Lista de leitura ☔🌊

The Kinda Blues, segundo o Dicionário de Tristezas Obscuras, significa: “… a triste consciência de que o desenrolar do enredo de sua vida parece novo e profundo, mas não é único, apenas um de algumas dezenas de riffs possíveis na mesma progressão de acordes, enquanto as músicas que reverberam na jukebox em seu peito são todas covers de antigos padrões.”

Ou, Yoo Jimin, uma bicho-grilo introvertida e, abre aspas, jornalista, fecha aspas, pensa que sua vida é um eterno Quase Blues, pois vive na mesmice, escreve matérias chinfrins e padece num clichê de mocinha que foge de um lugar horrível para outro lugar mais horrível ainda; ela o-d-e-i-a o mar e seus mistérios, sobretudo, odeia as condições que vive, porém é conformista demais para esbravejar isso. Esse horror do cotidiano, no entanto, é desbotado por certa loira, cantora de Blues-e-mais-outras-coisas, a.k.a Kim Minjeong, equipada com sua guitarra rox’ocaso, que lhe dedica canções oitentistas, vez ou outra, na Pluto’s Laje, quando consegue fazer Jimin sair de sua crisálida para vivenciar A Epifania Nossa de Cada Dia.

Beomgyu sentia sua Vida como cacoépia, e épica também. E talvez fosse isso mesmo, a pensar nos dias-jururu e em como nada do que fazia era realmente importante — não quando se tornaram apenas mais alguns adendos infelizes, à beira da Rua Caronte, às 04:04 da manhã.

São sete dias para 1999. Kim Hongjoong é amigo do vento, tem uma nuvem de estimação e quer livrar-se um bocado da solidão porque se recusa a começar de forma miserável o ano que antecede o famigerado Fim do Mundo. Park Seonghwa, criador do bordão “Hoje já é amanhã!”, trabalha na Sanatório Hits, sendo o locutor da voz cálida e bonita que passa a ser a companhia daquele rapaz que sempre liga às exatas 00:00 para pedir músicas brasileiras tristes.

Beomgyu é um carinha estranho.
Anormal. Atípico. Peculiar. Diferente.
Dizem.
“E a voz do povo é a voz de Deus!”, a avó costumava sibilar, sábia — ou sóbria (de lucidez).
De qualquer forma, já são vinte e duas primaveras sendo assim. Sabe? Anormal. Atípico. Peculiar. Diferente. É um bom sinal, quem sabe, números iguais, fim de ciclo, um novo Beomgyu sendo só um velho Beomgyu. Solitário hoje à noite... ou talvez não. Nunca. Jamais.

Quando o Diabo entrou pela porta de Choi Beomgyu, ele foi veementemente amaldiçoado com a pior das maldições: tomar conta de sua sobrinha. O rapaz, cego de ambição, aceitou o Pacto, contudo, arrependeu-se amargamente por ter uma natureza extremamente pessimista e hiperbólica. Só que, no ápice de seu desespero, o Destino se compadeceu de sua débil situação, lançando-o, enfim, a mais branda e divina luz. Beomgyu não contava com a súbita ajuda de certo espécime com ares de Abaporu-Angelical, deixando O Absurdo um pouco mais… passional.

A desgraça tem gosto de sorvete e custa setenta e cinco pratas.

Kim Hyunjin é uma jovem com problemas de memória. Trabalhando (e morando) num antiquário quase falido, e já sabendo do “segredo” que seu pai insiste em “escondê-la”, a jovem despende seu tempo criando receitas de bolo mirabolantes para ter um resquício de lucidez — resquício este que, sem dó, esvai-se quando Hyunjin descobre que a sua história não estava sendo contada, de forma precisa e verdadeira, nesta dimensão qual ela se encontra, e tudo desanda, ou se alinha, com um abajur envelhecido e uma garota loira muito misteriosa.