Ambos tinham a ciência de que, apesar de profundamente irritado, Byakuya estava satisfeito em proporcional medida por ser aquele a ter a oportunidade de colocar o seu namorado desobediente no devido lugar.
E Ichigo não poderia negar, também se encontrava mais do que disposto a acatar toda e qualquer maneira que seu homem viesse a lhe disciplinar.
Byakuya era um homem demasiadamente observador. Apesar de sua personalidade introvertida e preferência por se manter reservado, características que induziam os outros ao erro de presumir ser alheio aos seus arredores, dificilmente algo lhe passava despercebido aos olhos.
Aquilo podia se configurar como um benção ou uma maldição, dependendo do ponto de vista de quem analisasse. Nos últimos tempos, ele não podia deixar de pensar ser uma maldição. Do contrário, não estaria tão autoconsciente dos seus sentimentos por Kurosaki Ichigo.
Embora soubesse estar apaixonado, escolhera se manter calado e ir ao túmulo com aquela paixão sufocada em seu peito. Esse era o seu plano, porém, o destino é imprevisível e tece o próprio caminho. Byakuya só percebe isso quando um acontecimento inesperado acomete certo shinigami substituto, mudando não só as suas convicções, mas também decisões.
Felizmente, para o seu sossego momentâneo, não só na madrugada do dia seguinte, mas também na do presente, ele o deixaria virado da melhor maneira possível. De um jeito ou de outro, juntos ali, física e mentalmente, corpos entrelaçados sobre a bancada da cozinha, iluminados pela fresta luminosa das cortinas abertas, Kuchiki sabia:
Acordado a noite inteira, como tantos outros dias, Ichigo o manteria.
Numa viagem em grupo, Byakuya se encontra estressado devido a uma sensação que ele só poderia classificar a sua origem como inominável. Após as emoções do nobre transbordarem, como uma pia incapaz de suportar a carga excessiva de água, Ichigo enfim desvenda a razão por trás do que seu namorado considerava inominável.
— Isso foi… uau, incrível. — logo que a cor retornou ao rosto e o fôlego aos pulmões, ele descansou uma mão atrevida sobre a perna do mais velho — Podemos fazer de novo?
Byakuya atenuou as feições, relaxando os cantos da boca. Já lhe era típico há muito tempo agir com indulgência quando se tratava de Ichigo, e certamente aquele fato não mudaria tão cedo. Por isso, ele não demonstrou hesitação alguma quando o beijou e declarou com suavidade na voz:
— Se esse é o seu desejo… — intercalou o olhar entre as irises castanhas e os lábios risonhos — não vejo porque me opor.
Byakuya realmente estava precisando daquela pausa para sossegar, sua cabeça chegava a protestar de dor devido aos assuntos de suma responsabilidade discutidos na reunião dos capitães do Gotei 13. Geralmente, conseguia contornar a situação e permanecer inabalável durante todo o debate, no entanto, naquele dia em específico, espairecer os seus pensamentos e encontrar um pouco de calma em meio ao caos se fazia necessário. Felizmente, seu marido, Ichigo, tinha a solução perfeita para isso.
Onde Ichigo deliberadamente usa o álcool para compensar aquilo que naquela noite mais o faltava: coragem.
Ou
Onde Byakuya cuida de um Ichigo bêbado e em todo momento se vê atônito por inteiro, graças àquilo que o álcool concedeu ao garoto, para o seu gosto, em demasiado: coragem.
Byakuya era um professor admirável. Uma das qualidades mais elogiadas em seu desempenho era a sua capacidade de separar sua vida e profissional e pessoal como ninguém, além da sua ética de ferro. Dessa maneira, conseguiu ver muitos estudantes irem e virem e permaneceu inabalável... até pousar seu olhar em um par de orbes castanhas e joviais. Foi ali, naquele ínterim, que conheceu Kurosaki Ichigo. E também foi ali, naquele ínterim, que teve a certeza de aquele garoto ser alguém especial… e de sua vida e sua cabeça estarem prestes a ficar de pernas para o ar.
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