecendo agora mesmo. Eu vim te avisar antes que seja tarde demais.

— Me avisar de quê?! Pare de falar assim!

— Vim avisar que ele está te matando. — Nejire não se altera nenhum pouco com a minha exaltação, e isso é meio perturbador. — E vai te matar. Ele está usando você, pobre criança. E eu, como um ser de luz, não posso observar sem fazer nada.

— Mas... E aqueles encontros com o Midoriya? A Taylah? — perguntei tentando não me exaltar. — Pra quê serviu aquilo?

— Queria que você os visse. — ela diz, baixando levemente os olhos. — Antes que se tornasse o próximo. Eu não achei que fosse ser tão rápido, mas está acontecendo.

A minha cabeça deu um estalo.

— O Katsuki os matou? — perguntei arregalando os olhos. — É isso? Você está dizendo que ele vai me matar?

Nejire ergueu os olhos grandes e azuis, que me arrepiaram de nervosismo pela intensidade deles. O rosto super delicado e belo estava numa expressão calma, mas indecifrável.

— Por favor, me diz. — implorei, pouco me fudendo para o que ela era quando agarrei suas mãos delicadas sobre o colo. — Me fala. O Katsuki está me matando?

Nejire segurou as minhas mãos de volta, entrelaçando os dedos gelados aos meus.

— Me entregue a Zaphir. — ela bradou me causando uma paralisia assustada. — Dê ela a mim, e em troca eu vou te ajudar a se livrar dele. Só assim você irá viver e se salvar da condenação eterna.

Zaphir. A corrente que deixa demônios super enfraquecidos.

É por isso que ela está atrás de mim. Ela quer a corrente. Porque Bakugou confia em mim, e se eu pedisse aquele troço, ele iria me entregar.

Fiquei não sei quanto tempo observando o rosto perfeito e suave dela, e engolindo em seco sem conseguir formular uma resposta.

— Os sinais vão aparecer com o tempo. — a moça solta as minhas mãos delicadamente, percebendo o meu estado. — Você vai piorar com os dias. E quando ver, eu vou estar aqui esperando a sua resposta.

Ela se levantou, ficando de pé sobre a grama perfeitamente verde e saudável. Eu permaneci sentado no chão sem mover um músculo até perceber que ela estava indo embora, me inclinando para a olhar nos olhos.

— Ele não faria isso comigo. — murmuro, forçando firmeza na voz. — Ele nunca me machucaria.

O sorriso dela aumentou, a pele branca tomando um tom dourado para se desfazer em bolinhas amarelas igual a Midoriya.

— Você não achava a mesma coisa daquele humano?

#

Você não sabia onde estava. Levou algum tempo para abrir os olhos meio pesados, fazendo uma careta para se acostumar com a luz acesa do quarto.

Olhou em volta curioso, notando rápido que estava num hospital. Procurou por alguma companhia, se encontrando sozinho.

Mas que merda. Que merda.

Meio sem saber o que fazer, tentou se ajeitar sobre a maca confortável para se sentar, tomando cuidado com o tubo injetado na veia do seu braço, que aparentemente enviava soro e mais alguns remédios.

Nossa. Aquele quarto de hospital era bem chique. Porra. Os seus amigos provavelmente ligaram para os seus pais sobre o que aconteceu e agora eles estavam gastando uma grana preta para pagar esse lugar.

A sua cabeça estava meio dolorida, provavelmente de estresse. A sua cara não estava muito boa quando uma enfermeira abriu a porta e sorriu surpresa.

— Você acordou bem rápido. — ela era morena, percebeu pela raiz escura do cabelo debaixo da touca branca na cabeça.— Como está se sentindo?

— Ah... Bem. — respondeu, a observando se aproximar do tubo conectado no seu braço. — Só com um pouco de dor de cabeça.

— Os seus amigos disseram que você bateu a cabeça ao cair. — ela informou tranquila. — Mas nós já inserimos remédios para dor, então vai passar em breve.

— Eles é que estão pagando a conta? — perguntou sem conseguir se conter.

— Não, é o seu namorado. — a mulher respondeu te surpreendendo levemente enquanto confere o soro. — Ele quer muito te ver. Posso chamá-lo? 

Não estava com a menor vontade de olhar na cara de Shindo. Mas como provavelmente ia soar meio estranho negar, você acenou que sim se arrependendo pela dor nas têmporas.

A enfermeira se despediu ao se certificar que estava tudo estável, saindo do quarto. Você fez uma leve cara de descontentamento enquanto olha em volta.

Os pais de Shindo (o pai dele, já que sua mãe está em coma há muitos anos) tem muito dinheiro. Ele provavelmente deve ter pedido ajuda para pagar isso aqui.

Meio estranho o pai dele ter aceitado. Ele te odeia por você ter "desviado a cabeça do filho dele".

Nunca o conheceu pessoalmente. Shindo disse que o velho prefere encarar um caixão lacrado do que a sua cara.

Mas seria bom se pudesse agradecer depois.

A enfermeira voltou, e teve que piscar várias vezes ao ver Katsuki vir atrás dela no lugar de Yo. A sua cabeça estava muito pesada para tentar entender quando o loiro veio na sua direção parecendo preocupado.

— Oi, [Nome]. — ele ronronou, se aproximando da cama para te observar. — Você está bem?

A moça se retirou educadamente, deixando os dois sozinhos. Você ficou olhando pra cara dele por quase trinta segundos antes de abrir a boca.

— Ela disse que o Shindo é quem tava... Pagando. — falou, estático.

— Não, ela disse que é o seu namorado é quem está pagando. — o demônio corrige parecendo bastante satisfeito. — E o seu namorado aqui sou eu.

— O quê? — fez uma cara ruim. — Você... Mentiu dizendo que a gente namora?

— Não é exatamente uma mentira. — ele choraminga com uma expressão manhosa.— Você sabe.

Você piscou várias vezes, desviando o olhar.

— Pra quem você disse que a gente namora?

— Os seus amigos sabem. — ele murmurou segurando levemente a sua mão que também tinha uma agulha enfiada para receber medicamentos. — Eles estavam lá quando eu falei.

Você jogou a cabeça no travesseiro da cama desejando não ter acordado ao afastar a mão da dele, ato que não passou batido pelo mais velho.

— Tá bom. — fechou os olhos, comprimido os lábios. — Então é você que está pagando?

— Óbvio. — o incubus agarrou a sua outra mão boa, exigindo toque físico.

Você abriu os olhos, a expressão mais suave.

— Não precisava. Era só ligar para os meus pais...

A cara de desprezo que ele fez te obrigou a calar a boca.

— Me ofende você achar que eu ia fazer isso. — Katsuki sibila parecendo emburrado, segurando a sua mão mais forte. — Que tipo de marido eu seria?

Você geralmente teria rido desse comentário, mas apenas ficou com a cara meio cansada e sonolenta o observando.

— Obrigado. — murmurou, engolindo saliva.— Eu quase não sei mais como te agradecer pelas coisas que você faz.

Ele inclinou levemente a cabeça, se aproximando mais.

— Você está bem? — o demônio perguntou passando a mão livre pela sua testa, o toque quente confortável te provocou certa culpa. — Ainda se sente fraco?

— Não, acho que não. — responde, sem tirar os olhos dele. — Eu nem... Estava me sentindo fraco. Acho que só desmaiei do nada.

— Foi o que os seus amigos disseram. — ele concorda, avaliando o seu rosto. — Mas você não parece pálido. Provavelmente vai sair daqui ainda hoje.

Continuou observando Katsuki de forma pensativa, sem muita vontade de conversar. Com as palavras de Nejire rodando freneticamente na sua cabeça.

— O que foi? — o loiro sorriu levemente, se inclinado mais. — No que está pensando?

— Em nada. — murmurou, o empurrando levemente quando o mais velho tentou te beijar. — Aqui não. Não é hora nem lugar.

— Não tem ninguém por perto. — Katsuki reclamou passando a mão pelo seu peito. — Está tudo bem.

— Alguém disse exatamente o que eu tenho? — tentou mudar de assunto, sem alterar a voz. — Sabe, eu tive fraqueza ou coisa assim?

— Aparentemente, foi só isso. — ele resolveu ser vago na resposta, mais preocupado em te convencer. — Quando eles te colocaram um soro, você já começou a melhorar.

— Por que será que eu tive isso? — perguntou prestando afeição no rosto dele. — É a primeira vez que eu tenho fraqueza, acho.

O incubus ficou te observando, a expressão carinhosa quando passou a acariciar o seu rosto suavemente.

— Mas você está bem. Deve ter sido só... — o mais velho apertou levemente a sua bochecha, tentando arrancar um sorriso. — Humanos podem ter essas coisas, mas você está fora de perigo.

Você apenas piscou, olhando pra cara dele e se esforçando para mascarar qualquer pensamento que tivesse agora.

— Tudo bem. — suspirou, desviando o olhar. — Eu só quero ir embora.

— A médica disse que vai te liberar assim que terminar esse soro, você só precisa de um repouso. — Bakugou informou tranquilo, aproximando o rosto do seu. — Você quer voltar para a minha casa?

Você piscou lentamente, sentindo sono enquanto o demônio espera pela resposta. Ergueu as mãos, tomando cuidado com a que estava com a agulha quando passou os braços fracos em volta do corpo dele e o puxou para um abraço. Katsuki não se preocupou em entender, só te abraçou de volta deitando o rosto no seu peito ao se inclinar mais.

Os dois ficaram num silêncio confortável por alguns minutos, sem serem interrompidos. Levou a mão boa até os fios loiros bagunçados e começou a fazer carinho nele, os olhos sem foco em nenhum canto do quarto.

— Bakugou.

— Hm?

— Como é o inferno?

O o incubus ia se levantar para te olhar, mas você fez mais pressão com os braços e o fez permanecer com o tronco sobre o seu.

— Depende bastante de qual inferno você está falando. — Katsuki começou num tom baixo, provavelmente por ser um assunto não muito... Comum. — Onde os condenados ficam ou os demônios?

Você franziu levemente as sobrancelhas, curioso com essa informação.

— Os condenados. — diz, ainda passando a mão sobre a cabeça dele num afago carinhoso, que estava quase o derretendo por dentro. — Como eles ficam? São torturados?

— Existem vários infernos, um para cada tipo de condenação. — Katsuki explica, ajeitando o rosto para falar melhor. — Todos os humanos cometem todos os sete pecados, mas são condenados pelos que movem seus interesses. Por exemplo, se um homem fica rico movido pela ganância, rouba, mata, engana e prejudica milhares de pessoas para chegar onde está... Ela vai para o círculo destinado aos gananciosos.

— Círculo?

— O inferno dos pecadores é composto por nove círculos, cada um para uma punição diferente. — Bakugou ergue o queixo para te olhar, te fazendo o olhar de volta. — Pense como se fosse um... Fosso. Um fosso bem fundo, com vários andares. Acho que a sua cabeça só vai chegar perto disso.

— Como assim?

— Não dá pra... Descrever nem imaginar o inferno. — o demônio comprime levemente os lábios. — Você precisa ver. Estar lá.

Era bastante interessante conversar sobre isso. Você continuou fazendo carinho na cabeça dele, para o manter parado ali.

— Então, cada circulo é para cada pecador?— perguntou, curioso. Katsuki fez que sim. — E como eles são?

— Não sei se é seguro falar disso aqui. — ele murmura meio hesitante. — É um assunto muito... Confidencial.

— Ah. — assente, desviando o olhar. — Tudo bem. Mas eu posso te fazer outra pergunta?

— Acabou de fazer, mas sim. — o mais velho sorri.

— Você tem algum parente? — questionou segurando o rosto dele.

Katsuki apenas piscou, indiferente.

— Não. — o loiro diz, fechando os olhos quando passou a mão entre os fios sedosos e macios. — O meu nascimento não foi como o seu. Eu não tenho, como posso dizer... Nem uma mãe. Nasci da energia, não de um ser vivo.

Não havia entendido porra nenhuma do que ele disse, mas piscou e fez que sim, fingindo compreender.

— Ah, entendi. — mentiu. — Então você não tem irmãos?

— Não. — o loiro nega prontamente. — Tenho apenas o Lorcan e o Fleur como minhas pragas.

Ficou observando o rosto dele, pensativo. Em como Katsuki gosta de ser vago em suas respostas.

— Eu sei tão pouco sobre você. — diz baixo, quase em reclamação.

Katsuki sorri levemente com a sua carinha meio triste, se aproximando mais para beijar a ponta do seu nariz levemente.

Era tão difícil desconfiar desse cara quando ele é assim. Estava quase ignorando totalmente o sonho com Nejire, mas o seu subconsciente preocupado não permitia.

— Quantos anos mesmo você tem? — perguntou de repente, se lembrando de uma coisa.

— Quatrocentos e noventa e dois. — Bakugou diz, parecendo curioso com a pergunta.

Você franziu a testa, ainda fazendo carinho na cabeça dele de forma distraída.

Bakugou tem quatrocentos e noventa e dois anos. Ainda vai fazer quinhentos anos.

Caralho. Ele havia dito a idade a você na primeira vez que se conheceram. Não tem nem um ano que os dois se conhecem, e estão praticamente juntos.

Mas voltando ao que interessa, Midoriya havia dito que morreu há seiscentos anos atrás. Duzentos anos antes de Bakugou nascer. Teoricamente.

Você congelou a expressão para não fazer nenhuma cara ruim para ele, já que o incubus estava te observando de volta curiosamente.

— Em que ano você nasceu? — perguntou sem tentar soar tão suspeito.

— Mil seiscentos e vinte e dois. — o incubus responde como se tivesse a resposta de cabeça. — Péssimos tempos. Eu passei muitos anos apenas no inferno antes de querer conviver com os humanos. Vocês eram umas pragas.

— Ah. — responde. — Muito obrigado.

O incubus riu levemente, esfregando o rosto no seu peito como um gato carente.

— Mas você é o meu humano. — o demônio ronrona manhoso. — Você pode ser a minha praguinha.

— Vai a merda. — resmunga arrancando mais risadas divertidas. — Safado.

— Você ama. — o loiro retruca ainda divertido. — Me ama demais.

— Ah, sai de cima de mim. — resmunga ficando nervoso com aquele assunto ao tentar o empurrar de cima de si. — Eu tô morrendo, não posso fazer esforço.

— Você não está morrendo, fresco. — Bakugou ri rouco achando da graça da diferença de força descabida dos dois. — Meu humano dramático e frescurento.

— Eu não sou frescurento. — retruca ainda tentando o empurrar apenas com a mão boa, falhando miseravelmente, dando um empurrão falho a cada sílaba. — Sai. De. Cima. De. Mim!

— Não. — Bakugou negou roubando um beijo na sua boca com aquele maldito sorriso. — Já fiquei tempo demais longe do meu marido.

— Não tem nem cinco horas. — resmunga tentando tirar aquele corpo musculoso de cima do seu sem o menor sucesso. — Nem sei que horas são. Mas você é muito carente, credo.

— Não fala assim. — ele choraminga do seu desdém te agarrando para outro abraço apertado, parecendo uma criança tristonha. — Você não ficou com saudades também?

— Não. — responde seco. — Agora me larga.

Para a sua surpresa, o loiro te olhou extremamente ofendido, praticamente chocado. Quase arregalou os olhos com a cara dele.

— Não?

— Não. — diz, sem entender. — Não deu nem tempo de sentir saudades.

Ele piscou os olhos vermelhos, te encarando como se você tivesse dito a maior crueldade já pronunciada.

— Você sim é dramático. — resmunga, franzindo a testa. — Não sabia que demônios são tão sentimentais.

— Eu não sou sentimental. — ele resmunga triste. — Você que é cruel.

— Eu te faço sofrer demais, né? — da um sorriso falso, o puxando para um abraço totalmente indiferente a gentileza. — Vem cá, meu loirinho sofredor.

— Falso. — ele resmungou baixinho sem ceder ao seu puxão. — Te trato tão bem para você nem sentir a minha falta o tempo todo.

— Poxa, eu tava brincando. — murmura com um sorrisinho. — Eu desmaiei de tanta tristeza por ficar longe de você.

— Humano cínico.

#

Quando conseguiu convencer Katsuki a que estavam sozinhos juntos a um tempo suspeito, pediu para que a enfermeira trouxesse os seus amigos, já que eles estavam te esperando esse tempo todo.

Mesmo que quisesse demais ficar sozinho com os próprios pensamentos, sorriu levemente ao receber um abraço apertado de um Kaminari quase chorando.

— Eu achei que você ia morrer. — ele resmungou agarrado ao seu corpo, te fazendo querer rir. — Desgraçado, que susto que você me deu!

— Você é dramático demais. — resmunga o abraçando de volta. — Foi só um desmaio, se eu fosse morrer não seria assim.

— Nem brinca com isso. — Ashido retruca cruzando os braços tensos enquanto te observa com a cara meio fechada. — O que diabos você teve?

— Não sei, o Katsuki disse que os médicos falaram que foi uma queda de pressão. — respondeu encolhendo os ombros quando a encarou de volta. — Deve ter sido mesmo.

Eles se entreolharam, depois voltando a te observar atentamente numa conversa silenciosa.

— Você comeu alguma coisa hoje? — Jirou questionou observando o tubo de soro enfiado no seu braço. — Sabe, no café da manhã?

— Só um pão. — mentiu, desviando o olhar.

— Que pouca vergonha. — Sero põe as mãos na cintura com uma expressão de uma mãe rigorosa. — E você tem a dizer em sua defesa?

— Tenho a dizer que a culpa não é minha. —  responde. — Eu nunca tive isso antes. Minha saúde sempre foi boa.

A cara deles não melhorou muito. Na verdade, Kyouka até franziu a testa enquanto disfarça o incômodo.

— É mesmo? — ela perguntou quase irônica. — Você fez exame de sangue?

— Fez. — Bakugou respondeu, mostrando alguns papéis do qual não havia reparado. — A única coisa que deu foi falta de ferro.

Falta de ferro? Ué.

A sua alimentação sempre foi boa.

— Ah. — a garota murmurou, pegando os papéis para conferir. — Então você só tem que comer direito.

— Mas eu como. — retruca.

— Se comesse não tinha desmaiado.

Você procurou um argumento válido, só fazendo uma cara meio ruim ao notar o que não tinha.

— Me dá essa bosta. — catou o papel das mãos dela mal humorado quando a garota se aproximou para esfregar eles na sua cara. — Eu como muito bem sim.

Katsuki baixou o olhar, mascarando uma risada besta pelo comentário.

— Ah, claro. — Mina ri sarcástica enquanto se aproxima para observar também .

Com pouco tempo lendo, notou que Bakugou estava certo. As suas plaquetas estavam consideravelmente baixas (o que foi uma surpresa) e o sangue realmente fraco. Kaminari se segurou para não rir da sua cara derrota.

— Hm. — resmunga largando o troço de qualquer jeito. — Mas eu estou muito bem. Tô ótimo.

— Eu tô vendo. — Mina retruca. — Veio parar aqui só de drama.

— Vai a merda. — responde sem a encarar.

— Bem, mas parece que ele realmente já tá bom de novo. — Sero desdenha. — A língua pelo menos tá funcionando perfeitamente.

O demônio deu uma risadinha silenciosa no canto, cruzando os braços enquanto observa você e os seus amigos começarem uma discussão inofensiva sobre a sua possível má alimentação.

Mal eles sabiam que você só come o melhor do melhor. Se é que me entende.

#

Após algumas horas esperando aquele bendito soro terminar, a médica finalmente te liberou depois de um sermão sobre comer coisas mais saudáveis e receitar algumas vitaminas.

E com a cabeça quase doendo de tanto negar os próprios pensamentos sobre isso, permitiu que Bakugou levasse todo mundo de volta para o seu apartamento já que ninguém concordou em te deixar sozinho.

— Não precisa dessa preocupação toda. — resmungou quando todos já haviam se enfiado na sua sala, assistindo televisão. — Eu tô ótimo.

— É, mas a gente tinha vindo aqui te encher o saco. — Kaminari resmunga sentado no chão. — Agora que você tá ótimo, vamos cumprir o objetivo.

Você olhou Katsuki de canto de olho, sentado do seu lado inocentemente. Ele ignorou o seu olhar de julgamento com a cara mais sonsa do mundo.

Sero havia recebido uma ligação de Shindo (até agora não entra na sua cabeça que ninguém conseguiu falar com ele) de um telefone desconhecido e tentou disfarçar o desgosto quando ele disse que estava vindo para o seu apartamento te ver.

Mas que merda.

Só que Nejire simplesmente se recusava a sair da sua cabeça. Com Bakugou ali sentado do seu lado, ficava matutando insistentemente sobre as coisas que ela disse naquele maldito sonho.

Não sabia se devia perguntar sobre isso. Nejire havia dito que não devia contar nada. Não sabe de ela realmente quer ajudar ou prejudicar quem, no lugar de falar abertamente sobre o que quer de vez no lugar de ficar atacando a sua ansiedade. 

Era para Midoriya ser mais velho do que Bakugou. Se se lembra adequadamente, ele deve ter morrido duzentos anos antes do incubus nascer — ou um dos dois estava mentindo a idade; e o mais provável mentiroso estava sentado ao seu lado. 

Se bem que Touya havia dito que Katsuki não fala sobre si mesmo, e até te encorajou a iniciar sobre esse assunto com o loiro de forma falsamente despretensiosa. 

O que será que ele esconde?

— Agora já vai dar meio dia. — Sero reclamou fuçando o controle da sua televisão enquanto procura algo para assistir. — O que vai ser o almoço?

 — É só ir na cozinha, lá tem comida. — você retrucou seco. 

— Mas você é o anfitrião. — ele reclama te olhando cismado. — Você tem que alimentar as visitas, mal educado. 

— Vou assar você então. — retruca causando uma risada baixa de Mina. — Folgado. 

— Você já tá bom, então. — ele comenta irônico. — Já pode ir esquentar a barriga no fogão. 

Você, aproveitando que ele estava sentado no chão perto do seu pé, deu um chute nas costas dele sem muita força, fazendo o moreno rir quando a agarrou a sua perna e te arrastou para fora do sofá. Os dois só não começaram uma briga birrenta porque você não tinha nem forças para isso (e o moreno sabia muito bem). 

— Filha da puta. — xinga o empurrando para longe, ignorando as risadas. — Vocês são tudo uns folgados.

— Eu posso te ajudar a cozinhar. — Katsuki propõe com certa timidez, a expressão fofa totalmente falsa. — Eu sei algumas receitas. 

— Ai, olha só. —  Jirou sorri surpresa. — O [Nome] é o único de nós que sabe cozinhar. 

Você o olhou de cima abaixo, cismado. O demônio parecia um santo comportado no sofá enquanto espera a resposta. Fez uma cara de desconfiança ao se levantar lentamente dar um aceno. 

— Tudo bem, se quiser. — concordou dando de ombros. — Mas eu não sei se tenho muita coisa.  

— Isso não é problema. — ele se levantou junto, parecendo animado.

Sem levantar suspeitas, os dois foram para a sua cozinha, com o demônio acompanhando o seu caminhar quase cuidadoso até o cômodo.

— Você realmente sabe cozinhar? — perguntou baixo, quando estavam longe o suficiente para não serem ouvidos.

— Por que acha que não? — Katsuki sorri, totalmente confortável em já sair abrindo os armários para procurar alimentos. — Eu tenho cara de ser um playboy que não sabe fritar um ovo?

— Com certeza. — responde arrancando uma risada discreta.

Os dois estavam conversando baixo sobre qualquer coisa que não seja o tal almoço. Katsuki decidiu fazer uma espécie de batata rústica e mais algumas coisas do qual não fazia ideia, então se propôs a apenas descascar as batatas e observar.

Pegou todos os ingredientes que ele mandou seja na geladeira ou nos armários, seguindo as instruções do demônio.

Agora, ele estava usando roupas próprias. Uma camisa de botões branca — bem arriscado para cozinhar —, que ele subiu as mangas até um pouco acima dos cotovelos. E meio apertada, já que os músculos do corpo ficavam marcados embaixo do tecido claro e uma calça social escura. Estava se perguntando onde será que ele estava com essa roupa.

Com os dois lado a lado na pia, conseguiam conversar baixo sem muitas interrupções, apenas com Kaminari vindo vez ou outra xeretar o que estavam fazendo.

— Você largou o Lorcan e o Fleur sozinhos novamente? — perguntou com os olhos focados na ação de cortar a casca amarela das batatas. — Os dois não causam bagunça?

— Não. — ele respondeu cortando as que você já havia terminado. — No máximo ficam se xingando.

— Ah. — assentiu, vez ou outra olhando para ver se tinha alguém se aproximando. — Você sabe o que eu tenho?

— Como assim?

— Eu sei que já perguntei, mas você não consegue ver... Exatamente por que eu desmaiei? — questionou fingindo genuína curiosidade.

— Acho que não consigo ir tão longe. — Bakugou murmura sem muito interesse.— Mas você não comeu direito hoje. E ficou andando comigo a manhã inteira, deve ter sido isso.

— Hm.

— Está sentindo alguma coisa? — ele perguntou te lançando um olhar de canto.

— Não. — negou com um suspiro. — Agora não. Tá tudo bem.

— O encosto vai vir para cá, não é? — o loiro desdenhou quase com raiva. — Vou botar veneno no prato dele.

— Se for pra colocar, deixa que eu mesmo boto. — resmungou o fazendo te olhar surpreso.

— Sério?

— Não.

Katsuki praguejou inconformado.

— Você é muito é corno. — o demônio chiou fazendo ser a sua vez de o encarar.

— Mas o chifrudo endemoniado de verdade não sou eu. — rebate.

— Mas o corno é você.

— E você...

— Ainda vai demorar muito? — tomou um susto com a voz de Mina atrás de si, quase arrancando um dos próprios dedos com a faca. — Sabe, o Denki já está para comer o próprio sapato.

— Não, só mais alguns quinze minutos. — Katsuki diz se dirigindo ao fogão, onde já havia algumas panelas fervendo e deixando o apartamento todo com um cheiro tentador. — Tá quase pronto.

— É. — concorda quase tão animado quanto ela. — Também tô morrendo de fome.

É verdade. A sua barriga roncava vez ou outra pela tortura de mexer com comida estando com fome. Ajudou Bakugou a temperar as batatas, o arroz e a salada que ele insistiu em fazer, catando algum petisco vez ou outra na geladeira.

— Onde você aprendeu a cozinhar? — perguntou, apoiando as costas no balcão. — O cozinheiro da Maria Antonieta que te ensinou?

— Foi. — o incubus concorda sorridente, parecendo se lembrar. — Mas ele tinha um cheiro muito forte de alho.

Você ficou observando as costas dele se movimentando em volta daquelas panelas tranquilamente, decidindo se devia acreditar ou não.

— Eu aprendi sozinho. — Bakugou diz, finalmente se virando depois de desligar o fogo do arroz. — Não preciso me alimentar, mas comida humana é uma delícia.

Essa parte ele disse bem mais baixinho, com um sorriso quase de criança pelo segredo. Você sorriu de volta o observando em silêncio.

Mas aí a expressão dos dois ficou mais amarga quando a porta abriu, revelando Shindo preocupado que piscou várias vezes em ver Bakugou, só depois te olhando.

— Ah, você finalmente chegou. — você cumprimentou suave, interrompendo que qualquer um dos dois abrisse a boca primeiro. — Deu sorte, a gente já fez o almoço.

— Eu fiquei preocupado com você. — o moreno chiou passando reto pelo incubus, te olhando de cima abaixo para verificar qualquer coisa. — O que foi que aconteceu?

— Eu tive... Uma queda de pressão. — responde sem fazer a menor menção de ser carinhoso, então ele teve que se forçar a não fazer nada. — Mas já está tudo bem.

— É? — Yo engoliu em seco, ainda avaliando o seu corpo. — Mas, o resultado foi esse?

— É. — assente educado. — Eu estou bem. Foi só um susto.

Mas Shindo não parecia muito convencido. A preocupação dele era quase incomum quando Katsuki se aproximou sorrateiramente dos dois com um sorriso felino.

— O almoço está pronto. — ele avisou apoiando os braços fortes no balcão, chamando atenção dos outros na sala. — E uma delícia.

— Deus seja louvado! — Kaminari ergueu os braços para o céu provocando uma risada genuína do outro loiro. — Eu não aguentava mais esse sofrimento.

Yo olhou o demônio de cima abaixo, incomodado. Katsuki percebeu o olhar e sorriu de volta cinicamente.

— Quem ficou com você lá, já que não tem nenhum parente aqui? — o moreno perguntou, te fazendo arregalar levemente os olhos.

— Eu disse que era o namorado dele. — Katsuki quase te fez desmaiar de novo pela resposta, e a calmaria toda era ainda mais irritante. — Como ninguém conseguiu falar com você, eu tive que mentir na hora, ou ele ia ter que ficar lá sozinho.

Talvez você devesse fingir outro desmaio. Se tacar no chão só para mudar de assunto.

Shindo o olhou como se ele tivesse contado uma piada de muito mal gosto, depois te olhando num misto de surpresa e raiva.

— Ah, é? — ele sibiliou piscando algumas vezes. — Por que não me ligou do seu celular?

— Eu estava desacordado. — respondeu se aproximando dele. — Vim para casa logo depois de acordar.

Você estava tão acostumado a ter Shindo tendi reações impulsivas (ou simplesmente explodindo de raiva) que era quase desconcertante vê-lo apenas suspirar contido e acenar a cabeça.

— Tudo bem. — ele acenou lançando um olhar rápido a Bakugou. — Mas, na próxima, tenta falar comigo.

— Eu espero que não tenha uma próxima. — o loiro responde simpático. — Tomara que ele não passe mal novamente.

— Vocês vão vir comer? — Mina perguntou, interrompendo o diálogo. — O Denki vai pegar tudo.

— Vai se lascar. — o citado chiou, carregando um prato de comida enorme nas mãos até a mesa. — Você também como igual um boi.

— É, você quer comer? — perguntou, empurrando Shindo até a comida para que ele saísse de perto de Bakugou. — Eu ajudei a fazer, tá uma delícia.

— Ah. — ele resmungou aceitando mudar de assunto. — Tá certo.

— O seu dia na faculdade foi bom? — perguntou, empenhado em o ajudar a fazer seu prato e sair logo de perto de Katsuki.

— O de sempre. — Shindo deu de ombros, até desconcertado com o seu jeito (falsamente) atencioso. Ele te olhou de canto e se aproximou mais para falar mais baixo. — Eu tenho que falar com você depois.

Como não foi num tom de aviso e nem potencialmente de ameaça, você não se preocupou muito e apenas fez que sim, também pegando a própria comida.

Bakugou esperou todo mundo sair da cozinha para por seu próprio prato, o que era pouca coisa. Ele provavelmente estava comendo apenas para não levantar conversa.

Graças aos céus — você sempre sente muita culpa quando usa essas expressões, aliás — o almoço foi bem tranquilo, com Shindo e Katsuki sequer trocando palavras ou comentários irônicos.

#

[Nome]

Depois de comer, meus amigos ficaram ali apenas mais um tempo, indo embora me deixando com uma pilha de louça para lavar. Bakugou também se foi junto, e eu podia sentir na voz dele o desgosto de deixar sozinho aqui com Shindo.

Não posso negar que compartilho do mesmo sentimento, mas estou até curioso para saber o que ele quer conversar.

Quando estávamos sozinhos, o moreno parecia bem calmo, apesar do encontro com o incubus aqui. Eu tinha certeza que ele ia fazer um inferno com o lance do hospital, mas Yo parece tranquilo até demais.

— Você tem certeza de que está bem? — ele perguntou quando estávamos sozinhos no sofá, assistindo televisão. — Não sentiu mais nada?

— Não. — por enquanto, não. — Estou bem. O que você quer falar comigo?

— Eu estou indo ver a minha mãe. — ele soltou me causando uma surpresa genuína.

— Ela acordou? — eu quase fiquei feliz com a possibilidade, mas a expressão dele já dava a resposta.

— Não, é o de sempre. Meu pai quer que eu vá vê-la porque agora tem mais chance de acordar. — ele suspira desanimado. — Vou passar apenas alguns dias lá.

— Ah. — passei a língua pelos lábios pensativo. — E quando você vai?

— Amanhã. — ele olhou para mim, provavelmente querendo ver se eu ia esboçar um sentimento feliz com a notícia. — Meu pai ia dar uma azia do caralho se eu não fosse.

Mascarei qualquer satisfação que essa notícia me causou. Como o pai dele me odeia, é óbvio que eu não posso ir junto nem se quisesse.

— Entendi. — respondo com um aceno. — Acha que ela pode acordar agora?

Nós nunca tocamos muito nesse assunto, mesmo antes do nosso namoro se tornar forçado e infeliz. Shindo nunca gostou muito de falar da própria família tradicional extremamente preconceituosa. Eu tenho certeza que a falta de caráter dele é hereditária.

— Não sei. — ele dá de ombros não muito interessado. — Mas tanto faz.

Eu quero muito ficar sozinho agora. Ficar a tarde todinha matutando sobre o meu sonho e surtar sozinho. Mas sei que lá no fundo também odeio Shindo perto de mim.

— Era só isso? — perguntei, notando que a cara dele estava mais emburrada que o comum.

— Foi o Katsuki que pagou a conta do hospital? — ele questionou sem demonstrar raiva na voz. — Por que ninguém conseguiu falar comigo?

— Eu nem estava consciente. — argumento desviando o olhar. — Nenhum dos meus amigos tem o seu contato, e você estava na faculdade. Mas está tudo bem...

— Não, eu só queria saber. — Shindo resmunga, quase me surpreendendo com sua calmaria. — Mas, sei lá, tente falar comigo na próxima vez.

— Espero que não tenha uma próxima vez. — respondo, notando que ele havia insinuado isso novamente. — Mas realmente não está com raiva?

— Não estou saltitando de felicidade, mas não é como se tivesse muito o que fazer. — Yo diz, e eu quase não o reconheço.

— Ah. — respondo, acenando levemente. — Obrigado por entender.

— Tudo bem.

Nós ficamos mais uns instantes aquele silêncio que fazia uma pequena alusão a ser pacífico, até eu me levantar para ir no banheiro.

— Cuidado para não capotar de novo. — o moreno resmungou quando eu já estava no corredor.

Eu entrei lá dentro com um suspiro fundo, quase endoidando. Não tive nenhum momento solitário para poder por meus pensamentos em ordem sobre o meu sonho, e isso estava quase me matando.

Tranquei a porta e me sentei sobre a tampa abaixada do vaso, observando o azulejo branco.

Vamos em partes.

Tudo bem, Nejire disse que Katsuki está me matando. Como um incubus, ele suga energias cruciais do corpo humano através do sexo e alguns casos pode até matar a vítima.

Também disse que as coisas estavam indo rápido, por isso veio me avisar. Tudo bem, ele matou a Taylah. Eu sei. Mas e Midoriya? Ele não havia morrido antes de Bakugou nascer?

Ele mentiu para mim? Sobre o que mais deve ter mentido? Por que ele não me diz sua idade verdadeira?

Também existem chances de Nejire estar mentindo. Eu tenho quase certeza que ela é um anjo, e não é segredo a ninguém de demônios e anjos são contrários a existência um do outro. E como eu e Katsuki estamos num "relacionamento" amoroso, ela viu a chance perfeita para encontrar um jeito de conseguir a tal corrente mágica e usar isso para algum plano e em troca afastar Bakugou de mim antes que ele me mate.

Ele disse que não iria fazer isso. Prometeu. E vai cumprir. 

Por isso não posso traí-lo. Não posso acreditar no que Nejire diz e nem vou. 

Mas calma, sem desespero. Como ele com certeza não vai me dizer a verdade se eu perguntar, vou apenas observar. Se eu piorar ou continuar assim, já sei o que fazer. É a primeira vez que torço para sonhar com Nejire novamente apenas para exigir mais respostas. E encontrar Touya. Talvez... Talvez ele me diga sobre Bakugou coisas que eu quero saber.

Fiquei alguns minutos lá dentro apenas pensando, decidindo se devia tomar uma ação sobre a situação.

Dei descarga no vaso apenas para fingir ter usado alguma coisa e saí de lá, ainda desejando poder ficar totalmente sozinho quando voltei para a sala e Shindo estava em pé, parecendo o inquieto.

— Eu já estou indo. — ele anunciou passando as mãos pelo bolso da calça, encolhendo os ombros. — Você está bem, né? Me liga se precisar de qualquer coisa.

— Estou. — concordo, não questionando sua decisão. — Tudo bem. Ligo sim.

Shindo foi embora, parecendo apressado. Eu o acompanhei até a porta e voltei a enlouquecer a minha própria cabeça com pensamentos que potencialmente vão me fazer ficar insano.


Notas Finais


Adivinha quem tá com covid de novo, kk.

Gente, eu juro que eu sou responsável. Mas eu precisei voltar a frequentar um monte de lugares diariamente e deu nisso 🙂 da até uma nostalgia porque eu criei e escrevi essa fanfic num surto de tédio justamente quando estava de quarentena na primeira vez que fiquei contaminada. Agora são mais cinco dias sem ver luz do sol. Mas entreguei cap firme e forte.


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