Lista de leitura — minhas! #TXT

Sinto que a minha existência é uma eterna lembrança da sua falta.

Beomgyu nunca achou que fosse encontrar seu refúgio ao lado de um ser estranho em um banco de praça sujo no meio da madrugada, tampouco Hueningkai pensou ser possível afundar-se tão profundamente em uma pessoa sólida e solitária no frio das horas mortas da noite. Porém, não importava em qual período ou escapatória rápida da realidade os consumisse, todos os involuntários e inusitados caminhos os levavam àquele silencioso domínio público que, aos éons de água, acumulava mais memórias do que se é possível contar.

Hueningkai é uma pessoa energética demais para o mundo. É importante ressaltar que seu meio de gastar toda essa energia acumulada no corpo grande de um metro e oitenta e três de altura é por meio de puxa-papos. Sempre que encontra alguém ao redor de sua vizinhança, as palavras escapam de sua boca de forma rápida e contínua, a todo o instante, e não há quem o pare quando ele acha uma oportunidade para iniciar um diálogo beirado ao monólogo. Porém, seu vizinho novo, Kang Taehyun, mostraria-lhe que é possível, até mesmo para si, perder-se em letras e embolar-se em gaguejos murmurados — pois como conseguiria explicar o modo como aqueles grandes olhos cintilam de forma tão bela ao direcionar-lhe um sorriso radiante?

Na minha humildade de ser, gostaria de que nossa sutileza se reencontrasse em Amsterdã. No frescor das ruas coloridas, no meio das bicicletas frenéticas e ao lado do cheiro de Paixão no ar, teríamos a continuação de nossa história.

— Yeonjun.
— Hm?
— Quantas vezes você acha que temos de nos apaixonar para que seja real?

Yeonjun compreende que Soobin encontra certa dificuldade em deixar seus pensamentos filosóficos e insistentes escaparem de seu cérebro pensante. Compreende, porém, mas não deixa de batalhar, durante todas as tardes monótonas de domingo, para fazer com que aquela mente tão ativa foque-se naquilo que é essencial e não intitulado. Afinal de contas, se Soobin pensasse menos — e quisesse menos respostas concretas e discursadas —, conseguiria chegar à conclusão de que ele e Yeonjun estão muito além dos limites numerais e temporais daquilo que conhecem como paixão.

Todos os sentimentos que transbordam nas folhas de ofício; todos os segundos que se gastam na deriva das noites frias; todos os desgastes das mãos calejadas pela escrita dedicada… Absolutamente tudo é ridículo — especialmente eu, poeta de versos sórdidos e sem sentido, que me submeto a infortúnios de existência para lhe escrever essas cartas de amor ridículas.

Em seus sonhos, sempre há azul e lilás. Tudo é azul e lilás. Não há formas, não há seres, não há vozes, não há movimentos. Yeonjun sonha todos os dias, todas as aulas, com azul e lilás, mesclados, juntos, ao mesmo tempo. Choi Soobin também é um pouco de azul e também é um pouco de lilás. Ele exala aquelas cores como se não percebesse, como se não soubesse que está mais próximo dos sonhos de Yeonjun do que o dono dos sonhos está de si mesmo.

Mas assim como sonhos são realidades distantes, Choi Soobin também é. Ele está a quilômetros de distância do cansado e confuso Yeonjun. E demora um considerável tempo para que Yeonjun perceba que o motivo daquilo está mais contido em si e em seus sonhos do que no sorriso e na animação do loiro oxigenado que tanto adora — e ainda não sabe.

Por entre noites frias de outono e esperas ansiosas ao som de um delicado saxofone, Soobin coleciona encontros com Yeonjun. São necessários cinco deles para que palavras veladas nas ruas desérticas de um bairro sem graça os levem à mais apaixonante harmonia para contornar suas promessas de um amor sazonal.