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Kang Seulgi tinha motivos para manter seu hobby em segredo. O da escrita, para ser mais específica. Histórias originais que eram postadas por ela sob o nome de Rowoon. Podia não ser a melhor escritora do mundo, mas, pelo menos, suas histórias quase sempre alcançavam o topo entre as mais populares da categoria. Não que fosse uma categoria muito grande ou popular, também, aquela, de romance. Hm... lésbico. Era justamente por essa razão que, de jeito nenhum, as amigas poderiam saber daquele seu lado.

Podia não ser muito agradável, emocionalmente falando, ter que lidar com fardo de, ao mesmo tempo, ser uma das principais autoras de sua categoria e com a fama de "amiga encalhada" que tinha entre as amigas: Bae Joohyun, Son Seungwan, Park Sooyung, todas da Universidade Nacional de Seul, e Kim Yerim, a única estudante do Ensino Médio. Mas, por outro lado, Seulgi tinha recorrentes e fiéis leitores com quem podia contar, com quem podia ser completamente honesta.

Dentre eles, Tokkibi.

Tokkibi que a acompanhava desde o dia um. Desde o dia que Seulgi tomara coragem para postar a primeira história no site, quando ainda estava no terceiro ano do colegial. E era engraçado pensar que, depois de tanto tempo, a garota ainda aparecia a cada atualização, em todas as histórias de Rowoon. Chame Seulgi de dramática, mas era como se ela e a garota tivessem algum tipo de laço esquisito. Tokkibi tinha acompanhado todo o seu progresso como escritora ao longo dos anos, afinal de contas.

Sim, Seulgi tinha uma leitora favorita, e não tinha vergonha de assumir isso. Talvez porque Tokkibi ajudasse Kang Seulgi a se sentir menos como uma farsa, a fazer com que sua vida se parecesse menos com uma grande mentira. Principalmente depois daquela inesperada primeira troca de mensagens diretas entre as duas.

Capa por @Lobertor

“Nunca lhe confessei abertamente o meu amor mas, se é verdade que os olhos falam, até um idiota teria percebido que eu estava perdidamente apaixonado.” Durante todo o tempo que ficou fitando o livro, Seulgi estava tentando lembrar de uma frase que leu no romance.

A partir da fala de Seulgi, Joohyun conseguiu se lembrar da frase que havia lido algumas horas mais cedo.

“Você acredita que os olhos falam?” Joohyun fita o perfil do rosto de Seulgi por alguns segundos antes dela levantar os olhos e encará-la de volta.

Seulgi já leu muitos livros em sua vida, e gosta de pensar que vive cada capítulo, página... cada frase, intensamente. Mas nenhuma leitura foi tão intensa como o momento de agora, olhar dentro dos olhos de Joohyun em uma proximidade absurda. Ela se surpreende com a facilidade que teve para assentir com a cabeça e, consequentemente, responder à pergunta.

Seulgi sente que está ficando louca desde que os pensamentos começaram a consumi-la. Não gostou de perder sono, mas amou imaginar a mão de Joohyun junto da sua, e seus braços sendo capazes de envolver o corpo que é menor do que o seu. Enquanto imagina, sente que é a coisa mais certa do mundo, mas depois se arrepende, temendo não ter o direito de colocar Joohyun em tal emboscada. É um ciclo sem fim. Seulgi amaldiçoa sua mente, que nunca a obedece, que sempre se aventura em cenários tão surreais que acabam fazendo-a acreditar em veridicidades absurdas, como se fossem fantasias existentes e utopias possíveis.

[...]

Enquanto está parada na porta, analisando a reação de Seulgi, Joohyun não pode deixar de reparar que é a primeira vez que alguém que não faz parte de sua família adentra seu quarto. A sensação é estranha, a deixa nervosa. Ela imagina se Seulgi vai querer se deitar na sua cama. Não se importaria se o cheiro dela ficasse em seu travesseiro, ela gosta do cheiro de Seulgi, e da voz de Seulgi... e de conversar com Seulgi. Resumindo, Seulgi é uma das poucas pessoas de quem Joohyun genuinamente gosta.

“Em meados dos anos 1954, a família Oh anunciou o casamento do único filho, afirmando que o mesmo estava bem e feliz com a nova mulher.
Mulher esta que era a esposa perfeita, cuidadosa, amorosa e educada, sempre mostrando a perfeição para todos que conhecia. Era a esposa dos sonhos para todos os homens, até para os piores, mas o que todos não enxergavam naquela perfeição toda, eram os olhares sem sentimentos e o rosto sem expressão que a Sra. Oh possuía.
Um casamento perfeito. Menos para Seulgi, que conseguia ouvir o que acontecia entre eles e enxergar perfeitamente o que aqueles olhos escuros de Irene conseguiam passar. Ou ao menos tentavam.


E no meio de uma casa repleta de boatos sobre a esposa de Oh Sehun, quais deles começaram a contar a verdade por trás daquela mulher?”

Seulgi e Joohyun aprenderam que, quando se está em um relacionamento, um ano pode ser repleto de altos e baixos.

Seulgi luta para se livrar do vício do cigarro, e conhece Joohyun em um grupo de apoio, onde descobre que a mais velha também luta contra um vício: o alcóol. Apenas uma troca de olhares foi o suficiente para que uma faísca se acendesse entre as duas e elas acabam se apoiando uma na outra para tentar resistir às más tentações do vício.

"Você é o único vício do qual eu não quero me livrar, Seulgi."