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História Zero Hertz - Chuva


Escrita por: jubsweet

Capítulo 5 - Chuva


Jimin


Os fracos raios solares adentravam o quarto de Jeon sem convite algum, iluminando parte do cômodo pelas pequenas frestas que a cortina deixara.
Jimin soltou um resmungo ao sentir um clarão através de suas pálpebras, abrindo os olhos e em seguida se xingando mentalmente por ter o sono tão leve.
O relógio digital na mesa de cabeceira e seu celular que insistia em vibrar indicavam que eram 07h30.
Sete e meia da manhã.

Odiava acordar cedo. Odiava ainda mais acordar cedo quando não estava em sua casa.
Geralmente, quando isso acontecia, ele era o único acordado do lugar e por pura vergonha simplesmente ficava deitado olhando para o teto até que alguém resolvesse levantar. Depois de meio-dia, na grande maioria das vezes.

Suspirou e esfregou os olhos, sentando-se em seguida e fazendo uma careta pelo hematoma dolorido em seu rosto.
Pelo ângulo em que estava, conseguia ver Jeongguk dormindo sereno em um colchão no chão.
Não se lembrava com tanta clareza dos momentos antes de dormir, já que olhou ao redor e ficou confuso ao perceber que estava na cama dele, enquanto ele estava todo esparramado naquele colchão pequeno e aparentemente desconfortável.

Encarou a coberta sobre suas pernas e subitamente a levou ao rosto, enrubescendo e fechando os olhos ao sentir o cheiro dele. Era um desses cheiros que você não sabe explicar muito bem a origem, mas ele conseguia identificar um leve aroma floral. Parecia com o de uma flor de lótus, e-

Sentiu um cutucão em seu braço e num ímpeto jogou a coberta longe, que foi parar do outro lado do quarto.

— Por que você tá com a cara no meu cobertor? — parecendo um zumbi, Jeon apontou para o cobertor e para o rosto inchado de Jimin devido às muitas horas de sono. 

O mais velho segurou o riso por um instante ao ver seus cabelos desgrenhados, mas tentou disfarçar. Não devia estar muito diferente dele também.

— Ah, e-eu... eu tava... meu celular, você viu? — tateou a cama, fingindo estar procurando.

— Esse? — indicou com a cabeça, arqueando a sobrancelha e cruzando os braços. Seus músculos se realçavam devido a usar apenas uma regata.
Jimin nunca tinha visto seus braços à mostra, e agora podia perceber que espalhadas por sua pele alva haviam tatuagens que ainda não conhecia.

— Não acredito que você achou, fiquei quase meia hora procurando — desviou o olhar e pegou o celular para disfarçar, querendo enfiar sua cara no travesseiro. 

Por que você faz essas coisas, Jimin? Que ódio.

— Seus fetiches envolvendo esse corpinho aqui realmente não me interessam agora — apontou para si mesmo, involuntariamente relaxando sua musculatura ao perceber que havia conseguido fazê-lo rir mais uma vez — mesmo recebendo alguns xingamentos depois.
Sua risada por si só se tornara sua própria endorfina, só não havia percebido ainda.

Não sabia se era por causa do contato cada vez mais frequente, mas Jimin parecia cada vez melhor em entender o que Jeon falava.
O mais novo tinha até aprendido a ser mais paciente, já que era necessário falar mais devagar e olhando nos olhos dele para que pudesse entender. Ele sabia falar da maneira certa para que compreendesse.
Talvez não fosse tão paciente assim e só estivesse agindo dessa maneira porque se tratava de Jimin, mas isso não vem ao caso.

O Park sentiu seu braço ser puxado às pressas enquanto Jeon ia em direção à porta.

— Preciso tomar café antes que minha mãe acorde. Eu não podia sair de casa ontem, se ela acordar e me ver aqui com você eu tô fudid-

— O que tem sua mãezinha, Jeon? Tá falando com quem? — ouviu aquela voz a alguns cômodos de distância e já sabia que estava na merda. Se fosse alguns anos atrás, com certeza teria se borrado nas calças.

— Nada mãe, tô falando com a Janaína — é... Janaína era uma planta que havia em seu quarto. Mais especificamente, uma bromélia, mas na maioria das vezes ele nem lembrava que ela existia.
Era um milagre a coitada não ter morrido. Jeon mal bebia água, quem dirá a sua planta.

O rosto de Jimin estava praticamente um ponto de interrogação. Jeon parecia estar falando com alguém, mas não tinha certeza de quem era.

Quando o mais novo estava pensando em alguma desculpa para fazer com que sua mãe o deixasse em paz, a porta se abriu e bateu contra a parede num baque estrondoso.

— Jeon, eu vou contar até três pra... —parou de falar ao perceber aquela figura desconhecida de cabelos pretos e olhos arregalados no meio do quarto.

A progenitora o encarou e franziu as sobrancelhas, seguindo aquela sua mania de pôr as mãos na cintura quando algo não a agradava. Foi aí que Jimin percebeu que realmente não foi uma boa ideia ele ter vindo.

Um silêncio constrangedor pairou no quarto, enquanto os três pares de olhos ficaram se encarando sem dizer palavra alguma. O Park realmente desejava ser um avestruz agora, parecia ser bem mais vantajoso: poderia fugir da situação, era só cavar um buraco e enfiar sua cabeça nele.

— Mãe... e-eu posso explicar, não briga com ele, por favor...

O silêncio se instalou no lugar novamente, fazendo com que o coração do mais novo palpitasse de nervosismo. Não queria que as coisas ficassem ruins para o lado de Jimin. No dia anterior já tinha acontecido desgraça o suficiente.

Dahye deu a volta no quarto, parando na frente do dançarino.

— Que brigar com ele o quê, Jeon? Ele é visita. É um prazer te conhecer meu filho, vem tomar café — estendeu a mão para Jimin, que ficou com uma expressão indecifrável. Com uma sobrancelha arqueada e mil dúvidas percorrendo em sua mente, segurou sua mão como se fosse uma criança e foi até a cozinha com ela, que logo depois voltou para o quarto onde o filho estava.

— Ah mãe, obrigado. Eu realmente achei que você-

— Você não tem que achar nada. Vou cortar a sua cabeça fora, seu moleque desobediente — a mãe elevou o tom de voz, enquanto Jeon praticamente ficou com uma cara de bosta.

Isso era sério?

— Mãe... sério, eu tenho vinte e dois anos, você não precisa-

— Quieto. Acompanhe o garoto no café da manhã. Mais tarde a gente conversa. — ordenou irritada por Jeon ter a desobedecido mais uma vez.

Todos os dias ouvia aquela conversa de "enquanto for debaixo do meu teto, são as minhas regras" e justamente por isso não via a hora de poder arrumar algum lugar para morar sozinho.
Dentre seus amigos era o único que ainda morava com a mãe, o que fazia com que perdesse parte de sua liberdade, já que ela era histérica e protetora demais. E autoritária.

Contrariado, bufou e seguiu até a cozinha, encontrando Jimin sentado na mesa enquanto enchia seu copo de suco.
Ao perceber a presença de Jeon, tentou segurar o riso ao máximo mas era difícil, então só ficou com uma expressão esquisita enquanto desviava o olhar para a jarra de suco.

— Eu sei. Não precisa dizer nada. —Jeongguk falou baixinho, parecendo mais um sussurro.

Jimin não ia negar: estava se divertindo com a situação. Jeongguk parecia ser o tipo de cara que exibia suas tatuagens e usava suas jaquetas de couro enquanto fumava cigarros para impressionar, e ter visto sua mãe o intimidando era um tanto quanto engraçado.

Quando percebeu que ela estava vindo em direção à mesa, Jimin olhou para o mais novo e o viu com um semblante tão sério que parecia que alguém havia morrido.

— Você é um amigo novo do Jeon? Nunca te vi por aqui — ela perguntou de costas pra mesa enquanto arrumava algumas coisas no armário.
Jeongguk suspirou, já imaginava o que estava por vir.
Jimin não tinha como responder, mas ela não ligou e continuou o monólogo -, Acho que ele gosta bastante de você, já que quando os seus amigos vêm em casa ele nunca fecha a porta - riu sozinha com sua fala, sem perceber que havia sido bem subliminar.

— Então mãe, desculpa cortar a conversa desse jeito, mas a gente tem que ir — Jeon enrubesceu e falou tão rápido que quase se engasgou com suas próprias palavras. Quase deu graças a Deus por Jimin não ter entendido o que ela disse.

A mulher não tinha problema com quem seu filho namorasse ou deixasse de namorar e deixava isso bem claro, mas ele e o garoto eram só amigos que estavam se conhecendo.

Jeongguk pegou no braço do mais velho e praticamente o arrastou em direção à porta de entrada, enquanto ele se queixava de boca cheia por querer terminar de tomar o café.

Assim que girou a maçaneta da porta, mal a abriu e a mulher a fechou com o braço. Ficou alguns segundos parado pensando qual era o problema, e
só então lembrou que sua faculdade existia.

Tinha passado alguns dias em casa depois de voltar do hospital, mas sabia que ela estava tão brava por ele ter saído sem permissão que faria com que fosse à aula.
E ele nem achava isso ruim. Gostava de sua mãe, mas ela era um pouco inconveniente e ficar grande parte do dia longe dela era uma bênção.

Sabendo que estava atrasado, foi às pressas em direção ao seu quarto se arrumar, botando a sua rotineira jaqueta de couro.
Jimin ficou encolhido no canto da sala com aquela mulher que, para ele, era uma desconhecida. Ainda assim não estava tão desconfortável, já que ela parecia gentil ao convidá-lo para o café.

— Acho que Jeon nunca falou de você, qual o seu nome? — ela perguntou, mas Jimin não conseguiu entender. Ela falava tão rápido e ele estava tão acostumado com Jeongguk que parecia ser outro idioma.

Não queria pedir que repetisse e ter a possibilidade de a mulher zombar a maneira mais lenta com que falava.
Não queria que aquilo seguisse o rumo de sempre, então apenas desejou que ela desistisse e o deixasse sozinho ali no canto, mas ela continuou.

— Você é bem tímido, né? Pode falar comigo, eu não mordo — ela sorriu e Jimin suspirou.

Parecendo a milésima vez que fazia isso, ele apontou para sua boca e depois para seu ouvido, gesto que sempre fazia para as pessoas quando tentavam puxar algum assunto. Era desgastante.

Sentia que sua vida seria um pouco mais fácil se tivesse perdido sua audição apenas parcialmente, mas havia sido uma perda total. Ficava um pouco atordoado quando alguém desconhecido começava a se aproximar, pois a situação sempre se repetia: a pessoa falava rápido demais, Jimin informava que era surdo, ela esboçava um "ah" e se afastava meio sem graça.

A mulher ficou calada. Ela não esboçava confusão, tristeza, nada. Seu semblante era nulo.
Ela apenas assentiu, virou as costas e voltou a fazer o que estava fazendo.

Jimin percebeu. Ele não era idiota. Estava tão acostumado com esse tipo de tratamento que não tinha se surpreendido. Só queria ir embora.
Só queria ser como as outras pessoas.

Depois de se vestir, Jeongguk pegou sua bolsa e arregalou os olhos ao perceber que tinha o deixado sozinho com ela.
Assim que chegou na sala, o viu sentado num canto do sofá enquanto encarava o chão e nesse momento soube que algo estava errado.

Pela janela, olhou para o céu e reparou que aquele sol matutino havia ido embora por completo, sendo substituído por um nublado com nuvens cinzentas se aproximando.

Foi na direção de Jimin e antes mesmo que pudesse alcançá-lo, sua mãe pôs a mão em seu ombro.

— Onde você conheceu ele? —questionou, séria.

— Ãh? Por que a pergunta? — franziu as sobrancelhas, sem entender o surto da vez.

— Onde você conheceria alguém... assim — falou, olhando o Park dos pés à cabeça. Isso só fez com que Jeon ficasse ainda mais irritado. Não entendia qual era o problema.

Aos seus olhos Jimin era perfeito, tão perfeito que chegava a ser etéreo. Desde a primeira vez que o viu, sua beleza de outro mundo chamou sua atenção.

— O que... — parou de falar quando entendeu o que ela estava dizendo. Só então percebeu a maldade em sua frase.

— Agora você vai falar que ele é normal? — gritou, sem deixar de botar ambas as mãos na cintura.

Um raio, seguido de um estrondo.

Fervendo de raiva, Jeon deu as costas, prestes a ir embora com Jimin. Estava tão irritado que sua vontade era sair daquela casa e nunca mais voltar.
Nunca contrariava sua mãe e admitia pra si mesmo em segredo que tinha um pouco de medo dela, mas hoje não estava conseguindo se segurar.

As mãos trêmulas do dançarino e seus olhos arregalados denunciavam o quão desconfortável estava com a situação. Não fazia a mínima ideia do que estavam falando, mas pôde ter uma noção ao ver a mulher não parar de apontar o dedo para seu rosto.

— Você não pode falar dele como se ele não estivesse aqui — Jeon cerrou os dentes, sentindo seu coração palpitar. Parecia que ia infartar a qualquer momento de tanta raiva.

— Por que? Ele não vai ouvir de qualquer maneira — a mulher soltou seu veneno, como se fosse uma cascavel.

Ao sentir suas bochechas queimarem, teve certeza de que estava com o rosto vermelho de tanto ódio.
Jeongguk não estava reconhecendo sua própria mãe.

Dahye sempre havia sido severa, isso era fato, e por isso eram raras as vezes em que Jeon ousava contrariá-la. Mas era diferente daquela vez. Ele precisava.

Por isso, respirou fundo e andou a passos lentos, parando na frente da mulher poucos centímetros mais baixa.
O olhar de Jeon era tão cortante quanto a faca mais afiada existente.

— Eu tenho nojo de você, Dahye.

Ignorando os gritos já previsíveis, o mais novo abriu a porta e puxou Jimin pelo pulso, pôndo os pés no gramado do quintal sem se preocupar com o fato de ainda estar usando chinelos. Bateu a porta com toda a força que podia exercer, em seguida andando tão rápido que Jimin mal podia acompanhar sem tropeçar.
Só queria ficar longe de sua mãe o mais rápido possível.

O rosto de Jeon estava parecendo um pimentão. Jimin não ousou perguntar qualquer coisa, seguindo-o em silêncio.

Ainda andando a passos rápidos, o mais novo respirou fundo e passou a mão pelos cabelos, os desgrenhando.
Sem perceber, esbarrou com o ombro em um sujeito de terno bem mais alto que si.
Abriu a boca pra falar um palavrão, mas a fechou subitamente ao olhar para o rosto do homem.

— Filho? O que há com você? — a voz calma de seu pai invadiu seus ouvidos e esse simples ato fez as batidas de seu coração desacelerarem.

Sem pensar duas vezes, Jeon o abraçou com toda a força que podia exercer.
Quando estava em casa, seu pai era sua âncora. A única pessoa que fazia com que não desabasse.

O Park olhava a cena de longe. Não era difícil perceber que aquele era seu pai, já que era bem mais semelhante com ele do que com a sua mãe.
Jimin ficou quieto, olhando para os dois na calçada e mesmo sem entender nada, sorriu sem perceber. Nunca teve aquilo em sua vida, um amor paterno.
E era muito bonito.

— Eu não a suporto mais — Jeongguk reclamou ao sair do abraço. — Não suporto mais essa mulher.

— Não fale assim, ela é sua mãe, Kookie — acostumado com as pequenas brigas diárias dos dois, o acalmou, o chamando pelo seu apelido de infância e fazendo com que ruborizasse involuntariamente. Odiava ficar corado na frente dos outros. — Oh, e você, quem é? — sorriu sincero ao ver Jimin observando os dois atentamente.

— Ele é o Jimin — antes mesmo que Jimin tentasse responder algo, Jeongguk o cortou, com medo de que a situação se repetisse. — Nós estávamos a caminho d-...

— Ah, de onde você é, Jimin? - fez ênfase no nome dele, olhando feio para Jeon por não deixá-lo falar — Nunca te vi aqui pelo bairro.

— Ele é de...

— Jeongguk, por favor. Será que posso conversar com ele um minuto? — seu pai olhou feio e Jeongguk suspirou, tendo medo de que a conversa tomasse o mesmo rumo.

— Ele é surdo, pai. — com medo, disse devagar para que Jimin pudesse entender o que estava havendo.

O homem ficou encarando o dançarino por alguns segundos, antes de dar um grande sorriso.

— Isso é... ótimo! — exclamou, fazendo com que tanto Jeongguk quanto Jimin franzissem as sobrancelhas, este último pela sua expressão tão feliz. 

Ótimo? 

— Quero dizer, não isso, lógico... — coçou a cabeça, — É que esses dias têm aparecido muitas pessoas surdas na empresa, então nós pudemos perceber que não somos tão acessíveis quanto pensávamos. E é ótimo que você seja amigo dele, Kookie — ainda sorrindo, estendeu a mão para Jimin, que olhou meio receoso pelo que tinha acontecido lá dentro. Mas o sorriso do homem era tão sincero que ele o cumprimentou de volta, não podendo deixar de devolver outro sorriso.

— Você... é tão diferente da Dahye — piscou os olhos meio que sem acreditar, com o coração aquecido.

Era praticamente impossível chamá-la de mãe. Ainda mais depois do que tinha acontecido.

— Ela é sua mãe. Não a chame assim — o repreendeu — Por que você acha isso, filho?

Jeongguk olhou para Jimin e depois olhou para o chão, fazendo com que o homem entendesse o recado.

— Ela disse que ele é anormal — falou rapidamente, para que Jimin não pudesse entender. Não iria querer nunca que ficasse triste por causa dela.
O homem franziu as sobrancelhas. Devia haver um engano. Dahye nunca diria isso.

Seu pai encarou a porta da casa azul, a poucos metros de distância dali e piscou para Jeongguk, dizendo um "eu já volto" em seguida. Provavelmente era exagero do filho, como sempre, então ia por aquilo em pratos limpos.

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Assim que girou a chave na porta, a mulher que estava na cozinha abriu um sorriso gigante.

— Você chegou cedo hoje, meu amor — fez menção de que ia abraçá-lo, mas ele recuou.

— Você viu esse novo amigo de Jeon? — disse, esperando por sua resposta.

A mulher arqueou uma sobrancelha, sem entender porque aquele assunto tinha voltado à tona.

— Vi. Acredita que esse desaforado disse que tem nojo de mim só porque eu disse a verdade? É isso que dá Jeongguk me desobedecer. Fica andando com pessoas desse tipo. Ele-

— Já ouvi o suficiente — o homem a interrompeu, sem ter expressão alguma no rosto. A mulher nunca havia o visto tão sério assim.

— O que foi? Ah, não vá me dizer que você vai defender que Jeongguk ande com... aquilo!

O homem sentou, já que sua vista havia ficado turva ao ouvir tanta besteira.

— Não acredito que tudo o que Jeon vinha dizendo sobre você... era verdade... —disse baixinho, extremamente chateado. Sabia que Jeongguk era dramático e exagerado, mas não era esse o caso naquele momento. Se sentia culpado por ter desvalorizado o que ele disse.

— Quem não acredita sou eu — riu em escárnio, cruzando os braços. — Ele é uma aberração. Nunca vai ser normal.

— E o que é ser normal? É ser como você? — perguntou, fazendo com que Dahye ficasse quieta. — Porque se for, Jesus... eu prefiro ser uma aberração também. — se levantou, cansado daquela conversa.

— Chungho... Não consigo acreditar no que estou ouvin-

— Você quase perdeu Kwan para o suicídio. — respondeu, sem fitar seu rosto.
A mulher permaneceu imóvel. Falar sobre seu filho mais novo era algo tão delicado, de um ponto que lágrimas começaram a marejar seus olhos. — Você quase o perdeu, e ao invés de aprender com isso, você humilhou um garoto de 20 e poucos anos na frente do nosso filho. — pôs a mão na testa, balançando a cabeça negativamente. —Pessoas surdas estão lutando todos os dias para serem incluídas na sociedade e estou tremendamente orgulhoso do meu filho estar fazendo sua parte. Se você não concorda, aí o problema já é seu — curto e grosso, foi em direção às escadas. Havia trocado de turno recentemente, e sua noite havia sido cansativa demais pra ficar ouvindo tanta merda.

— Eu... Você é tão grosso... Nem sei porque ainda estou com você — enxugou uma lágrima com o dorso da mão.

— Quer saber da verdade? — falou alto, dos últimos degraus. — Eu também não.

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Jeongguk


No momento em que algumas gotas geladas começaram a cair do céu, Jimin espirrou. Jeongguk revirou os olhos e tirou sua jaqueta, a segurando por cima dele para que não se molhasse.
Não acredito que estou fazendo isso. Eu odeio chuva. Jeongguk, o que esse garoto tá fazendo com você?, pensou consigo mesmo.
O dançarino sorriu sincero, fazendo com que o coração de Jeongguk disparasse a 200km/h.

— Por que você ficou tão vermelho naquela hora? — depois de alguns minutos em silêncio enquanto esperavam o pai de Jeon, Jimin tentou mudar de assunto, visto que não estava entendendo nada.
Olhou para cima tentando encontrar sua boca para entender o que diria.

— Estava nervoso... discuti com minha mãe — respondeu aparentemente desconfortável com a conversa. Não queria relembrar, muito menos explicar.

— Não isso... seu pai disse alguma coisa e você ficou vermelho — sorriu, cutucando sua barriga.
Jeongguk franziu as sobrancelhas, balançando a cabeça negativamente. — Me conta, vai... — o Park fez um biquinho.

— Kookie... ele me chamava assim quando eu era criança — olhou para o chão, envergonhado, ainda segurando a jaqueta.

— Kookie, hum? — sussurrou, fazendo com que os minúsculos pelos da pele de Jeon se arrepiassem. Podia ficar por horas ouvindo Jimin dizer seu apelido com aquela voz manhosa. — Vou te chamar assim agora.

Estava se apegando tão rápido que até estranhava. Não era do seu feitio se apegar pelas pessoas, na verdade era algo que odiava e todo mundo de sua faculdade sabia disso. Mas era só Jimin aparecer e ele beijava seus pés. Era incontrolável.
Sabia que o Park era tudo, menos indefeso, na verdade ele era meio durão quando queria e sabia muito bem se defender sozinho.
Mas ele havia passado por tanta coisa. Jeongguk não sabia nem explicar o que sentia quando conseguia botar um sorriso no rosto daquele dono dos olhos tristes.

Antes que pudesse responder qualquer coisa, seu celular vibrou no seu bolso, indicando uma mensagem de seu pai.

Jimin, curioso que era, se inclinou para poder ler também.

"Diga para o Jimin que eu gostaria que ele aparecesse na empresa qualquer dia. Se ele quiser, claro. Adoraria que ele fizesse uma apresentação sobre suas dificuldades sendo surdo. Seria muito instrutivo pra gente, e muito inclusivo pros nossos clientes. Você já se atrasou, então chegue na faculdade na segunda aula.
Desculpe por não ter te dado ouvidos, filho.
Amo você."

Aquela mensagem lhe despertou um misto de sensações. Seu coração doeu ao ler a penúltima frase. Estava contente que ele era uma pessoa com um coração tão bom, mas sabia que ele era tão apaixonado pela Dahye que provavelmente estava se sentindo destruído agora. Não deve ser nada fácil quando o amor da sua vida tem preconceitos enraizados que você nunca teve conhecimento.

— Oi? — ouviu a voz de Jimin mais aguda que o normal e riu na mesma hora. Seus olhos arregalados e sua boca fazendo um biquinho confuso mostravam o quanto ele estava incrédulo.

— É isso mesmo que você leu — Jeon sorriu, guardando o celular no bolso e voltando a seguir seu caminho.

— Mas eu não... como eu vou... — Jimin disse, baixinho e Jeongguk parou de andar ao perceber que ele continuava no mesmo lugar.

— Bem, se você não quiser, eu-

— É claro que eu quero! — o Park sorriu de tal maneira que seus olhos viraram dois risquinhos. Sem conseguir se controlar, correu pros braços de Jeongguk e o abraçou. — Sei que não é um emprego ou algo do tipo, mas já é um começo e diga a ele que é lógico que eu vou e oh, eu preciso ver uma roupa, meu Deus, eu estou tão animado — não conseguia conter sua felicidade, de modo que já havia esquecido completamente do episódio anterior.

Os dois seguiram a rua, Jimin tagarelando, indo à frente de Jeongguk e o mais novo sorrindo discreto enquanto segurava a jaqueta preta de couro por cima de sua cabeça. Ia pegar um resfriado, mas não se importava.

— Preciso seguir pra cá agora... estou atrasado pra aula — Jeon comentou ao chegarem em uma curva, pondo a jaqueta sobre a cabeça de Jimin.

O mais velho assentiu. Os dois ficaram se encarando por alguns segundos naquela rua vazia, não sabiam bem como se despedir.

— Você pode ficar com a minha jaqueta — comentou, tentando quebrar o silêncio. Seu inconsciente o xingava de todos os nomes.
Qual é, Jeongguk. Você tá todo ensopado, porra. Você odeia chuva. Vai dar a jaqueta pra ele?

Jimin agradeceu baixinho, meio desconcertado.

— Hum, então... até mais — Jeongguk sorriu e se virou, seguindo a rua. Não passaram mais de 10 segundos e sentiu um cutucão nas suas costas, e ao se virar sentiu o hálito quente de Jimin contra sua bochecha.
O mais velho estalou ali um beijo e Jeongguk ruborizou pela décima vez no dia. Odiava quando isso acontecia.

Eu tenho que honrar minha fama de durão, porra.

— Tchau, Kookie — depois de beijar sua bochecha, sorriu meio envergonhado e deu meia volta, seguindo seu caminho.

Jeongguk ficou que nem um bobo, andando enquanto se virava para olhá-lo a cada cinco segundos.
Ao perder Jimin de vista, passou a mão pela bochecha molhada que havia sido beijada e sorriu consigo mesmo.

A chuva nem era tão ruim assim, afinal.

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Desculpem a demora pra atualizar ☹️ eu estava num bloqueio criativo muito grande, mesmo sendo um capítulo simples eu tive muita dificuldade em escrever, então espero de verdade que vocês gostem. Tentarei atualizar mais frequentemente e eu ficaria muito feliz se me dissessem o que acharam 💟


Notas Finais




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