Sou indecisa, mas, dessa vez, tenho certeza
Espero não ser a única que sente tudo isso
Você está se apaixonando?
~ Break My Heart. Dua Lipa
Zayn Malik
— Estou ansiosa. — diz Emma apertando os dedos.
— Eu também. — responde Lie.
Para ser sincero, até eu estava. Mas confio em Barbara e sei de seu potencial.
Duas patinadoras já tinham competido, e do pouco que entendo, suas pontuações foram altas, apesar da primeira ter se saído melhor e mesmo assim eu não lembrar o nome dela.
— A Barbie não parece a Odete do lago dos cisnes, Zayn? — pergunta a garotinha e involuntariamente abro um sorriso.
Sim.
Ela poderia facilmente passar por qualquer princesa dos contos de fada, mas principalmente pela Odete do lago dos cisnes. Dançando maravilhosamente com toda firmeza que uma bailarina deve ter, e ao mesmo tempo com a delicadeza que apenas os cisnes possuem.
Cisne.
Isso me trazia lembranças ótimas.
Sou tirado dos meus pensamentos assim que uma voz ecoa por todo o lugar anunciando a garota que eu mais queria ver competir.
Não evito de abrir um sorriso orgulhoso ao vê-la entrar no rinque com seu vestido preto curto – vestido o qual ela achou que eu estava reclamando. Quer dizer, eu realmente não fico lá muito feliz por ser tão curto assim, sabendo quantos olhares masculinos eram atraídos até ela.
Barbara é linda.
Mais que isso, nunca vi alguém tão maravilhosa quanto ela, e tenho certeza que apesar de ela não ter baixa auto estima, também não tem noção do tanto da sua beleza.
E o mais incrível é que não era apenas isso que me atraía nela.
Nunca foi.
Sempre foi seu jeito. Sempre foi a forma como ela me mudava sem exigências.
Me fazia – tão sem propósitos – querer ser alguém melhor. Todos os dias.
E isso é sem dúvidas uma das coisas que eu mais admiro em Barbara Palvin.
— Vai Barbie! — grita Lie e Em me fazendo voltar a atenção para a pista.
Uma melodia instrumental clássica começa a tocar e Barbara sem demora começa a se mover no ritmo dela.
Ela logo faz um jump.
Sim, eu pesquisei um pouco sobre suas manobras e descobri que existem passos obrigatórios nessa competição.
Sua expressão era neutra, assim como todas as outras patinadoras que já vi.
Aparentemente, isso também é uma regra.
Não basta fazer os passos; todo seu corpo deve estar sincronizado com isso.
Me imaginei em um campo de futebol, fazendo um gol e ter que lembrar de sorrir ao mesmo tempo.
Fala sério.
Para mim seria uma piada.
Para ela… Perfeito.
Cambination Spin. Que nada mais era que um giro em um pé só, onde o corpo dela ficou perpendicular, ou seja, em forma de T e ela gira em uma sequência de spins com posições diferentes.
Uma salva de palmas é ouvida assim que ela termina os giros.
"— E agora senhoras e senhores, o salto obrigatório mais esperado do momento: Loop Jump!".
A voz grossa esclarece e presto ainda mais atenção.
Demorei alguns segundos para me dar conta que esse salto era o que ela pularia e daria voltas no ar até aterrizar no chão.
Era incrível.
E assustador olhando daqui.
Sempre admirei a forma como as patinadoras – principalmente Barbara – aterrizada com completa plenitude depois de fazer algo tão complexo.
E eu já a vi fazendo esse salto, várias vezes em seus vídeos.
Quando menos percebi minhas mãos estavam suando de ansiedade por ela desde a hora em que colocou os pés no gelo.
Esfrego-as na calça a tempo de vê-la pegar o impulso necessário e girar no ar. E o minuto seguinte pareceu acontecer completamente em câmera lenta à minha frente.
Barbara caiu.
Ela caiu.
Nunca a vi cair desse modo!
Não pareceu ser por descuido, eu vi exatamente quando seu tornozelo torceu ao tocar no chão e tenho certeza que teria ouvido seu grito se a música não estivesse tão alta.
Me coloco de pé instantaneamente ameaçando ir até ela.
Barbara apoia as mãos no chão e permanece de cabeça baixa até decidir levantar. E acho que eu não estava respirando.
Já vi isso antes.
Quando cai, tem que fingir que esta tudo bem.
Mas ela não conseguiu.
Não conseguiu porque assim que tocou o patins direito no chão de novo ela caiu mais uma vez.
Porra.
Dou alguns passos perdidos para longe e ouço a voz de Charlie me chamar.
— Vem, Charlie! Emma! — chamo saindo pressado das fileiras — não tão as pressas como eu gostaria, já que não podia perder as crianças de vista, mas assim que cheguei a entrada do rinque fui barrado por um homem de uniforme preto.
— O senhor não pode entrar! — avisa.
— O que?! Preciso ver se ela…
— São ordens. Por favor mantenha distância da pista.
Minha vontade era descer o homem na porrada, mas isso pioraria, principalmente para Barbara que eu tenho certeza que não gostaria nenhum pouco.
Sem demora um dos médicos a colocam em uma maca e a trazem para fora.
— Barbie! — chamo, mas eles a levam rapidamente para o lado de fora do rinque em direção a uma ambulância que já estava estacionada ali perto. Como um idiota sem saber o que fazer apenas sigo-os e vejo as lágrimas descerem pelo seu rosto.
Caralho.
Não.
— Barbie! — chamo de novo, mas ela ignora e eles a colocam sentada dentro do automóvel antes de saírem para fazerem alguma outra coisa, aproveito a deixa e me aproximo dela, parando ao seu lado. — Você está bem? Está doendo muito? — mais lágrimas caem antes de ela assentir.
Eu não sabia o que fazer.
— Vai ficar tudo bem. Os médicos vão…
— Eu perdi, Zain. — soluça. — Eu perdi a chance de entrar para o mundial.
— O que? Não! Não tem nada a ver, você vai…
— Eu posso ter fraturado sério. — me corta soluçando.
Aperto os lábios nervoso antes de fazer a única coisa que eu podia, dizer palavras de consolo, embora eu me sinta um bosta falando isso para ela sendo que eu não tenho a mínima ideia da situação do tornozelo.
— Confia em mim. Vai ficar tudo bem. — toco minha mão em sua bochecha, tentando secar o excesso de lágrimas, mas Barbie a afasta. Ela não me encarou segundo nenhum.
E apesar de ser um grande idiota as vezes, sei que agora não é o momento certo para perguntar o motivo.
— Todos prontos? — pergunta um homem de branco. Paramédicos.
— Sim. Eu vou com ela. — respondo.
— Eu sou a treinadora, eu vou com ela. — interrompe Marianne, eu nem sabia que essa mulher estava aqui.
— Nem fudendo…
— Zain! — Barbie interrompe, e a princípio penso que era por conta do palavriado, mas depois vejo que ela olhava algo atrás de mim. — Você tem que ficar com a Emma e o Charlie. — diz antes de abaixar a cabeça de novo.
Droga.
Eu esqueci.
— Você vai ficar bem sozinha?
— Ela não está sozinha, Malik, está comigo e toda a equipe médica. — rebate a treinadora e eu provavelmente encontraria algo para retrucar se os homens não tivessem subido na ambulância e fechado as portas, levando a garota para longe de mim.
Depois de alguns segundos em êxtase me viro vendo Charlie e Emma parados na porta do rinque.
Porra.
Eu simplesmente abandonei eles.
Você é um ótimo responsavel, Malik.
— Vem vamos pra casa.
…
— Porque ela não chegou até agora? Ela vai ficar bem, não vai? — pergunta Emma sentada em sua cama.
Eu estava fazendo-a tomar seus remédios e já fazia mais de duas horas que a competição tinha chegado ao fim. Pelo menos para nós.
Eu estava nervoso pra cacete, mas eu não podia simplesmente abandonar as crianças aqui e ir para o hospital. Merda, nunca quis tanto que Taylor estivesse aqui.
Barbara poderia me mandar pelo menos uma mensagem, mas não. Nada.
— Vai ficar sim. Ela deve… — ter fraturado o tornozelo sério. Oh, não. — Daqui a pouco ela chega. Vá dormir, Em. Deve estar cansada.
A garotinha obedece tentando se ajeitar ao lado do irmão que já dormia na cama de casal e eu arrumo o travesseiro.
— Zayn. — sussurra enquanto eu a cobria e só murmuro um "hnm?" em resposta — Eu sei que não é um momento legal, mas mesmo assim eu estou me sentindo muito feliz de estar aqui com vocês.
Solto um sorriso fraco agachado ao lado da cama.
— Está mesmo? — assente.
— Charlie me disse que é bom pertencer a alguém, e eu nunca entendia. — isso chama minha atenção. Pertencer a alguém.
Emma e Charlie nunca pertenceram exatamente a alguém. E eu queria fazer o que pudesse para fazê-la se sentir assim. Me inclino depositando um beijo em sua cabeça e apago o abajur deixando assim apenas a luz do corredor para clarear o ambiente.
Deixo uma fresta aberta e caminho até a sala esfregando a nuca.
Porra, eu precisava de notícias da Barbara.
Jogo o celular no sofá e deito a cabeça nas costas dele encarando o teto. Era agoniante.
Ouço algumas batidas na porta e não demoro para levantar. Será que é ela?
É a primeira coisa que penso.
Mas não; assim que abro a porta vejo uma garota morena extremamente familiar que arregala os olhos ao me ver.
— Zayn?! — exclama surpresa.
— Hã… Sara? — ela pisca algumas vezes.
— Eu ía perguntar o que faz aqui, mas é claro, você está com a Barbara. — da uma batidinha na cabeça como se tivesse esquecido.
— Hã… É, eu vim vê-la competir. — ela assente parecendo pensar.
— Eu queria ver como ela estava. Ela já voltou?
— Não. Ainda não. — respondo — Não sabia que se conheciam.
— Estamos tendo o mesmo treinador. — assinto.
— Entendi. — permanecemos em silêncio até uma ideia passar em minha cabeça — Ei, está ocupada agora?
— Hã… Não. Porque?
— Pode ficar com a Emma e o Charlie para mim ir ao hospital? — ela arregala os olhos levemente e depois os franze.
— Emma e Charlie?
— São duas crianças que trouxemos. Eles são super de boa e já são estão dormindo, é só ficar com eles.
— Hnm… Ai meu deus. Tá, é, acho que sim. — solta uma risada nervosa — Não pode ser tão difícil.
Graças a Deus.
Pego meu celular e minha carteira invertendo de lugar com a morena, ficando no corredor.
— Se a Emma por acaso não se sentir bem me liga na mesma hora. — ela assente e eu ameaço já ir, mas antes me lembro de um outro assunto — Você… Hã, contou a ela sobre…
— Não. — interrompe.
Bom.
— Pode não contar? — acho que não seria exatamente uma boa ideia se Barbara souber.
— Eu já nem ía. Não se preocupe.
Barbara Palvin
— O que?! — pergunto boquiaberta.
— É isso mesmo, senhorita Palvin.
— Qua… Quanto tempo eu vou ficar com isso? — faço ele repetir, não pode ser serio.
— De três a quatro semanas. E depois mais algumas de fisioterapia. Nada de exercícios bruscos por um bom tempo.
— Não! — grito — Não, não da. O campeonato mundial é daqui poucos meses, não rola. Eu preciso competir. — o homem de jaleco branco entrelaça os dedos sobre a mesa à sua frente e abaixa a cabeça antes de me responder.
— Você tem sorte de não ter ocorrido uma lesão ainda pior. Poderia ficar até seis meses com o gesso. Foi uma pequena fratura que precisará de poucas semanas e isso é algo bom.
— Bom? — pergunto — Como eu vou competir? Mari diz pra ele! — me viro para Marianne que estava na cadeira ao meu lado completamente sem reação.
Eu poderia estar soando infantil agora.
Mas isso não importava.
Tanto tempo. Tantos ensaios e sonhos.
Todos quebrados. Partidos. Estilhaçados. Acabou? Não consigo aceitar. Não nasci para aceitar.
— Estou apenas fazendo meu trabalho, senhorita Palvin. — Sim, eu sei que a culpa não é do médico. Mas eu estava desesperada.
Todos os meses treinando.
Toda uma vida treinando para chegar no campeonato mundial.
Pra chegar agora e fraturar a droga do tornozelo.
— Vamos, Barbara. — chama Marianne e me sinto sem chão.
Até ela sabe que acabou. Ela aceitou.
E eu também teria.
Depois de receber todas as instruções dos médicos, eles simplesmente me colocaram sentada em uma cadeira de todas alegando que seria mais confortável eu chegar no carro assim.
Eu estava longe de me sentir confortável.
Estava longe de sentir qualquer coisa.
— Você não entendeu, eu preciso ter informações sobre essa paciente. — ouço a voz que tanto conhecia e por uma fração de segundos percebo Zain conversando com a recepcionista na entrada do hospital. Acho que ele me viu, aliás, tenho certeza, porque parou de conversar e veio até onde estávamos imediatamente.
— Barbie! Barbie, como você está?
— Como acha que ela está, Malik? — pergunta Marianne rudemente e antes que começasse uma dissuasão me manifesto. Estavamos todos com os nervos à flor da pele.
— Será que podemos simplesmente ir pra casa? — eles ficam em silêncio e o homem vestido de roupas brancas, a qual o nome desconheço, continua me empurrando para fora do hospital.
Haviam dois carros estacionados em frente. Dois táxis.
— Ela pode ir comigo agora, estamos no mesmo apartamento. — diz Zain para Marianne que arqueia uma sobrancelha me encarando.
Eu não responderia nada agora.
— Tudo bem por você então, Barbara? — apenas assinto e ela segue para o primeiro taxi.
— Aqui. — diz o enfermeiro me estendendo duas muletas que minha treinadora me arranjou.
Engulo em seco encarando-as, percebendo que elas ficarão um bom tempo comigo agora e sinto vontade de chorar.
É como um lembrete que tudo está acabado.
Zain pega as muletas e eu pisco algumas vezes tentando me recompor, ele abre a porta de trás do carro e quando eu estava pronta para tentar me colocar de pé ele larga as muletas nos bancos e passa os braços por minhas pernas e costas, levando-me para lá também.
Zain me coloca delicadamente no banco e eu fecho a porta.
Foi um ato gentil, mas não pude deixar de me sentir como uma inválida.
Eu estava irritada, e não era exatamente com ele. Sei que ele não teve culpa, mesmo sendo por sua causa que alguém decidiu roubar meus patins e fazer ameaças.
Eu estava irritada com tudo.
…
— Eu levo você. — declada ele assim que abro a porta do carro e coloco meus pés para fora.
— Não. — estendo a mão pedindo as muletas assim que ele para à minha frente. — Se vou ter que andar com isso é melhor acostumar logo. — murmuro colocando-as embaixo dos meus braços e com dificuldade fico em pé.
Sem dúvidas era questão de prática, mas isso era algo chato de se usar.
Eu ainda usava as roupas do campeonato e tudo estava me incomodando, a não ser meu cabelo, que eu soltei no carro deixando-os livre por meus ombros.
Dou alguns passos lentos e ouço Zain pagar o motorista e logo depois, ele arrancar com o automóvel. Já era quase meia noite e a rua estava pouco movimentada. Assim que me aproximei do hall de entrada me dei conta o quanto essas coisas são incômodas e o quando dói os braços. Ignorei o olhar do porteiro e segui o mais rápido que consegui – o que ainda era devagar –, para o corredor lateral onde ficava o elevador. Zain não dizia nada ao meu lado e eu não sei o que se passava em sua cabeça, mas nesse momento também pouco me importava. Quando as portas se abrem avanço em direção a ele, no entanto, por puro descuido bato um dos apoios na porta, me fazendo perder todo o equilíbrio que tentava manter. Zain leva suas mãos a minha cintura, me mantendo em pé e aperto seus braços em uma tentativa de me segurar.
Droga.
Empurro o corpo de Zain bruscamente, me abaixando no chão e buscando novamente as muletas, mas me falta força e equilíbrio para levantar, portanto, apóio as mãos no chão e sinto as lágrimas que eu tanto segurava brotarem.
Uma inútil.
É isso que estou me sentindo agora.
Nem me manter em pé sem a droga de um amparo eu consigo, quanto mais me recuperar disso e voltar a competir. Acho que ouvi as portas se fecharem atrás de mim, mas não me importei e continuei na mesma posição, isso até sentir Zain se abaixar também e levantar meu corpo pelos pulsos com delicadeza, mas firmeza.
— Você não precisa lidar com tudo sozinha, Barbie. — sua voz soava séria e determinada — Quero ajudar você. — diz por fim e abaixo a cabeça.
Não estou exatamente em uma situação de negar, então apenas assinto com a cabeça e no segundo seguinte Zain joga as muletas para fora do elevador e me pega no colo como uma criança completamente chorosa.
Quando finalmente chegamos ao apartamento, Zain da duas batidinhas e me dou conta de algo: Ele deixou as crianças sozinhas?
Ele não poderia ter feito isso!
Minha confusão se vai assim que Sara abre a porta do apartamento e arregala os olhos.
— Ai, meu deus, finalmente vocês chegaram! — droga. Eu não queria ver ninguém agora.
Zain me coloca no sofá antes de sair para provavelmente pegar as muletas e Sara para a minha frente.
— Como você está? — pergunta.
— Bem. — minto, forçando um sorriso. — Só tenho que usar isso por um mês e depois fazer fisioterapia. — seus olhos se arregalam, sim, sei exatamente o que passou na cabeça dela.
Campeonato mundial.
— Quem venceu o europeu? — pergunto.
— A Russa, Sotnikova. — assinto. Ela era mesmo incrível.
— E em segundo? — seus lábios se reprimem e ela desvia o olhar constrangida. Entendo na mesma hora quem foi — Parabéns. — desejo e estou sendo sincera. É claro que queria ter ganhado, ou pelo menos não ter me machucado, mas estava feliz por Sara.
— Desculpe. — pede sem me encarar nos olhos.
— Por ser uma patinadora incrível? — ironizo. — Não tem porquê.
Ela morde os lábios apreensiva antes de olhar para algo atrás de mim, sigo seu olhar, Zain estava parado na porta nos encarando enigmático.
— Bom, já vou indo então. — diz e se levanta me dando um abraço — Melhoras, amiga. — deseja e eu assinto.
Logo depois ela se despede de Zain e ouço a porta ser fechada. Suspiro e ouço os passos do moreno se aproximando.
— Acho melhor eu ir dormir. — ameaço me levantar.
— Hey. — chama se agachando a minha frente. — Acidentes acontecem. Não pode se culpar por isso! — É, acidentes acontecem. Mas isso não foi um acidente.
Concordo em um gesto de cabeça me apoiando no chão com o pé esquerdo, mas faço um ruído de dor assim que o faço. Zain franze o cenho instantaneamente. — O… — abaixa os olhos para o pé esquerdo. Sim, o que eu fraturei foi o direito. Ele leva as mãos até meu pé, retirando os sapatos e fecho os olhos sabendo que não teria muita explicação para o que ele veria.
Zain arregala os olhos no mesmo instante.
— Barbara… O que… — meu pé estava repleto de bolhas de sangue. Tudo por culpa dos patins apertados e dos passos que tive que fazer com eles. — O que aconteceu? Porque está assim?
Mordo os lábios.
— Eu… Eu competi com patins novos. — suas sobrancelhas se franzem.
— E pelo visto não podia. — murmura — O que aconteceu com os seus?
— Sumiram. — decido ser sincera e sua expressão fica ainda mais confusa.
— Patins não somem do nada, Barbie. O que aconteceu? — engulo em seco.
— Não sei. — minto. Ele suspira antes de se levantar.
— Espera aqui. — não sei onde foi e também não quis perguntar. Apenas me recostei no sofá e deixei o silêncio preencher o ambiente.
Mas não durou muito, logo Zain apareceu com uma bacia de água na mão e uma caixinha de primeiros socorros, se sentou no chão a minha frente e deixou a bacia abaixo dos meus pés.
— O que está fazendo?
— Já lidei com isso por conta das chuteiras. — explica segurando meu pé e o repolsando dentro da bacia com água morna. Era relaxante, isso até Zain passar o sabonete nele e eu sentir dores. — Desculpa.
Não respondo nada e apenas aprecio o toque delicado de Zain. Tão delicado que eu duvido que o mundo imaginaria ser possível vindo de Zayn Malik, e pela primeira vez depois de ter tomado consciência que estava tudo acabado, tive vontade de sorrir; por menor que fosse o sorriso.
Ele pega uma agulha e levanta o olhar para mim, assinto com a cabeça dando permissão. Nunca tive medo de agulhas, mas tenho certeza que fiquei mais nervosa do que em todas as vezes.
— Obrigado. — agradeço assim que ele volta para a sala depois de ter guardado tudo e colocado gase nas feridas.
O que obtenho em resposta é um pequeno sorriso e ele se senta ao meu lado. Apóio minha cabeça em seu ombro e me permito descansar por um tempo.
— Qual foi seu motivo? — pergunto me lembrando que ele disse que contaria porque não foi na carreata.
— O que? — fica em silêncio até parecer lembrar — Ah... Não acho que seja um bom momento.
— Por favor. — peço e ele suspira, aparentemente se rendendo.
— Eu ía te contar depois do campeonato. — se tudo tivesse saído certo.
— Ainda da pra contar. — insisto e ele fica em silêncio por mais um tempo.
— Fui convidado para participar da copa do mundo. — me desescoro de seu ombro encarando suas orbes castanhas avelãs.
— É sério? — pergunto e ele assente. — Zain, isso é incrível! Você finalmente vai realizar seu sonho, sempre lutou tanto por isso. Assim como… — eu.
Ops.
Bom, eu estava extremamente chateada por ter me machucado e isso ter prejudicado completamente o mundial, mas estava muito feliz por ele.
— Parabéns, Zain. Eu sabia que você seria incrível. Desde a época da escola. — ele permanece me encarando por algum tempo, antes de desviar o olhar e negar com a cabeça.
— Então porque não me sinto assim? — pergunta.
— Como assim?
— Porque não me sinto… Incrível. Diante deles é como se eu nunca fosse suficiente apesar de fazer milhões de gols em uma partida. — pisco rápido.
— Isso está vindo mesmo do cara que se designou um fenômeno a semanas atrás? — ele bufa.
Realmente.
Eu duvido quem, em alguma circunstância da vida, não dê ouvidos para os fãs, haters e paparazzis.
Eu não estava com cabeça para pensar em uma respostas, mas eu não precisei. No mesmo instante uma coisa que para mim pareceu óbvio ecoou em minha mente.
— Talvez porque você parou de fazer por amor. — ele franze as sobrancelhas — Sabe… Fazer porque é o que ama fazer, e não por dinheiro, fama ou pensando na manchete do dia seguinte. — ficamos um bom tempo em silêncio, com ele apenas me observando como se eu fosse uma coisa completamente estranha e enigmática.
— Você é incrível, sabia? — dispara.
— O que? Por que?
— Porque você torceu o tornozelo a poucas horas e descobriu que tem que dar bye, bye, ao campeonato da sua vida e, mesmo assim, está aqui, me aconselhando a melhorar minha vida medíocre enquanto nem sabe o que fazer da sua. — eu poderia ter ficado ofendida, mas algo no seu tom de voz mostrava que ele simplesmente estava jogando as palavras que sentia ao vento como se eu realmente fosse enigmática e indecifrável, e por isso solto uma risada.
— Que bom que um de nós dois é então, porque, sinceramente, se eu dependesse das suas palavras motivacionais teria me jogado da janela do prédio agora mesmo. — ironizo e ele acaba por rir.
— Desculpa. — pede.
— Tudo bem. — murmuro. — Acho que vou dormir. Não aguento mais essa roupa. — declaro após algum tempo.
— Posso te levar para o quarto? — sua voz era baixa e rouca, mas pela primeira vez não ouvi malícia ou segundas intenções em sua frase.
— Preciso aprender a andar com isso. — aponto para as muletas encostadas na poltrona.
— Só hoje. — pede e reviro os olhos.
— Tudo bem, mas você pode simplesmente me ajudar e não me levar como se eu fosse um bebê. — ele ri, assentindo e se coloca de pé. Assim que eu faço igual, Zain não cumpre sua promessa e me pega literalmente no colo. Pela terceira vez no dia.
— Hey!
— Qual seria a graça, daí? — ironiza e eu reviro os olhos.
…
Por incrível que pareça não dormi tão mal quanto imaginei. Isso porque acordei com uma nova perspectiva.
Eu ficaria quase um mês com essa tala e depois faria fisioterapia o que me deixaria com dois ou três meses para o mundial. Talvez. Se eu tivesse sorte.
Eu ainda tinha chances.
Sim. Nunca vi alguém se recuperar tão rapidamente para sair fazendo piruetas e calhambotas, mas tudo bem, eu seria a primeira se precisasse.
No fim, eu posso até não conseguir.
Mas eu tentaria.
E daria meu máximo.
Termino de vestir a blusa e sorrio ouvindo as conversas na sala de Emma, Charlie e Zain. Eram assuntos aleatórios que eu não estava prestando a devida atenção, a não ser quando ouvi algumas batidas na porta da sala. Mas também não dei bola, pelo menos até ouvir Charlie perguntar: "Uma carta?".
Não me toquei na hora, demorei alguns segundos para imaginar que tipo de carta seria, e quando o fiz, demorei mais que o comum para pegar as muletas e cruzar o corredor até a sala.
Tarde de mais.
Zain já lia com a testa franzida e sua expressão não muda ao me ver.
— O que "Eu avisei que deveria ficar longe da Barbara" significa? — pergunta ele.
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