Sukuna mantinha um grande bico nos lábios finos e rosadinhos, a expressão estava fechada e os bracinhos estavam cruzados. Toda essa pose era pra mostrar o quão descontente estava naquele momento. O que aconteceu foi: Gojou Satoru — ou palmito sem sal, como o Ryomen prefere o chamar — havia roubado seu melhor amigo de si!
Estavam no intervalo quando ocorreu. Sukuna e Itadori estavam brincando juntos na gangorra do parquinho da escola, mas foi só o albino chegar e logo puxou Yuji para brincar na casinha. O que mais irritou o Ryomen foi que os dois estavam brincando de "papai e mamãe", ou seja, estavam fingindo ser um casal! Aquilo fora o cúmulo para Sukuna, é a coisa mais estupida e absurda que já viu em toda a sua — pouca — existência.
Quem o Gojou pensa que é!? Ele acha que tem algum direito de roubar Itadori de si? Patético!
Até porque, Sukuna pode até ser muito reservado, não gostar de ninguém da sua sala e ter apenas, e exclusivamente Itadori como amigo, mas de uma coisa todo mundo sabe:
— O Yuji é meu! — o rosado de olhos escarlates disse enquanto encarava de longe o garotinho de quase sete anos.
Sukuna bufou e partiu em direção aquela casinha horrorosa. O garoto estava tão irado que seus passos chegavam a fazer barulho, suas pequenas mãos estavam fechadas em punhos apertados e ele pressionava a parte interna da bochecha com a língua para tentar controlar aquela raiva de alguma maneira.
— YUJI! — gritou — VEM! — puxou a mão do amigo.
— Hein? — o menor franziu o cenho e fez força pra se soltar.
— Eu quero que você venha comigo! — Sukuna bateu o pé no chão.
— Mas eu tô brincando com o Gojou! — Itadori fez uma expressão emburrada e virou o rosto.
— E dai!? — o Ryomen fez uma expressão incrédula — Você é meu!
— Lá vem você de novo com isso... — Yuji bateu com a mão na testa — Eu tô brincando de casinha com o Gojou! Quando terminar aqui, eu vou com você, tá? — ele disse já se afastando.
Sukuna piscou devagar, ele não acreditava no que acabara de acontecer. Yuji... O recusou!? Por que seu peito estava apertando de um jeito extremamente doloroso? Por que a cada lufada de ar, uma sensação extremamente incomoda lhe invadia, mas ao mesmo tempo se sentia vazio?
O de olhos vermelhos olhou para o chão e levantou minimamente a mão que segurou a do rosado de olhos cor de chocolate. Sukuna franziu o cenho ao ver algumas gotas de água molharem a palma de sua mão.
— O que...? — murmurou confuso, mas logo passou as mãos no rosto e arregalou os olhos — Por que eu tô chorando? Eu nunca choro! — bufou extremamente irritado, logo saiu dali e foi sentar atrás da casinha.
Sukuna sentou no chão de gramado artificial e apoiou o queixo em um dos joelhos, apreciando a paz daquele cantinho. Como era atrás da casinha, não haviam brinquedos ali, consequentemente, nenhum moleque irritante — na humilde opinião do Ryomen, claro.
Sukuna encarou o chão e se entreteu com uma formiga tentando carregar um pedaço de pão bem maior que ela, como consequência, o alimento caia várias vezes e a pobre formiguinha tinha que dar inúmeras pausas para pegar a lasca novamente, andar uns centímetros e o alimento cair novamente. Ele sorriu pensando no quanto aquilo lhe lembrava Itadori, porque ele certamente é teimoso e persistente igual aquela formiguinha.
E pequeno também!
Ryomen sorriu, mas logo desfez a expressão de felicidade ao lembrar-se do que Yuji havia lhe dito a poucos minutos. Seu sorriso foi morrendo aos poucos até que um biquinho triste desse lugar a ele, logo tremendo um pouquinho até que lágrimas começassem a escorrer pelas bochechas. Sukuna fungou várias vezes, ele sentia um imenso vazio no peito, seu coração batia de um jeito muito triste.
— Sukky? — a voz soou doce, seu tom era claramente de arrependimento e preocupação.
— O-O q-que é!? — Sukuna gritou brabo entre os soluços, ele apertava as pernas com força — C-Cansou do s-seu a-amiguinho p-palmito!? — a mágoa era presente nos olhos escarlates que estavam mais vermelhos do que nunca.
Yuji encarou as próprias mãos, que estavam entrelaçadas na frente de seu pequeno corpo, e suspirou triste. Ele tinha um olhar realmente arrependido e tristonho. O rosado menor deu poucos passos até o outro, seu lábio inferior tremeu violentamente quando tentou segurar as mãos do Ryomen, mas ele as afastou.
— Me desculpa? — Itadori pediu baixinho, seus olhos já ardiam por conta da vontade de chorar.
— Não! — Sukuna se levantou.
Quando o maior iria começar a andar para longe dali, o baixinho se jogou bruscamente em seus braços, fazendo com que caíssem no chão. Itadori não sentiu tanto o impacto por estar em cima de Sukuna, este que amorteceu a sua queda.
— Aí! — o mais velho dos dois reclamou pela dor não tão forte, mas bem chatinha.
— Sukky, me perdoa, por favor! — Yuji apertou Ryomen em seus braços. Lágrimas grossas já escorriam pelas bochechas coradas — Não me abandona, eu não quero te perder! Você é a pessoa mais importante do mundo todinho pra mim! O Gojou só me chamou pra brincar e eu fui, mas eu não gosto dele porque eu já amo você! — ele disse tudo muito rápido, muito desesperado pelo medo de Sukuna não querer lhe ouvir.
Itadori pode até ser apenas uma criança de seis anos, mas ele aprendeu muita coisa assistindo as novelas que seu avô sempre assistia.
— Eu sou seu! Eu sou seu, Sukky... Só seu. — fechou os olhos com força.
— O QUE!? — Sukuna perguntou eufórico.
Ele levantou rapidamente e puxou Itadori junto, segurou o rosto do baixinho com as mãos e olhou bem no fundo dos olhos cor de chocolate, que no momento encontravam-se cheios d'água.
— Você gosta mesmo de mim!? Me ama tipo... — desviou o olhar, sentindo suas bochechas queimarem de vergonha que logo tomaram uma coloração avermelhada — Tipo namorados? — voltou a encarar os olhos do menor.
— S-Sim... — Yuji soluçou.
— E você realmente é meu?
— Sim, Sukky! — ele respondeu com muita certeza para uma criança que tem apenas seis anos.
Sukuna respirou fundo e disse:
— Então tá bom, agora somos namorados! — inflou as bochechas e balançou a cabeça positivamente.
— Tá! — Itadori sorriu largo, esquecendo completamente das lágrimas que ainda escorriam.
Algum tempo se passou, mas eles continuavam naquela mesma posição, ambos encaravam os olhos um do outro até Itadori quebrar aquele silêncio.
— Sukky, eu vi numa novela que namorados se beijam. Eu posso te beijar? — ele perguntou de maneira inocente, sua expressão demonstrava a mais pura confusão.
— Beijar? Hum... — Sukuna fez uma cara pensativa — Ah, eu acho que sim né. — deu de ombros — Se namorados se beijam, então a gente também!
— Tá bom, lá vou eu! — o baixinho sorriu determinado, mas logo revirou os olhos quando viu o outro garoto parado igual um espantalho — Sukuna. — ele chamou neutro, mas a careta emburrada denunciou tudo — VOCÊ TEM QUE SE MEXER, IDIOTA! — chutou a canela dele.
— AÍ, AÍ, AÍ! — o Ryomen reclamou — Por que fez isso!? Namorados não se batem! — apertou a ponta do nariz de Yuji, logo gargalhou alto porque a pontinha do nariz ficou tão vermelha que ele ficou parecendo um palhaço.
— O que é? Quer brigar!? — fez uma posição de ataque.
— Hein!? Claro que não! — deu um peteleco não testa do menor.
— Olha Sukuna, você não tá sendo um bom namorado, viu? — bufou fazendo um biquinho emburrado e cruzando os braços.
— É claro que eu tô sendo! Que culpa eu tenho de você ser burro!? — Sukuna dizia indignado.
— Burro é você, ô porco espinho! — se referiu ao cabelo arrepiado do garoto.
— Gnomo! — retrucou.
— Porco espinho!
— Alpinista de calçada!
— Porco espinho!
— VOCÊ JÁ FALOU ISSO TRÊS VEZES! — o de olhos escarlates berrou — Sério Yuji, você é realmente muito bur-
Yuji calou a boca do Ryomen com um beijinho. Foi tão rápido que não deu tempo nem do garoto de cabelos rosados e arrepiados raciocinar direito, ele só parou de gritar de repente ao sentir os lábios macios de Itadori nos seus. Foi uma sensação muito boa, mas que fez Sukuna se sentir estranho.
Seu estômago parecia que estava revirando todinho e seu coração caiu, deu uma cambalhota e bateu tão rápido quanto um flash. Sukuna piscou devagar, levemente atordoado e sentindo seu rosto inteiro queimar. As bochechas coraram violentamente.
— Gostou? — Itadori perguntou curioso, mas também com muito medo de que Sukuna não tivesse gostado.
— S-Sim... Podemos fazer de novo? — coçou a nuca.
— Gostou tanto assim? — sorriu tão largo que seus olhinhos se fecharam, pareciam mais com dois risquinhos.
Sukuna sorriu encarando a expressão suave do garoto a sua frente, seu peito estava quentinho de tanto amor e alegria.
— É, não foi ruim. — assobiou enfiando as mãos nos bolsos da bermuda.
— Eu sei que você gostou tanto quanto eu, bobinho. — Itadori saiu saltitando dali antes que Sukuna lhe puxasse para a sua morte: uma série de cócegas sem parar.
Sukuna revirou os olhos enquanto sorria abobado, Itadori realmente era muito idiota, mas bem... Ele é o seu idiota, porque sim
Você é meu!
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.