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Se eu pudesse descrever o que estou sentindo neste momento, acredito que precisaria de mais esforço para tentar achar as palavras corretas e condizentes com a situação atual. Me encontro agora em um quarto mal iluminado e pouco aerado que só me fazia ter a certeza de que em breve poderia ter um ataque de pânico ou claustrofóbico.

Também não sei dizer como vim parar aqui, mas se houvesse alguma explicação útil para isto, diria que é como um pesadelo, mesmo parecendo ser mais uma pegadinha do meu subconsciente. A cadeira que eu estava sentada era bem dura e desconfortável, tão ruim que a melhor opção seria o chão, provavelmente me causaria menos desconfortos. Meu corpo inteiro doía, e tinha a sensação de que todas as extremidades estavam presas por correntes grossas e extremamente pesadas.

O tempo não existia aqui dentro. Não saberia dizer se estou aqui há horas, pois poderia ser dias ou semanas. Não sentia fome, nem sede. A única coisa que tinha a plena consciência é de quem sou, o que faço da vida e as pessoas que a ela incluem. É tudo tão tóxico quanto uma bomba de radiação, daqueles tipos que poderia destruir uma cidade inteira e deixar apenas rastros de desgraça e morte.

— Quanto tempo pretende ficar sentada aí?

Me lembro como se fosse hoje, quando no dia doze de setembro você teve que ser obrigado a partir para o outro plano. Você vinha lutando tanto, e mais ainda por ter que esconder isso de mim, mas eu sei que gostaria de me proteger e não me preocupar. O tempo é impiedoso, não é? Não há como recuperá-lo depois que o perdemos; mas você me ensinou que podemos sempre prolongá-lo – isso se decidirmos correr atrás do que é pra ser nosso.

Eu conseguiria descrever exatamente como é ser um atleta de alto rendimento, todavia, isto custaria voltar alguns anos no passado para que desse certo. Lembro-me vagamente da minha primeira competição, provavelmente não tinha mais do que sete anos de idade e, claro, eu estava assustada, porém elétrica. Tudo do perfil típico de uma criança fechada que despertava curiosidade em todas as pessoas. Falava pouco, sorria pouco, demonstrava pouco e, claramente, não me aproximava dos outros. Também não era preciso alguém me dizer o que fazer, pois tudo fluía naturalmente como a natureza corre com seu percurso em seu tempo normal.

Às vezes se torna até difícil começar algo que se refira a fazer uma tentativa de buscar arrancar tudo aquilo de mal que me aflita todos os dias. É uma mistura louca, insana, doída e até mesmo maníaca. Composta por sentimentos, sensações e pensamentos que atormentam segundo após segundo meu subconsciente, como se ele fosse algum tipo de cofre incapaz de guardar tudo aquilo que deveria ser escondido das outras pessoa, para que, de certa forma, elas não se aproveitem de tudo aquilo que lhe traz dor.

A ideia de que tudo pode parecer pior não parece mais impressão diante dos meus olhos que antes só sabiam enxergar o lado negativo das coisas. É como se tudo se tornasse incompleto, insuficiente e fosse como uma bateria impossibilitada de carregar cem por cento. A sensação de que sempre me falta algo parece ser mais do que sufocante, e que por rápidos segundos, uma onda de energias negativas transbordasse dentro do meu peito. Se fôssemos comparar isso com um cenário, seria como se eu estivesse dentro de uma caixa de vidro não muito grande, e que, aos poucos, fosse enchendo de água.

Por que sempre insisto em cair nesse lugar? Seja em sonhos ou quando a minha mente decide deixar que o subconsciente assuma, eu continuo sonhando acordada. Acredito também que eu esteja visitando mais este lugar que à minha própria casa, e não é como se tivessem me dado as boas vindas. Porém, eu não me sentia desconfortável em estar ali tantas vezes durante algumas horas do dia. Não existe cansaço, fome, sede ou fadiga, assim como também não existe o tempo. A realidade sempre pareceu ser menos dolorida aqui, exceto quando eu volto para a mais importante. E é aí que o relógio corre contra mim. Acho que ele faz questão de jogar isso na minha cara a cada dia que passa.

Sabe aquela famosa sensação de brincar em um balanço? Que, quanto mais forte você empurra, mais alto consegue chegar? E que por mais que dê um frio na barriga, sempre queremos ir além? Pois é, eu era o tipo de criança que adorava o perigo. Ele é convidativo, audacioso e misterioso; como se pertencesse à sua característica causar isso às pessoas que, no momento, estão dentro desta zona.