POV MACARENA
Quem havia escrito aquela carta? Como sabia de tudo aquilo? Porque havia me ameaçado? O que eu iria fazer?
Minha mente era bombardeada de perguntas e pensamentos ruins. Eu não sabia o que fazer, não sabia nem mesmo se era verdade ou apenas um trote, mas não iria arriscar a vida de Zulema, já estava decidida daquilo.
Eu passei o resto do dia inteiro tentando tirar aquela carta da minha cabeça. Tentei de tudo, assistir filmes, séries, ouvir música, conversar com pessoas... não importava. Eu não conseguia tirar aqueles pensamentos da cabeça, e não sabia o que fazer sobre Zulema.
A carta estava certa, eu era apaixonada por ela, sentia que era o amor da minha vida, não queria me afastar. Ao mesmo tempo, se a carta fosse verdade e a vida dela realmente fosse correr perigo, eu teria que fazer aquilo.
Se ele tivesse apenas me ameaçado, meu dilema não aconteceria, meus sentimentos por Zulema são tão grandes que preferiria ficar com ela e ser morta, mas feliz, do que me afastar e viver, mas infeliz.
Não só por causa dela, vivia minha filosofia de vida dessa maneira. Preferia arriscar tudo e tentar ser feliz, do que não tentar e ser infeliz pro resto da vida. Pois nós nunca saberemos até tentar.
Estava lidando com a vida dela, eu não suportaria saber que fui a causa de sua morte. Não aguentaria a culpa, me consumiria todos os dias. Não poderia arriscar a vida da mulher que amava só pra eu ser feliz. Teria que aprender a ser feliz novamente sem ela, coisa que sinceramente não me imaginava mais fazendo.
POV ZULEMA
Havia chegado em casa da gravadora e fui direto pro chuveiro, tomar um banho. Estava cansada, então assim que saí do banheiro e me vesti, me joguei na cama, dando um gemido de dor assim que senti meu corpo relaxando na cama.
Liguei a TV e coloquei em uma das séries que estava assistindo no momento, mas as vezes me perdia e tinha que voltar pra entender o contexto. Minha mente viajava algumas vezes pra uma loira fogosa que morava não muito longe da minha casa.
A mesma loira que estava realizando um dos meus maiores sonhos, a loira que causava sensações e sentimentos em mim que ninguém nunca havia conseguido antes, a loira que conseguia me dominar, mesmo eu odiando ser dominada, mas ela fazia aquilo ser algo bom.
O que estaria fazendo agora? Estaria pensando em mim? Provavelmente não, ela teria mais o que fazer. Talvez até mesmo outras pessoas pra sair... quem sabe.
Não éramos exclusivas, não tínhamos um rótulo, muito menos um relacionamento. Eu sabia o que ela me causava e ela sabia o que eu causava nela, sabíamos que éramos ótimas juntas e que gostávamos da presença uma da outra, mas nada mais que isso.
Eu não sabia se queria mudar isso. Estava bom do jeito que estava, e talvez uma mudança pra algo mais sério mudasse as coisas de um jeito ruim. Poderia ficar melhor? Poderia. Não sabia se estava pronta pra arriscar tudo ainda por um “talvez”.
Tiro esses pensamentos da cabeça e então volto minha atenção até a TV. “Vou ter que assistir tudo de novo esse episódio”, pensei enquanto me amaldiçoava mentalmente por estar tão solta nos meus pensamentos.
Já eram 20:45 e Macarena ainda não havia me mandado nenhuma mensagem, nem me ligado, o que era estranho, já que ela sempre fazia isso, seja pra conversar ou pra me chamar até sua casa ou ela vir até aqui. O que será que havia acontecido?
“Ela deve estar ocupada Zulema, você não é o centro do universo dela não.”, penso e logo bufo de desapontamento quando constatei aquilo.
Ouço meu celular apitar com uma mensagem e logo sinto meu coração disparar, será que era ela? Acho que nunca entenderia o sentimento que ela despertava em mim, ficava nervosa até mesmo com uma mensagem, me sentia como uma garota de 17 anos esperando a ligação do garoto mais popular da escola.
“Boba”
Abri meu WhatsApp e deparo com uma mensagem de Hierro, fico decepcionada.
“Boa noite Zule, afim de um rolê hoje?”
“Hoje não Hierro, estou com dor de cabeça, deixamos pra outro dia.”
Mando a mensagem e largo o celular na cama, levantando e indo até minha sacadinha, que tinha uma pequena vista que era até bonita, mas não se comparava a vista que a casa de Macarena tinha.
Me amaldiçoo novamente por estar pensando nela. Queria muito estar com ela, queria conversar com ela, olhar em seus olhos, tocá-la e beijá-la. Por que eu me sentia assim?
Pego um cigarro do meu bolso e o acendi. Estava tentando parar, mas tinha extrema dificuldade com aquilo, pois sempre que me sentia preocupada ou ansiosa recorria ao meu velho e bom companheiro. De uns dias pra cá, estava maneirando mais, já que Macarena conseguia me dar uma tranquilidade, mas agora estava sozinha e necessitando dela.
Deixei o cigarro entrar e sair pelos meus pulmões, soltando a fumaça pela boca, sentindo o calor que causava dentro de mim. O que antes me preenchia e me acalmava, agora estava me deixando pior, mais vazia. O cigarro já não tinha mais o mesmo efeito em mim desde que conheci Macarena.
Talvez por que havia a sentido dentro de mim, sentido seu olhar quente em meu corpo e desvendando os segredos no fundo dos meus olhos, me acariciando e me dando bom dia. Havia me tornado dependente dela, mais do que era do próprio cigarro. Aonde eu havia me metido? Estava ferrada.
Jogo o cigarro longe, entro no meu quarto e pego o celular que estava em cima da minha cama, ligando pra única pessoa que poderia me ajudar naquele momento.
- Alô, Zule? Tudo bem? - Saray pergunta, parecendo preocupada.
- Saray, preciso sair um pouco, vamos em algum lugar? - Digo um tanto pedinte.
- Claro, quer ir aonde? - Ela pergunta docemente.
- No bar aí perto da sua casa? - Sugiro, obtendo uma confirmação como resposta. - Estarei lá em 20 minutos. - Digo olhando o relógio.
- Tudo certo, até lá então. - Ela diz e então desligo, começando a me arrumar pra ir até lá.
Coloco uma calça preta da adidas com listras do lado, e uma blusa branca, também da adidas. Nos pés, um tênis preto básico e no rosto, apenas um delineado. Estava pronta em menos de 10 minutos, e logo saí de casa com meu Fiat vermelho.
Cheguei no bar na hora exata que Saray também chegava, nos encontramos no estacionamento, e seguimos juntas até lá dentro. Sentamos no balcão de frente para as bebidas.
- Um uísque com gelo, por favor. - Digo, logo sendo atendida pelo barman.
- Eu quero um red martini. - Saray diz, também logo recebendo a bebida. - Você nunca muda a bebida hein? - Ela diz me olhando, dando um sorriso.
- Você sabe que eu não gosto de mudanças. - Digo dando um gole da bebida.
- O que aconteceu Zule? - Ela diz enquanto me olha preocupada. Saray me conhecia muito bem, sabia que estava diferente.
- Não sei se quero falar sobre isso. - Digo um pouco receosa. Realmente não queria naquele momento.
- Tudo bem, vamos beber então. - Ela diz enquanto ordena mais duas bebidas.
Alguns minutos se passaram e eu me sentia já bem alterada. Via o cantor do bar e sentia minha visão embaçada, rodando um pouco.
- Zule, tudo bem se eu for falar com aquela mulher? - Saray pergunta, também alterada pela bebida. Faço que sim com a cabeça.
Vejo Saray indo até ela e, sem pensar, pego meu celular e aperto no nome de Macarena, ouvindo o celular chamar.
- Oi, Maca? - Digo assim que ela atende.
- Oi Zulema. - Ela diz e percebo certa diferença em sua voz, como se houvesse acabado de chorar.
- Está tudo bem? - Pergunto preocupada.
- Tá sim, e aí? - Ela pergunta tentando disfarçar a desanimação na voz.
- Tá tudo sim... te liguei pra ver se queria vir aqui no bar que eu estou. - Digo receosa.
- Melhor não, estou me sentindo meio gripada. - Diz, recusando meu convite.
- Que tal eu ir aí e te fazer um chá então? - Sugiro.
- Não Zule, deixa pra próxima. - Ela diz enquanto fica um silencio entre nós.
- Tudo bem então, vou desligar. Fique melhor, ok? - Digo enquanto ouço uma confirmação dela, desligando a chamada.
Macarena realmente estava estranha, algo havia acontecido, e eu realmente não estava gostando daquilo.
Olhei novamente pra Saray e a vi beijando a mulher que estava conversando antes. Ela era realmente rápida. Tomei mais um gole do meu uísque, o terminando.
Sabia que Saray iria pra casa com aquela mulher, não queria ser uma estraga prazeres, então resolvi ir embora de a pé. Não iria dirigir, pois me sentia alterada, mas iria de a pé, pois o lugar que eu queria ir era bem perto.
Caminhei por 5 minutos e logo cheguei no lugar que estava desejando ir... na casa de Macarena. Durante todo o caminho, pensei em desistir e apenas voltar pra casa, talvez ela não me quisesse ali... mas tinha que tentar.
Cheguei no seu portão e assim que olhei em direção a sua porta, senti meu corpo inteiro travar, e meu maxilar endurecer. Não podia acreditar no que estava vendo, no que estava bem diante dos meus olhos.
Macarena estava beijando outra mulher.
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