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História Zero - A lacuna deixada pelos pedaços de Baekhyun


Escrita por: Meliorismo

Notas do Autor


macacos me mordam viu!

Capítulo 3 - A lacuna deixada pelos pedaços de Baekhyun


 
 

Sehun não usava mais óculos.  

Se houvessem lhe perguntado naquele mesmo dia em que Chanyeol o beijou e o socou logo depois, lhe chamando de veadinho e outras coisas ruins, o que ele gostaria de fazer da vida, teria lhes dado uma resposta totalmente contraditória ao que sua vida tinha de fato se tornado. Agora, sentado no parapeito da janela de um apartamento pequeno o suficiente para se sentir invadido cada vez que alguém além de si estava lá dentro, não sabia pôr em palavras o que havia acontecido naquela lacuna de tempo entre o dia do beijo e o dia de hoje.  

Chanyeol era a mesma pessoa. Absolutamente a mesma, e talvez a única coisa que mudou nele foram as pernas enormes que ganharam alguma forma e as sardas que se espalhavam cada vez mais rápido pelo rosto. Sehun decidiu que ele ficaria melhor se fosse ruivo, e por mais falso que um oriental ruivo e sardento pudesse parecer, ficou bem nele. Bem de um jeito que o fez se sentir em ordem consigo mesmo, coisa que não acontecia com muita frequência.  

Depois daquele dia, e do sopro que Sehun deu na vela com os lábios meio ensanguentados pelo soco de Chanyeol, entraram em algo. Como um dos acordos silenciosos que sempre entravam, acabaram naquela coisa sem nome que mantinha Sehun enjaulado como um passarinho. O frio vinha junto com a noite que engolia todo o céu lá fora, e ele não se sentia preparado para entrar no quarto e vestir uma peça de roupa que fosse, mesmo que todos os seus poros estivessem sensíveis com o vento que insistia em bagunçar tudo.  

Havia sido chutado de casa quando os pais descobriram que além de ser um completo vagabundo, Sehun ainda era veado com Chanyeol, o menino escroto que havia dado fim no único garoto bom que ainda vivia em Chinatown. Ele conseguiu um emprego bem meia boca no mesmo lugar que o amigo, mas Chanyeol fora promovido e pediu para que Sehun não trabalhasse, já que agora ele teria condição de bancar uma vida mais decente pros dois. Eram amigos. Amigos.   

Era isso que Chanyeol sempre dizia quando estavam em lugares públicos. Na frente de mulheres que ele queria comer, ou na frente de pessoas que ele queria impressionar. Sehun se mantinha em silêncio para não morrer. Eram amigos quando Chanyeol procurava por seus dedos embaixo das cobertas, ou quando dizia aquelas coisas que vinha de dentro da alma. Quando não lhe deixava sair ou quando Sehun parecia feliz demais com outras pessoas. Quando Chanyeol aparecia bêbado o suficiente para aceitar o que tinha dentro de si.  

Eram amigos hoje quando ele vinha aos tropeços de dentro do quarto e sentava em uma poltrona em frente a janela que Sehun estava como se apreciasse a mais bela obra de arte já produzida pelo homem.  

“Acho que eu tô ficando doido.” Chanyeol constatou em um sorriso meio torto. Sehun não sorriu. 

“Você sempre foi doido, não é nenhuma novidade.” Ele disse se voltando novamente ao trânsito fluido daquelas bandas no subúrbio. Há muito haviam saído de Chinatown porque Chanyeol alegava ter lembranças demais ali e ambos sabiam o que ele realmente queria dizer com aquilo. “Achei que tivesse dormindo.” 

“Sabe que eu não consigo dormir se tu não tiver na cama.” Eis uma das coisas que mesmo sabendo que era um fato, Sehun tinha consciência que em outro caso, que Chanyeol não estivesse meio grogue, ou que não tivesse acabado de foder (ou os dois) ele não falaria em voz alta. “E já passou da meia noite. Hoje eu não vou conseguir dormir.” 

Era verdade. O corpo de Chanyeol sempre agia inconsciente e no dia vinte e três de julho ele não dormia mais. Ele não ia trabalhar e nem saía de casa. Nos doze anos seguintes depois do sumiço de Baekhyun, Sehun o vira agir assim todos os anos. Já fazia tanto tempo que estavam naquele apartamento que havia uma crosta de cera no parapeito que não saía nem mesmo com faca. A mania de organização de Sehun lhe revirava inteiro por dentro quando ele via aquela cera dura destoando no parapeito limpíssimo. Ela não saía, e com o tempo lhe restou se conformar e pensar que aquela foi a forma que o maldito do Baekhyun encontrou pra estar sempre entre eles. Escorregou até ficar de pé e foi até a cozinha em busca de uma caixa de velas. 

“Tu ainda anda daquele jeito que eu odeio porque fico pensando que vai cair.” Ainda ouviu a voz grave e preguiçosa de Chanyeol conversando consigo mesmo.  

“Eu nunca caí.” Sehun disse mais alto da cozinha. 

“Mas e se caísse?” 

“Tenho quem me segure.” Ele disse, voltando a sala com uma vela entre os dedos pálidos. Chanyeol se impressionava com a capacidade que ele tinha de apenas ficar nu; não era como se incomodasse, pelo contrário, mas ele apenas invejava a segurança que Sehun parecia ter nele a ponto de ficar completamente exposto. 

Ela estava acesa, e o silêncio se instalou. Sehun levantou para apagar as luzes, já que aquele era o único momento em que Chanyeol se abria sobre diversas coisas em um ano inteiro. Se não quisesse olhar em seus olhos, tudo bem, mas ele ao menos precisava ser ouvido. Quando o breu engoliu os dois corpos e Sehun ouviu um suspiro cansado, sabia que deveria fechar os olhos e deixar Chanyeol derramar sua alma em palavras. 

“Você acha que eu matei ele? Você acha que ele morreu?” 

“Você sabe bem o que eu acho disso tudo, Chanyeol.” 

“Eu ainda me sinto culpado por ele nunca mais ter voltado.” 

“Tu gosta de mim?” Sehun interrompeu a linha de pensamento destrutivo que Chanyeol estava formando dentro da mente com uma pergunta que nunca havia feito antes nem para si mesmo. Quando ele respondeu, a vela já estava na metade. 

“Eu gosto de ficar perto de ti. Parece que eu acostumei e não consigo pensar em fazer alguma coisa que tu não esteja metido.” 

“Mas tu gosta de mim do mesmo jeito que tu gostava dele?” 

“Eu ainda gosto dele.” 

“Tudo bem.” 

“Sehun...” 

“É sério, Chanyeol, tudo bem.” Chanyeol sabia que havia feito merda porque um tudo bem sempre significava que alguém na conversa estava em frangalhos e esse alguém quase sempre era Sehun. 

“Eu te acho bonito. Tipo, muito muito bonito que eu fico impressionado toda vez que eu te olho. E eu fico com medo que alguém melhor que eu apareça por isso eu quero que tu fique aqui dentro.” Sehun ainda estava em silêncio então ele resolveu continuar. “Porque eu nunca vou conseguir arrumar outra pessoa que nem você e eu sei. E eu fico com medo. Eu sei que eu sou um bosta e me desculpa Sehun mas eu gosto tanto de ti.” 

“Tu sempre diz que eu sou teu amigo.” 

“E não é?” 

“Só isso?” 

“Eu...” Chanyeol não estava acostumado a ser afrontado daquele jeito. Ele sempre teve ciência do poder que Sehun tinha de revirar cada uma daquelas coisas escondidas, chafurdando e trazendo o cheiro podre que emanava da alma de volta até as suas narinas. Suspirou forte e audível. “Não quero que a gente viva desse jeito errado. Tu sabe. Eu não quero ser assim e nem quero que tu seja. Não quero isso pra gente Sehun. Não quero ser veado.” 

“E o que tu quer que eu faça então quando tu entra no nosso quarto de noite querendo me beijar? Com a gente dividindo a mesma cama, a mesma vida, tudo? Como é que eu vou ficar, e a minha cabeça?” 

“A gente não devia ser assim Sehun.” 

“Mas a gente é. A gente é nós desde quando? Eu nem sei e tu também nem sabe. Se eu não posso ser nada além de amigo eu também não vou ser teu amigo Chanyeol.” 

“Sehun...” Sehun se levantou bruscamente e foi até o quarto deles, abrindo o armário e vestindo qualquer roupa que não lhe deixasse passar muito frio lá fora. Chanyeol ficou encarando a vela que estava quase acabando, e quando viu que Sehun ia mesmo sair, correu e o segurou antes que alcançasse a porta, lhe jogando com força contra a mesma. “Eu preciso de ti Sehun. Não faz isso.” Ele estava com as chaves nas mãos e Chanyeol queria impedi-lo, mas não sabia como o fazer. Não teria coragem de atentar mais ainda contra ele mesmo que soubesse que tinha força para o fazer. As mãos escorregaram e Sehun passou pela porta. “Não me deixa aqui sozinho. Hoje não.” 

“Tu me deixou sozinho todo santo dia da minha vida.” Foram as últimas coisas que ele ouviu antes de perdê-lo de vista. 

 

 

Agora, meio perdido no próprio bairro, Sehun se deu conta de quanto tempo fazia que não saía mesmo de casa. Só havia uma cópia de chave no apartamento, então quando Chanyeol ia trabalhar ele naturalmente ficava preso. Quando o vento lhe acariciou gelado as bochechas, soube de repente para onde deveria ir.  

Zitao era apenas um cara que Sehun conheceu pela internet, mas surpreendentemente ele ainda não desistira mesmo depois de uma coleção de pormenores que os separavam cada vez que se viam. Foi, mesmo que secretamente com Zitao a primeira vez de Sehun em muitas coisas. A primeira vez dele com outro homem que não era Chanyeol, seu segundo beijo, e tudo parecia ter um significado ainda mais íntimo quando era com ele, mesmo que Sehun soubesse que estava apunhalando aquele cara que deixou em casa antes de sair. 

"Você pode me buscar aqui perto da minha casa?" A voz de Sehun era quebradiça e ele usou o mandarim que aprendeu em Chinatown para parecer ainda mais manhoso no telefone, como ele sabia que Zitao gostava, tanto que ele sorriu de um jeito audível antes de dizer que passaria de carro a qualquer instante. 

Sentou-se na calçada quando viu a tela do celular acender novamente. Era Chanyeol. E, mesmo que Sehun houvesse procurado dentro da mente alguma coisa que ele poderia ter esquecido que levasse o mais velho a ligar depois de uma briga, já que Chanyeol nunca pedia desculpas, não conseguiu encontrar, então talvez ele tivesse ateado fogo na casa com a maldita vela e precisasse de ajuda. Isso o levou a atender. 

"Chanyeol?" 

"Sehun, onde você tá? Você saiu no frio e esqueceu seu remédio de bronquite aqui no quarto. Se ela atacar você pode morrer." Era incrível como a fragilidade dele transponha as barreiras físicas e conseguia alcançar um Sehun em outro plano com algo que não deveria balançar tanto consigo. Há seis anos ele não tinha uma crise de bronquite, e aquele remédio estava vencido, mas mesmo assim Chanyeol se lembrou. 

"Eu não vou morrer de bronquite, Chanyeol, não se preocupe." 

"Onde você está?" 

"Na rua." 

"Volta pra casa... Por favor..." O tom de Chanyeol era choroso. 

"Chanyeol eu-" Alguém chegou por trás de Sehun e tomou o celular de suas mãos com os dedos meio congelados. 

"Desculpe cara, ele está comigo agora." O inglês meio arriscado de Zitao não tirou de forma nenhuma o tom de deboche com o qual ele se referiu a Chanyeol antes de desligar o telefone.


Notas Finais


eu não faço a mínima ideia de como deve soar um coreano do interior que se muda para os eua e convive com chineses então o que eu fiz? eu baseei todas as falas da fanfic no meu próprio sotaque. sentido? nenhum, mas deus no comando. @zitaozing


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