Narrado por: Rosalya Borelli
Entrei no consultório de novo. Amane fitava o nada. Me aproximei e ela não se mexeu. Sentei na cama e olhei para ela, que agora olhava fixamente para meus olhos cor de mel.
- Eu não me lembro de nada, Rosalya... - ela começou. Sua voz transmitia toda a tristeza que ela estava sentindo.
- Eu sei. Sua tia me contou tudo o que aconteceu... Eu sinto muito. - abracei ela.
- Tia? - ela desfez o abraço e franziu as sobrancelhas.
- Sim, ela falou com você hoje... Não sabia que ela eram tão parecidas. - respondi. Será que ela esqueceu até da tia?
- Rosa... Me ajude a lembrar o que aconteceu essa noite. Diga que foi só um sonho tudo que aconteceu. - ela agarrou minha mão, lágrimas escorriam pelo seu rosto.
- Eu... O médico disse que você não deve sofrer fortes emoções... Por favor, tente descansar. Você irá lembrar das coisas, apenas dê um tempo para seu corpo. - respondo. Levanto e caminho até minha mochila, que estava na cadeira. Tiro um ursinho de pelúcia de dentro do acessório - Alguém te mandou isso. - entrego-lhe o presente - Não sei quem foi, mas estava dentro de seu armário junto com uma cartinha, mas eu... eu não posso lhe dar agora. - respondo tristemente. Ela mexe no urso, talvez procurando algo.
Saio discretamente, antes que as lágrimas comecem a cair, borrando toda minha maquiagem.
☆
Narrado por: Amane Misa
Eu me lembrei de tudo menos de duas horas depois. Minha mãe realmente havia morrido... De agora em diante viverei no mesmo teto que Lysandre e Rosa, pois ela vive visitando Leigh. As pessoas - meus amigos - voltaram a falar comigo.
Me constataram que o velório dela seria na semana que vem e eu decidi que não iria. Não aguentaria ficar ouvindo os pêsames das pessoas que surgiram do nada, dizendo que ela era uma ótima mãe, que não merecia o marido. São palavras ditas em qualquer lugar... Ditas por quaisquer pessoas... Ninguém fez nada quando ela aparecia com hematomas, com a boca cortada. Não faziam nada, pois iriam sujar as mãos.
- Você vai querer que ela use algo especial? Que eu leve alguma coisa para ela? - minha tia perguntou com cuidado.
- Não. - respondi. Quando as pessoas morrem elas não levam nada.
- Meu amor... Você não quer conversar? - ela pega minha mão, fazendo movimentos circulares. Seus olhos transmitiam segurança e amor.
- Desculpe se fui grossa, mas eu realmente não quero conversar sobre isso. Só quero sair desse hospital. - reclamei.
A porta se abre e Nathaniel entra com Lysandre logo atrás. Lys cumprimenta sua mãe e os dois saem pela porta, fechando-a. Nath se senta no meu lado esquerdo e fica me olhando, deixando minhas bochechas vermelhas e fazendo meus olhos marejar.
- Não consigo nem pensar na dor que você está sentindo... - ele sussurra. Nath me puxa para um abraço apertado, passando as mãos por meus cabelos negros, enquanto molho sua camisa com minhas lágrimas - Estarei sempre ao seu lado... Mesmo que tentem nos separar.
- E-eu n-não consigo p-parar de pensar ne-nela. - falei, soluçando e tentando acalmar meu coração e parar com as lágrimas.
- Eu sei, eu sei... - ele se distanciou um pouco e beijou minha testa - Você vai superar, está bem? - eu assenti - O doutor disse que você pode ir embora amanhã, se seus machucados mostrarem uma mudança positiva e você conseguir passar no pequeno teste psicológico.
- O-obrigada... Estava precisando chorar um pouco. - me soltei de seus braços e sequei meu rosto com o lençol do hospital.
- Me chame se precisar. - ele se levanta e beija minha bochecha, depois olha fixamente para mim. Começo a ficar nervosa com sua proximidade - Prometa que não irá fazer nenhuma bobagem. - ele disse, sério.
- Suicídio? - ele assente - Nath... Eu nunca faria isso, nem nos meus piores dias.!- seu olhar se firmou e eu entendi o recado - Eu prometo. - fechei meus olhos e suspirei, notando seu afastamento.
O quarto ficou tão silencioso que podia ouvir até minha respiração fraca. Tentei colocar minha cabeça no lugar, organizar os pensamentos e dúvidas.
- Minha mãe foi morta pelo meu pai na tarde passada. Meu pai me deu 10 chicotadas. Ele está foragido. Perdi a memória durante quatro horas. Desmaiei na casa do Lys, batendo a cabeça com força, por isso estou no hospital. Minha tia é igual a minha mãe e vou morar com ela. - repetia isso, mentalmente.
Olhei para o ursinho apoiado no eletrocardiograma. Um número de celular está escrito na sua estiqueta. Meu celular está na mesinha do canto. Começo a arrastar o medidor junto comigo, me esticando para alcançar o aparelho portátil. Volto para a cama e ajeito o eletrocardiograma no lugar que estava anteriormente, foi meio difícil, pois era pesado.
Ligando o celular pude perceber que as pessoas já sabiam o que havia acontecido. Disquei o número escrito na etiqueta e suspirei, pensando se queria mesmo fazer aquilo. Coloquei o celular perto da orelha, ouvindo os "Tuuu" até alguém atender.
- Alô? - era uma voz masculina, meio manhosa, talvez eu tenha acordado-o.
- Quem fala? - perguntei, meio receosa.
- K... - ouvi uma tosse - Kentin Jacobsen, quem está falando? -sua voz está mais apresentável.
- Ah, Kentin... Queria saber o porquê do Urso. Pode me dizer? - perguntei e percebi o quão infantil eu soava.
- Er... - ele ficou silencioso por um tempo - C-como v-você pegou ele? - ele gaguejava, provavelmente estava corado.
- Rosalya achou no meu armário. Que tal a gente conversar amanhã? Todos viraram meus amigos repentinamente. Sim? - o que eu estou fazendo? Só posso ter um parafuso a menos!
- Claro. Quer que eu comunique os outros? - soltei um grunhido de assentimento - Então, tchau. - ele desligou.
Salvei seu número nos meus contatos.
☆
Narrado por: Alexy Lancaster.
No outro dia, todos se encontravam reunidos em uma rodinha sentados na grama do parque.
- Cheguei, minha linda. - cumprimentei Rosa e sentei ao seu lado.
- Que demora! - Amane revira os olhos - Chamei vocês aqui para conversar.
- Sobre? - Kim pergunta, enquanto faz cara de desinteressada.
- Vocês viraram meus amigos do dia pra noite... - Amane suspira pesadamente - Podem me explicar o que se passa? - ela olhou fixamente para Rosa.
Rosa olhou para mim, implorando por ajuda. Me mexi, desconfortavelmente.
- Não tínhamos razão em termos nos afastado de você. Acho que foi mais por ciúme. Não sei a razão disso, mas acho que tudo se ajeitou com seu... - mordi o lábio inferior - Você sabe.
Kentin abaixou a cabeça, tristemente. Kim e Viollete não estavam prestando atenção e conversavam entre si. Rosa, pelo que percebi, trancou a respiração.
- Vou indo, já. - ela levanta, fazendo com que todos olhassem para ela - Divirtam-se. - acena, indo embora pela saída lateral do parque.
Kentin a observava, meio obcecado. Confesso que senti ciúmes. Olhei fixamente para seus olhos até ele notar, Kentin me olhou e corou, me fazendo sorrir. Ficamos fazendo algumas brincadeiras (verdade ou desafio, obviamente) até escurecer.
☆
Narrado por: Nathaniel Willis.
Encontrei Amane entrando em uma livraria e decidi segui-la. Ela passava os finos dedos pelas laterais de alguns livros. Sua boca mexia rapidamente, talvez estivesse lendo os nomes dos livros. Me aproximei dela, enquanto a mesma lia as orelhas de um livro de romance policial.
- Esse livro é muito bom. - ela deu um pulinho de susto, mas sorriu ou tentou sorrir - Gosta desse gênero? - apontei para o livro.
- Que susto. - ela colocou a mão sobre o peito, tentando acalmar o coração - Respondendo sua pergunta, sim, minha mãe me emprestava alguns livros... - sua expressão ficou tensa e seus olhos marejaram.
- Ei, ei. - peguei seu braço - Não quero ver você chorando! - ouvi ela fungar, me abraçando. - Vamos, eu te dou esse livro de presente. - tirei o livro de suas mãos, para depois ir par o caixa.
- Não, Nath. Não precisa fazer isso. - ela tentou pegar o livro de minha mão, mas eu o levantei o máximo que podia, e, como ela era baixinha, Amane não conseguiu pegar - Não vale! - ela pulou, tentando pegar o livro, mas sem sucesso.
Depois de pagar o livro e devolver para ela, que ainda estava emburrada por eu ter pago, nós fomos caminhando até a casa de sua tia Lindsay Misa. Ficams conversando sobre assuntos aleatórios, até chegarmos na garagem, onde o silêncio contrangedor se instalou.
- Então... - ela começou a falar - Obrigada por ter me acompanhado. - ela se aproximou para me dar um beijo na bochecha, mas eu me virei sem querer (ou não), acabando por transforma-lo em um selinho.
Amane se afastou, totalmente vermelha, já pedindo desculpas, mas eu a calei com um outro selinho, mas dessa vez um demorado. A abracei, sentindo seu cheiro, dava para sentir que ela estava se segurando para não rir.
- Ria logo e me explique o motivo dessa risadinha. - ela explodiu em gargalhadas, me contagiando também, mesmo eu não sabendo o motivo.
- Isso é muito vergonhoso! - ela escondeu seu rosto em meu peito, ainda rindo. Beijei o topo de sua cabeça e ela se afastou.
- Até amanhã, Amane. - sorri e fui embora para casa, sem olhar para trás. Meu coração não-mais-iludido pulava de alegria.
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