Você É o Único
Você é o único com quem sonho todos os dias
Você é o único em que sempre penso
Você é o único que me faz comportar
Meu amor é seu amor, seu amor é meu amor
Querido, eu te amo, preciso de você aqui
Me dê todo o tempo
Querido isso está predestinado a acontecer
Você me pegou, sorrindo o tempo todo
Porque você sabe como me dar
Você sabe me puxar de volta
Quando estou fugindo, fugindo
Tentando escapar de amar você
Você sabe como me amar com força
~ You Da one. Rihana
Zayn Malik
— Você? — franzo as sobrancelhas ao abrir a porta do meu quarto após ouvir batidas e encontrar Gigi parada ali.
— Eu. — dá de ombros, entrando sem sequer pedir permissão. Empurro a porta e encaro a loira.
— O que faz aqui? — ela olha tudo ao redor, antes de se virar e sorrir.
— Amanhã é o grande jogo. Achei que poderia querer um pouco de companhia.
— Estou bem. — sou sincera. Ela revira os olhos e caminha até uma mesinha no quarto, se sentando.
Suspiro, arqueando as sobrancelhas e continuando meus afazeres. Colocar tudo que eu precisaria dentro da mochila para amanhã.
— Esta ansioso?
— Um pouco. — muito. Pra caralho. Acho que nunca estive tão nervoso.
— Saí com suas irmãs hoje. — não respondo, apenas deixo que fale, porque, eu sabia que ela falaria mais. Gigi é uma pessoa muito falante. — Adorei elas. Sua família toda, na verdade. Espero que tenhamos mais oportunidades de passar tempo juntos.
— Não sei. — sou sincero — Depois da final eles voltam pra casa, e eu, pra Londres.
— Mas como sua namorada, devo vê-los de novo.
— Depende. Não somos namorados de verdade e isso não vai durar muito tempo. — pela primeira vez não obtenho resposta imediata, e por isso me obrigo a encará-la, estranhando completamente o silêncio repentino. Ela observava o chão pensativa. — O que foi?
Ela ergue o olhar, arrastado, então nega como se não fosse nada.
— Acha que logo acabara o contrato? Simon parece feliz com isso.
— Simon não vai ditar minha vida. Não vou ficar nessa farsa por muito tempo, logo se verá livre de mim Jelena Noura Hadid. — brinco, chamando-a pelo nome completo e solto uma risada, mas ao contrário do que imaginava, ela não ri.
— Não está sendo tão ruim. Quer dizer, não pode ser tão péssimo assim fingir que é meu namorado. — tomba a cabeça para o lado. Onde ela quer chegar?
— Não, mas… Hã… Nós brigavamos bastante.
— No começo.
— Sim, bem, de qualquer forma, não é legal mentir para as pessoas. Nossos fãs e o mundo inteiro. — ela assente, e eu me sento na cama.
— A menos… Que deixasse de ser uma farsa. — franzo o cenho, confuso. Gigi fica de pé, caminhando até mim devagar.
— Do que está falando?
— Você não sente? — Franzo as sobrancelhas e ela se senta ao meu lado, afundando ainda mais o colchão.
— O que?
— Qual é, Zayn? Não somos crianças. Não se faça. — mas eu não estava me fazendo, e normalmente não era tão lerdo assim — O que rola entre a gente.
Franzo as sobrancelhas.
Oh, não.
Eu realmente não esperava isso dela, nós brigamos muito, mas achei que estávamos sendo amigos e só.
— O...olha, Gigi, eu…
— É que... Eu gosto de você. — declara. Simplesmente declara, me surpreendendo e então, ainda mais simples, aproxima os lábios dos meus rapidamente.
Sou pego de surpresa, confesso.
Quase me afasto, quase, porque depois de quase dois meses foi uma sensação boa.
Foi boa porque, se eu fechasse os olhos eu poderia fingir que era outra pessoa aqui. E com essa ideia, puxo o corpo da garota para mais perto do meu, e franzo o cenho.
Intensifico mais o gesto e o beijo, tentando ver se, dessa forma, as coisas poderiam ficar mais emocionantes. Mais arrebatadoras. Não.
Não tinha frio na barriga. Ou a emoção de beijar a garota mais linda da festa no ensino médio. Ou a empolgação de saber que eu consegui fazê-la finalmente ceder a mim mesmo que ela tenha um noivo ridículo.
O beijo do lago em Bradford estava mais quente. E nós estávamos literalmente congelando naquela água. Então me dou conta de como eu consegui dormir com tantas garotas nesses anos apenas sentindo essa chata falta de emoção.
"Nunca vai existir mais ninguém e você sabe disso!". Gritei para ela na sacada do meu quarto, eu sabia, pelo menos.
Quebrei o beijo bruscamente me colocando de pé, porque, um: não tinha graça alguma, e, dois, não era justo com ela.
Mas assim que olhei para a loira, vi que ela, muito provavelmente, sentiu a emoção que eu não senti.
Gigi mordeu os lábios, desviando o olhar e sorrindo.
Porra.
— Desculpe, eu não deveria ter correspondido. — sua expressão vira o oposto, e ela se levanta.
— O que? — murmura.
— Foi impulso, mas… — nego com a cabeça. Ela parece chocada.
— Foi tão ruim assim pra você?
— Não. — sim — Não é isso é que… É que… Eu… Eu acho que você confundiu as coisas. — eu parecia piorar a situação a cada palavra. — Olha, não é você tá, legal?
Ela solta uma risada irônica.
— Claro, com certeza. Está me chamando de idiota, burra ou aluscinada? Eu sei que tinha algo entre nós, Zayn! — o que? — Eu vi na maneira com que me puxou na festa, que me olhou… Eu vi!
Festa?
Suspiro derrotado ao lembrar.
A festa na primeira noite delas aqui, em que eu estava com Harry, Niall e Louis e puxei Gigi o suficiente para grudar seu corpo ao meu, mas a verdade…
— Olha, você entendeu errado. Eu… Eu queria provocar uma pessoa. — confesso, eu queria provocar Barbara por deixar Rúrik tão perto dela. — Eu não queria te deixar com um sentimento errado, eu só achei que saberia que tudo era farsa.
— Então me usou?
— Nós meio que estávamos usando um ao outro o tempo todo por esse contrato. Não achei que…
— É a Barbara, não é? — sua voz áspera me corta. Ignoro, atordoado e me viro. — É ela, não é?! Sempre achei que tinha algo entre vocês. Sempre achei que tivesse, mas acreditei quando ela me disse que vocês não tinham nada. Como eu fui burra!
— Não temos nada. — respondo — Ela não quis ficar comigo e eu…
— O que? Ela desprezou você? Está dizendo que está me desprezando por alguém que não quer nada com você? Uau. Estamos na mesma, então.
— Olha, é complicado, tá legal? Mas ela não mentiu para você.
— Está mais preocupado em garantir a imagem dela limpa do que com você mesmo! — constata — Puta merda, Zayn. Eu não achei que fosse apaixonado por ela. Você não liga pra ninguém, pensei que eu… Que eu conseguiria…
— Foi mal, Gigi. — eu estava sendo sincero. Porra, eu nem queria essa bagunça toda.
Ela fica em silêncio, e eu fico em silêncio.
Eu mataria Simon por me colocar em uma situação dessa.
Depois de um bom tempo, sua voz ecoa de novo.
— Eu sei que isso vai soar ridículo… E vai me fazer parecer uma mal amada ou qualquer coisa do tipo, mas… — ela respira fundo algumas vezes — Porque ela? Porque… Porque não pode ser eu?
Sua pergunta não tem uma resposta imediata.
Na verdade, era uma boa pergunta. Gigi era inteligente, engraçada, gata pra caralho e uma ótima pessoa, no entanto… Não tem uma boa explicação.
— Gigi, olha… — tento começar da melhor maneira, me virando para ela. — Você é uma pessoa incrível, é muito linda, tem uma personalidade de fazer qualquer cara babar e é completamente dona de sí. Mas a verdade é que… Sempre foi ela. — decido, de última hora, ser o mais sincero possível em relação a Barbara — Sempre foi ela desde que a conheci na escola. Ela é a garota que faz eu perder o ar, que faz eu ver o mundo ganhar sentido e todas essas bobagens. E você… Você é parecida com ela, acho que por isso eu briguei da maneira que costumávamos brigar, que eu acabei beijando você e curtindo sua companhia.
Ela ouvia tudo atentamente.
— Eu… Eu não entendo. — sua voz estava trêmula.
— Desculpe. Não quis dar essa impressão a você. Essa esperança de… De que algo pudesse…
— Eu não sou boba, Zayn. — declara — Não sou uma garotinha fantasiosa.
Eu não sabia onde ela queria chegar.
Mas deixei.
— Sei que não está apaixonado por mim, mas… Mas não vejo porque não pode começar.
— Desculpe. — murmuro.
— Porque? Porque se... se eu sou parecida com ela e tudo isso que você falou porque não posso ser A Garota?
Desvio o olhar.
— Porque eu sou o que sou hoje por ela. Porque ela nem sabe, mas faz parte de quem eu sou. Porque ela me fez crescer, me fez ser melhor. E era ela quem esteve comigo no meu processo e o problema da maioria das pessoas é esquecer quem esteve com você no seu processo quando você alcança o sucesso. Não deve ser assim. E não é assim. Eu não quero e não consigo colocar outra pessoa no lugar dela. É ela. Sempre foi ela. Ela esteve comigo antes disso tudo — aponto para tudo ao meu redor, representando minha carreira, vida, luxo e tudo que tenho — E é ela que eu quero que esteja quando acabar.
Quando volto a encarar a loira percebo uma lágrima descer por sua bochecha e incrivelmente me sinto péssimo.
Gigi não merecia isso, ela era uma garota fantástica e ninguém escolhe se apaixonar, embora eu não queria que tivesse sido por mim.
— Me desculpe. — peço de novo, ela limpa a lágrima e coloca as mãos nos bolsos, nervosa, antes de assentir com a cabeça e dar algum passos para trás. — Gigi…
— Não. Tudo bem. — ela afirma, mas não estava, e então simplesmente sai do quarto apressada. Consigo me sentir péssimo como nunca com o que aconteceu e coço a nuca. Eu já tinha passado por isso antes, mas... Foi diferente.
Como você foi idiota, Malik.
A culpa foi minha, na verdade, usei Gigi para tentar fazer ciúmes à Barbara e acabei criando uma esperança completamente equivocada.
Suspiro, me deitando na cama e ficando um bom tempo assim. Incomodado pra cacete. Tentei me concentrar repassando os esquemas táticos do jogo de amanhã, mas eu não estava mais ficado ali. E quando, depois de longas horas, vi o relógio marcar mais de uma da manhã meu corpo se levantou praticamente sozinho.
Segui caminho até a porta, fechando-a atrás de mim enquanto cruzei o corredor, sem saber exatamente o que estava fazendo. Não tinha nenhuma movimentação.
Engulo em seco parado em frente a porta do quarto de Barbara e coloco minha mão no leitor digital. Era algo errado ter acesso ao quarto deles e eles nem saberem, mas como foi eu que consegui o quarto foi imprescindível que eu tivesse esse privilégio. Não que eu pudesse me conter.
A porta destrava e eu empurro devagar, o quarto estava escuro, a não ser agora pela luz que entrava pelo corredor. Vejo pessoas na cama e entorto os lábios ao ver a cena de Barbie e Lie dormindo abraçados. Ela estava encolhida e envolvia o garotinho com os braços, e ambos estavam mais na beirada da cama, o que me faz agachar ao lado e simplesmente encarar o rosto sereno da garota.
Ao lado das duas pessoas que mais amo nesse mundo agora.
Da garota que eu sou apaixonado.
Meu peito se aperta, eu daria tudo que tenho para ter os dois em meus braços.
Alguns fios caíam em seu rosto, mas como sei que ela tem um sono leve, não poderia tirar com o risco de ela acordar.
Não me contenho.
Quando menos percebo meus dedos deslizando por sua bochecha apenas o suficiente para arrastar os fios, e como eu esperava, ela se meche na cama. Sua mão, que até então estava fechada, desliza para o lado de fora e se abre, revelando dois pingentes.
Os pingentes que eu dei. Eu os seguro antes que caiam no chão de madeira, fazendo um barulho que faria todos acordarem. Para minha surpresa, o patim estava meio aberto, e eu termino de fazê-lo.
Somos como os cisnes, um do outro eternamente.
Isso me trazia uma boa lembrança. Uma vez nós assistíamos juntos um documentário que disse que um casal de cisne é um casal até o fim, e até mesmo se um deles morre o outro não se envolve com um outro par. Por isso a frase, e eu não fazia ideia desde quando ela sabia que o patim se abria, mas sorri feito um bobo.
Sorri porque além disso, ela estava segurando os colares que eu dei. Que eu dei.
Outra esperança surge.
Porque ela faria isso se não gostasse de mim?
Pouco me importa o que os outros dizem, o que ela me disse, eu a quero tanto que chega a doer.
Então me lembro da forma como ela não me afastou de seu corpo ontem quando a luz acabou e eu, encarecidamente, sem vergonha alguma, a toquei. Porra. Depois de mais de dois meses foi a melhor coisa.
"Mas eu não amo você."
A lembrança do dia me agonia. Ela pareceu sincera, muito sincera, mas então…
"Não. Não, meu amor. Você não é idiota, você é incrível!" ela falou na ligação quando estava na África, e as palavras "meu amor" pareceram tão naturais. Tão verdadeiras.
Eu não sabia o que estava acontecendo, mas tinha algo de errado.
…
— Conor puxou sua orelha ontem? — Niall pergunta quando entramos no elevador do hotel a caminho do ônibus.
Finalmente era O Grande dia.
A final da copa do mundo.
E eu não podia negar que estava nervoso pra cacete.
— O que? Hã, não… — respondo. No treino de ontem, Conor pediu para falar comigo assim que acabou, mas não foi uma repreensão.
"— Algum problema? — pergunto — Desculpe por ter retrucado com você na última partida. Você é o capitão. — peço, lembrando-me da seminifinal onde discordei de sua opinião.
— Não se desculpe. Você estava certo, é disso que precisamos no time. Na verdade, quero dizer que você é um jogador excelente, Malik. — sorrio agradecido, vendo a chuteira fincar na grama a cada passo que dávamos. — Você tem um ótimo futuro. E tem tudo para ser uma dos maiores jogadores da história.
Fico surpreso por tamanho elogio.
— Obrigado, de verdade. Espero chegar ao seu nível algum dia. Perfeito, sem arrependimentos. — ele nega com a cabeça.
— Tenho orgulho da carreira que construí. — sorri orgulhoso — Mas tenho arrependimentos.
Franzo o cenho.
— Zayn olha — sua mão toca meu ombro firmemente quando paramos de andar —, não sei o que estava se passando, mas no último jogo você estava distraído. Com a cabeça longe.
— Eu sei. Vou deixar tudo fora do campo amanhã.
— Não. — sua resposta me pega de surpresa — É possível, e o mais recomendado, mas não o que eu acredito. As coisas para resolver, sim, deixe para depois, mas os sentimentos… As coisas mais importantes, guarde dentro de você. É o que dão força, Zayn.
— Achei que a força era pensar na Inglaterra. Em nós mesmos.
— Por essa linha de pensamento perdi muitas pessoas nessa caminhada, é um dos meus arrependimentos, sabia?
— Mas sua carreira foi incrível.
— No entanto, aqui estou, na minha última copa. — apesar do sorriso, eu percebia que parecia doloroso. — O que eu quero dizer é que o que realmente dá forças são as coisas que mais amamos. Você ama o futebol, mas se tiver outros amores, faça por eles também. Você vai ver como se dedicar para o que você ama te dá mais combustível. — poderia parecer apenas um discurso motivacional, mas fazia todo sentido.
Assinto com a cabeça.
— Jogue com tudo, Zayn. — declara, e a força em sua voz poderia estremecer uma torcida inteira — Jogue com tudo que tiver dentro de você. Verá que será um dos momentos mais fascinantes da sua vida, e não será para sempre.
— Obrigado, Conor."
— Porra, estou ansioso pra cacete. — Niall resmunga ao meu lado e a porta se abre, ao sair, acabo dando de cara com Gigi que parece envergonhada.
Sorrio para ela, parando em sua frente.
— Tudo bem? — ela assente.
— Sim. Eu… Posso falar com você um segundo?
— Encontro você daqui a pouco. — Niall avisa e eu concordo. Eu e a loira damos uns passos até a sala de espera.
Ela esfrega as mãos na calça antes de começar a falar.
— Queria pedir desculpas pelo o que aconteceu ontem.
— Tudo bem. Já passou.
— Eu sei, mas… Não quero que pense que eu… Que eu… — ela nega com a cabeça como se não soubesse exatamente o que dizer. — É que depois eu parei pra pensar, e meio que entendi melhor. Desculpe por ter confundido tudo. Não vou ser um empecilho pra você, eu gosto da Barbara e espero que possa ser sua amiga. — sorrio ao ver seu nervosismo e o quanto ela estava sendo sincera, dou um passo à frente dando-lhe um abraço.
— É claro. Me desculpe também. — ela retribui, e parece haver um alívio entre nós dois.
— Faça um bom jogo, Malik. — ela se afasta e eu concordo — Que seu ego sirva para alguma coisa. — solto uma risada revirando os olhos.
— Pode deixar. Vou mostrar mais uma vez o quanto eu sou incrível. — é sua vez de revirar os olhos. Ao me virar, vejo Barbara cruzar a porta com Charlie ao lado, ela nos vê, mas rapidamente desvia o olhar. Porque está assim de novo? Não que tenha mudado, mas… Não nos falamos ontem e nem depois da queda de luz. Era agoniante.
— Sabe… — Gigi irrompe o silêncio — Eu acho que ela gosta de você. — bufo, ajeitando a bolsa no ombro.
— Eu realmente não sei.
— Bom… — dá um passo para frente até bater o ombro com o meu — Seja homem e descubra.
— É bom ter uma amiga. Mas você é chata pra cacete. — ela solta uma risada nasalada.
— Por isso que você me ama, Malik. — ironiza e então eu caminho até o ônibus. Mas uma figura corre até mim antes que eu pudesse entrar.
— Zayn!!! — Charlie grita me fazendo sorrir. — Boa sorte hoje! Você vai arrasar.
Dou-lhe um abraço, em passos lentíssimo Barbara se aproxima, com Waliyha ao seu lado.
— Boa sorte, mano. A mamãe está dando um ataque no restaurante. Não vai falar com sua família seu desnaturado?
Olho ao redor, boa parte do time já se encontrava dentro do ônibus, cercados por uma multidão de repórteres e torcedores do lado de fora, mas eu ainda tinha uns cinco minutos.
— Tudo bem.
— Então vem. — sai em disparada com Lie atrás, mas eu não vou. Ao invés disso encaro a loira na minha frente que parecia ter a atenção em qualquer coisa sem ser eu.
Diga alguma coisa.
Até a merda de um simples boa sorte.
Eu estava agoniado.
Não é possível que ela esteja tão estranha apenas pelo acontecido a duas noites. Porra.
— Não vai me dizer nada? — pergunto.
— Sua família está te esperando. — sua voz é fria, mas não grossa. Uma raiva irritante cresce em meu peito.
Como sou idiota por amar alguém que não me ama.
Dou-lhe as costas, e é quando sua voz sai baixa e grave.
— Boa sorte hoje. — não foi a melhor das motivações, mas para mim, por hora, foi pelo menos o suficiente.
…
Brasil vs Inglaterra.
Era o que ecoava em todos os cantos do mundo nesse momento e… Caralho. O jogo havia começado a quinze minutos e estava difícil pra cacete.
Não que os outros times fossem ruins, estavam longe de ser, mas apenas ao pisar em campo que me dei conta de todo o peso da final da copa do mundo.
Cada jogador era excepcional e nós estávamos preparados para isso. Para o que não estávamos preparados era o acidente logo no início da partida.
Tenho certeza que cada pessoa assistindo em qualquer lugar do mundo congelou ao ver a estrela da Europa rolar pelo campo ao trombar com um jogador do time adversário.
Era comum, acontecia sempre, mas não ao ponto de não se levantar.
Foi isso que aconteceu com Conor.
Ele simplesmente puxou a perna direita para cima e gruniu de dor, me aproximei dele mais rápido que os paramédicos.
A dor era visível a cada traço seu, mas eu não podia culpar exatamente o outro jogador. Não pareceu proposital, apesar de ter ganhado cartão amarelo. Os médicos checaram sua perna rapidamente e eu tinha a impressão de ver um osso fora do lugar. A visão me agoniou.
Um dos médicos negou com a cabeça e então colocaram Conor em cima da maca branca.
Oh, merda.
Justamente nosso capitão!
Foi nesse momento que basicamente o time inteiro ficou nervoso. Ao longo vi Niall socar a mão uma na outra e Louis levar as suas a cabeça.
É claro que não estávamos despreparados, mas seria mil vezes melhor com o capitão aqui.
— Desculpem. — ele pede ao se ajeitar na maca, e então, em surpresa, me chama com um gesto de mão. Me abaixo ao seu lado. — Comande.
Levei mais que o esperado para processar a informação.
— O que?
— Comande. — repete.
— Lucke vai fazer isso. Foi o que preparamos. Ele é o segundo.
— Dane-se o que preparamos. Eu quero você. — sua voz era firme, apesar das leves caretas pela contusão. Seu último jogo arruinado.
— Mas Conor… — tento argumentar — Eu… Eu não estou pronto, é minha primeira copa e…
— E? Que jogador é você? Você nasceu pronto, Malik. Você é o melhor jogador que tive o desprazer de conhecer. Melhor que eu. — seu tom era risonho, mas sério e convicto.
Eu não era melhor que ele.
Não mesmo, mas a certeza em sua voz fazia cogitar a ideia.
— Assuma. Isso é seu. — as coisas pareceram ter ficado mil vezes mais tensas para mim.
— Mas e você? — é então que ele encara a perna machucada antes de abrir um sorriso devagar.
— Eu? — ele estufa o peito — Tive a melhor carreira do mundo. — parecia orgulhoso, apesar de desapontado — Não planejei isso, mas nem tudo sai como planejamos. Cabe a nós liderar o próximo jogo. Agora é seu jogo. Ganhe essa copa, Zayn. É uma ordem! — apesar de nervoso, tenso e ridiculamente com medo. Sorrio, com a certeza que mais pareceu uma careta, e assinto.
— Pode deixar.
Criando coragem de todos os poros, ajeitei a postura e caminhei de volta aos bancos. O time me olhou, esperando por uma ordem, mas nada saiu.
— Pois bem, temos um problema, mas…
— Mas estamos prontos. — corto o treinador e engulo em seco. Caralho, estou liderando o último jogo da copa do mundo no meu primeiro ano — Treinamos para isso. Conor era incrível, mas nós também somos. Quero que Lucke assuma o ataque junto comigo e Louis pegue o lugar de Conor. A defesa tem que estar fechada e os alas prontos para recuar e atacar sem parar. Em hipótese alguma deixe a defesa livre — declaro para os dois jogadores responsáveis —, do ataque nós cuidamos. Vocês sabem o esquema.
Eles concordam, e minha atenção sobe até algumas arquibancadas acima, onde minha família, meus amigos e ela estavam.
A força que eu precisava.
— PELA INGLATERRA! — grito.
— PELA INGLATERRA!
E por vocês.
…
Quando o apito soa de descanso, minhas mãos se apoiam nos joelhos. Eu estava exausto, e o relógio dava ainda três minutos de jogo.
Três míseros minutos para desempatar um cinco a cinco, se não cairia nos pênaltis.
Voltei para as arquibancadas e dei minhas últimas táticas, mudanças, e a cartada final que eu precisava que funcionasse.
A marcação do Brasil parecia impenetrável, assim como sua defesa. Era, de longe, o jogo mais difícil que estávamos tendo. Nunca deixamos para os últimos segundos, é fase para alimentar a tensão final dos filmes, no entanto, às vezes, acontece na vida real também.
Era absurdo, mas havia três jogadores focados apenas em mim. Era impossível fazer qualquer coisa desse jeito.
Quando o apito soou, o jogador dez do outro time saiu com a bola, e não demorei para ir atrás. A bola brincou nos pés de dois jogadores sul-americanos antes de cair em posse européia. Dois minutos.
Chutei para cima, aos pés de Louis, que passou imediatamente para Lucke, encarregado de fazer o gol final. No entanto, os jogadores que me marcavam levaram menos que milésimos para alcançar eles e fecharem seu avanço. Lucke se viu perdido e seu último passe foi lançar a bola em minha direção. Como se eu pudesse resolver alguma coisa a meio campo de distância.
Porra.
Porra.
Quando vi estava correndo até a bola.
Menos que um minuto.
Não pude ver com certeza.
Alcancei a bola antes que outro jogador brasileiro e olhei para frente.
Oito jogadores na frente da ala do gol, sendo três meus. Eu estava longe demais.
Longe demais.
Não tinha como conseguir.
Meu plano falhou.
Não fui um bom capitão.
"— Obrigado por me apoiarem. — digo a minha família assim que recebi o convite para entrar na escola Realizing Dreams.
— Sempre te apoiaremos, querido."
"— E se eu acabar falhando? — Barbara solta uma risada. Era a primeira vez que eu me abria para alguém sem ser minha família, mas de algum jeito, essa garota parecia arrancar tudo de mim. Escoro minhas costas na prateleira da biblioteca da escola.
— Só falha se desistir."
Meus olhos se cemicerram.
Tudo aconteceu em menos de um segundo. É incrível como nossa mente é rápida para dispertar lembranças com gatilhos.
Senti um jogador se aproximar por trás e foquei mais uma vez no canto superior esquerdo da trave a meio campo de distância.
Só falha se desistir.
Ajeitei o pé, e chutei.
Acho que foram os segundos mais torturosos da minha vida.
O goleiro saltou, ele pegaria minha bola.
Mas errou.
Caiu.
A bola invadiu a trave.
O apito soou.
Meus lábios se escancararam.
Parei de respirar.
Meus parceiros de equipe começaram a correr e acho que nunca ouvi uma torcida tão forte.
Demorei mais cinco segundos para finalmente abrir o melhor sorriso e tomar consciência do que aconteceu.
Ganhamos.
Ganhamos.
A copa do mundo é nossa!
Meu time correu até mim. Pulamos. Gritamos. Eles me erguerem sem sequer me darem tempo de dizer que éramos um time e eu não merecia maior privilégio.
Tive certeza que nunca, jamais, esqueceria desse momento.
Os gritos.
A torcida.
Os aplausos.
Fleches.
As luzes fortes.
Os fogos de artifício decorando o céu americano acima de nossas cabeças.
A sensação de saber que o mundo inteiro estava vendo isso.
— IT'S COMING HOME!
— FINALMENTE!
— ESTÁ VOLTANDO PRA CASA! — depois de anos sem uma vitória, a taça voltaria para seu país de criação do jogo. Eu não estava raciocinando direito.
Mais gritos.
Eles me colocam no chão.
Foi a maior emoção da minha vida.
— IT'S COMING HOME! — gritamos juntos, em um círculo mal feito no meio do campo, então, completamente feliz corri para longe do time em direção as arquibancadas.
Alguns estranharam, não era todos os jogadores que corriam até as famílias agora. Mas eu corri.
Foi por eles.
Por eles que cheguei aqui. Que alcancei tudo que alcancei. Que joguei hoje.
Subi as escadas ouvindo gritos ensurdecedores em minha direção e tudo que eu podia fazer era sorrir feito um bobo aluscinado.
Olhei mais uma vez, na primeira fileira estava meu pai, minha mãe, Charlie, Gigi, Barbie, Taylor e Harry, nessa ordem respectivamente, enquanto o resto da minha família estavam na fileira de trás.
Subi os últimos degraus vendo os sorrisos orgulhosos em seus rostos e adentrei a primeira fileira.
Passei por uma família que eu não conhecia e alcancei a minha, acho que Harry colocou a mão em meu ombro e disse alguma coisa, mas não prestei atenção.
Ao invés disso, em um ato rápido, puxei a loira pela cintura e grudei meus lábios aos dela.
Ouvi uma multidão de vozes em exclamação, mas ignorei. Assim como ignorei as luzes, o time lá embaixo, os fogos, e as milhares de câmeras que mostrariam a cena para o mundo inteiro.
Apenas fechei os olhos e a beijei... e Barbie correspondeu.
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