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⠀⠀ ⠀⠀ Haechan passou a última semana à base de café, energético e todos os tipos de chocolate que eram possíveis de ser encontrados na lojinha de conveniência do campus, que ficava em frente ao laboratório de ciências — uma misturinha do mal, ele sabia disso. Só que Haechan ‘tava mais engajado (lê-se com sangue no olho) do que os outros molequinhos do grupo do trabalho de ciências. Jurava de pé junto que tinha descoberto a forma de reproduzir uma máquina do tempo — dessas que a gente vê num filme de sessão da tarde —, então ficou obcecado com o experimento. Tão obcecado, que deixou o nome do grupo e a inscrição na feira da faculdade nas mãos de Na Jaemin, vulgo Nana, o terror das novinhas, a criatura menos competitiva do mundo. Embora Nana encorajasse a porra toda, não sentia um pingo de fé no resultado. Por isso, ele foi lá: preencheu o formulário que nem a cara dele e colocou o nome do grupo como DREAM, uma piada preguiçosa e de mal gosto de quem realmente não tá nem aí.
⠀⠀ ⠀⠀ E depois disso, teve Renjun, que ficou cem por cento puto e brigou com todo mundo só pra voltar e fazer as pazes (menos com Haechan, pois não se sentia na obrigação), dizendo que tava de cabeça quente — como sempre —, mas que DREAM era um nome ruim demais. Nana, no entanto, não ligou não. A piada era boa pra ele e, além disso, sabia que ia dar merda no fim mesmo (e ‘tava certo!).
⠀⠀ ⠀⠀ Jeno só observava a confusão, comendo os salgadinhos que a mãe de Jisung enviava vez ou outra, se empenhando em dar apoio moral para Haechan e Renjun (e rindo das piadas ruins de Na Jaemin às escondidas). Até tentou participar da parte mais científica do projeto, mas era desastrado demais com as ferramentas. Em uma das vezes, fodeu boa parte do progresso de Haechan derrubando coisas onde não devia (uma mistura de cola, batatinhas e sei lá o quê nas engrenagens).
⠀⠀ ⠀⠀ Pior que Jeno, era Jisung. Nas últimas semanas, Mark recebeu o cargo de ser a babá dele, já que Chenle fazia o trabalho muito mal. Aliás, Chenle é aquele típico amigo caótico que ri na cara do perigo, sem tentar esconder (mas já temos Nana ocupando essa posição, certo?). Haechan e Renjun acharam uma pena ocupar Mark com a tutela provisória de Jisung — o mais velho do grupo era realmente habilidoso, muito raramente não dava conta dos estragos ou de fazer o que fosse.
⠀⠀ ⠀⠀ Enfim, mesmo depois das risadas escandalosas de Chenle, das piadas de cunho duvidoso de Jaemin, dos acidentes de Jeno&Jisung (a dupla sertaneja), a máquina do tempo ficou pronta! De verdade verdadeira. Haechan chegou a testar com uma mosca e depois com uma borracha. Também cogitou a possibilidade de estar delirando, principalmente após tomar tanto energético e consumir cafeína como nunca. Porém, se fosse isso, Renjun seria fruto de sua loucura e, infelizmente, isso não era verdade.
⠀ ⠀⠀ ⠀ — Essa porra funcionou, não foi? — perguntou chocado, olhando para o chinês rabujentinho. — ‘Cê viu?
⠀ ⠀⠀ ⠀ — Eu vi!
⠀ ⠀⠀ ⠀ — Mano, ‘vamo tentar de novo!
⠀ ⠀⠀ ⠀ — Tentar o quê? — Nana entrou na sala com o seu sorriso fácil e preguiçoso, as mãos enfiadas nos bolsos da calça. — Olha Jeno, ‘tá brilhando o brinquedo!
⠀ ⠀⠀ ⠀ — Por que ‘cê é assim cara? — Jeno ria, apesar da pergunta.
⠀ ⠀⠀ ⠀ — ‘Tá brilhando e funcionando, caralho! — retrucou Haechan.
Renjun só revirou os olhos, cansado demais pra discutir ou chegar na voadora, atirado confortavelmente no canto da sala.
⠀ ⠀⠀ ⠀ — Ah, é? Pois então eu quero ver — Nana deu de ombros e entrou no aparelho que parecia mais um desses brinquedos de parque de diversão. Haechan até tentou impedi-lo de fazer merda, mas já era tarde. — Vou apertar nisso aqui e nisso aqui…
⠀ ⠀⠀ ⠀ Um barulho estridente ecoou pelo local e um verdadeiro espetáculo de luzes aconteceu — digno do clipe Firework da Katy Perry. Mark, Chenle e Jisung observavam o showzinho do lado de fora do prédio, considerando a ideia de ser uma explosão ou só mais uma briga de Haechan e Renjun, que torciam ‘pra cena final não passar de um sonho ruim, enquanto Jeno derrubava a latinha de refri e cuspia um pedaço do lanche no chão.
⠀ ⠀⠀ ⠀ Na Jaemin desapareceu dentro da máquina do tempo.
⠀ ⠀⠀ ⠀ — ‘Tá de palhaçada?! — Jeno gritou desesperado, aproximando-se da máquina — Onde ele foi parar, porra?
⠀ ⠀⠀ ⠀ — Meu Deus... — choramingou Haechan. — Caralho, não faço ideia!
⠀ ⠀⠀ ⠀ Renjun estava a um passo (ou menos) de arrancar os próprios cabelos, caminhou em círculos enquanto a discussão entre os outros dois começava a aumentar de volume. Demorou nada ‘pra se irritar com aquilo e tomar uma atitude tão estúpida quanto a de Nana: entrou ele na bugiganga encantada.
⠀ ⠀⠀ ⠀ — ‘Tá fazendo o quê?
⠀ ⠀⠀ ⠀ — Indo atrás dele — respondeu num resmungo — Vou aproveitar a última configuração e ir pra onde o Nana foi. E não enche meu saco!
⠀ ⠀⠀ ⠀ — Cara, olha só…
⠀ ⠀⠀ ⠀ — Não, eu que vou! — Jeno retrucou de imediato.
⠀ ⠀⠀ ⠀ Liga essa porra agora, Haechan!
⠀ ⠀⠀ ⠀ Derrotado, Haechan fez o que o chinês anão-de-jardim pediu. Não tinha tempo para traçar um plano ou discutir — muito menos energia. Acabou deixando Jeno sem chão mais uma vez, enquanto enviava Renjun para sabe-se-lá Deus onde. O resultado foi exatamente o mesmo que o de Na Jaemin. Eles esperaram poucos minutos para ver se algo acontecia. E nada.
⠀ ⠀⠀ ⠀ Não é preciso muito para adivinhar que Jeno foi a terceira vítima, também escolheu bancar o herói. Tudo isso aconteceu antes que Mark e suas crianças de estimação chegassem no laboratório de ciências. Haechan teve que se virar nos trinta e explicar o que aconteceu do jeito mais coerente que conseguiu para eles. Resumindo: foi uma desgraça.
⠀ ⠀⠀ ⠀ Mark resolveu tomar uma atitude, ao invés de esperar… E da mesma forma, Jisung, o desastrado, acabou se empolgando de um jeito desesperado, entrando acidentalmente na geringonça assassina. Chenle foi o último a sumir (e desconfia-se que fez isso somente para não ficar esperando com Haechan enquanto os outros talvez estivessem curtindo um rolê num buraco de minhoca, além do espaço-tempo).
⠀ ⠀⠀ ⠀ — Cara, por que caralhos todo mundo decidiu ir atrás do Nana? — reclamou Haechan, percebendo o quanto a dieta dos últimos dias havia afetado seu raciocínio lógico — Faz nem sentido essa porra.
⠀ ⠀⠀ ⠀ Ele fungou, observando como a sala parecia dez vezes mais vazia sem todo o ruído dos outros integrantes do DREAM.

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