Lista de leitura Clephen 🔮🩺

– Eu era neurocirurgião. – Disse Strange, mas prosseguiu devido a expressão perdida de sua colega – Eu abria a cabeça das pessoas e fazia elas melhorarem!
Clea compreendeu.
– Tipo um curandeiro?
– Quase.
– Mas só de cabeça? Não do resto? – Pareceu desdenhoso.
– É…
– Então se alguém estivesse ruim da perna você não tinha como ajudar? – Uniu as sobrancelhas no alto da testa – Tem curandeiro só pra perna se tem só pra cabeça?
– Vamos mudar de assunto antes que eu fique ofendido! – Strange exclamou e Clea precisou de alguns segundos para entender que era uma piada.
– Porque você não consegue curar pernas?

Após conhecer a misteriosa feiticeira durante um ataque ao museu de Nova York, Stephen Strange é assombrado pela estranha sensação de déjà-vu que a presença de Clea lhe causa. Impulsionado por nada além de sua intuição, terá de descobrir a verdadeira razão da inesperada visita interdimensional.

– Você podia dormir no sofá. – O mago apontou para o móvel empoeirado de dois lugares, talvez um dia aquela coisa tivesse sido laranja – Você é menor, cabe ali.
A feiticeira torceu o nariz, jogando suas coisas no chão ao lado da cama de casal, a única do cômodo.
– Sou uma princesa, membro da família real da Dimensão Sombria, não vou dormir naquilo.
– Não aqui. – Bateu a porta – Aqui você é ninguém, não é princesa.

– Pensei que já tivesse visto a chuva. – Seu tom foi obrigado a elevar, pois o barulho da chuva caindo era alto. Passou a mão pelo rosto para secá-lo, estavam ambos encharcados agora.

– Eu vi, mas nunca senti. – Piscou os olhos com força, tirando a água dos cílios. Tinha um sorriso bobo iluminado pela luz escassa e alaranjada do poste de luz. As gotas escorriam de seus cabelos prateados e pingavam em seu colo, desciam de um jeito encantadoramente quente pelo decote do vestido e se perdiam entre os seios. – E você? Já sentiu?

Ela tocou o próprio rosto, apreciando aquela sensação.

Stephen fez o mesmo, fechando os olhos e deixando-se ser molhado. Estava menos estressado agora.

– Há coisas que nós, humanos, fazemos quando crianças e não voltamos a repeti-las quando adultos.

– Deve ser por isso que me dou bem com as crianças daqui, então. Os adultos são chatos e caretas. Se esforçam demais para parecerem normais, raramente fazem o que querem fazer de verdade... Isso inclui você. – O olhar de Strange a obrigou a adicionar – Completamente.

– Não! – Ele protestou.

– Definitivamente.

– Definitivamente não.

– Vamos lá, Clea. Dê um sorrisinho! – América cantarolou enquanto segurava sua máquina.
A faltine negou com uma sobrancelha arqueada, mas ainda posava para a foto como a América ordenava.
– Sou uma guerreira, criança. Eu não dou sorrisinhos.
– Aham, guerreira. – A menina franziu o nariz – Não era você que estava chorando enquanto assistia A Bela e a Fera?
– Não, quem chorou foi Stephen.
Wong começou a gargalhar da cara que o colega fez por ter sido entregue tão descaradamente, Strange olhava para Clea de forma incrédula. A princesa também deu risada e América pôde tirar sua foto.

Levi desprendeu-se de Stephen e deu uma volta no ar, parando ao lado de Clea. O manto se moveu de uma forma análoga a uma tentativa de fazer carinho, deslizando o seu tecido pelas pontas dos cabelos brancos e pela capa roxa da mulher, que tremulou com o contato.
– Ah! Olá, Levi!
Strange pareceu extremamente sem graça com a desobediência do manto, mas não era a primeira vez que aquilo acontecia quando a faltine estava por perto. O Manto procurava oportunidades de se agarrar à mulher, só precisava de um motivo e já estava se transformando em casaco ou cachecol para esquentá-la. Tudo bem que isso não foi de todo ruim, afinal, acabaram se aproximando pelas gentilezas de Levi, mas… Stephen não queria parecer um mago que não sabia controlar seus próprios artefatos místicos. Não na frente de Clea.

Há algo de errado no Sanctum Sanctorum… Uma presença não física diferente de todos os fantasmas e entidades que Stephen Strange conhece, ele deve investigar o assunto antes que enlouqueça com a dúvida.

— Olha… — Encarou-o — Em algumas culturas é falta de educação agarrar alguém enquanto está sem roupas.
— Estou de toalha.
— Eu vou puxar ela e vou correr. — Anunciou, muito séria.
— Não vai não.
— Você não me conhece, não sabe o que posso fazer.
— Não vai puxar a toalha, já está constrangida só de me ver sem camisa.
— Vou puxar e vou correr. — Ergueu as sobrancelhas, como se estivesse dando um aviso final — E eu não estou constrangida de te ver sem camisa, a toalha é que deixa tudo esquisito.
— Eu vou correr atrás de você.
— Não vai não.